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Infância interditada
Reportagem especial mostra que moradias precárias nas encostas
de morro colocam crianças em situação de risco e vulnerabilidade
em Salvador (BA). Especialista alerta que se essas crianças não
tiverem acesso à políticas sociais efetivas, isso vai produzir uma
relação cíclica com a tragédia. Págs. 9, 10, 11 e 12
ISSN 1978-5134
Entrevista com o filósofo Obra de Alckmin para a seca,
Paulo Arantes Págs. 4 e 5 só em abril de 2017 Pág. 7
editorial
Muros da desolação
logo intercultural. Um desafio que ficou para ser desvelado e superado.
Só que naquela tarde não haveria discussão. Eles marchariam até o cen-
tro da cidade, ocupando as ruas com suas cores, danças e cantorias. Flo-
rianópolis, tão acostumada a presença silenciosa dos Guarani, haveria de
conhecer a garra Tuxá, o grito Xavante, Pataxó, Pancararu. E assim foi.
NESSES DIAS, o mundo recor-
dou a unificação da Alemanha,
Lembremo-nos quando seus pais tentavam entrar
na Europa. Mas, poucos dias de-
Saindo da UFSC, a coluna indígena foi passando pelos caminhos, incen-
diando a cidade. As janelas se abriam e caras admiradas surgiam, bocas
quando no dia 3 de outubro de
1990, durante uma noite, milha-
de que, de um pois da morte de Aylan, calculam-
-se em, ao menos, 250 pessoas
abertas. O que era aquilo?
Cantando e dançando os estudantes iam mostrando a beleza de su-
res de pessoas derrubaram, com
as próprias mãos, o muro de Ber-
modo ou de outro, entregues à morte no Mediterrâ-
neo para não aportarem nas cos-
as culturas. Quando chegaram ao túnel que leva ao centro, eles tomaram
conta de todas as pistas e, por alguns minutos, bailaram em círculos, com
lim. Além de dividir uma cidade todos somos filhos tas europeias. gritos e passos cadenciados. Era a expressão da alegria, o encontro sagra-
em duas, aquele muro construído Embora alguns bispos e carde- do com as raízes, a apoteose da cultura.
no início dos anos 1960, simbo- de migrantes e ais tenham se pronunciado para
lizava a chamada “cortina de fer- que a Europa só acolha migran-
ro” entre a Europa Ocidental e o refugiados tes cristãos, o papa apelou para As armas ainda estão apontadas para os
Bloco de Leste. O muro de Ber- que todas as dioceses, paróquias e
lim tinha 66,5 km de grade me-
tálica, 302 torres de observação,
conventos abram suas portas pa-
ra acolher o maior número possí-
índios. Mas, a diferença é que agora, eles
127 redes eletrificadas dotadas
de alarme e 255 pistas de corrida
ses africanos. Roubaram da Áfri-
ca tudo o que podiam e condena-
vel de migrantes e refugiados. A
Bíblia lembra aos antigos israeli-
não têm medo algum
para ferozes cães de guarda. As ram os africanos à fome e à misé- tas: “Lembra-te que foste migran-
estatísticas oficiais falam em cen- ria. Agora, aos sobreviventes que te e refugiado no Egito. Portanto,
tenas de pessoas mortas e milha- fogem da morte, negam a última trata bem o estrangeiro que mo- Seguiram caminho até o centro, percorrendo mais de 20 quilômetros e
res aprisionadas na tentativa de esperança de vida. Nos anos mais ra em teu meio”. E, para mostrar lá, no meio do Mercado Público gurmetizado, ocupado agora apenas por
transpor aquele muro. recentes, os mesmos governos da que Jesus retoma a vocação e o turistas e riquinhos, de novo entoaram seus cantos, no bailado xamânico.
Agora, a Alemanha celebrou o Europa, junto com o dos Estados destino de Israel, o evangelho de As pessoas paravam, admiradas e estupefatas. E os Tuxá puxavam seus
aniversário de 25 anos da queda Unidos, armaram os rebeldes da Mateus conta que, assim que Je- cantos caboclos, evocando os deuses das florestas e dos igarapés. Momen-
do muro de Berlim, levantando Síria e tornaram esse país um in- sus nasceu, José, seu pai, teve de to mágico.
um novo muro em suas frontei- ferno vivo. Agora estranham que fugir com a família para o Egito O próximo passo era o mais esperado. Sob a ponte que liga a ilha ao
ras para deter a onda de migran- os sobreviventes de uma guerra afim de escapar da perseguição do continente, desde há anos se mostra, arrogante, o colonizador. Uma está-
tes que tentam entrar na Euro- mortífera batam às suas portas. rei Herodes. tua erguida para homenagear aquele que, conforme dizem os não-índios,
pa. Não era mais necessário um Na Idade Média se erguiam Quando nenhum muro puder “fundou” a cidade: Francisco Dias Velho. Em pé, nariz empinado, segu-
muro de tijolos e concretos e sim muros em torno das cidades. Ago- mais conter os direitos humanos rando o mosquete, o bandeirante matador de índios, que comandou caça-
uma muralha de desamor, pre- ra, são países que constroem mu- de quem procura sobreviver e as das por todo o Sudeste antes de chegar à ilha, olha para o centro da capi-
conceito e discriminação. No mo- ros para se proteger de migran- fronteiras da Europa se mostra- tal e dá nome ao elevado que corta a beira do mar.
mento atual, os migrantes ser- tes. Na fronteira dos Estados Uni- rem insuficientes para acolher as Numa correria louca, os estudantes atravessaram a perigosa autoestra-
vem para que os governantes de dos com o México, um muro alto novas migrações, lembremo-nos da no rumo da estátua. Burlando a polícia que acompanhava a caminha-
uma Europa em crise mortal des- percorre 300 km de extensão. Em de que, de um modo ou de outro, da eles assomaram, gritando como se fossem para a guerra. Num átimo,
viem a atenção de seus eleitores sua sombra, abundam cadáveres todos somos filhos de migrantes e sem que os policiais esboçassem reação eles já estavam ao pé da estátua.
para que não percebam os fracas- de latino-americanos, eletrocuta- refugiados. Somos todos filhos de Dois deles subiram no pedestal e a enrolaram numa faixa, na qual esta-
sos da política econômica oficial dos ao tentarem atravessar o mu- uma única humanidade e, como va escrito: Demarcação. Depois, afixaram cartazes com apoio aos paren-
e da falta de perspectivas. Esses ro, ou abatidos pelos guardas do irmãos e irmãs, cidadãos do pla- tes Guarani Kaiowá.
governantes fazem dos migrantes Império. Um muro imenso sepa- neta Terra, a nossa casa comum. Falas de repúdio ecoaram frente a estátua do assassino que havia varri-
o inimigo externo do qual preci- ra o Estado de Israel dos territó- Os cristãos são discípulos e discí- do do litoral a presença Guarani. “Homens como Dias Velho ainda estão
savam para fugir do julgamento rios palestinos ainda não ocupa- pulas de Jesus de quem São Pau- por aí, com suas armas na mão, matando índio. O massacre de nossa gen-
coletivo. E jogam nos migrantes dos. Outros muros dividem a Ín- lo afirmou: “Ele derrubou os mu- te continua. Não é possível que continuem fazendo homenagens aos es-
a culpa do desemprego e da de- dia do Paquistão. ros de inimizade que separavam cravistas assassinos.” E, em volta da figura do matador, eles dançaram e
cadência da sociedade europeia, Mais violentos ainda do que os os povos” (Ef 2, 13 ss). fizeram pajelanças. Nenhum passo atrás, a luta vai prosseguir.
provocada pelo veneno do que o muros de concreto são os do mer- Dois dias depois, quando todos já tinham partido da cidade para su-
papa Francisco tem chamado “a cado elitista que excluem milhões Marcelo Barros é monge as regiões, passei pela ponte e, surpresa, vi a estátua ainda coberta com a
cultura da indiferença na qual o de pessoas de qualquer possibili- beneditino e teólogo. Atualmente, faixa. Ninguém se preocupara em desembrulhar. Dias Velho estava cega-
lucro é muito mais importante do dade de uma vida digna. No mun- é coordenador latino-americano da do pela palavra “demarcação” e só o mosquete aparecia. Antes, como ho-
que as pessoas”. do inteiro, pessoas se comovem Associação Ecumênica de Teólogos/ je, as armas ainda estão apontadas para os índios. Mas, a diferença é que
Durante séculos, as potências ao ver a fotografia do pequeno as do Terceiro Mundo (ASETT) e agora, eles não têm medo algum.
da Europa exploraram os terri- Aylan, a criança síria de três anos, assessora comunidades eclesiais de
tórios e as populações dos paí- morta em uma praia da Turquia, base e movimentos sociais. Elaine Tavares é jornalista.
Editor-chefe: Nilton Viana • Editores: Aldo Gama, Marcelo Netto • Repórter: Marcio Zonta• Correspondentes nacionais: Maíra Gomes (Belo Horizonte – MG),
Pedro Carrano (Curitiba – PR), Pedro Rafael Ferreira (Brasília – DF), Vivian Virissimo (Rio de Janeiro – RJ) • Correspondentes internacionais: Achille Lollo (Roma – Itália),
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Márcio Baraldi, Maringoni • Editora de Arte – Pré-Impressão: Helena Sant’Ana • Revisão: Maria Aparecida Terra • Jornalista responsável: Nilton Viana – Mtb 28.466 • Administração: Valdinei Arthur Siqueira •
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de 8 a 14 de outubro de 2015 3
O ajuste e as
prioridades
O DISCURSO OFICIAL do governo federal tem busca-
do, por todos os meios, justificar a necessidade de pro-
mover uma drástica redução das despesas públicas em
nosso país. Tal compromisso tem como único intuito
produzir um superávit primário nas contas da União.
