Você está na página 1de 59

Política Macroeconômica

Prof.ª Mariana Stussi Neves

Descrição

Compreender as políticas fiscal e monetária e seus impactos no equilíbrio nos mercados monetário e de
bens e serviços e, ainda, como interagem com a demanda agregada. Entender a diferença entre curto e
longo prazos na economia e como as curvas da demanda agregada reagem de forma distintas em cada um
desses horizontes de tempo.

Propósito

O estudo do funcionamento da economia como um todo, através da análise macroeconômica, permite


compreender o comportamento de variáveis essenciais para o bem-estar social, como desemprego, inflação
e crescimento econômico, além de equipar o aluno para analisar políticas que buscam afetar essas
variáveis.

Objetivos
Módulo 1

Curvas de oferta e demanda


Construir as curvas de oferta e demanda agregada para diferentes horizontes de tempo.

Módulo 2

Os diferentes equilíbrios na economia


Identificar os diferentes equilíbrios na economia e entender o impacto de alterações nas políticas fiscal e
monetária.

meeting_room
Introdução
Por que às vezes é difícil conseguir emprego? Por que os telejornais passam tanto tempo falando da taxa de
juros definida pelo Banco Central? Como lidar com um aumento generalizado de preços na economia?

Essas questões dizem respeito à política macroeconômica, um conjunto de ferramentas central em


qualquer sociedade moderna. Estudaremos inicialmente os fundamentos teóricos da Macroeconomia, o
que nos permitirá discutir o impacto dessas políticas.
1 - Curvas de oferta e demanda
Ao final deste módulo, você será capaz de construir as curvas de oferta e demanda agregada
para diferentes horizontes de tempo.

Introdução
Você já deve ter ouvido falar em crises econômicas, recessões e períodos de crescimento. Em períodos de
crise, é frequente ver nos jornais e na televisão economistas dando entrevistas, tentando explicar as razões
para o desempenho ruim da economia e fazendo previsões de cenários futuros.

Em geral, o crescimento da economia é medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) de um país. O crescimento
é mais alto em uns anos do que outros, e, quando a economia sai do trilho, o crescimento passa a ser
negativo, ou seja, há redução do PIB. Flutuações no PIB estão muito associadas a flutuações no emprego.

Exemplo
Quando passamos por uma recessão, a economia passa por um período de produção decrescente e
desemprego crescente.

O Brasil passou por uma forte recessão entre 2014 e 2016.


Declínio
Entre o segundo trimestre de 2014 e o segundo trimestre de 2016, o PIB real caiu sistematicamente,
indicando declínio na produção de bens e serviços da economia. Mesmo com o fim da recessão em 2016, a
economia mostrou recuperação muito lenta e, até a data de publicação desta aula (2º trimestre 2020), não
havia se recuperado completamente.

Crescimento
Desde o 2º trimestre de 2014 até o 4º semestre de 2016, o crescimento médio foi de -1,8 %. A taxa de
desemprego passou de 6,5% em dezembro de 2014 para 13,7% em janeiro de 2017. O mau desempenho
econômico permeou os noticiários daquele período, sendo destacado por ter sido um dos piores períodos
da economia brasileira nos anos recentes.

Essas oscilações de curto prazo no produto e no emprego recebem o nome de ciclos econômicos. A
terminologia é um pouco enganosa, podendo sugerir que as oscilações sejam regulares e previsíveis,
quando não são. Muito pelo contrário, elas são bastante irregulares e carregam um elevado componente de
incerteza. Podem acontecer próximas umas às outras, ou distantes. Não há como garantir com segurança.

Exemplo

A crise de 2009 ocorreu relativamente próxima à de 2015. Pouco depois, quando a economia brasileira
apresentava alguns fracos indícios de recuperação, a crise da pandemia da covid-19 surgiu, causando
impacto imediato na economia mundial e a paralisação de muitos setores internacionalmente - algo que
ninguém poderia prever.
No entanto, nem todas as oscilações são completamente imprevisíveis. Algumas delas apresentam sinais
antes de o cenário mais grave acontecer.

Como explicar essas oscilações de curto prazo? Quais modelos são capazes de explicá-las? É possível que
os formuladores de política econômica as evitem? No próximo tópico, vamos procurar desenvolver a teoria
para explicar o comportamento da economia no curto e no longo prazo.

