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MATERIAL DE APOIO AOS ESTUDOS EXTERNOS

CURSO DE DIREITO

DIREITO EMPRESARIAL III

PROFESSOR: Lucas Henrique Mascarenhas

JACIARA – MT
Sumário

Recuperação judicial: como funciona e quais as fases desse


processo?.......................................................................................3
O que é recuperação judicial?........................................................3
Quem pode pedir a recuperação judicial?.......................................4
Recuperação judicial ou recuperação extrajudicial: qual a diferença?
.....................................................................................................5
Como funciona a recuperação judicial? Fases do processo:.............5
1 – Pedido de recuperação...........................................................5
2 – Suspensão das cobranças.......................................................6
3 – Definição do administrador judicial........................................6
5 – Aprovação do plano de recuperação.......................................7
6 – Execução do plano de decretação de falência..........................8
Credores: quais os direitos previstos em lei?...................................8
Recuperação judicial: como
funciona e quais as fases desse
processo?

A recuperação judicial é um procedimento que permite a empresas – de todos os tamanhos


– renegociar dívidas e suspender prazos de pagamento. Por meio dela, as companhias
podem discutir junto aos credores uma saída para eventuais crises econômico-financeiras.

Apenas ao longo de 2022, mais de 5,2 mil pedidos de recuperação judicial foram
requeridos no Brasil, de acordo com a consultoria Serasa Experian. O número reforça a
importância de conhecer as particularidades jurídicas do processo de recuperação.

Inclusive, a titulo exemplificativo, vejamos algumas empresas que pediram a recuperação


em 2023:

 Americanas.
 Oi.
 Grupo Petrópolis.
 Light.
 Grupo M5.
 123 Milhas.
 SouthRock.
 Livraria Saraiva.

Além disso, no final de 2020, foi promulgada uma nova legislação, que promove uma série
de alterações nos dispositivos que regulavam a recuperação judicial no país. As mudanças
afetaram direitos e deveres, tanto de devedores quanto de credores. Estamos falando da Lei
14.112/20.

O que é recuperação judicial?


A recuperação judicial é um processo por meio do qual uma empresa devedora admite
dificuldades financeiras ou crise econômico-financeira e estabelece um plano para superar
essa adversidade.

O principal objetivo da recuperação é evitar a falência. Serve ainda para a conservação dos
postos de trabalho, bem como, para manter a arrecadação estatal por meio do recolhimento
de impostos.

E, mais do que isso, a recuperação judicial pode contribuir para a manutenção das
atividades econômicas da empresa e de sua função social.
A recuperação por vias judiciais foi regulamentada pela primeira vez em fevereiro de 2005,
por meio da Lei 11.101/05. Posteriormente, em dezembro de 2020, esse ordenamento
jurídico foi atualizado, por meio da nova Lei de Recuperação e Falência, a Lei 14.112/20.

De modo geral, a recuperação judicial envolve alguns entes, como a empresa, o grupo de
sócios e acionistas, o grupo de credores e um administrador judicial.

O sucesso desse instrumento do Direito Empresarial depende da aceitação das condições


pelos credores e, sobretudo, do cumprimento do plano de recuperação por parte da
empresa.

Durante o processo de recuperação, como explicaremos aqui, a companhia fica submetida a


regras especiais. Ademais, a recuperação também pode se dar às margens do âmbito
judicial. Essa modalidade é a chamada de recuperação extrajudicial, conforme veremos ao
longo deste artigo.

Quem pode pedir a recuperação


judicial?
Empresários e sociedades empresárias podem pedir recuperação judicial. É preciso que
tenham inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). Além disso, deve
haver registro de atividade há pelo menos dois anos no CNPJ.

Mas, há algumas exceções, mesmo para as pessoas jurídicas. Sociedades de economia


mista, instituições financeiras, empresas públicas, ONGs e cooperativas são exemplos de
empresas que não estão autorizadas a pedir recuperação judicial.

Além do mais, a recuperação não precisa necessariamente ser solicitada pelo devedor. De
acordo com a lei, é possível que o cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor,
inventariantes ou sócios remanescentes acionem o instrumento.

No caso de pessoas físicas, há apenas uma circunstância em que a recuperação judicial é


aplicável: quando a pessoa atua como produtor rural. Essa determinação é recente, tendo
sido incluída pela Lei 14.112/20.

