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PRINCÍPIOS DE
economia
Ro b e rt H . F r a n k
Ben S. Bernanke
F828p Frank, Robert H.
Princípios de economia [recurso eletrônico] / Robert H.
Frank, Ben S. Bernanke, Louis D. Johnston ; tradução:
Heloisa Fontoura, Monica Stefani ; revisão técnica: Giácomo
Balbinotto Neto, Ronald Otto Hillbrecht. – 4. ed. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012.
CDU 330
C A P ITA L HUMANO
Para ilustrar os fatores que determinam a produtividade média do trabalho, introduzi-
mos dois modelos de trabalhadores na linha de produção, Lucy e Ethel.
dos na Figura 19.3 nos dizem quanto o trabalhador médio produz em um ano. Neste
exemplo, estamos preocupados com quanto Lucy e Ethel podem produzir por hora ou
por semana de trabalho. Qualquer uma destas maneiras de medir a produtividade do
trabalho é igualmente válida, contanto que estejamos informados sobre a unidade de
tempo que estamos usando.
Qual é a produtividade As produtividades horárias de Lucy e Ethel são dadas no problema: Lucy pode
desses empregados? embrulhar 100 balas por hora e Ethel pode embrulhar 300. A produtividade semanal
C A PÍTULO 19 CRESCIMENTO ECONÔMICO 527
T EC N O LO GI A
Além do capital humano, do capital físico e dos recursos naturais, a capacidade
de um país desenvolver e aplicar tecnologias novas e mais produtivas ajudará a
determinar sua produtividade. Considere apenas uma indústria, a do transporte.
Há dois séculos, como sugerido pela citação de Stephen Ambrose no começo do
capítulo, o cavalo e a charrete eram os principais meios de transporte – certamente
um método lento e caro. No século XIX, contudo, os avanços tecnológicos, como
o motor a vapor, ajudaram na expansão do transporte fluvial e no desenvolvimento
de uma rede nacional de ferrovias. No século XX, a invenção do motor de com-
bustão interna e o desenvolvimento da aviação, ajudados pela construção de uma
infraestrutura extensiva em estradas e em aeroportos, criaram um transporte cada
vez mais rápido, barato e seguro. A mudança tecnológica foi claramente uma força
motriz na revolução do transporte.
As novas tecnologias muitas vezes melhoram a produtividade em indústrias
diferentes daquela em que são introduzidas. Por exemplo, no final do século XVIII,
os agricultores americanos somente podiam vender seus produtos nos mecados lo-
cais e regionais. Agora, a disponibilidade do transporte de carga rápido e refrigerado
permite que os agricultores americanos vendam seus produtos em praticamente qual-
quer lugar do mundo. Com um mercado maior para vender, os agricultores podem
se especializar naqueles produtos mais bem ambientados à terra local e às condições
meteorológicas. Da mesma forma, as fábricas podem obter suas matérias-primas
onde quer que elas sejam mais baratas e mais abundantes, produzir os bens nos quais
são mais eficientes, e vender seus produtos onde quer que elas obtenham o melhor
preço. Estes dois exemplos ilustram a teoria das vantagens comparativas: a produti- Vantagem
vidade total aumenta quando os produtores se concentram nas atividades em que são comparativa
relativamente mais eficientes.
Inúmeros outros avanços tecnológicos levaram ao aumento da produtividade,
inclusive aperfeiçoamentos na comunicação e na medicina, e o surgimento da infor-
mática. Tudo indica que a internet terá um impacto primordial na economia norte-
-americana, não apenas na venda a varejo, mas em muitos outros setores. De fato, a
maioria dos economistas provavelmente concordaria que as novas tecnologias são
a única fonte mais importante para a melhoria da produtividade e do crescimento
econômico.
532 PA RT E VI A EC O NO MIA NO LO NGO P RA ZO
empreendedores pessoas
que criam novos negócios
econômicos
C A PÍTULO 19 CRESCIMENTO ECONÔMICO 541
H Á L I M I TE S PA R A O CR ESCIM ENTO ?
Neste capítulo, vimos que, mesmo taxas de crescimento econômico relativamente bai-
xas, se sustentadas durante um longo período, produzirão grandes aumentos no tama-
nho da economia. Este fato levanta a seguinte questão: o crescimento econômico pode
continuar indefinidamente sem esgotar os recursos naturais e causar graves danos ao
ambiente global? A premissa de que vivemos em um mundo finito, de recursos limita-
dos, implica que, cedo ou tarde, o crescimento econômico deve chegar ao fim?
A preocupação de que o crescimento econômico pode não ser sustentável não é
nova. Um importante livro de 1972, The Limits to Growth7, relatou os resultados de
simulações computadorizadas que sugeriram que, a menos que o crescimento demo-
gráfico e a expansão econômica fossem interrompidos, o mundo logo ficaria sem seus
recursos naturais, como a água potável e o ar respirável. Este livro, assim como alguns
trabalhos posteriores de mesmo viés, levanta algumas questões fundamentais que não
caberiam aqui. Entretanto, de certa forma suas conclusões são enganosas.
