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Especial
Odebrecht ameaça camponeses peruanos Págs. 14 e 15
ISSN 1978-5134
A relação entre CPTM encalha em
agrotóxicos e câncer Págs. 6 e 7 velhos problemas Págs. 10 e 11
editorial
O velho...
MELHOR IDADE É O CACETE, diria minha avó. Essa coisa só va-
le para quem é rico e pode pagar por uma companhia que lhes resol-
va a vida. Já a vida do velho pobre é uma desgraça só. Praticamen-
te ninguém o respeita e, no geral, o veem como uma atrapalho na vi-
da dos demais.
Bob May/CC Foi assim com Romão. Ele entrou na agência do INSS com o an-
dar arrastado, como sempre é o andar de todos os velhos. Pas-
so após passo, devagarito no más. As pessoas no aguardo de serem
chamadas já olharam meio de revesgueio. No geral, parecem não
gostar dessa lentidão dos velhos, dá aflição. E franzem ainda mais a
cara quando eles passam na frente.
Romão parecia meio perdido. Sozinho, carregava um saquinho
plástico, onde guardava os documentos. Dirigiu-se imediatamente
para a mesa. A trabalhadora olhou de través.
– Tem de esperar, senhor.
Ele titubeou e olhou para nós, que estávamos sentadas. Sorri pra
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Pedro Carrano (Curitiba – PR), Pedro Rafael Ferreira (Brasília – DF), Vivian Virissimo (Rio de Janeiro – RJ) • Correspondentes internacionais: Achille Lollo (Roma – Itália),
Baby Siqueira Abrão (Oriente Médio), Claudia Jardim (Caracas – Venezuela) • Fotógrafos: Carlos Ruggi (Curitiba – PR), Douglas Mansur (São Paulo – SP),Flávio Cannalonga (in memoriam), João R. Ripper
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de 27 de agosto a 2 de setembro de 2015 3
Agenda
(contra o) Brasil
AO QUE TUDO INDICA, houve uma alteração na disputa
política interna do PMDB, para ver quem interfere mais
na política do governo Dilma. Apesar de seu mais im-
portante dirigente nacional, Michel Temer, ter sido elei-
to como vice-presidente da República em outubro passa-
do, esse partido nunca se definiu claramente como opo-
sição ou situação.
De início, articulou-se uma aliança entre o presidente
do Senado Federal (Renan Calheiros) e o presidente da
Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha), ambos parla-
mentares eleitos pelo PMDB. Essa atuação conjunta dos
dirigentes do poder legislativo no plano federal, logo de-
pois de suas respectivas eleições para esses cargos estra-
tégicos, criou um conjunto de dificuldades para a presi-
denta Dilma. Além de permitir a derrota do governo em
votações importantes no legislativo, pairava a ameaça
permanente de dar início a um eventual processo de im-
peachment.
O aprofundamento das dificuldades do Palácio do Pla-
nalto na articulação de sua base de apoio no Congresso
Nacional levou à solução provisória de oferecer essa ta-
refa ao próprio Michel Temer. O governo viu-se bastante
acuado, havendo delegado a condução da política econô-
mica a um ortodoxo conservador como Joaquim Levy e a
condução política a esse triunvirato do PMDB.
Ocorre que a divulgação de informações a respeito do
indiciamento de Eduardo Cunha por crime de corrupção
criou um curto-circuito nesse esquema de poder parale-
Altamiro Borges lo, que vinha sendo chamado de “parlamentarismo bran-
co”. Ao perceber o espaço para se aproximar de Dilma,
Renan rifou seu correligionário da Câmara e se colocou
Causas e sintomas
considerados prioritários para votação pelo legislativo e
que teriam contado com o aval e o apoio do Ministro da
Fazenda.
Ali constam itens diversos, mas que constituem a es-
sência do projeto conservador em nossas terras. Den-
“QUAL FOI A ÚLTIMA GRANDE vitória da esquerda no nasceram na rua e, ao serem utilizadas, se esgotaram tre eles, podemos verificar o desmantelamento do SUS,
Brasil?”, provocou o filósofo Paulo Eduardo Arantes em imediatamente. Foi uma demonstração de que a ação a privatização de empresas estatais, a anistia para recur-
recente debate sobre as grandes manifestações dos úl- política direta produz efeitos e, portanto, deslegitimou o sos enviados ilegalmente ao exterior, o aumento da idade
timos dois anos e os seus impactos no cenário político que havia de obsoleto na prática política da esquerda nos mínima para aposentadoria, a redução do Estado e ou-
brasileiro — realizado na Filosofia-USP — do qual tam- últimos 30 anos. “Desde então, a política de massas, de tros. O discurso passa pela tentativa enganosa de vender
bém participaram Camila Rocha, José Henrique Borto- acumulação de forças, de apresentar-se como alternati- a imagem de que o modelo de defesa de direitos sociais
luci e Ruy Braga. va de poder desapareceu do horizonte, pura e simples- básicos previstos na Constituição não cabe mais na capa-
O filósofo coloca a crise atual no “patamar da desgra- mente”, enfatizou. cidade arrecadadora do Estado brasileiro. Logo, a solu-
ça”. A farsa é mais sinistra do que a tragédia inicial (o Quanto à tentativa de o PT voltar às origens, como ção passa pelo desmonte das políticas públicas previstas
golpe de 1964). No golpe de 1964 a frustação era absolu- querem alguns, não faria o menor sentido para o filóso- pelos constituintes em 1988.
ta, mas a diferença é que há 50 anos, apesar de ter sido fo. Seria voltar a alguma coisa que já era uma miragem. É interessante observar a ausência de qualquer men-
estrategicamente derrotada, não houve uma desmorali- A utopia brasileira do trabalho — o indivíduo entrar no ção à política econômica de Levy, que está levando o país
zação da esquerda. universo dos direitos através do assalariamento — já es- à recessão e ao desemprego. Apenas mantém-se o man-
Agora, “de onde vem esses brutamontes da idade das tava em crise nos anos de 1980, quando surgiu o próprio tra a respeito da importância do ajuste fiscal. Assim, a
pedras?”, indaga Arantes sobre o perfil da “nova” direita. PT. Mas com a emergência do precariado, desfaz-se to- única despesa orçamentária que permaneceria imexível é
Ele argumenta que o lulismo administrou um progres- talmente essa utopia. aquela relativa ao pagamento de juros e serviços da dívi-
sivo conservadorismo da sociedade brasileira (o bom e O pior, na visão de Arantes, é que quando sai de cena da pública. As demais associadas a saúde, educação, pre-
velho pacto conservador). Portanto já havia um terreno a utopia do trabalho, entra um outro personagem como vidência social, saneamento, direitos dos trabalhadores e
preparado para que isso acontecesse. E junho/2013 não canal de acesso a direitos: a administração financeiriza- investimentos em áreas sociais seriam reduzidas ou eli-
teria sido uma explosão libertária da esquerda, mas um da da pobreza (um cadastro administrado pelo governo). minadas. Enfim, percebe-se que é uma verdadeira Agen-
marco divisório, um sintoma da decomposição do que “Esse cadastro foi até agora bem administrado por esse da Contra o Brasil!
estava por vir. conglomerado de organizações que está naufragando. O
Para Arantes, as jornadas de junho não foram plane- que virá depois, como será administrado esse cadastro Paulo Kliass é doutor em economia pela Universidade de
jadas para dar em alguma coisa (no sentido da acumula- em que o veículo do acesso a alguma coisa semelhante à Paris 10 e integrante da carreira de Especialista em Políticas
ção de forças de longo prazo). As táticas de junho/2013 cidadania é um cartão magnético?”, concluiu. Públicas e Gestão Governamental, do governo federal.
