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A RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL DA EMPRESA

1. Introdução

A recuperação empresarial é um mecanismo requerido quando a empresa não


tem mais condições de pagar as suas dívidas e não deseja ter a falência decretada ou
paralisar por completo as operações. Ou seja, seu objetivo é viabilizar a superação da
crise econômico-financeira passada pela empresa devedora, mediante regularização
dos débitos com os credores, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica (art.47
da Lei 11.101/2005).
A Lei de Recuperação de Empresas e de Falência (11.101/2005) veio romper
com a ideia que trazia o Decreto-lei 7.661/1945, de que a convocação extrajudicial de
credores era considerada um ato de falência, incentivando agora a solução de
mercado, no caso a recuperação da empresa.
Então, há um elemento básico para que possa discutir a recuperação
empresarial: uma crise econômica, que comprometa de forma séria a viabilidade de
funcionamento do empreendimento empresarial.
E essa recuperação pode ser feita duas maneiras: judicial ou
extrajudicialmente. Esses mecanismos, junto à falência, são regidos pela Lei
11.101/2005, com as alterações da Lei 14.122/20, que aprimorou o instituto da
recuperação, deixando-o mais célere e eficiente.
Neste trabalho trataremos da recuperação extrajudicial.

2. Desenvolvimento

A recuperação extrajudicial é o processo iniciado extrajudicialmente e


concluído judicialmente, no qual nem todos os atos precisam da intervenção judicial (o
judiciário só participará no final, para homologar), podendo a empresa devedora, por
meio de seus advogados, negociar seus débitos diretamente com os credores,
procurando-os amigavelmente para fechar um acordo sobre a forma de quitação das
obrigações.
Com assento no art. 161 da Lei de Recuperação de Empresas e de Falência, a
referida recuperação é citada seguintes termos: “O devedor que preencher os
requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores plano de
recuperação extrajudicial”. São requisitos:
 que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há
mais de 2 (dois) anos;
 não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
 não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação
judicial;
 não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação
judicial;
 não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta
Lei.
Da negociação com os credores, havendo acordo, as obrigações são
mencionadas em um plano de recuperação extrajudicial, feito pelo devedor, e que
deverá ser aprovado por pelo menos 3/5 dos credores de cada espécie antes de ser
apresentado para a homologação por um juiz, em conjunto com os comprovantes a
respeito do patrimônio e a identificação dos representantes e credores.
Apesar de, em regra, o credor poder negociar com seus devedores livremente
os termos do acordo, há algumas limitações de ordem pública que, se não observadas,
podem levar a uma não homologação pelo juiz. São elas:
 O art. 161, § 2º, da Lei 11.101/2005 proíbe que o plano estabeleça
pagamento antecipado de dívidas, bem como estabeleça tratamento
desfavorável aos credores não sujeitos ao plano;
 O plano de recuperação extrajudicial pode estabelecer pagamentos a
credores mesmo antes da sua homologação judicial. Todavia, o
cumprimento antecipado do plano fica condicionado à homologação
judicial, de modo que os credores voltam a ter o direito de exigir os seus
créditos nas condições originais, deduzidos os valores já efetivamente
pagos, caso o plano não seja homologado pelo juiz (art. 165, §§ 1º e 2º,
da Lei 11.101/2005);
 Nos termos do art. 163, § 5º, da Lei 11.101/2005, se houver previsão de
venda de bens objeto de garantia real, a supressão ou substituição da
garantia somente poderá ser feita se houver a expressa concordância do
credor detentor da garantia;
 Se o plano estabelecer a venda de Unidades Produtivas Isoladas (UPI) ou
de filiais, é obrigatória a observação dos procedimentos de venda
estabelecidos no art. 142 da Lei 11.101/2005. Nesse sentido, a venda
deverá ser feita por leilão, proposta ou pregão.
Voltando ao procedimento, uma vez que o juiz competente tenha recebido a
ciência do feito, ele vai determinar a publicação de edital no Diário Oficial e em jornal
de grande circulação, convocando todos os credores do devedor para apresentação de
impugnação no prazo de 30 dias, cujas matérias que poderão ser alegadas são
limitadas pelo art. 164, § 3º, da Lei 11.101/2005. Assim, os credores só podem alegar:
 o não preenchimento do percentual mínimo de 3/5 dos créditos;
 a prática de atos de falência previstos no art. 94, III, da Lei 11.101/2005
ou a prática de fraude contra credores; ou
 o descumprimento de qualquer outra exigência legal.

