Você está na página 1de 17

A ascensão da Extrema Direita no Brasil

Francelson Martins do Carmo1

Resumo

A proposta deste trabalho é discorrer sobre a ascensão da extrema direita


no Brasil, também visa analisar como as manifestações sociais que aconteceram
na história recente do país foram orientados ou orquestrados por essa ideologia
extremista cuja teve enorme aceitação por grande parcela da população e que
provocou mudança de paradigma nas relações sociais e políticas no Brasil e,
além disso, sua a influência no surgimento de grupos radicais como o
bolsonarismo e no aumento das células neofascistas que eclodiram
acompanhando as pautas ultradireitistas como o discurso de ódio contra as
minorias (misógino, xenofóbico, homofóbico, racista).

Essa pesquisa é do tipo bibliográfica com pesquisa em livros, revistas e


artigos, além de fontes encontrada em sites especializados.
Palavras-chave: Extrema Direita. Bolsonarismo. Neofascismo. Ideologia.

Introdução

Antes de adentrar na temática proposta por esse trabalho é necessário


tecer breves referências sobre o que levou a extrema direita na Europa do século
XX a assumir o protagonismo político e social mais especificamente na Alemanha
para compreender como essa ideologia antidemocrática, totalitária e racista
conseguiu se destacar e impor um modelo de pensamento aceito pela maioria das
pessoas apesar de pregar o discurso de ódio como o extermínio das raças
consideradas impuras ou inferiores.

Nesse norte, mister fazer uma explanação sobre o conceito de fascismo no


sentido de situar o leitor na temática e demonstrar como o bolsonarismo é
considerado um movimento social neofascista. Para tanto recorreremos ao
conceito de fascismo empregado pelo professor ARMANDO BOITO JR.2.
Segundo BOITO JR., o conceito de fascismo tem que ser definido de
maneira generalista e teórico simultaneamente de fatos históricos e teoria acerca
1
Acadêmico do Curso de História da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP.
2
Professor titular de Ciência Política da Unicamp. E-mail: armando.boito@gmail.com
da política e do estado, observando o que seria essencial no fenômeno 3. O
referido autor empresta a termologia da biologia para exemplificar que fascismo
original e neofascismo brasileiro são duas espécies distintas pertencentes ao
mesmo gênero (fascismo), assim BOITO JR. define fascismo como sendo um
movimento reacionário de massa composta pela classe intermediária que apesar
de chegar ao poder cooptado pela grande burguesia, não é um movimento
burguês.
Além da conceituação, apontar as principais características e valores
defendidos pela extrema direita ajuda a entender como esse fenômeno ideológico
ascende em meio a crises socioeconômicas, nessa toada, para os autores Camus
e Lebourg a essência da visão de mundo da extrema-direita é o organicismo,
baseado no ideário de que a sociedade funciona semelhante a um organismo vivo
completo, organizado e homogêneo, que planejam fundar ou reconstruir num
modelo exacerbado de nacionalidade, religião ou raça, o conceito leva-os a
rejeitar formas diversas de universalismo, ou seja, a idealização de um "nós"
excluindo um "eles", assim a extrema-direita:
“tende a absolutizar as diferenças entre nações, raças, indivíduos ou
culturas, uma vez que estas perturbam os seus esforços em direção ao
sonho utópico da sociedade “fechada” e naturalmente organizada,
entendida como a condição para assegurar o renascimento de uma
comunidade finalmente reconectada com a sua natureza quase eterna e
restabelecida sobre bases metafísicas firmes....Ao verem a sua
comunidade num estado de decadência facilitado pelas elites
governantes, os membros de extrema-direita apresentam-se como uma
elite natural, sã e alternativa, com a missão redentora de salvar a
sociedade da sua prometida desgraça. Rejeitam tanto o seu sistema
político nacional como a ordem geopolítica global (incluindo as suas
instituições e valores, por exemplo, o liberalismo político e o humanismo
igualitário) que são apresentados como necessitando de ser
abandonados ou expurgados das suas impurezas, para que a
"comunidade redentora" possa eventualmente deixar a atual fase de
crise liminar para inaugurar a nova era.” 4 

Nessa esteira, os extremistas se apresentam como salvadores da pátria do


colapso social e surgem com a missão de conduzir a sociedade nas crises rumo a
uma nova era. Há um ideal de comunidade representado por meio de louvor e
saudosismo de belas épocas (no caso brasileiro culto ao regime civil-militar
instituído em 1964).

