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FL Á V IO R IB E IRCO

O U T IN H O
Marcus Odilon Ribeiro Coutinho

F L A V IO R IB E IR O
/

C O U T IN H O

A UNIÃO
E DITO R A
SÉRIE HISTÓRICA
Copyrigh 2000 © A União - Superi ntendência de Imprensa e E ditora

ESTADO DA PARAÍ BA

José Targino Mar anhão


Governador
APRESENT AÇÃO
Roberto de Sousa Paulino
Vice-Governador Ao nos debruçarmos sobre a História polític a parai-
Roosevelt Vita bana, nos deparamos com uma galeria de figuras nem sem-
Secretário-Chefe da Casa 'Civil do Governad
or pre ilustres, tanto pela condução da causa pública, quanto
Luiz Augusto Crispim pelo procedimento pessoal.
Secretário Extr aordinário de Comunicação lnstitucional
Evaldo Gonçalves de Queiroz Uns, preocupados simplesment e em manter o status
Secretário da Educação da Par
aiba quo que lhes dava sustentação,
Franc isco Pe reira da Silva [únior Outros, pela maneira vergonhosa com que se apode-
Sub-Secretário de Cultura raram dos cargos para enriquecer e distribuir favores entre
parentes,amigos, aderentes e correligionários,
. A UNIÃO - Super intendên cia de Impren sa e Editora A maioria incluindo ferrenhos perseguidores dos re-
Superintendente
presentantes da Oposição, sem se importar se tinham ra-
José Zélio Marques Neves zão, ou não, .
Diretor Admi nistrativo No meio dessas figuras imponentes e portentosas, as
Clodoaldo Brasilino Filho honrosas exceções: personagens humanose mortais,contn»
Diretor Técnico vendo comseu povoe cumprindoo bom destino de respei-
Nelson Coelho da Silva
tar asqueixas dos seus concidadãos, atendendo às necessi-
Diretor Op eracional (Interino)
Deusimar Sarmento dades sociais e administrando a cois a públicacom zelo e
parcimônia,responsavelmente,
Segundo o historiador Marcus Odilon, autor do tra-
SÉRIE HISTÓ RICA balho que ora apresen tamos, o Governador Flá vio Ribeiro
Coordenação Geral do Pro jeto: Couiinho se inclui entre essas honrosas exceções,
Jornalista Nelson Coelho daSilva
Execução:
Tanto pelo cuidadocomo administrou oerário públi-
Jornalista William Costa co, como pela postura dig na no relacionamento com seus
Capa: contemporâneos de todas as tendências,
Milton Nóbrega Sem nepotismo, e sem perseguir seus opositores, se-
Asses soria de Marketing:
Jornalista Joanildo Mendes f'r gundo enfatiza o historiador Marcus Odilon.
Editora ção Eletrônica: Político hábil, sua atuaçã o vem da Ditadura Vargas, e
Martinho Sampaio de vinte anos de perseguição, vítima de insanidade daRe-
Impressão:
A UNIÃO - Superin tendência de Imprensa e Editora
volução de 30, amargando as dificuldaqes que atingiram os
perrepistas.
E sua habilidade residia justamente aí, quando atua-
va nos bastidores, dos quais emergiu ao alvorecer darede-
Índice
mocratização, com a qued a do Estado Novo, quando o voto
secreto tornou-se realidade, e as mulheres conquistaram o
direito de eleger e serem eleitas. História oficial e depoimentos pessoais ....................................7
A democracia - antes apenasuma figura de papelão - Outro depoimento de Nivaldo ........................•................. 12
mudou o panorama político do país, tornando possível o As origens da família Ribeiro Coutinho ............................. . .13
diálogo entre os partidos e os acordos em que se basearam O Tenente mais rico do Brasil.. .............................................19
'" ,
para impulsionar o desenvolvimento econômico e adminis-
U ma festa de arromba ........................................................ .21
trativo dos Estados.
Político porvocação, o Doutor Flávio assumiu o Go- Os amigos do velho Flávio ....................................................22
verno da Paraíba por duas vezes. É pecado ser parente dos santos? ...................................." ....25
A primeira, como Pre sidente da Assembléia Legisla- Uma loucura que valeu a pena ...............................................26
tiva, por licença do titular, Oswaldo Trigueiro, quando a Flávio Ribeiro e a Primeira República ...................................32
figura do Vic e não existia, na legislação eleitoral. Associação Comercial: A vanguarda em defesa dos
A segunda, eleito pelo voto direto, quando, infeliz- produtores .............................................................................'34
mente, exerceu o mandato por pouco tempo, vitimado por
Uma perseguição que durou vinte anos .................................38
um acidente vascular cerebral (A VC), que o levou à morte.
Com o seu falecimento, o cargo foi assumido pelo A Bancada de Princesa ..........................................................41
Vice, Pedro Moreno Gondim, que deu continuidade às obras Militância política e coragem ................................................45
iniciadas pelo antecessor, numa prova de que Flávio Ribei- O voto secreto mudou o rosto do Brasil .................................46
ro Coutinhoestava realizando trabalhos essenciais às ne- Flávio Ribeiro e a redemocratização ......................................50
cessidades do povo paraibano, sem nenhuma construção Um acordo elegante cumprido na íntegra ..............................51
faraônicasupérflua que sobrecarregasse as finanças do Es-
Flávio Ribeiro e Renato Bastos: Varões de Plutarco .............53
tado e inviabilizasse a administração do sucessor.
Todas essas lembranças que honram seu nome como O melhor Governador da Paraíba ..........................................55
o melhor Governador da Paraíba - expressão usada por Tolerância política .................................................................60
Marcus Odilon - foram registradas em sessão comemorati- Um Governo sem nepotismo .................................................63
va ao centenário do seu nascimento, na Assembléia Legisla- Segurança Pública: a paz a todo custo ...................................65
tiva da Paraiba, em discurso pronunciado pelo então Depu-
O segredo do bom Governo: os bons auxiliares .....................67
tado Fernando Paulo Carrilho Milanez.
A ampliação do Porto de Cabedelo ........................................70
O leite pasteurizado: uma necessidade ...................................72
Maria José Limeira O Hospital Edson Rarnalho .....................................................72
Jornalista Quem, um dia, não perdeu eleição? .......................................73
História oficial e
depoimentos pessoais
o depoimento de quem viveu o fato é da maior
importância .
Essa tendência é universal , até porque a Histó-
ria oficial das guerras, dos conflitos, dos Papas e das
eleições já foi escrita.
Por isto mesmo estou reco lhendo o que posso
com os depoimentos que estão mais próximos e estão
vivos.
Uma fo nte que está perto é Nair Dantas Ribeiro
Coutinho, co m 87 anos de idade, bem vividos, e com
uma memór ia invejáve l, lembran do-se de fatos e da -
tas, como se ainda es tivesse com 18 an os.
Nasceu e m Caicó, Sertão do vizin ho Estado do
Rio Grande do Norte, de uma famíl ia conheci díssima
e do melhor conceito em todo o Nordeste.
Mais conhecida ainda pe lo que aconteceu em
1930, quando .. .
Bem, is to todo mundo sabe.
Casou -se com Otávio Ribeiro Coutinho, na sua
opinião o homem mais formoso que já pisou nesta
terra.
Conheceu-o, bem jovem, na manhã de 2 de no -
vembro de 1930 quando, em companh ia de sua (dele)
prima Lourdes, passou pela casa do tio (onde mora -
va) e pediu flores do jardim para levar aos túmulos
7
do Genera l Lavarene Wanderley e dos Tenentes as - nino do Cajá, frequenta dor das festas dos Chaves, tem
sassinados na madrugada de 4 de outubro, pelos re - uma nova versão sobre o citado monumento.
volucionários da Aliança Libera l. Diz ele que o Major fez uma promessa de cons-
Por aqueles dias turbulentos e perigosos, um ato truir uma igre ja sem uma só telha. E tudo de alvena-
como este era prova de rara coragem, levar flores aos ria. Uma be leza.
túmu los de símbo los da oposição. Esta, porém, não é a versão de Nair, que revela
Daí, s urgiu o namoro e, logo ma is, o casamento. que o projeto da construção é do engenheiro Souto
Foi morar com seu sogro e sua sog ra, o Ma jor Barcelos, ass im como a planta . O citado engenheiro
Ribeir inho e Dona Ser afina Pessoa de Me llo Ribe iro . , moro u na Ca pital do Estado. Parece que era estran-
Coutinho, es ta úl tima, de fam ília pernamb ucana. geIro.
Com eles, não só co nviveu, como ficou sendo Na verdade, não há conflito nas duas versões.
depositária de segredos e confidências, um verdadei - oo Ela ouv iu de seus sogros que o Ma jor João Ribei -
ro arquivo v ivo. ro da Silv a Cou tinho (pai de doze filhos ), veio de Na -
Daí é o portuno que se ouça a Na ir falar, e foi o zaré da Mata e se casou, no dia 9 de ma io de 1869,
que fiz , em compan hia de seu filho caçula. com Ana Fran cisca Ferreira de Castro.
Para e la, o tempo não passo u, volto a repetir . De Os membros dessa famíl ia (os Ferreira de Cas -
sua saúde (de ferro, diga-se de passage m) quem cuida tro) já era m donos da Fazenda "C haves", a qua l tinha
é o seu genro, Jacinto Medeiros. Está, ass im, em boas mais de 10 mil hectares de boas terras, indica das para
mãos. E fica tu do explicado. plantio de algodão.
Moro u anos, com o sogro e a sogra, na Fazenda Hoje, com as sucessivas divisões, decorrentes de
"Chaves", mu nicípio de Gurinhém, à margem do as - inventários, as par tes maiores não chegam a 800 hec -
falto da BR-23 0 em uma das boas casas de fazenda da tares. A reforma agrária, nes te caso, se faz dentro da
região. própria fa míli a.
Mas, quem se destaca na paisage m é um monu- Aliás, é bom se explicar o porque desse tí tulo de
mento pare cido, à primeira vis ta, com uma nave es- "Ma jor" .
pacial ou um o belisco, embora não se ja nada disso . À época, quem possuía be ns era agraciado pela
Em princípios de 1933, o Ma jor Úrs ulo Ribeiro Guar da Naciona l com patentes que iam de Tenente a
Coutinho co nstruiu-o para servir de cape la, a qua l fun- Coro nel. Generosidade da "bell e époque" .
ciona até h oje. (. c Diga-se de passagem que essas honrarias cust a-
Já celebraram missa, no loca l, Frei Damião, Mo n- vam a lguns contos de réis, mas era tudo lega l, e de
senhor Odilon Pedrosa, e o Padre José Mes quita, este acordo com a legislação em uso.
como Vigário da Paróquia de Gurin hém, homem de Como Úrsulo era Ma jor e seu pai tinha igual tí -
raras v irtudes cristãs. tulo, passaram a ser c hamados d e "Major Ve lho" e
Mas, o meu ve lho compadre Niva ldo Paiva, me- "Major Novo".
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ministração d a fazenda. Forçou o seu retorno do Re-
Decorrido mais algum tempo, e dev ido ao su-
cife, onde e stava fazendo curso prepa ratório para u ma
cesso empresarial de todos os ir mãos R~ beiro Co uti-
escola supe rior, e ficou à frente de tudo, por dec isão
nho, na boca do povo o Ma jor Velho SU bIU de p osto e
dos demais irmãos .
passou a ser chamado de Coron~ l. . Por isso não se formou.
Da Prim eira Guerra Mundial, Nair se lembr a da Mas, Od ilon Mar oja pressionou-o a adqui rir a
comemor ação da vitória (muitas girân dolas queima- patente da Guarda Nacional .
das em C aicó, seu b erço nata l). Era quase criança. Ela explica, aind a, que, na F azenda" Chaves", vez
Da Se gunda Guer ra, se lembra da escassez de por outra, o cangaceiro Antonio S ilvino aparecia, e o
produt os impo rtados do Sul e do exte~ior. . Major Novo fazia como o s demais fazendeiros da re-
Com o torpedeamento dos nav ios cargueI~os, gião: recebia os gue rrilheiro s, convidando-os a senta-

pão, etc., em todo o Estado do Rio P~rahyba =


faltou cha rque, sabonetes, loções perf umadas, tngo,
Norte.
Nessa a ltura, viajar para o RIO de janeiro, por
rem-se à mesa para o alm oço e o jantar.
A tropa se a rrancha va, como podia, nos armazéns.
Mas todos eram se rvidos de guizado de carnei-
exemplo, virou aventura perigosa . ro, galinha e peru. Me sa farta, ainda que improvisada .
Ela ainda se recorda da irreverê ncia popular, qu e Um dia , Antoni o Silvino quis ouvir Dona Ser afi-
cantava na s rodas de fim de tarde : na tocar piano.
Como não podia ser diferente, foi atendido.
Se banana for torpedo O Major, no ent anto, sentiu-se insultado, e mu-
macaco pára -quedista, dou-se para ltabaiana, onde nasceu seu filho Jorge,
urubu for avião, indo morar no Alto de San ta Rita, a parte mais venti-
o Brasil está preparado lada da cidade .
pra enfrentar qualquer Nação. Foi nessa oc asião que construiu o monumento
em homenagem à Santa de sua devoção .
A inocente brincad eira mostrava a fragilidade
Em 1930, conta que a família, perseguida pelos
brasileira para participa r do conf lito entre a Alema-
aliancista s, se homiziou no Engenho "Botafogo", em
nha e quase todo o r esto do mundo. Goiana (PE), que pertenc ia a Arqu imedes Bandeira ,
Recorda-se , como ho je, do Doutor L indolfo Cor- também casado com uma Pessoa de Mello. Portan to,
reia Lima, professor do Lic eu, que ia lecionar de fra - seu contra-parente .
que e bem p erfumado . Não se esquece do primeiro automóvel, em Cai-
Lembra ter ou vido o sogro contar qu e, em 1902 , có, em 1918. Pa ra vê-lo de perto, toda a população
o Maj or Velho foi acometido de um derra me cere bral saiu de casa em direção à praça princip al, onde estava
(hoje AVC) e ficou inválido, ainda que ten ha chegado estacionado o v eículo.
vivo até 1929, e quase centenário. Não ficou n inguém em casa, e os c omentários
Mas, sem forças para di rigir os negócios e a ad-
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eram desencontrados: imaginavam alguns vizinhos Nega que tenha visto ou ouvido falar de qual -
que aquilo era arte do cão, ou sinal do fim do mundo. quer violência praticada por ele, ou a seu mando. '
Quem vive 87 anos, tem muito a dizer . O Major era um homem profundamene religio-
E quando Nair completar cem anos, aí é que vai so e de fé, conclui Nivaldo, mas cuidando da festa pro-
ser bom ouví-la, para saber de tudo. fana, pagando do próprio bolso o sanfoneiro Manoel
Sendo otimista como é, Nair é daquelas pessoas de Horácio, o melhor da região, para animar o baile,
que acham que estão certas, e que tristeza não paga a em tempo de São João, São Pedro, Natal e Ano Novo .
pena. Quem quiser falar com Nivaldo, o telefone é 098-
, , 621-2338, ou Caixa Postal 145, Bacabal -MA.

