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DESFAZIMENTO - EXTINÇÃO DO CONTRATO:

O contrato pode se extinguir por causas supervenientes ou posteriores, através


de três modos específicos.

Pela perspectiva da “teoria da obrigação como processo”, o objetivo das


relações jurídicas obrigacionais é precisamente a satisfação dos interesses do
credor, por intermédio do adimplemento em sentido amplo. Trata-se da
extinção normal, comum ou ordinária também dos contratos.

Nem sempre, porém, o adimplemento é alcançável, nem mesmo quando as


regras a respeito do inadimplemento se aplicam. Por vezes, há problemas
anteriores à execução do pacto (causas originais) que podem impedir que ele
alcance seu termo. São problemas que afetam o plano da validade: nulidade e
anulabilidade. Em outras vezes, o problema será posterior, durante seu
cumprimento ou mesmo nas situações que ocorrem após isso.

Vejamos algumas situações:

1. CAUSAS ORIGINAIS OU CONTEMPORÂNEAS QUE AFETAM O


ADIMPLEMENTO CONTRATUAL

Partindo-se da premissa de que o objetivo almejado pelas partes não foi


cumprido (seja realizando a prestação, seja cumprindo os fatores eficaciais do
negócio jurídico), toda extinção contratual posterior, nestes termos, deve ser
considerada anormal.

Esta “morte não natural”, porém, pode ter sua raiz em causas anteriores ou
contemporâneas à formação do contrato, o que não lhe retira a caracterização
de uma extinção posterior, haja vista que se parte da concepção de existência
jurídica da avença.

1.1 Nulidade ou anulabilidade


A ocorrência de nulidade — seja absoluta, seja relativa — no negócio jurídico
contratual é uma típica hipótese que pode ser anterior à própria celebração,
mas que a contamina de tal forma, que impossibilita a produção válida de
efeitos.

A nulidade é uma sanção pela ofensa a determinados requisitos legais, que


impõe a não produção de efeitos jurídicos, em função do defeito que carrega.

Esta nulidade sofre gradações, de acordo com o tipo de elemento violado,


podendo ser absoluta ou relativa, na medida em que decorra da infringência de
normas de ordem pública ou de normas jurídicas protetoras de interesses
preponderantemente privados.

1.2 A Redibição e a Evicção


Um fenômeno, anterior à celebração do contrato, mas que também pode gerar
a sua extinção, é a redibição, já analisada em outras aulas. Tem previsão legal
no art. 441 do CC.
Muitas vezes o vício redibitório (entendido como o defeito oculto que diminui o
valor ou prejudica a utilização da coisa recebida por força de um contrato
comutativo) pode gerar uma revisão de suas prestações, com o abatimento do
preço correspondente, ou mesmo a extinção do contrato, quando não possível
os ajustes. Observe-se que se o vício ou defeito for decorrente da utilização
posterior pelo adquirente (e não pela sua preexistência, ainda que oculta), não
há como se invocar a garantia.

A evicção, outra causa anterior que também é oculta, do mesmo modo,


provoca uma impossibilidade ao cumprimento do contrato, desta feita por uma
causa jurídica (o bem não está disponível juridicamente). Tem previsão legal no
art. 447 do CC.

Em ambos os casos, temos uma hipótese de extinção contratual por causas


anteriores à sua celebração, na redibição por vício material do objeto (não é
possível seu uso), na evicção pela indisponibilidade jurídica do mesmo (é
possível o uso, mas a coisa se perde em razão do alienante não ser o correto
proprietário).

1.3 – O direito de arrependimento:

Como medida excepcional, é possível, em determinados contratos, que as


partes pactuem, contemporaneamente à celebração do negócio, um direito de
arrepender-se, como a estabelecer um “período de carência”, em que é
possível se desfazer o contrato, sem maiores ônus.

Há, inclusive, alguns instrumentos que podem ser usados, como uma cláusula
penal ou o arras (art. 420, CC), instrumentos que podem estipular ajustes
nesse sentido, de um modo genérico. Ambos já foram analisados em aulas
anteriores.

Dada a excepcionalidade da cláusula de arrependimento, é razoável afirmar


que tal direito somente pode ser reconhecido se previsto expressamente no
contrato, em respeito ao princípio da autonomia da vontade presente nas
relações civis.

Ainda mais excepcional é a situação do consumidor, nestas relações mais


específicas. O art. 49 do CDC confere ao mesmo, independentemente de
previsão contratual, o direito potestativo de desistir da compra realizada fora do
estabelecimento no prazo de sete dias. Trata-se do denominado prazo de
reflexão.