fatos em foco
da Redação
Audiência denuncia más práticas Mulheres vão participar de eleições Deputados rompem com Syriza lista para as próximas eleições, que a im-
trabalhistas no McDonald’s na Arábia Saudita pela primeira vez e formam novo partido na Grécia prensa grega especula que acontecerão em
Parlamentares e sindicalistas do Brasil As mulheres na Arábia Saudita começaram A ala mais à esquerda dentro do Syri- 20 de setembro. (Opera Mundi)
e do exterior fizeram, dia 20 de agosto, a se registrar para poder votar e também se za anunciou, dia 21 de agosto, a criação
inúmeras acusações contra a rede Mc- candidatar nas eleições municipais que ocor- de um novo partido chamado Unidade Ato contra arrocho e por democracia
Donald’s sobre precarização das relações rerão em dezembro, reportou a Al Jazeera no Popular, rompendo com a então legenda reúne 100 mil em São Paulo
de trabalho, em audiência pública da Co- dia 19 de agosto. Esta é a primeira vez que elas governista da Grécia. A formação ocorre Manifestantes ligados aos movimentos
missão de Direitos Humanos, do Senado. participam do processo eleitoral no reinado. um dia após o primeiro-ministro, Alexis social e sindical ocuparam as ruas dia 20 de
O presidente da Confederação Nacional Embora a medida tenha sido aprovada pelo rei Tsipras, anunciar eleições antecipadas e agosto para pedir mudanças nos rumos da
dos Trabalhadores em Turismo e Hospi- Salman bin Abdelaziz al-Saud, o seu anteces- sua renúncia ao cargo. Com 25 deputados, economia nacional e defender a democracia.
talidade (Contratuh), Moacyr Tesch,que sor, Abdullah bin Abdul Aziz, morto em janeiro a legenda será liderada pelo ex-ministro Na capital paulista, o protesto começou no
propôs a realização da audiência ao de 2015, já havia indicado em 2011 a possibili- de Energia, Panagiotis Lafazanis – que Largo da Batata, na Zona Oeste, e seguiu
presidente da comissão, senador Paulo dade de mulheres votarem nas próximas muni- defende a volta do dracma como moeda até a Avenida Paulista. Os organizadores
Paim (PT-RS), revelou que a empresa cipais. A possibilidade de votação ainda é vista nacional – que saiu do governo em mea- estimaram a presença de cerca de 100 mil
troca todo o seu corpo de funcionários a por muitos setores conservadores da sociedade dos de julho, quando Tsipras remodelou pessoas. Os manifestantes condenaram a
cada ano. Para ele, isso demonstra como saudita como uma “intrusão ocidental”. A seu gabinete. Além disso, Lafazanis foi agenda conservadora que pauta o governo e
as condições de trabalho na rede são Arábia Saudita é um dos países com maior um dos principais críticos às negociações o legislativo, cobrando a retomada do rumo
massacrantes. Francisco Calasans, presi- desigualdade de gênero. Além da proibição de entre Tsipras e os credores europeus para progressista e de avanços sociais que mar-
dente do Sindicato dos Hoteleiros de São sufrágio, as mulheres são proibidas de dirigir o terceiro programa de resgate. O Unidade caram a última década. As manifestações
Paulo (Sinthoresp), denunciou práticas e até de viajar sozinhas, tendo suas escolhas Popular deriva da corrente tida como ra- ocorreram em 25 Estados e no Distrito Fe-
antissindicais impostas pela rede de lan- restritas pela decisão dos homens, sejam pais, dical do Syriza, a Plataforma de Esquerda, deral. Em todo o país foram registrados atos
chonetes. (Agência Sindical) irmãos ou maridos. (Opera Mundi) que anunciou que apresentará sua própria em 39 cidades. (Agência Sindical)
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Dispensa de alunos
Márcia Brito, mãe de uma aluna do 3º viços de acolhimento e atendimento”, der aos protocolos de saúde pública, co- cola é o primeiro espaço social que a
ano e avó de um aluno do 5º, era das descreve o inquérito. mo explica a doutora em Ciências da criança frequenta. Se ninguém garan-
mais indignadas. “Tem dias que eles O Ministério Público juntou ao do- Saúde e mestre em Enfermagem Pedi- te sua limpeza, a mensagem transmiti-
são dispensados. A gente mal é avisa- cumento gerado pela iniciativa do Ins- átrica, Damaris Gomes Maranhão. Pa- da é que não precisa jogar o lixo no li-
do se vai ter reposição depois ou se fi- tituto Alana, o ofício encaminhado pe- ra ela, os cursos de pedagogia não abor- xo nem cuidar do que é público.” Prisci-
carão com falta. Os dois reclamam do lo Núcleo de Políticas Públicas do MP, da entrada, nos intervalos e na hora da dam essas práticas e os cuidados com la atribui ao governo e à Sabesp a culpa
fedor no banheiro e contam que, às ve- noticiando o risco de colapso do Siste- de São Paulo (SP) saída. Segundo a funcionária, até o fim a higiene e saúde dos bebês e crianças Mensagem no Facebook da EMEF Enéas de Carvalho Aguiar afirma que não há água pelas iniciativas equivocadas dos gesto-
zes, a professora pede para segurar o xi- ma Cantareira e de outros sistemas da de maio a prefeitura mandava um cami- são considerados uma atividade esco- res: “O diretor manda a criança voltar
xi. Não é um absurdo?” Talita Carrara, região metropolitana. O promotor res- A reportagem presenciou a dispen- nhão-pipa quando a escola pedia. Mas lar menor. “É um trabalho de formigui- to comprado na farmácia é inadequado mãos ou deixar de fazê-lo aumenta o ris- para casa porque é a medida que ele co-
aluna no 9º ano do Ensino Fundamen- ponsável aguarda a resposta dos órgãos sa de alunos na EMEF Enéas Carvalho depois disso as solicitações não foram nha construir a importância dos cuida- para a pele da criança, que, além disso, co de contaminação: “Se houver um me- nhece. Todos estariam mais preparados
tal 2, que funciona à tarde, se queixa da governamentais convocados. de Aguiar por falta de água, embora não mais atendidas. dos nas escolas. Com a falta de água, as coloca as mãozinhas no olho e na boca o nino ou menina com diarreia, a chance para lidar com a falta de água se desde
mesma situação: “Tem dias que não te- Além da prestação de contas sobre a tenha obtido permissão da Secretaria Em 11 de junho deste ano, uma posta- desculpas para ignorá-los aumentam.” tempo todo. Pedir para segurar o xixi é de contágio geral é grande”. o começo o poder público tivesse fala-
mos aula porque ninguém consegue fi- escassez nas escolas, outros 49 inqué- Municipal de Educação para entrar na gem na página da instituição no Face- Damaris critica o uso do álcool-gel grave, pois pode gerar dores pélvicas e O ideal, para a especialista, seria a do abertamente sobre o assunto”. (CC)
car aqui, o cheiro é muito forte”. ritos e ações civis públicas sobre a crise escola. A secretaria alegou que não que- book pedia a colaboração dos pais, mas na Educação Infantil, diz que o produ- até infecção urinária. E lavar menos as adoção de um sistema mais organi- (Agência Pública)
A escola adotou medidas emergen- hídrica e suas consequências estão nas ria associar as escolas “à pauta da crise” afirmava que os alunos não seriam dis-
ciais, como pedir que os alunos tragam mãos dos promotores do Ministério. e não permitiu que a diretora desse en- pensados.
garrafinhas de água potável e servir a Em audiência pública, marcada para es- trevistas. Mas, enquanto a pequena Tie- A Secretaria Municipal de Educação,
merenda seca, ou seja, composta de ali- te mês, o órgão pretende ouvir a popula- mi Fujita, aluna do 2º ano, se queixava via assessoria de imprensa, negou que
Leslie Chaves e
Patrícia Fachin
de São Leopoldo (RS)
to de câncer em seres humanos. Den- Estudos experimentais científicos Além disso, existem os efeitos mais tar-
tre eles, o glifosato foi classificado co- tanto com animais de laboratório como dios, que são o câncer, alterações hor-
mo carcinógeno humano, assim como o com populações expostas, realizados monais, alterações reprodutivas, que
malathion, que é muito usado também em outros países, mostram uma relação são relacionadas, cientificamente, ao
em campanhas de saúde pública [pul- clara entre o uso de agrotóxicos e o apa- uso de agrotóxicos.
