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Q u a rta E d i ç ã o

PRINCÍPIOS DE
economia
Ro b e rt H . F r a n k
Ben S. Bernanke
F828p Frank, Robert H.
Princípios de economia [recurso eletrônico] / Robert H.
Frank, Ben S. Bernanke, Louis D. Johnston ; tradução:
Heloisa Fontoura, Monica Stefani ; revisão técnica: Giácomo
Balbinotto Neto, Ronald Otto Hillbrecht. – 4. ed. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012.

Editado também como livro impresso em 2012.


ISBN 978-85-8055-097-9

1. Economia. I. Bernanke, Ben S. II. Johnston, Louis D.


III. Título.

CDU 330

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052


526 PA RT E VI A EC O NO MIA NO LO NGO P RA ZO

OS DET ER M INANTES DA PRO DU TIVIDADE


M ÉDIA DO T R AB ALHO
O que define a produtividade do trabalhador médio em um determinado país em um
período específico? As discussões populares desta questão frequentemente confundem
a produtividade do trabalhador com a disposição dos trabalhadores de determinada
nacionalidade para o trabalho árduo. Em condições normais, uma cultura que pro-
mova o trabalho árduo tende a aumentar a produtividade do trabalhador. Entretanto,
somente a intensidade do esforço não pode explicar as enormes diferenças na produ-
tividade média do trabalho que observamos ao redor do mundo. Por exemplo, a pro-
dutividade média do trabalho nos Estados Unidos é aproximadamente 24 vezes maior
que na Indonésia e 100 vezes maior que em Bangladesh, embora não haja dúvida de
que os indonésios e os bengalis trabalhem muito.
Nesta seção, examinaremos seis fatores que parecem ser responsáveis pelas prin-
cipais diferenças da produtividade média do trabalho, tanto entre países quanto entre
gerações. Mais adiante no capítulo, analisaremos como as políticas econômicas podem
influenciar estes fatores para estimular a produtividade e o crescimento.

C A P ITA L HUMANO
Para ilustrar os fatores que determinam a produtividade média do trabalho, introduzi-
mos dois modelos de trabalhadores na linha de produção, Lucy e Ethel.

Lucy e Ethel na linha de produção


Lucy e Ethel têm a função de embalar balas de chocolate e colocá-las em caixas. Lucy,
uma embaladora principiante, pode embalar somente 100 balas por hora. Ethel, que
teve treinamento para o trabalho, pode embalar 300 balas por hora. Cada uma delas
trabalha 40 horas por semana. Qual é a produtividade média do trabalho, em termos
de balas embaladas por semana e por hora, (a) para Lucy, (b) para Ethel e (c) para
Lucy e Ethel em equipe?
Definimos a produtividade média do trabalho em termos gerais como o produto
por trabalhador. Note, entretanto, que a medida da produtividade média do trabalho
depende do período de tempo que é especificado. Por exemplo, os dados apresenta-
© The Everett Collection

dos na Figura 19.3 nos dizem quanto o trabalhador médio produz em um ano. Neste
exemplo, estamos preocupados com quanto Lucy e Ethel podem produzir por hora ou
por semana de trabalho. Qualquer uma destas maneiras de medir a produtividade do
trabalho é igualmente válida, contanto que estejamos informados sobre a unidade de
tempo que estamos usando.
Qual é a produtividade As produtividades horárias de Lucy e Ethel são dadas no problema: Lucy pode
desses empregados? embrulhar 100 balas por hora e Ethel pode embrulhar 300. A produtividade semanal
C A PÍTULO 19 CRESCIMENTO ECONÔMICO 527

