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Preparação para ORAL de

Direito da Insolvência

1. Qual a finalidade do processo de insolvência?

O processo de insolvência tem como objectivo a satisfação, pela forma mais eficiente possível, dos
direitos dos credores. De acordo com o artigo 1.º do Código de Insolvência e Recuperação de
Empresas (CIRE), trata-se de um processo de execução universal (uma vez que todo o património
do devedor insolvente responde pelas suas dívidas), que tem como finalidade a satisfação dos
credores. Essa satisfação alcança-se pela forma prevista num plano de insolvência, que se baseará
na recuperação do devedor ou na liquidação do seu património e repartição do seu produto pelos
credores.

2. Que tipo de processo é?

Todo o processo de insolvência tem carácter urgente (artigo 9.º do CIRE). Assim, por exemplo, estes
processos continuam a correr em férias judiciais, ao contrário do que acontece com outro tipo de
processos.

Além disso, goza de precedência face ao trabalho ordinário do tribunal. Aliás, o seu carácter
urgente é notório ainda pelo facto de o juiz ter apenas três dias úteis para fazer a apreciação liminar do
pedido (artigo 27.º do CIRE) e, igualmente, três dias úteis para declarar a insolvência, quando a
apresentação seja feita pelo devedor (artigo 28.º do CIRE).

3. Que sujeitos podem ser declarados insolventes?

Qualquer pessoa, singular ou colectiva, pode ser declarada insolvente (artigo 2.º, n.º1, al. a).

Além destes, também outros sujeitos podem ser declarados insolventes: as heranças jacentes,
sociedades civis, estabelecimento individual de responsabilidade limitada, entre outras.

No entanto, as pessoas colectivas públicas e as entidades públicas empresariais não podem ser
declaradas insolventes, bem como as empresas de seguros, as instituições de crédito, as sociedades
financeiras, as empresas de investimento que prestem serviços que impliquem a detenção de fundos
ou de valores mobiliários de terceiros e de organismos de investimento colectivo, na medida em que a
sujeição a este processo seja incompatível com os regimes específicos previstos para tais entidades
(artigo 2.º, n.º2 do CIRE).

4. Quando se verifica a situação de insolvência?

Os devedores que se encontrem impossibilitados de cumprir a generalidade das suas obrigações já


vencidas (artigo 3.º do CIRE).

Tratando-se de pessoas colectivas ou patrimónios autónomos, se nenhuma pessoa singular responder

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pelas suas dívidas, pessoal e ilimitadamente, também se consideram em situação de insolvência


quando o seu passivo for manifestamente superior ao seu activo.

Além disso, é equiparada à situação de insolvência a que seja meramente iminente. A situação de
insolvência meramente iminente (art.º 3.º/4) verifica-se quando haja uma convicção de que
praticamente se encontrem esgotadas as possibilidades daquele devedor vir a cumprir com as suas
obrigações.

5. Quem tem legitimidade para requerer a declaração de insolvência?

O devedor em situação de insolvência (isto é, quando impossibilitado de cumprir as suas obrigações


vencidas), deve requerer a declaração da sua insolvência, nos trinta dias que se seguem à data do
conhecimento da sua situação (artigo 18.º, n.º 1 do CIRE), sob pena de, por sentença, vir a ser
declarada uma insolvência culposa (artigo 186.º, n.º 3 a) do CIRE).

Notar que este dever não se aplica aos devedores singulares não titulares de empresa (artigo 18.º, n.º
2 do CIRE).

Este dever de apresentação não existe nos casos de insolvência meramente iminente, uma vez que aí
não se está perante uma situação consumada e não se deve excluir a possibilidade de os dados se
virem a alterar.

Além disso, quanto aos devedores titulares de empresa, existe uma presunção absoluta de que
conhecia a situação de insolvência após três meses de incumprimento generalizado das suas
obrigações (artigo 18.º, n.º 3 do CIRE).

Para além do devedor, pode ainda requerer a declaração de insolvência o responsável pelas suas
dívidas, qualquer credor, independentemente da natureza do seu crédito, e o Ministério Público, em
representação das entidades cujos interesses lhe estão legalmente confiados (artigo 20.º, n.º 1 do
CIRE).

6. Que tipos de insolvência existem?

A insolvência pode ser culposa ou fortuita (artigo 185.º do CIRE).

É culposa a situação que tiver sido criada ou agravada em virtude de uma actuação dolosa ou com
culpa grave o devedor ou dos seus administradores, nos três anos anteriores ao início do processo de
insolvência (artigo 186.º, n.º 1 do CIRE), sendo fortuita quando assim não tiver sido originada.

Ora, existe uma presunção inilidível (isto é, não afastável por prova em contrário), quando:

 o devedor não seja pessoa singular e os seus administradores pratiquem certos actos (artigo
186.º, n.º 2), nomeadamente, quando tenham destruído, danificado, inutilizado, ocultado ou
feito desaparecer todo ou parte considerável do património do devedor;

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o quando tenham disposto dos bens do devedor em proveito pessoal ou de terceiros;


quando hajam comprado mercadorias a crédito, revendendo-as ou entregando-as em
pagamento por preço sensivelmente inferior ao corrente, antes de satisfeita a
obrigação;
o quando tenham criado ou agravado artificialmente passivos ou prejuízos ou reduzidos
lucros, causando, por exemplo, a celebração pelo devedor de negócios ruinosos em
seu proveito ou no de pessoas com sejam especialmente relacionadas com aqueles.

Presume-se, aqui já salvo prova em contrário, que houve culpa grave (art.º 186.º/3) se os
administradores do devedor não tenham requerido a declaração de insolvência, estando a tal
obrigados, ou quando não tenham elaborado as contas anuais, de submetê-las a fiscalização ou de as
depositar na conservatória do registo comercial.

7. Quem é, e que actividade desempenha, o administrador de insolvência?

O Administrador da insolvência é nomeado pelo juiz (artigo 52.º, n.º 1), podendo atender as indicações
dadas pelo devedor ou pela comissão de credores. Assim que seja notificado de que foi nomeado,
assume imediatamente as suas funções (artigo 54.º).

O Administrador da insolvência acaba por ser quem rege e dá o devido andamento ao processo de
insolvência, sendo uma figura central do mesmo.

Assim, compete ao Administrador da insolvência:

 preparar o pagamento da dívida do insolvente às custas da massa insolvente;


 promover a venda dos bens que integrem a massa insolvente, com vista á distribuição do
produto pelos credores;
 prover à conservação e frutificação dos direitos do insolvente e à continuação da exploração
da empresa, se existir, evitando tanto quanto possível o agravamento da situação económica
(artigo 55.º, n.º 1).

8. *Como pode cessar funções o administrador da insolvência?

Por destituição (56.º/CIRE), escusa, recusa ou falecimento (16.º /EAI), Renúncia (60.º/EAI) e
encerramento do processo.

9. Como e porquê pode ser destituído o administrador de insolvência?

O Administrador pode ser afastado quando ocorra alguma justa causa que o justifique, cabendo ao
juiz fazê-lo (artigo 56.º do CIRE).

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Existe justa causa quando a actuação, pela sua gravidade e consequências sobre a massa, revelam a
inaptidão ou incompetência para o exercício do cargo tornando inexigível que, razoavelmente, o juiz
mantenha o administrador em funções.

Nota: o juiz deve ouvir a comissão de credores, o devedor e o próprio administrador da insolvência. É
obrigatória a audição (nulidade processual – 201/CC) mas o parecer destas entidades não é
vinculativo.

10. Como se inicia o processo de insolvência?

O processo de insolvência inicia-se com a entrega no tribunal da petição inicial (23.º/CIRE).

Desta peça devem constar as razões que conduziram à situação de insolvência, oferecendo os meios
de prova necessários, além dos demais documentos, que a lei exige (24.º/CIRE).

Se o requerente não for o próprio devedor – 25.º/CIRE e 26.º/CIRE – (por exemplo, um credor), da
petição inicial deve constar a verificação de algum factor indicativo do artigo 20.º do CIRE, além de ter
que justificar a sua posição de credor ou responsável pelos créditos sobre a insolvência.

Do artigo 20.º do CIRE, resultam, enquanto factos indicativos da situação de insolvência de um


devedor, por exemplo:

 a suspensão generalizada do pagamento das obrigações vencidas;


 fuga do titular da empresa ou dos administradores do devedor ou abandono do local em que a
empresa tem as sede ou exerce a sua principal actividade, relacionados com a falta de
solvabilidade do devedor e sem designação de substituto idóneo;
 dissipação, abandono, liquidação apressada ou ruinosa de bens e
 constituição fictícia de créditos.