Outro depoimento de Nivaldo


As origens da família
Um dos depoimentos interessantes sobre o Ma- Ribeiro Coutinho
jor Ribeirinho (ninguém o conhecia pelo nome de
Úrsulo) foi prestado por Nivaldo Rodrigues Paiva, hoje Sempre sou indagado de onde veio a família Ri-
residente em Bacabal-MA, mas criança em Cajá, ago- beiro Coutinho. Até porque, no século XIX, a História
ra cidade, mas, naquele tempo, vila, distante dez qui- não registra a presença de nenhum deles nas ativida-
lômetros da Fazenda" Chaves" . des econômicas da Paraíba.
Ele diz que, com outros meinos da vizinhança, Nenhum foi Donatário de Capitania Hereditá-
pegava carona em caminhões que paravam no posto ria, Presidente da Província ou Senador do Império .
de gasolina, no hotel ou nas barracas, e chegava no Não receberam sesmarias .
"Chaves", onde o Major mantinha em funcionamen- A família que participou com mais destaque
to uma queijeira (o produto tinha ótima aceitação, quando nossa terra, de Capitania passou a Província,
puro, sem qualquer mistura). foi a Carneiro da Cunha, que tinha engenhos na Vila
Eles, então, pediam, e o Major lhes dava a raspa, do Conde, em Santa Rita e Espírito Santo.
mais saborosa ainda do que o próprio queijo. Um deles foi o Senador Estevão José Carneiro
Os garotos levavam farinha para misturar, e en- da Cunha, remanescente da República de 1817, mas,
chiam o bucho. em 1824, General em Chefe das tropas fiéis ao Impé-
Nivaldo também se recorda (tem hoje 60 anos) rio. Combateu a Confederação do Equador .
das festas do "Chaves", das procissões de Santa Rita Outro irmão foi Deputado Geral , e um terceiro,
de Cássia, da devoção do Major. após presidir a Província , foi condecorado com o títu-
Em uma das realizações desses festejos, uma vara lo nobiliárquico de Barão do Abiay. Era pai da Profes-
de foguetão atingiu o ombro do Major, que precisou sora Olívia Olivina Carneiro da Cunha.
ser levado a um hospital, na Capital . Nessa época, por onde andavam os Ribeiros Cou-
tinho?
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Há quem diga que Amaro Gomes da Silva Cou- 14
tinho, dono do Engenho do Meio, maçom, republica-
no, participante da conspiração e Revolução de 1 817,
julgado, condenado e enforcado em Re cife, er a um
dos nossos.
Mas, perdeu a vida e os bens .
Dele herdei o mau hábito de falar mal do
Governo .
A Justiça portugue sa era cruel : punia rápido, e o ,
estendia o c astigo aos familiares . E quanto mais pu-
nia, mais lucrava .
Amaro Gomes da Silva Coutinho não deixou fi- • r

lhos.
Só aparece alguém com esse sobrenome, na Pro-
víncia do Rio Parahyba do Norte, em 1869, data do
casamento de João Ribeiro da Silva Coutinho com Ana

Ferreira de Ca stro, que constituem o tronco da família.


Os filhos de João perderam o Silva, e ele mesmo
passa a suprimi-Io em quase tudo .
Três sobrenomes seriam considerados exageros,
ou talvez tenha havido a preocupação e litista. Quem
sabe?
Tamb ém os filhos do casa l não usam o nome
Maroja qu e, na verdade, era ape lido de meu bisavô,
Manuel Ferreira da Silva.
João Ribeiro da Silva Coutinho, natural de Na-
zaré da Mata (Pernambuco), casou- se com Ana Clara
Ferreira de Castro e tiveram dezoito filhos, dos quais .,
se criaram onze.
Os homens eram Odilon, João Úrsu lo, Flávio,
Úrsulo (Major Ribeirinho ) e Flaviano .
As mulheres: Rangelina (Naná), Débora Úrsula,
Otávia, Otaviana, Severina , Ana e Ninosa .
Seis out ros não se criaram : viraram anjos, e es-
tão em bom lugar.
A mo rtalidade infant il não poupava nenhu ma 15
família .
O casal foi morar na Fazenda " Chaves", que e ra
dos Marojas .
Diz o nosso estimado primo, Heitor Coutinh o
Maroja, que a propriedade era do sogro. Portanto, de
Manuel Ferreira.
Em outra s palavras, He itor quer dizer que a par-
te rica da era e xatamen te a família Ferreira, ou se que-
rem assumir o apelido , a Maroja .
João, pernambucano, comprador de burros e bois
para serviço, vivia em c ima de uma sela e dera o " gol-
pe do baú" . Contava com bom visual .
Ótimo .
Por isso mesmo, redob rei a admiração ao avô que

não conh eci, pois j á tinha passado dessa para mel hor
quando nasci, em 1939.
Mas, o nosso a vô foi o fundador do clã, no Esta-
do do Rio Parahyba do Norte.
Repito: não há registro de Ribeiros Coutinho (os
dois nomes juntos), naqueles dias distantes .
João e Ana se casaram , quando ainda havia es-
cravatura, e com os escravos tocando o trabalho pesa-
do da fazenda.
Os filhos se formaram em Recife ou em Salva-
dor.
Bacharéis em Direito foram João Úrsulo e Odi -
lon. Flávio, médico, e Flaviano, agrônomo diplomado
pela Escola Superior de Agronomia São Bento, em
1920.
O educandário era de religiosos da Ordem dos
Beneditinos, em sua maioria, alemães.
Só Flá vio exerceu a profissão. Assim mesmo, por

pouco tempo .
Estabeleceu-se em Belém do Pará, quando a bor- vas, localizada nas imediações da cidade de Coiani -
racha fazia da Amazônia um Eldorado . nha.
Ganhou tanto dinheiro receitando quinino para Em quase todas essas operações, Flávio, o velho
os donos de seringais, que voltou à Paraíba rico. Flávio, participou, com sua orientação segura, trans-
, Passou a fabricar açúcar, sócio do seu irmão João ferência de influência, entusiasmo, e até com dinheiro .'
Ursulo, que foi o primeiro Ribeiro Coutinho a trocar
de ramo .
Deixou de criar boi, para plantar cana e indus- As constantes crises do açúcar
trializar a matéria-prima. Mas isso já foi na segunda o açúcar atravessa, a cada século, duas ou mais
década do século xx. crises, e o clã foi perdendo, e passando adiante essas
Este foi o século da família, que teve em Flávio empresas.
Ribeiro o chefe do clã, todos seguindo seus passos e, Antes, a própria família do poeta Augusto dos
por ele, foram perrepistas, argemiristas e udenistas. Anjos perdera dois engenhos, como também perde-
Mas, o forte não foi nunca a política ou os cargos ram sete propriedades os herdeiros do Barão do Ma-
que ocuparam . raú (1800 a 1870) e, em mãos da família Ribeiro Couti-
Foi, sim, o econômico. nho só existe, atualmente, a Usina São João.
Em determinado período após a Segunda Guer - Antes desse esvaziamento econômico, porém,
ra, os Ribeiros Coutinho tinham as seguintes usinas: Flávio, Odilon, Ribeirinho e Flaviano já haviam en-
. . .São João e ~anta Helena, gue pertenciam e eram tregado a alma a Deus.
dirigidas pe!os filhos de João Ursulo, ou seja, sete ir - Mas, foi essa geração a que avançou em todos os
mãos : João Ursulo Filho , Renato, Luiz Ignácio, Flávio campos .
Sobrinho, Cassiano, Odilon e Abelardo; a Usina Santa A família era, em 1910, 1915 e 1920, o que cha-
Rita, dos filhos de Flávio Ribeiro; a Usina Santana, de mamos hoje de "emergente" .
Flaviano e seus quatro filhos. Mas, uma emergência elegante, todos com di-
Em Pernambuco, dois filhos de Odilon, dois ba- plomas de cursos superiores .
charéis em Direito, Olívio e Manuel, adquiriram e
mantiveram, por alguns anos, a Usina Cachoeira Lisa.? A criação do Banco Comércio e Indústria
no Ceará, Ubirajara Ribeiro Mindello adquiriu a úni-
ca u,sina daquele estado; em Pirpirituba, os três filhos Flávio, o Doutor, o Velho, como ainda hoje é lem-
de Ursulo (Major Ribeirinho) montaram a Usina São brado, expandiu seus negócios além da Usina Santa
Francisco . Rita e do que herdara e mantinha, como são, no caso,
No Rio Grande do Norte, os filhos de João Úrsu- as fazendas de gado nos municípios de Pilar e São
10 (sempre eles) adquiriram o controle acionário das Miguel do Taipú .
Usinas São F rancisco, Ilha Bela (Ce ará-Mir im) e Esti-
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Também foi banqueiro. Hoje, os juros alcançam 14 por cento ao mês, e,
Criou, em 1946, o Banco Comércio e Indústria às vezes, mais.
da Paraíba ocupando, da data de fundação até a do E assim sendo, temos que chegar à seguinte con-
seu falecimento, em 1963, a Presidência da empresa . clusão: o clã Ribeiro Coutinho, no final do milênio, é
O citado Banco foi inaugurado com sede provi- apenas classe média, como já se disse .
sória na Rua João Suassuna, com a presença de co- Não pediu e nem foi obsequiado com favores e
merciantes e do Governador Oswaldo Trigueiro. facilidades pelos sucessivos ditadores dos anos 60, 70 e
Logo, mudou-se para prédio próprio, na esqui- 80.
na da Rua Maciel Pinheiro com Ladeira 5 de Agosto, '. . Antes pelo contrário.
no Varadouro .
O Gerente era João Raposo Filho, seu amigo, fi-
lho dos donos dos engenhos Outeiro e Vigário, na Vár- , . o Tenente mais rico do Brasil
zea do Rio Paraíba.
Os dois outros cargos na Diretoria eram ocupa- . Flávio Ribeiro Coutinho comprou, na segunda
dos pelos irmãos Odilon e Flaviano. década do século XX, a Usina Cumbe, vizinha à cida-
A empresa se expandiu e chegou a ter filiais em de de Santa Rita, construída por um pernambucano:
Santa Rita, Natal, Maceió, Rio de Janeiro, e mais duas Antonio Costa Azevedo, que voltou ao berço natal
agências em João Pessoa, nas ruas Duque de Caxias e para adquirir a Usina Catende, na cidade do mesmo
Beaurepaire Rohan, e duas em Recife, às ruas Dantas nome, e tornou-se o maior usineiro de sua época.
Barreto e Conde da Boa Vista. Pegou, também o apelido (ou posto?) de Tenen -
Em 1976, a política do Ministro Delfim Neto in- te da Catende.
viabilizou o funcionamento dos bancos médios, fazen- Uma coisa digo sem medo de errar: foi o Te nen-
do o jogo dos grupos economicamente mais fortes.' te mais rico do Brasil .
De uma hora para outra, ficou inviável a sobre- Igual, ou maior riqueza dos que integraram a
vivência de bancos como o Industrial de Campina Coluna Prestes."
Grande, Comercial, Aliança, Meirelles, e mais meia O Tenente, quando passou pela Várzea paraiba-
dúzia de bancos de Pernambuco, e mais de duzentos na, deu um nome estranho à sua Usina: Cumbe.
em todo o País. O que quer dizer esta palavra?
Delfim patrocinou as fusões, sob a alegação de Fui ao Dicionário do Aurélio e soube que Cum-
que só bancos grandes permitiram juros baixos. be quer dizer aguardente ou cachaça.
Na verdade, deu-se exatamente o contrário. Ora, já se viu!
Usina que é Usina fabrica açúcar para o café da
Até os anos 70, os bancos trabalhavam com juros
manhã, para o sorvete, para o picolé do menino da
de 3 por cento em média.
escola, e para as sobremesas.
18 O novo dono, ou seja, Doutor Flávio Ribeiro, deu
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nova designação à empresa : Usina Sa nta Rita, qu e Em Pernambu co, na fronteira com nosso E sta-
conservou até se exting uir, há dez anos . do, existem, até hoje, as Usinas Nossa Sen hora das
Nome de santa italiana, 'de viúva , de advoga da Maravi lhas e Santa Teresa, Nossa Se nhora do Ca rmo,
das causas impossíveis e, també m, da cidade, que nu n- Nossa Senhora de Lourdes, Santa Te rezinha, Santo
ca teve outra denominação. Inácio, e outros santos (as ), todas em Per nambuc o.
Falam que Cumb e era um quilo mbo existente
nas matas próximas, refúg io de escravos que, pel a
fuga, recuperavam a liberda de. Uma festa de arromba
Pode ser.
Mas, prati camente, não se sabe d isso muita co isa. Em 194 6, eu era aluno do Curso P rimário de Dona
Se houve esse quil ombro, não era locali zado onde
ficou a Us ina Santa Rita, um ter reno pla no, que não Tércia Bonavides, quando casou-se Nanhã (Ana Rita),
favorecia guerri lhas ou es conderijos, co mo era a aci- com Luiz Ignácio.
dentada topografia do Q uilombo de P almares. Eram primos e jovens .
A His tória reg istra e ngenhos f abricando açúcar O pa i da noiva, tio Flávio Ribeiro C outinho, re-
preto e aguardente na região , nas imediações , a partir cebeu , em s ua casa, à Rua das Trincheiras, a família e
do ano de fundação da Fe lipéia de Nossa Senhora das os amIgos.
Neves. Como fazia polí tica (presid ia o Diretório R egio-
O engenho do pai de An dré Vi dal de N egreiro s nal da UDN ), não era pequeno o se u círcul o social .
ficava tão perto da li que se ia a pé. Além do mais , era a prime ira filha a se casar, e
Outro, mais próx imo a inda, era o Engenho da ainda tenho gravadas na memória as f ofocas da festa
Ajuda (depois, Engen ho Velho ), de Duarte Gomes da e, principa lmente, os prepara tivos.
Silveira. A so lenidade real izou-se na igr eja de Lourdes, a
O Engenho Tibiry , obje to de val ioso estu do de menos de trezentos metros da residência da noiva, e a
Guilherme da Silveira de Á vila Lins, er a tão perto, rece pção foi no quintal da casa.
que não chegava a meia légua." Festão, e o "sereno " tomo u conta das port as de
Onde espaço para esconder os pre tos fugitivos? entrada.
Esses engenhos já estavam nesses sít ios an tes de Era gente de todas as classes: taxis tas ( na ép oca,
os holandeses desembarcarem em Cabede lo. chamados de choferes de praça ), empre gadas domés-
Nome de santo, naquele . tempo, er a moda. ticas , costureiras , etc.
Engenho ou usina se quisesse proteção e s uces- Os seguranças de sempre obsta culavam (o que é
so, que homenageasse um hóspe de do Céu . óbvio) a entrada de curiosos, e só o s con vidados ti-
As Usinas São João, Santa Helena, Santana e nham acesso.
Santa Maria que o digam." O número de penetras era gran de, a pont o de
promover um pe queno tumulto.
20 Aí apareceu o velho Flávio, em sua rou pa escura
21
corno ficava b em em urna so lenidade corno aquela, Os
celebrada pelo Padre Almeida." pol
Veio para colocar ordem no rec into, chamando ític
o feito à or dem, e p ara fazer valer sua autorid ade? os
Nada disso. tin
Chegou e chamou tod o mundo para dent ro de ha
casa. Todos, sem e xceção, determinando aos garçons m
que servissem à quela gen te, seus convidado s de últi- ta
ma hora, do bom e do me lhor: to dos comeram, bebe- mb
ram champanhe, v inho import ados, uísque, com bolo ém < <

