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Cícero Cavalcante: O Fascismo no Brasil, uma

visão psicanalítica
5 de junho de 2016

O FASCISMO NO BRASIL HOJE – UMA VISÃO PSICANALÍTICA

Por: Cícero Cavalcante*

http://www.revistaforum.com.br/mariafro/2016/06/05/48459/

Andar de roupa vermelha pelas ruas já se tornou algo perigoso. Ser comunista, cubano, petista,
tanto faz. É tudo a mesma coisa. Todos são “judeus”. O inimigo que precisa ser eliminado.

Muito tem se falado sobre fascismo para se definir a onda de intolerância e as mais diversas
formas de manifestações conservadoras e reacionárias que tomaram conta do cenário político
brasileiro nos últimos dois anos. Na verdade, não existe outra forma de caracterizar um
conjunto de elementos que se manifestaram amplamente no seio da população brasileira, com
o amplo apoio e incentivo da mídia, cujas consequências ainda não podem ser plenamente
mensuradas.
Nossa intenção aqui é tentar contribuir com a análise dessa situação utilizando o ponto de
vista de alguns autores que vivenciaram a terrível experiência do fascismo na Alemanha de
Hitler e que teorizaram tal experiência com base em suas atividades políticas e psicanalíticas.
O psicanalista marxista Wilhelm Reich, define o fascismo como “a expressão da estrutura
irracional do caráter do homem médio, cujas necessidades biológicas primárias e cujos
impulsos têm sido reprimidos há milênios”. Em seu livro, “Psicologia de Massas do Fascismo”
(escrito em 1933 e reeditado em 1946), Reich nos mostra que o fascismo é um fenômeno
sempre atual e presente na sociedade capitalista. Para este autor é um equívoco interpretar o
fascismo como uma característica nacional específica dos alemães ou dos japoneses. Sua
posição é bastante estarrecedora ao afirmar que:
As minhas experiências em análise do caráter convenceram-me de que não existe um único
indivíduo que não seja portador, na sua estrutura, de elementos do pensamento e do sentimento
fascistas. O fascismo como um movimento político distingue-se de outros partidos reacionários
pelo fato de ser sustentado e defendido por massas humanas (Reich, 1946).
Guardadas as devidas proporções históricas, o livro de Reich lança uma luz sobre a realidade
atual da luta de classes no Brasil, em especial sobre a ascensão do fascismo e a disseminação
dos seus principais elementos em amplos setores da nossa sociedade. O que até pouco tempo
eram atitudes e comportamentos periféricos e insignificantes de grupos reacionários nas redes
sociais, hoje se tornou um movimento de massa capaz de colocar muita gente em
manifestações de ruas em todas as regiões do país.
A principal questão que se impõe, em meio a tantas outras, é, afinal de contas, que elementos
são comuns na ideologia e no comportamento fascista que atravessam o tempo e o contexto
histórico e chegam com força expressiva na atual conjuntura política e social do Brasil?
A análise do fascismo pressupõe a abordagem de questões fundamentais que dizem respeito à
subjetividade das relações humanas, as quais não podem ser respondidas com a análise
meramente econômica do chamado “marxismo vulgar”, muito embora a dimensão do
econômico tenha fundamental importância. Segundo Reich:
Existe uma relação essencial entre a estrutura econômica da sociedade e a estrutura psicológica
das massas dos seus membros, não somente no sentido de que a ideologia dominante é a
ideologia da classe dominante, mas também — o que é mais importante para a solução prática
de questões políticas — no sentido de que as contradições da estrutura econômica da sociedade
estão enraizadas na estrutura psicológica das massas oprimidas (Reich. Ob, cit., p. 41).
Corroborando com essa tese, o sociólogo e psicanalista Erich Fromm (contemporâneo de
Reich), diz que é um erro explicar o fascismo sublinhando os fatores políticos e econômicos e
excluindo os fatores psicológicos ou vice-versa. Em seu livro “O Medo à Liberdade” (1983),
originalmente publicado nos EUA, em 1941, ele afirma que:
O nazismo é um problema psicológico, mas os próprios fatores psicológicos têm de ser
interpretados como sendo moldados por fatores socioeconômicos; o nazismo é um problema
económico e político, porém o fascínio por ele exercido sobre um povo inteiro tem de ser
interpretado em bases psicológicas (FROMM, 1983).
