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Os fascismos, teoria e práticas: uma nova ordem nacionalista, antiliberal e

antissocialista

Os regimes totalitá rios, fascismo italiano e nazismo alemã o, partilham


princípios ideoló gicos. Inauguraram uma nova ordem política, social e
econó mica que marcou a Europa entre os anos 30 e 40. Ambos os regimes
eram totalitá rios, antidemocrá ticos, antiparlamentares e antiliberais.
O fascismo era uma doutrina antiliberal e antidemocrá tica, defendia que o
liberalismo, as liberdades individuais, a divisã o do poder, o
parlamentarismo e o pluripartidarismo eram as causas do enfraquecimento
do poder político e geradores de instabilidade. As democracias eram
responsabilizadas pela incapacidade de resolver os problemas econó micos
do pó s-guerra.
Os fascismos defendiam a instauraçã o de um Estado forte e centralizado,
cuja autoridade prevalecia sobre os direitos e liberdades individuais. O
Estado forte devia ser liderado por um chefe, um homem providencial que
concentrava nas suas mã os todo o poder e que reunia o poder legislativo e
executivo, na Itá lia, Mussolini (Duce) e na Alemanha, Hitler (Führer). O chefe
devia ser seguido de forma cega e obediente.
O individuo submetia-se aos interesses dos Estado e da Naçã o, conforme
dizia o lema de Mussolini “Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora
do Estado”, este lema colocava o Estado acima de todo o individuo.
Elites e enquadramento das massas
Segundo Alfred Rosenberg (1893-1946), teó rico nacional-socialismo, “uma
alma não é igual a outra alma e uma pessoa não é igual a outra”, e por isso,
os movimentos fascistas totalitá rios aceitavam a desigualdade social.
Os elementos que compunham a elite (militares, filiados no partido e
membros das milícias) nã o eram eleitos pelo povo, mas afirmavam-se como
os eleitos, aqueles que se impunham na sociedade.
A necessidade de construçã o de uma “alma coletiva” levou á criaçã o de
meios e de instituiçõ es de enquadramento das massas, destinadas a
veicular os princípios ideoló gicos fascistas.
Desde a sua ingenuidade, o individuo encontrava nas organizaçõ es
paramilitares fascistas de juventude um papel e um lugar a desempenhar
em prol do Estado. Incutiram os princípios fascistas e valores do regime,
para serem obedientemente seguidos.
Na Itá lia as crianças entre os 4 e 8 anos faziam parte dos Filhos da Loba,
entre os 8 e 14 anos integravam os Balillas, dos 14 até aos 18 anos
frequentavam os Vanguardistas, depois dos 18 anos juntavam-se á
Juventude Fascista. Na Alemanha, a Juventude Alemã ( Deutsches Junggvolk)
integrava as crianças a partir dos 10 anos. A partir dos 14 anos até aos 18
anos os jovens passavam a fazer parte da Juventude Hitleriana, já as
raparigas frequentavam a Liga das Jovens Alemãs. Enquanto os rapazes
praticavam desporto e eram iniciados nos valores da guerra e da violência,
as raparigas aprendiam a cuidar do lar e da maternidade. O novo individuo
guiava-se pela devoçã o e culto ao chefe, pela defesa do Estado e pelos
valores da guerra e do desporto.
A doutrinaçã o também continuava nos adultos por intermédio de vá rias
organizaçõ es: a filiaçã o no partido ú nico e a integraçã o dos sindicatos
autorizados (as corporaçõ es, na Itá lia, e a Frente do Trabalho Nacional-
Socialista, na Alemanha), constituíam meios de controlo de sociedade. A
participaçã o em organizaçõ es recreativas, como a Dopolavoro, em Itá lia, e a
Kraft durch Freude, na Alemanha, constituíam veículos de transmissã o dos
princípios fascistas. Estas organizavam os tempos livres mediante a
promoçã o de atividades culturais de lazer, como excursõ es e viagens.
A difusã o dos princípios fascistas foi garantida por uma má quina de
propaganda. Em grandes eventos, como manifestaçõ es, desfiles e em
momentos comemorativos, os discursos políticos eram grandemente
elevados com recurso à orató ria exaltada e ensaiada, e à encenaçã o
grandiosa, com vista a galvanizar as massas. Os estandartes, os uniformes e
os símbolos criavam um ambiente de grandiosidade e obediência,
juntamente com as paradas militares para demonstrar poder e a força do
regime e da naçã o.
Com Mussolini e Hitler a par da propaganda, a arte foi promovida como
veículo de divulgaçã o dos valores dos movimentos fascistas totalitá rios e a
cultura foi submetida aos princípios ideoló gicos. O cinema e a rá dio
também foram utilizados para promover os fascismos.
A censura serviu para reforçar os valores do regime e impedir qualquer
forma de discordâ ncia.
O culto da força e da violência
Hannah Arendt (1906-1975) afirmou “nos países totalitários, a propaganda
e o terror parecem ser duas faces da mesma moeda". Os movimentos
fascistas tiveram uma grande sucessã o no poder devido à organizaçã o de
um sistema fortemente violento e repressivo que denunciava, perseguia,
prendia e torturava todos aqueles que se opunham e contestavam à s
diretrizes do líder e do partido. Os paramilitares desempenhavam um papel
fundamental na promoçã o da obediência e no controlo da sociedade.
Na Itá lia, a prá tica violenta de aniquilaçã o dos opositores cabia aos
esquadristas (camisas negras- milícia armada) e à OVRA (organização de
