Você está na página 1de 8

A queda do liberalismo – cap.

4 – Resenha Individual Erwin

Durante a Era da Catástrofe, que Hobsbawm caracteriza como o período entre


1914 a 1945, o progresso era tido como certo, apoiado pelos valores e
instituições da civilização liberal. No entanto, o que se observou e o que
chocou aos sobrevivientes deste século foram justamente o colapso destes; o
compromisso do Estado e da socidade de serem guiados pela razão e pela
constitucionalidade foi mascarado pela desconfiança de uma ditadura e de
governos absolutos – os valores que tinham se desenvolvido durante todo o
século e que estavam destinados a avançar cada dia mais demonstrou um
comportamento contrario.

O atraso das massas, acompanhado de sua ignorância foi objeto de exploração


de demagogos, que exploravam a irracionalidade humana e davam sinais de
uma situação alarmante. O movimento trabalhista socialista era tido como um
dos mais perigosos movimentos de massa, e em teoria eram fortemente
comprometidos com os valores da razão, progresso, ciência, educação e
liberdade individual assim como todos os outros.

O regime da democracia liberal e suas instituições haviam avançado


significativamente, como pode-se notar ao constatar que, com exeção da
Rússia soviética, todos os Estados participantes da Primeira Guerra Mundial
constituíam-se em regimes parlamentares representativos eleitos. Importante
frisar que este foi um fenômeno exclusivamente europeu e americano, visto
que ainda havia um terço da população vivendo sob domínio colonial.

No entanto, entre os 23 anos entre a ‘’Marcha sobre Roma’’ de Mussolini e o


auge do sucesso do Eixo na Segunda Guerra Mundial, notou-se uma retirada
acelerada e desastrosa das instituições políticas liberais até então
predominantes.Durante toda a Era da Catástrofe o liberalismo sofreu uma
brusca queda, e este movimento acelerou-se mais ainda depois que Adolf
Hitler entrou para a chancelaria alemã em 1933. Era um tendência mundial,
visto que os governos constitucionais e eleitos diminuíram com o passar dos
anos.

Importante frisar que essa ameaça ao liberalismo vinha exclusivamente da


direita política, ao contrário do que especulava entre 1945 e 1989, de que essa
ameaça vinha essencialmente do comunismo. ‘’(...) mas nos vinte anos de
enfraquecimento do liberalismo nem um único regime que pudesse ser
chamado de liberal-democrático foi derrubado pela esquerda. O perigo vinha
exclusivamente da direita’’(HOBSBAWM, p.116, 1994)

A direita representava não só um perigo para os governos constitucionais,


mas uma ameaça à ideologia da civilização liberal, tornando-se num
movimento com potencial mundial, denominado de fascismo. Esses
movimentos que tinham como objetivo derrubar os regimes liberais e
democráticos eram todos contra a revolução social, autoritários e contra as
instituições políticas liberais.

O apoio dos militares e das polícias foi essencial para a direita conseguir
chegar ao poder. Eles foram amparados por estes grupos, e todos tendiam ao
nacionalismo, por conta de experiências passadas com Estados estrangeiros e
guerras perdidas, que foram o embrião do fascismo. Exaltar o nacionalismo
legitimava a ação destes e ao mesmo tempo os tornava populares.

Os autoritários ou conservadores anacrônicos não tinham nenhum programa


de ideologia particular, pregavam somente o anticomunismo e os preconceitos
tradicionais de sua classe social. Os aliados a Alemanha de Hitler justificavam-
se com o fato de que no período entreguerras, a aliança era feita naturalmente
entre os diferentes setores da direita política. Enquanto isso, os reacionários
tradicionais, como Winston Churchill, estavam sujeitos a enfrentar e fazer
oposição a movimentos declaradamente fascistas, contando às vezes com
grande apoio das grandes massas.

Outra vertente da direita criou o chamado estatismo orgânico, chamado


também de regimes conservadores. Nesta nova concepção havia a ideologia
de uma entidade coletiva, na qual as diferentes classes sociais, aceitando a
hierarquia social, desempenham cada uma sua função numa sociedade
orgânica, composta por todos. Isso serviu de inspiração para varias teorias
‘’corporativistas’’ que substituíam as democracias liberais pela representação
de grupos de interesses econômicos. Combinava-se sempre com regimes
autoritários e com Estados fortes, e em algumas situações limitavam ou até
aboliam a democracia eleitoral. Um grande exemplo de Estado corporativo foi
Portugal, que se tornou o mais longevo de todos os regimes antiliberais da
direita na Europa.