Aqui nota-se que o mérito do plano não é objeto de impugnação. E vale dizer
que a discordância do credor com os termos do plano é irrelevante, na medida em que
sua homologação pressupõe o atingimento do quórum legal, vinculando também a
minoria divergente.
Se houver impugnação, portanto, o devedor tem 5 dias para se manifestar e, na
sequência, os autos vão ao juiz para que decida sobre as impugnações e sobre a
homologação do plano.
Homologado o plano, ele “obrigará” as partes a cumprirem o acordo (que pode
ser alterado por conveniência de ambos os contratantes). Importante mencionar que o
juiz não entra no mérito do plano, apenas verifica se foram observados os requisitos
legais na sua construção.
Por outro lado, se o plano não for homologado, o processo é extinto sem
resolução do mérito e a devedora poderá apresentar novo plano de recuperação
extrajudicial, se cumpridas as formalidades legais.

 Quando optar pela recuperação extrajudicial?

É importante analisar qual o tipo de débito que foi contraído e será


incorporado ao pedido, pois não são todos os débitos que podem ser incluídos e, no
caso da recuperação extrajudicial, a limitação é ainda maior. Além disso, é necessário
analisar a disponibilidade dos credores. Uma pesquisa prévia pode evitar que a
empresa tenha custos desnecessários com intervenções judiciais ou que perca tempo
com credores que não estariam dispostos a conversar fora da esfera jurídica.
Estão sujeitos aos efeitos da recuperação extrajudicial os seguintes créditos:
créditos com garantia real; créditos com privilégio especial; créditos com privilégio
geral; créditos quirografários; e créditos subordinados.
E há débitos que não podem ser renegociados por nenhum dos dois métodos:
aqueles em que o credor tenha garantia do pagamento por alienação fiduciária;
dívidas nas quais o beneficiário possui cláusula de reserva de domínio; valores
entregues ao devedor em razão de adiantamento de contrato de câmbio; débitos
fiscais (ambos os métodos estão impossibilitados de renegociá-los). Os débitos
derivados da legislação do trabalho e de acidentes de trabalho também estão
impossibilitados na recuperação extrajudicial.

 Vantagens e desvantagens

Entre as principais vantagens da recuperação extrajudicial, estão:

 submissão da maioria (quando 3/5 dos credores aceitam a proposta da


empresa devedora, os outros obrigatoriamente ficam submetidos a essa
aceitação);
 total controle da empresa, sem a possibilidade de qualquer tipo de
intervenção de um administrador-judicial;
 menos burocrática em comparação à recuperação judicial.

Quanto às desvantagens, podemos citar:


 se os credores não estiverem suscetíveis à negociação, a recuperação
extrajudicial será inviável;
 se não houver uma homologação judicial do acordo, poderão acontecer
reclamações posteriores.

 Diferenças em relação à Recuperação Judicial

O que difere a recuperação judicial da extrajudicial é a fase de negociação dos


débitos com os credores.
Na judicial, o pedido de recuperação empresarial é feito por meio de uma ação
judicial específica e tem intervenção judicial em grande parte dos seus atos. Já a
extrajudicial é uma modalidade mais simplificada, pois tem um número menor de
procedimentos, além de se mostrar menos burocrática e menos onerosa
financeiramente. Nesta modalidade, também, a negociação pode ser feita diretamente
com os credores, sem a necessidade de uma intervenção inicial da justiça.