verizado em campanhas de combate ao recimento de câncer. Instituições que
mosquito da dengue], e o herbicida 2,4- têm conhecimento na área de pesqui- Como o Dossiê da Abrasco está
D, que foi classificado como possível sa de câncer, como o Instituto Interna- repercutindo entre os setores de
carcinógeno humano”, alerta. cional de Pesquisa em Câncer (Iarc), da saúde e vigilância sanitária no
No dia 24 de agosto, Karen ministrou Organização Mundial da Saúde (OMS), país? Como essa discussão acerca
a palestra “Uso combinado de Agrotó- fizeram avaliações e revisões sistemáti- da relação entre consumo de
xicos e o impacto na saúde”, na aber- cas sobre alguns agrotóxicos, e esses es- agrotóxico e implicações à saúde
tura do Seminário Agrotóxicos: Impac- tudos mostram que os agrotóxicos que tem sido discutida?
tos na Saúde e no Ambiente, realizado usamos no Brasil apresentam enorme O Dossiê foi lançado no final do mês
na Sala Ignacio Ellacuría e Companhei- potencial de desenvolvimento de cân- de abril, e várias instituições, como o
ros – IHU, na Unisinos. Na oportuni- cer em seres humanos. Dentre eles, o Ministério Público e Fóruns Estadu-
dade foi lançado o Dossiê Abrasco: um glifosato foi classificado como carcinó- ais, têm demandado da Abrasco o lan-
alerta sobre os impactos dos agrotóxi- geno humano, assim como o malathion, çamento e a divulgação do Dossiê. Para
cos na saúde. que é muito usado também em campa- nós, essa tem sido uma surpresa, espe-
QUEM É
Confira a entrevista. nhas de saúde pública [pulverizado em cialmente quando percebemos que pes- Karen Friedrich possui graduação em Bio-
campanhas de combate ao mosquito da soas que trabalham com a área da saú- medicina pela Universidade Federal do Estado
Que discussão é importante ser dengue], e o herbicida 2,4-D, que foi de ou que são representantes do Esta- do Rio de Janeiro (UNIRIO), mestrado e douto-
feita quando se trata da relação classificado como possível carcinógeno do têm poucas informações sobre os rado em Saúde Pública pela Escola Nacional
entre agrotóxicos e saúde? humano. Portanto, temos estudos cien- danos dos agrotóxicos. Então, o Dossiê de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação
Karen Friedrich – Da ótica da saúde, tíficos de organismos internacionais e traz, de um lado, alguns estudos cien- Oswaldo Cruz. Atualmente é servidora pública
sempre temos de trabalhar com a pre- nacionais, como o Instituto Nacional do tíficos para contribuir com informações do Instituto Nacional de Controle de Qualidade
venção para evitar que um dano à saúde Câncer (Inca), que estão se posicionan- para essas pessoas que trabalham na em Saúde (INCQS), da Fundação Oswaldo Cruz
se estabeleça. Só que a estrutura dos ór- do quanto ao risco do uso dos agrotóxi- área da saúde, ressaltando que esses es- e professora assistente da UNIRIO. É presidente
gãos de vigilância e fiscalização das po- cos desenvolverem câncer. tudos não estão esgotados, porque exis- da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambien-
pulações expostas é precária, e por is- tem mais estudos apontando os prejuí- te Natural (AGAPAN) e coordenadora do GT
so temos poucas iniciativas bem-suce- Como o agrotóxico ainda é zos dos agrotóxicos. Essas informações de Agrotóxicos e Transgênicos da Associação
didas que trabalham com a prevenção permitido, mesmo depois do podem ser úteis para que os órgãos do Brasileira de Agroecologia.
e com a promoção da saúde no que se resultado dessas pesquisas? Estado tomem ações não só em nível fe-
brasil de 27 de agosto a 2 de setembro de 2015 7
Eduardo Tavares
de Porto Alegre (RS)
da Rede Brasil Atual
Solução
O agricultor Gilmar Bellé, formado
de Porto Alegre (RS) em Economia, dirigente da Cooperati-
va Aecia e vereador no município de An-
A alternativa para esse panorama é o tonio Prado, vai toda quarta-feira de ca-
fortalecimento da agricultura familiar e minhão a Porto Alegre, levando sua pro-
do cultivo sustentável. Apesar do aumen- dução e a de outros cooperativados pa-
tos dos investimentos do governo federal ra vender na Feira Cultural da Biodiver-
nos últimos anos na agricultura familiar, sidade. Ele é pioneiro na produção de or-
o lobby do agronegócio dificulta avan- gânicos. Participou da criação da coope-
ços mais significativos. A bancada rura- rativa em 1989, junto com outros jovens
lista no Congresso é numerosa (cerca de atuantes na Pastoral da Juventude Rural.
170 deputados e 13 senadores), enquan- A iniciativa é sucesso comercial. Produz
to o universo de 12 milhões de pequenos 500 toneladas de hortifrutigranjeiros e
agricultores conseguiu eleger apenas 12 mais 500 toneladas de alimentos proces-
deputados. O agronegócio produz, prin- sados nas suas agroindústrias. Além das
cipalmente, biocombustível, commodi- feiras, vendem para redes de supermer-
ties para exportação e ração para animal, cados, como Zaffari e Pão de Açúcar. Ne-
enquanto a agricultura familiar respon- gociam tudo o que produzem pelo preço Alexandre iniciou projeto em feira ecológica apoiado pela consumidora Fabiane
de por 70% da produção de alimentos. A que estabelecem.
Biodinâmicos
orgânica ainda é pequena, movimentou
R$ 1,5 bilhão em 2013, mas está em ex-
pansão de, em média, 35% ao ano desde “Tudo orgânico. A maior parte da
2011, favorecida pela regulamentação do
setor com a Lei dos Orgânicos. produção é adquirida pelas prefeituras de
A produção se concentra nos agricul- São Paulo e Porto Alegre para a merenda dutividade e propiciam excelente rela-
tores familiares organizados em associa- de Porto Alegre (RS) ção custo/benefício.
ções ou cooperativas. O Movimento dos escolar e pelo programa Fome Zero” As redes de supermercados vendem
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Na Fazenda Capão Alto das Criúvas, no cerca de 70% da produção de orgânicos
também incentiva o cultivo de orgâni- município Sentinela do Sul, a 100 quilô- no Brasil, mas os preços são maiores que
cos nos assentamentos. A Cooperativa metros de Porto Alegre, o engenheiro os de produtos da agricultura convencio-
Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), As 23 famílias da cooperativa têm bom agrônomo João Volkmann produz, des- nal. A alternativa são as feiras livres, on-
na Grande Porto Alegre, reúne 30 famí- padrão de vida. A de José Tondello com- de 1989, arroz orgânico e biodinâmico. de o produtor vende direto para o con-
lias assentadas numa área de 600 hecta- prova. Seus filhos Jonas, de 23 anos, es- Em 182 hectares, João extrai 5 toneladas sumidor e cria outros vínculos. As feiras
res, desde 1995. Segundo o diretor Air- tudante de Processos Gerenciais, e Nei- por hectare. O arroz Volkmann foi o pri- estão presentes em todas as capitais bra-
ton Rubenich, o empreendimento pro- va, 20 anos, dizem, enquanto colhem meiro a receber certificado de biodinâ- sileiras. Porto Alegre tem sete por sema-
duz por mês 40 mil litros de leite, e por moranguinhos, que nem pensam em sair mico no Brasil; abastece o mercado in- na. A mais antiga é a Feira Ecológica da
ano 268 toneladas de carne de suíno e do campo. A mesma opinião tem Maia- terno e é exportado para os Estados Uni- Redenção – funciona há 25 anos, todos
2 mil toneladas de arroz. “Tudo orgâni- ra Marcon, de 24 anos, que largou o cur- dos, Alemanha, Bolívia e Uruguai. os sábados. Anselmo Kanaan, veteriná-
co. A maior parte da produção é adquiri- so de Educação Física para ajudar seu pai Desenvolvidos por Rudolf Steiner, rio e coordenador da Feira da Biodiversi-
da pelas prefeituras de São Paulo e Por- na produção de mudas e desenvolver um criador da Antroposofia, os preparados dade do Menino Deus, constata que tem
to Alegre para a merenda escolar e pelo projeto de ecoturismo no sítio em Ipê. biodinâmicos usados pelo produtor são aumentado o número de consumidores
programa Fome Zero.” (ET) (Revista do Brasil) elaborados a partir de cristais e plantas com problemas de saúde que buscam no-
medicinais, constituindo uma fitoterapia vos hábitos alimentares. A feira tem 24
para que as plantas cumpram melhor módulos, e todos têm certificação de pro-
sua função e tenham mais potencial nu- dutores orgânicos.