Esse tem sido o sentido de todas as principais decisões
do governo da presidenta Dilma: obter pleno êxito na
condução do ajuste fiscal.
Trata-se de uma absorção, por parte dos responsá-
veis pela condução da política econômica, da narrativa
que vem sendo alardeada há décadas pelos represen-
tantes do sistema financeiro. A intenção é promover
uma grande contenção nas despesas da administra-
ção pública vinculadas a programas sociais e investi-
mentos. Com isso, fica assegurada a transferência ple-
na dos recursos do Estado destinados ao pagamento
de juros e serviços da dívida pública brasileira.
Assim, quando se analisa o perfil dos cortes de gas-
tos já promovidos e os novos anunciados, percebe-se
que estão quase todos concentrados nas áreas sociais
e na capacidade de gestão da máquina pública. São re-
duções de orçamento para saúde, educação, previdên-
cia, direitos trabalhistas, investimento em infraestru-
tura, gastos com pessoal e material, entre outros des-
sa natureza.
Por outro lado, as rubricas que representam os valo-
res mais expressivos do total de gastos realizados pe-
la União permanecem intactas. Isso ocorre pelo impé-
rio da lógica do “superávit primário”. Como as despesas
associadas à dimensão financeira dos gastos não estão
presentes na metodologia dessa apuração do resultado
fiscal, cria-se uma tautologia. Algo que pode ser expres-
so pelo seguinte raciocínio: “não adianta reduzir a des-
pesa com juros, pois isso não altera o cálculo do superá-
vit primário”. E ponto final!
Beto Almeida Ocorre que não faz o menor sentido tentar enfiar a
cabeça no buraco e esquecer a própria realidade do
país e da estrutura de gastos orçamentários. Todo o
Síria, Rússia, China e Irã esforço fiscal tem sido orientado no sentido de buscar
a cobertura do chamado “rombo” de R$ 30 bilhões nas
contas fiscais desse ano. Como boa parte das despe-
sas realizadas pelo governo federal são gastos consti-
A GUERRA ARTIFICIAL, lançada contra o governo na- Agora é Putin quem declara: “Não permitiremos uma tucionais obrigatórios, acaba sobrando pouca margem
cionalista e anti-imperialista da Síria há 4 anos, produz nova Líbia na Síria!”, fazendo o que Chávez pedira na- de manobra para promover tais cortes, sem que haja
inúmeras lições. A primeira é revelar o inequívoco papel quela altura. E vai mais além. Coloca na mesa de ne- comprometimento da qualidade de serviços públicos
da Rússia como um protagonista central nas ações contra gociações os mais modernos aviões de bombardeios do oferecidos à população.
o imperialismo em escala internacional. mundo, organiza uma coalização militar com China, Irã
Muito diferente do que ocorreu na hipócrita e sanguiná- e com Hezbollah, que já estão atuando concretamente
ria “guerra humanitária” da Otan contra a Líbia, demolin-
do o país que registrava os melhores indicadores sociais
no terreno. E obrigou, com bombardeios que impedem
a formação de uma zona de exclusão aérea sob coman-
Sacrifícios impostos e exigidos da
da África, desta vez, a Rússia não está parada. Naquela
época, Hugo Chávez buscou todos os meios para conven-
do da Otan, a que os EUA mudem o seu discurso e já ad-
mitam que o processo de paz na Síria passa pelo reco-
maioria da população. Benefícios
cer as forças progressistas a uma ação coordenada em
defesa da Revolução Líbia e de seu líder, Kadafi. Obteve
nhecimento do governo de Bashar al-Assad, eleito pelo
voto popular.
e facilidades oferecidas aos
apoio de Cuba, da Bolívia, do Equador, da Nicarágua, da Tem razão a presidenta Dilma quando reivindica a de- representantes do capital
África do Sul. Mas, com a Resolução da ONU firmada por mocratização do Conselho de Segurança da ONU para
Rússia e China, ficou aberta uma porta para a sua imple- combater o terrorismo, pois, como se sabe, parte dos
mentação arbitrária, como se fosse uma autorização pa- membros deste Conselho, são a fonte deste terrorismo.
ra um ataque desproporcional, com 166 dias de bombar- Aliás, como admitiu Hillary Clinton, quando disse: “Os Mas há muito espaço para “queimar gordurinhas”
deios. Chávez não logrou seu intento, e não tinha os meios EUA criaram a Al Qaeda”. Declaração gravada e difun- caso se amplie o horizonte das contas públicas que po-
militares para fazer uma barreira de contenção. dida por Telesur. dem oferecer sua contribuição para o ajuste fiscal. Se
observarmos os dados divulgados pelo próprio Banco
Central (BC), somos informados de que apenas ao lon-
Silvio Mieli go dos últimos 12 meses o governo dispendeu o equi-
valente a R$ 484 bilhões (!!!) sob a forma de transfe-
fatos em foco
da Redação
Realidade social melhorou MEC divulga resultados tuto Nacional de Estudos e Pesquisas Educa- pelos bancários foi o abano de R$2.500,00, o
em 16 regiões metropolitanas preliminares do Censo Escolar 2015 cionais Anísio Teixeira (Inep) informa que os qual não se integra ao salário, incide imposto
Levantamento inédito do Instituto de O Ministério da Educação divulgou hoje números são parciais e tendem a crescer. de renda, INSS e representa total retrocesso
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), di- (5) no Diário Oficial da União o resultado em relação aos últimos anos. Entre 2004 e
vulgado dia 5, mostra que as melhorias na preliminar do Censo Escolar de 2015. O Bancários iniciam greve nacional e 2014, os bancários conquistaram, com muita
condição de vida do brasileiro entre 2000 levantamento detalha o número de matrí- cobram proposta decente da Fenaban mobilização, 20,7% de ganho real nos salários
e 2010 estimularam sensivelmente a rea- culas iniciais na educação básica das redes Os bancários de bancos públicos e privados e 42,1% no piso.
lidade social de 16 regiões metropolitanas públicas municipal e estadual de ensino. Elas entraram em greve por tempo indetermina-
do país. O documento registra redução referem-se à creche, pré-escola, aos ensinos do, a partir do dia 6, em todo o Brasil. É a res- Dilma pede a novos ministros mais
no Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) fundamental e médio, à educação de jovens posta que os trabalhadores decidiram dar pa- aproximação com movimentos
em todas as regiões avaliadas. O estudo e adultos e educação especial. Abrange as ra a proposta desrespeitosa apresentada pela Primeiro foi a iniciativa de mais diálogo
aponta que, ao contrário do que se via uma áreas urbanas e rurais e a educação em Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), com os partidos políticos, destacada pela
década antes, em 2010 nenhuma região tempo parcial e integral. Segundo os dados na última rodada de negociação, ocorrida no presidenta Dilma Rousseff durante o anún-
figurou mais na pior classificação do IVS preliminares, incluindo escolas estaduais e dia 25 de setembro. A categoria reivindica cio da reforma ministerial, dia 1º. Na ceri-
- a de “muito alta vulnerabilidade social”. municipais de áreas urbanas e rurais estão 16% de reajuste (incluindo reposição da infla- mônia de posse dos novos ministros, dia 5, a
A pesquisa mostra Salvador como a região matriculadas na creche 1.933.445 de crian- ção mais 5,7% de aumento real), entre outras presidenta destacou a importância de, além
metropolitana que mais reduziu a mor- ças; na pré-escola, 3.636.703; no ensino fun- pautas, como o fim do assédio moral e das dos partidos e do parlamento, os titulares
talidade infantil no país. A capital baiana damental, 22.720.900; no médio, 6.770.271 e metas abusivas. Mas a Fenaban ofereceu ape- dessas pastas manterem maior contato, tam-
conseguiu diminuir o número de crianças 2.765.246 na educação presencial de jovens e nas 5,5%, o que representa perda real de 4% bém, com os movimentos sociais. O recado
mortas com até um ano de vida de 40, em adultos. Um total de 37.826.565 alunos ma- para os salários e demais verbas da categoria, de Dilma foi um sinal claro da preocupação
2000, para 16 a cada mil nascidos, em triculados no Brasil. Já na educação especial já que a inflação acumulada de agostou ficou do Executivo com a relação que passará a ter,
2010. Uma redução de 60% no período. são 718.164 matrículas. A assessoria do Insti- em 9,88% (INPC). Outra proposta rechaçada daqui por diante, com essas entidades.
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“Estamos descobrindo agora que a sociedade brasileira é horrenda” Marcelo Sant Anna/Fotos Públicas Fernando Frazão/ABr
ENTREVISTA Para o
filósofo Paulo Arantes,
professor da Universidade
de São Paulo (USP), é
uma coisa desesperadora
para nós, nós somos a
esquerda e uma parte
da elite branca brasileira
que governa esse país,
e que governa de forma
truculenta também
Cátia Guimarães
do Rio de Janeiro (RJ)
que um partido como o PT é elite sim, Não. A menos que o fascismo seja si- na nossa cabeça, porque achamos que litar, é a favor do serviço público. e pega os moleques porque eles têm um pode fazer nada.
