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CAEN
PROGRAMA DE MESTRADO EM ECONOMIA
FORTALEZA, CEARÁ
2023
Em capital humano, a primeira preocupação do autor é relembrar que nos modelos
anteriores, o fator “Labour” era constante ao longo do tempo e também dos países - e
informar que a partir de agora não será mais assim, que tal suposição não encontra
sustentação na realidade e portanto os modelos mais refinados devem buscar outro alicerce.
Esse alicerce é a ideia de que a qualidade dos indivíduos que compõem o “L” deve e vai
variar de um para o outro (o modelo a ser estudado não vai ser capaz de considerar as
diferenças entre cada um dos trabalhadores envolvidos, mas a simplificação a ser feita
ulteriormente também não deve ser tão grosseira quanto as anteriores).
Tal conceito passa a ser mais simpático (e soar menos injusto aos mais ingênuos) a
partir da reminiscência de que essa foi a realidade desde os tempos mais imemoriais: seja
medida através de força física no passado ou de soft skills no mercado de trabalho mais
atualizado, a capacidade laborativa dos indivíduos varia. E consequentemente, seus
rendimentos também variam nos dois sentidos: tanto o rendimento no sentido de
produtividade, de resultado de seu trabalho, quanto no sentido de importância financeira
recebida por ele - ou seja, o salário. Mas como tal conceito pode ser utilizado para explicar as
diferenças (sobretudo de renda) entre países? A essa simplificação (menos grosseira) que visa
utilizar a qualidade coletiva de determinada mão-de-obra, damos o nome de capital humano -
designação que também faz sentido, uma vez que assim como o capital físico, ele é capaz de
produzir mais output, se encaixa no “produz e é produzido” e dá retorno. E por fim, também
deprecia.
Quando pensamos em capital humano, o primeiro conceito que vem à mente é o de
educação - no entanto, Weil se propõe a abordar primeiro o conceito de saúde. O que também
faz sentido, uma vez que os ganhos de saúde são frutos mais diretos do desenvolvimento
econômico - e esses ganhos se manifestam através de estudantes mais perspicazes,
trabalhadores mais concentrados e possivelmente uma população que fica menos tempo de
cama.
O primeiro fato estilizado apresentado traça um importante paralelo entre a altura dos
indivíduos e outras variáveis que serão mais significativas no estudo do capital humano - a
primeira delas, a quantidade de calorias diárias consumidas. Além de ser a explicação
biologicamente natural para a altura dos indivíduos, a medida das calorias é capaz de explicar
a qualidade da nutrição, que afeta diretamente o desempenho em trabalho, estudos e
basicamente qualquer atividade que configura o indivíduo como capital humano. O impacto
da nutrição na função de produção é tamanho que antes mesmo do conceito de capital humano
ser formulado por Becker, já era grande responsável pelo crescimento na Grã-Bretanha em
séculos anteriores - mesmo que inicialmente impactasse “somente” na capacidade física para
trabalhos braçais. Segundo Fogel, a melhora na nutrição britânica aumentou em 56% o “L”
disponível (com cerca de 0,33% ao ano), o que pode ser responsável por quase um terço do
crescimento na renda, dado que seu crescimento per capita foi de 1,15% ao ano no período
observado. O autor tenta frisar como a nutrição impacta não somente as capacidades físicas
dos indivíduos, mas também as mentais.
Por conseguinte, somos apresentados a um delineamento que busca explicar e
quantificar a relação entre nutrição (na forma de calorias diárias consumidas por indivíduo) e
PIB per capita, chegando a resultados que não são surpreendentes - e como se não bastasse,
ainda informa-se que tal estudo subestima a desnutrição nos países menos desenvolvidos, uma
vez que não é capaz de expressar os erros econométricos que são fruto da desigualdade. De
maneira semelhante, também ocorre desnutrição entre as camadas menos favorecidas dos
países mais desenvolvidos.
De maneira ainda menos impressionante, também somos apresentados a dados que
mostram uma relação positiva entre expectativa de vida ao nascer e PIB per capita - outros
fatos estilizados menos óbvios também são utilizados para evidenciar o impacto da saúde na
renda - ou seria o oposto? É com esse questionamento do “ovo ou a galinha” (mais uma vez)
que Weil traça a ideia de que países com mais renda naturalmente tendem a ter acesso
facilitado a recursos capazes de melhorar a saúde. E ainda sobre o questionamento citado,
mostra-se um modelo que mede o impacto da renda na saúde e da saúde na renda.
O que o modelo traz de mais interessante é a noção de que com mais saúde os
trabalhadores produzem mais, numa curva que vai direto pra cima; enquanto o impacto da
renda na saúde é mais parcimonioso, com um impacto maior nos cenários de menor renda.
Além disso, de modo semelhante aos modelos de crescimento já estudados, o modelo é capaz
de expressar impactos exógenos dos dois lados - ou seja, tanto na saúde quanto na renda.
Também é citado um efeito multiplicador, capaz de captar o “bate-bola” entre um fator e outro
(trabalhadores mais saudáveis têm mais renda, e a renda a mais vai gerar mais saúde e…).
Na seção seguinte, o capital humano finalmente é abordado em sua forma mais óbvia:
educação. Alguns fatos estilizados nos ajudam a compreender não só a evidente relação
positiva entre educação e desenvolvimento, mas também o abismo existente entre os países
desenvolvidos e os demais. Ao discorrer sobre o aspecto da educação como investimento, o
autor também apresenta a ideia do custo de oportunidade ao decidir pela educação, que existe
tanto pelo lado do indivíduo (o estudante) quanto pelo lado das instituições (governo ou
iniciativa privada). Seguindo essa linha de pensamento, os números apontam que capital
físico e capital humano possuem magnitude semelhante.