confeitado e empa da de camar ão. Não faltaram peru seu


e presun to. s c ,

No dia seg uinte, no salão d e aula de Dona Tér- ape


cia, a men ina da, que tinha participado da festa corno lid
penetra, s ervindo-se cor no gente gran de, só f alava os:
nisso. O
Até ho je, considero o casame nto de N anhã a Ce
maior fe sta que já vi . go
Também foi a pri meira. era
Eu tinha, então, o ito anos de idade . Jos
é
A
Os amigos do Velho Flávio mé
ric
É perfeitamente na tural que os político s tives- o
sem apelidos e cognomes . Aqui e no mund o. Em ca sa de
ou lá fora . Al
Assim sendo, havia Felipe, o Belo; Dom Ma noel, me
ida
o Venturoso; Napo leão, Le Petit (corno di zia Victor ;o
Hugo de Napo leão lII) . A
No nosso País, na segun da meta de do século XX, ma
re-
entre os a rtistas, por exemplo, são co nhecidos a Sapo-
22
ti (Ângela Maria) e o Rei (Roberto Car los), por
exemplo.
10,9 Argemir o Figueiredo; Doutor Ruis era Ruy Car- to e!".
neiro, e Flá vio Ribei ro Coutinho era o Velho F lávio. c
a 23
. Sendo qu e este nome era urna forma carinhosa
de tratamento que lhe d ispensavam os amigos e o v
povo, em geral . a
Era a ssim que o chamava o Doutor Antonio Al- m
meid a (Deputado E stadual em 1947), e corno ainda o ,
chama, até hoje, o j ornalista Hélio Zenai de. e
O Velho Fl ávio, qu ando lançado candidato a Go - s
ol
vernador, foi combatido pelo advogado Re nato Tei- ta
xeira Bastos , que igualmente disputava o p leito. v
Argemiro, di sputando o Governo em 19 50 (e mal a
m
sucedido), fo i aconselhado pela ass essoria de José Pe - gr
reira Lira , seu ali ado e cand idato ao Se nado, a a dotar it
o amarelo corno cor de camp anha, fazendo di stribuir o
milhare s de lenç os, band eiras, a desivos e tudo na cor s:
amarela. Os hinos da campanha diziam, com todas as / fÉ
letras: "Do Partido do Amarelo todos nós queremos ser". o
O próprio Jos é Pereira Lira era chamado de Ca- V
chimbão, alusão ao seu hábito de fumar cachimbo em el
público , ainda que com fumo perfu mado, p roduto h
importado . o!
Cachimbo era usado , nesse tem po, pe la classe C, ",
no interirar das ca sas, e escondido . Lira deu s tatus ao o
vício. u
Além de Per eira Li ra, só um p olítico p araibano e
fumava seu cachimbo em público: Aureliano L era nt
ã
Ole-
o:
gário da Trind ade, saudoso Prefeito de San ta Rita, em
/fÉ
1982.10
Em 1958, no Rio G rande do Norte, a campanha
o
dividiu-se entre os partidár ios do Padre (Monsenhor
P
Walfr edo Gur gel) e do Vel ho (Sena dor Dinarte Ma -
a
riz), quando co rreligionári os de um e de outro lado se
dr
Mas, o Velho Flávio era a dotado p or ami gos e É pecado ser parente dos Santos?
inimigos, ou, para sermo s mais preciso s, Flávio Rib ei-
ro Coutinho não tinh a inimigos. Uma das acusaçõe s a Flá vio Rib eiro Coutinh o era
Todos eram, pa ra ele, de uma só fanúlia, a s ua, e a de ser net o, bisneto de cristã os-no vos. Ou isso era o
. isto lhe ba stava . que dizia Ademar Vida! .
Por out ro lado , o número de amigos mais ch ega- Quem era Ademar Vidal?
dos, conselheiros d e toda s as hor as, era im enso. Era auxiliar de p rimeiro time do Preside nte João
Lembro-me d e José Mário P orto e seus irmão s Pessoa, e seu biógraf o.
(Giacomo e Franci sco); de Br az Barac uhy; de Eugênio Genro do usin eiro Gentil Lin s, ou seja, um d os
Monteiro Carneiro, Osw aldo Trigueiro, João Medei- nossos, dos meus, ma is precisament e.
ros, Osório Abath, Newton L acerd a, Argemiro. Era usineiro (como eu). Foi m al sucedido. O so -
Tinham também out ros, mais s impl es, mas me- gro fa liu, mas Ademar fez-se marajá e é autor de qua-
recedores de estim a, entr e eles, José lnácio (lavr ador , se cem livros . Viveu na boa vida d e alto funcionári o
de cana em Santa Rita, e "Capitão", na boca do po vo); , público.
Nabuco (sexagenário corr etor, p aupérrimo, que n as- Cascavi lhou a vida do desafet o, ou seja, de Fl á-
ceu industrial de algodão, emSou sa) e Braguinha . Este via.
último muito par ecido com Gr egór io, o Anjo N egro Nada encontrou de mórbido ou algo parecid o.
do Presid ente Getúli o Vargas. Se os houvesse, teria armado um circo e rodad o
Além de super -armado e pr onto para qua lquer a ba iana.
necessidade, Braguinha cont ava anedotas e levava at é
Mas , mesmo assim, não quis entregar os pontos,
o Chefe o di sse-me-disse das ruas e do P onto de C em
e gritou pe las estradas da vida:
Réis.
- Flávio é judeu, cristão-novo, marrano. Inquisi-
O grande rep ertório d as piadas de Braguinh a é
conservado, de co r e sa lteado, por Everaldo Cant ali- ção nele!
ce, resident e em S anta Rit a, à Rua Juar ez Tá vora, e Pois bem: que fosse .
funcionário da Ass embl éia Legis lativa. Qua l o mal, e que vergonha há?
Na verdade, ao contrário do que se pode imagi- Ser parente dos santos do P rimeiro Te stamento
nar, o V elho Fl ávio gostava d e criar a nedotas, ouvir é pecado?
graças e de se divertir. Mas , o que hoj e é at é moti vo de orgulho, não o
Uma de suas pilh érias já usei no li vro "Poder, era na época .
alegria dos homen s", qu e repito agora: Na Europa, o anti-semitismo andava solto.
Pedia, a um c ompadre, em 19 45, o vo to para o ,J Na Alemanh a, se prendi a, se tomava os bens, se
Brigadeiro , candid ato a Pr esidê ncia da Re pública. torturava e, por fim, queima va-se jud eu (ou quem ti-
O am igo retrucou: Mas, compa dre, dizem que vesse uma gota de sangue semita), sem dó nem pie -
este homem é capado. dade .

24 25
A Alemanha de Hitler submeteu quase todo con- José Vitalino C arvalho R ocha) , e pr onto.
tinente. Esse s três farmacêuticos só e ram superados, em
Havia até quem quisesse esse regime no Brasi l. bom atendime nto e c ompetência, po r um colega de
Na me lhor das hipó teses, acusar a lguém de ju- Araruna, o p ai de Humberto Fonseca .
daísmo era hu mor negro . Com tudo i sso, Flávio Ribeiro Coutinho impli-
Flávio nunca respondeu, negando o u co nfirman- cava.
do, essa versão . Achava pouco .
Até hoje, tenho minhas dúvidas . Queri a a cidade que adotar a como sua um mo-
Em Amsterdã, existe a Sinagoga Israe lita-Portu- delo, coisa de primeiro mundo.
guesa, cujo rabino é Me ndes Co utinho. Decidiu, então , construir um hospital .·
Será ou não será uma ponta de ice berg que deve A idéia de ver o nosocômio funcionando lhe ti -
ser melhor estu dada pelos genea logis tas? rava o sono.
As feições , os traços físicos de tod os os se us fa- Aliás, era este o maior problema dos seus últi-
miliares podem comprovar a versão . mos anos de vida .
Como po lítico, seu ú nico defei to seria es te? Não Por que se preocupar com outra coisa?
haveria outro? A Usina S anta Rita ia muito bem, com um ge- .
Então, ótimo: a causa está ganha. rente que não tinha defeito. Na balança, estava Ces-
Ser judeu, ou descen dente de judeu, não é, não lau Gadelh a, com o qual n ão havia dúvida de peso,
pode ser apontado como defeito de ninguém.
nem pra mai s, nem pra menos.
Antes pe lo contrário.
A política, seu eterno passatempo, dava para ir
tocando.
Uma louc ura q ue valeu a pena Desafiara um Presidente, em 1930, perdera seu
mandato de Deputado Federal .
Há q uatro décadas, toda assistênc ia médica, e m Mas, mal de muitos consolo é .
Santa Rita, era quase nada. Quem esta va sentado na cadeira de Senador pelo
O melhor mesmo era pegar a " sopa" (ônibus) ou Estado do Rio Parahyba do Norte?
carona em qualquer automóve l, e vir se receitar o u se José Gaud êncio, em quem votara, um líder do
operar com Osório Abath , no Hospital São Cristóvão seu pa rtido, ou o outro. Ou Manuel Tavares Caval-
(hoj e, o nome cer to é Newton Lacerda ). canti, homem de Alagoa Nova, autor de um livro fá-
Quando a dor era peq uena, passag eira, o doente cil, de nome difícil - "Epítome" .
ia à farmácia de Azevedo (pai de Walte r Azeve do), de Quem? Qu al dos dois?
Odon Leite (pai de Clodomir, depois deputado fede- Pois vejam: nenhum .
ral por Pernambuco) , ou na de Seu Zezé (verea dor Vitor iosos, os liberais fecharam o Congresso por
quatro ano s.
26
27
Todos perderam . Nunca o comércio , a indústria e a agricultura
E ele fora procurado, em casa, na Usina San ta saíram-se tão bem.
Rita (ex-Cumbe) pelo Governador Arg emiro Figuei- Doutor Get úlio não e ra perrep ista, era um pai
redo, e voltara a s er ouvido e consultado, a e leger pre- para os pobres.
feitos do m unicípio e da região. E para os ricos ? Uma verdadeira mãe .
O primeiro Interventor , ainda imat uro, chegara Doutor Flá vio (é melhor chamá-lo assim, pois
a suprimir a emancipação de Santa Rita, com o fim de assim era como o povo o chamava) pensava dessa for-
hospi talizá-lo. ma.
Argemiro reabili tara o município, com Pre feitu- Um dia, se decidiu: ir ia ser sua luta para o que
,
ra própria e e leiçõe s, voto secreto e v oto femi nino, \

