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Universidade Federal do Maranhão

Centro de Ciências Sociais

Prof. Humberto Oliveira

Gabriel Oliveira Ribeiro

Comentários acerca de atos praticados pelo devedor antes da falência e


ação revocatória

São Luís - MA

2016
1. Atos praticados dentro do termo legal

É estabelecido, no artigo 129 da Lei de Recuperação e Falência de 2005, um período


anterior à quebra considerando-o suspeito. É o chamado termo legal. Esse período é fixado
pelo juiz, na sentença declaratória, não podendo retroceder por mais de noventa dias, contados
do primeiro protesto por falta de pagamento, ou do despacho ao requerimento inicial da
quebra, ou da distribuição do pedido de recuperação judicial.

Durante esse período, determinados atos são considerados ineficazes em relação à


massa falida, sendo esses atos: a) o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor
dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo
desconto do próprio título; b) o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do
termo legal, por qualquer forma que não seja prevista pelo contrato; c) a constituição de
direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo legal, tratando-se de dívida
contraída anteriormente. Caso os bens dados em hipoteca sejam objeto de outras posteriores, a
massa receberá a parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada.

Na primeira situação, ocorre o favorecimento de um credor pelo devedor, que faz um


pagamento adiantado, num gesto de protecionismo, expressamente prejudicial aos demais
credores. Na segunda, a dívida pode estar vencida, porém, o devedor a quita de forma diversa.
Na terceira situação, o devedor possibilita uma vantagem, tendo em vista que, mesmo
inferiorizado perante o crédito trabalhista, o credor goza de direito real de privilégio.

2. Atos praticados nos dois anos anteriores à falência

Outros atos ineficazes a serem comentados são a prática de atos a título gratuito
(doação, comodato, usufruto, etc) e a renúncia a herança ou a legado, desde que em ambos os
casos o ato tenha se consumado em até dois anos antes da decretação da falência. Ambos atos
acarretam lesões aos credores, por isso serão considerados ineficazes, pois podem implicar na
diminuição do patrimônio do devedor, envolver simulação ou conluio para favorecimento de
terceiros.

3. Outros atos revogáveis

Além dos atos já falados, somam-se: a) registro de direitos reais e de transferência de


propriedade entre vivos, por título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis
realizados após a decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior; b) venda
ou transferência de estabelecimento sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos
os credores sem reserva de bens suficientes. Nos dois casos, a lei busca dar maior garantia aos
credores. O empresário pode vender seu estabelecimento, porém não pode desfalcar seu
patrimônio com essa venda, por isso necessita da anuência dos credores, que podem ser
notificados e têm até trinta dias para se manifestarem contra, ou possuir bens suficientes para
quitar a dívida.

4. Ação revocatória

No artigo 130, destacam-se atos que, levados a efeito, com intenção de fraudar e
prejudicar credores, são revogáveis através de ação revocatória, que por sua vez é o meio
judicial de que se vale o administrador (ou, por sua omissão, qualquer credor ou Ministério
Público) que visa, com a declaração da ineficácia ou revogação do ato, à restituição do bem à
massa. A ação revocatória tem natureza própria, compreendendo-se apenas dentro do
processo de falência, não podendo se confundir com ação pauliana – essa última é ação de
nulidade, enquanto a outra não implica em nulidade.

Existem duas hipóteses para a propositura da ação revocatória: ineficácia e fraude. A


primeira envolve os casos do art. 129 da LRF, não pressupondo intenção de fraudar,
objetivando a declaração de ineficácia com relação à massa. A segunda usa como base o
art.130 da LRF, exigindo do seu autor a prova de fraude por parte do devedor ou a existência
de consilium fraudis.

Processamento da ação revocatória:

a) Competência ratione materiae: vinculação da ação ao juízo falimentar


b) Procedimento: a ação revocatória se submete ao procedimento ordinário previsto
no Novo Código de Processo Civil.
c) Legitimatio ad causam ativa e passiva: administrador judicial, ou, em caso de
omissão, qualquer credor ou Ministério Público, contra todos que figuraram no ato,
ou que, por efeito dele, foram pagos, garantidos ou beneficiados. Pode ser movida
ação também contra os herdeiros ou legatários das pessoas indicadas anteriormente
e também contra os terceiros adquirentes, se tiveram conhecimento, ao se criar o
direito, da intenção do falido de prejudicar os credores.
d) Prazo para a propositura: três anos, sendo prazo de decadência e não de prescrição.
e) Sequestro dos bens em poder de terceiros: esse ato consiste na apreensão e
depósito de uma coisa, a fim de se conservarem ilesos os direitos de todos que
tenham nela interesse, até o feito ser findo, pare ser entregue a quem pertencer,
podendo a ação revocatória preceder o sequestro.
f) Efeitos da sentença: o efeito fundamental é o de declarar ineficácia do ato ou a sua
revogação, ainda que celebrado antes da sentença executória. No âmbito da ação
revocatória não fazem coisa julgada contra a massa falida as decisões judiciais.
Outro efeito é o retorno dos bens objetos do ato declarado ineficaz à massa, o
principal escopo da ação nominada, restituindo-se igualmente todos os acessórios.
g) Recurso: o recurso que cabe nas hipóteses previstas anteriormente é a apelação, no
prazo de quinze dias.
h) Os direitos de terceiros contra o falido: ao terceiro de boa-fé é garantida a ação por
perdas e danos contra o devedor. A ineficácia ou revogação não será declarada na
hipótese de securitização créditos do devedor em prejuízo dos direitos dos
portadores de valores imobiliários emitidos pelo securitizador, pois se trata de
favorecimento das empresar de seguros e, consequentemente, aos portadores dos
títulos por ela emitidos.

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