Os componentes do PIB e a lei de Okun


Como você deve ter aprendido, o PIB mede a soma de todos os bens e serviços finais produzidos na
economia durante um determinado período de tempo. A próxima imagem mostra o crescimento do PIB real
do Brasil desde 1997.

Figura 1 - Taxa de crescimento do PIB real

Não é preciso ser economista para perceber que o crescimento econômico não é estável e que, às vezes, é
negativo, como foi durante a recessão de 2014-16. Mas, como se define uma recessão? Há definições
distintas, como:

Existe uma regra técnica que define recessão a partir do momento em que o PIB de
um país cai por dois trimestres consecutivos.

Já o Codace considera que existe recessão quando é observada uma queda generalizada no nível de
atividade econômica, independentemente de haver dois trimestres negativos de PIB. A explicação para isso
é que muitas vezes o PIB é afetado por algum setor específico, e não reflete a dinâmica da economia como
um todo. Assim como o PIB reflete a dinâmica de diferentes setores da economia, ele também é uma soma
de seus diversos componentes, refletindo-os, portanto. Ele é composto por quatro componentes de
despesa:
odace
Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas, é uma organização independente criada
com a finalidade de determinar a referência cronológica para os ciclos econômicos brasileiros.
1.
Consumo;

2.
Investimento;

3.
Compras do Governo;

4.
Exportações Líquidas.

Nesses componentes, os ciclos econômicos também acabam se tornando aparentes, sendo alguns mais
voláteis que outros, tal qual o investimento. Ademais, os ciclos são visíveis nos dados que descrevem as
condições do mercado de trabalho.

A imagem, a seguir, mostra a taxa de desemprego desde 2012.

Figura 2 - Taxa de desemprego

Pode-se observar que o desemprego cresceu durante a recessão de 2014-16. Ao olhar para outros
indicadores de mercado de trabalho, vamos notar trajetórias semelhantes. Quando há declínio na atividade
econômica, torna-se mais difícil encontrar uma vaga de emprego.

Se há mais desempregados em períodos de crise e recessão, e são justamente os


trabalhadores empregados que contribuem para a produção de bens e serviços,
aumentos na taxa de desemprego devem estar relacionados a declínios no PIB real.
Essa relação negativa entre produto e desemprego é chamada pelos economistas de Lei de Okun. Essa lei
torna evidente que os determinantes do ciclo econômico de curto prazo são diferentes dos determinantes
de longo prazo.

ei de Okun
O nome é uma homenagem ao economista Arthur Okun (1928-1980), primeiro a estudar essa relação.

Longo prazo

O longo prazo é determinado principalmente pelo progresso tecnológico.


close

Curto prazo

O curto prazo é determinado pelo emprego da força de trabalho da economia.

As quedas na produção de bens e serviços presentes nas recessões estão frequentemente associadas a
um aumento do desemprego.

A próxima imagem mostra essa relação para o Brasil.

Figura 3 - Lei de Okun no Brasil 2012-2017

Horizontes de tempo na macroeconomia


Como mencionado, na macroeconomia existem diferentes determinantes a depender do horizonte temporal
em análise e, consequentemente, diferentes modelos. Mas, por que modelos de longo prazo e curto prazo
não podem ser iguais? A maioria dos economistas entende que a principal diferença entre o curto e o longo
prazo está na forma como os preços se comportam.

Longo prazo

No longo prazo, os preços são flexíveis e reagem a mudanças na oferta e na demanda.

Curto prazo close

No curto prazo, os preços são mais rígidos e permanecem “fixos" em um nível determinado por algum
tempo.

Como os preços se comportam de forma diferente no curto e no longo prazo, eles também reagem de
maneira diferente a mudanças econômicas, sejam elas choques externos ou alterações na política
econômica.

Veja um exemplo de como o preço se comporta no curto prazo:

1 - Agropecuária
Ocorre uma mudança inesperada na produção agropecuária (uma quebra de safra).
2 - Restaurantes
Os restaurantes não aumentam imediatamente o preço de suas refeições.

3 - Empresas
As empresas não alteram os salários de seus funcionários de pronto.