Não existia uma linha nítida que separava esses regimes reacionários e o
fascismo, pois ambos partilhavam dos mesmos inimigos e metas comuns. A
Igreja Católica Romana não era fascista, e por sua aversão a Estados
seculares com tendências totalitárias, veio a sofrer oposição do fascismo. No
entanto, os Estados corporativistas foi em grande parte elaborada em
ambientes fascistas, especialmente italianos, mas recorriam a tradição católica.

A identificação da Igreja com a direita,que tinha como expoentes Hitler e


Mussolini, causou problemas morais para os católicos que se preocupavam
com o social, além de conflitos políticos. A Igreja fez, em seguida, uma
renovação radical, criando uma política social que destacava a necessidade de
dar aos trabalhadores o que era devido a eles, mantendo o caráter sagrado da
família e da propriedade privada. Os católicos democráticos e sociais eram
minoria políticas marginais no ambiente fascista. Quando o liberalismo esteve
em queda, a Igreja, com poucas exceções, se alegrou.

II

Os movimentos que são denominados verdadeiramente de fascistas tiveram


como primeiro expoente o italiano, que foi responsável por dar nome ao
fenômeno, criado por Benito Mussolini. O fascismo italiano não teve muita
atração internacional, sem a ascensão de Hitler na Alemanha no início de
1933, o fascismo não teria se alastrado como um movimento geral.

Ou seja, a posição internacional que a Alemanha adquiriu como potência


mundial foi responsável pela ascensão do fascismo, garantindo seu impacto
até fora da Europa.

Os elementos comuns dos diferentes tipos de fascismo, além de um senso


geral de hegemonia alemã, eram o nacionalismo, o anticomunismo, e o
antiliberalismo. Um elemento fundamental como o racismo não estava
inicialmente presente no fascismo italiano.

A grande diferença entre a direita fascista e a não fascista era que o fascismo
em si mobilizava as massas de baixo para cima; o fascismo se alegrava com a
mobilização destas grandes massas e mantinha-se na forma de teatro público,
simbolicamente. Os fascistas eram considerados os revolucionários da
contrarrevolução.

Apesar do fascismo trouxesse a tona a retórica da volta ao passado tradicional,


essa vertente não era um movimento tradicionalista. Os movimentos fascistas,
italiano e alemão, não se apoiavam em guardiões históricos como a Igreja e o
rei, mas buscavam se afirmar com o princípio da liderança nada tradicional, no
homem que faz a si mesmo e que é legitimado pelas massas e por ideologias
seculares.

A origem dessa mistura de valores conservadores, com técnicas de


democracia de massa e o nacionalismo é explicada como uma resposta da
direita radical ao liberalismo, a grande ascensão de movimentos trabalhistas e
a onda de estrangeiros, no que foi chamada de maior migração de massas da
história até então. Com isso, surgiu a xenofobia em massa, da qual o racismo
se tornou a expressão comum. Movimentos anti-imigração se tornaram cada
vez mais comuns, principalmente nos EUA.

Surgiu em seguida o antissemitismo, proveniente do ressentimento dos


homens comuns que estavam sendo esmagados pois estavam entre grandes
empresas e grandes movimentos trabalhistas, estavam perdendo seu status
social. A figura do judeu se tornou hostil e se encaixava em vários símbolos
que podiam os tornar odiado: o capitalista ou financista, o agente
revolucionário, a competição injusta, pois estes possuíam uma fatia
desproporcional de empregos em certas áreas, do estrangeiro ou forasteiro, e
sem citar a visão dos chamados cristãos antiquados que diziam que os judeus
haviam matado Jesus.

O antissemitismo teve grande influencia para movimentos fascistas europeus


orientais, que adquiriram uma grande massa de seguidores, como na Romênia
e na Hungria. No entanto, em território alemão o antissemitismo, apesar de
existir em bases rurais e provinciais, era menos violento e mais tolerante.
Judeus que fugiam para a Alemanha se surpreenderam com a ausência de
antissemitismo nas ruas.

Os movimentos da direita radical que apelavam para a intolerância atraiam


sobre tudo as camadas da classe média e média baixa das sociedades
europeias. Essas classes viraram para a direita radical principalmente em
países onde as ideologias do liberalismo e da democracia não eram
dominantes, pois em países nos quais a hegemonia da tradição revolucionaria
de países como Grã-Bretanha, França e Estados Unidos impediram o
surgimento de movimentos fascistas de massa.

‘’A ameaça a sociedade liberal e todos os seus valores parecia vir


exclusivamente da direita; a ameaça a ordem social, da esquerda. As pessoas
de classe média escolhiam sua política de acordo com seus temores.’’
(HOBSBAWM, p.126, 1994).

