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FALIMENTAR:
RECUPERAÇÕES
JUDICIAL E
EXTRAJUDICIAL
Introdução
O instituto da recuperação extrajudicial de empresas é considerado uma
das inovações da Lei nº. 11.101/2005. Por meio da recuperação extrajudi-
cial, o empresário devedor que passa por dificuldades financeiras pode
conseguir aprovação de plano de recuperação, negociado diretamente
com seus credores, com a possibilidade, inclusive, de garantir a extensão
do plano de recuperação a outros credores não signatários.
A recuperação extrajudicial tem, basicamente, a mesma função da
recuperação judicial, que é colaborar com a recuperação econômica do
empresário por meio de, entre outras medidas, renegociação de dívidas
com credores. Trata-se, no entanto, de um instituto com diversas parti-
cularidades. Neste capítulo, você vai estudar o instituto da recuperação
extrajudicial, seus pressupostos, limites e efeitos.
1 Recuperação extrajudicial e
documentação necessária
A recuperação judicial é uma via para auxiliar as empresas com problemas
financeiros, buscando restabelecê-las para que a atividade permaneça econo-
micamente viável. Entretanto, essa não é única via que permite a recuperação
econômica de uma empresa. Uma das grandes inovações da Lei nº. 11.101,
2 Recuperação extrajudicial
A Lei nº. 11.101/2005 não faz uma distinção terminológica entre as modalidades de
recuperação, por isso, pode ser denominada pela literatura especializada das seguintes
maneiras (TOMAZETTE, 2017):
Art. 162 da Lei nº. 11.101/2005: recuperação extrajudicial ordinária, recuperação
extrajudicial unânime ou de adesão total, recuperação extrajudicial individualizada,
recuperação extrajudicial meramente homologatória ou recuperação extrajudicial
de homologação facultativa.
Art. 163 da Lei nº. 11.101/2005: recuperação extrajudicial extraordinária, recupe-
ração extrajudicial obrigatória ou forçada, recuperação extrajudicial por classes,
recuperação extrajudicial impositiva ou recuperação extrajudicial de homologação
obrigatória.
4 Recuperação extrajudicial
2 Requisitos e pressupostos da
recuperação extrajudicial
A recuperação extrajudicial pressupõe o cumprimento de alguns requisitos, sem
os quais não poderá se valer do instituto. Não poder se valer da recuperação
extrajudicial não significa que o devedor não possa negociar extrajudicialmente
de outras formas, pedindo dilação de prazos para pagamentos, fazendo renego-
ciações envolvendo reparcelamentos e descontos, entre tantas outras formas.
É o que se abstrai do art.167 da Lei nº. 11.101/2005 (BRASIL, 2005). Assim,
não preencher os requisitos para a recuperação extrajudicial não impede ou
limita qualquer outro tipo de acordo privado do devedor com seus credores.
O art. 161 da Lei nº. 11.101/2005 estabelece: “o devedor que preencher os
requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores plano
de recuperação extrajudicial” (BRASIL, 2005). O art. 48 da mesma lei trata
dos requisitos da recuperação judicial; desse modo, pela simples leitura do
dispositivo citado, é possível concluir que os requisitos básicos para o pedido
de recuperação extrajudicial são os mesmos da recuperação judicial, que
merecem ser analisados um a um. Acompanhe.
O devedor deve exercer atividade empresarial e possuir empresa re-
gularmente constituída há mais de dois anos. O instituto da recuperação
judicial é voltado à atividade empresarial, por isso, atividades “[...] conduzidas
e titularizadas por trabalhador autônomo ou sociedade simples, incluindo a
sociedade cooperativa” (MAMEDE, 2019, p. 148) não estão sujeitas ao pedido
de recuperação judicial. Além desse requisito, é necessário que haja regular
exercício da atividade há mais de dois anos no momento do pedido e sua
regular inscrição nesse período.
Recuperação extrajudicial 7
dois anos. Assim, tendo em vista a especificidade, vale o prazo de dois anos
para o pedido de recuperação extrajudicial, em caso da existência de pedidos
de recuperação extrajudicial ou judicial anterior. O estabelecimento desses
prazos objetiva prevenir o uso indiscriminado dos institutos excepcionais da
recuperação judicial a empresários sem capacidade de gerir seus negócios.
Ressalva-se que vigora o prazo de cinco anos para a realização de recu-
peração extrajudicial se houve prévia concessão de recuperação judicial com
base no plano especial para microempresas e empresas de pequeno porte (arts.
70 a 72 da Lei nº. 11.101/2005).
A lei trata tanto dos sócios controladores como dos administradores de determinada so-
ciedade empresária, que inclui a sua diretoria e membros do conselho de administração.
Esses requisitos são requisitos considerados subjetivos, uma vez que são
ligados à pessoa, ao devedor que realiza o pedido de recuperação extrajudi-
cial (TOMAZETTE, 2017). Fala-se ainda em requisitos objetivos, ligados
ao conteúdo do acordo, e não à análise dos sujeitos envolvidos no acordo
(TOMAZETTE, 2017). Analisamos os requisitos objetivos a seguir:
Além desses créditos, o art. 161, § 1º da Lei nº. 11.101/2005 prevê que
os créditos de natureza tributária, trabalhista ou decorrentes de acidente
de trabalho não podem ser objeto de recuperação extrajudicial. Assim,
os créditos que podem ser objeto de recuperação extrajudicial são aqueles com
garantia real; com privilégio especial; com privilégio geral; quirografários;
e subordinados (RAMOS, 2017).