4 - Mercados
Os mercados não mudam as etiquetas de seus produtos.

A maior parte dos preços demora um certo período de tempo para se alterar. No longo prazo, no entanto,
esses preços se ajustam lentamente, respondendo a essas alterações de política econômica ou a choques.
A rigidez temporária dos preços sugere que o impacto no curto prazo decorrente de uma variação na oferta
monetária difere do impacto no longo prazo.
Desse modo, um modelo que deseje capturar a dinâmica dos preços no curto prazo deve levar em
consideração essa rigidez. Veremos mais adiante que variáveis reais como produto e emprego sofrerão
algum ajuste no curto prazo, uma vez que os preços não se adequam rapidamente. Isso significa que as
variáveis nominais poderão influenciar as variáveis reais enquanto durar o período no qual os preços se
mantiverem rígidos.

Demanda agregada
Na Teoria Macroeconômica Clássica, supõe-se que os preços se ajustam para garantir que a quantidade
demandada de produto seja igual à quantidade ofertada. A oferta de bens e serviços, por sua vez, depende
da capacidade de produção da economia e está atrelada às ofertas de capital e de mão de obra, além da
tecnologia disponível para a produção.

Quando os preços são rígidos, no entanto, esse ajuste de preço não pode ser realizado. Assim, o produto
depende também da demanda por bens e serviços. Já a demanda depende de uma série de fatores, como:

Consumidores
Confiança dos consumidores em relação ao cenário econômico.

Investidores
Percepção dos investidores a respeito de lucratividade.

Fiscal
Política fiscal.

Monetária
Política monetária.

Para melhor compreender como esses fatores influenciam a demanda, vamos introduzir o conceito de
demanda agregada. Demanda agregada (DA) é a relação entre a quantidade de produto demandada e o
nível de preços agregado da economia. O nível de preços, por sua vez, é uma medida de preços globais de
um conjunto determinado de bens e serviços — nesse caso, da economia como um todo.

Resumindo

Assim, a demanda agregada aponta para a quantidade de bens e serviços que as pessoas desejam adquirir
para cada nível de preços.

A chamada Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) sustenta que:

MV=PY
M = Oferta monetária
V = Velocidade da Moeda
P = Nível de preços
Y = Montante do produto

Rotacione a tela. screen_rotation


A oferta monetária é o valor total de dinheiro disponível em uma economia em um determinado período do
tempo. A velocidade da moeda é simplesmente a frequência média com que uma unidade de moeda (por
exemplo, um real) troca de mãos em uma transação econômica.

Supondo que a velocidade da moeda seja constante, essa equação diz que a oferta monetária determina o
valor nominal do produto PY. Partindo do pressuposto de que a quantidade de moeda ofertada M é fixada
pelo Banco Central, então a equação quantitativa enuncia uma relação negativa entre preços P e quantidade
de produto Y. De outra maneira:


MV = PY

Rotacione a tela. screen_rotation


As barras sobre as variáveis indicam que elas assumem valores fixos. Para manter o lado esquerdo da
equação constante, P e Y precisam ter uma relação negativa entre si: Se o preço aumenta, o produto
diminui. A próxima imagem mostra um gráfico para combinações de P e Y que satisfazem essa equação
para uma dada velocidade da moeda V e oferta monetária:

Figura 4 - Combinações de P e Y

A curva com inclinação negativa é conhecida como curva de demanda agregada. Assim, a oferta monetária
M e a velocidade da moeda V determinam o valor nominal do produto PY. Como PY é uma constante,
quando P aumentar, Y deve diminuir, e vice-versa.

A intuição econômica por trás dessa igualdade é que, uma vez determinada a oferta monetária, ela
estabelece o valor de todas as transações da economia em moeda corrente.

Se o nível de preços aumenta, todas as transações exigirão uma quantidade maior


de moeda corrente para ocorrer, de modo que o número de transações caia e, por
consequência, a quantidade de bens e serviços adquirida também.

Também podemos analisar a inclinação negativa da curva de demanda agregada sob outra ótica: quanto
maior o montante do produto, maior o número de transações realizadas pelas pessoas, assim a
necessidade de moeda corrente passa a ser mais alta. Em outras palavras, há uma demanda por encaixes
monetários reais, M/P, mais alta.