Além disso, cabe consultar sempre o Art. 48 da Lei 11.101/05, que especifica todos os
requisitos para que a pessoa esteja apta a iniciar a recuperação judicial. Dentre eles,
destacamos:

 Não ter tido a falência decretada, ou em caso de falência anterior, que a sentença tenha
transitada em julgado, extinguindo as responsabilidades daí decorrentes;
 Não ter obtido concessão de recuperação judicial há menos de cinco anos;
 Não ter sido anteriormente condenado pelos crimes previstos na Lei de Recuperação e
Falências, seja como sócio controlador, seja como administrador.
Recuperação judicial ou
recuperação extrajudicial: qual a
diferença?
A principal diferença entre recuperação judicial e extrajudicial, como a própria
denominação sugere, é a participação do poder judiciário.

Na recuperação judicial, a empresa devedora aciona diretamente o Juízo de Falência e


Recuperação Judicial. Ao juízo, a empresa apresentará uma proposta de recuperação que
não foi acordada previamente com os credores.

Já na recuperação extrajudicial, o devedor discute, negocia e aprova junto aos credores uma
proposta ou plano de recuperação. Apenas posteriormente ao acordo entre devedores e
credores é que ocorre a apresentação ao judiciário.

Contudo, importa destacar que mesmo a recuperação extrajudicial só terá validade jurídica e
efeitos legais se homologada pelo juízo.

Como funciona a recuperação


judicial? Fases do processo:
O trâmite judicial para o pedido de recuperação segue algumas fases pré-determinadas por
lei. De modo geral, o procedimento envolve a empresa devedora, seus credores e o poder
judiciário.

Abaixo, especifica-se o passo a passo que culmina na aprovação do plano de recuperação


judicial.

1 – Pedido de recuperação

O primeiro passo para iniciar a recuperação é peticionar ao juízo competente, apresentando


na petição inicial a situação patrimonial e as condições de crise que justificam a solicitação.
Para fundamentar o pedido, você deve anexar balanços patrimoniais, demonstração de
resultados, demonstrativos de fluxo de caixa, extratos de contas bancárias e aplicações
financeiras e outros documentos financeiros.

Alvarás, vistorias, certidões dos imóveis e patrimônios também podem ser anexados. E, não
menos importante, o peticionamento deve conter também uma listagem das partes que serão
potencialmente afetadas pelo pedido de recuperação judicial: colaboradores e credores da
empresa.

Todos os itens essenciais à petição inicial de recuperação judicial estão dispostos no Art. 51
da Lei 11.101/05.

Ainda, é essencial que o pedido de recuperação seja feito em tempo hábil. Quando a
situação econômico-financeira da empresa está demasiadamente deteriorada, o juízo pode
entender que não há possibilidade de recuperação, o que leva a decretação de falência.

2 – Suspensão das cobranças

Uma vez encaminhado o pedido de recuperação judicial, deve-se aguardar o deferimento ou


não da solicitação.

Se o magistrado determinar o processamento do pedido, tem-se que este foi aceito de forma
preliminar. A partir dessa data, são suspensas todas as execuções e prescrições em face do
devedor, pelo prazo de 180 dias.

Além da suspensão de prazos, o juiz também pode ordenar a comunicação sobre a


recuperação judicial à Fazenda Pública Federal e aos órgãos estaduais dos estados em que a
empresa tem atuação.

Por outro lado, caso o juiz indefira o pedido de recuperação, tem-se então a falência
decretada.

3 – Definição do administrador judicial

Deferido o pedido de recuperação, o magistrado procederá à nomeação de um administrador


judicial.

De modo geral, o administrador judicial é um profissional especializado, frequentemente


advogado. Ele deve ter perfil idôneo e imparcial, para fazer a correta condução de todo o
processo de recuperação.
Entre as funções do administrador está contatar os credores e responder às dúvidas dos
mesmos, informar datas relacionadas ao processo, solicitar assembleias, acionar a justiça e
fazer a seleção e contratação de empresas e profissionais necessários à conclusão da
recuperação.

4 – Criação do plano de recuperação

A partir do momento em que o juiz deferiu o pedido de recuperação judicial, a empresa


devedora tem o prazo de 60 dias para apresentar a formalização de um plano para
reorganização financeira e pagamento de credores.

O plano de recuperação, portanto, precisa estabelecer como as obrigações financeiras e


fiscais da empresa serão cumpridas. Deve, ainda, pormenorizar como se dará a relação com
credores e colaboradores.