3
BOITO JR., Armando. Por que caracterizar o bolsonarismo como neofascismo, 2020.
4
https://pt.wikipedia.org/wiki/Extrema-direita#cite_note-FOOTNOTECamusLebourg201722-4
A presente obra pretende identificar possíveis semelhanças de fatores
sociais e políticos que levaram a ascensão da extrema direita em períodos
históricos distintos, contudo, sem ter a pretensão de comparar a realidade de
épocas e mentalidades que seria humanamente impossível comparar.
Essa abordagem não tem a pretensão de ser conclusiva, haja vista que, os
acontecimentos são muito recentes e requer maiores debates acadêmicos e
sociais sobre o tema, principalmente porque é um modelo de sociedade que está
em transição e pela complexidade da temática carece de mais pesquisas e
estudos.

Os fatores que levaram a ascensão da extrema direita na Alemanha

O sistema capitalista vira e volta sofre com ciclos de desenvolvimento e


crises econômicas no transcurso da história, no final do século XIX a Alemanha e
Itália se unificam e entram na disputa por mercados e essa unificação tardia
desses dois países provoca desiquilíbrio no mundo colonial dividido pelo
imperialismo europeu.

Com a expansionismo e imperialismo ultramarino alemão é possível


perceber novos traços nas relações externa e essas alterações no cenário
internacional provocam conflitos regionais como a Guerra Franco-Prussiana
("1870 e 1871") por disputa de territórios pelas potências europeias que provoca o
um espírito revanchista e um nacionalismo exacerbado.
Nesse sentido, “...Mesmo tendo o desenvolvimento capitalista e o
imperialismo responsabilidade na derrapagem descontrolada do mundo em
direção a um conflito mundial...” 5, o imperialismo é considerado um dos fatores
que levaram a Europa a mergulhar no sangrento conflito bélico nos anos de 1914
e 1918.
No pós Primeira Guerra Mundial, o mundo europeu estava mergulhado
numa crise econômica e humanitária, e a República de Weimar
(república estabelecida na Alemanha no período pós Primeira Guerra em 1919 e
que perdurou até momentos iniciais do regime nazista em 1933), além desses
fatores, é obrigada a pagar pesadas indenizações e acordos (Tratado de
Versalhes) por ser a parte perdedora do conflito bélico.
5
HOBSBAWM, 1987, p. 275
A recém e frágil democracia mergulhada no caos econômico e social
(desemprego, hiperinflação) é terreno fértil para a propagação de manifestações
de uma direita extremista na Alemanha com ideias nacionalistas e espírito
revanchista pelas humilhações sofridas na guerra.
“A Grande Depressão”6 econômica que teve início em meados de 1929, nos
Estados Unidos, e se espalhou no mundo capitalista com efeitos que perduraram
por muito tempo, teve consequências econômicas, sociais e políticos
devastadores por toda Alemanha e provocou descontentamento em vários
seguimentos sociais.
Assim o surgimento do discurso da extrema direita tem como pano de fundo
ser solução para os graves problemas sociais enfrentados por aquele país. O
grande desemprego no meio da classe média, a elite burguesa receosa com o
crescimento dos sindicados e "Partido Comunista Alemão", se aliam ao "Partido
Nazista" de Adolfo Hitler por acreditar que seria a saída para uma Alemanha
mergulhada no caos.
O protagonismo das ideias radicais do nazismo emerge em meio a esse
cenário catastrófico e se apresenta como sendo a única opção social e política e
por esses motivos são aceitos por grande parte da população alemã que adere a
uma ideologia baseada num discurso de ódio, movida pelo espírito revanchista e
um nacionalismo exacerbado.

A ascensão da extrema direita no Brasil

O surgimento de grupos de extrema direita no Brasil remonta a década de


1930 com os integralistas que propunha uma adequação do fascismo para a
realidade política do Brasil. Na década de 1980, o país passava por um processo
de mudanças sociais, do crescimento e fortalecimento dos movimentos sindicais,
reabertura política, anistia e a redemocratização. Todo esse contexto social
fragilizado favorecia o surgimento de pautas ultradireitistas.