elite de governo, com quadros consi- nônimo de violência de extrema-direi- basta ser proletário para estar na van- perfil vulnerável. E se a polícia não pe- Tem ainda um terceiro elemento que
deráveis, como também foram os tuca- ta, racismo ou antissemitismo, boçali- guarda de uma trincheira da revolução ga os moleques, entram os caras com operacionaliza tudo isso. Para nós, aqui
nos. O auge disso se deu em 2010, com dade, eu acho que não faz o menor sen- social. Isso é fantasia de esquerda. Nós “Nós não estamos decifrando direito um pedaço de pau ou simplesmente ar- em São Paulo, para os meus amigos do
a imagem de que nós vivíamos numa tido. A menos que seja para xingar a ex- sabemos que na Rússia czarista do sé- mados com músculos de academia e fa- MPL [Movimento Passe Livre], a pri-
sociedade pacificada num sentido ma- trema-direita de fascista, antissemita. culo 19, quando chegavam os narodni- as demandas dessa nova direita zem aquilo que a gente sabe que eles fa- meira coisa que a gente nota é o seguin-
cro, mesmo que lá no chão social conti- Mesmo na ditadura não fazia sentido. A ks tentando convencer os mujiques so- zem. O que a gente vê? Temos a secreta- te: veja como é importante a questão do
nuasse a violência de sempre dos agen- nossa ditadura não foi fascista, foi de- bre a causa da emancipação e da revo-
conservadora que, ao mesmo tempo que ria de segurança pública, o governo do transporte público. Nós não estamos fa-
tes do Estado, mas sempre monitorada, senvolvimentista. Autoritária e desen- lução social, a primeira providência dos quer que mate gente que vem da periferia estado ou prefeitura, mais a secretaria lando no vazio. Como é que a polícia e
denunciada pelas ONGs e secretarias de volvimentista: ela matava quem tinha mujiques era chamar a polícia e mandar de desenvolvimento social, mais o freio a secretaria de desenvolvimento social
direitos humanos, o que já era um pro- que matar, era uma matança seletiva. O matar os caras, bater de pau e expulsar fazer arrastão e sonha com o governo do judiciário que, pela defensoria, por definem a vulnerabilidade? É vulnerá-
gresso considerável. Nós achávamos fascismo é um movimento de mobiliza- das aldeias. O segredo do lulismo está exemplo, diz que não se pode apreen- vel aquele jovem com uma característi-
que haveria um modus vivendi entre o ção de massa. Ele mobiliza a ralé, mobi- no fato de que ele conseguiu ganhar o militar, é a favor do serviço público” der uma pessoa suspeita só porque ela ca biofísica marcante que não tem o di-
socialmente avançado e administrado e liza o lumpen e mobiliza, sobretudo, a voto dos pobres, daqueles que alguns tem aspecto vulnerável. Assim, volta- nheiro para pagar a tarifa do transpor-
a barbaridade ancestral de um país bru- classe operária. É duro dizer isso. Mas chamam de subproletariado, que eles mos ao ponto de partida dessa conver- te. A tarifa é o fundamental para a des-
talmente desigual como o Brasil. Isso, se nós pensarmos historicamente, ve- não têm condições políticas sociais de sa: nós temos uma administração de criminação das populações administra-
de repente, saiu de cena, de repente im- remos que a grande maioria do fascis- vender a sua força de trabalho de acor- No caso do Rio de Janeiro, vemos populações, uma administração do po- das. [O governo] diminui ou muda o iti-
plodiu e ninguém encontrou uma expli- mo italiano e alemão era a classe tra- do com os padrões vigentes no mercado duas ações bem complementares. vo em que se admite que, tanto do la- nerário dos ônibus que vão da zona nor-
cação razoável até agora. No meu pon- balhadora. Um ingrediente fundamen- e, portanto, estão fora do jogo da luta Indivíduos da sociedade civil se do do Estado quanto do lado da socie- te até a zona sul. O transporte público
to de vista tornou-se explícito em junho tal do fascismo é uma classe trabalha- de classes enquanto conflito distributi- organizam para “fazer justiça”, dade civil organizada, exista uma conti- e a tarifa fazem parte desse projeto de
de 2013, quando saíram duas coisas dora desmoralizada, no caso alemão, vo. O lulismo foi uma virada, foi o pri- com um discurso de que o Estado nuidade. Você vê o envolvimento gemi- gestão, que vai desde o menor assisti-
inesperadas que nós não conhecíamos por uma derrota militar e pelo desem- meiro momento em que eles consegui- não os protege, e o Estado, nado de secretaria do desenvolvimento do, do vulnerável que é acompanhado e
no Brasil. Uma foi uma espécie de re- prego. Você tem milhões de proletários ram o voto dessa maioria de trabalha- por outro lado, legitima uma social e segurança pública: uma gestão monitorado, até o extermínio. (Escola
volta popular espontânea com a meni- desmoralizados e, portanto, ressenti- dores pobres desorganizados — no sen- segregação ilegal, como as ações da vida social, que tem um lado do de- Politécnica de Saúde Joaquim Venân-
nada do MPL [Movimento Passe Livre], dos – e ressentidos contra o capital. E tido de que não estão nos sindicatos — O filósofo e professor Paulo Arantes de revistar apenas os ônibus senvolvimento social e um lado arma- cio – EPSJV/Fiocruz)
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Reprodução
Educação pública,
ditadura e neoliberalismo
OPINIÃO Reflexão sobre de modernidade, progresso e identidade “bem” contra toda gente do “mal”. Or- Sem tempo, empregamos o ritmo do
nacional atrelada ao trabalho. Os traba- ganizava-se assim uma moral conserva- capital contra o trabalho. É necessário
alguns pontos relativos lhadores-educandos deveriam ser educa- dora enraizada nos corpos dos trabalha- desacelerar, reaprender a construir, em
dos para a centralidade do emprego téc- dores que não viveram os exílios e nas plena era de aceleração do tempo histó-
ao papel da escola na nico, o consumo e a ideologia dominante futuras gerações que por primeira vez, rico e precarização das condições de tra-
construção da hegemonia viabilizados desde as ideias dominantes anos de 1970/1980, tinham acesso à es- balho. Tempos piores virão cuja necessi-
do Norte em total sintonia com as clas- cola pública formal. dade de revisão histórica é ainda maior
dos Estados Unidos e das ses hegemônicas do Sul. O povo deveria Tortura e conservadorismo eram com- sobre o que temos e como realizaremos
ser educado para reproduzir o doutrina- binações ideais daquela realidade cuja o que queremos.
burguesias nacionais no mento, a denuncia e a punição aos “fora” caça às/aos “bruxas/bruxos” anti-sistê-
período militar da ordem. micos dava a tônica. Como todo proces-
Nesse período de transição do modelo so de construção social, os 20 anos de A ditadura foi a expressão concreta
de desenvolvimento rural para urbano, ditadura foram imprescindíveis para a
era função da escola pública, reforçar a execução nos anos posteriores da cons- de contenção forçada, dos Estados
Roberta Traspadini educação moral e cívica e a Organização trução de uma “nova” ordem, ancorada
Social e Política Brasileira (OSPB), co- em “fortes-velhas” bases.
Unidos em aliança com seus
A EDUCAÇÃO FORMAL engendra deba- mo fronteiras epistemológicas do dever representantes nacionais, do perigo
tes complexos, difíceis de explicitar um ser, saber dos trabalhadores. Sob a for- Educação e neoliberalismo
movimento único em meio às diversas ça do regime militar essas disciplinas O processo de democratização da dé- real que representava o comunismo
lutas que compõem sua história. O mo- cumpriam uma dupla função: 1) exercí- cada de 1980 traz à tona velhos proces-
vimento que a rege é a contradição, uma cio do nacionalismo com forte teor de sos enraizados na estrutura do dever ser fora e dentro da América Latina
vez que é composta por seres sociais em projeção dos símbolos pátrios; 2) defe- do ambiente educativo-escolar brasilei-
permanente recriação e, mesmo media- sa da ideia de modernidade e de identi- ro. Filhos, netos e bisnetos das gerações
da pela consolidação da hegemonia bur- dade urbana da nação. que aprenderam o dever ser da dinâmi-
guesa, a educação formal foi e é, ao mes- ca educativa do período militar, depa- O conservadorismo não é uma ideia
mo tempo, reprodutora e contestadora ram-se com novos-velhos problemas re- que se tem sobre os outros e nem nasce
da ordem. No tom da associação ais. Como produzir outra ordem, tama- com a ditadura. É anterior a ela e mar-
Este artigo reflete sobre alguns pontos nha a memória-história ainda viva da- cado pelos traços coloniais. Mas com
relativos ao papel da escola na constru- entre os capitais do Norte e quela perversa ordem de modernização a ditadura ganhou planos de formali-
ção da hegemonia dos Estados Unidos conservadora? zação real. O conservadorismo se ma-
e das burguesias nacionais no período do Sul, a classe dominante A ditadura militar fez da escola públi- nifesta nas nossas práticas cotidianas.
militar. Momento em que se consolidou nacional se tornava ca um espaço de projeção de seu dever Está entranhado na nossa forma de li-
uma educação pública elitista, excluden- ser, enraizou sentidos pátrios e consoli- dar com os demais seres sociais, a na-
te, alienante e conservadora. protagonista na gestão da dou um campo muito amplo sobre como tureza e os seres vivos. É o resultado
se deve conduzir o processo educativo, das históricas construções sociais bur-
Ditadura e educação educação pública via controle e ação direta. O não deba- guesas. Para combatê-lo é necessário
A economia capitalista brasileira, no te transforma-se na tônica social no am- firmeza, autocrítica e ação contínua, o
período da ditadura militar, consoli- biente escolar. que demanda um longo tempo de lu-
dou um modelo de educação compatí- O diálogo aparente entre sujeitos que ta, cuja âncora está conformada pela
vel com a política de desenvolvimen- O sonho orquestrado desde os Esta- já estão conformados para disseminar disputa do poder.
to industrial. A simbiose entre a econo- dos Unidos como processo de devir à sua “verdades” que enriquecem poucos ro- As lutas pela educação pública e de
mia política e a educação teve como ba- imagem e semelhança transformava-se bustos bolsos no mundo. O neoliberalis- qualidade necessitam ser reforçadas por
se a defesa de um projeto (imperialismo paulatinamente na razão impositiva so- mo conserva os princípios ético-morais um projeto de sociedade que legitime um
dos Estados Unidos) e o ataque aprego- bre o sonho latino-americano. A igreja, a da ditadura, recrimina projetos entendi- ser/saber diferente da histórica domina-
ado por estes a outro, em que “perigo- escola e os meios de comunicação seriam dos como imorais e antiéticos, reproduz ção. A histórica luta dos trabalhadores-
sos monstros” rondavam as sociedades os espaços de excelência de reprodução os embates de classe. -estudantes da educação põe em pau-
latino-americanas: o comunismo russo. desta ordem moral. ta a fragilidade da unidade da classe tra-
Na relação dos Estados Unidos com O consciente projeto de dominação balhadora no século 21 como um de seus
as classes dominantes oligárquicas in- do Norte sobre o Sul se derivava no in- Tempos piores virão cuja necessidade principais limites. O devir está aberto.
ternas se orquestraram vários golpes consciente da classe trabalhadora do Mas precisa ser reconstruído já, via um
como forma de assegurar o status do- Sul, entendida como potencial segui- de revisão histórica é ainda caminhar em unidade de classe que ao
minante do país do Norte como “defen- dora dos pacotes mercantis exportados maior sobre o que temos e como viver o que não quer, consegue projetar
sor” da ordem-progresso no continen- pelo Norte. o que quer.
te. Além de projeção de sua ideia como O imperialismo estadunidense enrai- realizaremos o que queremos
a nova aspiração a ser seguida pelos “ci- zava-se no subimperialismo brasileiro. Roberta Traspadini é professora do
dadãos” latino-americanos, os Estados A identidade do capital introjetava-se curso de Relações Internacionais, UNILA e
Unidos através do aparato econômico- nos diversos grupos étnicos que com- professora militante da ENFF.