Dentre as providências que podem ser previstas na recuperação judicial estão o


parcelamento de dívidas, a negociação com sindicatos, mudanças estruturais na empresa
para entrada de novos sócios, a contratação de empréstimos especiais, entre outras
medidas.

Caso o plano não seja apresentado no prazo de 60 dias, o juiz poderá proceder a decretação
de falência da empresa.

5 – Aprovação do plano de recuperação


A apresentação do plano de recuperação ao juiz não significa que a proposta já pode ser
colocada em prática. É preciso, primeiro, que os credores não apresentem objeção a ela.

Possíveis objeções e contestações por parte dos credores devem ser manifestadas no prazo
de 30 dias, de acordo com o Art. 55 da Lei 11.101/05. Havendo qualquer objeção caberá ao
juiz convocar uma Assembleia Geral de Credores.

A convocação pode ser feita por meio de editais publicados em jornais de grande circulação
que abranjam a área de atuação da empresa. Essa publicação precisa, necessariamente, ser
realizada com pelo menos 15 dias de antecedência da data do evento.

Ainda em matéria de prazos, conforme o parágrafo primeiro do artigo 56 da mesma lei,


a data da assembleia não pode exceder os 150 dias após o deferimento do processamento do
pedido de recuperação pelo juízo.

Durante a assembleia, de acordo com o Art. 35, os credores possuem três opções: a
aprovação, a rejeição ou a modificação do plano de recuperação.
Modificações no plano serão consideradas apenas se o devedor as aceitar no momento da
assembleia. Essas alterações, para que sejam válidas, não podem de forma alguma resultar
na perda ou diminuição de direitos dos credores ausentes.
Se o resultado da votação for a rejeição, de acordo com a nova redação dada pela
Lei 14.112/20, o administrador judicial poderá abrir votação para que os credores
apresentem um plano próprio de recuperação, no prazo de até 30 dias.

Para que a hipótese de apresentação de novo plano em 30 dias seja aceita, precisará ser
aprovada por credores que representem mais de 50% dos créditos presentes na assembleia.

E, por fim, se aprovado o plano, deverá a assembleia definir um comitê de credores, com
membros titulares e substitutos.

6 – Execução do plano de decretação de


falência

Uma vez aprovado o plano de recuperação, é hora de executá-lo. O acompanhamento dessa


execução e a apresentação de relatórios mensais ao juiz são tarefas do administrador
judicial.

Mais uma vez, se o plano de recuperação apresentado pelos próprios credores não for
aprovado, é possível ao juízo decretar a falência da empresa. O mesmo poderá ocorrer se o
plano de recuperação aprovado não for cumprido em sua integralidade.

Credores: quais os direitos


previstos em lei?

Os credores são parte fundamental em todo o processo de recuperação judicial, uma vez que
qualquer plano de recuperação passará por aprovação deles.

Há diferentes classes de credores, de acordo com a relação que eles mantêm com o
devedor. Essas classes estão representadas também no Comitê de Credores. De acordo com
o Art. 26 da Lei 11.101/05 as classes são:

 Classe de credores trabalhistas: aqueles que têm vínculo


 Classe de credores com direitos reais de garantia ou privilégios especiais;
 Classe de credores quirografários e com privilégios gerais;
 Classe de credores representantes de microempresas e empresas de pequeno porte
(incluída pela Lei 14.112/20)

Independente da classe, todos os credores precisam aprovar o plano de recuperação para


que este se torne válido.

Contudo, a divisão de classes se manifesta com mais ênfase no momento do pagamento.


Isso porque a classificação de créditos segue uma ordem de prioridade por classe,
determinada no Art. 83 da Lei de Recuperação Judicial.

Assim sendo, os credores receberão de acordo com a seguinte ordem:

 Créditos trabalhistas até 150 salários mínimos ou de acidentes de trabalho;


 Créditos garantidos por direitos reais;
 Créditos tributários, exceto os créditos extraconcursais e as multas tributárias;
 Créditos quirografários;
 Demais créditos.

Além disso, o Art. 54 estabelece que os créditos trabalhistas ou decorrentes de trabalho não
podem ser pagos em prazo superior a um ano. Enquanto créditos salariais vencidos nos três
meses anteriores ao pedido de recuperação, no limite de 5 salários mínimos, deverão ser
pagos no prazo de até 30 dias.

Os demais prazos de pagamento costumam ser estabelecidos no próprio plano de


recuperação judicial.

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