Outro aspecto que merece destaque recai sobre o enfoque das pautas
neoliberais em voga na década de 1990 cujas pregavam o estado mínimo,
liberdade econômica e redução de políticas sociais com contenção dos gastos

6
A Crise de 1929 foi a maior crise do capitalismo financeiro que teve como epicentro o
Estados Unidos da América e se alastrou por todo o mundo capitalista.
públicos nos países periféricos como o caso brasileiro, no entanto, foram
interrompidas ou retardadas por governos ditos progressistas, os quais não
rompem com o status co do modelo de austeridade imposto pelo liberalismo
econômico, no entanto, provocam mudanças sensíveis ao tentar oportunizar
melhorias nas condições de vida da classe trabalhadora por meio de políticas de
caráter de assistência emergencial, concessão de crédito facilitado e valorização
real do salário-mínimo e de seu poder de compra.
Porém, o enfoque desse trabalho é no período da história mais recente, mais
especificamente a partir do ano de 2007, pois é a partir desse momento histórico
é que ideias de extremistas da direita ganham maior destaque em virtude da
grande depressão econômica daquele período, ou seja, momento em que os
ideais direitistas ganham força motriz para usurpar o protagonismo social
resultando na eleição de um candidato da extrema direita como presidente no
Brasil em 2018.
A Crise financeira de 2007–2008, fora provocada por uma bolha
imobiliária nos Estados Unidos, causada pelo aumento nos valores imobiliários.
O governo dos EUAS, na tentativa de evitar um colapso injetou 200 bilhões
de dólares nas agências de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, fez a
renacionalização dessas duas empresas privatizadas no ano de 1968, ficando sob
a tutela governamental por tempo indeterminado, essa operação fora considerada
o maior socorro financeiro do governo norte-americano até aquele momento
histórico.
A crise atravessou o Oceano Atlântico e arrastou a
Europa. Alemanha, França, Áustria, Países Baixos e Itália para ajudar seus
sistemas financeiros anunciaram pacotes que somavam 1,17 trilhão
de euros (R$ 2,76 trilhões, em valores correntes na época). O PIB europeu
da teve uma queda de 1,5% no quarto trimestre de 2008, em relação ao trimestre
anterior, a maior contração da história da economia da zona Euro. 
Se espalhou por todo o mundo capitalista e provocou uma recessão global
no ano de 2009. Levou à nacionalização de bancos, derrubou governos, gerou
taxas de desemprego altíssimas e causou várias ondas de protestos, muitos deles
violentos. Essa crise é considerada por muitos economistas como a pior crise
econômica desde a Grande Depressão de 1929.
Em linhas gerais, o Brasil sentiu menos os efeitos da crise de 2008, no
entanto, diversas empresas multinacionais brasileiras sofreram grandes prejuízos
bilionários, a Sadia teve prejuízo trimestral de mais de R$ 2 bilhões que provocou
a fusão com maior companhia concorrente (Perdigão) originando a BRF. A
Bovespa, teve uma queda em 2008 de 4%, a maior desde a década de 70.
Em 2009 o governo brasileiro adotou algumas medidas econômicas com
objetivo de amenizar os efeitos da crise como redução da taxa básica de juros
(SELIC) de 13,75% para 8,75% ao ano, redução de juros pagos para
empréstimos tanto de pessoas físicas quanto de empresas, reduziu a alíquota de
impostos (principalmente IPI) para produtos da linha branca, materiais de
construção e automóveis e liberou bilhões de reais em depósitos compulsórios
para os bancos, para aumentar a liquidez no mercado (inserir referências).
Segundo o professor Istvan Kasznar o Brasil adotou medidas diferentes das
principais economias mundiais, no país tupiniquim houve renúncias fiscais, ao
passo que, nos outros países houve redução de gastos públicos e buscaram
austeridade. Apesar dessas medidas se mostrarem positivas a curto prazo, no
entanto, a economia brasileira sofreu retração de 0,3% em 2009 e essas ações
eram paliativas e imediatistas e não se mostraram ser efetivas a longo prazo
resultando em estagnação econômica nos anos seguintes.
Associado aos efeitos imediatos da Grande Resseção de 2008, a
vulnerabilidade da economia brasileira pela dependência de exportação de
produtos do setor primário e com a queda do preço dos commodities
(agronegócio e mineração) expõe o que o economista Reinaldo Gonçalves
conceitua de “vulnerabilidade estrutural...Nos últimos 20 anos, o Brasil aprofundou
o processo de reprimarização da sua economia, tornando-se um país ainda mais
dependente [de produtos primários]” .