Trata-se, portanto, de um pressuposto fundamental para entendermos como é possível o
surgimento do fascismo e a sua assimilação por amplas massas, seja no contexto da
Alemanha de Hitler ou no contexto do Brasil de hoje.
O que levou as camadas empobrecidas a se alinharem com um discurso completamente
contrário aos seus próprios interesses de classe? Segundo Reich, um elemento fundamental
para tentar responder a essas questões é o que ele chamou de “clivagem” da situação
econômica com a situação ideológica do trabalhador.
Para o partido comunista alemão, o esperado era que o povo empobrecido respondesse aos
seus chamados e desenvolvesse a necessária consciência de sua situação social,
transformando-a no motor da ação para contrapor-se a sua própria miséria social. Mas isso
não aconteceu na Alemanha e nem acontece hoje no Brasil. Por qual motivo? O que causa essa
clivagem entre a situação econômica e a situação ideológica do trabalhador?
Reich explica essa clivagem apontando para a estrutura de caráter do homem médio gestada
há milhares de anos sob uma sociedade patriarcal autoritária, utilizada de forma eficiente pela
ideologia da classe dominante para servir aos seus propósitos.
Com base nessa análise, Reich explica a razão do fascismo ser um fenômeno típico da classe
média, uma vez que esta seria a principal portadora e disseminadora de uma estrutura familiar
autoritária e conservadora. Ele afirma que, do ponto de vista da sua base social, o fascismo foi
sempre um movimento da classe média baixa e que esta “tem, em virtude da estrutura do seu
caráter, uma força social extraordinária que em muito ultrapassa a sua importância econômica.
É a classe que retém e conserva, com todas as suas contradições, nada mais nada menos do
que vários milênios de regime patriarcal”.
A partir desta afirmação de Raich, podemos concluir que a principal base social do fascismo é
um dos elementos que não se alteram ao longo da sua história. Não por acaso que aqui no
Brasil quanto mais crescia o número de manifestações contra o governo Dilma, mais se
acentuava no seu interior um perfil elitizado de uma classe média branca, masculina e com
renda e escolaridade muito superiores a média da população. Essa é, portanto, a matriz sobre a
qual se assentarão todos os demais elementos comuns ao fascismo e que foram amplamente
explicitados nos últimos anos na sociedade brasileira.
A posição dos fascistas em temas relacionados à sexualidade e às relações sociais de gênero,
por exemplo, deixa claro o viés conservador dessa estrutura autoritária de família. Na
Alemanha nazista eles pregavam o sexo apenas após o casamento, e eram a favor de um
estrito controle sobre a sexualidade, combatendo o que chamavam de “bolchevismo cultural”. É
nessa mesma perspectiva que no Brasil de hoje é possível entendermos o motivo de tanta
reação ao que chamam genericamente de “ideologia de gênero”. Na cabeça do fascista tudo
aquilo que se contrapõe à moral sexual repressiva se configura como anarquia sexual e
“destruição da família”.
A história alemã também mostra o quanto os fascistas se apoiavam na religião e no
misticismo. Naquele período a psicanálise buscava entender o efeito psicológico ocorrido nas
pessoas sob influência de cultos religiosos. Reich chega à conclusão de que os conteúdos
psíquicos da religião têm a sua origem nas relações familiares desde a primeira infância e que
“em nenhuma classe social florescem as histerias e as perversões, tanto como acontece nos
círculos ascéticos da igreja”.
O fanatismo religioso reforça uma moralidade de submissão à estrutura familiar patriarcal
autoritária. Por isso existe o enorme interesse do fascismo e de toda forma de reacionarismo
político em se utilizar desse mecanismo para manter intacto o seu sistema de dominação.