desse e viesse:
dando-lh e muito m ais prestígio do que no tempo das Construir um Hospital novo, grande, para caber
atas falsas, dos votos de cabresto, nos quais nunca fora todo o seu povo, e o médico-chefe seria seu filho, João .
tão bom quanto os bacharéis e os b urocratas . Chamou João Crisóstomo e foi claro:
Mas, no Bras il, nada dura muito tempo. Tudo é - Olha, eu faço um hospital em um ano e, se qui-
efêmero.
ser, em seis meses. Se é loucura, vale a pena. Em en -
As co isas são passageiras . crenca maior já me meti e minha protetora, a Santa,
Veio 1935, com os comunistas a meaçando botar me livrou . Vou construir sozinho essa ca sa de saúde,
fogo em tudo.
ainda que tenha de vender para o açougue de Zé Duré
Vieram os in tegralistas prome tendo pintar de
o último boi de Jatobá . Mas, para fazer um filho mé-
verde tudo o q ue era canto da terra, gara ntindo (dizi-
dico, pa ssam-se cinco anos . Você vai (não me respon-
am) a verdade única, a fé única, a raça única, e a cor
da) fazer vestibula r no Recife, vai se formar, e eu vou
única.
construindo o hospit al devagar, comprando os equi-
A Interventoria de Ruy Carneiro era branda e
pamentos e inst rumentos cirúrgicos. Quando menos
conciliadora, sem perseguição a ninguém.
se esperar, vou fazer uma festa só para comemorar
Até José Pereira, do qual não se ouvia falar, há
sua formatura e a inauguração do hospital . Quem for
cinco anos, vol tou para sua casa, sua terra , para cui-
vivo, verá .
dar de sua fa mília.
Mas, Deus não quis assim .
Mas, dia e noi te, vinha aquele mesmo son ho:
João Crisóstomo fez vestibular, foi aprovado , e
A Casa de Saúde, o Hospita l, o seu povo, seus
os pedreiros começaram a edificar o hospital no Papo
empregados e se us compadres, todos sem assistên cia
da Coruja, era assim que se chamava o sítio de sua
médica.
propri edade, e onde está, hoje, instalado, o Hospital
Como fazer para ajudá-los?
Governador Flávio Ribeiro Coutinho, nome que foi
Mas, o tempo de guerra, em termos econômicos,
colocado após sua morte.
foi uma paz.
Mas, Doutor Fl ávio não era Deus.
28
29
Era apenas filho de Deus e correligionário de al- Aí, viu -se uma ONU dentro do Céu, com a ju -
guns santos graduados e superiores hierárquicos na daizada cristã enfrentando os europeus refinados .
Corte Ce lestial . Bem, isso já é conversa para quem já morreu, ou
O seu tempo, na vida material, estava escrito no ouve os que já morreram (que é o meu caso e o de
Grande Livro do Destino. Hélio Zenaide ).
O tempo ia passando, os dias correndo ligeiro, Mas, tudo se resolveu, com o seguinte veredicto:
morrendo uns, nascendo outros, mas todos envelhe- a paz volta ao Céu (onde só há briga para se sentir as
cendo. delícias de se fazer as pazes).
Os santos de seu partido tentando, por todos os Doutor Flávio não teria um dia a mais e um d ia a
meios, parar o tempo. Queriam, mais do que o velho menos de vida.
Flávio, a obra construí da e distribuindo saúde ao po - Mas, nos últimos anos, ele seria contemplado com
vão. ,
Aí foi a vez de Santa Rita, Santana, de todos aque - , o Governo do Estado do Rio Parahyba do Norte que,
no fundo de sua a lma, era seu dese jo.
les santos primitivos, que tinham pelo Doutor Flávio E o seu filho se formaria em Medicina quando a
um carinho especial, eram judeus (como ele), como construção do hospital fosse conclu ída.
era também judeu o próprio São José Carpinteiro, e Dois ou três anos depois, Flávio, já no Governo,
Nossa Senhora da Conceição, todos interferindo . é acometido de um A Vc , licencia -se e depois renun -
Val ia o espírito de corpo, a solidriedade de sem- cia.
pre. Com a morte do pai, João Crisóstomo tem de fi -
Foram a Deus (claro que a toda hora chegam ca - car à frente da empresa, retorna à Paraíba, e fecha a
sos desses para Jeová resolver , ou Ele morreria de té - matrícula na Universidade.
dio), e leram o Relatório. O preço do açúcar cai, no mercado, a construção
Os santos anti-semitas ficaram amuados, de cara do hospital pára .
fechada . Santo Agostinho resmungou pelos cantos, e
Mas, para os fortes, não há derrota .
São Tomas Morus, inglês e intelectual, ia, mais uma
Hoje , vejamos o placar final: a direção da Usina
vez, armando das suas, como já fizera na Corte do Rei
Santa Rita (filhos de Flávio e Berenice ) doam o edifí-
Henrique VIII .
cio quase concluído a uma instituição filantrópica da
Mas, aí, Santa Joana D' Arc, camponesa, francesa
Holanda, dirigida por Irmãs de Caridade, papistas,
(por isso mesmo vive arengando com os santos ingle-
para finalizarem o prédio e colocarem o hospita l em
ses) se meteu no meio e ameaçou o autor de" A Uto-
funcionamento, servindo a pobres e ricos.
pia" com sua afiada espada.
João Crisóstomo retornou à sala de aula, trocan -
No Céu, ninguém sente dor, mas que a espada do a Faculdade de Medicina de Recife pela de João
corta , isso é verdade. Pessoa, e pega o canudo de pape l que o torna Médico
30 até o fim dos seus dias.
31
Flávio Ribeiro e a Primeira República vinte anos .
Quando falava em restrição, na verdade, Furta-
À primeira vista, Flávio Ribeiro Coutinho pode do queria dizer vingança, exclusão.
ser considerado um político santaritense, com muita Pois bem, Flávio foi surpreendido (poderiam di-
honra para este município. zer seus adversários) com a implantação do voto se-
Mas, a rigor, nasceu em Gurinhém, na Fazenda creto e do voto feminino.
"Chaves" que, à época, pertencia ao município de Pi- Em 1933, não disputou nenhum mandato, mas
lar, um dos mais antigos do Estado, que já existia, quan- seu grupo político sim . Elegeu-se o Deputdo Adalber-
to Ribeiro; todos os prefeitos de Santa Rita, Espírito
do éramos apenas Capitania: surgiu como aldearnen- Santo e Sapé eram seus aliados.
to de indígenas catequizados pelos inacianos da Com - A região da Várzea constituía perto de 10 por
panhia de [esus." cento do Estado . Pois Santa Rita começava nas mar-
Formando-se em Medicina, em Salvador (Bahia), gens do Rio Sanhauá e ia ao oceano.
voltou à terra e depois se estabeleceu no Pará, viven - Em outras palavras, faziam parte de seu territó -
do o Ciclo da Borracha. rio os distritos de Barreiras e Lucena, hoje municípi -
Demorou pouco tempo e retornou à Paraíba, os. Sendo que Barreiras, no fim da última guerra, tro -
onde abriu consultório médico em ltabaiana. Deve ter cou de nome, passando a chamar -se Bayeux, em ho -
sido o primeiro médico residindo na próspera cidade. menagem à primeira cidade francesa localizada nas
Tudo isso na Primeira República . imediações do Canal da Mancha, libertada pelas tro-
Trocou ltabaiana por Santa Rita, ao se tornar só- pas aliadas.
cio da Usina São João e, logo após, proprietário da Já Espírito Santo," cortado pelo Rio Paraíba, fa-
Usina Cumbe, a qual pertencia ao Tenente Costa Aze- zia fronteira com Pernambuco, pois integrava-o Pe-
vedo, pernambucano que retornou à terra natal, onde dras de Fogo, indo até perto de Pilar . São Miguel de
passa a dirigir a Usina Catende, o maior parque açú- Taipú era, igualmente, território de Espírito Santo.
careiro daqueles tempos . E Sapé? Chegava às terras do então município
Mas, durante a Primeira República, Flávio Ribeiro de Guarabira. Era solo sapeense Araçá, mais tarde re-
batizado de Mari, e igualmente emancipado.
assume a atividade política e está na contra-mão da Tudo sob a orientação de Flávio Ribeiro Coutinho.
História, quando ocorre a Revolução de 1930, tudo Para tanto, não aderiu, mas se aliou, somando
indicando que chega ao fim sua carreira política, sa- todas as forças políticas do Estado à pacificação pro-
bendo-se como ficaram os perrepistas. posta por José Américo .
Em recente entrevista, o escritor Celso Furtado, Quase tudo dava certo pois, pela segunda vez
testemunha de tudo o que ocorreu no Estado do Rio no século, um paraibano chegou a disputar a Presi-
Parahyba do Norte, naqueles dias, ainda que menor dência da República.
impúbere, disse que a restrição aos perrepistas durou
33
32
Mais do que perrepista, Flávio Ribeiro era parai- nalista do que qualquer outra coisa, diretor de "O Co-
bano . mércio"; Manoel Castro, o maior comerciante de en-
O voto secreto e feminino o favoreceu. tão que, infelizmente, faliu, e se retirou da Paraíba
. Nada dependia mais do chefe político, da políti- para o Rio de Janeiro; Manoel Londres, farmacêutico
ca palaciana, da indiferença à opção popular, das atas e avô dos médicos Jacinto e João Medeiros Filho; Izi-
adulteradas, da imprensa arrolhada. dro Gomes, também advogado e político; Virgínio
Como era de excelente visual, bonito (mesmo já Veloso Borges; Hermenegildo Di Láscio, italiano, na-
em idade avançada), ficava mais fácil se fazer aceito turalizado brasileiro, construtor e arquiteto. Entre
no meio feminino. outros.
Quem freqüenta o auditório do IHGP, em João Em 1937, Flávio Ribeiro Coutinho foi eleito seu
Pessoa, observe a galeria dos ex-Governadores (Presi- Presidente .
dentes) paraibanos, onde os retratos de dois deles se Em 1939, quando o Governo Argemiro Figueire -
1<'
sobressaem neste campo: são F lávio Ribeiro Coutin ho do era combatido por gregos e troianos, a reeleição de
e Oswaldo Trigueiro. Presidente da Associação Comercial foi acirrada .
Parecem até confirmar o grito dos comícios ude - Flávio obteve 84 votos, e seu opositor, João Amo-
nistas: . rim, 16 .
C?swaldo Trigueiro Quem era João Amorim?
E bonito e é solteiro. Foi dono da Fábrica de Cigarros que funcionava
na Cidade Baixa, no prédio ocupado, hoje, pela Pre-
feitura Municipal de João Pessoa, perto das ruas Gama
Associação Comercial: e MeIo e Cardo so Vieira .
A vanguarda em defesa dos produtores Diga-se de passagem: foram criminosas as refor -
mas realizadas nesse edifício, em 1956, que perdeu sua
A atuação da Associação Comercial da Paraíba fachada de características Art-Decor.
j~ foi decisiva na formação da opinião pública, parti- Hoje, não é mais nada, apenas um marco histó-
cipando de tudo que dissesse respeito ao Estado . rico mutilado.
Foram da maior expressão os presidentes da en- Mas, só se perpetrou esse crime anos depois do
tidade que, para alguns, era considerada apenas por- desaparecimento de João Amorim. Bem, isso é outra
ta-voz das classes conservadoras. estória.
Na rea lidade, era a vanguarda em defesa da Pa- A fábrica produzia cigarros para as classes me-
raíba. nos favorecidas, destacando -se os das marcas "Popu -
Na galeria de seus ex-Presidentes, encontram-se lar" e "Deliciosos" .
nomes de expressão, como: Brito Lira, ex-dono da Usi- Terminou sendo sufocada pela Souza Cruz, que
na Cumbe e da Fábrica Tibiry; Artur Achiles, mais jor- dominava 98 por cento da indústria tabagista nacional.
34 35

J
Enquanto viveu, João Amorimfazia política e era Porta-voz do Comércio, Indústria
ligado ao Senador Epitacinho, tendo hospedado, di - e Agropecuária
versas vezes, o líder maior do PTB, Getúlio Vargas,
em sua casa, na Praça Castro Pinto, imediações da Av. À frente da Associação Comercial (1939 /1941),
João Machado. Flávio Ribeiro Coutinho ocupou todos os espaços para
Passava o dia vendo suas operárias, enrolando proteger o Comércio, a Indústria e a Agropecuária da
cigarros (todo o trabalho era semi-artesanal), ou to- Paraíba.
mando cafezinho na esquina, em companhia do De- Interpretou o que pensavam as classes produto-
putado Antonio Pereira de Almeida, falando sobre o ras prejudicadas pelos concorrentes de Recife e Natal,
c, '
Chefe Nacional, ou o Patrão, como o chamava Alzira que gozavam do direito a fretes mais baratos no em-
Vargas." barque de seus produtos (algodão, principalmente)
Em 1939/1940, conspirou, em companh ia de nos navios .
Hermano Sá, JOSé Leal e outros, a derrubada de Arge- Aliás, a nossa cotonicultura viveu seus melhores
miro, o que foi conseguido. dias, exportando para a Alemanha .
Isto, porém, não obstaculou que, em 1947, esse Mas, inesperadamente, o Governo Federa l im-
grupo se aliasse ao Interventor deposto para eleger pediu a aquisição dessa fibra pelo Governo alemão.
Oswaldo Trigueiro para Governador, e Epitacinho, Tudo para atender aos Estados Unidos, já às vésperas
para suplente de Senador. da Segunda Guerra Mundial .
Tudo com a participação e aprovação de Flávio. Mesmo assim, a Associação Comercial da Paraí-
Tanto assim que Epitacinho foi suplente de Adal- ba procurou o Governo Federal, na tentativa de en-
berto Ribeiro (eleito para o Senado no ano anterior ). contrar uma saída honrosa para a crise .
A comemoração do pacto realizou-se com um Em outras palavras: em parte, bancamos a guerra.
jantar opíparo, na casa da Rua das Trincheiras, onde o Defendeu, ainda, os produtores de vinho de caju
velho Flávio residia . e jenipapo que, de uma hora para outra, viram-se a
João Amorim era tio de Ieda Regis (filha de José braços com uma taxação excessiva.
Régis) que, em 1948, casou-se com Cassiano Ribeiro O pleito da entidade (dirigida por Flávio) foi
Coutinho, sobrinho do velho Flávio. atendido, permitindo a produção de vinhos tradicio -
Como estou sempre repetindo: brigas, empur- nais, como os da firma Tito Silva, fábrica locali zada à
rões, desaforos, não eram o forte da maneira de Flá- ,,' Rua da Areia .
vio, e de muitos paraibanos, fazerem política (nem Ele lu tou, também, para trazer até o Es tado do
todos, infelizmente) . Rio Parahyba do Norte, o cabo submarino, na época ,
Já havia quem considerasse a Política uma arte o mais avançado meio de comunicação, sem o qual as
de povos civilizados. firmas exportadoras de algodão, couros, etc., não teri -
am competitividade no mercado internacional .
36
37
Uma perseguição que durou o Tudo na marra, muito próprio para um delega-
vinte anos t do de ditadura.
r Mas, para surpresa de todos, quando José Amé-
Apuradas as urnas do pleito de 1945, após a â rico concedeu ao jornalista Carlos Lacerda a famosa
que- n entrevista, lançando a candidatura do Brigadeiro
da do Estado Novo, nossa terra elegeu dois Senado- s
res: Adalberto RodriguesRibeiroe Vergnaud i
Wanderley. t
Eram os primeiros senadores eleitos pelo voto o
secreto, em toda nossa História, e com concorrentes. .
Como se sabe, o voto secreto foi implantado nas D
e
eleições de 1933, as primeiras após a Revolução (?) u
de u
1930. m
Caí em erro no que dizer? Não, pois no Estado a
do Rio Parahyba do Norte, nos anos 30, nenhum polí- f
e
tico concorreu ao Senado Federal pela Oposição. i
Ou porque o candidato José Américo tinha a ç
unanimidade dos paraibanos que o julgavam herdei- ã
ro natural para ser Presidente da República (de fato, o
foi candidato em 1937, mas o golpe o tirou do páreo), m
o
ou porque deu certo o acordo entre os ex-aliancistas e d
e
ex-perrepistas, todos unidos por Argemiro Figueire- r
do. Foi tudo na base do conchavo. n
Tubo bem. a
à
Mas, voltemos aos Senadores Adalberto Ribeiro
c
i
e W anderley.
d
O segundo foi nomeado, em 1940, Prefeito de
a
Campina Grande, e fez uma administração Nota 10,
d
abrindo ruas, desapropriando casas que obstaculavam
e
.
Eduardo Gomes à Presidência, o primeiro
telegrama
38

"'
t rinho forte.
u Por isso mesmo, não o contemplaram com ne-
r nhuma sinecura, de marajá ou membro do Tribunal
m de Contas.
a Adalberto, ainda muito moço, namorou, noivou
d e casou-se com Otaviana Ribeiro Coutinho, filha do
o Major João Ribeiro da Silva Coutinho.
p Logo de saída, ocorreu uma coincidência de no-
a mes: ambos eram Ribeiros, ainda que não fossem pa-
r rentes, coincidência que ora ajudava ora prejudicava.
a 39
de aplausos que recebeu foi do Prefeito de Campina i
Grande, o citado Wanderley . b
. Após isso, não havia mais clima de permanecer a
como homem de confiança de Ruy Carneiro, que re- n
presentava aqui o Estado Novo. o
Entregou o cargo e foi para casa. A
É óbvio que a UDN recém-fundada no Estado u
por José Américo e Argemiro, ficou com uma dívida g
moral para com Wanderley, que por isso mesmo foi u
lançado candidato a Senador . s
Mas, a campanha, ao contrário das maiorias rea- t
o
lizadas até então, (quase unanimidades) na disputa d
pelo Senado, teve luta. o
O PSD, de Ruy Carneiro, partido dos interven- s
tores, lançou os nomes de José Pereira Lira e Antonio A
n
Guedes, secretário da Interventoria, advogado e filho j
de Guarabira. o
Pereira Lira foi o outro candidato pessedista ao s
Senado. .
Foi luta dura, disputada, o que não era hábito. Não
Mas, voltemos a Adalberto Ribeiro, natural do tinh
vizinho Estado de Pernambuco, onde também estu- a
dou e formou-se em Direito, sendo companheiro de pad
Adalberto veio para o nosso meio e terminou Em 1945, c omo já disse, foi eleito Senador.
como a maioria dos seus cunhados. . A essa altura, perrepistas e liberais já conviviam
Fundou a Usina "Espírito Santo", a três quilô- em paz, e foi suplente de Adalberto, perrepista, o fi-
metros da cidade de Cruz do Espírito Santo , bem per - lho do Presidente João Pessoa , o irrequieto Epitacinho.
to da linha férrea e da estação d e trem. Também conc orreram, neste pleito, dois candi-
Isto era da maior importância, numa época em datos registra dos pelo PCB: o advogado João Santa
que o transporte rodoviá rio ainda estava engat inhando . Cruz e Carlos Prestes, qu e obtiveram pequena
Ele era também engenheiro prático e fez o que votação.
pôde para conseguir sucesso na empresa sucro -alcoo-
leira qu e montara. , ;

