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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SOCIAIS APLICADA - CCBSA


DEPARTAMENTO DE ARQUIVOLOGIA
COMPONENTE CURRICULAR: FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO
PERÍODO: 2023.1 – Noturno
PROFª DRª: ANDRÉA XAVIER DE ALBUQUERQUE DE SOUZA
ACADÊMICA: GÉSSICA DE SOUZA SILVA

ATIVIDADE 2
Análise do filme Tempos Modernos (Filme de 1936 do Cineasta Britânico Charles Chaplin).
Data de entrega: 25/04/23. (Peso 2,0).

Análise do filme Tempos Modernos

O filme Tempos Modernos, comédia de 1936, dirigida e estrelada pelo britânico Charles Chaplin é uma
crítica ao capitalismo levado as últimas consequências e os modelos de produção adotados na época. A
trama tem como pano de fundo a sociedade americana urbana, no início da década de 30 e para entender
o essência do filme é necessário compreender a conjuntura econômica e social da época e os fatos
relevantes, que mesmo não abordados de forma direta, são responsáveis pelo contexto vivenciado pelos
personagens.
Os Estados Unidos, país cenário do filme, experimentou durante sua participação na Primeira Guerra
Mundial (1914-1918) um grande crescimento industrial, pois produzia e exportava grande quantidade
de produtos manufaturados para os países europeus envolvidos no conflito, gerando a necessidade de
aprimorar sua produção industrial. A necessidade de produzir em grande escala para abastecer o
mercado estrangeiro se manteve mesmo após o fim das hostilidades, pois os países vitoriosos ou
derrotados iniciaram o processo de reconstrução, mantendo a necessidade de importar os produtos
americanos.
A oportunidade de suprir os mercados internacionais criou a necessidade de implementar modelos de
produção cada vez mais eficientes, buscando produzir cada vez mais e consequentemente aumentar os
lucros dos empresários, fazendo uma clara divisão social entre os detentores dos meios de produção e
da classe proletária, que mesmo sendo indispensáveis para a produção de riqueza, era considerada
apenas com uma parte mecânica do processo, claramente inferior.
A obra de Chaplin tem início justamente em uma planta de produção industrial, com modelo de
produção em massa que pelo menos em tese, guardadas as devidas proporções da licença poética, se
assemelham com as teorias da abordagem clássica da administração,
Vale ressaltar que o filme satiriza a produção fabril da época, criticando os modelos apregoados pelas
teorias de Taylor e Fayol, pois era nítida a divisão do trabalho em pequenas tarefas consecutivas onde
os operários se especializaram em executar apenas sua parte, geralmente um movimento repetitivo,
onde por meio de uma esteira, o produto chegava a frente o operário para execução de sua parte
específica e rapidamente já era movimentado para o próximo da linha. Os industriais buscavam tornar o
processo cada vez mais eficiente e o filme expõe até mesmo a tentativa de implementar uma máquina
que alimentasse o trabalhador de forma automática para ganhar tempo de produção, que era
cronometrada, e fiscalizada por um empregado responsável apenas por cobrar cada vez mais eficiência
e zelando para que as metas fossem alcançadas. Contudo, não era apenas retratado a base da produção,
foco de Taylor, a teoria de Fayol também foi prestigiada ao demonstrar além das características comuns
ao Taylorismo, a verticalização do comando, mostrando claramente a hierarquia e a unidades de
comando, onde o executivo dava ordem para um subordinado aumentar a produção e o mesmo
acelerava a esteira fazendo que os operários tivessem que produzir mais rápido, sob o olhar atento de
seu supervisor.
As principais críticas evidenciadas no filme, dizem respeito à visão reducionista da natureza humana e
visão mecanicista do trabalho, onde o operário era visto como uma engrenagem da linha de produção,
onde a superespecialização de sua atividade resultava em maior eficiência e como era considerado parte
da máquina, caso entrasse em colapso, era só substituí-lo como uma peça defeituosa. Carlito,
protagonista do filme, começou a apresentar “defeitos”, tantos físicos como psicológicos, executando os
