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O que é Falência?

Conforme breves apontamentos no início deste post, quando uma empresa


se encontra com o passivo maior do que o ativo, ou seja, com dívidas que
não podem ser pagas com o faturamento, existem duas saídas, via de regra,
a recuperação (judicial ou extrajudicial) e a falência. 
Sobre a recuperação, entraremos em detalhes mais adiante. 
Mas a falência, o que é e como funciona?
A falência está regulamentada na Lei nº 11.101/2005, podendo ser
conceituada como o procedimento jurídico que visa o encerramento das
atividades empresariais da pessoa jurídica devedora, de forma que os
credores sejam devidamente pagos, proporcionalmente ao crédito de cada
um ou para que sejam reduzidos ao máximo os prejuízos.
Como funciona
A empresa devedora realiza por meio de um processo, representada por um
advogado, o pedido de declaração de falência, expondo os fatos que
levaram à impossibilidade de continuar com as atividades empresariais,
apresentando documentos comprobatórios. 
O foro competente para julgamento do pedido é o local do principal
estabelecimento do devedor ou a filial da empresa que tenha sede no
exterior.
Vale destacar que não é somente o devedor que pode requerer sua falência,
haja vista que a lei permite que o pedido seja feito pelos próprios credores,
desde que a dívida seja superior a 40 salários mínimos, para o fim de
obterem os respectivos créditos.
Assim, o juiz que receber o pedido irá analisar e, se estiver com os
requisitos cumpridos, decretará a falência. 
A decretação suspende o curso da prescrição e das ações judiciais ou
execuções em trâmite em face do devedor. Incluem-se as ações relativas a
créditos particulares de sócio solidário.
Segundo o art. 75, da Lei de Falência, o referido procedimento judicial “ao
promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e
otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos,
inclusive os intangíveis, da empresa”.
A partir da decretação da falência, o administrador judicial nomeado
representará a massa falida nas ações em face da Massa Falida, devendo ser
intimado para tanto nas referidas demandas, sob pena de nulidade. 
Um dos efeitos da decretação da falência, além da suspensão das
demandas em trâmite, corresponde à antecipação do vencimento das
dívidas do devedor e dos sócios limitada e solidariamente responsáveis,
com abatimento proporcional dos juros, convertendo os créditos em moeda
estrangeira para a nacional, pelo câmbio vigente na data da decisão judicial
(art. 77, Lei de Falência).
É importante destacar que, quando os sócios forem ilimitadamente
responsáveis, ao decretar a falência da empresa, também considera-se
falido o sócio nesta hipótese. 
Na sequência, devem ser habilitados os créditos dos credores para que seja
estabelecida a ordem de classificação, conforme prevê a lei, e se procedam
aos devidos pagamentos com o patrimônio restante do devedor.
O processo se encerra quando o patrimônio se esgotar e os credores tiverem
seus créditos satisfeitos de acordo com a capacidade de pagamento da
Massa Falida. 
A quem se aplica a falência?
A falência se aplica ao empresário e à sociedade empresária que se
enquadrem como devedores.
O conceito de empresário está previsto no Código Civil, legislação que
regulamenta as relações negociais, e corresponde à pessoa que exerce
atividade profissional economicamente organizada, visando a produção ou
circulação de bens ou serviços para o mercado (art. 966).
O empresário pode ser individual como o microempreendedor individual
ou EIRELLI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada.
A sociedade empresária, por sua vez, é toda empresa criada com mais de
um sócio, podendo ser:
 Sociedade simples
 Sociedade limitada
 Sociedade ilimitada
 Sociedade em conta participação
 Sociedade anônima
Não se aplica a falência nas seguintes hipóteses (art. 2º, da Lei de
Falência):
– empresa pública e sociedade de economia mista;
– instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito,
consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de
plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de
capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
Por outro lado, existem algumas exceções na lei que permite-se a
decretação de falência, quando não configuram-se empresário ou sociedade
empresária, destaca-se:
 Sócio com responsabilidade ilimitada;
 O espólio do devedor quando o mesmo vem a óbito, devendo a
falência ser decretada, neste caso, em até um ano, contado da data da
morte do devedor;
 Empresa de trabalho temporário, com base na Lei nº 6019/1974.
Quem e quando declara a falência?
O pedido de falência pode ser feito pelo próprio devedor ou pelos
credores. 
O requerimento de falência, seja ele realizado pelo próprio devedor ou por
um credor, será encaminhado ao juiz do foro competente, o qual irá
analisar os fatos e documentos e será responsável por decretar ou não a
falência.