Lutou durante mais de dez anos, de 1912 a 1932 , A Bancada de Princeza


mas terminou vendendo a usina à vizinha "São João",
de seu cunhado João Úrsulo e, hoje, só restam ruínas Reconheci, no lançamento de uma plaquete so-
da casa grande e do prédio onde se fabr icava o açúcar . bre M anuel Tavare s Cavalcanti, que os adversários do
O bueiro es tá de pé, protestando contra o aba n- autor de "Epítome" foram chamados, com justa ra-
dono a que foi r elegado . zão, de Deputados de Princeza pela irreverência po -
Mas, alguma coisa resiste ao tempo? pular.
A capela, pequeno monumento, onde sempre há Foram os po líticos Perrepistas, que se julgavam
missa e freqüentes novenas aos santos prestigiados com direitos rigorosame nte iguais aos que se fi liaram
pelos devotos: São João, Santo Antoni o, São Pedro e à Aliança Li beral. Pretendiam mu ito.
Santana. Ao que se pode deduzir, os pessoístas, a liancis -
Sua filha, Maria de Lourdes, com 91 an os, está tas, ou qualquer nome que eles tenham - e seus segu i-
passando uma t emporada com sua irmã, Nazaré Aba th, dores - chegaram ao fanatismo de estranha r a pre -
sença, na pugn a eleitor al de março de 193 0, de outra
viúva do uro logista Osório Abath e pai do també m chapa, dando opç ão ao eleitor de votar em o utro can -
urologista Aba th Filho, conhe cido pe los mais próxi- didato que n ão fossem a queles a pontados pe lo tio e
mos como Osor inho. pelo sobrinho que mandavam no Estado do Rio Pa -
Adalberto, deixando a vida privada, foi eleito, rahyba do Norte, há quinze anos.
em 1933, Deputado Estadual, e deu con ta do recado, É bem v erdade que, no papel , qualquer eleitor
votando com as propostas enviadas por Argemiro Fi - poderia se candidatar a qualquer cargo. No pa pel...
gueiredo à Assem bléia Legislativa, de fendendo-o de Na eleiçã o de 1930, mulher ou homem an alfabe-
"
acusações levianas . .' to eram r igorosament e iguais frente à legislação elei -
Representava, politicamente, a família da mu- toral: impedido s de votarem e sere m votados".
lher, a qual fizera sua . Tornou-se um irmão para os 1930 foi, de qua lquer forma, um ano que come-
cunha dos. çou diferente .
40 41
Os Presidentes de Estado (Governadores ) nunca teatro famosas . Como se vê , não era o tipo de coronel
tinham problemas com eleitores ou com político s dis- como o pintaram ou pintam até hoje.
sidentes . Outro alidao seu era Acácio Figueiredo, advoga-
Solon, Camilo, Suassuna e outros não enfrenta- do com escritório em Campina Grande, que viveu do
ram uma luta, uma campanha propriamente dita. exercício da profissão. Não voltou a disputar qualquer
Foram eleitos como candidatos únicos e, duran- pleito. Como podia ser coronel, se viveu de uma pro-
te o mandato ou na sua sucessão, tudo era céu de bri- fissão liberal? Tinha, é verdade, uma pequena propri-
gadeiro. Para eles, claro. edade, quase um sítio para recreio, como hoje o Presi-
Já em 1930 foi outra coisa. dente FHC tem, e nem por isso é considerado propri -
Um grupo de políticos oriundo de diferentes seg- etário rural .
mentos ou vertente somou-se, apoiando-se mutua- Oscar Soares viveu a maior parte de sua vida no
mente, e se lançaram numa aventura. Rio de Janeiro . Fundou, no Estado do Rio Parahyba
Contrariaram o Pres idente do Estado . Pagaram do Norte, o jornal "O Norte", e é tio-avô do roman-
caro pela ousadia . cista J ô Soares. Como era coronel, ou "coroné" na boca
Este contava, logo de saída, com todos os Prefei- do povo?
tos e os Delegados de Polícia. A chapa situacionista tinha raízes rurais bem
Sim, porque os Prefeitos eram nomeados e, a um mais fortes.
simples sinal de independência, seriam demitidos e Para o Senado, por exemplo, a disputa era entre
perseguidos. José Gaudêncio e Manuel Tavares Cavalcanti.
Com tudo isso, porém, homens como João Suas- Um e outro eram filhos de fazendeiros, sendo
suna, Flávio Ribeiro Coutinho, Acácio Figueiredo, que Manuel Tavares foi herdeiro do Engenho "Geral-
Oscar Soares e José Gaudêncio botaram o time em do", terra mais fértil e mais valorizada que q ualquer
campo. fazenda do Cariri, área de influência da famí lia Gau-
Foi coragem para dar e emprestar. dêncio, que ainda hoje faz política.
Mas, vamos aos deta lhes: quem eram os aliados Acácio Figueiredo era irmão do Deputado Esta -
de Flávio Ribeiro Coutinho? dual Argemiro Figueiredo, anos após, eleito Gover -
João Suassuna, advogado, orador brilhante, De- nador pela Assembléia Legislativa, e permanece como
putado Federal e ex -Presidente do Estado. Casado com Interventor, após o Golpe do Estado Novo, em 1937 .
Dona Rita Vilar Suassuna, teve filhos, entre os quais o Em 193 0, Argerniro e o irmão citado se separam
médico João Suassuna Filho, o pediatra Marcos, o uro- politicamente e Argerniro, hábil como sempre foi, fi-
logista Saulo, e o advogado Lucas, que foi de todos o cou ao lado do Of icialismo Estadual, deixando o cam -
único a d isputar eleição. Foi eleito Deputado Estadu- po da aventura e do Quixotismo ao irmão Acácio.
al e tinha raízes em Taperoá . Para concluir, Ariano, o Mas, por que Bancada de Princeza?
autor de "Auto da C ompadecida ", e outras peças de Porque, como não havia nenhum respeito ao
voto, não havia, também, qualquer respeito à ver da-
42
de das urnas, pois, além da apuração, havia o terceiro A Bancada de Princeza tinha gabarito para re-
turno, ou seja, o reconhecimento ou não dos parla - presentar qualquer cidade do mundo.
mentares que compunham a Câmara e o Senado. Todos tinham diplomas de Cursos Superiores.
E a Comissão da Câmara dos Deputados depu- Não eram nem comubembesnem deputados da mala
rou os candidatos pessoístas, elegendo a chapa da comprando votos ou editando calendários às custas
Oposição. do Senado.
Mas, essa Comissão não foi uma invenção de úl- O nível era, portanto, superior ao dos nossos atuais
tima hora. parlamentares .
Existia há décadas .
Neste estranho colégio eleitoral, foi vitoriosa a
bancada oposicionista, da qual Flávio fazia parte . Militância política e coragem
Eram as regras do jogo.
Uma militância política não se faz apenas quan-
Todos as aceitavam, contanto que ganhassem as
do se é candidato ou se exerc e um mandato.
eleições.
Foi assim com o Doutor Flávio Ribeiro Coutinho
Princeza, o município liderado pelo Deputado
que participou, de 1934 a 1937, da política, sem dispu-
José Pereira, se rebelara, s e separara, se constituíra em
tar nada .
Território Livre, aprov eitando-se de fazer fronteira
O ex-Governador Trigueiro, em recente trabalho,
com outro Estado, no caso, P ernambuco.
destaca o empenho do Doutor Flávio na campanha
Então, os Deputados que não eram pessoístas,
de José Américo, candidato à Presidência da Repú-
ficaram chamados de Deputados de Princeza . blica.
O último Deputado p errepista foi Artur dos Anjos.
Fez o que pôde, se deslocando ao Rio, levando
Quem era este senhor? Podem me perguntar os
ajuda financeira necessária à campanha".
mais jovens?
Ficou ao lado de Argemiro, quando se iniciaram
Respondo-lhes de forma definitiva:
os ataques dos descontentes com a atuação deste Go-
Tratava-se do irmão d o poeta Augusto dos Anjos.
verno, e, nas últimas horas, foi ao Palácio - distante
Nasceram em berço d e ouro, herdeiros do Enge-
300 metros de sua residência - enfrentar a malta que
nho Pau D' Arco, mas foram vitimados pela falência ameaçava invadir e depor Argemiro, ou mesmo agre-
da família .
di-lo fisicamente.
Ficaram de mãos vazia s, Foram horas difíceis. Mas, com coragem e pru-
Foram rebaixados à cl asse média. dência, a crise foi contornada.
Antes da quebradeira do Pau D' Arco, concluí- Nada impediu que, em 1947, recebesse em sua
ram o curso superior Augusto, Artu r, Odilon, e todos casa Epitacinho, e celebrasse um acordo político em
os Anjos jovens. torno do nome de Oswaldo Tri~ueiro para Governa-
A chapa não fazia ver gonha a quem quer que
seja. 45
44
dor, contemplando como Suplente do Senador Adal- Todos jogaram às claras, sem cartas marcadas e
berto Ribeiro, o filho de João Pessoa, assegurando, ain - sem jogo sujo.
da, a presença de Getúlio Vargas nos comícios nas duas Em Santa Rita, nunca ocorreu briga de foice no
escuro, assassinatos ou espancamentos nas campanhas
principais cidades do Estado: a Capital e Campina eleitorais, ainda que todas foram disputadas e, em al-
Grande. gumas, o candidato apoiado por Flávio tenha perdi-
Sempre pertenceu a um só partido, mas suas bri- do.
gas com os adversários eram pequenas, não passando E daí?
de divergências políticas, o que permitiu, em 1955, que Aceitavam-se todas as vertentes, e as regras eram
saísse candidato a Governador indicado pelos parti- claras.
dos mais fortes. Considerava-se Democracia como a convivência
Não teve contra seu nome nenhum veto de al- dos contrários .
gum Deputado Federal ou Senador. Por exemplo, em 1945, o Brigadeiro e os candi-
Mas, na Assembléia Legislativa, o Deputado He- datos udenistas ao Senado perderam por pequenas
raldo Gadelha, do PSB, apoiou o advogado Renato diferenças .
Bastos, candidato a Governador pela esquerda. Registre-se que o municípo de Santa Rita chega-
va ao quintal do Palácio da Redenção.
Bayeux, distrito santaritense, e João Pessoa, ti-
o voto secreto mudou nham como marco divisor as águas do Rio Sanhauá.
o rosto do Brasil Em outras palavras, ia-se a pé de qualquer rua
da antiga Barreiras até o Ponto de Cem Réis, em meia
A implantação do voto secreto mudou a paisa- hora.
gem política do Brasil . Nos bairros, subúrbios e periferia da Capital, re -
Assim, ninguém podia mais ser senhor de bara- percutia o assistencialismo de Alice Carneiro, esposa
ço e cutelo, dono do presente e do futuro de um mu- do Interventor Ruy Carneiro, a qual fora a primeira
nicípio ou de uma região. Presidenta da LBA, distribuindo telhas, agasalhos, col-
O povo ocupou um espaço bem maior no cená- chões, dentaduras, fardas e outros auxílios ao povão.
rio e palco das decisões. Mas, já na eleição seguinte, em 1947, para a As-
Flávio Ribeiro Coutinho aceitou as novas regras sembléia Constituinte (posteriormente transformada
e, por incrível que pareça, foi beneficiado por elas. em Legislativa), Flávio Ribeiro Coutinho é eleito De-
Mas, teve concorrentes e adversários políticos. putado Estadual e primeiro Presidente da Casa.
Abiatar Vasconcelos (PTB), Arnaldo Bonifácio Ser Presidente da Assembléia Legislativa equi-
(PTB), Diógenes Chianca (PSD) e Heraldo Gadelha valia, à época, a exercer a Vice-Governadoria.
(PSB) foram lideranças que coexistiram com a sua, e Isto permite a Flávio substituir o Governador
não vejo razão para omitir esses nomes.
47
46
Trigueiro, quando se licencia para viajar ao Rio, a tra- pras semanais (especialmente carne verde) naquela
to de interesse do Governo. cidade.
O líder pessedista Diógenes Chianca não chega Em 1950, ou a partir daí, aparecem Abiatar Vas-
à Assembléia nos pleitos de 1950 e 1954 . concelos e Arnaldo Bonifácio.
Também não consegue se eleger Prefeito em Não conseguindo êxito na liderança oposicionis-
1947, ta a Flávio, Diógenes Chianca foi substituído por Abi-
sendo suplantado pelo médico Flávio Maroja Filho, atar Vasconcelos e Arnaldo Bonifácio.
como ele também ex-Prefeito santaritense. Na verdade, nas proximidades da Capital, o dis-
Diógenes Chianca participara da Aliança Libe- curso da luta de classes encontrava ressonância.
ral e sempre seguiu a orientação do Senador Ruy Car- Chianca e Flávio eram proprietários rurais, e da
neiro. classe alta, bem apessoados, enquanto que Bonifácio
Sua relação com Santa Rita devia-se ao fato de e Abiatar se identificavam mais com a classe C .
ser proprietário da Fazenda "Guia", onde plantava Inclusive, os dois fundaram o PTB, falando sem-
coqueiros e construira currais de peixes .
A propriedade era uma das melhores do Distri- pre em Getúlio Vargas, e prestigiando os sindicatos e
to de Lucena, que, então, também fazia parte do terri- aCLT .
tório santa-ritense."
Eles não tinham nada de seu, a não ser as casas
Estabelecido em João Pessoa, tinha escritório de onde moravam, na Avenida Juarez Távora, centro da
representações e atividades assemelhadas na Cidade cidade.
Baixa. Arnaldo Bonifácio fora, em 1947, eleito verea-
Residiu à Avenida João Machado, adquirindo a dor e atuara segundo o modelo populista.
casa que pertenceu a Horácio de Almeida: um sobra-
do com grande quintal, ainda hoje bem conservado. Em 1950, candidato à Assembléia Legislativa,
foi
Em 1940, com a queda de Argemiro, subiu Ruy
eleito, beneficiando-se dos votos de legenda.
Carneiro ao Palácio da Redenção, e foram substituí-
Neste pleito, em Santa Rita, José Américo de AI-
dos todos os Prefeitos, ou quase todos. .
Diógenes Chianca foi nomeado Prefeito de San-
meida venceu Argemiro, candidato da UDN, partido
ta Rita, onde se manteve até 1945, para sermos mais
do qual Flávio era Presidente do Diretório Regional .
precisos, até a queda do Estado Novo.
Já em 1951, na sucessão do Prefeito Maroja Fi-
Realizou uma boa administração, destacando-se
lho, a UDN uniu-se ao PL (grupo Veloso Borges, dono
a construção do Mercado Público, na Praça Antenor
Navarro. Um prédio sólido, amplo, que deu condi-
da Fábrica Tibiry), e lançou João Raposo Filho, tendo
ções de Santa Rita ter uma feira dominical conhecida
como Vice-Prefeito Antonio Gomes Pereira.
na Grande João Pessoa.
Vence o pleito por uma diferença de 612 votos
Várias famílias da Capital iam fazer suas com-
sobre Abiatar Vasconcelos, e Diógenes Chianca fica
48 em
terceira colocaçãov.
Em 1954, é eleito João Crisóstomo, com menor
diferença .
49
Em 1959, a UDN perde, pela primeira vez, uma nou a elabora ção da Constituição do Es tado do Rio
eleição mun icipal em Santa Rita, para An tonio Te i- Parahyba do Nort e, e assumiu, interiname nte, o Go -
xeira de Carvalho, que tem, como V ice-Prefeito, Lou- verno, por u m mês, quando O swaldo Trigueiro de AI-
rival Caetano, dono de padaria em Baveux". buquerque e Melo se licenciou para viajar à Capital
Mas, então, Flávio já estava enfer mo, hospitali- da Rep ública, para tratar de interesses do Go verno
zado no R io de Janeiro, de onde só volto u em uma local.
urna funerária para repousar no Cemitério Sen hor da Nessa oca sião, a Pontes do Baralho sobre o R io
Boa Sentença, ao lado dos túmulos de seus pais , e ir- Sanhauá ame açava cair, o que i solaria todo o interi or
mãos. do Est ado.
Seria o ca os sócio-eco nômico.
O Governador em exe rcício, o velho Flávio, de-
Flávio Ribeiro e a r edemocr atizaçã o cidiu recuperá -Ia no menor espaço de tempo possí-
vel.
Eleito pelos deputados da UD N (argemir istas e Visitava, diariamente, os trabalhos, antes de se
americ istas) Presidente da Assem bléia Legislativa, o dirigir ao Paláci o da Redenção, medindo o andam en-
velho Flávio Ribeiro Coutinho viu-se, também, Vice - to da obra, metro a metro.
Governador do Estado, quando houve a redemocrati- O certo é que, antes de devolver o G overno ao
zação e foram marcadas as eleições, após a queda do titular, completou a recuperação , permitindo a volta
Estado Novo . do tráfego das " sopas", caminhõe s e carros de p raça
À época, inexistiam os mandatos de Vice-Presi- pela ponte, que aind a hoje está segura e sólida, e só
dente da Repúb lica e Vice-Covernador!". foi desativada quando construíram o Viaduto do 4°
Estes foram criados pelas Const ituintes Federal Centenário s obre as. águas do Sanhauá e do s trilhos
e Estadual . do trem ".
Em alguns Es tados, como Pernambuco, inexis- Não por que a ponte ameaçasse ruir no vamente,
tia, durante mais de uma década, o mandato de Vice- mas por não te r mais condições de atender ao intenso
Governador . tráfego de veículos na direção da Capital ao inte rior,
Era uma espécie de medida econ ômica, que só e VIce-versa.
se justifica pe la preocupação gastante da nossa elite
administrativa .
Na verda de, nas Primeiras Repú blicas, era mai- Um acordo elegante cumprido
or o ônus, pois haviam 1°, 2° e 3° Vice -Presidentes nos na íntegra
Estados .
Mas, vol temos aos anos 40 . Argemiro e Oswaldo Trigueiro queriam, a tudo
Flávio, como Presidente da Assembléia, coorde- custo, fazer Flávio Ribeiro Coutinho Vice-Governador .
50 51
Já a o utra ala da UDN p leiteava o ca rgo para Vi r- Em 1952, Virgínio Veloso Borges foi eleito
gínio VeIos o Borges, empresário bem s ucedido, tam- Senad or.
bém or iundo de Pilar , casado com Do na Priscila Frei - Era g eneroso, tendo doado ao Hospital Santa
re, irmã do Pa dre Matias e parenta próxi ma de José Izabel , em João Pessoa, todo um pavilhão e sala cirúr-
Amér ico de A lmeida. gIca.
Há, com re lação ao assunto, um fato i nteres - Construiu e mante ve escola, na sua fábrica, onde
sante: se servia mere nda aos alunos ( uma inovação, naq ue-
Virgínio era para José Américo o que F lávio re- les dias), tinha banda de músic a e criava gado estabu -
presentava para Argemiro. lado para distribuir leite aos operá rios, quando casa-
Um e ou tro eram o Nú mero 2. dos e pai s de filhos .
Quem o bservar a política daque la época concor- Edificou uma vil a operária, colocando nas ruas
dará conos co neste ponto. nomes d e expressão nacional, como: General Osório,
Quando organizou-se a UDN , em 1945, res ulta- Oswaldo Cruz, Pedro Américo, etc. , nunca admitin-
do de um tratado entre chefias pol íticas, rea lizado na do que c olocassem seu nome nas placas, ou os nomes
casa gra nde da Fábrica Ti biry (prédio ocupado, hoj e, de seus familia res.
pelo Fóru m da Comarca ), Flávio , represe ntando o ar- Mas, os maiores feitos do Senador Virgínio Velo-
gemirismo , ficou na Presidência do Dire tório, e Virgí- so Borges foram os três netos : Odilon Filho, Eduardo
nio Ve loso Borges, na V ice-Pres idência.
e Gilberto, filhos de sua f ilha Solange, casada com
Em 194 7, quase que ocorria o ro mpim ento entre
Odilon Ribeiro Coutinho .
argemiris tas e a mericis tas: só havia um cargo de Vice-
Solange é, também, bisneta do Barão de Maman-
Governador.
guape, que governou as Províncias do Pabahyba, Ma-
Recon heço que, com o argemiris mo contempl a-
ranhão e Pihauy, em diferentes ocasiões .
do com a cabeça-de-cha pa, a Vice -Governadoria de-
veria ser de livre i ndicação do americ ismo, e essa in-
dicação recaía em Virgínio Ve loso Borges. Flávio Ribeiro e Renato Bastos:
Não era essa a opinião de Arge miro. Varões de Plutarco
Houve ameaças, de parte a parte, mas, O dilon
Ribeiro Coutin ho, sobrinho do velho Fláv io, e gemo
Estive recentemente no TRE, em João Pessoa,
de Virgínio, co nvenceu os do is a abrirem mão, e saiu
para apanhar o resultado das eleições de 1955, na Pa-
como can didato, José Targino, político de Araruna que,
raíba, de modo especial, nos municípios de João Pes-
americista de carteira, garantiu respei tar, a to do cus -
soa e Santa Rita.
to, a decisão ma joritária, quando ocorresse a s uces-
Interessava-me saber e provar quem ganhara o
são, em 195 021.
Cumpriu a palavra. pleito, com quantos vot os, e qual a dife rença .