11. Depois de iniciar o processo de insolvência, devo continuar a pagar aos meus credores?

Não! Com o processo de insolvência, o devedor não deve fazer mais nenhum pagamento aos credores.
Todos os pagamentos são feitos no âmbito do processo de insolvência, com a intervenção do
administrador de insolvência (art.º 81.º/1/CIRE).

Nota: Com a sentença de declaração de insolvência, o devedor fica sem poder dispor dos bens que
integram a massa insolvente, sem o consentimento/aval do administrador de insolvência.

12. O que é a massa insolvente?

A sentença de insolvência irá decretar que sejam apreendidos todos os bens do devedor, devendo o

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administrador de insolvência agir no sentido de esses bens lhe serem imediatamente entregues,
ficando então seu depositário (artigo 36.º, n.º 1, al. g) do CIRE).

Pode não ser assim, se o devedor tiver requerido que a administração lhe fique confiada (artigos 36.º,
n.º 1, al. e), 223.º e 224.º CIRE).

Ora, a massa insolvente será constituída por todo o património do devedor, na data em que for
declarada a sua insolvência (artigo 46.º, n.º 1) do CIRE).

Além desse património, também fazem parte da massa insolvente os bens e direitos de carácter
patrimonial e que possam ser convertidos em dinheiro, adquiridos na pendência do processo de
insolvência.

Por isso, podem fazer parte da massa insolvente direitos de propriedade, direitos de uso, reservas
de propriedade, entre outros. Notar que se o devedor insolvente for casado em regime de comunhão
de bens, a massa insolvente compreende, igualmente, a sua meação nos bens comuns.

Por outro lado, serão excluídos da massa insolvente os direitos do devedor que tenham natureza
não patrimonial, bem como os bens que sejam absolutamente impenhoráveis (artigo 46.º, n.º 2 do
CIRE).

Já os bens relativamente impenhoráveis só poderão integrar a massa insolvente se forem


voluntariamente os apresentar (artigo 46.º, n.º 2 do CIRE).

13. * O que são dívidas da massa insolvente?

(art.º 51.º/CIRE) São as dívidas relacionadas com os custos do próprio processo de insolvência.

14. * O que são dividas da insolvência?

As dívidas da insolvência são aquelas que se constituíram antes da declaração da insolvência do


devedor e são as únicas que se encontram submetidas ao regime do pagamento fixado nos arts. 173º
e ss. do CIRE.

15. E se a massa insolvente for insuficiente para satisfazer as próprias dívidas?

Presume-se a insuficiência da massa insolvente quando o património do devedor é inferior a


5.000,00€.

Se a massa insolvente se mostrar insuficiente para enfrentar as suas próprias dívidas


(nomeadamente, as custas do processo e a remuneração do administrador de insolvência), o processo
é encerrado ou, se ainda não foi declarada a insolvência, não prossegue após esse momento (artigo
39.º, n.º 1 e 7, al. b) do CIRE).

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Isto porque a massa insolvente tem em vista o pagamento dos credores, depois de satisfeitas as
dívidas da massa – tendo estas prioridade em face dos credores.

Não será assim, se o devedor (pessoa singular) tiver requerido, antes da sentença, a exoneração do
passivo restante (artigo 39.º, n.º 8 do CIRE).

16. Quem são os credores da insolvência?

São credores da insolvência todos os titulares de créditos de natureza patrimonial que existam sob o
insolvente, ou que sejam garantidos por bens integrantes da massa insolvente, cujo fundamento seja
anterior à data dessa declaração. (art.º 47.º/CIRE)

17. *O que é o princípio da PAR CONDITIO CREDITORIUM?

É o princípio segundo o qual, na ausência de factos que determinem a aplicação de regras especiais,
os credores estão em pé de igualdade perante o devedor (604/CC).

Há, no entanto, desvios e exceções vir boa previstas na lei, que estatuem causas legítimas de
preferência virgula como por exemplo as garantias reais voluntárias e privilégios creditórios que
originam a vírgula alguns credores, o gozo do direito a serem pagos preferencialmente por força da lei.

18. *Quais são os créditos privilegiados e garantidos?

São créditos sobre a insolvência que beneficiam de garantia real (créditos garantidos) e de privilégios
creditórios gerais (créditos privilegiados) sobre bens integrantes da massa insolvente, até ao
montante correspondente ao valor dos bens objecto de garantia ou dos privilégios gerais, tendo em
conta as eventuais onerações precedentes. (art.º 47.º/4-a)).

As garantias de origem processual, penhora e hipoteca judicial, perdem o estatuto preferente no


processo de insolvência, ou seja, não são atendidas no processo de insolvência (140.º/3/CIRE).

Exemplo de Créditos garantidos (não processuais):

 consignação de rendimentos, penhor, hipoteca, direito de retenção.

Exemplo de créditos privilegiados:

 despesas de justiça, IMI, IMT, impostos de Sucessões e doações quando incide sobre bens
imóveis e créditos de trabalhadores.
 IRC, IRS, IVA, contribuições e juros da SS

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19. * Quais são os créditos subordinados?

São créditos detidos por credores, pessoas singulares ou colectivas, especialmente relacionados com o
devedor e que são pagos depois de satisfeitos os demais créditos por assumirem uma natureza
subordinada. (47.º/4-b) + 48.º/CIRE)

20. * Quais são os créditos comuns?

Todos os outros, que não são nem garantidos, nem privilegiados nem subordinados.

21. Quem pode fazer reclamação de créditos e em que prazo? E verificação de créditos?

Devem reclamar créditos no processo de insolvência, no prazo indicado na sentença, até 30 dias
(artigo 36.º, n.º 1, al. j) e 128.º, n.º 1 do CIRE), todos os credores do insolvente, mesmo que sejam
autores ou exequentes em acções que corram contra o insolvente e exista ou não sentença transitada
em julgado nesses mesmos processos.

E porquê?

Porque, uma vez declarada a insolvência, todos os pagamentos feitos aos credores serão feitos no
âmbito deste processo e aquela obsta à instauração e ao prosseguimento de qualquer acção executiva
contra a massa insolvente. Além disso, se os credores tiveram ganho aquelas acções, não podem
exercer os seus direitos fora do processo.

Se o requerente da declaração de insolvência for um credor e tiver identificado devidamente o seu


crédito, não precisa de fazer a reclamação daquele no processo, uma vez que já consta do processo,
pelo que o administrador de insolvência deve reconhecê-lo.

Os créditos são reclamados por requerimento ao Admin.Insolvência com junção dos elementos que
provem a pretensão alegada (128.º/1)

22. Qual o prazo de que o devedor dispõe para apresentar a oposição à insolvência?

Quando o devedor não for o requerente, o juiz manda citá-lo pessoalmente, no prazo de três dias
úteis a contar da apresentação à insolvência (artigo 29.º, n.º 1 do CIRE), sendo advertido, nesse
momento, de que a não apresentação de oposição àquela, implicará a confissão dos factos alegados
e a sua declaração de insolvência.

Para obstar a que tal aconteça deve, portanto, deduzir oposição no prazo de 10 dias, oferecendo
todos os meios de prova de que disponha e apresentando testemunhas (artigo 30.º, n.º 1 e artigo 25.º,

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n.º 2 do CIRE).

23. O que acontece se o devedor não deduzir oposição?

A não oposição do devedor implica que se considerem confessados os factos alegados na petição
inicial e, consequentemente, o reconhecimento da sua situação de insolvência, cabendo ao tribunal
apurar se se encontram preenchidos os requisitos que constam do 20.º/1/CIRE, para que seja
declarada a insolvência

No caso de se verificarem aquelas condições, a insolvência é declarada no primeiro dia útil seguinte ao
termo do prazo para deduzir oposição (30.º(5/CIRE).

Nota: a falta de oposição não tem efeito cominatório pleno. Cabe ao juiz apreciar os factos que
constituem a causa de pedir e se consideram confessados.

Ou seja, ainda que não conteste, o juiz tem o dever de, com base na prova feita pelo requerente, se se
verificam os factos do 20.º/1/CIRE.

24. Quais os deveres do devedor insolvente?

O devedor insolvente fica obrigado (83.º/CIRE):

 a fornecer todas as informações solicitadas pelo administrador de insolvência, assembleia de


credores, comissão de credores ou tribunal;
 a apresentar-se pessoalmente no tribunal sempre que o seja requerido pelo juiz ou
administrador de insolvência, salvo legítimo impedimento ou expressa autorização para se
fazer representar por mandatário;
 prestar colaboração requerida pelo administrador de insolvência, para o exercício das suas
funções.