Um problema com a tese sobre os “limites do crescimento” encontra-se em seu
conceito subjacente de crescimento econômico. Aqueles que enfatizam os limites am-
bientais impostos ao crescimento pressupõem que esse crescimento econômico seguirá
sempre a fórmula do mais que temos agora – mais fábricas de cigarro, mais automó-
veis poluentes, mais lanchonetes. Se fosse o caso, certamente haveria limites para o
crescimento que o planeta pode sustentar. Todavia, o crescimento do PIB real não
toma necessariamente essa forma. Os crescimentos do PIB real também podem surgir
de produtos novos ou de melhor qualidade. Por exemplo, não muito tempo atrás, as
raquetes de tênis eram artigos relativamente simples, feitas principalmente de madeira.
Hoje, são feitas de materiais sintéticos recentemente inventados, e projetadas para
melhorar o desempenho, usando sofisticadas simulações de computador. Como estas
novas raquetes de tênis de alta tecnologia são mais valorizadas pelos consumidores
do que as antigas feitas de madeira, sua introdução aumentou o PIB real. Da mesma
forma, a introdução de novos medicamentos contribui para o crescimento econômico,
assim como a expansão do número de canais de televisão, dos aparelhos digitais e das
vendas pela internet. Assim, o crescimento econômico não precisa seguir a fórmula
do cada vez mais as mesmas coisas antigas; pode significar produtos e serviços mais
novos, melhores e talvez mais limpos e eficientes.
Um segundo problema com a tese dos “limites do crescimento” é que ela negli-
gencia o fato de que o aumento da riqueza e da produtividade expande a capacidade
da sociedade de tomar medidas para proteger o ambiente. De fato, os países mais
poluídos no mundo não são os mais ricos, mas aqueles que estão em uma fase rela-
tivamente inicial de industrialização. Nesta fase, os países devem dedicar um volume
de seus recursos para as necessidades básicas – alimentação, moradia, saúde – e para
a expansão industrial contínua. Nestes países, o ar puro e a água podem ser vistos
mais como um luxo do que uma necessidade básica. Nos países mais desenvolvidos
economicamente, onde as necessidades mais básicas são encontradas mais facilmente,
os recursos extras estão disponíveis para manter o ambiente limpo. Assim, o contínuo
crescimento econômico pode levar a uma menor, e não maior, poluição.
Um terceiro problema com a ideia pessimista do crescimento econômico é que
ele ignora o poder do mercado e de outros mecanismos sociais para tratar a escassez.
Durante as crises do petróleo da década de 1970, os jornais eram repletos de man-
chetes sobre a crise de energia e o iminente esgotamento das reservas de petróleo no
mundo. Contudo, 30 anos mais tarde, as reservas de petróleo conhecidas no mundo
8
são na verdade maiores do que na década de 1970.
A situação energética de hoje é bem melhor do que a esperada há 30 anos porque
o mercado funcionou. A redução do fornecimento de petróleo levou a um aumento
nos preços e isso mudou o comportamento tanto dos demandantes quanto dos ofer-
7
Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, and William W. Behrens III, The Limits
to Growth (New York: New American Library, 1972).
8
Os recentes aumentos nos preços do petróleo novamente causaram preocupação.
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Figura 19.6
A relação entre a
poluição do ar e o PIB A
real per capita.
Empiricamente, a poluição
do ar aumenta com o
Poluição do ar
per capita aumenta a partir de um outro ponto. Um estudo da relação entre a qua-
lidade do ar e o PIB real per capita descobriu que o nível do PIB real per capita no
qual a qualidade do ar é pior – indicado pelo ponto A da Figura 19.6 – é quase igual
ao nível da renda média no México.9 E, na verdade, a qualidade do ar na cidade do
México é excepcionalmente ruim, como qualquer visitante daquela imensa metrópo-
le pode atestar.
É compreensível que a poluição pode se agravar com a industrialização de um
país, mas o que faz a qualidade ambiental melhorar quando o PIB real per capita al-
cança níveis muito altos? Há diversas explicações para este fenômeno. Comparadas
às economias de renda média, as economias mais ricas estão relativamente mais con-
centradas em serviços “limpos” e valiosos, como as finanças e a produção de softwa-
res, ao contrário das indústrias extremamente poluidoras, como as fábricas pesadas.
Nas economias ricas, é também mais fácil que existam técnicas para o desenvolvi-
mento de tecnologias antipoluição sofisticadas e com custos mais baixos. Contudo,
a razão principal para que as economias mais ricas tendam a ser mais limpas é a
mesma que vemos nas casas das pessoas ricas, que geralmente são mais limpas e em
melhores condições do que as casas dos pobres. Quando a renda aumenta acima do
nível necessário para satisfazer as necessidades básicas, mais recursos sobram para
os “luxos”, como um ambiente limpo (a teoria da escassez). Para a família rica, os Escassez
recursos extras pagarão por um serviço de limpeza; para um país rico, pagarão por
dispositivos de controle da poluição nas fábricas e nos automóveis. De fato, as leis
antipoluição são geralmente mais inflexíveis e rigorosas em países ricos do que em
países de renda média e pobres.
9
Gene M. Grossman; Alan B. Krueger, “Environmental Impacts of a North American Free Trade
Agreement,” in Peter Garber, ed., The Mexico–U.S. Free Trade Agreement (Cambridge, MA: MIT
Press, 1993). Veja também Grossman and Krueger, “Economic Growth and the Environment”,
Quarterly Journal of Economics, May 1995, pp. 353–378; and World Bank, World Development
Report: Development and the Environment, 1992.