-militar ampliaram seus raios de domi- põem a classe trabalhadora. No tom da Vivemos no atual projeto de educação
nação e controle do território brasilei- associação entre os capitais do Norte e para a classe trabalhadora, a intensifi-
Arquivo Pessoal/Facebook
ro, a partir da construção de um con- do Sul, a classe dominante nacional se cação dos processos históricos materia-
senso sobre quem eram os inimigos da- tornava protagonista na gestão da edu- lizados ontem. O amanhã exigirá mui-
quela ordem. cação pública. ta calma frente a vitória excepcional do
A ditadura foi a expressão concreta de O imperialismo dos Estados Unidos na modelo educativo consolidado pela di-
contenção forçada, dos Estados Unidos contenção forçada do comunismo, con- tadura a ser seguido por todos.
em aliança com seus representantes na- solidava uma matriz estratégia-tática de A escola e as novelas reproduzem os
cionais, do perigo real que representa- guerra de baixa intensidade. Ao mesmo históricos padrões da casa grande-sen-
va o comunismo fora e dentro da Amé- tempo, a burguesia nacional, no pacto de zala. As mercadorias são veiculadas co-
rica Latina. desenvolvimento industrial, apropria-se mo única informação útil à sociedade. As
Sob a tutela dos Estados Unidos, a po- do Estado nacional como instrumento imagens ganham força e os meios de co-
tência capitalista brasileira se ergueu via necessário para sua dominação. municação assumem o papel protagonis-
dependência estrutural, assentada em Os sujeitos políticos que contestavam ta de formadores da nova fase de (re)pro-
uma matriz educativa-midiática que lhe as ordens eram torturados, vigiados e dução do capital.
permitiu aparentar autonomia em vez de punidos. Ainda quando não fossem co- As novas gerações aprendem que vi-
sujeição. A ordem do progresso era dada munistas, eram contestatários. O que os vem uma democracia no século 21. Mas
nas escolas e nos meios de comunicação, colocava na mesma teia de perseguição. seus corpos e mentes sabem que não são
estruturas que enraizavam o dever ser cí- Seus crimes e castigos resultaram da lu- livres. A atmosfera está poluída tanto
vico à época. ta pelo direito da classe trabalhadora so- quanto os rios, os corpos, os alimentos. A
nhar viver diferente. desintoxicação exige um tempo que ain-
Educação e período militar A tortura não foi apenas um meio de da não fomos capazes de protagonizar.
A estratégia do Estado para a educa- silenciar os que gritavam. Foi um meca- Com corpos e mentes doentes, precisa-
ção pública brasileira no período mili- nismo ideológico poderoso de ensina- mos de tempo. Tempo é a medida daqui-
tar foi a de conformar uma formação téc- mento sobre comportamentos, ordens e lo que nos escraviza via trabalho assala-
nica e nacional que abrisse passo à ideia morais a ser seguidas pelas pessoas do riado livre. A professora Roberta Traspadini
brasil de 8 a 14 de outubro de 2015 7
Risco
Rodrigo Gomes Com esse volume de água, o reservató-
de São Paulo (SP) rio não tem condição de auxiliar, em se-
da Rede Brasil Atual gurança, o Sistema Cantareira, que está
com -12,8% da capacidade, operando no
MAIOR E MAIS cara obra do governador volume morto. Isso depois das represas
Geraldo Alckmin (PSDB) para enfrenta- terem recebido quase o dobro de chuva
mento da seca que atinge a Região Me- sobre a média do mês setembro, em 50
tropolitana de São Paulo, a transposição anos. E o governo Alckmin corre o risco
da água do reservatório Jaguari, do Rio de realizar mais uma obra para ligar um
Paraíba do Sul, para a represa Atibainha, sistema em crise a outro em igual situa-
do Sistema Cantareira, deve ficar pronta ção. Como ocorreu com a ligação do Rio
somente em abril de 2017. A última pre- Guaió ao reservatório de Taiaçupeba, do
visão era para fevereiro do mesmo ano, Sistema Alto Tietê. Foram gastos R$ 30
mas somente dia 2 de outubro o gover- milhões na obra, que hoje está parada
nador autorizou a celebração de contra- porque o rio está com o nível baixo de-
to entre a Sabesp e o consórcio formado mais para que seja feita a captação.
pelas empresas Serveng/Civilsan, Enge- No dia 30 de setembro, Alckmin inau-
form e PB Construções Ltda. gurou a obra de transposição do braço
A previsão é que a primeira parte da Rio Pequeno, da represa Billings, para o
obra seja concluída em 18 meses. Es- Alto Tietê. A rede de dutos pretende levar
sa parte compreende a transposição de 4 mil litros de água por segundo de uma
água no sentido Jaguari-Atibainha. O represa a outra. Porém, a própria inau-
sentido contrário da transferência leva- guração foi adiada da manhã para a tar-
rá, pelo menos, mais 22 meses para ser de do mesmo dia, por conta de vazamen-
concluído, de acordo com o licenciamen- tos nos dutos. Outro problema é o au-
to ambiental aprovado pelo Conselho Es- mento da quantidade de algas – chama-
tadual do Meio Ambiente de São Paulo, das Cianobactérias – na represa Billin-
em 26 de agosto. Essas duas ligações per- gs, que podem suspender a transposição.
mitirão que até 8 mil litros de água por Um monitoramento realizado pela pró-
segundo sejam enviados de um lado ao pria Sabesp em agosto indica extrapola-
outro, conforme a necessidade. O custo ção dos limites para presença da alga de-
total previsto é de R$ 830 milhões. finidos pelo Conselho Nacional do Meio
A água captada será transportada por Ambiente (Conama) em vários pontos
uma adutora de 13,4 quilômetros de ex- da represa. Na região em que a água será
tensão e um túnel de cerca de seis quilô- coletada para a transposição foram en-
metros. O sistema também contará com contradas 68 mil células de cianobacté-
estação elevatória e subestação elétrica rias por mililitro de água, um índice 37%
para garantir o bombeamento. superior ao limite do Conama, de 50 mil
A maior preocupação em relação à por mililitro.
obra parte dos moradores do município Vista da represa Jaguari-Jacareí, no Vale do Paraíba (SP) Em excesso, essas algas são potencial-
de Santa Isabel, na Região Metropolita- mente tóxicas, pondo em risco a saú-
na de São Paulo, a 50 quilômetros da ca- “A captação pretendida poderá ser rea- reira. As cotas são unidades de medida de da população e causando problemas
pital. A cidade utiliza água do reservató- lizada das cotas 623 a 603 do reservató- (uma cota = 1 metro) contadas a partir do para o tratamento da água. A Sabesp
rio Jaguari para abastecimento de seus rio. Mas hoje nós quase não conseguimos nível do mar (equivalente a zero). já admitiu a possibilidade de suspen-
50 mil habitantes, e os moradores te- fazer captação para a cidade e estamos O reservatório Jaguari está hoje com der a transposição de água, caso a po-
mem que a interligação retire água de- na cota 609. Como vamos ter garantia de 19% da capacidade. Com isso, o local pulação de Cianobactérias não diminua
mais e deixe, novamente, a cidade seca. que não vamos ficar sem água?”, questio- em que o município de Santa Isabel faz na Billings. A Companhia de Tecnologia
Em 2014, os moradores chegaram a ficar nou o presidente da Associação de Pes- a captação está no limite. Há um ano, o de Saneamento Ambiental (Cetesb) está
35 dias sem água. cadores de Santa Isabel, Jair Simão Fer- ponto onde fica a bomba de água do mu- analisando o reservatório.
Braulio Tavares
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PALAVRAS CRUZADAS
Horizontais: 1.Diz-se dos carros turbinados – As Olimpíadas de 2016 acontecerão nesta cidade.