tritivo. “No sistema de produção biodi- Entre eles está Gilmar Bellé, de Antô-
nâmico, a propriedade é vista como um nio Prado, com um avental, carregan-
organismo agrícola vivo e espiritual. Os do caixas de tomates. Na banca ao lado,
objetivos são a cura da terra, o bem-estar Alexandre Baptista, o Ali, é o mais no-
dos agricultores, a produção de alimen- vo produtor, e está iniciando um proje-
tos sadios para o consumidor e o desen- to bem-sucedido e consolidado na Eu-
volvimento da espiritualidade.” ropa e Japão: o CSA (da sigla em in-
Sua fazenda promove cursos e está- gles A Comunidade Financia o Agricul-
gios gratuitos. Um dos alunos, João tor). São 30 famílias que pagam men-
Kranz, é diretor da agroindústria da Co- salmente R$ 93 e recebem toda semana
operativa Ecocitrus, em Montenegro, uma cesta com oito produtos diferentes.
a 55 quilômetros de Porto Alegre. É a Dessa maneira é garantido o escoamen-
maior produtora brasileira de suco, pol- to da sua produção. A advogada Fabiane
pa e óleo essencial de laranja e tangeri- Galli é uma das apoiadoras. “As crian-
na e exporta quase tudo para a Alema- ças não adoecem e têm muita vitalida-
nha. Das 75 famílias associadas, 12 pro- de”, diz Fabiane, mãe de três crianças e
duzem com preparados biodinâmicos há nove anos consumindo produtos or-
Município gaúcho de Ipê é considerado um dos pioneiros na produção de alimentos orgânicos que, segundo Kranz, aumentam a pro- gânicos. (ET) (Revista do Brasil)
8 de 27 de agosto a 2 de setembro de 2015 brasil
MARANHÃO
Com bombardeio diário,
críticas são gratuitas
Reprodução
rosas crises que se instalaram no Gover- que aqui no Maranhão está em cada es-
no do Estado”. quina. Nós estamos desmontando isso
Na mesma coluna: “Gozações – Os es- e desmontando em um processo confli-
cândalos e constrangimentos em todas tuoso. Todas as vezes que a gente tira
as áreas do governo Flávio Dino têm fei- um privilégio pendurado na árvore do
to a alegria de piadistas e gaiatos da in- patrimonialismo maranhense, o dono
ternet. Todo dia surgem memes e ban- do privilégio reclama, reclama e luta.
ners fazendo troça do governo, que me- Luta, entra na Justiça, coloca seu sis-
te os pés pelas mãos quase diariamente. tema de mídia contra, porque ele quer
O que ajuda os provocadores é a postura manter o privilégio. Passou anos indo
do próprio governo de não reconhecer os lá colher essa fruta madura e alimen-
erros e querer impor seu ponto de vista”. tando os seus às custas de milhares de
Na mesma página, ao acusar Dino de maranhenses.
desperdiçar dinheiro com o aluguel de
um prédio, o jornal promove os dois O que é o programa
herdeiros políticos da família: os de- emergencial do IDH, o Índice de
putados Adriano Sarney (PV) e Andrea Desenvolvimento Humano?
Murad (PMDB). Eles são chamados a É uma política focalizada nos 30 mu-
opinar sempre que há “denúncias” con- nicípios de pior IDH do Maranhão, que
tra Dino. Propaganda política disfarça- estão entre os 100 piores do Brasil. Ação
da de jornalismo. de substituição de escolas, restauran-
A ênfase da cobertura é na violência, tes populares, força estadual de saúde,
que realmente é grave em São Luís. Se- construir casas, apoio à agricultura fa-
gundo Dino, a taxa de homicídios caiu, miliar, fornecer documento, um enxoval
mas o colunismo sarneyzista cria um cli- Reprodução de notas publicadas na imprensa maranhense de direitos. Eu, quando estudei, quan-
ma de pânico a ponto de invocar o holo- do dava aula de Direito, falávamos em
causto – como se o problema não fosse Para quem chega, é o porto melhor si- O senhor disse que conseguiu direitos de primeira, segunda e terceira
parte integral da herança maldita deixa- tuado do Arco Norte, do ponto de vista R$ 100 milhões em função de gerações. Século 18, direitos civis. Sécu-
da pelos Sarney. do mercado brasileiro, porque ele se si- mudanças administrativas? lo 19, direitos políticos. Século 20, direi-
De Pergentino Holanda, colunista: Co- tua exatamente na zona de transição en- Essas mudanças em cinco meses ge- tos sociais. Nós temos de fazer três sécu-
mo a família Sarney controla a TV Mi- tre a Amazônia e o Nordeste, com am- raram 100 milhões, porque nós comba- los em quatro anos. Pretendemos mos-
rante, afiliada da Globo no estado, acaba plo acesso ao Centro-Oeste do país. E temos problemas que havia no Detran, trar, que apesar das dificuldades nacio-
definindo a agenda do que aparece sobre ao mesmo tempo no sentido de saída. no sistema penitenciário, no sistema de nais, é possível mobilizar investimentos
o Maranhão nos jornais em rede nacio- Uma empresa que vai exportar soja pa- saúde, na educação. A escola que apa- públicos e privados capazes de elevar a
nal da emissora. “Toda semana tem pe- ra a costa Leste dos Estados Unidos vai rece na foto, para substituir, pode cus- qualidade de vida de populações antes
lo menos uma reportagem negativa”, diz economizar três ou quatro dias de fre- tar em média 500 mil reais. Dez mi- submetidas a patamares de negação de
um assessor de Dino. te usando Itaqui em relação a Parana- lhões dá para fazer 20 escolas. Dá para direitos realmente inacreditáveis.
O curioso é que os ataques partem da guá (Paraná). fazer uma escola técnica estadual, que
família que controlou o estado politi- o Maranhão não tem nenhuma. Com a Mostrar que governo
camente por mais de meio século. Que, O senhor diz que pretende Universidade Virtual do Maranhão dá faz diferença?
mais recentemente, “privatizou” a segu- casar esta vantagem logística para dizer que essas pessoas desviaram Que é imprescindível para superar os
rança do complexo penitenciário de Pe- com energia para desenvolver 70 escolas. problemas da população mais pobre.