Os conservadores tradicionais simpatizavam com o fascismo contra o ‘’inimigo


maior’’, que seria o comunismo, que representaria uma ameaça a ordem social.
A crença que o fascismo traria uma vitoria sobre as forças de desordem foi o
que o fez triunfar – os sucessos do movimento fascista fizeram com que ele
parecesse uma onda do futuro – a Grã-Bretanha, no entanto, teve forte
resistência ao movimento, visto que era considerada universalmente como
modelo de estabilidade política e social.

III

A ascensão da direita radical após a Primeira Guerra Mundial foi uma resposta
ao perigo da ascensão do poder operário e da revolução social; da Revolução
de Outubro e do leninismo. No entanto, há de se considerar duas restrições a
tese de que a reação da direita radical foi essencialmente em resposta ao
movimento de esquerda revolucionário.

Primeiro porque considerar apenas essa teoria desconsidera o efeito da


Primeira Guerra Mundial sobre uma camada social de soldados e jovens
nacionalistas, em grande parte de classe média e classe média baixa, que
ficaram ressentidos e ao mesmo tempo liberaram sua brutalidade latente,
inspirados pela guerra. Homens que consideravam a experiência do combate
fundamental e inspiradora.
A segunda restrição diz respeito a reação da direita não ao bolchevismo em
especifico, mas com todos os movimentos que ameaçavam a ordem social já
estabelecida da sociedade, e viam na classe operária o seu maior alvo.

A ascensão do fascismo após a Primeira Guerra Mundial aconteceu devido ao


colapso dos velhos regimes, e consequentemente das antigas classes
dominantes e todo o seu poder, hegemonia e influencia. Em países onde essa
ruptura com os velhos regimes não aconteceu, o fascismo não se fez presente.

O triunfo da direita radical foi proporcionado pela existência de um Estado


velho com uma estrutura de poder debilitada, o que gera uma grande massa de
cidadãos insatisfeitos e desorientados, que junto com a ameaça de um
revolução social e com o ressentimento nacionalista por contra dos tratados de
paz de 1918-1920 gerou a situação perfeita para o movimento ultradireitista
ascender.

O nacional-socialismo, partido de Hitler tem como sua principal e mais


importante dar um fim a Grande Depressão de maneira mais efetiva em
comparação a qualquer outro governo, devido ao seu antiliberalismo que não
os comprometia com o livre mercado. Não era um regime novo e totalmente
diferente, mas sim um regime revitalizado.

O fascismo, por sua vez, foi um regime mais calcado nos interesses das
antigas classes dominantes, tendo surgido em reação a onda revolucionaria do
pós guerra, diferentemente da Alemanha, que foi uma reação a Grande
Depressão. A importância do fascismo recai no fato de ele ter sido o pioneiro
de uma nova versão da contra-revolução, que inspirou Hitler.

O capital, quando Hitler chegou ao poder, colaborou e teve benefícios,


principalmente da expropriação dos judeus. O fascismo foi muito vantajoso
para o capital, visto que eliminou a revolução social intentada por esquerdistas
e acabou com os sindicatos e todas as limitações de os empresários
administrarem a sua força de trabalho. A destruição dos movimentos
trabalhistas foi uma solução favorável em relação a Depressão para o
capital.Desta forma, conclui-se que o fascismo dinamizou e modernizou as
economias industriais.

IV

A reflexão acerca se o fascismo teria ganhado força se não fosse a Grande


Depressão é válida, visto que a Itália sozinha não era tão influente para servir
como base promissora que abalaria o mundo. Foi a Grande Depressão que
proporcionou a Hitler o fenômeno que se tornou, saindo da periferia para se
tornar uma das figuras mais importantes do século XX. A Alemanha, devido ao
seu tamanho, por seu potencial econômico e militar foi decisivo para o triunfo
do fascismo, pois exercia tamanho poder político na Europa
independentemente da forma de governo.

--A política expansionista e ao mesmo tempo agressiva da Itália e da Alemanha


foi responsável por dominar a política internacional da década. Por essa razão
muitos Estados ou movimentos apropriassem dos valores fascistas como
inspiração, buscando inclusive apoio da Alemanha e da Itália. Fora da Europa,
no entanto, as condições eram poucas para criação de movimentos
verdadeiramente fascistas. No entanto, algumas característica ecoaram no
além mar, como o anti-semitismo, a superioridade racial dos arianos e o
racismo. Mas o fascismo em si parecia não se aplicar a continentes como a
Asia e a Africa pois não tinham relações com as situações políticas locais.

