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LEONARDO ERICH MACHADO DE FREITAS

CHAPTER 4: LABOUR MARKETS AND SUPPLY-SIDE POLICIES

Resenha do capítulo 4 do livro


Macroeconomics: Imperfections,
Institutions, and Policies de Wendy
Carlin e David Soskice para a disciplina
de Macroeconomia I.

1 INTRODUÇÃO

Os principais objetivos que norteiam o capítulo que é sujeito de nosso


estudo consistem em compreender as políticas que afetam o “lado da oferta” numa
economia, ou seja, de que maneira mudanças nas curvas de salário e de preço (que os
autores chamam de "price-setting curves") vão impactar a inflação e a taxa de
desemprego de equilíbrio (esta frequentemente denominada pelos autores de ERU). O
foco do capítulo é estudar tais impactos através de fatores políticos e institucionais -
com previsível atenção nas políticas referentes aos sindicatos e acordos. Antes porém,
seria pertinente compreender o que devemos esperar ao estudar “políticas do lado da
oferta”.
Logo no início do capítulo, somos ditos que “políticas do lado da oferta
referem-se àquelas que deslocam as curvas de fixação de salários ou preços”. Além
disso, com uma pesquisa por outras literaturas, é possível perceber que indo de acordo
com o descrito por Carlin e Soskice, essas mesmas políticas consistem numa tentativa
do governo de aumentar a produtividade e eficiência na economia – ou seja, vão
permitir um melhor crescimento econômico no longo prazo ao deslocar a oferta
agregada para a direita.
Embora essa noção embrionária possa ajudar a guiar o estudante no
princípio do capítulo, ela é insuficiente para responder as questões aqui tratadas – e
para isso, é conveniente lembrar de como a linha de raciocínio dos autores nos trouxe
até aqui. Se nos capítulos anteriores tivemos como objeto de estudo a oferta agregada
(através das curvas WS, PS e LM), logo em seguida adicionamos também as curvas de
Phillips e a Monetary Rule, que são úteis para nos dar o trade-off entre inflação e
desemprego, além da já citada ERU. E é partindo dessas noções que o capítulo
abordado vai buscar respostas para questões mais profundas.

2 ESTRUTURAS, POLÍTICAS E CHOQUES

Como “bússola” dos inúmeros termos e noções relativamente novos que


nos são apresentados, pode ser interessante ter sempre uma “regra de bolso”
introduzida pelos autores:
- Mudanças em benefícios trabalhistas, salário mínimo, legislação trabalhista e
participação do governo em negociações com sindicatos: podem deslocar a curva WS
- Mudanças nas políticas de competição ou impostos: podem deslocar a curva PS
- Imposto: Tem efeitos na demanda agregada e na oferta agregada, e pode ser usado
pelo governo como ferramenta estabilizadora

Sendo assim, logo de cara nos deparamos com um desafio: A nossa ERU, ou melhor
dizendo, a ERU de um dado país não pode ser uma constante, ou ser considerada
estática em qualquer modelo que se planeje utilizar – ela deve ser dinâmica, e flutuar
no tempo de acordo com a WS e a PS, que por sua vez, são as ferramentas dos
policymakers para deslocar a ERU (de maneira semelhante ao que ocorre com inflação
e taxa de juros: um policymaker não “aumenta a inflação” a seu bel prazer, mas sim
utiliza-se de ferramentas como a taxa de juros buscando a inflação que considera
adequada para um dado contexto).

O gráfico a seguir (Figura 1 do capítulo) busca explicar o que chama de “mecânicas das
curvas”, e emula quais seriam os efeitos de um deslocamento (ou choque) nas curvas
WS ou PS no lado da oferta:
Os gráficos buscam mostrar como o deslocamento gera um efeito cascata que, partindo
do deslocamento das curvas de Phillips no segundo plano mostra que: surge um gap
entre o salário real e o ponto B’; a inflação cai para 2%; Economia vai do ponto A ao
ponto B; salários sobem menos que a inflação; custos da firma sobe menos que no
passado; preços sobem menos. A queda na inflação gera um efeito em cadeia que faz o
Banco Central cortar a taxa de juros – e é esse ajuste na taxa de juros que vai levar a
eonomia do ponto C ao ponto Z, assim deslocando também a curva de Phillips.