A recuperação extrajudicial consegue obrigar todos os credores de uma
espécie de crédito quando houve a concordância da maior parte deles (3/5),
mas, para obter essa abrangência, é necessário a concordância em cada tipo de
crédito; não é possível incluir credores de créditos diferentes indistintamente
no mesmo plano de recuperação. A recuperação extrajudicial também não é
capaz de abranger os mesmos créditos e credores que a recuperação judicial,
a exemplo dos créditos trabalhistas, que podem ser incluídos na recuperação
judicial, mas não na recuperação extrajudicial. Em vista disso, a recuperação
extrajudicial não é capaz de suspender as ações e execuções de credores que
não estejam submetidos ao plano de recuperação extrajudicial (art. 161, §4,
Lei nº. 11.101/2005, BRASIL, 2005).
Os credores não submetidos ao plano são aqueles que não se sujeitam à recupe-
ração extrajudicial, que não aderem ao plano de recuperação, quando se trata da
modalidade de recuperação extrajudicial de homologação facultativa (art. 162 da Lei
nº. 11.101/2005, BRASIL, 2005), ou aqueles cujos créditos não estão previstos em plano
de recuperação extrajudicial de homologação obrigatória e a ele não estão obrigados
(art. 163 da Lei nº. 11.101/2005, BRASIL, 2005). Como esses credores não estão submetidos
ao plano, além de poderem propor ações e execuções, podem requer, a qualquer
momento, a falência do devedor, se constatada alguma das hipóteses do art. 94 da
Lei nº. 11.101/2005 (BRASIL, 2005).
A maior restrição dos créditos que podem ser objeto da recuperação ex-
trajudicial pode ser vista como um fato limitador à sua ampla utilização.
É comum que uma empresa que enfrenta dificuldades financeiras não tenha
poucas espécies de credores, assim, a exclusão dos créditos fiscais, trabalhistas
e acidentários pode fazer com que o empresário acabe buscando a recuperação
judicial como um meio de garantir que todos os seus credores, ou a maior parte
deles, acabem submetidos ao procedimento de recuperação. Isso não quer
12 Recuperação extrajudicial
caso se decrete a falência, a nova obrigação será o crédito a ser pago pela
massa falida da empresa.
A partir da recuperação extrajudicial é gerando também outro efeito,
relacionado à alienação judicial de filiais ou unidades produtivas isoladas do
devedor. Nesses casos, a alienação fica submetida à mesma forma prevista na
falência (arts. 166 e 142 da Lei nº. 11.101/2005, BRASIL, 2005), isto é, por meio
de leilão, propostas fechadas ou pregão. Quanto a essa forma de alienação,
Tomazette (2017) ressalta que a identidade entre a recuperação extrajudicial e a
falência é apenas quanto à forma, mas não quanto a seus efeitos. Isso significa
que o adquirente de um estabelecimento alienado decorrente de plano de
recuperação responderá por todas as dívidas do alienante previstas na lei, ou
seja, em geral, dívidas que acompanham o bem, tal qual as dívidas escrituradas
(art. 1146 do Código Civil), as obrigações trabalhistas, na condição de sucessor
da empresa (art. 448 da Consolidação das Leis do Trabalho), além das obriga-
ções tributárias (art. 133 do Código Tributário Nacional) (TOMAZETTE, 2017).
A responsabilidade do alienante sobre as dívidas tributárias será subsi-
diária se ele continuar a atividade econômica do devedor ou mesmo iniciar
outra no período de seis meses a contar da alienação. As dívidas escrituradas
integralmente pelo sucessor, as dívidas trabalhistas, serão assumidas pelo
alienante se este vier a suceder o antigo empregador/empresário, ou se o bem
for ou puder ser objeto de garantia de eventual dívida trabalhista do antigo
empresário. Assim, em resumo, o adquirente basicamente assume os principais
encargos do bem alienado.
Em regra, o plano de recuperação extrajudicial somente produz os seus
efeitos após a homologação judicial (art. 165, Lei nº. 11.101/2005, BRASIL,
2005), pois se trata do ato que efetivamente ratifica a vontade dos signatários
e de outros credores, constituindo um novo estado jurídico às relações entre
devedor e credores. O motivo de projeção desses efeitos ao período posterior
à homologação é o fato de a homologação obrigar terceiros credores que
eventualmente não sejam signatários do plano de recuperação. Assim, não
se pode aceitar que os efeitos da recuperação judicial retroajam, em regra,
a períodos pretéritos à efetiva homologação e ratificação do plano de recupe-
ração elaborado, pois isso seria o mesmo que permitir que vontades privadas
(do devedor e credores signatários) obrigassem terceiros (credores não sig-
natários) sem a sua anuência e sem que a lei ou a sua aplicação o fizessem.
O §1º do art. 165 da Lei nº. 11.101/2005 (BRASIL, 2005) prevê, contudo,
que o plano pode estipular a produção dos efeitos anteriores à homologação,
mas não sobre todas as matérias ou em relação a todos os credores. Admite-se
a retroação dos efeitos do plano apenas em relação à modificação do valor ou
14 Recuperação extrajudicial
Leituras recomendadas
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho. Brasília: Presidência da República, 1943. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 4 ago. 2020.
BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional
e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios.
Brasília: Presidência da República, 1966. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l5172.htm. Acesso em: 4 ago. 2020.
BRASIL. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília: Presidência
da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10406.htm. Acesso em: 4 ago. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília: Presidência
da República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 4 ago. 2020.
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