de Lucy é (40 horas/semana)  (100 balas embrulhadas/hora)  4 mil balas embrulha-


das por semana. A produtividade semanal de Ethel é (40 horas/semana)  (300 balas
embrulhadas/hora), ou 12 mil balas por semana.
Juntas, Lucy e Ethel podem embalar 16 mil balas por semana. Em equipe, sua
produtividade semanal média é (16 mil balas embaladas)/(2 semanas de trabalho),
ou 8 mil balas por semana. Sua produtividade média por hora em equipe é de (16 mil
balas embaladas)/(80 horas de trabalho)  200 balas por hora. Observe que, conside-
rando a equipe, a produtividade média das duas mulheres fica no meio de suas produ-
tividades individuais.
Ethel é mais produtiva do que Lucy porque teve treinamento para o trabalho, o
que permitiu que desenvolvesse habilidades em um nível mais alto que Lucy. Por cau-
sa de seu treinamento, Ethel pode produzir mais que Lucy em um determinado núme-
ro de horas.
EXERCÍCIO 19.2
Suponha que Ethel faça um treinamento adicional de embalagem de balas e apren-
da a embalar 500 balas por hora. Encontre o produto por semana e o produto por
hora para Lucy e Ethel, individualmente e em equipe.
Os economistas explicariam a diferença no desempenho das duas mulheres dizen-
do que Ethel tem mais capital humano que Lucy. O capital humano compreende o talen- capital humano conjunto
to, a instrução, o treinamento e as habilidades dos trabalhadores. Os trabalhadores com de fatores, como educação,
um grande estoque de capital humano são mais produtivos do que aqueles com menos experiência, inteligência,
energia, hábitos de trabalho,
treinamento. Por exemplo, uma secretária que saiba usar um programa de edição de
confiabilidade, iniciativa e
textos pode datilografar mais cartas que aquela que não conhece; um mecânico de auto- outros, que afetam o valor
móveis que esteja familiarizado com um equipamento computadorizado de diagnósticos do produto marginal de um
conseguirá consertar motores que os mecânicos menos treinados não podem. trabalhador

Por que a Alemanha Ocidental e o Japão se recuperaram com tanto sucesso da


devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial?
A Alemanha e o Japão passaram por uma vasta destruição de suas cidades e indústrias
durante a Segunda Guerra Mundial e começaram o período do pós-guerra empobre-
cidos. Contudo, em 30 anos, ambos os países não somente tinham sido reconstruídos,
mas tornaram-se líderes industriais e econômicos mundiais. O que explica estes “mi-
lagres econômicos”?
Muitos fatores contribuíram para a recuperação econômica da Alemanha
Ocidental e do Japão da Segunda Guerra Mundial, inclusive a substancial ajuda forne-
cida pelos Estados Unidos para a Europa, pelo Plano Marshall, e para o Japão durante
a ocupação norte-americana. A maioria dos economistas concorda, entretanto, que os
altos níveis de capital humano tiveram importante papel em ambos os países.
Ao final da guerra, a população da Alemanha era muito bem instruída, com mui-
tos cientistas e engenheiros excepcionalmente qualificados. O país também possuía (e
possui até hoje) um sistema extensivo de aprendizagem que fornecia treinamento aos
jovens trabalhadores no local de trabalho. Como consequência, a Alemanha tinha uma
qualificada força de trabalho industrial. Além disso, a área que se transformou em
Alemanha Ocidental tirou substancial proveito do afluxo de trabalhadores qualifica-
dos da Alemanha Oriental e do resto da Europa controlada pelos soviéticos, inclusive
20 mil engenheiros e técnicos treinados. Começando no início de 1949, esta concentra-
ção de capital humano contribuiu para uma importante expansão de uma Alemanha
tecnologicamente sofisticada, com um setor industrial altamente produtivo. Em 1960,
a Alemanha Ocidental era um dos principais exportadores de bens manufaturados de
alta qualidade, e seus cidadãos experimentavam um dos padrões de vida mais elevados
da Europa.
O Japão, que provavelmente experimentou uma destruição física maior na guerra
do que a Alemanha, igualmente começou o período do pós-guerra com uma força de
trabalho técnica e treinada. Além disso, as forças norte-americanas de ocupação rees-
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truturaram o sistema escolar japonês e incentivaram todos os japoneses a investirem


