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Em geral, ambos os segmentos ideológicos, seja de direita, seja de esquerda, quando chegam à
sua forma extrema, desenvolvem perspectivas idealizadoras com vistas à “transformação do
mundo”. Essa perspectiva utópica tem seus fundamentos, tanto na direita quanto na
esquerda, na secularização das expectativas apocalípticas cristãs, que, no sentido original,
tinham por meta aguardar a segunda vinda de Cristo e o juízo final. Com o advento do mundo
moderno, tais expectativas transferiram-se para o domínio terreno e, grosso modo, para a
ação política e seu principal agente de transformação, o Estado."
Afirmar que o nazismo era um regime da extrema-direita não significa negar que existiram
movimentos ditatoriais da extrema-esquerda, como foi o caso do governo de Stalin, na União
Soviética, ou de Pol Pot, no Camboja.
Na Alemanha durante as décadas de 1910 e 1920, as ideias comunistas eram muito influentes
e possuíam muitos adeptos. A respeito dessa questão, o historiador Ian Kershaw menciona o
fato de que os escritos de Hitler denotavam que ele não havia estudado marxismo1 e ainda
que Hitler almejava ser o destruidor do marxismo2.
O antimarxismo dos nazistas ecoava em parcela com o antissemitismo. Isso se explica pelo fato
de que os nazistas acreditavam que o comunismo soviético era parte de um plano dos judeus
de dominação internacional. Essa ideia conspiracionista em relação aos judeus foi fortemente
influenciada na época por uma publicação anônima chamada Os Protocolos dos Sábios de Sião.
Veja também: Totalitarismo — o regime político que exercia o controle total da vida pública e
privada
Na questão da economia, há muita confusão, sobretudo pelo fato de o nazismo ter sido um
partido antiliberal. Isso porque Hitler só aceitava uma economia capitalista que estivesse sob o
poder do Estado, negando que o desenvolvimento capitalista acontecesse no livre mercado.
De toda forma, o direito à propriedade privada era garantido dentro do Estado nazista e,
conforme pontua Ian Kershaw, Hitler distinguia “capital industrial” de “capital financeiro”. O
primeiro era visto de maneira positiva, e o segundo, de maneira negativa, uma vez que estava
supostamente nas mãos dos judeus, o grupo visto como o responsável por todo o mal que a
sociedade alemã enfrentava.
Outro ponto importante está na confusão acerca do nome do partido: Partido Nacional-
Socialista dos Trabalhadores Alemães. Essa nomenclatura fazia parte da propaganda do
partido para atrair pessoas. Nesse sentido, utilizavam-se termos de dois movimentos bastante
populares à época: o nacionalismo e o socialismo. Ambos os movimentos tinham inúmeros
adeptos na Alemanha da época.
Até as cores do partido foram pensadas por Hitler como forma de atrair pessoas para o
nazismo. Esse tipo de propagandismo a partir da nomenclatura foi utilizado por outros
partidos ao longo da história. Um exemplo que é amplamente considerado atualmente é o
caso da República Democrática da Coreia ou, simplesmente, Coreia do Norte, que, apesar do
nome, sabemos que não tem nada de democrática.
Por fim, é importante especificar que esse debate de o nazismo ser de esquerda não existe
entre os meios acadêmicos, uma vez que a sua legitimidade nos fatos históricos não é
comprovada pelos estudos feitos sobre o tema.
O nazismo foi um partido político que surgiu na Alemanha em 1920 e que ascendeu
rapidamente ao poder aproveitando-se do desespero da sociedade alemã, que estava arrasada
em consequência da Primeira Guerra Mundial e da Grande Depressão. Os nazistas
conseguiram chegar ao poder em 1933 e iniciaram um regime totalitário que levou a
Alemanha à Segunda Guerra Mundial e a cometer o maior genocídio da humanidade: o
holocausto.
O partido nazista é fruto de ideais que estavam em evidência na sociedade alemã desde o
século XIX e que ganharam nova dimensão após a Primeira Guerra Mundial. No século XIX, a
região que corresponde à Alemanha sofreu o seu processo de unificação (surgimento do
Estado Nacional Moderno da Alemanha) em torno de fortes ideais nacionalistas. Esse processo
foi conduzido por Otto von Bismarck. O nacionalismo exacerbado que existia na sociedade
alemã era acompanhado por tendências xenofóbicas (desprezo pelo estrangeiro) que se
voltavam contra outros povos (como os poloneses) e pelo antissemitismo (aversão aos judeus).
Para agravar a situação, a Alemanha encarou a pior crise econômica da sua história nas
décadas de 1920 e 1930 por conta da derrota na guerra e da Crise de 1929 (Grande
Depressão). A crise econômica fez com que a moeda alemã sofresse uma desvalorização brutal
e o desemprego disparasse e alcançasse quase a metade da população em idade ativa.
Foi dentro desse contexto que o nazismo ganhou força. O partido surgiu oficialmente em 1920
com o nome de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (em alemão, o nome
do partido era Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, com sigla NSDAP). Hitler esteve
envolvido com o surgimento do partido na data citada e ajudou na elaboração do programa do
partido.
Aos poucos, Hitler foi ganhando mais importância na popularização dos nazistas,
principalmente por sua excelente oratória, que chamava a atenção das pessoas. Ele se tornou
líder do partido nazista em 1921 e foi figura central no fortalecimento do nazismo ao longo da
década de 1920, conseguindo chegar ao poder da Alemanha em 1933.
Notas
1 KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 84.
2 Idem, p. 171.
HASTINGS, Max. Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012.
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
RICHARD, Lionel. A República de Weimar 1919-1933. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
Graduado em História