Você está na página 1de 5

DISCIPLINA: DIREITO EMPRESARIAL II

PROFESSORA: DRA. BRUNA FEITOSA SERRA DE ARAÚJO


CURSO: DIREITO PERÍODO: 4º
TURNO: MATUTINO DATA: 05 de abril de 2023

ALUNO: Diego Glaysson Pantaleão Matos

TDE 01 – TRABALHO DISCENTE EFETIVO

TEMA: RECUPERAÇÃO EMPRESARIAL: a flexibilização da exigência da certidão


negativa de débitos tributários (CNDT) na concessão da recuperação judicial e os
pressupostos definidores da Lei nº 11.101/2005

A atual base legislativa do novo direito recuperacional brasileiro, com a


promulgação da Lei nº 11.101 de 2005, fez surgir um novo panorama no âmbito do direito
empresarial, evoluindo assim de uma solução liquidatória da sociedade em crise para a
valorização de sua preservação. Aumenta-se assim o leque de possibilidades de
recuperação do empresário e da sociedade empresária em crise através da apresentação de
um plano de recuperação que comprove a viabilidade da atividade empresarial, no qual
podem ser adotados diversos meios de reestruturação a fim de superar a crise econômico-
financeira.
No entanto, mesmo assim, no tocante a recuperação judicial ainda permanece
existente um grande obstáculo ao sucesso da recuperação das empresas, em face do
dispositivo que impõe ao devedor a necessidade de apresentação de certidão negativa de
débitos tributários como condição sine qua non da concessão da recuperação judicial (art. 57
da Lei nº 11.101/2005), sendo assim é necessário que seja realizada uma análise crítica
sobre a flexibilização desse dispositivo, na medida em que contraria os objetivos desse novo
diploma disciplinador da recuperação empresarial, ferindo o espírito da nova legislação (art.
47).

Art. 57. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembléia-geral de
credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de
credores, o devedor apresentará certidões negativas de débitos tributários nos
termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 -
Código Tributário Nacional.

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da


situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses
dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social
e o estímulo à atividade econômica.

Nesse sentido, Vossa Senhoria como futuro operador do direito, deve então
desenvolver o tema em texto dissertativo-argumentativo, na modalidade digitado, seguindo
as normas da ABNT, no mínimo 03 (três) laudas, discorrendo inclusive sobre o entendimento
do STF (Supremo Tribunal Federal) e do STJ (Superior Tribunal de Justiça) quanto a
celeuma.
Página 1 de 5
A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Pode-se
destacar que para requerer a recuperação judicial, o devedor deve preencher alguns
requisitos legais: exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que
atenda e não ser falido, não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de
recuperação judicial; não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por crime falimentar. A recuperação judicial também poderá
ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio
remanescente.

Antes de falar da flexibilização em si, é necessário analisar o que diz a Lei


11.101/2005. No artigo 1º tem-se que: ‘Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a
recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante
referidos simplesmente como devedor’. O artigo 57 da referida lei trata acerca da obrigação
do devedor de apresentar certidões negativas de débitos tributários. O Código Tributário
Nacional apresenta a mesma exigência em seu artigo 191-A.

Art. 57. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembléia-geral de
credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de
credores, o devedor apresentará certidões negativas de débitos tributários nos
termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 -
Código Tributário Nacional.

Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de todos
os tributos. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)

Art. 191-A. A concessão de recuperação judicial depende da apresentação da


prova de quitação de todos os tributos, observado o disposto nos arts. 151, 205
e 206 desta Lei. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)

Diante do exposto, nota-se a exigência requerida em dois códigos diferentes,


contudo a doutrina e jurisprudência passaram a flexibilizar a exigência, autorizando a
concessão da recuperação judicial para empresas que não apresentavam a certidão
negativa.

Página 2 de 5
O fundamento principal para dispensar a apresentação da CND era a ausência de
parcelamento específico para empresas em recuperação judicial, previsto no artigo 68 da
própria Lei 11.101/2005. Art. 68. As Fazendas Públicas e o Instituto Nacional do Seguro
Social – INSS poderão deferir, nos termos da legislação específica, parcelamento de seus
créditos, em sede de recuperação judicial, de acordo com os parâmetros estabelecidos
na Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional.

Com as alterações introduzidas pela Lei 14.112/2020, que trouxe parcelamentos


específicos e a possibilidade de transação tributária, ao alterar o artigo 10-A da Lei
10.522/02, com a inclusão dos artigos 10-B e 10-C, muitos passaram a entender que não
caberia mais a dispensa de CND. A seguir, temos um fragmento da decisão do STJ no caso
das empresas: USINA SANTA ELISA S/A, ZANINI EQUIPAMENTOS PESADOS LTDA,
SERMATEC INDÚSTRIA E MONTAGENS LTDA.