Outro fenômeno resultante da crise de 2008 é a queda do preço


do dólar em virtude das injeções monetárias das economias
capitalistas para evitar o colapso total do sistema financeiro. Nesse
caso, com a moeda norte americana barata os brasileiros viajaram
mais para o exterior e as importações aumentaram também e esses
fatores provocaram uma concorrência desigual com os produtos
brasileiros e consequentemente há fechamento de indústrias
nacionais resultando num fenômeno denominado de
desindustrialização.
O desfecho dessa dinâmica financeira e social é aumento da
inflação, desemprego, aumento da pobreza, marginalização das
classes menos favorecidas, e o caos social se instala que aliada a
escândalos de corrupção nos governos petista se torna um ambiente
propício para o ressurgimento de ideias pregadas pela extrema direita.
É importante explicar amiúde os efeitos nefastos a longo prazo da
crise de 2008, pois é nesse contexto de crises que os ideais
extremistas ganham força e emergem com o discurso heroico de
trazer a solução e por esse forte apelo salvador da pátria falida é que
convence grande parcela da população a aderir manifestações
autoritária e antidemocráticas como o impeachment de Dilma
Rousseff e fechamento do congresso e STF.

O bolsonarismo: personificação da extrema direita

Antes de argumentar sobre o bolsonarismo enquanto uma vertente da


extrema direita, é imperioso destacar que o bolsonarismo é um fenômeno
ideológico que vai além da pessoa Bolsonaro, cuja assume um papel
ultraconservadora, anticomunista, nacionalista e critica qualquer posição política
que se identifica ou se assemelha com a esquerda.

O fato é que, a extrema direita brasileira se espelha e se identifica com a


figura do então presidente da república por perceber nele seus valores, ou seja,
representa a nova faceta da extrema direita personificada na criação da figura de
um mito encarnado em Bolsonaro, portanto:
“...representa os valores compartilhados pela maioria dos apoiadores
do presidente incluem, entre outras coisas: - sentimento de "abandono"
pelos políticos tradicionais - ódio ao PT relacionado às políticas de in-
clusão defendidas pelo partido (sejam de renda, racial, social, de gênero
ou de orientação sexual) - rejeição ao PT como resultado da corrupção
revelada no mensalão e na Operação Lava Jato - rejeição aos principais
partidos políticos (também alvos da Lava Jato) - esperança de que al-
guém que melhore a política - medo de ser vítima de crimes - defesa do
uso de armas para auto-proteção - temor de mudanças na estrutura da
família tradicional e na liberdade religiosa - mal-estar com as novas iden-
tidades de gênero e com educação sexual na escola - liberalismo
econômico (ou seja, atuação menor do Estado na atividade econômica) -
nostalgia da ditadura militar e defesa da participação de militares na
política - crítica constante ao Supremo Tribunal Federal e a veículos jor-
nalísticos pela cobertura supostamente injusta do governo Bolsonaro -
anticomunismo (contra a chamada "doutrinação marxista" nas escolas,
por exemplo) - defesa da flexibilização das leis ambientais para facilitar o
avanço do agronegócio - postura crítica, ainda que sem embasamento,
de recomendações científicas em temas que geram conflito com metas
econômicas, como a pandemia e o aquecimento global”7

A peculiaridade do Bolsonarismo enquanto uma ideologia de extrema-direita


se personifica em alguém que encarna uma mescla de esoterismo e charla-
tanismo em tempos de redes sociais e de fake news 8. Portanto, a personificação
dos sentimentos e valores extremistas em Bolsonorano é o que difere o bolsonar-
ismo dos demais extremistas tradicionais.