52 53
Como se sabe, concorriam, naquela ocasião, ao o melhor Governador
Governo, dois grandes paraibanos: Flávio Ribeiro Cou- da Paraíba
tinho (UDN, PSD e PL) e o advogado Renato Bastos
(PST, PCB, PTB). Qual o melhor Governador da Paraíba?
. Paraibanos, acima de tudo, os candidatos diver- Todos. - É a resposta certa.
giam porque eram democratas, não tendo, portanto, Mas, quem queira porque queira me contrariar,
a obrigação de pensar da mesma maneira . que leia o último livro de Oswaldo Trigueiro de Albu-
Fui atendido por Vaninha Mesquita , mãe de mi- querque e Melo, Galeria Paraibana, e vai chegar a uma
nha afilhada Maria Helena, e esposa de Expedito Mes- conclusão:
quita. O melhor Governador da Paraíba foi Flávio Ri-
Como já sabia (mas agora tenho certidão, uma beiro Coutinho .
prova provada), Flávio Ribeiro Coutinho, venceu nessa O único defeito desse homem de Estado (se isto
cidade, sendo que, na Capital, obteve o dobro de vo- pode ser apontado como defeito) foi ter adoecido, vi-
tação do seu concorrente . timado por uma diabete descompensada, mal de Pa-
Lembro-me que a luta da campanha foi árdua. rkson e AVe . Só foi vencido por estes três inimigos,
Ao lado de Renato Bastos, se posicionava a es- decorrência da idade.
querda, com Damásio Franca e Oliveira Lima, entre O Governador Flávio Ribeiro Coutinho não re-
outros. cebeu a Chefia do Executivo de mão beijada.
Ao lado de Flávio Ribeiro, os caciques de então: Não foi nomeado por quem qur que seja, nem
José Américo, Argemiro e Ruy Carneiro. também foi candidato único .
Em Santa Rita, a briga foi feia. Ele pertence, para honra sua, à minoria de go -
Ao lado de Flávio Ribeiro, se colocavam João vernadores paraibanos filhos das urnas.
Raposo Filho, Antonio Gomes, Antonio Teixeira ". Egí- Alcançou o Palácio da Redenção após longa mi -
dio Madruga fez todo trabalho de rua, de propagan- litância político-partidária.
da e ornamentação de palanques . Na eleição de 1955, sucedendo a José Américo
Apoiando Renato Bastos, estavam o Deputado de Almeida, foi candidato da UDN (era Presidente do
Heraldo Gadelha, o ex-Prefeito Diógenes Chianca, e Diretório Estadual), com o apoio do PL, ou seja, do
o ex-Deputado Arnaldo Bonifácio. próprio José Américo e de Ruy Carneiro (PSD).
Foi batalha das mais difíceis, onde pesavam as Mas, teve competidor à altura, na pessoa de Re -
brigas locais. nato Teixeira Bastos, um dos mais destacados e atuan -
A certidão do TRE é uma prova tirando qual- tes advogados do nosso fórum, com grande clientela,
quer dúvida. registrado pelo PST e apoiado pela esquerda e pelo
PCB, ainda que na clandestinidade, tinha uma mili -
54
tância invejável .
56
O próprio PS T e s eus aliado s, neste ple ito, lança-
ram c andidato próprio à Prefeitura da Capit al, na pes-
soa do ent ão vereador Dam ásio Barb osa Fra nca. Seu
vice e ra o en genheiro Spi elberg (v ereador) .
E Flávio Ribei ro Couti nho foi, na Capita l, o ca n-
didato mais votado, obtendo o dob ro da votação dos
demai s.
Venceu em todos os mun icípios do Estad o, in-
clusive e m Santa Rit a. Em igual d ata e ple ito, o acadê-
mico de Medicina , João Crisóstomo, s eu filho, foi eleito

Prefeit o do cit ado município .


À época , Santa Rita compreendi a Bayeux e Lu -
cena, poster iormente emancipado s.
Flávio Ribeiro Coutinho deu ao seu Go verno uma
moldu ra de tolerânci a máxima.
Jamais mand ou reprimir qu alque r movimento
grevista ou de cont estação social .
Tinha uma con vivência h armônica com as de -
mais agr emiaç ões partid árias.
A pro va maio r disso é que, surgindo um a vaga
no T ribunal de Ju stiça, nom eou, com o desembarga-
dor, João Santa C ruz, ju stific ando seu ato po r ser o
escolhid o um adv ogado brilh ante, homem sóbrio em
suas atitudes, e de conh ecido saber jurídico.
Quem era João Santa C ruz? Era parente do Pro-
fessor Cl áudio Sant a Cruz, em qu em v otei para De-
putado Federal, em 1982 .
Sei que é p ouco para defini-lo.
Agor a, veja a nova ge ração: João Sa nta C ruz era
chefe do PCB (P artido C omun ista Brasileiro). Por este,
foi eleito em 1947, Deputado Estadual, e pa rticipou
da in stalação da C onstituinte estadual.
Depois de se apose ntar, concorreu como c andi-
dato d e Oposição à Prefeitura da Capita l.
Foi professor da Faculdade de Direito da UFPb,
de onde foi demitido e cassado, após o golpe militar
de 64 . Mais ainda : foi preso e recolhido ao quartel do
15° RI, juntamente com outras lideranças, en tre as
quais João Ribeiro Filho e Maria José Limeira .
Pode, hoje, alguém perguntar: e Doutor Flávio
Ribe iro Coutinho sabia da ficha de Santa Cruz no
Dops?
Sabia mais ainda, porque também foi De putado
e Presi dente da Constituinte, em 1947, colega , por-
tanto, de Santa Cruz .
Quem vivia, naquela época, sabia de tudo.
Primeiro: Santa Cruz nunca escondeu de ni n-
guém sua militãncia política . Nunca foram segre dos
para ninguém as suas ligações ideológi cas.
Segundo: em 193 5, quando da repressã o da In -
tentona Comunista, ocorrida em Natal e Recife, João
Santa Cruz foi preso e processado, pelas ligaç ões que
man tinha com a A liança Libertadora Naciona l (ALN),
braço do Prestismo .
O novo Desembargador editou o Jornal do Povo,
e recomendo aos que queiram a verdade, nos s eus
mínimos de talhes, pesquisa sobre este órgão de im-
prensa, feita sob a responsabi lidade de Batistão (João
Batista Bar bosa) e Oduval do Batista .
Mas, v oltemos à pergunta inicial: o que f oi cons-
truído, rea lizado, promovido, no Governo Fláv io Ri-
beiro Coutinho?
A Saelpa, que levou energia elétrica a to das as
cidades e vilas da Paraíba e, agora, à zona rur al, pro-
curan do o rurícola onde ele more, para apaga r o últi-
mo candeeiro.
Mas, podem perguntar: a Saelpa foi obra dele?
Sim. Porque surgiu da fusão da Co debro e da
Eletro Cariri.

57
Foi a primeira e statal destinada a estender, pel o 58
mapa da Paraíba, energia g erada pela Chesf,utilizan-
do, para tanto, as águas d o Rio São Francisco, na C a-
choeira de Paulo Afon so.
Antes, havia, na Capital, a Usina termoelétrica,
consumindo lenha da Ma ta Atlântica. Func ionava na
Ilha do Bispo, onde o prédio ainda resiste ao tempo .
No restan te do Estado , eram motore s consumin-
do óleo diesel e que trabalhavam da s 18 às 23 hor as ..
Era este o caso de Sap é, Cuarabira, Patos, ltabaian a,
Ingá, Gurinhém, etc . .
Flávio atacou o maior problema, o desafio que '
amedrontava a todos.
Entregou a direção d~ Codebro ao Desembarga-
dor Braz Baracuhy , que partiu do 'nada d e um pap el.
Fez O que pôde e o que não pôde .
Além do capit al inicial da soci edade anônima
coberto pelo Governo Estadual, .apélou para a subs -
crição dê Ações Preferenciai s, fazendo ampla camp a-
nha .pela imprensa daquele t empo. Mobili zou a todos.
O período ad ministrativo de Fl ávio foi .curto. Na'
verdade, curtí ssimo. Licenciou ... se após pouco mais de
um ano de Governo, pata tratamento de saúde.