Esse é outro elemento marcante no nosso cenário político atual. Vejamos o exemplo da
chamada “bancada da bíblia” e suas ramificações em diversos espaços da sociedade brasileira
a serviço do discurso fascista contra o que chamam de luta contra a corrupção. Basta lembrar
os discursos proferidos pelos deputados federais no dia 17 de abril e que já entrou para a
história como “circo dos horrores”.
O que aconteceu ali, transmitido em cadeia nacional, não pode ser analisado apenas como
mera cafonice, provincianismo ou coisa dessa natureza. Por trás daquelas declarações de voto
em nome de suas famílias, pelas suas cidades, por Deus e até por torturadores e assassinos da
ditadura militar, existe um discurso subjacente claramente conservador de alguns valores de
sua terra, do ideário militar, do patriarcalismo, do machismo, entre outros. Não existiu ali
nenhuma preocupação que suas retóricas fossem confrontadas com as suas condutas, nem
muito menos que essas retóricas guardassem algum grau de coerência e razoabilidade com o
que estava em votação.
Trata-se de um discurso falso moralista a serviço da imoralidade. Como nos diz Theodor
Adorno (filósofo e psicólogo alemão contemporâneo de Reich e Fromm), “O fim é o de que se
possa demonstrar ao mundo que existem patriotas, homens e mulheres cristãos, temerosos de
Deus e que, apesar de tudo, desejam doar suas vidas a seu lar, à sua terra natal e à causa de
Deus.” (Adorno, 1946).
Esse tipo de atitude era uma característica muito comum dos discursos em comícios nacional-
socialistas. Havia uma clara intenção em manipular as emoções dos indivíduos e evitar
qualquer argumentação objetiva. Hitler deixou claro em seu livro Mein Kampf (minha luta) que a
tática certa na relação com as massas seria abrir mão de argumentações, apontando apenas o
“grandioso objetivo final”. Dizia que “o povo, em sua maioria, tem natureza e atitude tão
femininas que os seus pensamentos e ações são determinados muito mais pela emoção e
sentimento do que pelo raciocínio” (Hitler, 1982).
A fuga de argumentações objetivas talvez seja um dos elementos mais preponderantes do
fascismo no caso brasileiro. Nem precisamos lembrar aqui os diversos momentos em que
Eduardo Cardoso (Advogado Geral da União) conseguiu desmascarar as incoerências e a falta
de argumentações das denúncias apresentadas contra a Presidente Dilma no processo que
resultou no seu afastamento.
Segundo Adorno, em artigo intitulado “Propaganda fascista e antissemitismo”, na retórica
fascista:
a relação entre as premissas e inferências é substituída por uma vinculação de ideias que
repousa em sua mera similaridade (…). Esse método não apenas escapa aos mecanismos de
exame racionais como também torna mais fácil seu acompanhamento pelo ouvinte. O ouvinte
não tem exatamente de fazer um pensamento, podendo se entregar passivamente ao fluxo de
palavras no qual mergulhou” (Adorno, 1946).
Esse método descrito por Adorno se encaixa perfeitamente à dinâmica das casas
parlamentares. Portanto, fica fácil entender o motivo pelo qual o Supremo Tribunal Federal fez
questão de se livrar de tantos “engodos políticos” que recairiam sobre seu “manto sagrado”,
caso tivesse que decidir juridicamente com base nas premissas apresentadas no pedido de
impeachment. Melhor mesmo foi “lavar as mãos” e apelar para a chamada “interna corporis”,
ou seja, uma matéria que, segundo a corte, deve ser de exclusividade do parlamento, sem a
interferência do Judiciário.
O cúmulo da falta de argumentos foi escancarado nas exposições teatrais da advogada do
PSDB, Janaina Pascoal, que ficou conhecida como a advogada do golpe. No que pese o teor
preconceituoso de certos xingamentos feitos em relação a esta senhora, seu comportamento
expressa não somente a falta de argumentações objetivas como também um desproporcional
grau de desequilíbrio. A colunista Nathali Macedo tem razão quando afirma em seu artigo que
Janaína é fascista, porém, comete um equívoco ao isentá-la de qualquer desequilíbrio mental.