drinhas, o que ajudou a provocar um es- um parque industrial e Durante décadas no Brasil se estabele-
cândalo de dimensões nacionais com a processar os produtos agrícolas Por que os ataques ceu uma espécie de dualidade: o Bra-
matança entre facções. do Maranhão no entorno de diários na mídia? sil moderno era privado, o Brasil arcai-
De um grupo político que, segundo Di- Itaqui. Qual energia? Na verdade, uma fração da elite bra- co público. Isso na verdade é uma falá-
no, chegou a pagar R$ 11 por um copo Na verdade, nós já temos uma grande sileira, acostumada a um modelo co- cia ideológica. Todos nós sabemos que
de leite servido numa refeição hospita- produção de gás, de cerca de 5 milhões ronelista e oligárquico, tem o hábito sem serviços públicos é impossível nós
lar. Isso sem falar nas mil escolas como a de metros cúbicos. Já foi feita a pros- de gerar acúmulo de fortunas pessoais termos um Brasil verdadeiramente mo-
desta foto. Confira a entrevista com o go- pecção e foi formalmente declarado pela a partir do desvio daquilo que perten- derno. (Viomundo)
vernador do Maranhão, Flávio Dino. Agência Nacional de Petróleo que esses
campos estão aptos a serem comercial-
Governador, quem olha para essa mente explorados. Na décima terceira
foto é difícil acreditar… rodada do leilão da ANP (Agência Nacio- Edital de Convocação Assembléia Geral
Flávio Dino – Nós encontramos mil es- nal do Petróleo) teremos mais 22 blocos
colas dessas, na qual existem professo- na chamada bacia do Parnaíba, que fica Ordinária e Extraordinária
res de enorme capacidade de se dedicar quase toda no Maranhão, de modo que
a uma causa, que eu respeito muito, mas nós esperamos que no futuro essa abun- Convocamos, nos termos do Estatuto em vigor, os sócios da COOPERATIVA DE
na qual, obviamente, os alunos pouco dância de fonte de energia de nosso esta- TRABALHO EM ASSESSORIA A EMPRESAS SOCIAIS DE ASSENTAMENTOS
conseguem apreender. Por isso, nós esta- do se consolide. Nós temos uma econo-
mos com um programa voltado para su- mia baseada na agricultura, na pecuária, DA REFORMA AGRÁRIA – COOPERAR, sociedade cooperativa de natureza ci-
perar isso. Realmente é inacreditável que na pesca, no extrativismo, na avicultura, vil, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazen-
em um país como o nosso, sexta ou séti- tudo isso é fundamental. Mas, ao mesmo da sob o n.º 07.899.004/0001-00, com endereço na Alameda Barão de Limei-
ma maior economia do planeta, essa con- tempo, é importante industrializar o es- ra, 1.232 , Campos Elíseos, São Paulo, Estado de São Paulo, para participarem da
dição social seja tão difícil. O estado que tado, substituir importações. ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA e EXTRAORDINÁRIA, que se realizará em
tem o décimo sexto PIB do Brasil, que
tem um porto promissor e importante, O senhor já lidou com a sua sede, no dia 28 de Setembro de 2015, às 9:00 horas, para tratar dos seguin-
tem a base de Alcântara… agora nós pre- herança maldita do governo de tes pontos de pauta:
cisamos fazer com que essas ilhas de mo- Roseana Sarney?
dernização, de século 21, consigam che- Nós encontramos aqui muitos absur- ORDEM DO DIA:
gar ao Maranhão profundo, que ainda vi- dos, infelizmente. Havia, por exemplo,
ve, em muitos casos, no século 19. uma Universidade Virtual do Maranhão.
A universidade era virtual, mas o rou- 01) Admissão, demissão de cooperados;
Qual a importância do porto de bo era real, porque lá houve desvio de 02) Eleição do Conselho Fiscal;
Itaqui, considerando que 10% da mais de R$ 30 milhões. No que se refe- 03) Avaliação do exercício social de 2014;
soja exportada pelo Brasil saem re à saúde encontramos situações abso- 04) Análise do balanço anual de 2014;
de Matopiba, a região fronteiriça lutamente injustificáveis do ponto de vis-
entre Maranhão, Tocantins, Piauí ta do custo, como o copo de leite que cus-
05) Parecer do conselho fiscal do exercício de 2014;
e Bahia? tava 11 reais. 06) Destinação das sobras ou rateio das perdas dos exercícios de 2014;
Geraldo Magela/Agência Senado 07) Análise do plano de metas para o novo período;
08) Análise do orçamento para o novo período;
09) Fixação de Honorários;
10) Outros assuntos de interesse dos cooperados;
Sheila Pagnussatti
Coordenador Secretário
NA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA Presidente
da Câmara, acompanhado
por José Serra e Aloysio
Nunes, se recusa a
responder sobre Lava Jato,
volta a defender saída do
PMDB do governo e diz
“torcer” para vice deixar
articulação política
Eduardo Maretti
de São Paulo (SP)
da Rede Brasil Atual
CORRUPÇÃO
CPTM encalha em velhos problemas das ferrovias que unificou Rivaldo Gomes/Folhapress
ESTAÇÃO DESCASO
Controlado por tucanos há
mais de 20 anos e com baixo
investimento, sistema não
Intervalos crônicos Danilo Ramos/RBA
nos tucanos. xando 47 feridas. Dinheiro federal – Somente em aval para empréstimo até o momen-
As denúncias abrangem integrantes Aparentemente mais moderna, a linha 8-Dia- to, o governo federal já concedeu R$ 22 bilhões para o estado, junto ao
dos governos Mário Covas, Geraldo Al- mante carece de reformas em sua via. Em dezem- BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica e instituições multilaterais
ckmin e José Serra, além de diretores bro de 2011, dois trabalhadores experientes fo- de fomento, como Banco Mundial, JBIC, BID, entre outros, para obras
de 18 empresas do setor metroferrovi- ram atropelados e mortos por um trem durante metroferroviárias. Do PAC Mobilidade Urbana, o estado e as cidades
ário, conforme revelações feitas por um uma inspeção regular nos trilhos, perto da esta- paulistas ganharam R$ 4,5 bilhões a fundo perdido do Orçamento Geral
executivo de uma das suspeitas, a mul- ção Barueri. da União. Serão R$ 400 milhões para a Linha 18–Bronze, monotrilho
tinacional alemã Siemens, em 2013. Na Estação Francisco Morato, prometida para 2011, ficou para 2017; a estação provisória é insegura Isso aconteceu menos de uma semana depois
lista, inclui a francesa Alstom, a cana- de três outros funcionários serem mortos entre
que ligará a cidade de São Paulo a São Bernardo do Campo, passando
dense Bombardier e a japonesa Mitsui. Na época, o promotor Marcelo Milani em 2007 e 2008, durante a gestão Ser- as estações Belém e Tatuapé da linha 11-Coral. por Santo André e São Caetano. Também serão repassados, a fundo per-
E a formação de cartel para celebração disse acreditar em irregularidades nos ra. Entre eles, o executivo da CAF, José Dias depois, o governador Alckmin extinguiu a dido, R$ 1,3 bilhão do Orçamento da União para três projetos: a cons-
de contratos até 30% acima do valor, novos contratos, que poderiam ter sido Manuel Uribe e o ex-presidente da co- 3ª Delegacia de Polícia de Investigações sobre trução da Linha 13–Jade, duas novas estações na linha 9 e a reforma de
conforme estimativa do Ministério Pú- evitadas se o MP tivesse levado adiante missão de licitações da CPTM, Reynal- Infrações contra o Meio Ambiente, o Meio Am- 18 estações. A lista de obras é longa.
blico (MP) de São Paulo. as investigações em 1997, quando as au- do Rangel Dinamarco. Outras empresas biente do Trabalho e as Relações do Trabalho.
toridades da Suíça já verificavam paga- com diretores denunciados foram as ha- Vinculada ao Departamento de Polícia de Pro-
Atrasos – Os usuários deverão continuar se apertando por muito mais
mento de propinas. bituais Alstom, Bombardier e Tejofran. teção à Cidadania (DPPC), o órgão investiga- tempo. As razões dos atrasos vão de obras paralisadas pelo Tribunal de
As denúncias abrangem va as causas do acidente. Oficialmente, foi ex- Contas por irregularidades em editais, em licitações e em contratos, à
Indiciamento tinta para otimização dos recursos humanos e falta de recursos.
integrantes dos governos Ainda em dezembro, a Polícia Federal No inquérito, os promotores materiais. Extensão Linha 9 até Varginha – Orçada em R$ 727 milhões, a
indiciou 33 executivos. Entre eles, um Comparada ao Metrô, a linha 9-Esmeralda
Mário Covas, Geraldo ex-presidente da CAF, Agenor Marinho pedem ressarcimento ao estado margeia o Rio Pinheiros, cortando bairros nobres
obra que inclui a estação Mendes foi prometida para 2014. Ainda em fa-
se de desapropriação dos terrenos, tem novo cronograma para 2016,
Alckmin e José Serra, além Contente Filho, e um ex-presidente da de R$ 418 milhões e a dissolução da zona sul. Liga Osasco ao bairro do Grajaú, na
com recursos do PAC.