A obrigação de informação, apresentação e colaboração estende-se aos administradores do devedor e


aos membros do seu órgão de fiscalização, bem como aos que tenham desempenhado esses cargos e
aos empregados e prestadores de serviços do devedor.

25. Que efeitos tem a declaração de insolvência sobre as acções pendentes, nomeadamente as
acções executivas?

Declarada a insolvência, todas as acções em que se apreciem questões relativas a bens


compreendidos na massa insolvente, intentadas contra o devedor, ou conta terceiros se o resultado
delas influenciar o valor da massa, bem como todas as acções que tenham carácter exclusivamente

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patrimonial e que tenham sido intentadas pelo devedor, podem ser apensadas (isto é, «juntas») ao
processo de insolvência, se o administrador de insolvência o tiver requerido, com fundamento na
conveniência processual (85/1).

Independentemente de ter havido apensação ou não, o administrador de insolvência substitui o


insolvente em todas as acções referidas, mesmo sem o acordo da parte contrária (85/3).

São igualmente apensadas os processos de insolvência daqueles em haja sido declarada a insolvência
das pessoas que legalmente respondam pelas dívidas do insolvente, bem como do cônjuge com quem
o devedor seja casado em regime de bens que não o da separação (86/1). Se o devedor for uma
sociedade comercial, são apensadas os processo de insolvência de sociedades que ela domine ou que
com ela se encontre em relação de grupo.

É muitas vezes o não ser capaz de liquidar, em devido tempo, uma dívida, o que leva os devedores a
se vincularem a um novo crédito. Assim, é muito comum, contra o devedor insolvente ou em situação
de insolvência iminente já correrem acções executivas, com vista ao pagamento de dívidas que aquele
contraiu e não conseguiu liquidar.

Sucede que, com a declaração de insolvência, são suspensas todas as diligências executivas ou
providência requeridas pelos credores da insolvência que atinjam a massa insolvente (isto é, o
património do devedor), bem como obsta à instauração ou prosseguimento de qualquer acção
executiva proposta pelos credores da insolvência (88/1). Contudo, se existirem outros executados
além do insolvente, prosseguira a acção contra aqueles (parte final do 88/1.). Então, se o insolvente
tinha uma penhora sobre o seu vencimento, por exemplo, este será suspensa.

Ora, as acções suspensas extinguem-se, quanto ao executado insolvente, quando declarada a sua
insolvência e encerrado o processo, por rateio final ou insuficiência da massa (88/3). O administrador
deve, então, comunicar aos agentes de execução designados do encerramento dos processos.

Nos três meses que se seguem à declaração de insolvência, não podem ser propostas execuções com
vista ao pagamento de dívidas da massa insolvente (89/1/ CIRE).

26. E o que acontece aos créditos do devedor insolvente?

Uma vez declarada a insolvência, vencem-se todas as obrigações do insolvente não subordinadas a
uma condição suspensiva (isto é, as obrigações que não se encontrem dependentes da verificação de
um evento para serem devidas). – 91.º/CIRE.

Depois de declarada a insolvência, o direito de exigir alimentos ao insolvente só pode ser exercido
contra a massa e, ainda assim, apenas quando as demais pessoas obrigadas a alimentos (2009.º/CC),
nomeadamente, o cônjuge, ascendentes e descendentes, não os puderem prestar (93.º / CIRE). Neste
caso, em que os alimentos são devidos pelo insolvente e é a massa que responde, deve o juiz fixar o
seu montante.

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27. Se o devedor tiver negócios pendentes, qual o efeito nestes, da declaração de insolvência?

A regra é a de que os contratos bilaterais (que geram obrigações, interdependentes entre si, para
ambas as partes) sejam cumpridos. – 102/1

Contudo, quando estes contratos não tenham sido totalmente cumpridos, à data da declaração de
insolvência, nem pelo insolvente nem pela outra parte, o cumprimento fica suspenso até que o
administrador de insolvência emita uma declaração pela execução ou pela recusa do cumprimento
(102/2).

De qualquer modo, a outra parte pode fixar um prazo razoável para que o administrador de insolvência
exerça a sua opção, findo o qual se considera recusado o cumprimento (102/2).

Assim (102/3):

 se o contrato não for cumprido , por opção do administrador de insolvência, nenhuma das
partes tem que restituir o que prestou;
 a massa insolvente pode exigir o que tiver prestado na medida em que não tenha tido
contraprestação pela outra parte;
 a outra parte pode exigir, como crédito sobre a insolvência, o valor da prestação do devedor,
na parte incumprida, com a dedução do valor da contraprestação ainda não realizada (pode
exigir se já tiver prestado a sua parte e ainda não tiver a contraprestação por essa parte; tudo o
resto, que ainda não foi prestado por qualquer das partes ou a que já foi prestada
contraprestação, é descontado),

Isto é,

 sendo cumprido o contrato, mantêm-se os termos acordados entre as partes;


 se não for cumprido, a outra parte fica com um crédito sobre a insolvência.

A contraparte tem ainda direito a ser indemnizado pelos prejuízos que haja sofrido , até ao valor ao
valor da contraprestação que a massa insolvente possa exigir à contraparte, abatido o quantitativo que
a outra parte tenha direito, e constitui um crédito sobre a insolvência.

Se estiver em causa a compra e venda com reserva de propriedade, sendo o vendedor o insolvente,
a outra parte pode exigir-lhe o cumprimento se a coisa já lhe tiver sido entregue na data da declaração
de insolvência (104/1).

E o mesmo se diga, caso o insolvente seja o locador, face a contratos de locação financeira e a
contratos de locação onde tenha sido inserida uma cláusula de que a coisa se tornará propriedade do
locatário, depois da satisfeitas todas as rendas acordadas (104/2).

Se o insolvente for, pelo contrário, o comprador, a cláusula de reserva de propriedade só é

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oponível à massa se tiver sido estipulada por escrito, até ao momento da entrega da coisa (104/4).

No caso dos contratos-promessa, sendo o insolvente o promitente-vendedor, não pode ser


recusado o cumprimento do contrato com eficácia real se já tiver havido a tradição da coisa a
favor do promitente-comprador (a título de exemplo, quando nos contratos de promessa de venda de
um imóvel, o promitente-vendedor já tiver entregue a chave ao promitente-comprador), conforme
resulta do 106/1.

Nas situações em que o insolvente for o locatário, o contrato de locação não é suspenso pela
declaração de insolvência, mas o administrador pode denunciar esse contrato, a menos que o locado
se destine à habitação (casa arrendada) do insolvente. Mas se a coisa locada ainda não tiver sido
entregue ao locatário à data da declaração de insolvência deste, o locador ou administrador de
insolvência podem resolver o contrato (108/5).

Já quando o insolvente é o locador, o contrato não é suspenso pela declaração de insolvência. E,


também aqui, não tendo sido entregue a coisa ao locatário, podem o administrador de insolvência ou
aquele resolver o contrato.

28. Se, antes de se apresentar à insolvência, o devedor realizou negócios que diminuíram o seu
património, é possível agora fazer alguma coisa?

Muitas pessoas, vendo a sua situação económica a degradar-se, começam a dissipar o seu
património, por exemplo, ficcionando contratos de compra e venda de bens que tenha em seu nome,
de modo a evitar que venham a fazer parte da massa insolvente e responder pelas suas dívidas. A
pensar nessas situações, o legislador previu a possibilidade de resolução de actos em benefício da
massa insolvente (artigo 120.º e seguintes do CIRE).

Deste modo, podem ser resolvidos os actos prejudiciais à massa, praticados dentro dos dois anos
anteriores à data do início do processo de insolvência (120/1).

E que actos podem ser prejudiciais para a massa?

Todos aqueles que diminuam, frustrem, dificultem, ponham em perigo ou retardem a satisfação dos
credores (120/2).

A resolução pressupõe má-fé do terceiro.

Entendendo-se por má-fé o conhecimento:

 de que o devedor se encontrava em situação de insolvência;

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 do carácter prejudicial do acto e de que, naquela data, o devedor se encontrava numa situação
de insolvência iminente;
 ou do início do processo de insolvência (120/5).

De qualquer forma, presume-se a má-fé do terceiro quando os actos praticados ou omitidos tenham
ocorrido nos dois anos anteriores ao início do processo de insolvência e em que tenham
participado, ou de que tenham aproveitado, pessoas especialmente relacionadas com o insolvente,
como pais ou filhos (120/4 com remissão ao 49/CIRE).

Sucede que, em alguns casos, pode prescindir-se do requisito da má-fé (121/CIRE).