2. CAUSAS EXTRAORDINÁRIAS/SUPERVENIENTES QUE AFETAM O


ADIMPLEMENTO CONTRATUAL

Por vezes, há problemas que ocorrem durante a execução do pacto, ou seja, o


pacto tem de ser extinto sem o adimplemento, ainda que seja válido (causas
supervenientes). Assim, partimos do pressuposto de que ele se concretizou de
forma plena, como negócio jurídico, nos planos da existência, validade e
eficácia.

Celebrado para ser cumprido, sem vícios ou previsão de arrependimento, sua


dissolução posterior pode-se dar por diversas formas, que variam desde a
manifestação expressa da vontade até os efeitos extintivos do eventual
inadimplemento ou da morte de um dos contratantes. São situações que
provocam a REVISÃO do contrato.

2.1 – Teoria da Imprevisão

Um outro ponto já analisado em aula, diz respeito a uma impossibilidade que


ocorre durante a execução do contrato, em razão de uma ONEROSIDADE
EXCESSIVA E POSTERIOR, em contratos de execução continuada ou
diferida. No caso a prestação de uma das partes se torna excessivamente
onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis.

Sua previsão está no art. 478 a 480, CC:


Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a
prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com
extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução
do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data
da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a
modificar eqüitativamente as condições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das
partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou
alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade
excessiva.

2.2 – Exceção do contrato não cumprido:

A “exceção de contrato não cumprido” também é denominada exceptio non


adimpleti contractus. Trata-se de instituto de grande aplicabilidade prática.

Consiste em um meio de defesa (exceção), pelo qual a parte demandada pela


execução de um contrato pode arguir que deixou de cumpri-lo pelo fato da
outra ainda também não ter satisfeito a prestação correspondente.

Como se infere, tal exceção somente pode ser aplicada nos chamados
contratos bilaterais, sinalagmáticos ou de prestações correlatas, em que se
tem uma produção simultânea de prestações para todos os contratantes, pela
dependência recíproca das obrigações.

Tem previsão legal nos artigos 476 e 477 do CC:

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de


cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das
partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de
comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou,
pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que
aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de
satisfazê-la.

Ocorre, assim, a paralisação da pretensão do autor de exigir a prestação


pactuada, ante a alegação do réu de não haver percebido a contraprestação
devida. Não se discute, a priori, o conteúdo do contrato, nem se nega a
existência da obrigação ou se pretende extingui-la, sendo uma contestação
apenas do ponto de vista da exigibilidade.

Há situações em que a contraparte ainda não descumpriu o contrato de modo


claro – ou seja, está, a rigor, adimplente –, mas há um grau tão alto de
probabilidade de descumprimento – de inadimplemento – que diremos, de
antemão, que ela descumpriu o contrato. Um exemplo: Você adquire um
apartamento na planta, hoje, cujas obras se iniciarão em 12 meses e cuja
conclusão se dará passados outros 36 meses do início das obras. Você
começa a pagar as parcelas diretamente à construtora, sendo que só receberá
“a sua parte” do negócio em 4 anos. Pois bem, passados 24 meses da
assinatura do contrato, a obra sequer se iniciou. Nem mesmo a terraplanagem
do terreno foi feita. No local, só há mato alto e o dono da construtora, preso
depois de uma operação policial midiaticamente noticiada, diz em cadeia
nacional que sua empresa faliu e que não terá dinheiro para terminar as obras
iniciadas, dado o congelamento dos bens da empresa pela justiça. E você,
continua pagando religiosamente suas prestações, para daqui outros 24 meses
ter “certeza” de que a construtora não cumprirá o acordado? Ora, pela
disciplina tradicional, se você para de pagar, torna-se inadimplente, tal qual a
construtora, pois ela ainda não descumpriu o contrato. Ela só descumprirá o
contrato na data da entrega da obra. O inadimplemento dela, ainda que não
presente, ainda que não verificado, é evidente e altamente “provável”. Por isso,
diz-se que ela antecipadamente está descumprindo o contrato.

Nesse caso se pode aplicar a regra do art. 476, que prevê a cláusula resolutiva
tácita às situações de inadimplemento antecipado. Além disso, por aplicação
dos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva, é de se aplicar
tal forma de resolução. Isso porque, a partir de uma noção de alta
probabilidade de descumprimento, esse contrato deixa de cumprir sua função
social. Ademais, um contratante de boa-fé não teria como cobrar da
contraparte o cumprimento do pagamento das parcelas mensais quando ele
mesmo demonstra que não cumprirá o acordado; exigi-lo seria evidente má-fé.