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. RECUPERAÇÃO


JUDICIAL. DISPENSA DAS CERTIDÕES NEGATIVAS DE DÉBITOS
TRIBUTÁRIOS. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA
REFLEXA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. RECURSO NÃO ADMITIDO.

DECISÃO: Trata-se de recurso extraordinário interposto pela FAZENDA


NACIONAL, com fundamento no art. 102, inciso III, alínea "a", da
Constituição Federal, contra acórdão deste Superior Tribunal de Justiça,
assim ementado (e-STJ fls. 256-257): RECURSO ESPECIAL.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CERTIDÕES NEGATIVAS DE DÉBITOS
TRIBUTÁRIOS. ART. 57 DA LEI 11.101/05 E ART. 191-A DO CTN.
EXIGÊNCIA INCOMPATÍVEL COM A FINALIDADE DO INSTITUTO.
PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA E FUNÇÃO SOCIAL.
APLICAÇÃO DO POSTULADO DA PROPORCIONALIDADE.
INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA DA LEI 11.101/05. 1. Recuperação
judicial distribuída em 18/12/2015. Recurso especial interposto em
6/12/2018. Autos conclusos à Relatora em 30/1/2020. 2. O propósito
recursal é definir se a apresentação das certidões negativas de débitos
tributários constitui requisito obrigatório para concessão da recuperação
judicial do devedor. 3. O enunciado normativo do art. 47 da Lei
11.101/05 guia, em termos principiológicos, a operacionalidade da
recuperação judicial, estatuindo como finalidade desse instituto a
viabilização da superação da situação de crise econômico-
financeira do devedor, a permitir a manutenção da fonte
produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica. Precedente.

(continua)

Página 3 de 5
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou recurso da Fazenda
Nacional e definiu que a apresentação de certidões negativas de débitos tributários não
constitui requisito obrigatório para a concessão da recuperação judicial do devedor.Por
unanimidade, o colegiado seguiu o entendimento da relatora, ministra Nancy Andrighi, de
que exigir a apresentação das certidões como requisito para a concessão da recuperação
poderia, em último grau, inviabilizar a própria existência desse instituto.

No recurso ao STJ, a Fazenda Nacional argumentou que acórdão do Tribunal de


Justiça de São Paulo contrariou a Lei 11.101/2005 – Lei de Recuperação e Falência (LRF) –
ao manter a homologação do plano de recuperação judicial de sociedades sem a
apresentação de documento negativo de débito tributário, requisito expresso tanto na LRF
quanto no Código Tributário Nacional (CTN).

Segundo a ministra Nancy Andrighi, depreende-se dos artigos 57 e 58 da LRF que


a apresentação das certidões negativas de débitos tributários constitui requisito elencado
pelo legislador para a concessão da recuperação do devedor cujo plano não tenha sofrido
objeção ou tenha sido aprovado pela assembleia de credores. Ela ressaltou que essa
exigência é reforçada pelo artigo 191-A do CTN, que condiciona a concessão da
recuperação à prova da quitação de todos os tributos.

"A exigência legal não se mostra adequada para o fim por ela perseguido –
garantir o adimplemento do crédito tributário –, tampouco afigura-se necessária
para a obtenção desse resultado", afirmou.

Portanto, segundo a ministra, a demonstração da regularidade fiscal do devedor


deve ser compatível com os princípios e objetivos que estruturam a operacionalização da Lei
11.101/2005, em especial o postulado constitucional da proporcionalidade. A relatora
lembrou que esse princípio exige que a medida restritiva de direitos seja adequada ao
objetivo perseguido pela norma, além de necessária para garantir a efetividade do direito
tutelado e que guarde equilíbrio com os fins almejados (proporcionalidade em sentido
estrito).

Página 4 de 5
REFERÊNCIAS

BRASIL. disposições comuns à recuperação judicial e à falência. Lei nº 11.101. Brasília, 9


de fevereiro de 2005.

BRASIL. sistema tributário nacional. Lei nº 5172. Brasília, 25 de outubro de 1966.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça RE nos EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1864625 -


SP (2019/0294631-9) Edição nº 0 - Brasília, Publicação: sexta-feira, 09 de abril de 2021
Documento eletrônico VDA28476496 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º
inciso III da Lei 11.419/2006 Signatário(a): MINISTRO Vice-Presidente do STJ Assinado em:
08/04/2021 12:41:54 Publicação no DJe/STJ nº 3123 de 09/04/2021. Código de Controle do
Documento: 5f2aeb70-9ab2-4d72-bc90-e007d51b14df.

CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO TRIBUTÁRIO NÃO É REQUISITO OBRIGATÓRIO


PARA RECUPERAÇÃO JUDICIAL.stj.jus.br. Disponível em:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/11092020-Certidao-
negativa-de-debito-tributario-nao-e-requisito-obrigatorio-para-recuperacao-judicial.aspx.
Acesso em 03 de abril de 2023.

Página 5 de 5

Você também pode gostar