2 FATORES DE DESLOCAMENTO DAS CURVAS WS E PS


Ainda tendo em mente as “bússolas” citadas anteriormente, os autores
esclarecem o significado do W e do P que usamos simplificadamente até aqui, com a
ajuda da equação do índice de preços do consumidor Pc = P · (1 + tv). O objetivo é
mostrar que o nosso W/P mede o salário monetário pós-impostos pago ao trabalhador e
P é justamente o índice de preços, preocupando-se com impostos indiretos. Então somos
apresentados a uma série de “novos termos e noções”:

- salário produto real: custo total do trabalho para as empresas / o preço que a empresa
recebe por seu produto
- preço do produtor: o preço que a empresa recebe por seu produto
- cunha fiscal: salário de consumo real - salário de produto real

...e uma série de novas regras:


- cunha fiscal é fator de pressão de preço
- qualquer aumento na tributação direta ou indireta reduz o salário real de fixação de
preços
- o item acima desloca a curva PS para baixo.
- o elemento “salário” dos custos para as empresas é o custo total da mão de obra para
as empresas, incluindo benefícios

Com isso, deriva-se a curva PS com uma equação que agora inclui a cunha:

Importante notar:
- ↓ cunha = ↑ PS, pois menos impostos aumentam o salário real
- ↓ cunha = WS e PS se cruzam em empregos mais altos = ↓ ERU
P.S.: O termo “cunha fiscal” foi o mais próximo que encontrei para “tax wedge”, mas ainda
não estou certo de que é o termo mais adequado.

Agora escrevendo a equação da PS incluindo a cunha fiscal, temos que W/Pc = λ · f(µ,
zp), onde cada uma das variáveis expressa uma possibilidade da PS se deslocar pra cima.
Pode ser por...
- queda na cunha (zp)
- queda no mark-up (µ)
- aumento da produtividade λ

Por outro lado na equação da WS temos W/Pc = b(E, zw), dessa vez com zw sendo as
possibilidades de pressão salarial
- menos benefícios de seguridade para desempregados
- menos força sindical
Os autores ainda destacam 3 fatores importantes aqui, sendo eles...

- Aumentos de produtividade (embora mais ligados ao PS)


- Programas de treinamento (que pode deslocar WS para cima ou para baixo)
- Acordos salariais, políticas de renda e legislações (trata-se de um fator muito delicado,
pois depende de uma série de contextos que inclui capacidade de negociação dos
sindicatos, cenário econômico e claro, capacidade da firma de pagar o exigido. O ponto
aqui é compreender o “WS piso” e o “WS teto”, e a “zona de barganha” que há entre eles)

3 SINDICATOS, RIGIDEZ SALARIAL E A ERU

Os autores tentam a princípio desmistificar a ideia de que um sindicato com


muitos trabalhadores é o mais forte e vai aumentar a WS de modo a ter uma ERU mais
aprazível aos trabalhadores, de acordo com 3 cenários distintos:
- sindicato descentralizado “firm level”, onde cada firma tem seu sindicato (caso em que
empresa aumentar por medo das empresas aumentarem o preço em caso de aumento de
salário, a curva fica abaixo da curva de “industry level”)
- sindicato intermediário “industry level”, cada indústria tem seu sindicato (caso em que
uma vez que os salários são fixados, as empresas fixam os preços)
- sindicato centralizado “economy wide”, um único sindicato para toda a economia
(caso em que por fim, salário de consumo real não sobe)

O gráfico a seguir busca ilustrar as diferentes curvas de cada um dos cenários


explanados:

...e o gráfico a seguir mostra como a ERU pode ser baixa no caso de um cenário sindical
centralizado ou descentralizado e alto quando os sindicatos se organizam a nível
industrial – esse sim seria o caso mais aprazível aos trabalhadores:

4 HISTERESE
Os autores introduzem o conceito de histerese ao afirmar que se o desemprego real ficar
muito tempo acima do desemprego de equilíbrio, pode aumentar a ERU e prejudicar a
economia. Isso aconteceria através de dois fenômenos:

O efeito insider-out: Nesse caso, haveria uma certa “taxa de egoísmo” partindo dos
trabalhadores atualmente empregados em relação aos desempregados. Com uma posição
de barganha forte, os empregados querem apenas manter seus empregos e aumentar
seus próprios salários. Isso aconteceria num momento em que o Banco Central não
poderia “dar um boost” na economia após queda na demanda agregada, forçando a
curva WS a ficar vertical, e qualquer aumento na demanda agregada será refletido em
salário real (produzindo inflação).