De acordo com SILVIO DE SALVO RODRIGUES, a “exceptio non


adimpleti contractus pode ser invocada, qualquer que seja a causa geradora
do inadimplemento do contrato. Quer a recusa de cumprimento se funde na
má vontade do contratante, quer na força maior ou no caso fortuito, em
ambas as hipóteses a outra parte pode aduzir a exceção. Porque, tendo uma
prestação sua causa na outra, deixando aquela de ser cumprida, seja qual for o
motivo, cessa de exigir a causa de cumprimento da segunda”.
É possível ainda falar em exceção do contrato parcialmente cumprido
(exceptio non rite adimpleti contractus) — no caso de uma das partes ter
cumprido apenas em parte, ou de forma imperfeita, a sua obrigação, quando
se comprometera a cumpri-la integralmente —, mas, em verdade, a sua
concepção está abrangida na primeira.

Requisitos:
a) Existência de um contrato bilateral — A exceptio non adimpleti
contractus, em sentido próprio, somente pode ser invocada em contratos onde
há uma
dependência recíproca das obrigações, em que uma é a causa de ser da outra,
não sendo aplicável, a priori, para outras relações jurídicas;

b) Prévio descumprimento da prestação pela parte demandante — É


justamente o prévio descumprimento pela parte demandante que autoriza o
excipiente a se
valer da exceptio non adimpleti contractus, uma vez que, tendo havido
cumprimento da prestação, na forma como pactuada, a demanda pelo seu
cumprimento constitui o regular exercício de um direito potestativo. Ressalte-se
que se o descumprimento foi de terceiro, e não da parte contratante, não há
como invocar a exceção.

c) Demanda de uma das partes pelo cumprimento do pactuado — Somente há


sentido na invocação de uma exceção substancial (defesa em sentido material)
se há uma provocação, exigindo-se o cumprimento.
Assim, na inércia das partes, não há que falar em defesa;

IMPORTANTE: teoria do adimplemento substancial


A teoria do adimplemento substancial, criada pelo STJ, tem por objetivo
precípuo impedir que o credor resolva a relação contratual em razão de
inadimplemento de ínfima parcela da obrigação.

Com base no julgamento pioneiro do STJ, Antonio Carlos Ferreira explicou que
a aplicação dessa teoria exige o preenchimento de alguns requisitos: existência
de expectativas legítimas geradas pelo comportamento das partes; o valor do
inadimplemento deve ser ínfimo em relação ao total do negócio; e, ainda, deve
ser possível a conservação da eficácia do negócio sem prejuízo ao direito do
credor de pleitear a quantia devida pelos meios ordinários.

2.3 – Cláusula resolutória – expressa ou tácita

As partes podem prever, no próprio conteúdo do contrato, que, caso haja


descumprimento, será ele considerado extinto.

Trata-se da chamada “cláusula resolutiva (ou resolutória) expressa” ou


“pacto comissório expresso”, que gera efeito dissolutório da relação
contratual. Tal instituto está previsto expressamente no Código Civil brasileiro,
especificamente no seu art. 474:
Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a
tácita depende de interpelação judicial.

Quando, contudo, as partes nem sequer cogitaram acerca do inadimplemento


contratual, fala-se, de maneira distinta, na preexistência de uma
cláusula resolutória tácita, pois, em todo contrato bilateral, por força da
interdependência das obrigações, o descumprimento culposo por uma das
partes deve constituir justa causa para a resolução do contrato, uma vez que,
se um é causa do outro, deixando-se de cumprir o primeiro, perderia o sentido
o cumprimento do segundo.

Assim, observa-se que todo contrato bilateral possui implicitamente, em si,


a chamada cláusula resolutiva tácita. Essa cláusula autoriza a parte a
requerer a resolução do contrato se a contraparte deixar de executar sua
obrigação. Porém, nesse caso, exige-se, para a resolução contratual,
intervenção judicial para a prova do inadimplemento. Vale dizer, será o juiz a
dizer que o descumprimento é ou não imputável ao devedor (se sim,
inadimplemento, se não, mera inexecução, que afasta perdas e danos).