Há, portanto, alguns actos que são resolúveis independentemente de qualquer requisito.

A título de exemplo, são, então, resolúveis:

 os actos celebrados pelo devedor a título gratuito, nos 2 anos que antecederam o início do
processo de insolvência (incluindo o repúdio de herança ou legado);
 a fiança, subfiança, aval, e mandatos de crédito que, naquele período, haja outorgado e que
não se tratem de operações ou negócios com real interesse para si;
 actos onerosos realizados pelo insolvente no ano anterior ao início do processo de insolvência
em que ele haja assumido manifestamente mais obrigações do que contraparte.

29. Como é feito o pagamento aos credores?

Antes de pagar aos credores, o administrador de insolvência paga as dívidas da própria massa
(como as custas processuais e a remuneração do administrador de insolvência) e só depois procede
ao pagamento dos credores cujos créditos estejam verificados na sentença transitada em
julgado (172 e 173/CIRE).

Quanto a estes, há uma ordem de pagamento:

 primeiro, paga-se aos credores que tenham garantias reais (174/CIRE), como a hipoteca ou o
penhor;
 depois, paga-se aos credores privilegiados (175/CIRE), como sejam os créditos do Estado ou
autarquias locais;
 em terceiro lugar, pagam-se os credores comuns (176/CIRE), isto é, todos os credores que não
sejam privilegiados ou garantidos;
 e, finalmente, paga-se aos credores subordinados (177/CIRE), definidos pelo 48/CIRE: créditos
detidos por pessoas especialmente relacionadas com o devedor, créditos cuja subordinação
haja sido convencionada, créditos sobre a insolvência que, em virtude da resolução em
benefício da massa, resultem para terceiro de má fé, entre outros.

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Todos os pagamentos são realizados sem necessidade de requerimento, por via de cheque sobre a
conta da insolvência (183/1).

30. O que é o plano de insolvência?

O pagamento dos créditos sobre a insolvência, a liquidação da massa insolvente (isto é, a liquidação
do património do insolvente) e a sua repartição pelos credores e pelo devedor, e a responsabilidade do
devedor depois de terminado do processo, pode ser regulado por um plano de insolvência (192/1).

Este plano de insolvência tomará a designação de plano de recuperação se tiver em vista a


recuperação do devedor, devendo esta menção constar de toda a documentação (192/3).

O administrador de insolvência, o próprio devedor, quem responda legalmente pelas dívidas da


insolvência e qualquer credor com, pelo menos, 1/5 do total dos créditos não subordinados
(48/CIRE), podem apresentar um plano de insolvência (193/1), que obedeça ao princípio de igualdade
dos credores (194/1), ainda que possam existir diferenças de tratamento devido ao tipo de crédito em
causa.

O plano de insolvência indicará as alterações que impliquem com as posições jurídicas dos credores,
além de indicar também a sua finalidade, as medidas necessárias para o executar, e os elementos
necessários para que os credores o aprovem e para que o juiz o homologue, nomeadamente, a
descrição da situação patrimonial, financeira e reditícia do devedor e a indicação acerca da forma como
os credores serão satisfeitos (195/2).

O plano de insolvência é levado a discussão e votação, em assembleia de credores convocada pelo


juiz (209/1), podendo ser aí modificado, sendo posto a votação com as alterações introduzidas
(201/CIRE)

31. Quais os seus efeitos?

O plano é homologado por sentença, (217/CIRE) produzindo-se as alterações sobre os créditos que
o plano previr.

De resto, a sentença homologatória dá eficácia a todos os actos ou negócios jurídicos previstos no


plano de insolvência, desde que estejam no processo as declarações de vontade de terceiros e dos
credores que não o tenham votado favoravelmente ou que o devessem fazer em momento posterior à
aprovação.

32. Como encerra o processo?

Se o processo de insolvência prosseguir após o devedor ser declarado insolvente, o juiz declara o
processo encerrado:

 após o rateio final;

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Direito da Insolvência

 após a sentença que homologue o plano de insolvência;


 a pedido do devedor, quando este deixe de se encontrar em situação de insolvência
(231/CIRE);
 quando o administrador da insolvência conclua que a massa insolvente é insuficiente para
fazer face às suas dívidas (232/CIRE),
 quando não tenha sido declarado encerrado aquando do despacho inicial referente ao pedido
de exoneração do passivo restante (230/1).

O encerramento do processo é notificado aos credores, devendo ser publicado e registado, com a
indicação da razão que conduziu ao encerramento.

33. Quais são os efeitos do encerramento do processo?

Com o encerramento do processo, cessam todos os efeitos da declaração de insolvência e o


devedor recupera o direito de disposição dos seus bens, podendo vender ou doar o seu
património, por exemplo, além de que volta a ter a livre gestão dos seus negócios (233/CIRE)

A comissão de credores e do administrador cessam as suas funções, excepto as referentes à


apresentação de contas e das que o plano de insolvência, eventualmente, lhes confira.

Para além disso, após o encerramento do processo, os credores da insolvência deixam de ter
restrições quanto ao exercício dos seus direitos contra o devedor, com a excepção das que resultem de
eventual plano de insolvência ou plano de pagamentos.

Finalmente, os credores poderão reclamar junto do devedor os seus direitos que não hajam ficado
satisfeitos com o processo de insolvência (porque os credores cujos créditos não hajam sido
inteiramente satisfeitos podem ainda vir a reclamar esses direitos, algumas pessoas singulares
insolventes requerem a exoneração do passivo restante que não for liquidado com o processo).

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Direito da Insolvência

INSOLVÊNCIA DE PESSOAS SINGULARES

34. As pessoas singulares têm o dever de se apresentar à insolvência?

As pessoas singulares que não sejam titulares de empresa, não têm o dever de se apresentar à
insolvência (18/2)

De qualquer modo, se pretenderem vir a beneficiar do regime de “exoneração do passivo restante”


(238/1-d)), devem apresentar-se à insolvência no prazo de seis meses a contar da data em que tomam
conhecimento da sua situação de insolvência.

35. Se eu e o meu cônjuge estivermos insolventes, podemos fazer uma só apresentação à


insolvência?

Depende.

Se o regime de bens não for o da separação, os cônjuges podem apresentar-se à insolvência


conjuntamente ou, se o requerente não forem os cônjuges, pode ser instaurado contra ambos, salvo
se, perante o requerente, apenas um for responsável (264/1).

De qualquer modo, se o processo for instaurado apenas contra um dos cônjuges, o outro cônjuge, com
a anuência do outro e independentemente do acordo do requerente, pode apresentar-se à insolvência
no âmbito do mesmo processo (264/2)

36. De que documentos preciso para me apresentar à insolvência?

(23 e 24/CIRE)

Se for o próprio devedor a apresentar-se à insolvência deverá indicar e/ou juntar:

 se a situação de insolvência é actual ou iminente;


 se pretende a exoneração do passivo restante
 se for casado, indica o cônjuge, regime de bens; devendo juntar certidão do registo civil
 a relação de todos os credores;
 a relação de todas as acções e execuções pendentes contra si;
 um documento onde conste a actividade ou actividades a que se tenha dedicado nos últimos
três anos,
 os estabelecimentos de que tenha sido titular e as razões que entenda terem conduzido à
situação de insolvência;
 a relação de bens que detenha em regime de arrendamento, aluguer ou locação financeira,

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Direito da Insolvência

bem como todos os outros bens e direitos de que seja titular.

Se for um credor o requerente,

 Indica os elementos referidos e dos quais tenha conhecimento


 deve justificar, na petição inicial, a origem, a natureza e o montante do seu crédito ou a sua
responsabilidade pelos créditos sobre a insolvência, respectivamente,
 oferecer os elementos que possua quanto ao activo e passivo do devedor.
 deve oferecer todos os meios de prova de que disponha e indicar testemunhas.

Neste caso, o devedor é depois citado pessoalmente, sendo alertado de que, se não se opuser, têm-se
por confessados os factos alegados, e de que deve ter os documentos acima enumerados disponíveis
para entregar ao administrador de insolvência.

37. Como reagir à declaração de insolvência?

É possível reagir ao pedido de declaração de insolvência por oposição (30/CIRE), no prazo de 10 dias
após a citação a dar-lhe conhecimento de que foi intentado um pedido de declaração de insolvência.

Uma vez proferida a sentença que declare a insolvência é possível reagir mediante oposição de
embargos (40/CIRE) no prazo de 5 dias após o trânsito em julgado da sentença, ou por via de recurso
(42/CIRE).

Quem se pode opor embargos?