3. Conclusão

Neste trabalho foi analisado o procedimento, os benefícios, as previsões que


regulam, bem como a capacidade de efetividade da recuperação empresarial na
modalidade Extrajudicial.
Enquanto a espécie judicial trata de procedimento complexo, por consistir em
litígio entre devedor e credores, ser mais oneroso, procedimento moroso no qual há
inúmeras possibilidades de ser decretada a falência em caso de inércia da
recuperanda, a extrajudicial se trata de procedimento mais célere e simplificado, mais
barata, inexiste a possibilidade de declaração de falência, pode ser imposta a alguns
credores dissidentes e pode ser intentada inúmeras vezes, desde que haja previsão de
novo plano de recuperação, além da formação de título executivo judicial após a
homologação do plano, assim como na recuperação judicial.
Salienta‐se, contudo, que não deixa de haver similaridades entre as duas
formas de recuperação, visto que em ambos os procedimentos os requisitos, as
fraudes e os recursos são semelhantes, além do que estes procedimentos têm por
escopo sanar a crise financeira que acometeu a empresa em recuperação.
Constatou-se também que, dentre os princípios aplicáveis ao instituto
concursal da recuperação de empresa, destacam-se dois deles o princípio da
preservação da empresa e o princípio da celeridade processual, pois visam a efetiva
recuperação da empresa, objetivando a manutenção desta, em razão de sua
importância econômica e social.
Em suma, diante desse cenário e diante da baixa efetividade que tem se
mostrado a recuperação na modalidade Judicial, busca-se saídas para que os
devedores empresários, em situação de crise financeira, conseguissem equacionar os
problemas do seu patrimônio, objetivando superar essa situação. Nesta ótica, foi
analisado o instituto da Recuperação Extrajudicial, também presente na Lei n.º
11.101/2005, verificando-se as previsões legais que o regulam, bem como a estrutura
de incentivos que ele constitui e sua capacidade de se demonstrar como saída viável e
eficaz à empresa em recuperação, concluindo-se que é uma modalidade realmente
mais efetiva.
REFERÊNCIAS

. BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e falências/Lei 11.101/05


comentada artigo por artigo. 13. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018.

. BRASIL. Lei Nº. 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a


extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília, 9 de fev. 2005.

. BRASIL. Lei n.° 14.112, de 24 de dezembro de 2020. Altera as Leis 11.101, de 9 de fevereiro
de 2005, 10.522, de 19 de julho de 2002, e 8.929, de 22 de agosto de 1994, para atualizar a
legislação referente à recuperação judicial, à recuperação extrajudicial e à falência do
empresário e da sociedade empresária. Brasília, DF, 24 de dez. 2020.

. COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à lei de falências e de recuperação de empresas. 15 ed.


rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2021.

. NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
2012. Volume 3.

. RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado / André Luiz Santa Cruz
Ramos. – 6. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo : MÉTODO, 2016.

https://www.migalhas.com.br/coluna/insolvencia-em-foco/339072/a-recuperacao-
extrajudicial-e-as-alteracoes-da-lei-14-122--de-24-de-dezembro-de-2020

https://lbca.com.br/como-funciona-a-recuperacao-extrajudicial/#:~:text=A%20Recupera
%C3%A7%C3%A3o%20Extrajudicial%2C%20%C3%A9%20uma,d%C3%ADvidas%20existentes
%20entre%20as%20partes.

http://noronhaadvocacia.com/consideracoes-sobre-a-recuperacao-extrajudicial-de-empresas/

https://gestaodavirada.com/recuperacao-judicial-e-extrajudicial/#:~:text=A%20principal
%20diferen%C3%A7a%20entre%20recupera%C3%A7%C3%A3o%20judicial%20e
%20extrajudicial,melhor%20na%20realidade%20de%20pequenas%20e%20m%C3%A9dias
%20empresas.

https://luizwagner.tripod.com/id4.html#:~:text=Modalidades%20de%20Recupera
%C3%A7%C3%A3o%20Empresarial%20Para%20que%20se%20torne,h%C3%A1%20atua
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