O Japão, apesar de suas afinidades com o nacional-socialismo, não se


configurava como fascista. Muitos Estados se alinharam a Alemanha e a Itália
não por conta da ideologia, mas sim pensando no ‘’o inimigo do meu inimigo é
o meu amigo’’. Um continente, no entanto, teve grande impacto ideológico do
fascismo, o continente americano.

Na América do Norte não houve muitos movimentos inspirados pelo fascismo,


no entanto, na América Latina a influencia fascista foi reconhecida, e foi sentida
principalmente internamente aos países. No entanto, o curioso é que os líderes
latino-americanos se inspiraram no fascismo no sentido de deificação de
líderes populistas que eram conhecidos por agir. Eles mobilizavam as massas
que não tinham nada a perder, e os seus inimigos não eram estrangeiros ou
grupos de fora, mas sim a oligarquia, a classe dominante local.

‘’Os regimes fascistas europeus destruíram os movimentos trabalhistas, os


líderes latino-americanos que eles inspiraram os criaram. Independentemente
de filiação intelectual, historicamente não podemos falar do mesmo tipo de
movimento.’’(HOBSBAWM, p. 138, 1994)

Normalmente ocorre a identificação de fascismo com nacionalista, e esta é


uma confusão que precisa ser esclarecida. É claro que o movimento fascista
tem traços nacionalistas, no entanto, é importante ressaltar que nem todos os
nacionalistas simpatizavam com o fascismo. Em vários países ocorreu uma
movimentação contra o fascismo, criando um patriotismo de esquerda,
sobretudo durante a guerra.

O porque o liberalismo sofreu queda mesmo em países que não eram fascistas
é uma questão a ser refletida. Os radicais, comunistas e socialistas viam a era
da crise como a morte do sistema capitalista; afirmavam que o modo de
governar de acordo com a democracia parlamentar, apoiada pelas liberdades
liberais que fomentaram os movimentos trabalhistas e reformistas. Diante
destas situações, a burguesia se via obrigada a apelar para a coerção e para a
força, o que se assemelhava ao fascismo.

As possibilidades de estabilidade para os regimes democráticos não resistiram


a Grande Depressão. É inegável afirmar que a estabilidade dos regimes
democráticos depende da prosperidade, pois onde os governos tem o
suficiente para distribuir a todos e satisfazê-los, a política fica estável e não
sujeita a cataclismos.

No entanto, não é certo afirmar que a Depressão levou automaticamente ao fim


ou suspensão da democracia representativa, como podemos notar na política
dos Estados Unidos e da Escandinávia, por exemplo. A America Latina,
entretanto teve uma queda quase imediata dos governos, principalmente por
golpes militares porque suas exportações, que eram produtos primários, caíram
expressivamente de preço, o que causou instabilidade política e econômica.

As condições da Era da Catástrofe eram difíceis para a política liberal, refletida


na democracia representativa, pois não asseguravam as condições que as
tornavam viáveis e eficazes.

A primeira condição diz respeito ao consentimento e a legitimidade do governo,


no entanto, poucas democracias do período entreguerras estavam bem
estabelecidas e era bem rara, a política dos Estados durante a Era da
Catástrofe era a política da crise. A segunda condição seria a necessidade de
um mínimo grau de coesão entre os diversos componentes do povo, que
determinavam o governo por meio do voto. No entanto, a tendência era mais
uma luta do que a paz entre diferentes classes transformada em política.

A terceira condição era que os governos democráticos não tivessem a


necessidade de governar muito, tendo os parlamentos surgido não tanto para
governar mas para controlar o poder daqueles que os faziam. ‘’Eram
mecanismos destinados a agir como freios, que se viram tendo de agir como
motores’’(HOBSBAWM, p. 141,1994) No entanto, o século XX trouxe situações
que era imprescindível o governo governar de fato, e eram poucos os Estados
que possuíam participação mínima, que se tornaram obsoletos.

A quarta e última condição se resumia a riqueza e a prosperidade necessárias


a democracia. Em circunstâncias de agitações políticas e sócias, a democracia
tinha a função de tentar conciliar e formalizar grupos inconciliáveis, mas a base
para um governo democrático não era estável. A democracia era insustentável
e tinha custos muito altos em tempo de crise.

Desta forma, ao concluir o capítulo, o autor afirma que não esperava-se o o


retorno e o renascimento da democracia no pós-guerra, como se tornou a
forma de governo predominante em todo o globo na década de 1990. No
entanto, ao se aproximar do novo milênio, as incertezas acerca da democracia
voltaram a tona; Hobsbawm indaga que poderíamos estar entrando em um
novo período em que o sistema democrático não parece tão vantajoso quanto
era no período de 1950 a 1990.

Você também pode gostar