Aumento de células neofascistas

O nazismo surgiu na Alemanha é/foi uma ideologia fascista que prega a


supremacia da raça ariana9 que exterminou mais de mais de 6 milhões de judeus
na Segunda Grande Guerra Mundial e que se caracterizou pelo:

“nacionalismo, que colocava os interesses da nação como primordiais;


militarismo, radicando na ação militar a solução para os problemas
econômicos e sociais do país, principalmente a garantia da estabilidade
da ordem social; autoritarismo, restringindo a participação política e
centrando o poder na figura de um líder; anticomunismo, apontando os
comunistas como responsáveis pelos problemas sociais; e idealismo e
romantismo, estimulando a irracionalidade como meio de adesão às
propostas políticas de solução dos problemas nacionais."10

Segundo os levantamentos noticiado no site do Senado Federal Publicado


em 13/8/202111, houve um aumento considerável de conteúdos fazendo apologia
ao nazismo na internet. A Safernet (ONG que defende os direitos humanos na
7
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62490534
8
RIBEIRO, Guilherme. ENTRE ARMAS E PÚLPITOS: a necropolítica do Bolsonarismo, pp.5
9
Este termo foi utilizado pela primeira vez pelo diplomata e escritor francês conde Arthur de
Gobineu (1806-1882), segundo Gobineu, baseado na teoria de Friedrich von Schlegel, existia no
antigo um povo, os arianos, que originaram-se na Ásia Central, migrando para o sul e para o
oeste, chegando à Europa e a alguns territórios que hoje estão o Afeganistão, a Índia e o Irã.
Para Gabineu, todos os povos europeus de raça “pura” branca eram descendentes do antigo povo
ariano, o povo ariano – palavra que significa “nobre” – seria o ápice da civilização
10
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-nazismo.htm
11
Fonte: Agência Senado
internet), apontou que houve aumento no número de sites com conteúdo nazista
recentemente. Em 2020, houve a remoção de 7,8 mil páginas relacionadas ao
nazismo. Em 2019 1,5 mil páginas foram derrubadas. Segundo a ONG as
denúncias são encaminhadas para o Ministério Público requerer a exclusão de
página com conteúdo nazista.
Um levantamento feito sobre investigações a apologia ao nazismo apontou
um aumento vertiginoso que coincide com a eleição de Bolsonaro a presidência
do Brasil conforme o gráfico abaixo:

Segundo o gráfico, de 2012 a 2017 houve uma média de 10 casos de apolo -


gia ao nazismo, já em 2018 há um crescimento significativo e em 2019 há ex-
plosão chegando em 69 casos e segue numa crescente para 110 casos em 2020.
A cada ano um recorde é quebrado e esse aumento está associado a ascensão
da extrema direita na figura do Presidente Jair Bolsonaro.
Para Luiz Kignel, da Federação Israelita do Brasil “Pessoas que até há
algum tempo estavam escondidas e caladas agora começam a achar que têm
espaço para cuspir o seu veneno. Isso é muito perigoso.” alerta sobre o perigo do
neonazismo.
Claudio Lottenberg (presidente da Confederação Israelita do Brasil) ver com
preocupação “o crescimento que tem sido percebido em manifestações
neonazistas e antissemitas no Brasil”. Segundo ele, o Brasil tem um governo
“nacionalista, eleito em nome de uma linha de extrema direita...Mas ninguém
decreta a intolerância, que é fruto do silêncio de uma maioria”.
Segundo Adriana Dias, o silêncio sobre a história do nazismo no Brasil
(sediou a maior filial do Partido Nazista fora da Alemanha), faz parte desse
contexto. “A desnazificação é um processo que passa pela educação, e isso
ainda não ocorreu no Brasil”, afirma. “Em muitos lugares do país ficou instalado
um pró-nazismo que não é de superfície , mas algo subterrâneo, e essas pessoas
vão aos poucos se juntando e se protegendo”.
O aumento do discurso fascista se explica pela proximidade das ideias
nazistas com as manifestações da extrema direita, além disso, o cenário
construído no ambiente palaciano do Planalto em que o presidente Bolsonaro
recebeu fora da agenda oficial, a deputada alemã Beatrix von Storch, neta de um
ministro de Hitler. O secretário nacional da Cultura, Roberto Alvim, recita em rede
nacional trecho adaptado do discurso do ministro nazista Joseph Goebbels e
ainda colocou como trilha sonora uma das músicas favoritas de Hitler. O assessor
presidencial Filipe Martins foi gravado fazendo com os dedos um sinal de ódio
utilizado por supremacistas brancos dos Estados Unidos.
O discurso do ódio, de violência de Bolsonaro, a máquina de facknews do
gabinete do ódio são exemplos que favorecem a disseminação e propagação de
apologia nazista em pleno século XXI.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho procurou traçar de maneira superficial uma temática que pela
complexidade demanda maiores e mais profundas abordagens, contudo, tem sua
relevância principalmente para alertar sobre o perigo que está rondando o país
com a ascensão da extrema direita ao protagonismo nas relações sociais e políticas
no Brasil.