.
. Não se recuperou, ainda que se tenha hospit ali-
zado no Ho spital do servid or Público, no Rio de [ a-
. '
neir o.
Mas, a idéia, os alicerces, o pontapé inicial para
levar ener gia a toda parte foram de sua iniciativa. Nin-
guém lh e nega o pioneirisrno .
Seu sucessor, o vice-Governador Pedr o Moreno
Gondi m, continuou a caminhada. Antes de quatro
anos, as prime iras cidades' do int erior paraibano j á
contavam com a luz de P aulo Afonso, libe rtando-se
das trevas, para sempre.
Mas o nome já era, então, Saelpa.
Pedro Gondim também prosseguiu com a po lí-
tica de Flávio de emancipar distritos que integravam
velhos mun icípios.
Foi o caso de Rio Tinto, antes part e de Mar nan-
?uape; Belém, que per tencia a Caiçara; Cabedelo, que
mtegrava o próprio município de João Pessoa, e Solá-
nea, que era território bananeirense.
Como era natural, Gondim foi responsáve l pelo
maior número de municípios criados em se us dois
mandatos.
Governou mais de sete anos quase que i ninter-
ruptos .
Mas, do primeiro amor ningué m esquece ou,
para usar uma expressão popular corrente: a pr imeira
impressão é a que fica .
Por isto é que não se pode esquecer este fa to:
Flávio modificou, sacudiu, mexe u, deu novo co-
lorido a? mapa político do Esta do do Rio Para hyba do
Norte. E óbvio que houve grandes res istências à cria-
ção dos municípios então emancipados.
Brigas de foice quase iguais à da Guerra dos Mas-
cates d e 1710, que teve origem exatame nte na eman-
cipação de Recife, que recebe u combate dos olindenses.
Guerra feia (não há guerra bo nita), com armas
de fogo, espadas e mortes de parte a parte.
Ainda bem que, 250 anos após, não se chegou a
tanto.
Outra marca registrada do Gover no Flávio Ri-
beiro: a criação do Ginásio Estadua l de Sapé.
Antes, só a Capital e Campina Gra nde mereci-
am este privil égio>.
Foi, portanto, o primeiro educandário p úblico e
gratuito do interior, educando os fi lhos dos p equenos
59
comerciantes e outras categorias que não podia m pa- Diga-se de passagem que participou da dis puta
gar pensão para os filhos cursan do o velho Liceu, em eleitoral na Primeira e Segunda Repúblicas, ati ngin-
João Pessoa, ou o novo Colégio Estadua l de Campina do maior destaqu e após a implantação do voto se cre-
Grande . to e do voto feminino que emolduram a Democracia .
Mais uma vez, Pedro Gondim fez o que devia: Foi segundo Vice -Presidente, quando do quatri-
dar continuidade a esse empenho . E mais do que ou- ênio de João Suassuna, em 1922 . Antes, foi ele ito e
tro governante, edificou, em seu mandato, pré dios exercia o mandato de Deputado Estadual .
para ginásios estaduais no Brejo, Sertão e Cariri. O pai de Ar iano Sua ssuna (nasceu este no Palá-
Uma prova de que sempre houve conti nuidade cio) sucedeu a Solon de Lucena e foi sucedido por João
administrativa, independente de qual part ido, seja o Pessoa. Faltaram concorren tes aos três .
governante. Igual sorte t ambém est ava reservada aos seus
A Saelpa de hoje, ou de já há algum tem po, é a vice-Presid entes, sendo esta a regra geral, na queles
maior empresa paraib ana em termos de faturamento. dias do século passado.
Ninguém pode conceb ê-Ia sem compor a paisagem Em 193 0, numa eleição d isputadíssima , foi can -
administrativa de nossa t erra. didato a Deputad o Federal pela Oposição , ainda que
Foi abençoado o dinh eiro investi do pelo Gover- contasse com o apoio do Presidente Washing ton Luiz.
nador Flávio Ribeiro Coutinho nessa área . Mas, por um a questão de distância (o Rio de Ja-
Hoje, se privatizada , o saldo de sua a lienação va i neiro, então Capital da República), para ganha r a elei-
permitir a construção de um grande n úmero de obras, ção bom mesmo era se ter o apoio do Presiden te (Go-
como abastecimento d'á gua, amp liação da rede de vernador ) da Paraíba.
estrad as asfaltadas, de tal mo do que va i se multipli- Principa lmente numa eleição em que o Pr esiden-
car em termos d e difícil cá lculo aritmé tico esse gasto te do Estado era candidato à Vice-Presidência da Re-
na edificação do que é hoje a nossa empresa de distri- pública, sem t er que se licenciar ou renunciar ao man dato.
buição de en ergia elétrica. Em tese, o Presidente do Estado po dia demitir, a
Por tudo isso, pelo muito que fez durante o tem- qualquer hora, prefeito de qua lquer cidade, e de lega-
po curto em que ocupou o Palácio da Redenção, F lá- do de políci a".
vio Ribeiro Coutinho s ó fez honrar o seu nome e o de Os candidatos ao Senado e à Câmara do s Depu-
sua terra . tados submetiam-s e a uma eleição com voto desco-
berto, aliás, eleição falsa .
A mulher e ra proibida de exercer o dire ito de
Tolerância política voto.
Mais ainda: e xistia, na legis lação, o re conheci-
Poucos políticos foram mais tolerantes do que mento fina l, por uma Comissão da Câmara dos Depu -
Flávio Ribeiro Coutinho . tados, que funcionava como terceiro turno .
60 61
Raramente ocorriam pleitos disputados. E, quan - ros dias da UDN, que este partido escolhera como can -
do houve, os dois lados se proclamaram vitoriosos . didato ao Senado, Argemiro .
Foi assim em 1900, quando o Desembargador Este declinou do convite e confidenciou a Aluí-
José Peregrino de Araújo" concorreu como o apoio zio, de quem era primo, o receio de perder o pleito
de Álvaro Machado contra João Tavares de Melo Ca- majoritário.
valcanti, ligado este ao ven âncio-epitacismo. Na época, não existiam, ainda, os escritórios de
Em 1930, deu-se a mesmíssima coisa. pesquisa de opinião, e o populismo de Ruy Carneiro
Flávio Ribeiro, João Suassuna e Acácio Figueire - atemorizava-o.
do chegaram a exercer o mandato de par lamentares Preferiu sair candidato à Câmara dos Deputa-
eleitos pelo terceiro turno, ou seja, com a depuração dos, saindo-se como o mais votado.
dos candidatos aliancistas. Mas, convidou Aluízio a acompanhá -lo à Capi-
Era a época, com seus vícios, seus defeitos e, ra - tal, no dia seguinte . Juntos, ofereceram o lugar exata-
ras vezes, com suas virtudes. mente a Flávio Ribeiro, do qua l Argemiro era
Vitoriosa a Revolução, o Congresso fo i fechado e compadre.
só reabriu as portas quatro anos depois, para nova- O convite não foi aceito.
mente fechá-Ias com a implantação do Estado Novo Dizia, ou diz ainda, Aluízio, que o Patriarca da
(nome da Ditadura de Vargas). V árzea alegou seu passado perrepista.
Em 1945, foram marca das as eleições e constitu - Afinal , tinham decorridos só quinze anos da tra-
íram-se os partidos. gédia da Confeitaria Glória, onde João Pessoa fora as-
Na Paraíba, os amigos de Argemiro (era o caso sassinado, em Recife .
de Flávio Ribeiro) e de José Américo se uniram na Ainda que tenha sido caso pessoal, os adversári-
União Democrática Nacional (UDN), lutando pe la vi- os iriam fazer deste fato a maior bandeira.
tória do Brigadeiro Eduardo Gomes. Depois de muita conversação, saiu como candi-
Já os a liados do interventor Ruy Carneiro se abri- dato ao Senado o ex-Deputado estadual e ex -usineiro
garam no Partido Socia l Democrático (PSD ) e, com o Ada lberto da Cruz Ribeiro, viúvo de Otav iana, uma
apoio de Getúlio (também fundador do PTB), e lege- das irmãs de F lávio .
ram como Presidente da República o General Eurico O outro candidato foi Vergnaud Wanderley, ex-
Gaspar Dutra. Prefeito de Campina Grande, apontado por José Amé-
Mas, aqui, em nossa terra, foi vitoriosa a chapa rico. Os dois foram e leitos.
da UDN ao Senado e à Câmara dos Depu tados. F lávio
não concorreu no p leito, como também de le não par -
ticiparam Ruy Carneiro, José Américo. Um Governo sem nepotismo
Contou-me, há mais de dez anos, em 1982, o ex-
deputado Aluízio Campos, que participou dos primei - Quem não quer um Governador que não enxer -
62 gue só os parentes?
Hoje, salvo honrosas exceções, chefes de Estado O clã sentia-se desp restigiado (sem, no entanto,
(ou prefeitos) apend eram, repetem e praticam o r e- se queixar), inviabilizando a carreira política de mui-
frão popular. Mateus, primeiro os teus. Outros dize m tos dos seus .
assim: Mateus, só os teus. Poderia alguém aleg ar falta de quadros.
Pois bem, o Go vernador Flávio Ribeiro Coutinho Não procede essa ale gação, e vou citar dois ou
foi uma honrosa exce ção. três nomes do maior valo r que não foram convidados
Por estranho qu e possa p arecer a alguns, não (mas, nem por isso brigaram).
nomeou parente s para o primeiro, segundo ou tercei- Odilon Ribeiro Cout inho, membro atual da Aca-
ro escalões . demia Paraibana de Letras, e um do s maiores confe-
Mas, no seio d a família, ningu ém era mai s esti- rencistas do Brasil, seria um deles.
mado (amado, digo m elhor) d o que ele. Outro: [ordão Emerenciano, casado com Maria
Retribuía essa af eição d e mil formas: cuidando da Penha, sobrinha do então Governador, autor de
com zelo dos negócios dos irmãos; tom ando como suas vários livros, membro da Academia Pernambucana de
as brigas dos sobrinh os (pequ enas, graças a Deus); aju- Letras, professor universitário no Recife, ex-Chefe da
dando a todos quando , por isso ou por aquilo, um con- Casa Civil do Governo Cid Sampaio e suplente de Se -
tratempo caía sobre algum dos seus; nas doenças, nã o nador.
só era o médico, m as também o enf ermeiro, mudan- Terceiro nome : todos os seus filhos e sobrinhos,
do-se para a casa do enfermo e faz endo vigília ao p é entre os quais me incluo.
do leito. Doutor Flávio Ribeiro passou pela Presidência
Vivia em uma época em que , sem antibiótico, o da Assembléia Legislativa da Para íba, sem usar o car-
intern amento em hospital era uma t emeridade . go para assinar enxurrada de nomeações, continuan -
Anos depoi s, descobriu- se o perigo da infecçã o do essa política de austeridade como Governador .
hospitalar que, na pr imeira metade do século XX, vi-
timou tanta gente. Segurança Pública: a paz a todo custo
A comunidade, p or intui ção, fugia dos hospitai s,
e contava-se a e stória do chá-da-meia-noite, servido Na avaliação de muitos, bom Governo é o que
aos doentes t erminai s. Claro que, em parte, era lenda. planta carvalhos .
Mas, na dúvida, era melhor t ratar-se em cas a. Para outros, é o que planta couve.
As senhoras, inclu sive da classe mãe, pariam em Ou se faz opção pelas obras gigantescas, pere-
casa, na cama do casal . nes, como a CodebrojSaelpa, ou pelas medidas ur-
Mas, vol temos a Fl ávio Ribeiro Coutinho , o qual gentes, do dia-a-dia , do assistencialismo, mais das ve-
tinha o apreço de todo s que - repito - era devolvid o zes apontadas como clientelismo .
com igual afeto, sem , contudo, comprometer o e rário Mas; o administrado r equilibrado, de seu senso,
público ou d o partido.
65
64
divide a sua preocupação e os recursos com que conta A principal meta não era a punição dos crimino-
entre as duas verten tes. sos, mas a prevenção do crime.
Flávio Ribeiro Coutinho foi a ssim. Sem ocorrer delitos, garantia-s e a vida do cida-
Uma de suas metas, perseguida e alcançada, foi dão comum e evitava-se clima para a parecer os delin -
manter o pagamento do funcionalismo público rigo - qüentes .
rosamente em dia. Policiamento ostensivo ainda é o melho r me io
Ao lado disso, preocupou-se com a valorização de se garantir o sossego e s e evi tar a in justiça.
do servidor, atendendo, na medida do possível, os Por outro lado, durante o seu Governo , não con-
aumentos de ven cimentos do funcionalismo . traiu dívidas e nem levantou empréstimos .
Tan to assim que, no seu Governo, foi muito bom Em outras palavras, não onerou as f inança s esta-
o relacionamento com a Aspep, órgão de c lasse, à épo- duais nem deixou dív idas para se us sucesso res p aga-
ca, dirigida (med iante eleição ) pelo líder c lassista Tan- rem.
credo Carva lho (ex-diretor do Jor nal "Brasil Novo", Não atiro u, porta nto, com pó lvora a lheia.
empaste lado pe la Po lícia, em 1931).
Tan credo co locava seu mandato e a entidade que
dirigia acima dos partidos, enquanto vivenciava, po- o segredo do bom Go vern o:
rém, uma leve tendência amer icista, que aflorava em os bons au xili ares
seus pronunciame ntos, não obsta nte sua preocupação
de sobriedade, que procurava man ter a todo custo" . A maioria dos po líticos q ue p assaram pelo Palá-
Outra tôn ica do Governo Flávio Ribeiro fo i sua cio da Redenção , na Pa raíba, não teve a s orte que co u-
preocupação com a Segurança Pública . be a Flávio Ribeiro Co utinho .
Conv idou para dirigir a Polícia M ilitar o Coro- A esco lha que e le fez para dirigir a Impre nsa
nel Edson Ramalho, Oficia l do Exército, e que deu con - Oficial e, por tabe la, o jornal" A União", lhe rendeu
uma boa biogra fia.
ta do reca do. Sei que sor te igua l também foi reser vada a João
A preocupação maior era prevenir assal tos à mão Agrip ino, b iografado por Sever ino Ramo s.
armada, tumultos, estupros, e tudo o mais que infe li- Mas, Camilo de Ho landa, Venân cio, Solon, Pe -
cita a pop ulação, nos dias atuai s. regrino, Álvaro Mac hado não foram bio grafados.
Parte do clima de segurança foi garantido pela Natércia Suassuna Ri beiro, dentro do plan o de
impl antação dos" Cosme e Damião", dupla de solda- Nelson Coelho, es creveu so bre João Suassuna que,
dos que, de bicic leta, percorria a noite de João Pessoa. como obra maior de s ua vid a, deixou os filhos , com
Como o orçamento do Estado não previa gastos desta que espec ial para Ariano, o teatrólogo.
com aquisição de bicicletas, Edson Ramalho solicitou Mas, o velho Flávio (c omo era cari nhosamente
(e foi atendido) doação desses veículos junto à indús- chamado pelos correligionár ios), quando e scolheu
tria e comércio da cidade.
67
66
Sabiniano Maia seu auxiliar, foi duplamente contem- em cima de pedra, abrir estradas e fardar o alunado
plado. Acertou na milhar . das escolas públicas.
Sabiniano Maia era filho do município de Itatu- Tudo sem perder a calma, sem se afobar um mi-
ba, (ex -Cachoeira de Cebola). nuto sequer.
Perdeu essa denominação durante o Estado Não fez fortuna.
Novo, e seu povo gostou do novo nome do municí- Viveu bem porque o destino lhe deu urna esposa
pio. Só os saudosistas não se conformam . dedicada e apaixonada.
Maia deu a A União a função que lhe cabe hoje, Foi gemo e um dos herdeiros de um dos homens
como porta-voz do Governo, sem colocá-Ia a serviço mais ricos do Estado: Domingos Meirelles Paraguay.
de um partido, e sem onerá-Ia de um ou de outro Era político e pertenceu a um só partido, a
modo. Não roubou, nem deixou roubar . UDN28.
Ressuscitou o Correio das Artes, e criou A União O resto de seu tempo passou escrevendo livros.
Agrícola. Nunca ficava quieto.
Tinha dois vícios que o acompanharam a vida Além da biografia do velho Flávio, é autor de
toda e, com eles, baixou à sepultura : gostava de escre- uma monografia de grande valor : "Itabaiana, sua His-
ver, e de trabalhar quando o faziam Prefeito. tória, sua Memória", de "História de Quatro Viagens";
Em 1947, foi eleito Prefeito de Guarabira, em dis- os relatórios sobre sua presença à frente de Maman-
putado pleito, lançado pela UDN que, no citado mu- guape e de Guarabira foram transformados em livros.
nicípio, era, então, liderado pelo Major Osório Aqui- Nisto se assemelhava a Graciliano Ramos, o sau-
no e seu filho, o Deputado Osmar de Aquino". doso Prefeito de Palmeira dos Índios (Alagoas).
Ganhou nas urnas, tomou posse, e trabalhou dia Transparecia no seu semblante a doçura das pes -
e noite. soas de boa índole.
Construiu um mercado novo, fora da área urba- Nomeado Interventor de Sapé, se hospedou na
na, dentro do mato. casa do Padre Odilon Pedroza (na verdade, Monse-
Na ocasião, fo i criticado pela localização da obra, nhor), outro santo e intelectual que tinha visão igual:
mas fez a cidade crescer e, hoj e, Guarabira é o maior lia sem parar e escrevia quando tinha tempo. Só para-
centro comercial do Brejo. va para rezar missa, batizar e casar os paroquianos.
Tinha sido Prefeito de Mamanguape e, já octo- Padre Odilon Pedroza foi Diretor do Jornal A
genário, foi nomeado pelo Governador Tarcísio Buri- Imprensa e, de uma hora para outra, foi transferido
ty Prefeito de Sapé. para longe da Capital do Estado, por perseguição po -
Passou pela Prefeitura de Campina Grande e foi lítica. (1952)
Secretário de Justiça do Governo João Agripino . Aceitou calado a injustiça.
Mas, o que gostava mesmo era de colocar pedra Entregou tudo a Deus.
68 Também só deixou Sapé para sua última e defi -
nitiva viagem.
Fez do casti go p rêmio e preparou -se para entrar Antes, Epitácio Pessoa naufragara na s águas do
no Céu . Rio Sanhauá, ao tentar trazer os nav ios até a Cidade
Eram este s os homen s que vi viam na Paraíba . Baixa, ao Varadouro e Porto do Capim.
Sabiniano Alve s do Rego Maia escreveu, ainda, Não vou dizer que foi o bra do velho Flávio Ri-
"Caminhos da Paraíb a", "Crônic as e comentários", beiro Cout inho a construçã o do Port o de Cabedelo ,
"Do alto d a serra", "Em Santa C atarina", "Francisco muito mais uma realização de Antenor N avarro e Cra-
Edward A guiar", "U m ro sário de saudades" , "Sapé - tuliano de Brito, quando exercer am a Interventoria .
Sua Hi stória, su a Mem ória", "Supe rstições" , e "Tri - Mas, o ve lho Flávio ampliou o cai s, permitindo
bunal Region al Eleitoral", todos relacionados por Ho- atracar mais navio s ao mesmo tempo .
rácio de Almeida (atual ização de Mau rílio de Almei- Barcos das mais di ferentes ban deiras, garan tin-
da), no liv ro" Cont ribuição para uma Bibliografia Pa- do o comércio exterior da E uropa e da Amér ica do
raibana", editada em 1994 - 3 a edição. Norte, chegavam, trazen do peças, m otores, equi pa-
mentos, fari nha de trigo (garant indo o pão n osso de
cada dia), e o bacalhau, para que se c umprisse o jejum
A ampliação do Porto de Cabedelo da Quaresma e da Semana San ta.
Com o Porto exportando e importa ndo, ricos nã o
Nos meados do século XX, a economia e a vida
eram os supermercados Pão d e Açúcar, ou Superbox
social do Estado do Rio Parahyba do Norte respira-
e Comprebem, de pro priedade de co mercian tes de
vam pelo Porto de Cabedelo.
Regist re-se que, com estrada carroçável, ir ao Sul, fora .
ou se enviar para lá mercadorias (algodão, sisal, etc) Com o P orto apare lhado, co m boa ma nutenção,
era uma aventura. ricos eram nossos vizinhos e amigos Álvaro Jorge, a
Frutas como abacaxi , coco verde e manga, por famíli a Aba th e João Miner vino de Araújo, que fre -
exemplo , apodreciam em nossos campos, porque um qüentavam nossas fes tas, compran do vot os para ele-
caminhão, para chegar ao Rio de Jan eiro e São Paulo, ger a Rainha do pavilhão nos feste jos em h omenagem
demorava un s quinz e dias. No inverno, fic ava atola- às Padroeiras : Festa das Neves, no centro, das Hor- ·
do n a estrada. tênc ias, em Cru z das Ar mas, da Conce ição, na rua São
Não c abia ao G overno E stadual (nem ha via re- Migue l, da Torre, das lapin has de Cabede lo e Tam-
cursos p ara tanto) asfalta r os 4 m il quilômetros que baú, s ubindo o Cordão Azul ou subin do o C ordã o En-
nos sepa ravam desses grandes centros, e aind a mais carnado, nas fes tas de f im d e ano.
em terras de out ros E stados. Dinheiro d aqui ficava aqui.
Mas, era de re sponsabilidade da Paraíba o po r- Hoje, vai para o Cent ro-Sul, ou para o estrange i-
to, no estuário do rio, e m Cabed elo". ro, montado e m depósi tos bancários , em b ancos d e
capitalistas do Hemisféri o Norte .
70
71
o leite pasteurizado: Flávio comprou terreno para construção de um
uma necessidade hospital para a Polícia, que atenderia a todos que pre-
cisassem. Um nosocômio do Governo do Estado.
Foi do então Governador Flávio Ribeiro Couti - Daí partiu para a construção, fazendo os alicer-
nho a idéia de pasteurizar o leite consum ido pelo pa - ces e levantando as primeiras paredes.
raibano, que ingeria o produto in natura, contamina- Logo mais, esta sua proposta seria encampada
do por coliformes fecais e outras impurezas, arri scan- pelo seu sucessor, Pedro Moreno Condir n.
do-se, inclusive, a ser vitimado por doenças transmi- Hoje, é o Hospital Edson Ramalho que, amplia -
tidas por a nimais . do por João Agrip ino, continua prestando serviços a
Eram apontados casos de brucel ose, doença ad- toda a comunidade paraibana.
quiri da através do leite de gado.
O Governa dor conseguiu com o FISI, órgão liga -
do à ONU, t oda a aparelhagem para i nstalar uma usi- Quem, um dia, não perdeu eleição?
na de pasteur ização, que usaria matéria-pr ima oriun-
da da zo na rural, criando, conse qüentemente, um Como todo político (não foi, não se posicionou
mercado cons umidor para a pecuária leiteira, que é, melhor ou superior a ninguém), Flávio Ribeiro Couti-
hoje, um dos pilares da nossa economia. nho também perdeu eleição.
Infelizmente, esse e quipamen to chegou, desem- Afinal, quem não foi, algum dia, mal su cedido
barcou, mas não saiu dos ca ixotes" . nas urnas? Só quem não faz política .
Não se c umpr iu o contrato (o velho Flávio, en- Em 1949, era Presidente da Assembléia Legisla -
fermo, já se afas tara do Governo), e o Estado perdeu tiva e tentou a reeleição .
os grandes lucros que teria com o empreendimento . À época, a Mesa da Casa de Epitácio Pessoa era
Isso a trasou em mais de quinze anos a implanta - eleita, ou reeleita, por um ano.
ção do lei te pasteurizado na Paraíba. De tal forma que tentava o s eu terceiro man dato.
A essa altura, a UDN (leia-se Argemiro -José
Améri co) já estavam distanciados.
o Hospital Edson Ramalho Cada um tri lhando caminhos diferentes.
Como Argemiro tinha uma bancada maior, fi-
A saú de públi ca continuava tirando o sono do cou com a sigla , com a legenda.
velho Flávio Ribeiro Coutinho. José Américo e seus amigos abrigaram -se no PL,
Faltavam leitos para atender a todos os doentes. cujo líder maior era o Deputado gaú cho Raul Pilla,
Enquanto isso, a população da Capital e do inte- parlamentarista mi litante.
rior crescia. Na Assembléia paraibana, os deputados peelis -
O que fazer? Que providência tomar?
73
72
tas sufragam o nome do Deputado João Fernandes de Mariz, Governador eleito em 1994), permitindo ao 1 0