CPTM, Mário Bandeira, cujo nome cir- zona sul. Recebeu investimentos, estações e trens
de diretores de 18 empresas cula entre trabalhadores da companhia de dez empresas envolvidas novos entre 1998 e 2000, entre os quais os famo- Linha 13-Jade – Ligação de São Paulo ao aeroporto de Guarulhos,
como o “cunhado de Alckmin”, além de sos espanhóis doados pela Renfe mediante con- com 12,2 quilômetros de extensão, ao custo de R$ 1,8 bilhão, deverá
do setor metroferroviário quatro diretores. Bandeira foi defendi- trato de reforma assinado por Covas, no valor de Linha 7 –Rubi: Inaugurada em 1867, passou à E.F. Santos a Jundiaí e à Rede Ferroviária Federal.
do, elogiado e mantido no cargo pelo su- R$ 93,2 milhões, sem licitação. As panes, porém, Trens velhos superlotados, problemas de sinalização e fornecimento de energia. transportar 130 mil passageiros por ano. Prometida para 2014, não deve
posto cunhado até o final de fevereiro. A CAF tem outra ligação com a CPTM. são frequentes. Em fevereiro de 2011, um trem sair antes do final de 2017. Alckmin alega que faltam repasses federais,
A lista inclui o ex-diretor de opera- O mesmo Agenor Marinho Contente Fi-
Linha 8 –Diamante: Criada em 1875 como Companhia Sorocabana, foi estatizada em 1919 e em 1971 mas o projeto original não previa recursos da União.
descarrilou próximo à estação Ceasa.
Os contratos de manutenção preven- ções e manutenção, José Luiz Lavoren- lho está vinculado à CTrens – Compa- Partindo do Brás até Rio Grande da Serra, cor- tornou-se Fepasa. Carece de reformas. A manutenção dos trens piorou com a terceirização desses servi-
ços. Modernização de estações – Em 2007, o então governador José Ser-
tiva e corretiva com a CPTM são alvo te, o diretor de engenharia e obras, Ade- nhia de Manutenção. A empresa não tando São Caetano, Santo André, Mauá e Ribei- ra (PSDB) prometeu modernizar 63 estações ao custo de R$ 2,5 bilhões
de diversos inquéritos do MP paulista. mir Venâncio de Araújo (que teria 1,2 mantém sequer um site para divulgar rão Pires, municípios da região do ABC, a Linha Linha 9 – Esmeralda: Entre 1998 e 2000 ganhou estações e trens novos. Superlotada, a linha mais
Um deles, concluído em dezembro, exa- milhão de dólares em cinco contas na suas atividades. Porém, segundo o Sin- 10 é outra com vagões velhos e estações malcon-
no prazo de quatro anos. O prazo terminou em 2011, mas apenas 15 es-
bonita carece de subestação elétrica e tem gargalos nas integrações Pinheiros e Largo 13. tações (23% do prometido) foram modernizadas.
minou acordos assinados entre 2001 e Suíça), o diretor de operações da estatal dicato dos Empregados em Empresas servadas. A de Rio Grande da Serra tem passare-
2002 para manutenção de composições nas gestões Covas e Alckmin, João Ro- Ferroviárias da Zona Sorocabana (Sin- la apoiada em uma estrutura metálica instalada Linha 10 –Turquesa: Com a mesma origem da Linha 7, tem trens antigos, superlotados, panes elétri- Trens regionais – São Paulo a Sorocaba – Anunciado em 2013
com Alstom, Adtranz, CAF e Siemens – berto Zaniboni (que teria lá 826 mil dó- fer), a CTrens faz manutenção de com- emergencialmente. O telhado da única platafor- cas e de sinalização. Como nas demais linhas, os trilhos irregulares precisam de reforma. e previsto para funcionar em 2017, não tem data para sair do papel. O
todas empresas com diversos acordos lares), e Antonio Kanji Hoshikawa, di- posições das linhas 8 e 9 em um pátio da ma em operação tem péssimas condições, assim projeto prevê investimento de R$ 4 bilhões, com a construção de trilhos
ainda em vigor com o governo de São retor administrativo na gestão Alckmin estatal na estação Presidente Altino, em como os banheiros. A Linha 11- Coral tem dois Linha 11 – Coral: Criada em 1875 para ligar São Paulo e Rio, tornou-se E.F. Central do Brasil em 1889.
Paulo. (2003-2006). Osasco, na Grande São Paulo. “Não se trechos. Um que vai do Brás à estação Estudan- Superlotada, necessita de novas estações e de sistemas de controle e sinalização. e estações em Sorocaba e São Roque.
No inquérito, os promotores pedem Em abril, foi o Grupo Especial de De- sabe ao certo como é feito o trabalho de tes, em Mogi das Cruzes, e outro que sai da Luz Trem Intercidades – Litoral-Interior – Em dezembro de 2013,
ressarcimento ao estado de R$ 418 mi- litos Econômicos (Gedec), do MP pau- manutenção. Eles não permitem a entra- e vai até Itaquera – o Expresso Leste, com me- Linha 12 – Safira: Construída em 1932 pela Central do Brasil, tem estações antigas, em péssimo estado
sem detalhar o projeto, Alckmin anunciou um trem ligando São Paulo,
lhões e a dissolução de dez empresas lista, que denunciou à Justiça direto- da de gente do sindicato lá”, diz o diretor nos paradas. Antes de receber trens novos para a de conservação, composições superlotadas e problemas elétricos e na sinalização.
Santos, Jundiaí, Sorocaba, Campinas e São José dos Campos. A primeira
envolvidas. A matriz espanhola da CAF res de 12 empresas por participação em do Sinfer, Evângelos Loucas, o Grego. A Copa, a linha sofreu uma pane em 2008, deixan- Expresso Leste: Complementar à linha 11-Coral, para somente nas estações Brás, Tatuapé e Guaiana- etapa começaria por Campinas. A ideia está parada no Conselho Gestor
ficou de fora do pedido de dissolução, esquema de contratos de fornecimen- CPTM não atendeu às solicitações de en- do 60 mil pessoas sem transporte. Os passagei- ses. Seus trens são os mais lotados de toda a rede. (CO) (Revista do Brasil) das Parcerias Público-Privadas. (CO) (Revista do Brasil)
mas foi incluída no de ressarcimento. to de trens e de manutenção assinados trevista. (CO) (Revista do Brasil) ros apedrejaram o trem. (CO) (Revista do Brasil)
12 de 27 de agosto a 2 de setembro de 2015 cultura
Terezinha Vicente
www.malvados.com. br dahmer
PALAVRAS CRUZADAS
Horizontais: 1. Ilusão perdida, desapontamento – Repulsa ou preconceito con-
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Fato completou doze anos. 9. Morada – Coloca – Aquilo que tem qualidades
6
positivas. 10. Extraterrestre – Está (informal). 11. Trabalho acadêmico entregue
ao final do curso – Processo necessário para que ocorra a redistribuição de ter- 7
ras no Brasil.
8
Verticais: 1. Saldo negativo – Movimento camponês que luta pela reforma
agrária. 2. Curso natural de água. 4. Pronome possessivo – Magneto. 5. O “?” 9
para o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural. 10. Dentro, em inglês – “?”
Chomsky, renomado linguista estadunidense. 11. Saudação – Assinatura de to-
mada de conhecimento. 12. Ex-primeira-dama do Brasil – Sexta nota musical. Botar. 17. Pico. 18. Alto – Trompa.
PE – IPTR. 10. IN – Noam. 11. Ciente. 12. Marisa – LA. 13. Dez. 14. Penca. 15. Ema – Ai – PA. 16.
13. Número da camisa de Pelé. 14. Grande quantidade. 15. Ave parecida com Verticais: 1. Déficit – MST. 2. Rio. 4. Meu– Ímã 5. Pó–On – DER. 6. Ler – Apite. 7. AC – PR. 9.
avestruz – Interjeição de dor – Sigla para o estado do Pará. 16. Pôr. 17. Cume
– Reforma Agrária.