em uma boa educação. Entretanto, mais do que os alemães, os japoneses enfatizaram o
treinamento para o trabalho. Com o sistema do emprego vitalício, em que se esperava
que os trabalhadores permanecessem na mesma empresa durante toda a sua carreira
profissional, as empresas japonesas investiram extensivamente no treinamento do tra-
balhador. A recompensa por estes investimentos em capital humano foi um aumento
constante na produtividade média do trabalho, particularmente na indústria de trans-
formação. Na década de 1980, os bens manufaturados japoneses estavam entre os
mais avançados do mundo e, os trabalhadores japoneses, entre os mais capacitados.
Embora os altos níveis de capital humano sejam instrumentais do acelerado cres-
cimento econômico da Alemanha Ocidental e do Japão, o capital humano sozinho
não pode criar um padrão de vida elevado. O ponto em questão é que a Alemanha
Oriental dominada pelos soviéticos, que tinha um nível de capital humano similar ao
da Alemanha Ocidental depois da guerra, não teve o mesmo crescimento econômico.
Por razões que discutiremos adiante no capítulo, o sistema comunista imposto pelos
soviéticos utilizou o capital humano da Alemanha Oriental de forma muito menos efi-
ciente do que os sistemas econômicos do Japão e da Alemanha Ocidental.
O capital humano é semelhante ao capital físico (como as máquinas e as fá-
bricas), pois é adquirido inicialmente por meio de investimento em tempo, energia e
dinheiro. Por exemplo, para aprender a usar um programa de edição de texto, uma
secretária talvez precise frequentar uma escola técnica à noite. O custo de ir à escola
inclui não somente o pagamento da taxa de matrícula, mas também o custo de opor-
tunidade do tempo que a secretária gasta assistindo às aulas e estudando. O benefício
da educação é o aumento que a secretária terá nos salários quando o curso tiver termi-
Custo-benefício nado. Sabemos que, pela teoria do custo-benefício, a secretária deve aprender a editar
textos somente se os benefícios excederem os custos, incluindo os custos de oportu-
nidade. Em geral, então, esperaríamos ver as pessoas adquirindo instruções técnicas
adicionais quando a diferença nos salários pagos para os trabalhadores qualificados e
os não qualificados fosse significativa.
C A PÍTULO 19 CRESCIMENTO ECONÔMICO 531

A TERRA E OUTROS RECURSOS NAT URA I S


Além dos bens de capital, outros insumos na produção ajudam a tornar os trabalha-
dores mais produtivos, entre eles a terra, a energia e as matérias-primas. A terra fértil
é essencial para a agricultura, e os processos produtivos modernos fazem uso intensivo
de matérias-primas e energia.
Em geral, a abundância de recursos naturais aumenta a produtividade dos tra-
balhadores que os utilizam. Por exemplo, um agricultor pode produzir uma colheita
muito maior em um país rico em terras, como os Estados Unidos ou a Austrália, do
que em um país cujo solo é pobre ou a área de terra arável é limitada. Com a ajuda de
máquinas agrícolas modernas e grandes extensões de terra, os fazendeiros norte-ame-
ricanos de hoje são tão produtivos que, mesmo sendo menos de 3% da população,
fornecem alimento suficiente não somente para alimentar o país, mas também para
exportar para o resto do mundo.
Apesar de haver limites na oferta de terra arável de um país, muitos outros recur-
sos naturais, como petróleo e metais, são obtidos nos mercados internacionais. Como
os recursos são obtidos no comércio, os países não precisam ter grandes quantidades
de recursos naturais dentro de suas próprias fronteiras para conseguir o crescimen-
to econômico. Certamente, alguns países, incluindo Japão, Hong Kong, Cingapura e
Suíça, tornaram-se ricos sem terem recursos naturais substanciais próprios. Tão im-
portante quanto possuir recursos naturais é a capacidade de utilizá-los de forma pro-
dutiva – por exemplo, por meio de tecnologias avançadas.