Podem opor embargos as seguintes pessoas (40/1):

 o devedor, quando se encontre em situação de revelia absoluta por não ter sido pessoalmente
citado;
 o cônjuge, os ascendentes, descendentes e afins em 1.º grau da linha recta da pessoa
insolvente, se tiver fundamento na fuga do devedor relacionada com a sua falta de liquidez;
 o cônjuge, herdeiro, legatário ou representante do devedor, quando este faleça antes de o
deduzir oposição (no caso de devedor em revelia absoluta por falat de citação);
 os credores;
 os responsáveis legais pelas dívidas da insolvência.

Estes mesmos sujeitos, e mesmo o devedor que não se pudesse opor por embargos (por não estar em
revelia absoluta), cumulativa ou alternativamente, podem interpor recurso da sentença de
declaração de insolvência, se entenderem que aquela nunca deveria ter sido proferida (42/CIRE).

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Direito da Insolvência

*Cabe recurso da sentença de embargos?

Sim, nos termos do 14/CIRE, há recurso ordinário até ao TR.

Não há recurso da decisão do TR excepto se se tratar de acórdão em manifesta oposição com acórdão
de TR ou STJ.

38. Quais os efeitos da declaração de insolvência sobre o insolvente e outras pessoas?

Assim que seja declarado insolvente, o devedor ficará privado dos poderes de administração e
disposição dos seus bens que integrem a massa insolvente, (81/1) uma vez que esses poderes
passarão para as mãos do administrador de insolvência.

A partir desse momento, o administrador de insolvência representa o devedor para todos os efeitos de
cariz patrimonial que interessem à insolvência, com excepção da intervenção no próprio processo de
insolvência, seus incidentes e apensos (81/4 e 81/5).

E porque é assim?

Porque se procura impedir o devedor de praticar actos que diminuam o seu activo, ou que aumente o
seu passivo. Assim, defende-se o seu património, por forma a melhor poder garantir aos credores o seu
direito a serem ressarcidos pelos seus créditos. Então, com a declaração de insolvência, o devedor não
pode gerir os seus bens, até os credores serem pagos ou até que a massa insolvente deixe de existir.

39. Comprei uma casa, por recurso a empréstimo bancário. Depois de me apresentar à

insolvência, posso continuar a viver nessa casa?

Em princípio, não, uma vez que todos os bens do devedor serão apreendidos para a massa
insolvente. O mesmo se diga quanto ao carro que eventualmente possua.

40. E se viver numa casa arrendada, posso continuar a viver nessa casa?

Sim, o seu património será apreendido para a massa insolvente e administrado pelo administrador de
insolvência. Mas terá de viver em algum lado! Por isso, pode continuar a viver em casa arrendada ou
até arrendar uma outra casa, porventura mais barata.

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Direito da Insolvência

41. Posso apresentar um plano de pagamentos em vez de um plano de insolvência?

Sim. (249/CIRE)

As pessoas singulares não titulares de uma empresa nos três anos que antecederam o início do
processo de insolvência ou que, à data do início do processo, não tivessem dívidas laborais, até
20 credores e até € 300.000,00 de passivo global, podem apresentar um plano de pagamentos em
vez de um plano de insolvência, funcionando como uma proposta de recuperação do devedor
insolvente, no interesse dos seus credores.

Constitui um incidente do processo de insolvência, tramitando por apenso.

Deste plano, deve constar uma proposta de satisfação dos credores, acautelando os seus interesses
(252/1).

A apresentação deste plano de pagamento comporta a confissão de que se encontra em situação de


insolvência, pelos menos iminente, pelo devedor.(252/4)

Que documentos devem acompanhar o Plano de pagamentos?

Devem acompanhar o plano de pagamentos os seguintes documentos (252/5):

 a declaração de que reúne os requisitos para apresentar plano de insolvência;


 a relação de bens e de rendimentos;
 um resumo do activo (sumário do conteúdo essencial dos bens e rendimentos);
 a relação de todos os credores;
 uma declaração de que todas as informações prestadas correspondem à verdade.

Se os credores não recusarem o plano ou se a recusa for suprida, o plano é tido por aprovado (257/1),
podendo a aceitação ser tácita.

No caso de o plano de pagamentos ter sido aceite por credores que detenham 2/3 do valor total dos
créditos, o tribunal pode suprir a aprovação dos restantes. (258/1)

Notar, contudo, que se o devedor pretender beneficiar da exoneração do passivo restante no caso
de o plano de pagamentos não vier a ser aprovado, deve disto mesmo dar conta aquando da
apresentação do plano, sob pena de não o poder fazer posteriormente (254/CIRE).

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42. O que é a exoneração do passivo restante?

As pessoas singulares em situação de insolvência podem requerer a exoneração do passivo restante


que não for integralmente pago no processo de insolvência ou nos cinco anos posteriores ao seu
encerramento (235/CIRE).

Este instituto visa a protecção dos devedores que sejam pessoas singulares, bem como, de algum
modo, responsabilizar as empresas que durante anos tenham concedido créditos fáceis, contribuindo
para o endividamento das famílias.

O que se pretende é possibilitar às pessoas singulares o chamado fresh restart, possibilitando-lhes um


recomeço de uma vida livre de dívidas, que, não fora este instituto, manteriam para sempre!

Assim concilia-se a necessidade de ajudar as pessoas singulares a terem um novo começo, com o
perdão das dívidas que não fiquem pagas, com o dever de ressarcir os credores pelos seus direitos.

Quem pode requerer a exoneração do passivo restante?

O pedido de exoneração do passivo restante deve ser feito pelo devedor juntamente com a petição
inicial, ou nos dez dias que se sigam à citação, nos casos em que contra si foi instaurado o processo
de insolvência (236/1).

43. Quando é recusado o pedido de exoneração do passivo restante?

O pedido de exoneração do passivo restante é indeferido quando (238/1):

 o devedor tiver, com dolo ou culpa grave, fornecido informações falsas ou incompletas sobre a
sua situação económica, para obter crédito ou subsídios de instituições públicas ou para evitar
pagamentos a essas instituições;
 se já tiver beneficiado do instituto, nos 10 anos anteriores ao início do processo de insolvência;
 se não se tiver apresentado à insolvência nos 3 ou 6 meses que se seguiram a verificação da
sua situação de insolvência, conforme estejam obrigados ou não a fazê-lo, sabendo não existir
perspectivas sérias de a sua situação vir a melhorar;
 se constar do processo que o devedor contribuiu para a criação ou agravamento da situação
de insolvência,
 se tiver praticado os crimes de insolvência dolosa (227/CP), insolvência negligente (228/CP)
ou favorecimento de credores (229/CP), nos 10 anos que antecederam o pedido de declaração
de insolvência ou depois desta data;
 se o devedor violar, com dolo ou culpa grave, os seus deveres de informação, apresentação e

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Direito da Insolvência

colaboração, que resultem do CIRE.

44. E se o juiz não indeferir o pedido de exoneração?

Não sendo indeferido o pedido de exoneração do passivo restante, é proferido o chamado despacho
inicial (239/1), determinando este que, nos cinco anos que se seguem ao encerramento do
processo de insolvência, todo o rendimento disponível que o devedor venha a auferir deve ser
cedido ao fiduciário (239/2).

Este período de cinco anos designa-se o período de cessão, uma vez que o tribunal fixa o rendimento
mínimo que o devedor nunca entregará e que lhe permite ter uma vida digna, sendo tudo o resto cedido
ao fiduciário.

É com estes valores que os credores da insolvência serão pagos.

45. O que faz parte deste rendimento que deve ser entregue ao Fiduciário?

Do rendimento disponível fazem partes todos os rendimentos que advenham a qualquer título ao
devedor, excluindo-se os créditos futuros emergentes de contratos de trabalho ou de prestação de
serviços, cedidos a terceiros, pelo período em que a cessão se mantenha eficaz, bem como o que seja
razoavelmente necessário para o sustento minimamente digno do devedor e do seu agregado familiar
(salvo decisão fundamentada em contrário, nunca mais de três vezes o salário mínimo), para o
exercício da actividade profissional do devedor e para outras despesas ressalvadas pelo juiz (239/3)

Portanto, todos os rendimentos do insolvente deverão ser entregues, durante os cincos anos do
período de cessão, para pagar as dívidas da insolvência, mas o juiz fixará um montante inatacável,
para que o devedor possa ter uma vida minimamente digna.

Isto significa que poderá nunca ter que entregar qualquer quantia, se os seus rendimentos nunca
ultrapassarem em mínimo correspondente ao fixado pelo juiz para enfrentar as despesas do dia-a-dia.