Apesar de todo contrato possuir, em si, uma cláusula resolutiva tácita, nada
impede que os contratantes insiram, dentre as disposições contratuais, uma
cláusula atinente à resolução, prevendo resolução por inadimplemento total ou
parcial. Em havendo a cláusula contratual que possibilita às partes a resolução,
ela se opera diretamente, ipso jure, ou seja, não é necessária a interpelação
judicial (art. 474). Nesse mesmo sentido, o Enunciado 436 da V Jornada de
Direito Civil, que prevê que a cláusula resolutiva expressa produz efeitos
extintivos independentemente de pronunciamento judicial.

A resolução do contrato operada por cláusula resolutiva expressa é


superveniente ao contrato, e não causa anterior, ainda que prevista a priori.
A causa, ainda que seja um termo, por exemplo (o contrato acabará na data
X), ocorre na execução, sendo irrelevante se prevista ela antecipadamente.
Parte da doutrina aponta que a cláusula resolutiva expressa seria “causa
anterior à celebração”.

Alguns contratos, porém, não admitem a pactuação de cláusula resolutiva


expressa. Isso porque, em certos pactos, existe um contratante vulnerável em
relação ao outro, que facilmente abusaria desse direito (como ocorre nas
locações em geral, em que deve sempre ser ajuizada ação de despejo; não há
despejo "extrajudicial").

3. MODALIDADES DE EXTINÇÃO: RESCISÃO, RESOLUÇÃO E RESILIÇÃO.

Existe um Gênero (rescisão), cujas duas espécies, resolução e resilição, têm


âmbito de aplicação próprio.

3.1 RESOLUÇÃO
Uma situação superveniente pode impedir a execução normal do contrato; esse
impedimento, se causado pela inexecução por um dos contratantes, leva à
resolução do contrato. No conceito de Orlando Gomes, resolução é um
remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação
judicial.

Embora a legislação codificada, por vezes, utilize a expressão em outros


sentidos, o fato é que a teoria geral dos contratos reserva para o vocábulo
“resolução” o significado de extinção contratual fundamentada no
descumprimento do pactuado.

O principal efeito da resolução é extinguir o contrato ex tunc (retroativamente).


Dessa forma, em relação às partes, as prestações executadas devem ser
reciprocamente restituídas, restabelecendo-se o status quo ante. Se a
devolução daquilo que foi executado se tratar de dinheiro, ela deve ser feita
com a correção monetária e juros de mora, sob pena de locupletamento sem
causa de um dos contratantes e de violação do princípio do equilíbrio
contratual.

Exceção à essa regra existe nos contratos de trato sucessivo (aqueles que não
podem ser executados de uma vez só). Nessas situações, é impossível aos
contratantes restituir aquilo que já foi executado, operando-se a resolução
apenas eficácia ex nunc (sem retroação).

Se o devedor não cumpre suas obrigações, pode o credor resolver o


contrato e exigir perdas e danos. Pode também exigir a execução coativa
do contrato, cabendo, nesse caso, indenização, segundo estabelece o art.
475, CC.

Nesse mesmo caminho segue o Enunciado 31 da I Jornada de Direito Civil, ao


prever que as perdas e danos mencionados no art. 475 dependem da
imputabilidade da causa da possível resolução (inadimplemento, e não
mero descumprimento). Vale ressaltar que caracterizada a violação de dever
contratual, incumbe ao devedor o ônus de demonstrar que o fato causador
do dano não lhe pode ser imputado.

O Enunciado 548 da VI Jornada de Direito Civil coaduna-se perfeitamente à


adequada distribuição do ônus da prova, bem como às regras gerais a respeito
do inadimplemento. Em se tratando de contrato, basta que o credor prove o
descumprimento para que o devedor seja responsabilizado pelo dano
contratual. Se quiser se ver livre dele, é tarefa do devedor demonstrar que o
dano causado não lhe pode ser imputado.

As perdas e danos configuram, assim, uma sanção da lei ao contratante


renitente, que insiste em não cumprir o pacto pelo qual se obrigou. O lesado
pode escolher entre a resolução e a execução forçada, a depender do que lhe
convier, sempre excetuadas as obrigações que são impossíveis de serem
coativamente exigidas (como, em geral, as obrigações personalíssimas, intuitu
personae).

Por isso, parece contrassenso tratar de “resolução por inadimplemento


involuntário”, já que o inadimplemento reside precisamente na compreensão de
que o descumprimento é imputável ao devedor. Desimportante se ele é ou não
“culpado”, no sentido subjetivo do termo; importante é que o ordenamento
jurídico imputa a ele a responsabilidade (sentido objetivo de inadimplemento).

Assim, tecnicamente falando, a resolução do contrato se liga à inexecução.