T EC N O LO GI A
Além do capital humano, do capital físico e dos recursos naturais, a capacidade
de um país desenvolver e aplicar tecnologias novas e mais produtivas ajudará a
determinar sua produtividade. Considere apenas uma indústria, a do transporte.
Há dois séculos, como sugerido pela citação de Stephen Ambrose no começo do
capítulo, o cavalo e a charrete eram os principais meios de transporte – certamente
um método lento e caro. No século XIX, contudo, os avanços tecnológicos, como
o motor a vapor, ajudaram na expansão do transporte fluvial e no desenvolvimento
de uma rede nacional de ferrovias. No século XX, a invenção do motor de com-
bustão interna e o desenvolvimento da aviação, ajudados pela construção de uma
infraestrutura extensiva em estradas e em aeroportos, criaram um transporte cada
vez mais rápido, barato e seguro. A mudança tecnológica foi claramente uma força
motriz na revolução do transporte.
As novas tecnologias muitas vezes melhoram a produtividade em indústrias
diferentes daquela em que são introduzidas. Por exemplo, no final do século XVIII,
os agricultores americanos somente podiam vender seus produtos nos mecados lo-
cais e regionais. Agora, a disponibilidade do transporte de carga rápido e refrigerado
permite que os agricultores americanos vendam seus produtos em praticamente qual-
quer lugar do mundo. Com um mercado maior para vender, os agricultores podem
se especializar naqueles produtos mais bem ambientados à terra local e às condições
meteorológicas. Da mesma forma, as fábricas podem obter suas matérias-primas
onde quer que elas sejam mais baratas e mais abundantes, produzir os bens nos quais
são mais eficientes, e vender seus produtos onde quer que elas obtenham o melhor
preço. Estes dois exemplos ilustram a teoria das vantagens comparativas: a produti- Vantagem
vidade total aumenta quando os produtores se concentram nas atividades em que são comparativa
relativamente mais eficientes.
Inúmeros outros avanços tecnológicos levaram ao aumento da produtividade,
inclusive aperfeiçoamentos na comunicação e na medicina, e o surgimento da infor-
mática. Tudo indica que a internet terá um impacto primordial na economia norte-
-americana, não apenas na venda a varejo, mas em muitos outros setores. De fato, a
maioria dos economistas provavelmente concordaria que as novas tecnologias são
a única fonte mais importante para a melhoria da produtividade e do crescimento
econômico.
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Entretanto, o crescimento econômico não segue automaticamente os avanços


da ciência básica. Para fazer o melhor uso do novo conhecimento, uma economia
precisa de empreendedores que possam explorar comercialmente os avanços científi-
cos, assim como de um ambiente legal e político que incentive a aplicação prática do
novo conhecimento.
EXERCÍCIO 19.4
Um novo tipo de papel de embrulho foi inventado para tornar a embalagem das
balas mais rapida e fácil. A utilização deste papel aumenta o número de balas que
uma pessoa pode embalar à mão em cerca de 200 por hora, e o número de balas
que uma pessoa pode embalar na máquina em 300 por hora. Utilizando os dados
de nossos exemplos de Lucy e Ethel, desenvolva uma tabela como a Tabela 19.3
que mostre como esse avanço tecnológico afeta a produtividade média do trabalho.
Ainda se aplicam os rendimentos marginais decrescentes?

Por que a produtividade do trabalho nos Estados Unidos cresceu tão


rapidamente desde 1995?
Durante as décadas de 1950 e 1960, a maioria dos países industrializados experimen-
tou um rápido crescimento no PIB real e na produtividade média do trabalho. Entre
1947 e 1973, por exemplo, a produtividade do trabalho dos Estados Unidos cresceu
2,8% ao ano.4 Entre 1973 e 1995, entretanto, o crescimento dessa produtividade caiu
pela metade, para 1,4% ao ano. Outros países experimentaram semelhantes decrésci-
mos de produtividade, e muitos artigos e livros foram escritos na tentativa de descobrir
as razões. Nos últimos anos, no entanto, houve uma reação no crescimento da produ-
tividade, particularmente nos Estados Unidos. Entre 1995 e 2007, a produtividade do
trabalho nos Estados Unidos cresceu em média 3% ao ano. O que causou essa reação?
Ele pode ser sustentado?
Os economistas concordam que a recuperação do crescimento da produtividade
resultou do rápido progresso tecnológico e do aumento do investimento nas novas
tecnologias da informação e da comunicação (TIC). Pesquisas indicam que a produ-
tividade cresceu rapidamente naqueles setores que produzem a TIC, como os chips
de silício e as fibras óticas, e naqueles setores que utilizam a TIC. A utilização desses
avanços produziu uma onda de efeitos em áreas que variam da produção de auto-
móveis à administração do estoque. O crescimento rápido da internet, por exemplo,
tornou possível para os consumidores comprar e encontrar informações on line. Mas
isso também ajudou as empresas a aumentar sua eficiência, melhorando a coordena-
ção entre os fabricantes e os seus fornecedores. Por outro lado, não houve aceleração
no crescimento da produtividade do trabalho naqueles setores que não produzem nem
5
utilizam muita TIC.
Os otimistas argumentam que os avanços na computação, nas comunicações, na
biotecnologia e nos outros campos da TIC permitirão que o crescimento da produti-
vidade continue nesta taxa elevada. Outros são mais cautelosos, argumentado que os
aumentos no crescimento da produtividade destes desenvolvimentos podem ser mais
provisórios que permanentes. É difícil saber qual dos pontos de vista está correto.