Lima, usineiro como Flávio, acionista da Usina Mon- 74


te Alegre, em Mamanguape .
A vitória de Fernandes ou a derrota de Flávio,
foi por dois votos de diferença .
Não houve suborno, troca de favores ou alicia-
mento de qualquer espécie .
Tudo se deu como deve acontecer em uma de-
mocracia plena de Primeiro Mundo.
Valia, então, a coerência partidária e obediência
aos chefes.
Essa estratégia fortaleceu a nova aliança PSD-PL,
que voltaria a vencer em 1950, com a chapa José Amé -
rico e João Fernandes de Lima, para Governador e
Vice-
Governador.
Ao que tudo indica, em 1950, Flávio Ribeiro Cou-

tinho entrava no inferno astral, e não conseguiu se


reeleger Deputado Estadual, ficando na 2 a suplência
da bancada udenista.
Derrota não diz desculpa, mas cabe uma expli -
cação:
Disputou, também, o mandato de Deputado Es-
tadual e se colocou com 1 0 suplente o seu sobrinho,
Luiz Ignácio Ribeiro Coutinho, casado há pouco tem-
po com sua filha Nanhã, e que tinha exercido (por
eleição) o mandato de Prefeito de Sapé.
Mais ainda: por sua própria insistência, também
disputou o mandato de Deputado Estadual, Antonio
Ribeiro Pessoa, filho de sua irmã e vizinha, residente
à rua das Trincheiras, Otávia, viúva de Adolfo Pessoa,
advogado pemambucano, que se colocou na 4 a

suplência .
No decorrer da legislatura, faleceu (nos primei -
ros meses), o Deputado José Mariz (pai de Antonio
suplente (no caso, Luiz Ignácio) exercer o mandato .
Foi Flávio convocado, uma ou duas vezes, em
decor rência de licença para tratamento de saúde de
outros pa rlamentares.
É bom se dizer que, como Deputado ou Gover-
nador, Flávio n ão recebia honorários.
Doa va-os , integralmente, a entidades filantrópi-
cas que, na Capital, mantinham hospitais dan do as-
sistência aos indigentes.
Ocorre u igual comportamento com Renat o Ri-
beiro Cou tinho, e com Virgínio Veloso Borges, qua n-
do este ú ltimo foi eleito Senador .

75
Referências Bibliográficas
1 Segundo Nivaldo, o Major tinha alma paisana, doce
e compreensiva.
2 Localizada no Município de Gameleira, PE .
3 Ainda houve, nos anos 20 , a Usina Espírito Santo,

de Adalberto Ribeiro Rodrigue s, casado com Otavi-


ana.
4 O figurino de Delfim era e ste: a quenl tem pouco,

tira-se o resto e a quem tem muito, se dá mais. Del-


fim foi te sta-de-ferro da Ditadura Militar-64.
5 Alguns desses Tenentes (não foram todos) tornaram-

se milionários, entre os quais podem ser citados


Amaral Peixoto e Felinto Muller .
6 Primeiro engenho construí do na Capitania por João

Tavares, Capitão-Mor . O investimento foi estatal, ou


seja, era engenho-real . Portanto, o Rei Felipe II da
Espanha e I de Portugal foi usineiro no Parahyba.
7 Existiram, ainda, por pouco tempo, em Pirpirituba ,
a Usina São Francisco; em Cruz do Espírito Santo, a
Usina Espírito Santo e, em João Pessoa, nas terras
banhadas pelo rio Gramame, a Usina Santa Alexan -
drina .
8 Vigário da Paróquia de N. S. de Lourdes, fundou o

Instituto Dom Adauto, voltado para o ensino pro-


fissionalizante. Antes, todo dia, após a missa, trans-
forma va as capelas da citada igreja em salas de aula,
para alfabetizar os filhos das empregadas domésti -
cas, engraxates e operários, residentes no Cordão
Encarnado, Passeio Geral e rua do Melão, todos seus
paroqUIanos.
77
9 Devido à palidez do seu rosto, Argemiro era mandato, em 1992. Sua esposa Querina Nina Caeta-
chamado, pelos adversários, de Amarelo de Bodo- no também foi eleita Prefeita, em 1973.
19 Em 1845, Dutra concorreu à Presidência da Repú-
congó.
10 Empresários e políticos como Getúlio, Churchill e blica sem companheiro de chapa, seu candidato a
outros fumavam charutos. Vice, ocorrendo o mesmo com os demais candida-
11 Pilar é uma das invocações de Nossa Senhora, mui - tos a cargos executivos .
20 Esta obra iniciou-se no Governo Wilson Braga, e foi
to popular na Espanha, berço da Companhia de Je -
sus. Ainda bem que o Município sempre conservou conc luída pelo seu sucessor, Tarcísio Burity .
21 Ex-Deputado Estadual e ex-Prefeito de Araruna, na
este nome.
12 O atual nome é Cruz do Espírito Santo. Mas foi, Primeira República. Primo do atual Governador José
durante o Estado Novo, denominado de Maguary. Targino Maranhão. Estudou na Inglaterra, onde fez
13 Antonio Pereira de Almeida era pai de Anleida, Ana
o Curso de Agronomia.
22 Pai da historiadora Martha Teixeira de Carvalho San-
Lúcia, Graziela, Ana Maria, Langstein, Agassiz e
Antonio Almeida Filho. Foi casado com Josita Amo- tana, sócia do IHGP, e casada com o economista Car-
rim. los Antonio, ex-Vereador e ex-Vice-Prefeito de San-
14 O eleitorado representava uma pequena parcela da
ta Rita.
23 Campina Grande, pela sua projeção sócio-econômi-
população, devido ao percentual alto de analfabe-
tos. ca, não é, nunca foi nivelada aos demais Municípios
15 A doação foi sua e de todas as empresas e firmas
do interior. É um caso atípico, difícil de se explicar a
paraibanas, motivadas pela perspectiva de terem um quem não é paraibano.
24 O Presidente João Pessoa chegou a pôr em disponi-
conterrâneo na Presidência da República.
16 Nesta fazenda, no século XII, foi construído, pelos
bilidade Juiz de Direito e Desembargador que não
Carmelitas, um santuário de rara beleza, recente- simpatizavam com o Partido do Governo. Apenas
mente recuperado e dedicado a Nossa Senhora da Padres escaparam desse procedimento administra -
Guia. tivo.
25 Bisavô do médico pediatra Antonio Cristóvão.
17 O candidato a Vice-Prefeito do PTB, da chapa de
26 Na sua gestão, doou à Aspep um gabinete odonto-
Abiatar, foi o vereador Plácido de Oliveira Lima, re-
sidente em Bayeux . Era dissidente da UDN, pela qual lógico, instalado na sede da entidade, para atender
fora eleito em pleito anterior . Seguia seu sobrinho, aos associados .
27 Concorreu pelo PSD, neste pleito, ao mandato, Ed-
Luiz de Oliveira Lima, que foi eleito Deputado Es-
tadual (1947) e Prefeito da Capital (1951). son Ribeiro Coutinho, proprietário rural no Distrito
18 Com a emancipação de Bayeux, em 1959, a família
de Pirpirituba, que integrava Guarabira. O Deputa-
Caetano consolida sua liderança e, em três eleições, do Osmar de Aquino é pai da escritora Laura Aqui -
Lourival se elege Prefeito, falecendo no exercício do no, autora de O Tenente Estrangeiro.

78 79
28 Foi Presidente do Di retóri o Regional da Arena, ma s
este partido foi, na pr ática, a UDN com rótulo novo.
29 O Deputado José Fernandes de Lima, falando na

tribuna da Assembléia Legislativa, em 1953, decla-


rou que o Estado da Paraíba era uma ilha, em ter-
mos de Economia. Só se comunicava com Belém do
Pará ou com qualque r outra praç a do Norte, Nor-
deste ou C entro-Sul, por navio . Trem só seria, na
prática, para se comunicar com Recife ou Natal . Fora
disso, com o s demais Estados e respectivas Capitais,
era navio ou nada. Avião seria tão somente par a as
viagens de pessoas da Classe A .
Fiáoio Ribeiro Couiinho - 1907 Flávio RibeiroCoutinho - 1916
30 Era tudo doação do FISI .
Faculdade de Medicina da Bahi« COI/1 34 anos

80
Flávio Ribeiro Coutinh o e Berenice M indêllo Ribeiro,
110 dia do casamento - 09 de maio de 1925

81
1926

82

Dona Berenice com o


primogênico
Francisco Leocádio, com 6 meses -
Flávio Ribeiro Coutinho com a família
- 1948
M imosa, João Crisosiomo, José Painho,
Nanhã com o marido Luizlgnâcio,Francisco Leocádio
e Berenice M aria. .
Sentado: Dona Berenice com a neta Berenice Helena

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1954 - DI'. Flávio e Dona Berenice

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