6. Ipea – PT. 7. Treinar – DNA – Ir. 8. Vinte e cinco. 9. Moradia – Põe – Bom. 10. ET – Ta. 11. TCC
agudo de monte. 18. Elevado – Espécie de trombeta. Horizontais: 1.Decepção – Homofobia. 2. Ia. 3. Pi – CET. 4. Independência – Mato. 5. Is – Par.
cultura de 27 de agosto a 2 de setembro de 2015 13
Inventário da Argentina
O Brasil de Fato participou de con-
corrida coletiva que ele concedeu à im-
prensa no reduzido período que passou
em solo brasileiro. Tinha compromissos
parlamentares em Buenos Aires. Sola-
nas estava acompanhado da mulher, a
atriz brasileira Ângela Corrêa, protago- gitais, foi para as ruas documentar a re- mantelamento de 80% de suas estradas
nista da série “Escrava Anastácia”, da de Gramado (RS) belião popular. Todo o material recolhi- de ferro, deixando pequenos povoados
TV Manchete, que trabalhou com ele do deu origem ao primeiro dos dez lon- no mais completo isolamento, fato que
em “A Viagem” e “A Nuvem”. Eles estão Fernando Solanas realizou cinco gas-metragens que compõem rico in- provocou forte leva de migração para
casados há 23 anos. longas ficcionais: “Los Hijos de Fier- ventário da Argentina Contemporânea as grandes cidades”.
Ao agradecer o Kikito de Cristal, So- ro” (1972), “Tangos, O Exílio de Gar- – “Memorias del Saqueo” (Memórias do O diretor dedicou, em seguida, dois fil-
lanas contou que “gosta tanto do Bra- del” (1985, o mais festejado e premia- Saque, 2004). mes ao “ouro” argentino: as jazidas au-
sil e de cineastas como Nélson Pereira do), “Sur” (1988), “A Viagem” (1992, Para o crítico e professor da USP, Je- ríferas existentes nas cordilheiras do no-
dos Santos e dos saudosos Glauber Ro- co-produção com o Brasil, o filme te- an-Claude Bernardet, com este filme, roeste do país, e o petróleo. “Tierra Su-
cha, Leon Hirzman e Joaquim Pedro de ve a Amazônia como uma de suas loca- Solanas enfrenta dois dos três tabus que blevada – Oro Impuro” (2009) registrou
Andrade”, que “escolheu uma brasileira ções), e “A Nuvem” (1998). Nos anos costumam amedrontar (e até silenciar) “a entrega, na terrível década de 1990, de
como esposa”. Quando o cineasta candi- 2000, dividido entre a política parti- os documentaristas brasileiros: o poder nossas maiores jazidas de ouro às trans-
datou-se à presidência da Argentina, pe- dária e o cinema, não conseguiu mais financeiro (os bancos à frente) e a mí- nacionais, efetivada pelo Governo de
la Frente Sur, o país – que praticamente viabilizar seus projetos ficcionais. Con- dia (os meios de comunicação, em espe- Carlos Menem”.
dizimou sua população de origem afri- tribuiu, também, para seu afastamen- cial as redes de TV). O terceiro tabu é o “Tierra Sublevada – Oro Negro” tratou
cana – poderia ter ganho bela e exube- to das estórias inventadas, a morte de imenso poder das Forças Armadas. da privatização da YPF, a “Petrobras” ar-
rante primeira-dama negra. Mas Sola- seu empenhado produtor, o argenti- Depois de “Memorias del Saqueo”, gentina, e da Empresa de Gás do Estado,
nas não foi o escolhido. Já para o Par- no de origem libanesa, Envar El-Kadri lançado comercialmente no Brasil, So- “seguindo plano desenhado pelo FMI e
lamento, foi eleito, primeiro deputado, (1941-1998). lanas realizou “La Dignidad de los Na- pelo Banco Mundial”.
e agora cumpre mandato legislativo co- Solanas guardou seus roteiros ficcio- dies” (2005), que define como “um con- O filme mais recente da série – “La
mo senador. nais e mergulhou fundo no cinema do- traponto aos tempos do saque”. Ou se- Guerra del Fracking” (2013) – analisa
Perón entrou na vida cinematográfica cumental. Para tanto, um acontecimen- ja, um filme que mostra como os “joão- o impacto social e ambiental de méto-
do jovem Solanas, em 1968, quando ele to brutal na história argentina foi deci- -ninguém” se organizaram para “en- dos como o fracking (fraturamento hi-
e Octávio Getino, ambos integrantes do sivo. Em dezembro de 2001, a crise fi- frentar a crise comandada pelos digna- dráulico), usado para obter petróleo por
coletivo Cine Liberación, dirigiram épico nanceira derrubou o presidente Fer- tários neo-liberais”. Reuniu “dez como- vias não-convencionais. O cineasta-se-
documental que fez história: “La Hora de nando de la Rua. Assumiu em seu lu- ventes histórias de solidariedade, pe- nador vê com reservas este “modelo ex-
los Hornos: Notas y Testemonios Sobre gar o então presidente do Senado, Ra- quenas vitórias cotidianas, construídas trativista”, criticado com veemência por
el Colonialismo, la Violencia y la Libe- mon Puerta (que permaneceu no car- na hora mais difícil”. O filme seguinte – grupos ambientalistas e comunidades
ración”. Ou simplesmente, “A Hora dos go apenas 48 horas). O Congresso ele- “Argentina Latente” (2007) – também originárias. Vê, também, como temerá-
Fornos”, hoje um clássico. Tanto que fi- geu então, Adolfo Rodriguez Saá (mas teve caráter positivo. O cineasta des- ria a cessão da exploração dos hidrocar-
gura na lista “50 maiores documentários ele governou por apenas sete dias). As tacou o papel das universidades e dos bonetos não-convencionais à transna-
de todos o tempos” elaborada pelo BFI duas casas que compõem o Parlamen- cientistas na construção do país, mes- cional Chevron.
(Instituto Britânico de Cinema) e revis- to escolheram, por fim, Eduardo Duhal- mo em tempos de poucos recursos e de Depois que lançar “O Legado” (de Pe-
ta Sigth & Sound. de, que fez um governo de transição. Só muitas privatizações. rón), Fernando Solanas retomará esta
Quem enfrentou as empolgantes e ar- em março de 2003, o país elegeria, pe- série, ou inventário da Argentina con-
regimentadoras quatro horas de dura- lo voto direto, o novo presidente, Nestor Tragédia social temporânea, que ele intitulou “Crónicas
ção de “La Hora de los Hornos” sabe o Kirchner (1950-2010), que tomaria pos- Com “La Proxima Estación” (2008), de la Causa Sur”. Dois já estão com tema
quanto o peronismo é essencial à sua se em 25 de maio de 2003 e completa- Solanas radiografou “a tragédia social definido e em processo de criação e mon-
narrativa. O cineasta Eduardo Couti- ria seu mandato em dezembro de 2007. provocada pela privatização da ma- tagem. Um sobre o “Ouro Verde”, que
nho (1933 -2014), aliás, definia o épico Solanas viveu de perto os meses do lha ferroviária” de seu país. No come- abordará a questão dos alimentos trans-
de Solanas & Getino como “o mais pero- grande tumulto, aqueles em que a Ar- ço dos anos de 1990, com a promessa gênicos, e outro sobre as “Economias Re-
nista dos filmes”. gentina teve quatro presidentes interi- de que o sistema “ferrocarril” seria mo- gionais” (a Argentina vista de suas pro-
O novo longa de Solanas, “O Legado”, nos. Graças aos leves equipamentos di- dernizado, a Argentina assistiu “ao des- víncias). (MRC)
recupera trechos de dilatadas conver-
sas mantidas pelo cineasta e seus cole-
gas do Coletivo Cine Liberación com Ju-
an Domingo Perón durante seu exílio
madrilenho. As conversas, gravadas em
1971, já haviam rendido dois longas do-
cumentais: “Perón: Actualización Políti-
ca y Doctrinaria para la Toma del Poder”
Tango, Gardel e Ástor Piazzola
e “Perón: la Revolución Justicialista”. Divulgação
“O Legado” já está concluído, mas só
será lançado ano que vem. “Estamos de Gramado (RS)
em ano eleitoral na Argentina [as elei-
ções do substituto de Cristina Kirchner Se “La Hora de los Hornos” é o docu-
acontecem em outubro]” – pondera o mentário mais famoso de Fernando So-
cineasta-senador – “e não acho ade- lanas, no terreno da ficção sua obra má-
quado lançá-lo agora. O faremos ano xima é o filmusical “Tangos, o Exílio de
que vem”. Solanas se opõe, à esquer- Gardel”, fruto de parceria entre Argenti-
da, ao governo de Cristina. O novo fil- na e França.