Desemprego de longa duração e persistência do desemprego: O ponto chave aqui é


compreender que quanto mais desempregados de longa duração (que podem ocorrer por
diferentes fatores, os autores citam fatores psicológicos e perda de habilidades), menor o
impacto do desemprego na fixação dos salários – logo, a ERU vai subir e a nossa curva
WS vai se deslocar para cima. Em contrapartida, vai passar a ser menor o impacto que o
desemprego poderia causar para combater uma inflação. É por isso que os governos
tendem a estar interessados em combater esse tipo de desemprego através de programas
sociais.
Importante notar que apesar de tudo, nesse cenário a economia tende a se recuperar,
uma vez que cai a proporção de desempregados de longa duração (curva WS se desloca
para baixo).

5 A “BEVERIDGE CURVE”

O objetivo aqui é analisar salário e preço através da perspectiva das constantes


flutuações dos trabalhadores entre emprego e desemprego, através da ideia de que
trabalhadores e empregos são heterogêneos, causando um “casamento perfeito” entre
vagas e desempregados. Essa ideia é traduzida na equação M = α · m(U, V ), onde...
- U = número de desempregados
- V = número de vagas
- α = parâmetro de eficiência do “casamento” entre vagas e trabalhadores
- Regrinha de bolso: Mais “casamentos” não significa necessariamente mais eficiência,
uma vez que pode ser fruto de um alto nível de desemprego ou alto nível de vagas

A equação sE = α · m(U, V ) introduz a variável sE, onde s é a taxa de saída dos


empregos; o mercado de trabalho estará em um equilíbrio de fluxo quando o fluxo de
saída dos trabalhos for igual à nossa equação de “casamentos” M.

Os autores nos dão a equação ao lado e nos pedem para assumir que a
taxa de separação dos empregos é uma constante exógena. Com base na taxa de
desemprego (u ≡ U/E) e de vagas disponíveis (v ≡ V/E), finalmente plotamos a
“Beveridge curve”:
Por razões evidentes ela é negativamente inclinada, e qualquer declínio no α desloca a
curva para a direita.

Com isso, introduzimos à nossa conhecida equação da WS o fator “taxa de vagas”, o v,


tendo agora W/Pc = b(E, v, zw). Notando que se v ↑, a WS ↑, isso implica também
numa menor ERU. Ou seja, taxa de vagas e ERU são uma relação positiva, como
intuitivamente observado a seguir:

Agora inclui-se tal linha, positivamente inclinada, na nossa “Beveridge curve” anterior;
observa-se que o equilíbrio total no mercado de trabalho é mostrado pela interseção da
“Beveridge curve” e com a linha WS = PS.
Importante notar que...
- ↑ desemprego (u*) , se a “taxa de casamentos” for pior (instintivo)
- pior “taxa de casamentos” = ↑ vagas = ↑ curva WS = ↑ pressão inflacionária
- aumento de salários = não muda a “Beveridge curve” = WS se iguala a PS se
deslocando para a direita = ↑ desemprego de equilíbrio com ↓taxa de vagas
- Se desemprego de equilíbrio sobre com pouca mudanças de vagas, WS ou PS se
deslocaram e a “Beveridge curve” também.
6 CONCLUSÃO

O capítulo focou principalmente em mudanças na ERU sob uma ótica laborial, ou seja,
onde salários são o tópico mais decisivo. Como o presente resumo começou elencando
“bússolas” do que fora aprendido até então, novas “bússolas” nos foram apresentadas e
precisam estar em destaque. São elas...

- Se a curva WS for empurrada para cima ou a curva PS for empurrada para baixo, a
ERU aumenta
- Se a ERU cai, há queda em WS ou uma subida em PS
- Se a oferta cai, a inflação sobe e o BC aumenta a taxa de juros.
- PS cai com...
*aumento da cunha fiscal
• um aumento no mark-up
• uma queda na produtividade
• mais regulamentação trabalhista
- WS sobe com...
• aumento da taxa de substituição
• os sindicatos ganham poder
• os sindicatos exercem menos restrições salariais
• mudam as estruturas de fixação salarial

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