Vale ressaltar que não existe contradição entre ser fascista e ser desequilibrada e também que
histeria não é uma patologia exclusivamente do sexo feminino. Não se trata de acusar uma
mulher de louca só porque ela está exaltada, como afirma Nathali. É necessário entender seu
comportamento dentro do contexto sobre o qual está inserida. Sobre isso, Adorno nos fala que
sempre existe algo de espúrio na histeria fascista e que é necessária uma atenção critica para
entendermos os mecanismos irracionais que o próprio fascismo promove.

Adorno nos fornece algumas dicas para entendermos esse tipo de comportamento,
Os líderes fascistas típicos são frequentemente chamados de histéricos. Não importa como
chegaram a essa atitude. A verdade é que seu comportamento histérico preenche certa função.
Embora eles de fato se pareçam a seus seguidores em não poucos aspectos, diferem em um
ponto importante: eles não conhecem nenhuma inibição ao se expressarem. Dizendo e fazendo o
que eles gostariam mas ou não ousam ou não podem, os agitadores fascistas atuam de modo
vicário para seus desarticulados ouvintes. Eles violam os tabus que a sociedade de classe média
colocou em todo o comportamento expressivo do cidadão normal e realista. Pode-se dizer que
alguns efeitos da propaganda fascista são obtidos através desse procedimento invasivo. Os
agitadores fascistas são levados a sério porque eles se arriscam a passar por bobos.
Outro elemento importante a ser destacado no comportamento fascista é a intolerância. Os
fascistas não toleram as diferenças na forma de ser, de agir e de pensar. O diferente deve ser
excluído, aniquilado. Os fascistas, geralmente, se manifestam de forma truculenta contra seus
discordantes. Para eles não existe adversários, todos são considerados inimigos.
O fascismo tem a grande necessidade de produzir um inimigo comum, seja ele real ou
imaginário. Para Adorno, “a propaganda fascista não ataca oponentes reais (…) isto é, constrói
uma imagem do judeu, do comunista, para depois parti-la em pedaços, sem cuidar muito da
maneira como essa imagem se relaciona com a realidade” (Adorno, 1946).
No Brasil, esse inimigo comum do fascismo, construído com muita precisão, é o Partido dos
Trabalhadores. Todos que discordam das suas posições são petistas e merecem linchamento
público. Andar de roupa vermelha pelas ruas já se tornou algo perigoso. Ser comunista, cubano,
petista, tanto faz. É tudo a mesma coisa. Todos são “judeus”. O inimigo que precisa ser
eliminado.
A pergunta que muitos de nós fazemos é como foi possível uma disseminação tão rápida
desse comportamento fascista no nosso país, considerando que os primeiros movimentos
verde e amarelo das ruas surgiram em 2014. Como isso foi possível? Onde estava essa gente
durante a última década?
Essa também foi uma questão levantada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman em relação
ao holocausto na Alemanha. Quem era aquela gente criminosa, aquelas “mentes perturbadas,
frias e assassinas?” A conclusão foi que, na realidade, aquelas pessoas eram nada mais nada
menos que as pessoas bem educadas da sua época. Como explicar isso?
Em seu livro “Modernidade e Holocausto” (1998), Bauman afirma que “Para colocar as coisas
claramente há razões para a gente se preocupar, porque sabemos agora que vivemos num tipo
de sociedade que tornou possível o Holocausto e que não teve nada que pudesse evitá-lo”.
Essa preocupação nos remete à estarrecedora afirmação de Reich, transcrita no início deste
texto. A de que não existe um único indivíduo que não seja portador, na sua estrutura, de
elementos do pensamento e do sentimento fascistas. A experiência que vivenciamos no Brasil
mostra que esses elementos podem permanecer latentes por um bom tempo, aptos a se
manifestarem a qualquer momento a depender de uma ambiência social favorável e um
discurso capaz de unificar e colocar em movimento essa onda reacionária que assistimos
atualmente.