movimentos que foi condicionado a repetir em prol da produção fora da linha de montagem, deixando
claro ao seu chefe que deveria ser substituído. O operário foi facilmente substituído e levado para
“manutenção”, em uma clínica psiquiátrica.
O filme então entra em uma nova fase, pois ao terminar o seu tratamento, Carlito sai da clínica
“consertado”, mas desempregado, fato agravado por um fato relevante: a crise americana de 1929,
também conhecida “A Grande Depressão Americana” ou “A Quebra da Bolsa”, ocasionada pelo excesso
de crédito e emissão de títulos pelo governo americano para financiar a grande expansão industrial, que
perdeu força após os países europeus não demandarem mais importações, pois após mais de uma década
do fim da guerra, os europeus já estavam normalizando parte de sua própria produção. Em meio a este
cenário e decisões governamentais equivocadas, o país entra em uma grande recessão, fechando
empresas e extinguindo postos de trabalho, causando fome, revoltas e problemas sociais.
Ao buscar nova colocação, o protagonista escancara as consequências do modelo laboral que lhe fora
imposto nos tempos da fábrica, com claras sequelas pelo esforço repetitivo. Carlitos não tem noção do
valor de sua força de trabalho, pois crê que apenas apertava parafusos e a superespecialização em
apenas uma tarefa o alienou, tirando sua perceção da riqueza produzida com sua mão de obra. Após
várias tentativas de arrumar emprego, vimos uma pessoa que não sabia fazer outras funções e sempre se
atrapalhava ao tentar fazer algo diferente aquela que foi treinado. Em meio a várias confusões e cenas
que mostrava que apesar de utilizado como máquina, ele era um ser humano com necessidades e
sentimentos, descobrindo na prisão que podia sempre se adaptar aos sistemas que lhe eram impostos.
O filme segue em uma sequência bem humorada, que narra as dificuldades enfrentadas pela classe
menos abastada durante a “Depressão de 29”, inclusive destacando a importância do trabalho para
dignidade humana, No filme, Carlito se apaixona e sem condições de manter o modelo de vida familiar,
devido ao desemprego, arruma uma série de confusões, levando inclusive buscar na arte sua
subsistência, se apresentando como cantor.
A obra parte para seu desfecho após uma sequência de tentativas de recolocação no mercado de
trabalho, confusões e prisões por vezes injustas, cometidas sobre tudo pela perseguição a membros da
classe trabalhadora que estavam se rebelando através de greves e manifestações clamando por melhores
condições. O filme ainda mostra o início da retomada econômica e a reabertura das fábricas, oque gerou
novos postos de trabalho.
O filme estimula várias reflexões, principalmente ao se fazer o comparativo das condições de trabalho
da década de 30 com as condições dos dias atuais, após quase um século. É claro que muita coisa
mudou, a tecnologia agrega muita eficiência e o ordenamento jurídicos regula as relações de trabalho,
tentando equilibrar as forças, mas temos semelhanças, mesmo que de forma menos velada. Ainda hoje,
os meios de produção e o capital estão concentrado nas mãos de um percentual pequeno de pessoas,
enquanto a força de trabalho continua na base desta pirâmide. Os conceitos administrativos evoluíram e
as empresas começaram a entender a importância de funcionários com uma visão mais globalizada do
negócio. É lógico que existe cadeias produtivas onde a mão de obra ainda é empregada de maneira
mecânica e repetitiva, mas esse trabalhador vem sendo substituído cada vez mais por máquinas e robôs,
ou seja, estão trocando o Homem-máquina que pode adoecer ou arrumar problemas de ordem jurídica
por máquinas de verdade, gerando outros problemas, mas de consequências já experimentadas.
Por fim, em que pese o período cronológico do filme, onde o contexto de pós-guerra e necessidade
produtiva impôs os modelos aplicados, hoje estamos inseridos em um cenário em que os métodos
podem até ser considerado mais modernos, mas gera, com certeza, a manutenção de resultados
semelhantes.

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