empreendedores pessoas
que criam novos negócios
econômicos
C A PÍTULO 19 CRESCIMENTO ECONÔMICO 541

H Á L I M I TE S PA R A O CR ESCIM ENTO ?
Neste capítulo, vimos que, mesmo taxas de crescimento econômico relativamente bai-
xas, se sustentadas durante um longo período, produzirão grandes aumentos no tama-
nho da economia. Este fato levanta a seguinte questão: o crescimento econômico pode
continuar indefinidamente sem esgotar os recursos naturais e causar graves danos ao
ambiente global? A premissa de que vivemos em um mundo finito, de recursos limita-
dos, implica que, cedo ou tarde, o crescimento econômico deve chegar ao fim?
A preocupação de que o crescimento econômico pode não ser sustentável não é
nova. Um importante livro de 1972, The Limits to Growth7, relatou os resultados de
simulações computadorizadas que sugeriram que, a menos que o crescimento demo-
gráfico e a expansão econômica fossem interrompidos, o mundo logo ficaria sem seus
recursos naturais, como a água potável e o ar respirável. Este livro, assim como alguns
trabalhos posteriores de mesmo viés, levanta algumas questões fundamentais que não
caberiam aqui. Entretanto, de certa forma suas conclusões são enganosas.
Um problema com a tese sobre os “limites do crescimento” encontra-se em seu
conceito subjacente de crescimento econômico. Aqueles que enfatizam os limites am-
bientais impostos ao crescimento pressupõem que esse crescimento econômico seguirá
sempre a fórmula do mais que temos agora – mais fábricas de cigarro, mais automó-
veis poluentes, mais lanchonetes. Se fosse o caso, certamente haveria limites para o
crescimento que o planeta pode sustentar. Todavia, o crescimento do PIB real não
toma necessariamente essa forma. Os crescimentos do PIB real também podem surgir
de produtos novos ou de melhor qualidade. Por exemplo, não muito tempo atrás, as
raquetes de tênis eram artigos relativamente simples, feitas principalmente de madeira.
Hoje, são feitas de materiais sintéticos recentemente inventados, e projetadas para
melhorar o desempenho, usando sofisticadas simulações de computador. Como estas
novas raquetes de tênis de alta tecnologia são mais valorizadas pelos consumidores
do que as antigas feitas de madeira, sua introdução aumentou o PIB real. Da mesma
forma, a introdução de novos medicamentos contribui para o crescimento econômico,
assim como a expansão do número de canais de televisão, dos aparelhos digitais e das
vendas pela internet. Assim, o crescimento econômico não precisa seguir a fórmula
do cada vez mais as mesmas coisas antigas; pode significar produtos e serviços mais
novos, melhores e talvez mais limpos e eficientes.
Um segundo problema com a tese dos “limites do crescimento” é que ela negli-
gencia o fato de que o aumento da riqueza e da produtividade expande a capacidade
da sociedade de tomar medidas para proteger o ambiente. De fato, os países mais
poluídos no mundo não são os mais ricos, mas aqueles que estão em uma fase rela-
tivamente inicial de industrialização. Nesta fase, os países devem dedicar um volume
de seus recursos para as necessidades básicas – alimentação, moradia, saúde – e para
a expansão industrial contínua. Nestes países, o ar puro e a água podem ser vistos
mais como um luxo do que uma necessidade básica. Nos países mais desenvolvidos
economicamente, onde as necessidades mais básicas são encontradas mais facilmente,
os recursos extras estão disponíveis para manter o ambiente limpo. Assim, o contínuo
crescimento econômico pode levar a uma menor, e não maior, poluição.
Um terceiro problema com a ideia pessimista do crescimento econômico é que
ele ignora o poder do mercado e de outros mecanismos sociais para tratar a escassez.
Durante as crises do petróleo da década de 1970, os jornais eram repletos de man-
chetes sobre a crise de energia e o iminente esgotamento das reservas de petróleo no
mundo. Contudo, 30 anos mais tarde, as reservas de petróleo conhecidas no mundo
8
são na verdade maiores do que na década de 1970.
A situação energética de hoje é bem melhor do que a esperada há 30 anos porque
o mercado funcionou. A redução do fornecimento de petróleo levou a um aumento
nos preços e isso mudou o comportamento tanto dos demandantes quanto dos ofer-
7
Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, and William W. Behrens III, The Limits
to Growth (New York: New American Library, 1972).
8
Os recentes aumentos nos preços do petróleo novamente causaram preocupação.
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tantes. Os consumidores fizeram isolamento em suas casas, compraram carros e dispo-