46. Quem é o Fiduciário e que funções desempenha?

Por norma, não sendo indeferido o pedido de exoneração do passivo restante, e proferido o despacho
inicial, o até agora administrador de insolvência toma o papel de fiduciário.

É ao fiduciário que o devedor deve entregar todas as quantias referentes ao rendimento disponível ,
bem como prestar informações relevantes (alteração de domicílio ou da situação patrimonial, por
exemplo). Também é ao fiduciário que compete pagar aos credores, com as quantias cedidas pelo
devedor. ( 239 + 241/CIRE)

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Direito da Insolvência

47. Quais os deveres do insolvente, durante o período de cessão?

Durante o período de cinco anos após o encerramento do processo, o devedor tem que cumprir com
algumas obrigações, sob pena de o juiz, no final, não lhe conceder a exoneração das dívidas não
pagas com o processo (239/4).

Então, o devedor não poderá esconder ou dissimular os rendimentos que aufira, seja a que título for,
além de ter que informar o tribunal e o fiduciário sobre os seus rendimentos e bens, quando isso lhe
seja solicitado.

Além disso, o devedor é obrigado a exercer uma profissão remunerada e a não abandonar
injustificadamente a que tenha, devendo, caso se encontre em situação de desemprego, esforçar-se
para encontrar um trabalho, não podendo recusar qualquer emprego para o qual tenha aptidão.

O devedor deve, ainda, entregar ao fiduciário todas as quantias que não tenham sido excluídas da
cessão, isto é, se o juiz fixou a quantia de € 600 euros como o mínimo para a sobrevivência digna do
devedor, mas este aufira a título de salário € 700, deverá entregar os € 100 remanescentes ao
fiduciário (valor com que este pagará as dívidas da insolvência e, posteriormente, aos credores).

O devedor deve manter o tribunal e o fiduciário informado sobre qualquer alteração de residência ou de
condições de trabalho (como por exemplo, se lhe foi reduzido o número de horas de trabalho, se sofreu
um aumento salarial, se foi despedido). Para o efeito, o devedor dispõe de 10 dias a contar da
alteração para proceder à informação.

Finalmente, muito importante, é o facto de o devedor não dever fazer quaisquer pagamentos aos
credores da insolvência nem criar quaisquer vantagens para algum deles! (242/CIRE)

Isto é, se algum credor, durante o período de cessão, lhe pedir o pagamento do seu crédito, não deverá
fazê-lo! Todos os pagamentos, durante estes cinco anos, são feitos pelo fiduciário, até aos limites das
forças do rendimento cedido.

O devedor deverá cumprir os seus deveres sob pena de o procedimento de exoneração do passivo
restante vir a recusar a exoneração antes de decorridos os cinco anos (243/1-a)).

48. Durante o período de cessão os meus credores podem executar-me?

Não!

Durante os cincos anos referentes ao período de cessão, não são permitidas quaisquer execuções
sobre os bens do devedor com vista à satisfação de créditos sobre a insolvência. (242/1)

Neste período, os credores são pagos exclusivamente pelo fiduciário, não devendo o devedor pagar
absolutamente nada fora do processo.

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Preparação para ORAL de
Direito da Insolvência

Por isso, se algum credor o contactar para efectuar um pagamento sob pena de moverem uma
execução contra si, não receie vir a ser executado ou vir a ter o seu salário penhorado, pois durante
este período não poderão atacar o seu património.

49. Quais os efeitos da exoneração do passivo restante?

Se não tiver ocorrido nenhuma razão para a cessão antecipada do procedimento, nos 10 dias
subsequentes aos 5 anos do período de cessão, o juiz decide sob a concessão ou não da
exoneração do passivo restante do devedor, depois de o ouvir, bem como ao fiduciário e aos credores
(244/1).

Quando pode a exoneração ser recusada?

A exoneração é recusada: (244/2 + 243.º + 238/1-b), e) e f) ).

 se o devedor tiver violado os seus deveres;


 se se tiver concluído, por decisão do incidente de qualificação da insolvência, pela culpa do
devedor na criação ou agravamento da situação de insolvência;
 se se tiver apurado a existência de uma das seguintes circunstâncias, só conhecidas após o
despacho inicial:
o o devedor, com dolo ou culpa grave, tiver prestado, por escrito e nos três anos
anteriores ao início do processo de insolvência, informações falsas ou incompletas
sobre a sua situação económica para aceder ao crédito ou a subsídios públicos ou
para evitar pagamentos a instituições públicas;
o constarem do processo elementos que indiciem com toda a probabilidade a existência
de culpa do devedor na criação ou agravamento da situação de insolvência;
o se devedor tiver sido condenado pelos crimes de insolvência dolosa, insolvência
negligente ou favorecimento de credores

Quais os efeitos da exoneração?

Não verificadas nenhuma daquelas circunstâncias, o juiz concederá a exoneração do passivo restante
do que não for pago no processo de insolvência (245/1).

A exoneração importa a extinção de todos os créditos sobre a insolvência e que ainda subsistam findos
os cinco anos, mesmo aquelas que não tenham sido reclamados ou verificados.

Isto é, se no final dos cinco anos ainda não tiver pago todos as dívidas de que era titular, não
terá de se preocupar mais com isso, uma vez que a exoneração funciona com um perdão dessas
dívidas.

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Preparação para ORAL de
Direito da Insolvência

Todas as dividas estão incluídas na exoneração do passivo restante?

Não. (245/2)

Há dívidas que são excluídas da exoneração, pelo que após os cinco anos os credores poderão (e
deverão) voltar a exigir-lhe o seu cumprimento.

A exoneração não abrange

 os créditos por alimentos;


 as indemnizações por factos ilícitos dolosos praticados pelo devedor,
 os créditos por multas, coimas e outras sanções pecuniárias por crimes ou multas;
 os créditos tributários (dívidas às finanças, por exemplo).

50. Quais as principais vantagens que retiro se me apresentar à insolvência?

Quando já não se encontra capaz de fazer face ao pagamento de todas as suas dívidas e despesas
quotidianas, se se apresentar á insolvência todas as acções prejudiciais à massa insolvente são
suspensas. Logo, se tiver penhoras sob o seu salário, estas têm que ser suspensas.

Além disso, como se trata de uma pessoa e não de uma empresa, que pode ser encerrada quando se
encontre mergulhada em dívidas, poderá pedir a exoneração do passivo restante.

Neste caso, cumprindo os seus deveres, ao fim de cinco anos fica liberto dos seus créditos, mesmo
aqueles que não hajam sido inteiramente liquidados. Se, por exemplo, tiver feito um crédito no valor de
10 mil euros e, findos os cinco anos, apenas 7 mil tiverem sido pagos, não terá de pagar o
remanescente (3 mil euros)!

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Preparação para ORAL de
Direito da Insolvência

INSOLVÊNCIA DE PESSOAS COLECTIVAS /EMPRESAS

51. As empresas são obrigadas a apresentar-se à insolvência?

As pessoas colectivas estão obrigadas a apresentar-se à insolvência, nos trintas dias que se sigam à
constatação de se encontrarem em tal situação, isto é, quando se encontrarem impossibilitadas de
cumprir as suas obrigações vencidas (18/1).

Sobre as pessoas colectivas impende uma presunção inilidível – 18/3 – (que não admite prova em
contrário) de que a situação de insolvência era conhecida quando tenham decorrido, pelo menos, três
meses sobre o incumprimento generalizados de obrigações de algum deste tipo:

 tributárias; de contribuições e quotizações para a segurança social;


 dívidas emergentes do contrato de trabalho ou da violação ou cessação deste contrato;
 rendas de qualquer tipo de locação,
 prestações do preço da compra ou de empréstimo garantido pela respectiva hipoteca,
relativamente ao local onde o devedor realize a sua actividade (20/1-g))

A quem cabe a iniciativa de apresentação à insolvência?

A iniciativa da apresentação à insolvência cabe ao órgão social da sua admnistração ou, se não for
caso disso, a qualquer um dos seus administradores. (19/CIRE)

52. Quem decide se a opção é liquidar ou recuperar?

Esta é uma decisão inteiramente nas mãos dos credores, como claramente resulta do preâmbulo do DL
n.º 53/2004, de 16 de Março, que aprovou o CIRE.

São estes que decidem se o pagamento dos seus créditos será feito por recurso à liquidação integral
do património do devedor ou nos termos previstos no plano de insolvência que venha a ser aprovado,
ou, pelo contrário, se se mantém a actividade e a reestruturação da empresa, na titularidade do
devedor ou de terceiros, nos moldes do plano de reestruturação, para assim fazer gerar a receita
necessária para “salvar” a empresa e pagar aos seus credores.