Quem pode pedir a falência é o empresário ou sociedade empresária, salvo
as exceções já mencionadas, quando estiverem presentes alguma das
hipóteses legais:
1. não houver o pagamento de dívida líquida, no prazo de vencimento,
quando a obrigação estiver formalizadas por título executivo
protestado ou mero título, em que a soma deve ultrapassar 40
salários mínimos na data do pedido de falência;
2. quando for parte executada em processo judicial, mas não paga a
dívida, bem como não nomeia bens à penhora no respectivo prazo
legal;
3. se praticar quaisquer dos seguintes atos:
c1) liquidar os ativos precipitadamente ou realiza pagamentos de forma
fraudulenta;
c2) realiza atos com o fim de fraudar credores, como negócio simulado ou
alienação parcial ou total do patrimônio ativo a terceiro, seja credor ou não;
c3) transfere bens a credor, sem o consentimento de outros credores,
ficando sem bens que possam satisfazer demais dívidas;
c4) simulação de transferência de estabelecimento para burlar a lei;
c5) oferece como garantia a credor de dívida anterior, ficando sem
patrimônio suficiente para saldar o passivo;
c6) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos
financeiros para pagar os credores e
c7) deixa de cumprir prazo legal para cumprir obrigação em processo de
recuperação judicial.
Vale ressaltar que, na hipótese do item “a”, os credores podem se reunir
para alcançar o montante de 40 salários mínimos, com a finalidade de ser
decretada a falência do devedor.
Também, existe a possibilidade do devedor pode pedir a recuperação
judicial no curso do processo de falência, permitindo-se a manutenção das
atividades empresariais
Quem pode pedir a falência?
Podem pedir a falência:
 o próprio devedor;
 cônjuge sobrevivente ou qualquer herdeiro do devedor ou o próprio
inventariante;
 acionista ou cotista do devedor nos termos da Lei ou por ato
constitutivo;
 qualquer credor.
Como ocorre o Pedido de Falência (Processo Falimentar)?
O pedido de falência será formalizado quando não for possível a
manutenção da empresa devedora ativa, a fim de que as dívidas e
pendências sejam resolvidas, objetivando o pagamento aos credores de
forma igualitária. 
É também possível que a falência seja pleiteada por credores, além do
próprio devedor ou, se falecido, cônjuge sobrevivente ou herdeiro, além do
sócio que responde limitada ou ilimitadamente.
Por meio de uma petição narrando os fatos que levaram à crise econômica
do devedor, bem como documentos que comprovem a realidade
patrimonial, ou seja, com passivo maior que o ativo, o juiz decretará a
falência.
A decisão que decretar falência dá início ao processo falimentar,
implicando em:
 nomeação do administrador judicial, responsável por enviar
relatórios, discriminar os credores e classificação dos créditos,
apresentar os respectivos balanços patrimoniais, dentre outras
funções
 levantamento de bens e direitos da massa falida;
 alienação dos bens para satisfação do passivo;
 pagamento dos credores.
Qual é a data da falência?
A data da falência deverá constar por escrito na decisão declaratória de
falência da empresa devedora, não retroagir mais de 90 dias contados da
data do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou da data do
primeiro protesto por falta de pagamento. 
Os procedimentos para a falência
Resumidamente, o processo falimentar percorrerá por três etapas.
 Pedido de falência: consiste a partir do pedido protocolado ao juízo
competente com as razões de fato e documentos comprobatórios.
 Decretação da falência: a partir da sentença declaratória da falência
se inicia o processo para satisfação do passivo.
 Pós falência: após o cumprimento das obrigações pelo devedor, será
proferida sentença de extinção das obrigações decorrentes do pedido
de falêncial, podendo a empresa retornar ao mercado.
As consequências da falência
A falência é a última situação na qual o empresário e os sócios de uma
empresa desejam passar. 
As consequências da falência são diversas, mas as principais são:
 o afastamento do devedor das atividades empresariais, que serão
repassadas ao administrador judicial nomeado;
 a empresa falida fica impossibilitada de exercer qualquer atividade
empresarial;
 as ações e execuções em face do devedor ficam suspensas, assim
como o prazo de prescrição de ações em face do devedor.
Portanto, o ideal é que as medidas de prevenção, a fim de evitar a falência,
sejam priorizadas ao tempo de andamento de um negócio, evitando as
consequências citadas.
O que acontece com os funcionários de uma empresa em
Falência
Todos os colaboradores vinculados à empresa que passa pelo processo de
falência têm seus direitos trabalhistas garantidos. 
Assim, mesmo em falência, os trabalhadores devem receber o salário,
benefícios, indenizações eventuais pelos danos causados por atraso de
pagamento e, na hipótese de demissão, as demais verbas também são
devidas, como 13º salário, FGTS, aviso indenizado e outras, devendo,
entretanto, ser observado a ordem de pagamento prevista pelo art. 83 da Lei
11.101/2005.
Nos termos expostos rapidamente, existe uma ordem de preferência dos
créditos e os trabalhistas são privilegiados. O art. 83, da Lei de Falência,
dispõe a classificação dos créditos da seguinte forma:
I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e
cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de
trabalho;
II – créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; 
III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de
constituição, excetuadas as multas tributárias;
IV – créditos com privilégio especial;
V – créditos com privilégio geral;
VI – créditos quirografários;
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis
penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;
VIII – créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em
contrato; b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo
empregatício.
Como evitar a decretação da falência? 
Para evitar a decretação da falência, é recomendável pensar desde o
início em reestruturação do negócio, organização, adequação da gestão, a
fim de adotar medidas de controle financeiro relativas às entradas e saídas,
alinhando com o perfil da empresa.