Será resolução por inadimplemento (inexecução voluntária, mas em
sentido objetivo) ou será resolução por inexecução (inexecução
involuntária, mas em sentido estrito, objetivo).

2. RESILIÇÃO
A expressão “resilição” refere-se à extinção do contrato por iniciativa de uma ou
ambas as partes. Tem previsão no art. 473, CC:

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou


implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra
parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das


partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução,
a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo
compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Registre-se, portanto, de logo, que tal extinção não se opera retroativamente,


produzindo seus efeitos ex nunc. Assim, nos contratos de trato sucessivo, não
se restituem as prestações cumpridas, a menos que as partes assim o
estabeleçam.

Temos que a regra é que a resilição seja bilateral (distrato), embora se possa
falar, em casos permitidos expressa ou implicitamente pela lei, em uma
manifestação unilateral de vontade extintiva do contrato. Vejamos as duas
espécies:

2.1 – Resilição Bilateral (distrato)


A resilição bilateral é chamada, pela doutrina e pelo próprio texto codificado, de
distrato. Se foi a autonomia da vontade que estabeleceu a relação contratual, é
óbvio que esta mesma autonomia poderá desfazê-la, na forma como pactuado,
possivelmente celebrando um novo negócio jurídico que estabelece o fim do
vínculo contratual, disciplinando as consequências jurídicas deste fato.

Assim, por exemplo, se a empresa X tem um contrato de prestação de serviços


com um escritório de advocacia, celebrado por tempo indeterminado, as partes
podem, de comum acordo, extingui-lo, estabelecendo as indenizações que
acharem cabíveis por tal rompimento contratual.

E de que forma deve-se dar tal extinção?

a) Forma
Estabelece expressamente o art. 472: “Art. 472. O distrato faz-se pela mesma
forma exigida para o contrato”.

Se é da substância do negócio jurídico uma determinada forma, somente por


tal solenidade é que se pode considerar válido o distrato.
Qualquer contrato pode ser resilido por distrato, desde que não tenha operado
todos os seus efeitos, ainda. Assim, o conteúdo do distrato é livre, mas sua
forma deve ser igual à do contrato, se a lei exige forma específica para
ele, consoante regra do art. 472. Assim, numa compra e venda imobiliária, o
distrato tem de ser feito por escritura pública, como o contrato.

Contrariamente, desde que não haja forma exigida para a substância do


contrato, admite-se que o distrato seja pactuado por forma livre. O
entendimento contido no Enunciado 584 no VII Jornada de Direito Civil,
consequentemente, consagra o entendimento de que se as partes se valeram
de forma não exigida por lei (o contrato não exige forma escrita, mas ela foi
utilizada), não se exige a mesma forma para a resilição bilateral (o distrato
pode ser feito verbalmente).

Em resumo, quem determina a exigência de forma é a lei, não o pacto.

Mesmo que forma outra tenha sido escolhida pelas partes, vale a exigência
legal; se a lei nada exige, não há que se ter simetria entre o contrato e o
distrato. Evidencia-se, aqui, a força do princípio do consensualismo, ou,
segundo a forma consagrada pelo liberalismo francês, “tudo o que não é
proibido, é permitido”.

b) Quitação: Esta deverá observar as normas de pagamento.

2.2. Resilição unilateral


Forma excepcional de resilição, também chamada de denúncia. A resilição
unilateral parece contrariar o princípio da irretratabilidade unilateral dos
contratos, eis que é um contrassenso se possibilitar que uma parte extinga o
contrato sem que a outra com ela concorde. Nessa linha, admite-se, portanto, a
resilição unilateral somente com autorização legal expressa ou implícita (pela
natureza da avença) e, sempre, com a prévia comunicação à outra parte.

Entretanto, a resilição é admitida em alguns casos, através da denúncia.


Sua natureza é de direito potestativo, pois, por vezes, é o único meio de
acabar com o contrato sem descumpri-lo.

“Denunciar um contrato”, portanto, em Direito Civil, traduz a ideia de “resilir o


negócio unilateralmente”. Requisitos:

a) Limitação temporal
Nas relações civis em geral que admitam a resilição unilateral, não se
propugna, independentemente de prévia comunicação, pela mais ampla
possibilidade da extinção imediata do contrato.

