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Esta “morte não natural”, porém, pode ter sua raiz em causas anteriores ou
contemporâneas à formação do contrato, o que não lhe retira a caracterização
de uma extinção posterior, haja vista que se parte da concepção de existência
jurídica da avença.
Há, inclusive, alguns instrumentos que podem ser usados, como uma cláusula
penal ou o arras (art. 420, CC), instrumentos que podem estipular ajustes
nesse sentido, de um modo genérico. Ambos já foram analisados em aulas
anteriores.
Como se infere, tal exceção somente pode ser aplicada nos chamados
contratos bilaterais, sinalagmáticos ou de prestações correlatas, em que se
tem uma produção simultânea de prestações para todos os contratantes, pela
dependência recíproca das obrigações.
Nesse caso se pode aplicar a regra do art. 476, que prevê a cláusula resolutiva
tácita às situações de inadimplemento antecipado. Além disso, por aplicação
dos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva, é de se aplicar
tal forma de resolução. Isso porque, a partir de uma noção de alta
probabilidade de descumprimento, esse contrato deixa de cumprir sua função
social. Ademais, um contratante de boa-fé não teria como cobrar da
contraparte o cumprimento do pagamento das parcelas mensais quando ele
mesmo demonstra que não cumprirá o acordado; exigi-lo seria evidente má-fé.
Requisitos:
a) Existência de um contrato bilateral — A exceptio non adimpleti
contractus, em sentido próprio, somente pode ser invocada em contratos onde
há uma
dependência recíproca das obrigações, em que uma é a causa de ser da outra,
não sendo aplicável, a priori, para outras relações jurídicas;
Com base no julgamento pioneiro do STJ, Antonio Carlos Ferreira explicou que
a aplicação dessa teoria exige o preenchimento de alguns requisitos: existência
de expectativas legítimas geradas pelo comportamento das partes; o valor do
inadimplemento deve ser ínfimo em relação ao total do negócio; e, ainda, deve
ser possível a conservação da eficácia do negócio sem prejuízo ao direito do
credor de pleitear a quantia devida pelos meios ordinários.
Apesar de todo contrato possuir, em si, uma cláusula resolutiva tácita, nada
impede que os contratantes insiram, dentre as disposições contratuais, uma
cláusula atinente à resolução, prevendo resolução por inadimplemento total ou
parcial. Em havendo a cláusula contratual que possibilita às partes a resolução,
ela se opera diretamente, ipso jure, ou seja, não é necessária a interpelação
judicial (art. 474). Nesse mesmo sentido, o Enunciado 436 da V Jornada de
Direito Civil, que prevê que a cláusula resolutiva expressa produz efeitos
extintivos independentemente de pronunciamento judicial.
3.1 RESOLUÇÃO
Uma situação superveniente pode impedir a execução normal do contrato; esse
impedimento, se causado pela inexecução por um dos contratantes, leva à
resolução do contrato. No conceito de Orlando Gomes, resolução é um
remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação
judicial.
Exceção à essa regra existe nos contratos de trato sucessivo (aqueles que não
podem ser executados de uma vez só). Nessas situações, é impossível aos
contratantes restituir aquilo que já foi executado, operando-se a resolução
apenas eficácia ex nunc (sem retroação).
2. RESILIÇÃO
A expressão “resilição” refere-se à extinção do contrato por iniciativa de uma ou
ambas as partes. Tem previsão no art. 473, CC:
Temos que a regra é que a resilição seja bilateral (distrato), embora se possa
falar, em casos permitidos expressa ou implicitamente pela lei, em uma
manifestação unilateral de vontade extintiva do contrato. Vejamos as duas
espécies:
a) Forma
Estabelece expressamente o art. 472: “Art. 472. O distrato faz-se pela mesma
forma exigida para o contrato”.
Mesmo que forma outra tenha sido escolhida pelas partes, vale a exigência
legal; se a lei nada exige, não há que se ter simetria entre o contrato e o
distrato. Evidencia-se, aqui, a força do princípio do consensualismo, ou,
segundo a forma consagrada pelo liberalismo francês, “tudo o que não é
proibido, é permitido”.
a) Limitação temporal
Nas relações civis em geral que admitam a resilição unilateral, não se
propugna, independentemente de prévia comunicação, pela mais ampla
possibilidade da extinção imediata do contrato.
Em outra linha, se, por força da maior proteção que lhe dá a legislação
consumerista, pretende um consumidor desfazer um contrato de compra e
venda, por não ter mais condições de cumprir o pactuado, deve o vendedor
aceitar tal fato, sem qualquer ressarcimento pelas despesas feitas?
É claro que não, já havendo, inclusive, farta jurisprudência nacional sobre
a matéria, mesmo aplicando regras anteriores ao atual Código Civil brasileiro.
Por tais razões, não vemos com bons olhos as regras de “fidelização
contratual” utilizadas pelas empresas de telefonia celular, resultando na
imposição de pesadas multas ao consumidor que pretenda resilir o contrato,
especialmente quando o móvel subjetivo da resilição for a insatisfação com o
serviço fornecido.
b) Formas especiais
Algumas modalidades contratuais permitem a resilição unilateral,
tomando-se em consideração certas peculiaridades, utilizando, doutrina e
legislação, nomes especiais para caracterizá-la. Dentre essas formas
especiais, destacamos a revogação, a renúncia e o resgate.
b.1) Revogação
A revogação consiste em uma modalidade de desfazimento de
determinados negócios jurídicos, por iniciativa de uma das partes
isoladamente. É o exemplo da resilição unilateralmente feita nos contratos de
mandato (arts. 682 a 687 do CC/2002) e doação (arts. 555 a 564 do
CC/2002)114.
Distinguindo revogação de denúncia, afirma ORLANDO GOMES que
“esta põe fim, diretamente, à relação obrigacional, enquanto aquela extingue o
contrato e, só como consequência mediata, a relação, fazendo cessar, ex tunc
ou ex nunc, os efeitos do negócio.
O ato de revogação requer cumprimento pelo próprio sujeito que praticou o ato
que se revoga e deve destinar-se a impedir que este produza seus efeitos
próprios. Contudo, o vocábulo revogação é empregado em sentido mais amplo.
Tal como a denúncia consiste a revogação numa declaração receptícia de
vontade, que opera extrajudicialmente, e, como ela, é direito potestativo.
b.2) Renúncia
Como a outra face da moeda, compreendemos que o sentido que se dá ao
vocábulo “renúncia”, em matéria de extinção contratual, nada mais é do que a
resilição contratual por iniciativa unilateral do sujeito passivo da relação
obrigacional, sendo também especialmente aplicável a algumas modalidades
contratuais.
É o caso, por exemplo, também no contrato de mandato, da renúncia do
mandatário, na forma determinada no art. 688 do CC/2002, que também
prevê limitações ao seu exercício
b.3) Resgate
Exemplo clássico e difundido de resgate encontrávamos no Código Civil
anterior, quando preceituava acerca do instituto da enfiteuse, direito real na
coisa alheia não mais disciplinado pela codificação nacional.