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2.Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013 que trata de um plebiscito ocorrido no 1
Chile quanto à permanência ou não do ditador Pinochet no poder – Na bandeira olímpica eles
são cinco, representando a união dos cinco continentes. 3.Obedecer – Tendência interna do PT. 2
4.Indica anterioridade e é seguido de hífen – Pronome na língua inglesa que é utilizado para coi-
sas e animais. 5.Área da comunicação em que as demissões em massa de seus profissionais são 3
conhecidas como passaralhos – – Muitos dos doces portugueses são feitos à base dela porque
antigamente as freiras usavam clara de ovo para engomar suas vestes e ela sobrava. 6.As pinturas 4
rupestres mais conhecidas no Brasil se encontram neste estado (sigla) – Pule – Quinto dos doze
meses do calendário judaico. 7.Em inglês, diz-se grandson – Regras estabelecidas por direito – A 5
das baianas é obrigatória no desfile de uma escola de Carnaval. – 8.Como o pronto-socorro é
chamado nos Estados Unidos – Estado brasileiro (sigla) que em tupi significa bico de tucano. 6
9.Avidez de ganho, lucro – A cocaína popularmente é chamada assim – Conjunto dos ossos sol-
tos do cadáver. 10.Paulo Freire, Nelson Rodrigues, Gilberto Freyre e João Cabral de Melo Neto 7
nasceram neste estado (sigla). 11.Recentemente elas tomaram as ruas do país – Movimento que
iniciou uma série de atos até conseguir baixar as tarifas do trem, ônibus e metrô, em São Paulo e 8
no Rio de Janeiro.
9
Verticais: 1.Razão de existir das agências de informação. 3.Este número, em alemão, pronuncia-
-se neun – Dez, em inglês. 4.Reza. 5.Considerada a maior ave brasileira. 6.Espécie de cobra que 10
também dá nome a um grupo de pessoas regido por um maestro. 7.Grupo separatista basco que
encerrou suas atividades em 2011. 8.Sopra o apito. 9.Agência federal, vinculada ao Ministério do 11
Meio Ambiente, responsável pela implementação da gestão dos recursos hídricos no país, que
tem uma sigla que forma um nome próprio – O malandro é assim – Ferramenta usada para cavar.
10. Sensação mais ou menos aguda, mas que incomoda. 11. Que tem inflamação em quaisquer
refegos da pele, causada pelo calor, pela nutrição ou pelo andar. 12.Vez, em alemão – Tem cinco dão.
dedos. 13.Os indígenas, ao longo da história do Brasil, têm sido alvo constante delas. 14. Sua
10.Dor. 11.Assado. 12.Mal – Pé. 13.Violações. 14.Rã. 15.Indígenas. 16.Oeste. 17.MA. 18.Escravi-
Verticais: 1.Espionagem. 3.Nove – Ten. 4.Ora. 5.Ema. 6.Coral. 7.ETA. 8.Apita. 9.ANA – Liso – Pá.
carne é apreciada por muitos, a despeito de outros terem nojo. 15.De acordo com o Cimi, mais de – MPL.
500 foram assassinados no Brasil nos últimos dez anos. 16.O seu oposto é o Leste. 17.Os holan- 6.PI – Salte – Av. 7.Neto – Leis – Ala. 8.ER – TO. 9.Ganância – Pó – Ossada. 10.PE. 11.Manifestações
deses ocuparam este estado brasileiro (sigla), no século XVII, por 27 meses. 18.Falta de liberdade.
Horizontais: 1.Envenenados – Rio. 2.No – Anéis. 3.Acatar – DS. 4.Pré – It. 5.Jornalismo – Gema.
brasil de 8 a 14 de outubro de 2015 9
Fotos: Donminique Azevedo
Infância interditada
ESPECIAL Moradias precárias nas encostas de morro colocam crianças em situação de risco e vulnerabilidade em Salvador
Criança brinca em via de acesso a morro em Salvador
Socorro
Donminique Azevedo Os pedidos de socorro ecoavam aba-
de Salvador (BA) fados. “Quando retornamos para dentro
da Agência Pública do buraco, vi uma cena de horror. Um
pedaço da laje estava sobre dona Mag-
SALVADOR, BAHIA, 27 de abril de nólia. A amiga dela estava soterrada da
2015. Na comunidade do Barro Branco barriga até a cabeça, e só as pernas pa-
– a menos de dez quilômetros do Pelou- ra o ar. Minha pressão quase baixou. Pa-
rinho, um dos principais pontos turísti- ra chegar até Carla, filha de dona Mag-
cos da capital baiana – Gabriel*, 8 anos, nólia, teria que pisar sobre o corpo da
chora desesperadamente. Chove mui- mãe dela. Ao mesmo tempo, Robertinho
to. Ele mora em uma das cinco últimas também pedia que o tirasse dali. Ele es-
casas habitáveis do local. Pouco mais de tava esmagado entre dois pedaços de la-
três quilômetros separam Gabriel de Jor- je, uma grade, com um bocado de barro
ge*, 10 anos. No cubículo de dois cômo- e panelas por cima. Eu e Edmilson, nos-
dos, também na periferia da cidade, Jor- so vizinho, conseguimos tirar Carla. Ele
ge, a mãe, o pai e as duas irmãs tentam, não aguentou porque a cena foi bem for-
com vassoura, rodo e panos de chão, re- te e ficou sem condições de continuar.
tirar a água que entra pela única fonte de Já com a ajuda dos bombeiros, conse-
ventilação da casa, a porta. A alternativa guimos tirar Robertinho com vida, mas
mais viável para tamanho esforço é furar ele não resistiu. Isso me tocou muito. Eu
novamente a parede do quarto/cozinha/ tinha visto a mãe de Robertinho grávi-
banheiro que dá para os fundos. O volu- da dele”, lembra Jeferson emocionado.
me de água que entra é desproporcional- Em meio ao caos, o mecânico e estudan-
mente maior do que aquele que sai pelo te de engenharia civil teve ainda que re-
buraco feito. tirar seu filho de 1 ano às pressas de ca-
A preocupação de Jorge e da família sa, pois o barro estava descendo próxi-
não reside apenas nas perdas dos poucos mo à casa dele. Outros moradores esta-
móveis, mas, principalmente, em saber vam evacuando as residências, pois não
que o barranco pode desmoronar a qual- havia tempo nem condições de avaliar
quer momento. A casa dele está a 60 me- os riscos. A maior preocupação era com
tros de altura, na borda de uma pedrei- Local onde recentemente ocorreu uma tragédia as crianças e idosos que foram abriga-
ra desativada, em São Caetano. Mais dis- dos nas casas do início da rua, sem risco
tante de Jorge e de Gabriel, do outro la- uma máquina fotográfica. Já na primei- Horror de desabar, ou levados para outros bair-
do da cidade, em São Cristóvão, também ra tentativa, encontro muita resistência, O horror citado por Luciana é narra- ros. Embora houvesse uma tentativa
região periférica, porém na parte norte inclusive dos pais, para falarem sobre o do por seu vizinho em detalhes. Jefer- de poupar os pequenos, era impossível
de Salvador, para ir à escola, Ana Maria* assunto. “Mas você vai falar de chuva lo- son de Oliveira, 23, um dos primeiros a diante daquele quadro não perceber o
aguarda a mãe voltar da primeira traves- go agora que ela está passando. Não de- chegar ao local do acidente ocorrido três que acontecia. O desespero da vizinhan-
sia. Paula*, a mãe, percorre, por entre as sejo que minha filha fale sobre essas coi- dias antes do aniversário de Gabriel. “A ça eclodia à medida que, do meio dos es-
águas de chuva e de esgotos, 50 metros sas”, escuto, por telefone, de uma mãe, última cena que eu vi foi tudo em pé. Is- combros tomados pelo barro, mais um
com Miguel* no pescoço. Deixa o garo- moradora de uma das 600 áreas de ris- so era cerca de umas 18h30 de domin- corpo era retirado.
to de 10 anos e recomenda que aguarde co de Salvador. Depois de muitas tenta- go. Acordei cedo para ver como estava a
na esquina da rua para que ela volte para tivas, consigo agendar com uma famí- rua, pois ia sair para trabalhar. Não en-
buscar Ana Maria, de 12 anos. lia. Volto ao Barro Branco quatro me- xerguei nada direito, estava tudo bran- “Veio uma tempestade de chuva,
ses após o deslizamento de terra que vi- co, chovia muito. Foi só o tempo de fe-
timou 11 pessoas. Todos os mortos es- char a porta para ouvir um barulho bem desceu barro e soterrou Samuel.
“Mas você vai falar de tavam presentes na lista de convidados forte, como se fossem uns ‘estralos’ de Ajudamos a retirar com vida a mãe
da festa de aniversário de Gabriel, aque- vidro quebrando. Quando voltei à por-
chuva logo agora que ela le do início da reportagem. No portão, ta, vi aquela água barrenta escorren- dele, mas o menino não resistiu”
o garoto me recebe, com muita descon- do perto da casa de minha mãe, que fi-
está passando. Não desejo fiança. “Quem é essa, mamãe, é bombei- ca a três metros da minha. A casa do vi-
que minha filha fale sobre ro?” A mãe esclarece que é uma jornalis- zinho Sandro já estava no chão. Vi uma
ta e que veio conversar sobre algo impor- mão acenando mais adiante. Minha es- A pouco mais de 100 metros do local
essas coisas” tante. Recomeça a chover e Gabriel se posa e meu tio acharam que eu estava da tragédia, na entrada da rua, abriga-
encolhe na cadeira. Grita que está com vendo alucinações.” Era a mão do vizi- do em um bar, o pequeno Gabriel, atô-
medo. Da sala, a avó avisa que é apenas nho Sandro pedindo ajuda para retirar nito, procurava respostas para o que es-
uma nuvem. Daí em diante, Gabriel pas- dos escombros o filho Samuel Santos, tava acontecendo. “Mãe, foi a casa da
Basta chover mais forte para que con- saria boa parte do tempo entre o portão de 12 anos, uma das 11 vítimas do des- dona Maria? Ela morreu?” Gabriel era
dições semelhantes alterem a rotina de da casa e a varanda, local onde entrevis- lizamento de terra daquele dia no Bar- muito próximo a dona Maria Tereza, 57.