me é dedicado à memória de integran- Exibido no Festival de Veneza, que
tes do Grupo Cine Liberación: Gerardo lhe atribuiu o Prêmio Especial do Jú-
Vallejo (1942 – 2007) e Octavio Geti- ri, o filme foi vendido para dezenas de
no (1935-2012), cineasta e pensador do mercados e motivou críticas entusias-
“Tercer Cine”. madas na Europa e América Latina. Pa-
O “Terceiro Cinema”, defendido pelo ra o respeitado crítico italiano Tulio Ke-
grupo naqueles anos rebeldes (e até ho- zich, “com este longa-metragem, Sola-
je, por Solanas) prega “caminho que in- nas inventou a ‘tanguédia’, ousada mis-
vista no poético, nas histórias abertas, tura de tango, tragédia e comédia”, e Cena do filme “Tangos, o Exílio de Gardel”
na recusa do cinema industrial com su- gerou “o mais belo musical de todos os
as tramas prontas, com suas trucagens tempos”. Quando foi mostrado no Fes- Composta de atos, a peça dentro do fil- pletam – “Tangos, o Exílio de Gardel”
e feitos especiais”. E mais: “rejeitamos tival do Novo Cinema Latino-America- me soma números de dança, música e a e “Sur”. “O primeiro, ambientado em
os filmes nos quais há personagens só no de Havana, o impacto foi imenso. dor do exílio. A trilha sonora Piazzolla Paris” – relembrou – “é um filme so-
bons, ou só maus”, pois estamos cansa- “O Exílio de Gardel” foi laureado com (1921-1992), com contribuições de Cas- bre o exílio visto de fora”. Já o segun-
dos “de personagens justiceiros, de nar- o Grande Coral Negro (o prêmio máxi- tiñera de Diós e do próprio Solanas, é do, “é um filme sobre o exílio interior,
rativas que no início apresentam o pro- mo, dividido com o também formidável realmente arrebatadora. o sentir-se deslocado em seu próprio
tagonista e o antagonista para jogar o “Frida, Natureza Viva,” de Paul Leduc). país”. Uma característica de Sur – “os
espectador numa montanha russa de E sua trilha sonora, comandada por Ás- Sonho números de tango são cantados no meio
emoções previsíveis. Este tipo de cine- tor Piazzolla, além de conquistar o Prê- O cineasta contou, em Gramado, que da rua, algo totalmente inusual” – cau-
ma não permite ao receptor um minuto mio Coral, recebeu elogios unânimes. seu sonho era ser músico. Estudou mú- sou controvérsia entre os tradicionalis-
sequer de reflexão”. O cinema com tais O argentino Carlos Gardel (1890- sica seriamente e preparou-se para ser tas. Eles haviam questionado também
características, do qual Hollywood é a 1935) nunca viveu no exílio. Mas no fil- compositor. O cinema, porém, assumiu o “exílio” irreal de Gardel. Solanas sabe
matriz, constitui o Primeiro Cine. O se- me de Solanas, tomado por intencional o primeiro plano e a música tornou-se que os aferrados a tradições não enten-
gundo, ao qual também se opunha a tur- e onírica liberdade poética, um grupo atividade esporádica. Dele, Caetano Ve- dem a transgressão dos sonhos. Já “A
ma do Cine Liberación, seria o cinema de exilados argentinos resolve montar, loso gravou, no belo CD “Fina Estam- Viagem”, um road-movie latino-ame-
da Europa. Para Solanas, “os europeus na Paris que os abriga, peça que, além pa”, a canção “Vuelvo al Sur” (melodia ricano, filmado em diversos países, da
são muito mais cartesianos que nós e, de denunciar a ditadura, contribua com de Piazzolla, letra de Solanas). Patagônia até a América Central, pas-
por isto, não entendem nossas liberda- sua subsistência cotidiana. Afinal, nem Para somar cinema e música, o cine- sando pelo Brasil, “tem muita música,
des poéticas, nossos sonhos e delírios”. sempre é fácil viver longe do país natal. asta realizou dois filmes que se com- mas não é um musical”. (MRC)
14 de 27 de agosto a 2 de setembro de 2015 américa latina
ESPECIAL
Camponeses das
“Rondas”, vigias das
comunidades protegidos
pela legislação,
enfrentam processos e
prisões ao se opor aos
projetos de infraestrutura
nos Andes peruanos
Verónica Goyzueta
de Celendín (Peru)
Crimes e castigos
alvo de cem denúncias e 12 ações judi- e outros “ronderos” é por roubo e seques-
ciais movidas contra ele. “Estes senho- tro – eles admitem que confiscam “pre-
res nos trouxeram a perseguição”, ele sentes” dados aos membros da comuni-
diz, referindo-se às construtoras e às dade e detêm funcionários da Odebrecht
mineradoras que movem os processos e de mineradoras que invadem suas ter-
contra ele. ras para interrogatórios. ma ao outro.
O governo peruano não respondeu ain- “A Odebrecht está fazendo a mesma de Celendín (Peru) Algumas ações das Rondas, típicas da
da à solicitação da CIDH, apesar da pro- coisa que Yanacocha [mineradora peru- cultura andina, contra corruptos, mulhe-
messa feita durante sua campanha elei- ano-estadunidense] fez no passado. Eles Para Zulma Villa, porém, a oposição res e homens infiéis, tiveram má reper-
toral em 2011: proteger a agricultura, a estão organizando Rondas paralelas com dos ronderos às obras de infraestrutu- cussão na imprensa peruana. A advoga-
água e os recursos naturais contra o ou- a polícia. Eles estão nos caluniando e ten- ra em seus territórios tem claro respaldo da, porém, alerta: “Administrar justiça
ro, o abuso e a imposição. tando nos difamar. Mas a lei nos ampara. legal: os projetos não têm o necessário não é o mesmo que justiçar. Há limites.
Em vários discursos em municípios Nós somos autoridades em nosso territó- consentimento dos indígenas nem res- Mas a justiça ordinária tem que enten-
de Cajamarca, Humala repetiu a fra- rio”, reafirma. É por esse motivo, diz o lí- peitam o direito à livre determinação. De der os direitos fundamentais desde uma
se “Querem água ou ouro? Nós bebe- der, que em dezembro osronderos con- acordo com a advogada, se os ronderos perspectiva intercultural. Para nós, po-
mos água, não comemos ouro”. Depois fiscaram os produtos que os empregados interrogam um engenheiro que está co- de ser chocante entender certas práticas.
de eleito, passou a dizer: “Temos uma levavam para as comunidades depois de metendo um delito em uma área de sua Por isso, é importante a perícia de an-
posição sensata de água e ouro”, como interrogá-los e os fizeram assinar docu- jurisdição, eles são as autoridades com- tropólogos jurídicos”, adverte, lembran-
fez em um discurso já como presidente, mentos em que se comprometiam a não petentes para investigar e, portanto, es- do as milhares de vítimas do conflito ar-
em novembro de 2011. No ano seguinte, passar mais por suas terras. tão dentro da lei. mado contra o Sendero Luminoso para
quatro agricultores e uma criança mor- A reportagem questionou a Odebrecht A advogada acusa governo e empresas alertar contra os riscos de um confronto:
reram em um protesto contra a mina de sobre esse incidente específico e sobre de perseguir judicialmente os ronderos e “Nós sabemos o custo de vida que envol-
Conga, em um confronto com a polícia como a empresa protege os seus funcio- destaca que o novo código processual pe- ve isso”.
na praça de Celendín. As mortes não fo- nários. Os escritórios da empresa em Ca- nal continua a proteger as Rondas, reco- O Ministério do Interior e o gabinete
ram investigadas. jamarca, Lima e São Paulo não respon- mendando o diálogo cultural e a coorde- da Presidência no Peru não responderam
“Eles [a polícia] mataram quatro com- deram às perguntas nem aos pedidos de nação dos sistemas coexistentes de jus- aos nossos pedidos de entrevista sobre o
panheiros, e ninguém foi investiga- entrevista. (VG) (Agência Pública) tiça, e não a subordinação de um siste- assunto. (VG) (Agência Pública)
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