53. O sócio não gerente integra o conceito de administrador para efeitos do CIRE?

Não. O CIRE apenas se refere à figura do “administrador” e dos “responsáveis legais pelas dívidas do
insolvente” (6/1), excluindo os meros sócios das sociedades por quotas, que têm responsabilidade

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Preparação para ORAL de
Direito da Insolvência

limitada, se não acumularem outros poderes de administração/gestão nem se tenham constituído


garantes.

Isto porque são considerados “responsáveis legais” as pessoas que, nos termos da lei, respondam
pessoal e ilimitadamente pela generalidade das dívidas do insolvente, ainda que a título subsidiário.

54. Que documentos devem instruir o pedido de declaração de insolvência?

(24/CIRE) Juntamente com a petição inicial (que deverá indicar se a situação de insolvência é actual ou
iminente; os cinco maiores credores; os administradores e juntar a certidão de registo comercial),
devem seguir, essencialmente, os seguintes documentos:

 se a situação de insolvência é actual ou iminente;


 indicar os 5 maiores credores bem como a relação de todos os credores;
 a relação de todas as acções e execuções pendentes contra si;
 um documento onde conste a actividade ou actividades a que se tenha dedicado nos últimos
três anos,
 documento em que se identifiquem os sócios, associados ou membros da pessoa colectiva;
 os estabelecimentos de que tenha sido titular e as razões que entenda terem conduzido à
situação de insolvência;
 a relação de bens que detenha em regime de arrendamento, aluguer ou locação financeira,
bem como todos os outros bens e direitos de que seja titular.
 as contas anuais dos últimos três exercícios, bem como respectivos relatórios de gestão, de
fiscalização e de auditoria,
 pareceres do órgão de fiscalização e documentos de certificação legal (se obrigatórios ou
existentes),
 informações sobre alterações relevantes do património ocorridas após a data das últimas
contas ou operações que extravasem a actividade do devedor;
 mapa do pessoal que o devedor tenha ao serviço;
 documento comprovativo dos poderes dos administradores que o representem e cópia da acta
que documente a deliberação da iniciativa do pedido (se aplicável);

Se o devedor não apresentar algum dos documentos elencados, ou se estes não estiverem em
conformidade com o exigido, terá de o justificar.

55.A que meios se pode recorrer para reagir à declaração de insolvência?

É possível reagir ao pedido de declaração de insolvência por oposição (30/CIRE), no prazo de 10 dias
após a citação a dar-lhe conhecimento de que foi intentado um pedido de declaração de insolvência.

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Preparação para ORAL de
Direito da Insolvência

Uma vez proferida a sentença que declare a insolvência é possível reagir mediante oposição de
embargos (40/CIRE) no prazo de 5 dias após o trânsito em julgado da sentença, ou por via de recurso
(42/CIRE).

Quem pode opor-se?

Além dos credores e dos responsáveis legais pelas dívidas da insolvência, também os sócios,
associados e membros do devedor poderão opor-se à declaração de insolvência por embargos (40/1).

Estes mesmos sujeitos podem recorrer da sentença de declaração de insolvência do devedor, caso
entendam que, com os elementos apurados, os mesmos não a sustentam (42/1).

56. Quais os efeitos da declaração de insolvência?

Pela declaração de insolvência da pessoa colectiva, o devedor perde os poderes sobre os bens que
integrem a massa insolvente, ficando, igualmente, privado dos poderes de disposição também dos
bens futuros. (81/CIRE)

Além disso, os órgãos sociais do devedor mantêm-se em funcionamento após a declaração de


insolvência, mas os seus titulares perdem o direito a ser remunerados.

Estes podem renunciar aos cargos quando procedam ao depósito das contas anuais com referência à
data de decisão de liquidação em processo de insolvência. (82/CIRE)

Quem desempenha as funções que habitualmente caberiam aos administradores?

Enquanto o processo de insolvência estiver pendente, existem funções que habitualmente caberiam
aos administradores da pessoa colectiva e que passam para as mãos do administrador de insolvência.

Deste modo, apenas este tem legitimidade para propor e dar andamento a (82/3):

 acções de responsabilidade contra fundadores, administradores de direito e de facto, membros


do órgão de fiscalização do devedor e sócios, associados ou membros;
 acções destinadas à indemnização dos prejuízos causados à generalidade dos credores da
insolvência, pela diminuição do património que integre a massa insolvente;
 acções contra responsáveis legais por dívidas do insolvente.

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Preparação para ORAL de
Direito da Insolvência

57. Se uma sociedade for declarada insolvente, como podem os trabalhadores receber os seus

créditos salariais?

Os trabalhadores de uma sociedade declarada insolvente que tenham salários em atraso, são
credores daquela.

Neste sentido, tal como os demais credores, deverão fazer uma reclamação de créditos.

De qualquer modo, se não forem pagos pela massa insolvente, podem ainda recorrer ao fundo de
garantia salarial.

Os créditos dos trabalhadores são créditos privilegiados (47/4-a))

58. A declaração de insolvência afasta a possibilidade de recuperação da empresa insolvente?

Não! O processo de insolvência tem como finalidade a satisfação dos credores, que tanto pode ser
alcançada pela liquidação do património do devedor como pela recuperação da empresa (1/ CIRE).

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Direito da Insolvência

O Processo Especial de Revitalização (PER)

59. O que é o PER?

O Processo Especial de Revitalização (PER) tem como finalidade permitir a uma empresa que esteja
numa situação economicamente difícil ou em situação de insolvência iminente, mas que ainda seja
passível de ser recuperada, negociar com os credores com vista a um acordo que leve a revitalização
daquela (artigo 17.-A, n.º 1 do CIRE).

Encontram-se em situação económica difícil as empresas que enfrentem sérias dificuldades para
cumprir pontualmente as suas obrigações (artigo 17.º-B do CIRE).

60. Que devedores podem recorrer ao PER?

Qualquer empresa que emita declaração escrita e assinada onde ateste reunir as condições
necessárias para a sua recuperação (artigo 17.º-A, n.º 2 do CIRE).

Deve ainda apresentar declaração subscrita, há não mais de 30 dias, por contabilista certificado ou
por revisor oficial de contas, sempre que a revisão de contas seja legalmente exigida, atestando que
não se encontra em situação de insolvência atual.

A empresa não poderá encontrar-se em incumprimento da generalidade das suas obrigações,


uma vez que tal situação já consubstanciaria uma situação de insolvência.

61. Como se requer e quais as formalidades a observar?

O processo inicia-se pela manifestação de vontade, por declaração escrita, do devedor e de, no
mínimo, um credor, de virem a negociar a revitalização daquele, por meio de um plano de recuperação,
que terão de aprovar.

O devedor e todos os credores que queiram participar nas negociações devem assinar, devendo contar
a data em que foi assinada.

Posteriormente, e munido da declaração assinada por todos, o devedor deve:

 comunicar ao tribunal competente para declarar a sua insolvência, que pretende dar início às
negociações com vista à sua revitalização, devendo aquele nomear um administrador judicial
provisório;

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 remeter cópias dos documentos que devem instruir um processo de insolvência, que ficam na
secretaria do tribunal para consulta dos credores, durante todo o processo.

62. Como se processa?

Quando a empresa for notificada da nomeação do administrador judicial provisório, fica obrigada a
comunicar, de imediato, a todos os credores que não subscreveram a declaração inicial, convidando-os
a participar nas mesmas e informando-os da documentação entregue na secretaria do tribunal, para
consulta (artigo 17.º-D, n.º 1 do CIRE).

Os credores gozam de 20 dias para reclamar créditos, junto do administrador judicial provisório, a
contar da publicação do despacho de nomeação daquele no portal CITIUS (portal de apoio ao
funcionamento dos tribunais), nos termos do do artigo 17.º-D do CIRE.

A lista provisória de créditos é imediatamente apresentada e publicada e, se não for impugnada em


cinco dias úteis, converte-se em definitiva.

Após este momento, as partes declarantes dispõem de 2 meses, que pode ser prorrogado por mais
um, para concluírem as negociações (artigo 17.º-D, n.º 5 do CIRE).

63. Até que momento podem os credores aderir às negociações?

Durante todo o tempo em que decorrerem as negociações, os credores que não subscreveram a
declaração inicialmente, podem vir a declarar que pretendem participar nas mesmas. Essas
declarações são, então, juntas ao processo.

64. Que efeitos resultam do PER?

Pelo início do PER, consagra-se o chamado período de stand still.