Ou seja, por meio de um planejamento e reestruturação empresarial,
medidas preventivas são estabelecidas para evitar uma crise financeira. 
Por outro lado, não sendo possível driblar as dificuldades financeiras
enfrentadas, é importante pensar, em um primeiro momento, na
possibilidade de realizar acordos com as dívidas existentes.
As pendências financeiras e necessidade dos credores de receberem seus
créditos são os principais motivos que levam a empresa à falência. 
Assim, a renegociação dos débitos é uma ótima alternativa para satisfazer
parte do passivo da empresa, até mesmo porque a atividade empresarial se
mantém e o credor consegue obter o crédito de forma apaziguada. 
Também, as dívidas decorrentes de passivos trabalhistas são relevantes
para a falência da empresa. 
Neste sentido, recomenda-se que algumas atitudes, com respaldo na CLT,
sejam tomadas, a fim de reduzir os impactos econômicos da empresa, como
a redução de jornada de trabalho e proporcionalmente do salário, mediante
acordo coletivo de trabalho. 
A recuperação judicial ou a extrajudicial podem ser uma forma de evitar
a falência, pois a empresa se mantém no mercado e, simultaneamente,
consegue satisfazer os créditos. 
No entanto, é altamente recomendável que um advogado especialista lhe
esclareça qual a melhor forma de prosseguir, se houver dúvidas, analisando
os fatos e documentos comprobatórios. 
Veja também 5 dicas para evitar a falência da sua empresa.
O que é Recuperação Judicial?
A recuperação judicial está regulamentada na Lei nº 11.101/2005,
juntamente com a falência. 
A recuperação, distintamente à falência, visa a superação da crise
financeira do devedor, permitindo a continuidade das atividades
empresariais e consequentemente a produção ativa, com manutenção do
faturamento.
Via de regra, é o procedimento judicial que objetiva evitar a falência, para
reerguer a empresa em crise.
Para ser possível o pedido de recuperação judicial, devem ser atendidos
alguns requisitos legais (art. 48):
 Não ser empresa falida ou, se foi, estejam extintas as obrigações da
falência decretada;
 não ter obtido a recuperação judicial em prazo inferior a 5 anos
anteriores ao pedido;
 não ter obtido a recuperação judicial no prazo inferior a 5 anos, se
for plano especial para microempresas e empresas de pequeno porte;
 não ter sido condenada por crime ou não ter administrador judicial
condenado por crime previsto na Lei de Falências e Recuperação.
Como funciona?
O pedido deve ser formulado ao juízo competente, no qual o magistrado
vinculado deferirá o processamento da recuperação judicial, se os
requisitos legais forem preenchidos. 
A petição inicial que dará causa ao início do processo judicial para
recuperação do devedor deve ser instruída com o seguinte:
 exposição da causa em concreta da situação patrimonial do devedor e
as razões da crise financeira;
 demonstrações contábeis relativas aos últimos 3 (três) exercícios,
bem como outras informações acerca do balanço patrimonial,
resultados acumulados, resultado desde o último exercício social e
relatório do fluxo de caixa;
 a relação de credores;
 a relação de empregados do devedor;
 certidão de regularidade do devedor junto aos órgãos de Registro
Público de Empresas;
 relação de ações que figure o devedor como parte;
 dentre outros.
Estando presentes os documentos exigidos, o juiz deferirá o processamento
da recuperação judicial e nomeará o administrador judicial, bem como
ordenará a suspensão das ações e execuções em curso em face do devedor,
além de outras medidas pertinentes.
O resumo do pedido do devedor, a decisão de deferimento do pedido de
recuperação judicial, a relação de credores com valor discriminado e
classificação do crédito, nos termos da lei, e a advertência acerca dos
prazos para habilitação dos créditos serão publicados em edital. 
A publicação do edital é uma etapa importante, pois dá visibilidade ao
status da empresa devedora, viabilizando que os credores possam requerer
a satisfação dos créditos no juízo que tramita a recuperação.
O devedor deve, então, apresentar um plano de recuperação judicial, no
prazo de 60 dias contados da data da decisão de deferimento do
processamento, constando, em resumo, as medidas para reerguer a empresa
e pagamento das dívidas.
O descumprimento do prazo para apresentação do plano ensejará a
convolação da recuperação judicial em falência, perdendo o devedor a
oportunidade de manter as atividades empresariais,
Os credores podem apresentar objeção ao plano de recuperação judicial a
ser apresentado pelo devedor e, não existindo objeções dos credores, o juiz
concederá a recuperação judicial para cumprimento das obrigações do
Plano de Recuperação Judicial, permanecendo sob a fiscalização judicial
pelo prazo de 2 anos.
Caso sejam apresentadas objeções, será convocada Assembleia Geral de
Credores, onde será deliberada pela aprovação ou rejeição do plano
proposto. 
Cumpridas as obrigações, o juiz decretará por sentença o encerramento da
recuperação judicial e a empresa continua as atividades normalmente, se
for o caso. 

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