outras milhares de crianças que vivem to a mãe. “É assim que ele fica o tempo ro Branco. Desde pequeno, todos os dias, nos mes-
em áreas com risco de deslizamento de todo. Pergunta-me todo dia pelo pessoal mos horários, Gabriel ficava no portão
terra, desabamento e alagamentos na ca- que morreu e pelas casas também”, con- à espera da vizinha. A brincadeira entre
pital baiana. Somente neste ano foram 21 ta Luciana*, a mãe. No local do acidente, “É assim que ele fica o tempo os dois era certa. Dois dias antes do aci-
mortes, sete delas eram crianças e ado- um vazio. Com o risco de novos aciden- dente, dona Maria brincou dizendo que
lescentes. Quase 8 mil famílias ficaram tes, a prefeitura demoliu outras habita- todo. Pergunta-me todo dia esse ano Gabriel não ganharia presente
desabrigadas. Reza a Carta Magna que os ções. No chão, alguns pertences pesso- pelo pessoal que morreu e de aniversário, enquanto escondia uma
direitos das crianças e dos adolescentes ais das vítimas, semicobertos pelo barro. sacola nas costas. De fato, o presen-
estão amparados pelo princípio da prio- Enquanto lista, uma a uma, as tragé- pelas casas também” te não chegou. Dona Maria estava en-
ridade absoluta presente no artigo 227 dias que ocorreram no Barro Branco, Lu- tre os que morreram. Faleceram ainda
da Constituição Cidadã de 1988. Consta ciana oferece uma coxinha de frango a Cássia Vitória Paim dos Santos, 14, De-
que “é dever da família, da sociedade e do Gabriel. O garoto fala que perdeu a fo- zaneide Dias Figueiredo, 59, Elaine Oli-
Estado assegurar à criança e ao adoles- me, volta ao portão e permanece em si- Àquela altura, outros moradores se veira dos Santos, 30, Jocenildo dos San-
cente, com absoluta prioridade, o direito lêncio. A mãe continua: “Oxe, eu lembro juntaram aos primeiros a chegar ao lo- tos Luz, 33, José Cosme de Oliveira Luz,
à vida, à saúde, à alimentação, à educa- de todos acidentes daqui. Já ouvi muitos cal. Mesmo sabendo dos riscos que a 56, Magnólia Paim dos Santos, 44, Ma-
ção, ao lazer, à profissionalização, à cul- gritos na madrugada de gente correndo atitude apresentava, iniciaram o resga- ria José dos Santos, 75, Roberto Ubiratã
tura, à dignidade, ao respeito, à liberdade porque a casa desabou ou porque o barro te aos soterrados. Sob a chuva intensa, dos Santos Júnior (Robertinho), 16, Sa-
e à convivência familiar e comunitária, começou a descer. O povo só lembra das o barranco continuava a descer. “Veio muel Santos Oliveira, 12, Sivaldo Silva
além de colocá-los a salvo de toda forma tragédias com vítimas fatais”. uma tempestade de chuva, desceu bar- Neves Filho, 30. Como dizer a Gabriel
de negligência, discriminação, explora- A chuva dá uma trégua e o assunto ago- ro e soterrou Samuel. Ajudamos a reti- que, como numa espécie de desenho
ção, violência, crueldade e opressão”. No ra é futebol. “O Barcelona joga hoje?”, rar com vida a mãe dele, mas o menino animado, seus vizinhos foram engolidos
entanto, o cenário com que se depara é pergunta-nos Gabriel, chutando uma não resistiu”, conta Jeferson. Era preci- pela precariedade das moradias? Dife-
oposto à legislação maior do Brasil. Viver garrafa PET. Ofereço lápis de cor e pa- so continuar o trabalho sozinho. O Cor- rentemente do que ocorre no mundo da
em lugares sem as mínimas condições de pel. Peço que desenhe a casa em dias de po de Bombeiros, mesmo avisado do fantasia – no qual uma casa cai sobre al-
sobrevivência coloca a infância e a juven- chuva. Resiste. Deixo os materiais sobre ocorrido, demoraria a chegar devido aos guém e, de repente, como num passe de
tude em extrema situação de vulnerabili- a mesa. Em minutos, lá estava ele com problemas habituais em dias de chuva mágica, lá está a pessoa na tela, sem um
dade física, emocional e social. lápis de cor azul nas mãos. Faz apenas em Salvador: trânsito caótico – seguido arranhão sequer –, na vida real, aciden-
o nome completo no papel e me entre- de assaltos a motoristas presos nos con- tes deixam marcas. As cicatrizes, ou se-
Dificuldades ga, dizendo que terminou. Pergunto so- gestionamentos –, esgotos transbordan- ja, as consequências, vão além de mu-
Dialogar com meninos e meninas bre a casa e ele responde que está pron- do, alagamentos em diversos pontos da danças na paisagem, da destruição de
imersos nesse universo de violações ta. “É isso, ele não superou ainda, quer cidade, protestos em vias públicas, ár- imóveis e de outros bens. (Essa repor-
exige muito mais que bloquinho de ano- dizer, ninguém supera. Vivemos dias de vores e muros caídos, deslizamentos de tagem continua nas págs. 10, 11 e 12)
tações, roteiro de entrevista, gravador e terror”, diz a mãe. terra e desabamento de imóveis. (www.apublica.org)
10 de 8 a 14 de outubro de 2015 brasil 11
Diminuir a imigração
ESPECIAL A população da capital baiana cresceu de 2,4 milhões em 2000 para 2, 9 milhões em 2015, de acordo com o IBGE
Fotos: Donminique Azevedo
Donminique Azevedo
de Salvador (BA)
da Agência Pública
Objetivo central da cúpula foi aprofundar o diálogo entre países que compõem o Brics e avançar na cooperação financeira
Para evitar ditaduras, é preciso retirar poder dos militares, da mídia e do capital Reprodução Reprodução
ENTREVISTA tuto Multimedia DerHumALC (IMD)],
uma ONG. E que realiza projeções de
Segundo Ramón Pablo direitos humanos e outras.
Videla , membro do O Papa Francisco é considerado
Centro Internacional para importante para o diálogo entre
diversos países, inclusive, entre
a Promoção de Direitos os países da América do Sul.
Qual é sua avaliação a respeito da
Humanos e funcionário do liderança de Jorge Bergoglio?
Ministério da Justiça e Direitos Eu tenho uma opinião. A Igreja Cató-
lica Apostólica Romana necessitava de
Humanos da Argentina, um papa negro. Bergoglio é esse papa
negro. Mas não de pele, e sim porque a
hoje em dia, no seu país, na Igreja Católica Apostólica Romana ne-
política de direitos humanos cessitava resgatar, recuperar, em cons-
ciência e em participação, todo esse ca-
é encarcerar todos aqueles tolicismo, porque os países da América
Latina são católicos por descendência e
militares, forças de segurança estavam se perdendo com a política dos
e civis, tanto eclesiásticos Estados Unidos, que realiza através das
Igrejas Evangélicas.
como da parte industrial, Ele foi eleito porque a Igreja Católi-
ca Romana necessitava do papa negro.
que foram colaboradores da Um papa negro que recuperasse tudo
ditadura militar isso que havia perdido com a política
que implementava Roma, por meio do
Vaticano. Porque haviam se transfor-
mado em outro imperialismo, porque
Marcela Belchior administravam a economia do mundo
de São Paulo (SP) pelo poderoso que era.
Francisco diz que o grau de concen-
TRINTA ANOS após a retomada da de- tração monopólica que chegou o capi-
mocracia política na Argentina, após talismo (não fala de imperialismo) se
superar sua sexta ditadura – conside- O general Videla discursa em sua posse após o golpe de 1976 Videla foi condenado à prisão perpétua em 2010, sendo condenado mais uma vez em 2012 por sequestro de bebês tornou o eixo, cruel. E isto é o mesmo
rada a mais cruel da América do Sul – que a esquerda do marxismo-leninis-
o enfraquecimento dos poderes militar, liberdade os militares que haviam sido dos. Na Argentina, temos 577 militares civis, tanto eclesiásticos como da parte mo diz, o imperialismo é a última etapa
Alessandro Grussu
econômico e midiático nas decisões do condenados pelos delitos cometidos to- presos, muitos deles estão morrendo na industrial, que foram colaboradores da do capitalismo. Por quê? Porque é tan-
Estado é sua principal política de direi- maram as decisões que fazer o juiz Bal- prisão, seja pela sua idade ou pela do- ditadura militar, levá-los a julgamen- ta a necessidade, tanta avareza, que vai
tos humanos. A orientação é proteger o tazar Garzón, da Espanha, levar adian- ença que têm, e estão em processo de ir tos em tribunais federais e à prisão em se concentrando cada vez em menos,
país dos três pilares que, juntos, podem te condenações e de militares, não na para a prisão. Ou seja, na Argentina, na uma prisão comum. E isto é o que es- menos e menos mãos, inclusive, absor-
aplicar um golpe de Estado e destituir a presença deles, mas como um país, di- política de memória, verdade e identi- tá sendo feito já. Há militares, há sacer- vendo seus sócios menores, e se torna
população do seu poder soberano. Para gamos, que tinham tratado firmado com dade, se aplica justiça. dotes, bispos, empresários, que foram cruel, claro.
discutir o assunto, a Adital entrevistou a Argentina. Que, diante dos delitos co- colaboradores da ditadura militar. Es- Mas há uma coisa. Da última vez, eu
o ativista de direitos humanos Ramón metidos pelas ditaduras militares, esses Hoje em dia, a lei argentina te é o objetivo número um: retirar po- segui esta última viagem de Francis-
Pablo Videla, ex-operário metalúrgico delitos tomavam um conceito que, até permite que se faça o julgamento der deles. Porque foi publicado um li- co pela Bolívia, Equador e Paraguai e,
que lutou em movimentos da guerrilha o momento, não haviam sido tomados, dos militares antes daquela data, vro, na Argentina, que se chama “Nun- quando ele estava na Bolívia, o via pe-
armada dos anos de 1970, na Argentina, que eram delitos de lesa humanidade, os na década de 1980. ca mais”, que diz “nunca mais uma di- la televisão, porque o canal da Venezue-
esteve 10 anos na prisão pela repressão delitos cometidos contra a humanidade. Sim, mas segue sendo uma política tadura militar na Argentina”. E a única la, a TeleSur, passava direto na Argenti-
militar e, hoje, colabora dentro do go- Portanto, imprescritíveis e que seus de Estado retirar poder das Forças Ar- forma de que isso não ocorra é retiran- na. Ele falou sobre solidariedade, e fa-
verno da presidenta Cristina Fernández executores podiam ser julgados em madas. As Forças Armadas a serviço da do poder desses três: o poder militar, o lou como um princípio da Igreja. Mas a
com a construção de uma nação livre de qualquer parte do planeta que tivesse nação e não para reprimir os protes- poder econômico e o poder dos meios Igreja não faz solidariedade. A solidarie-
autocracia. acordos a partir das Nações Unidas, e tos, porque a presidenta da nação disse de informação. dade é um princípio da humanidade. É
Membro do Centro Internacional pa- acordos firmados que fizessem possível também que, na Argentina, nunca mais um princípio que determina a consciên-
ra a Promoção de Direitos Humanos essa aplicação. Daí que as Avós da Pra- haverá um prisioneiro político por de- Atualmente, vivemos no Brasil cia do ser humano. É uma prática social.