A arcaica classe média brasileira sempre foi portadora de elementos do pensamento e
sentimento fascistas. Sempre teve aversão à diferença. Seu ódio contra pobres, negros,
homossexuais, entre outros, sempre existiu. Durante algum tempo esse ódio ficou latente até
encontrar um discurso pseudoracional de moralidade e combate à corrupção que, com o
incentivo da grande mídia, conseguiu explicitar-se amplamente sem nenhum pudor.
Predomina nessa classe média brasileira um profundo sentimento conservador e um
comportamento autoritário. Não por acaso, defende a pena de morte, a redução da maioridade
penal e tantas outras medidas reacionárias.
Para essa gente, o Brasil era muito melhor quando governado para um terço da população.
Daquela forma não era obrigada a conviver com pobres viajando ao seu lado no avião. Não
precisava aturar negros ocupando espaços em universidades e em outras instituições. Não
tinha dificuldade de encontrar mão-de-obra disposta a fazer qualquer serviço doméstico em
troca de um prato de comida. Enfim, não precisava suportar o peso da “humilhação” que o
processo de inclusão social lhe impôs.
Vale ressaltar que a expressão do fascismo no Brasil atualmente é algo ainda muito complexo
de ser analisado. Temos muita dificuldade de identificar o que será capaz de lhe dar maior
coesão. Suas bandeiras aparecem ainda, em certa medida, pulverizadas e difusas. Por
enquanto, o ódio é seu principal combustível.
Nunca é demais lembrar que o ódio à diferença foi também um fenômeno muito bem utilizado
na Alemanha de Hitler para aglutinar multidões em torno do seu projeto.
No Brasil, o projeto liberal está conseguindo utilizar esse mesmo combustível para retomar seu
leito e prosseguir um caminho interrompido recentemente em vários países da América Latina.
O que não sabemos é até quando seus sujeitos históricos serão capazes de sustentar o
discurso de manutenção da ordem democrática, mesmo em se tratando de uma
pseudodemocracia sustentada por um judiciário e uma mídia plenamente aliados aos seus
interesses.
Geralmente o fascismo vai muito além do que ele mesmo tinha como horizonte. Isso significa
que não reconhece limites, não tem nenhum escrúpulo quando decide eliminar os inimigos
escolhidos. E como nos diz BAUMAN (1998), “Exterminar o inimigo não é um “fim”, e sim um
“meio” para atingir o objetivo final”.
Noutras palavras, até agora a ofensiva da direita se sustentou no tripé parlamento-judiciário-
mídia. O que virá pela frente não se sabe. Vai depender do grau de consolidação dos interesses
econômicos dos diversos setores do grande capital dentro do atual contexto. Não há garantia
de que o caminho e, principalmente, os métodos utilizados até agora por eles sejam
suficientemente seguros.
Nesse sentido, não está descartada a possibilidade de um recrudescimento da ofensiva
direitista, cujas arbitrariedades dos atos até agora cometidos sejam infinitamente menores às
que poderão vir pela frente. Combustível pra isso não faltará. A ambiência fascista continuará
crescendo, alimentada por uma mídia infame.
Enganam-se aqueles que acham que existe a possibilidade real de “zerarmos tudo” e
“recomeçarmos o jogo” através de eleições gerais no país. Isso só seria possível num contexto
de pacto social. Algo bem distante da realidade que estamos experimentando atualmente na
sociedade brasileira. O momento é de intensificação da luta de classes, independente da
vontade das lideranças políticas.
O caminho a ser trilhado pela esquerda brasileira já foi amplamente traçado nas grandes
manifestações de rua que conseguiram, bravamente, sacudir a poeira da burocracia há tempo
instalada no interior de movimentos sociais, e, ao mesmo tempo, reposicionar a juventude e
outros segmentos importantes nas principais fileiras da luta direta pela democracia. Daqui pra
frente será necessário ampliar cada vez mais essa força que vem das ruas, conquistando
corações e mentes da grande massa de trabalhadoras e trabalhadores, antes que seja
contaminada pelo fascismo.
*Cícero Cavalcante é filósofo e psicanalista.
 

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