sitivos mais eficientes em relação à energia utilizada e mudaram para fontes de ener-
gia alternativas. Os ofertantes se envolveram em uma massiva caça a novas reservas,
abrindo importantes novas fontes na América Latina, na China e no Mar do Norte.
Em resumo, as forças do mercado ajudaram a sociedade a responder com eficácia à
crise energética.
Geralmente, a escassez de qualquer recurso desencadeia mudanças nos preços
que induzem os ofertantes e demandantes a lidar com o problema. Simplesmente ex-
trapolar as tendências econômicas atuais para o futuro ignora o poder do sistema de
mercado de reconhecer a escassez e fazer as correções necessárias. Para complementar
os ajustes do mercado, podem ser esperadas ações governamentais estimuladas por
pressões políticas, como a alocação de fundos públicos para preservar o espaço aberto
ou reduzir a poluição do ar.
Apesar das deficiências da perspectiva dos “limites para o crescimento”, a maio-
ria dos economistas concordaria que nem todos os problemas criados pelo crescimen-
to econômico podem ser tratados de forma eficiente pelo mercado ou pelo processo
político. Os problemas ambientais globais, provavelmente mais importantes, como a
possibilidade do aquecimento global ou da destruição em curso das florestas tropicais,
são um particular desafio para as instituições econômicas e políticas existentes. A qua-
lidade ambiental não é comprada nem vendida nos mercados e, portanto, não atingirá
automaticamente seu nível otimizado por meio dos processos de mercado (lembre-se
Equilíbrio da teoria do equilíbrio). Nem os governos locais nem nacionais podem enfocar de
forma eficiente problemas que são de escopo global. A não ser que sejam estabelecidos
mecanismos internacionais para tratar dos problemas ambientais globais, esses proble-
mas podem se agravar com a continuação do crescimento econômico.

Por que a qualidade do ar é tão ruim na cidade do México?


Os países em desenvolvimento, como o México, que não são totalmente industrializados
nem desesperadamente pobres, em geral têm graves problemas ambientais. Por quê?
Uma preocupação quanto ao crescimento econômico é que ele causará níveis
cada vez maiores de poluição ambiental. Os estudos empíricos mostram, entretanto,
que a relação entre a poluição e o PIB real per capita está mais para um U invertido
(veja a Figura 19.6). Ou seja, como os países se movimentam de níveis muito bai-
xos de PIB real per capita para níveis “de renda média”, a maioria das medidas da
poluição tende a se agravar, mas a qualidade ambiental melhora quando o PIB real

Figura 19.6
A relação entre a
poluição do ar e o PIB A
real per capita.
Empiricamente, a poluição
do ar aumenta com o
Poluição do ar

PIB real per capita até um


ponto e começa então
a declinar. A poluição
máxima do ar (o ponto
A) ocorre em um nível
de PIB real per capita
aproximadamente igual
àquele da cidade do
México.