vigilância e de repressão antifascista- Polícia política). Na Alemanha nazi, o
Estado policial era garantido pela açã o das milícias das SA (secções de
assalto), das SS (secções de segurança) e das Gestapo (polícia política). As
organizaçõ es paramilitares e as polícia secreta espalharam o terror entre
todos aqueles que eram considerados perigosos ou adversá rios do regime,
enviados para campos de concentraçã o controlados, a partir de 1941, pelas
SS.
O culto da força, da violência e da juventude tornou-se prá tica corrente nos
regimes fascistas. A razã o e a felicidade individual foram substituídas pela
exaltaçã o da guerra e do sacrifício. Para além de uma nova ordem política ,
procuravam criar um novo homem formado nos valores do fascismo. O
militarismo tornou-se numa vertente do fascismo, com vista a preparar o
povo e a naçã o para a guerra.
A negação dos direitos humanos e o racismo
Os regimes fascistas negaram os direitos e a liberdade do indivíduo que
sobrepuseram o interesse da naçã o e da raça. A ideologia nazi assumiu
como princípio ideoló gico o racismo, defendeu a raça ariana. Com vista a
purificar a raça ariana, o nazismo serviu-se de meios e prá ticas repressivas:
a eliminaçã o dos alemã es considerados impuros ou degenerados; a
promoçã o de casamentos e natalidade entre arianos, como forma de
seleçã o e de melhoramento genético; a adoçã o da prá tica da eugenia; a
perseguiçã o, marginalizaçã o e extermínio daqueles que eram considerados
fracos e degenerados, ciganos e eslavos; aqueles que, por motivos políticos
eram indesejá veis. O racismo nazi assumiu contornos mais violentos contra
os judeus. O antissemitismo propagou-se desde cedo na Alemanha
hitleriana. Antes de tomar o poder, Hitler na sua obra Mein Kampf (1925-
1926) afirmou: "os judeus foram os grandes agitadores para a completa
destruição da Alemanha, e quando o povo alemão estivesse livre dos judeus
toda a humanidade estaria liberta dessa ameaça". A culpa foi atribuída aos
judeus.
As medidas repressivas e marginalizaçã o dos judeus foram consagradas a
partir de 1933. Em 1935, as Leis de Nuremberga legitimaram a perseguiçã o
aos judeus e proibiram qualquer tipo de ligaçã o entre alemã es e judeus. A
cidadania alemã foi lhes retirada.
Em 1938, assistiu-se a uma virada na política de discriminaçã o antissemita
que se tornou agressiva, visível em diversos acontecimentos e medidas, que
levaram ao extremo do racismo nazi. A 9 de novembro de 1938, a Noite de
Cristal, vá rios estabelecimentos de judeus foram destruídos e os seus bens
foram confiscados. Muitos judeus foram mortos e cerca de 30 000 foram
enviados para campos de concentraçã o.
Iniciou-se a separaçã o e isolamento dos judeus através de medidas de
segregaçã o racial: foram encerrados em guetos e obrigados a usar uma
estrela amarela de cinco pontas como forma de identificaçã o. A partir de
1942 foi adotada a “soluçã o final para o problema judaico”, os judeus foram
deportados para campos de extermínio onde ocorreu o genocídio de 1
milhõ es de pessoas, mortas em câ maras de gá s. Este extermínio ficou
conhecido como o holocausto.
A autarcia como modelo económico
As dificuldades econó micas da década de 20, contribuiu para que os
fascismos se assumissem ideologicamente como anticapitalistas. Na sua
prá tica, adotaram formas de organizaçã o que tinha em vista a recuperaçã o
de economia e a promoçã o da autarcia da naçã o, de forma a reduzir a
dependência face ao estrangeiro, e a proteger a economia nacional das
crises capitalistas. Os Estados fascistas exerciam um controlo ou dirigismo
sobre a economia. Deste modo, o fascismo italiano adotou o corporativismo
como modelo econó mico e social, regulamentado na Carta de Trabalho de
1927.
Tanto na Itá lia como na Alemanha, a iniciativa privada foi mantida, mas
colocada ao serviço dos interesses e das linhas orientadoras do Estado. A
fim de dominar os efeitos das crises, o Estado intervinha na economia como
forma de garantir o interesse geral.
Em Itá lia, o dirigismo econó mico levou Mussolini a incumbir os organismos
estatais da dinamizaçã o da atividade econó mica através de vá rias medidas:
estimulou o consumo de produtos italianos; promoveu, a partir de 1925, a
“batalha do trigo”, a “batalha da lira” e a “batalha da bonificação”; fixou
preços e salá rios; desenvolveu uma campanha de modernizaçã o das
infraestruturas de transporte e de comunicaçã o; implementou um vasto
programa de obras pú blicas, que contribuiu para diminuir o desemprego e
relançar a economia.
Na Alemanha, entre 1933 e 1936, foram tomadas uma série de medidas
para relançar a economia e selecionar os problemas que assolavam o país.
O desemprego, a paralisaçã o industrial, a falta de produçã o e a dependência
econó mica face ao estrangeiro eram fatores que mantinham a Alemanha na
crise. Relançaram e apoiaram as indú strias alemã s, recorrendo á
concentraçã o industrial; desenvolveram novos fatores, nomeadamente do
automó vel e da aviaçã o; criaram um programa de rearmamento; lançaram
obras pú blicas grandiosas; incentivaram a produçã o agrícola para garantir
autossuficiência de produtos alimentares e de matérias-primas.

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