Isso porque a parte contrária pode ter realizado vultosos investimentos, na


perspectiva da continuidade do vínculo contratual, não sendo razoável, nem
compatível com a boa-fé objetiva, que anima toda a atual codificação civil,
que tais gastos permaneçam irressarcidos.
Dando um exemplo para melhor visualizar a hipótese, imagine-se um
contrato de prestação de serviços de assistência técnica, em que a empresa
prestadora invista na aquisição de equipamentos especializados para o
maquinário da tomadora. Ora, se, repentinamente, esta última decide romper o
vínculo contratual (por ter, p. ex., encontrado outra empresa que possa lhe
prestar o serviço), ficaria a outra parte “a ver navios”?

Em outra linha, se, por força da maior proteção que lhe dá a legislação
consumerista, pretende um consumidor desfazer um contrato de compra e
venda, por não ter mais condições de cumprir o pactuado, deve o vendedor
aceitar tal fato, sem qualquer ressarcimento pelas despesas feitas?
É claro que não, já havendo, inclusive, farta jurisprudência nacional sobre
a matéria, mesmo aplicando regras anteriores ao atual Código Civil brasileiro.

Pensando em tais situações, foi explicitada a regra do parágrafo único do


mencionado art. 473, in verbis: “Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza
do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a
sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido
prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos”.

Frise-se, entretanto, que a compensação das despesas efetuadas pela parte


que não desfez o contrato deverá ser justa e fixada segundo critérios
compatíveis com os princípios da função social do contrato e da dignidade da
pessoa humana.

Por tais razões, não vemos com bons olhos as regras de “fidelização
contratual” utilizadas pelas empresas de telefonia celular, resultando na
imposição de pesadas multas ao consumidor que pretenda resilir o contrato,
especialmente quando o móvel subjetivo da resilição for a insatisfação com o
serviço fornecido.

Em tal hipótese, esta referida técnica de subordinação contratual é injusta e


ilegítima, uma vez que retira do consumidor o direito de
escolha quanto à melhor concessionária que possa servir-lhe, ferindo,
inclusive, todo o sistema de privatização e a própria Constituição Federal,
que aponta a livre concorrência como o princípio básico da economia.

b) Formas especiais
Algumas modalidades contratuais permitem a resilição unilateral,
tomando-se em consideração certas peculiaridades, utilizando, doutrina e
legislação, nomes especiais para caracterizá-la. Dentre essas formas
especiais, destacamos a revogação, a renúncia e o resgate.

b.1) Revogação
A revogação consiste em uma modalidade de desfazimento de
determinados negócios jurídicos, por iniciativa de uma das partes
isoladamente. É o exemplo da resilição unilateralmente feita nos contratos de
mandato (arts. 682 a 687 do CC/2002) e doação (arts. 555 a 564 do
CC/2002)114.
Distinguindo revogação de denúncia, afirma ORLANDO GOMES que
“esta põe fim, diretamente, à relação obrigacional, enquanto aquela extingue o
contrato e, só como consequência mediata, a relação, fazendo cessar, ex tunc
ou ex nunc, os efeitos do negócio.

O ato de revogação requer cumprimento pelo próprio sujeito que praticou o ato
que se revoga e deve destinar-se a impedir que este produza seus efeitos
próprios. Contudo, o vocábulo revogação é empregado em sentido mais amplo.
Tal como a denúncia consiste a revogação numa declaração receptícia de
vontade, que opera extrajudicialmente, e, como ela, é direito potestativo.

Os contratos estipulados no pressuposto da confiança recíproca entre as


partes
podem resilir-se ad nutum, mediante revogação. Está neste caso o mandato. A
lei autoriza o mandante a revogá-lo, pondo-lhe termo, a todo tempo, por
simples
declaração de vontade, e independentemente de aviso prévio.

b.2) Renúncia
Como a outra face da moeda, compreendemos que o sentido que se dá ao
vocábulo “renúncia”, em matéria de extinção contratual, nada mais é do que a
resilição contratual por iniciativa unilateral do sujeito passivo da relação
obrigacional, sendo também especialmente aplicável a algumas modalidades
contratuais.
É o caso, por exemplo, também no contrato de mandato, da renúncia do
mandatário, na forma determinada no art. 688 do CC/2002, que também
prevê limitações ao seu exercício

b.3) Resgate
Exemplo clássico e difundido de resgate encontrávamos no Código Civil
anterior, quando preceituava acerca do instituto da enfiteuse, direito real na
coisa alheia não mais disciplinado pela codificação nacional.

Na atual codificação, contudo, a expressão somente é utilizada em outro


contexto, mais especificamente no exercício da retrovenda, referindo-se ao
retorno do bem ao vendedor, conforme arts. 505 e 506, CC.

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