Assim, o processo especial de revitalização obsta à instauração de quaisquer acções para a


cobrança de dívidas contra o devedor e faz suspender as acções em curso com idêntica
finalidade, que serão extintas assim que o plano de recuperação seja aprovado e homologado, a
menos que este preveja coisa diversa (artigo 17.º-E, n.º 1 do CIRE).

Do mesmo modo, se tiver sido requerida a declaração de insolvência do devedor, este processo
também será suspenso, salvo se já tiver sido declarada a sua insolvência.

Da mesma forma, se tiver sido suspenso o processo de insolvência durante as negociações, será
extinto com a aprovação e homologação do plano de recuperação (artigo 17.º-E, n.º 6 do CIRE)

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Por fim, se o juiz nomear administrador judicial provisório, o devedor fica impedido praticar actos de
especial relevo sem a autorização daquele (artigo 17.º-E, n.º 2 do CIRE).

65. Como se conclui o PER?

As negociações podem concluir-se com a aprovação do plano de recuperação (artigo 17.º-F do


CIRE) ou sem a aprovação deste (artigo 17.º-G do CIRE).

 Sendo o plano de recuperação aprovado por unanimidade, deve ser assinado por todos,
sendo remetido ao processo, para a homologação ou recusa deste pelo juiz.
 Se não houver aprovação unânime, o plano é remetido ao tribunal, considerando-se
aprovado se:
o sendo votado por credores cujos créditos representem, pelo menos, um terço do
total dos créditos relacionados com direito de voto, recolha o voto favorável de mais
de dois terços da totalidade dos votos emitidos e mais de metade dos votos emitidos
correspondentes a créditos não subordinados, não se considerando como tal as
abstenções; ou
o recolha o voto favorável de credores cujos créditos representem mais de metade
da totalidade dos créditos relacionados com direito de voto, e mais de metade
destes votos correspondentes a créditos não subordinados, não se considerando como
tal as abstenções.

O processo pode terminar, ou porque os declarantes concluam não ser possível chegar a um acordo,
ou pelo decurso do tempo para concluírem as negociações (2 ou 3 meses).

66. Se a empresa não estiver em situação de insolvência, cessam todos os efeitos do PER?

Sim.

Contudo, se a empresa já se encontrar em situação de insolvência, o encerramento do PER


acarreta a declaração de insolvência da empresa, declarada no prazo de 3 dias úteis a contar da
comunicação ao tribunal do encerramento das negociações.

A empresa que queira lançar mão do PER, deve ter em atenção o facto de o encerramento do
processo a impedir de recorrer ao mesmo durante os dois anos que seguintes.

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Processo Especial para Acordo de Pagamento (PEAP)

67. O que é?

Trata-se de um processo especial para acordo de pagamento, destinado ao devedor pessoa singular
(isto é, que não seja empresa), e que se encontre em situação económica difícil ou em situação de
insolvência meramente iminente, permitindo ao devedor estabelecer negociações com os seus
credores. – 222-A/1

Tem carácter urgente.

O que significa situação económica difícil?

Está em situação económica difícil o devedor que enfrentar dificuldade séria para cumprir pontualmente
as suas obrigações, designadamente por ter falta de liquidez ou não conseguir obter crédito.
222-B/CIRE

68. Como se requer e quais as formalidades a observar?

222-C/CIRE

O PEAP inicia-se pela manifestação de vontade do devedor e de pelo menos um dos seus
credores, por meio de declaração escrita, de encetar negociações conducentes à elaboração de
acordo de pagamento.

Para iniciar o PEAP, o devedor deve entregar junto do Tribunal competente para declarar a sua
insolvência requerimento comunicando a manifestação de vontade, juntando ainda:

 A declaração escrita assinada pelo devedor e pelo menos um dos seus credores;
 Lista de todas as ações de cobrança de dívida pendentes contra o devedor;
 Comprovativo da declaração de rendimentos do devedor;
 Comprovativo da sua situação profissional ou, se aplicável, situação de desemprego,
 Relação de todos os credores, com indicação dos respectivos domicílios, dos montantes dos
seus créditos, datas de vencimento, natureza e garantias de que beneficiem, e da eventual
existência de relações especiais;
 Relação de bens que o devedor detenha em regime de arrendamento, aluguer ou locação
financeira ou venda com reserva de propriedade, e de todos os demais bens e direitos de que
seja titular, com indicação da sua natureza, lugar em que se encontrem, dados de identificação
registral, se for o caso, valor de aquisição e estimativa do seu valor actual.

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69. Como se processa?

Após recepção do requerimento, o juiz nomeia o administrador judicial provisório (222-C/4) e é


notificado o devedor (222-C/5)

Com esta nomeação, o devedor deve comunicar, de imediato e através de carta registada, a todos os
credores que não tenham subscrito a declaração que deu início ao processo, ou seja, que deu início a
negociações com vista à elaboração de acordo de pagamento, convidando-os a participar. (222-D/1)

Qualquer credor dispõe do prazo de 20 dias (222-D/2), contados da nomeação do administrador,


para reclamar os seus créditos, com vista à elaboração da lista provisória de créditos no prazo de 5
dias após o término do prazo.

Se esta, após publicação, não for impugnada no prazo de cinco dias úteis, converte-se de imediato
em lista definitiva.

A partir deste momento, o devedor e respectivos credores dispõem do prazo de dois meses para
concluir as negociações. Este prazo pode ser prorrogado apenas uma vez, por um mês, mediante
acordo.

70. Até que momento podem os credores aderir às negociações?

Durante todo o tempo em que decorrerem as negociações, os credores que não subscreveram a
declaração inicialmente, podem vir a declarar que pretendem participar nas mesmas. Essas
declarações são, então, juntas ao processo. (222-D/7)

71. Que efeitos resultam do PEAP?

(222-E/CIRE)

O PEAP obsta, antes de mais, à instauração de quaisquer acções para cobrança de dívidas
contra o devedor. Ainda, e durante todo o tempo que em decorrerem as negociações, suspende,
quanto ao devedor, as ações em curso com idêntica finalidade, extinguindo-se aquelas logo que
seja aprovado e homologado acordo de pagamento.

Caso tenha sido previamente requerida a insolvência de devedor, desde que ainda não tenha sido
proferida sentença de insolvência, o processo é suspenso, extinguindo-se logo que aprovado e
homologado acordo de pagamento.

O PEAP tem ainda como efeito a suspensão de todos os prazos de prescrição e de caducidade

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oponíveis pelo devedor, durante todo o tempo em que perdurarem as negociações e até ao
encerramento do processo.

Um dos efeitos benéficos para o devedor é ainda a proibição de suspensão da prestação de


determinados serviços públicos essenciais, tais como água, luz, gás, etc..

Por fim, fica o devedor impedido de praticar actos de especial relevo a nível patrimonial, sem que
previamente tenha obtido autorização por parte do administrador judicial provisório.

72. Como se conclui o PEAP?

As negociações podem concluir-se com a aprovação do acordo de pagamento (222-F /CIRE) ou sem a
aprovação deste (222-G/CIRE).

 Sendo o acordo de pagamento aprovado por unanimidade, deve ser assinado por todos,
sendo remetido ao processo, para a homologação ou recusa deste pelo juiz.
 Se não houver aprovação unânime, o acordo é remetido ao tribunal, considerando-se
aprovado se:
o sendo votado por credores cujos créditos representem, pelo menos, um terço do total
dos créditos relacionados com direito de voto, recolha o voto favorável de mais de dois
terços da totalidade dos votos emitidos e mais de metade dos votos emitidos
correspondentes a créditos não subordinados, não se considerando como tal as
abstenções; ou
o recolha o voto favorável de credores cujos créditos representem mais de metade da
totalidade dos créditos relacionados com direito de voto, e mais de metade destes
votos correspondentes a créditos não subordinados, não se considerando como tal as
abstenções.

O processo pode terminar, ou porque os declarantes concluam não ser possível chegar a um acordo,
ou pelo decurso do tempo para concluírem as negociações (2 ou 3 meses).

73. Se o devedor não estiver em situação de insolvência, cessam todos os efeitos do PEAP?

Sim.

No entanto, se o devedor já se encontrar em situação de insolvência, o encerramento do PEAP


acarreta a declaração de insolvência do devedor, declarada no prazo de 3 dias úteis a contar da
comunicação ao tribunal do encerramento das negociações.

O devedor que queira lançar mão do PEAP, deve ter em atenção o facto de o encerramento do
processo o impedir de recorrer ao mesmo durante os dois anos que seguintes.

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