(CIPDH) e funcionário do Ministério ça de Maio tomaram o que, até agora, fender suas ideias. Na Argentina, nun- um momento em que a elite Em troca, a Igreja não aplica solidarie-
da Justiça e Direitos Humanos da Ar- não havia sido posto em execução, que é ca mais vai se condenar uma pessoa por conservadora de direita pede dade, porque a Igreja vive de um dízimo,
gentina, Videla esteve no Brasil, recen- o sequestro dos filhos dos detidos desa- suas ideias. a volta dos militares ao poder, é muito forte, poderosa economicamen-
temente, para promover a discussão em parecidos. Havia mães que pariam em Isso continua sendo feito. A política com a saída da presidenta da te. Faz caridade, mas não faz solidarie-
torno da importância da valorização do um centro clandestino e, no momento de direitos humanos, na Argentina, é República, Dilma Rousseff, em dade. Então, não confundamos. Claro,
tripé memória, verdade e justiça para a de parir, era sequestrado seu filho e a um exemplo para o mundo. Nos centros um movimento que se assemelha eu não vou sair por aí dizendo, porque
consolidação do sistema democrático matavam. Houve 600 crianças desapa- clandestinos de detenção, onde se tor- a um golpe de Estado. O que você não estarei contra. Mas, atentem, cari-
em todos os países sul-americanos, que recidas na Argentina. Digo “havia” por- turava, se matava, onde se extermina- pensa sobre isso? dade não é o mesmo de solidariedade.
viveram ditaduras nas últimas décadas. que, até o momento, recuperamos, na vam pessoas — que, aqui [Brasil], tam- Bom, isto é uma política que não cor-
Estas orquestradas pelo interesse im- Argentina, 155 filhos. Já são pais, já têm bém vocês têm —, em todos os centros, responderia a mim falar. Eu sou um O atual contexto da política,
perialista dos Estados Unidos, mas que, filhos. Faltam 350 [450]. houve mais de 600 centros clandesti- funcionário do Ministério da Justiça economia internacional e da
ainda hoje, não implementaram todas nos; são recuperados e não se paga in- da Argentina e não tenho que intervir religião hegemônica estaria
as possíveis formas de fazer justiça aos denização para recuperar porque tam- em manifestações verbais contra a po- preparado para manter o Papa
que sofreram com a repressão dos mili- Manifestação das Mães da Praça de Maio “Na Argentina, temos 577 bém havia casas, casas de veraneio, fa- lítica de outro país. Isto eu deixo para Francisco na liderança da Igreja
tares e dos donos do capital. zendas. Não, lá foram colocados três pi- que vocês façam uma leitura do que a Católica?
Para ele, além de retirar poder do his- militares porque não haviam firmado nado pelos militares e, nas eleições or- so trouxe dificuldades, por isso a quan- militares presos, muitos lares, que um é memória, o outro verda- Argentina faz no governo federal, reti- Ele sempre diz: “rezem por mim”. E
tórico tripé Forças Armadas-Capital- sua proposta de governo, de controlar ganizadas às pressas, surgiu o presiden- tidade de detidos, de desaparecidos, deles estão morrendo na de, justiça, e se apropria disso o Estado. rando poder dos três poderes, que sem- diz porque está com esse temor de que
-Grande Mídia, é preciso penalizar to- o poder dos militares, controlar o poder te Carlo Menem. Carlos Menem, fazen- que são 30 mil. Desses 30 mil, um ter- E isso é um centro da memória. pre se unem para dar golpes militares. algo possa lhe ocorrer. Não acredito
dos os colaboradores das ditaduras da econômico do Fundo Monetário Inter- do uso da faculdade que lhe dá a Consti- ço são operários de fábrica e outro tan- prisão, seja pela sua idade Transformou-se no centro da memó- Façam uma revisão disso e se atentem. que esteja na concepção da Igreja Ca-
história política recente em território nacional, controlar o poder dos meios tuição Federal, como presidente da na- to são estudantes. E há famílias intei- ria. Têm cultura, têm política, se trans- Nós [na Argentina] temos 577 militares tólica Romana, mas, sim, na concepção
sul-americano. “Na Argentina, temos de comunicação massiva, que eram os ção, como comandante e chefe das For- ras. Há famílias que têm desaparecidas ou pela doença que têm, mite às pessoas que, antes, sequer sa- presos. Vejam se vocês têm algo disso de Francisco. Porque Francisco foi par-
577 militares presos, ou seja, na polí- que permitiam que a direita politica- ças Armadas, ditou uma anistia a todos até 15 pessoas. e estão em processo de ir biam que isso acontecia lá. Na Argenti- aqui [Brasil]. te de um movimento muito numeroso
tica de memória, verdade e identida- mente se sentisse forte e levasse adian- os militares que haviam sido julgados Mas não conseguiram destruir tudo is- na, a política de direitos humanos tem e poderoso na Argentina, que foi o pe-
de se aplica justiça. Na Argentina, nun- te sua política de golpe de Estado. até então. Deixou em vigência as duas so. Por isso nós vimos que também, na para a prisão” uma projeção. Por quê? Porque a polí- ronismo. E ele é peronista (mas eu não
ca mais vai se condenar uma pessoa por Então, esse governo começou a reti- leis, a de Obediência de Vida e a de Pon- década de 1990, houve tentativas do im- tica de direitos humanos, hoje, trata da “De nós se avizinha agora, além sou peronista). E é provável que ele te-
suas ideias”, assevera Videla. rar poder dos militares e a levar a jul- to Final. Existe toda uma pressão social perialismo de continuar com essa apli- história recente da Argentina. E a his- nha metas firmadas nesse resgate da es-
gamento as primeiras juntas militares. com muito conteúdo relacionado aos cação política neoliberal e de contrain- tória recente, qual é? Os 30 mil desa- de vivermos no Cone Sul, o piritualidade da humanidade.
A Comissão da Verdade na Mas surgiu um movimento dentro das direitos humanos, motorizada pelos or- surgência. Mas, na Argentina, havia um Com relação àquele número de parecidos.
Argentina conseguiu resgatar os Forças Armadas, que pressionou o go- ganismos de direitos humanos. estado de mobilização permanente, que 30 mil pessoas desaparecidas, é Mas a política de direitos humanos
problema que vai ser a água. Vai Espiritualidade libertadora?
elementos ocultos da história da verno e faz manifestações, como ocu- Assim, levaram adiante essa políti- deixava impossível essa aplicação. E as- um numero antigo ou, até hoje, para o futuro, para os que hoje têm 15 ser um problema, que vai levar a Eu tive ativa participação com com-
ditadura militar? par quartéis, levar os tanques às ruas ca de direitos humanos do governo do sim foi que, em 2003, assumiu o presi- 30 mil seguem com paradeiro anos, 14 anos, 16 anos, que, na Argenti- panheiros que praticaram a Teologia da
Ramón Pablo Videla – Bom, em e atos de conspiração, e arrancou des- presidente Menem, que levava adiante dente Néstor Kirchner, com um proje- desconhecido? na, podem votar, eleger — dos 16 aos 18 enfrentamentos. Não, por nada, os Libertação nacional, que eram sacerdo-
épocas, inclusive, da ditadura militar, se primeiro governo democrático a res- uma política de amizade com o imperia- to de inclusão social bem antineoliberal, A política de atirar ao mar os deti- não é obrigatório, mas sim, depois dos tes guerrilheiros, e posso te dizer que
ano de 1978, a dois anos da ditadura tauração de uma das primeiras leis, que lismo, com o Fundo Monetário Interna- dando muita participação à política de dos desaparecidos tornou possível en- 18. A política dos direitos humanos tem ingleses se instalaram nas Malvinas” pensávamos igual, com algumas dissi-
instalada, surgiram os organismos de foi chamada de Obediência de Vida. Es- cional, porque aplicou o projeto neoli- direitos humanos. Nós vínhamos, a par- contrar seus restos mortais, porque, a muito a ver com aquilo que, no sistema dências em relação à luta armada. Mas
direitos humanos. Estes organismos ti- ta lei estabelecia que poderiam ser jul- beral na Argentina. Tudo o que haviam tir das organizações de direitos huma- princípio, os atiravam no mar com vida capitalista, em sua Constituição Fede- que também eram guerrilheiros, tam-
veram uma ativa participação, que, in- gadas as juntas militares, os ideólogos conseguido fazer os militares, sendo go- nos, pressionando os governos que vi- e isto fazia com que seus pulmões não ral, estabelece para os Estados e os go- bém defendiam sua vida, às vezes, com
clusive, chegou àquela tentativa dos mi- da repressão, mas não os subalternos; verno de fato, ele fez com um governo nham se sucedendo para que tomassem se enchessem de água, flutuavam e apa- vernos e diz que os governos devem ga- Como avalia a relação da uma arma. Muitos deles foram mortos,
litares na Guerra das Malvinas contra por isso a Obediência de Vida. democrático. como política de Estado a política de di- reciam nas costas. Muitos deles apare- rantir a seus cidadãos os direitos à vi- Argentina com outros governos estão desaparecidos alguns. (...)