PIB real per capita


C A PÍTULO 19 CRESCIMENTO ECONÔMICO 543

per capita aumenta a partir de um outro ponto. Um estudo da relação entre a qua-
lidade do ar e o PIB real per capita descobriu que o nível do PIB real per capita no
qual a qualidade do ar é pior – indicado pelo ponto A da Figura 19.6 – é quase igual
ao nível da renda média no México.9 E, na verdade, a qualidade do ar na cidade do
México é excepcionalmente ruim, como qualquer visitante daquela imensa metrópo-
le pode atestar.
É compreensível que a poluição pode se agravar com a industrialização de um
país, mas o que faz a qualidade ambiental melhorar quando o PIB real per capita al-
cança níveis muito altos? Há diversas explicações para este fenômeno. Comparadas
às economias de renda média, as economias mais ricas estão relativamente mais con-
centradas em serviços “limpos” e valiosos, como as finanças e a produção de softwa-
res, ao contrário das indústrias extremamente poluidoras, como as fábricas pesadas.
Nas economias ricas, é também mais fácil que existam técnicas para o desenvolvi-
mento de tecnologias antipoluição sofisticadas e com custos mais baixos. Contudo,
a razão principal para que as economias mais ricas tendam a ser mais limpas é a
mesma que vemos nas casas das pessoas ricas, que geralmente são mais limpas e em
melhores condições do que as casas dos pobres. Quando a renda aumenta acima do
nível necessário para satisfazer as necessidades básicas, mais recursos sobram para
os “luxos”, como um ambiente limpo (a teoria da escassez). Para a família rica, os Escassez
recursos extras pagarão por um serviço de limpeza; para um país rico, pagarão por
dispositivos de controle da poluição nas fábricas e nos automóveis. De fato, as leis
antipoluição são geralmente mais inflexíveis e rigorosas em países ricos do que em
países de renda média e pobres.

RECAPITULANDO CRESCIMENTO ECONÔMICO:


DESENVOLVIMENTO E PROBLEMAS

 O crescimento econômico tem custos substanciais, notavelmente o sacrifício


do consumo atual que é exigido para liberar recursos a fim de criar novas
tecnologias e novo capital. As taxas de crescimento mais elevadas devem ser
levadas a cabo somente se os benefícios compensarem os custos.
 As políticas para promover o crescimento econômico incluem políticas para
aumentar o capital humano (educação e treinamento); políticas que promo-
vam a poupança e a formação de capital; políticas que incentivam a pesqui-
sa e o desenvolvimento; e a provisão de uma estrutura legal e política na
qual o setor privado pode operar produtivamente. Deficiências na estrutura
legal e política (por exemplo, corrupção oficial ou direitos de propriedade
mal definidos) constituem um importante problema para muitos países em
desenvolvimento.
 Algumas pessoas argumentaram que os recursos finitos implicam limites para
o crescimento econômico. Esta visão negligencia os fatos de que o crescimento
pode tomar a forma de melhores, em vez de mais, bens e serviços; esse aumen-
to de riqueza libera recursos para proteger o ambiente; e esses mecanismos
políticos e econômicos existem para cuidar de muitos dos problemas associa-
dos ao crescimento. Entretanto, estes mecanismos podem não funcionar bem
quando problemas ambientais ou outros que derivam do crescimento econô-
mico são de escopo global.

9
Gene M. Grossman; Alan B. Krueger, “Environmental Impacts of a North American Free Trade
Agreement,” in Peter Garber, ed., The Mexico–U.S. Free Trade Agreement (Cambridge, MA: MIT
Press, 1993). Veja também Grossman and Krueger, “Economic Growth and the Environment”,
Quarterly Journal of Economics, May 1995, pp. 353–378; and World Bank, World Development
Report: Development and the Environment, 1992.

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