Nessa abordagem tentou-se evidenciar que os acontecimentos da recente


história brasileira trazem um trágico capítulo em que parte da sociedade brasileira
aderiu a ideias da extrema direita e como a maioria das pesquisas apontam é
apenas reflexo de uma sociedade preconceituosa e racista com fortes raízes
históricas na sociedade escravocrata.
Também procurou identificar as semelhanças de fatores sociais e políticos
que levaram a ascensão da extrema direita na Alemanha do período entre
guerras (1919 a 1939) e os acontecimentos mais recentes do Brasil e com base
nesse pesquisa ficou evidente principalmente que em ambos os momentos
históricos a extrema direita surge em meio ao caos social como sendo a elite
natural capaz de salvar a famigerada nação rumo a uma nova era de bonança e
calmaria, pois se apresenta como a única opção social e política.
Tentou-se demonstrar que o bolsonarismo é uma vertente das ideias
extremistas personificada na figura do então presidente do Brasil, pois os
ultradireitistas veem seus sentimentos e valores espelhados em Bolsonaro e é
essa característica que difere o bolsonarismo da extrema direita tradicional.
Essa abordagem tem sua relevância e precisa ser incansavelmente debatida
para tentar frear esse tipo de ideologia que já deu amostras de sua força
destrutiva servindo como alerta o que aconteceu na Alemanha nazista de Adolfo
Hitler na qual houve um dos piores e negros momentos da história da
humanidade com extermínio de mais de 6 milhões de judeus no holocausto,
mergulhou o mundo na maior e mais sangrenta guerra mundial com um total
estimado de 70 a 85 milhões de pessoais mortas.
A humanidade necessita de amor, paz, necessita de harmonia. O Brasil
precisa de união e não de discurso de ódio, necessita de amor ao próximo.
Ao final desse artigo foram anexadas imagens que traduzem sem palavras a
incitação ao nazismo por Bolsonaro e integrantes do governo.

Referências
BOITO JR., Armando. Por que caracterizar o bolsonarismo como neofascismo, 2020.
Camus, Jean-Yves; Lebourg, Nicolas (2017). Far-Right Politics in Europe. [S.l.]: Harvard University
Press. ISBN 9780674971530
GONÇALVES, R. Vulnerabilidade externa e crise econômica no Brasil. Revista Inscrita. Conselho
Federal de Serviço Social (CFESS), Brasília, Março/2009.
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991; Tradução Marcos
Santarrita; - São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
HOBSBAWM, Eric. Da Paz à Guerra. In: HOBSBAWM, Eric, A Era dos Impérios. [Trad.]. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1998.
<Https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-09/crise-de-2008-resultou-em-
desindustrializacao-e-crise-fiscal-no-brasil >. Acesso em: 05/12/2022. 
<Https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62490534> Acesso em: 08/12/2022. 
<Https://www.conib.org.br/noticias/todas-as-noticias/brasil-tem-recorde-de-denuncias-sobre-
conteudo-de-apologia-ao-nazismo-nas-redes-diz-jornal.html>. Acesso em: 08/12/2022. 
<Https://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2021/10/10/crise-financeira-colapso-que-ameacou-o-
capitalismo.htm >. Acesso em: 08/12/2022. 
<https://www.politize.com.br/crise-financeira-de-2008/>. Acesso em: 05/12/2022. 
<Https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/08/confundida-com-liberdade-de-
expressao-apologia-ao-nazismo-cresce-no-brasil-a-partir-de-2019>. Acesso em: 30/11/2022. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Extrema-direita#cite_note-FOOTNOTECamusLebourg201722-4
Bolsonaro com deputada ultradireitista

Roberto Alvim, recitando discurso do ministro nazista Joseph Goebbels e ainda colocou
como trilha sonora uma das músicas favoritas de Hitler
O assessor presidencial Filipe Martins fazendo um sinal de ódio utilizado por supremacistas
brancos dos Estados Unidos.

Apoiadores de Bolsonaro fazendo saudação nazista


Jornalista bolsonarista da Jovem Pan fazendo gesto nazista

Professora bolsonarista ensinado gesto nazista em escola. Sua advogada alegou que
estava ensinando a saudação a bandeira brasileira.

Você também pode gostar