os ingleses. Os militares fizeram como reitos humanos, mas não conseguíamos. ceram nas costas uruguaias. As Mães da, à saúde, ao trabalho, à moradia e à considerados progressistas na Bergoglio era militante desse movi-
última tentativa de conseguir continu- A superação da ditadura militar Até 2003, quando chegou o presiden- da Praça de Maio, que sequestraram, educação. América do Sul, como Bolívia mento [peronismo]. Deve ter, em seu
ar no poder por toda a vida, como ha- “Esse primeiro governo na América do Sul, no fim dos te Kirchner; ele, no mesmo ato que anu- em 1978, na Igreja Santa Cruz, em Bue- Tudo isso são direitos humanos tam- e Equador? O Brasil também pensamento, algo de libertação. Mas a
viam proposto. Mas a participação das anos 1980, foi de interesse dos lou as Leis de Obediência de Vida e a de nos Aires. bém, mas também é um direito humano é considerado, mas está em Igreja Católica Apostólica Romana ain-
organizações de direitos humanos tam- democrático depois da ditadura Estados Unidos, para iniciar uma Ponto Final, também anulou os conte- Então, o que faziam depois: coloca- a defesa dos recursos naturais. De nós um momento um pouco mais da não pediu perdão ao povo. Espero
bém chegou a esses familiares que fo- continuou pressionado pelo poder nova fase neoliberal, uma vez que údos do indulto, que havia decretado o vam nos aviões, lhes davam injeções, se avizinha agora, além de vivermos no distante dessa orientação. que Francisco faça isso, uma vez que
ram mandados à guerra e muitos deles o comunismo e o socialismo já presidente Carlos Menem. Mas, além mas, no momento de atirá-los ao mar, Cone Sul, o problema que vai ser a água. Eu acredito que [o Brasil] perdeu no resolva os problemas internos, que são
morreram. que ainda tinham os militares” estavam reprimidos. disso, pediu perdão à sociedade argen- os esfaqueavam, digamos, para que Vai ser um problema, que vai levar a en- trem da vida, que tiveram nesse mo- muito fortes. Vai ser dentro do Vaticano
Isto fez com que se abrisse um pro- Sim, mas, na Argentina, era algo mui- tina como presidente da nação pelos fei- sangrassem e, no momento de chegar frentamentos. Não, por nada, os ingle- mento. Quando o governo teve 80% de porque o Vaticano está muito raivoso
cesso de democratização na Argenti- to particular. Não se pode esquecer de tos da ditadura militar, pelos crimes que na água, o sangue atraísse os tubarões ses se instalaram nas Malvinas. Porque aceitação, não foi capaz de levar adiante com isso de deixar tanta opulência, tan-
na e se desse, em 1982, um chamado que a Argentina foi um país onde o aces- havia cometido a ditadura militar. Algo e, bom, eram exterminados. são parte do projeto do [Tratado de] Ot- esta política da Argentina. Por isso não ta suntuosidade, tanto ouro. Não, não.
às eleições. Aí, surgiu o primeiro gover- Porque os subalternos cumpriam or- so à cultura sempre esteve presente. que deveria ter sido adotado por outras Era quase impossível encontrar seus tawa e do Atlântico Sul. Porque eles já há um militar preso. Com a Bolívia e a Por que eles não se dirigem a quem não
no democrático, eleito pelas urnas. Es- dens dos seus superiores. Ainda as- O fato de que, após a Segunda Guerra instituições que também são parte do restos mortais. Houve gente que mor- estão nos barcos levando água para a Equador nós estamos colaborando mui- tem nada? O que vão dizer a uma pes-
se governo tomou como política que le- sim, eles continuaram com as conspira- Mundial, muitos imigrantes tenham se Estado, como a Igreja Católica argenti- reu nas prisões, houve gente que mor- Europa, para seus países. Claro! E água to. Lembre-se que são países produto- soa que não tem nada, quando sua casa
vasse a julgamento as ditaduras milita- ções militares e, posteriormente, tam- aproximado da Argentina em busca de na, que, até hoje, não pediu perdão. reu nos centros clandestinos de deten- doce, que temos na Argentina, temos no res de droga, mas não deve se estender. está cheia de ouro? Ele está realizando
res, as juntas militares que haviam le- bém arrancaram outras lei desse go- Trabalho. Vinham operários, profissio- ção e houve gente que fuzilaram por- Brasil, na Bolívia. Esta é a política de di- E que a coca na Bolívia é utilizada para uma política contrária, porque, por is-
vado adiante a política da repressão na verno, que foi a Lei do Ponto Final. A nais, tipógrafos, sapateiros, da indústria Isso se manifestava também que, nesse dia, não levava documento. reitos humanos, que tem projeção com medicação. Para produzir cocaína você so, foram cometidos muitos crimes. E é
Argentina. Foi assim que se produziu, Lei do Ponto Final dizia que não se po- frigorífica, da indústria metalúrgica... na valorização da economia Foram formadas forças comuns e isto vistas ao futuro. necessita de muitos quilogramas de co- preciso corrigir tudo isso. (Adital)
em 1987, o primeiro julgamento políti- diam julgar atos posteriores à retirada E, logo que esses operários chegaram, nacional? é o que se está sendo descoberto, por- Para nós, ao fazer uma política de Es- ca para fazer um grama de cocaína. Nós
co da junta militar. Isto foi alcançado, da ditadura e a chegada do governo de- como imigrantes, conseguiram traba- A política se firmou em objetivos no que as Avós da Praça de Maio, ao con- tado, todas as pessoas têm acesso a essa temos boas relações e, além disso, cola- Reprodução
mas veremos mais adiante o porquê da mocrático, ou seja, que do ano de 1983 lho, se organizaram e formaram orga- governo do presidente Néstor Kirchner. siderarem o sequestro de crianças, pu- política, porque o Estado imprime em boramos, neste momento, com o gover-
aplicação tão férrea da política de di- para trás, não se podia julgar nada. Era nizações, como as anarquistas, como as Os objetivos eram retirar poder dos mi- deram, perante as Nações Unidas e pe- folhetos, em livros, em jornais, em rá- no do presidente Rafael Correa, com tu-
reitos humanos. Esse primeiro gover- como uma Lei de Autoanistia, como a comunistas, chegaram a formar asso- litares, para que nunca mais se desse rante a Organização de Estados Ameri- dios comunitárias, na televisão comuni- do o que é atividade social.
no democrático depois da ditadura con- que tem o Brasil. Ou como a que tem o ciações sindicais de primeiro, segundo um golpe militar na Argentina; retirar canos (OEA) instalar um novo conceito tária, implementa essa política de direi- Um exemplo: com relação à questão
tinuou pressionado pelo poder que ain- Uruguai. Ou como a que tem o Chile. e terceiro nível (digamos, sindicato, as- poder do Fundo Monetário Internacio- de delito de lesa humanidade, e isso tor- tos humanos. Ou seja, todo mundo está de cinema. O Incaa (Instituto Nacional
da tinham os militares. sociação e federação). É algo muito di- nal, que nos fixava sempre regras de co- nou possível que se recomeçasse aque- informado, na Argentina, o que é a ati- de Cinema e Artes Audiovisuais), da Ar-
E, nos últimos anos, com o ferente de qualquer outro país da Amé- mo deveríamos administrar, os argen- la proposta inicial de levar a julgamen- vidade de direitos humanos. gentina, está colaborando, neste mo-
E os Estados Unidos. governo de Cristina Fernández, rica Latina, inclusive, era surpreenden- tinos, a economia; e retirar poder tam- to todos os militares que haviam come- mento, com o Equador. E, de um filme
Claro, e os Estados Unidos. Atra- qual foi o tratamento em torno te para um sindicalista alemão, um sin- bém dos meios de comunicação massiva tido esses delitos. Quais são os principais temas de que tinham por ano, passaram a ter 26
vés do Brasil, mantinham toda a políti- dessa questão? dicalista italiano ver que, na Argentina, concentrados e que tinham, digamos, na Ou seja, que muitos dos que haviam direitos humanos, hoje em dia, filmes. Na Argentina, se produz cinema.
ca. O Brasil era a ponta de lança de to- Em 1990, diante das pressões que vi- um delegado de uma parte dessa em- Argentina, sob seu poder. E assim foi. sido condenados, que estavam na pri- na Argentina? Na Argentina, o cinema nacional é rea-
das as ditaduras na Argentina e no Co- nha recebendo esse primeiro governo presa podia para com a indústria. As Avós da Praça de Maio, vendo que são e que haviam sido deixados em li- Hoje em dia, na Argentina, na política lizado pelo Estado, mas também tem o
ne Sul. Esse governo continuou sendo democrático, de Raul Alfonsín, entre- Era um grau de consciência extraor- as Leis de Obediência de Vida e de Pon- berdade por essas duas leis e pelo indul- de direitos humanos é encarcerar todos cinema de direitos humanos, que reali-
pressionado pelo poder que tinham os gou antes o poder por se sentir pressio- dinário, que não tinha outro povo. E is- to Final haviam conseguido colocar em to, voltaram, novamente, a serem julga- aqueles militares, forças de segurança e za, hoje, o Instituto Multimídia [Insti- O ativista Ramón Pablo Videla
16 de 8 a 14 de outubro de 2015 américa latina
OPINIÃO Tanto as
iniciativas do Mercosul
como da Alba são
insuficientes para
responder às necessidades
do desenvolvimento de
nossos países
Gustavo Codas