Encaixes monetários reais é o nome dado ao termo correspondente à razão de quantidade de moeda M
sobre o nível de preços P.

Por que é importante dividir a quantidade de moeda M pelo nível de preços P?

Resposta
Porque não faz diferença ter o dobro do dinheiro se os preços forem duas vezes maiores. O que interessa é
o poder de compra da moeda, e não só o número impresso em uma cédula.

Uma vez que a oferta monetária M é constante, um encaixe real mais alto significa um nível de preços mais
baixo. Analogamente, uma demanda por encaixes reais mais baixos por conta de menos transações implica
um nível de preços mais alto.

Deslocamentos na demanda agregada


Até aqui, consideramos a oferta monetária M como dada. O que aconteceria se o Banco Central decidisse
alterar a oferta monetária? Certamente, as combinações possíveis de P e Y se alterariam, de modo que a
curva de demanda agregada se deslocaria.

Suponha que o Banco Central aumente a oferta monetária. Pela equação quantitativa da moeda, um
aumento de M deve provocar um aumento proporcional do valor nominal do produto PY.

Comentário

Para qualquer nível de preços, o montante de produto passa a ser maior, assim como para qualquer
montante de produto, o nível de preços passa a ser mais alto.

Dessa forma, há um deslocamento da curva de demanda agregada para a direita e para cima, ou para fora.
O painel (a) da figura 5 mostra essa dinâmica.
Figura 5 (a) Deslocamentos da DA por um aumento em M.

Do mesmo modo, o mecanismo contrário também ocorre. Se o Banco Central decide reduzir a oferta
monetária, o montante de produto para qualquer nível de preços passa a ser menor e, para qualquer
montante de produto, o nível de preços se torna mais baixo. Nesse caso, a curva de demanda agregada se
desloca para baixo e para a esquerda, ou para dentro. O painel (b) da figura 5 exibe esse deslocamento.

Figura 5 (b) Deslocamentos da DA por uma redução em M.

Embora seja responsável por alguns dos deslocamentos da demanda agregada, a oferta de moeda não é o
único fator que pode causar esse efeito. Mudanças na velocidade da moeda, por exemplo, também podem
deslocar a demanda agregada, na mesma lógica da equação quantitativa da moeda. Contudo, é importante
ter em mente que a TQM é uma simplificação da teoria para se compreender a curva de demanda agregada.

Como veremos em outro módulo, oscilações na oferta monetária ou na velocidade da moeda não são a
única fonte de oscilação na demanda agregada. A realidade é bem mais complexa.

Oferta agregada
Sozinha, a curva de demanda agregada não diz em que ponto a economia se encontra, isto é, qual o nível de
preços vigente e o montante de produto correspondente. Ela mostra apenas uma relação entre essas duas
variáveis. Todavia, existe outra curva que também apresenta uma relação entre P e Y que cruza a curva de
demanda agregada: a chamada curva de oferta agregada.

Essas curvas determinam de forma conjunta o nível de preços P e a quantidade de produto Y da economia,
e a interseção entre elas indica em que ponto a economia está.

A oferta agregada (OA) é a relação entre a quantidade de bens e serviços ofertada e o nível de preços da
economia.

Atenção!

Dado que os bens e serviços ofertados têm preços flexíveis no longo prazo e preços rígidos no curto prazo,
a oferta agregada depende do horizonte de tempo que está sendo analisado.

Desse modo, pode-se dizer que existem duas curvas de oferta agregada: a oferta agregada de longo prazo
(OALP) e a oferta agregada de curto prazo (OACP).

Como explicado, no longo prazo, a capacidade de oferta de bens e serviços da economia depende dos
montantes fixos de capital e mão de obra e da tecnologia disponível para a produção. Formalmente:

Y = f ( K̄ , L̄)

Rotacione a tela. screen_rotation


Essa equação indica que o produto Y é uma função do montante fixo de capital K̄ e do montante fixo de
trabalho L̄ . Como ambos os insumos são fixos, o produto também será fixo.

Relembrando

A barra superior indica que a variável assume um valor fixo.

Note que o nível de preços P não entra na função de produção, ou seja, não é um insumo:
consequentemente, não afeta o montante de produto Y. Essa função deriva do modelo clássico, que
descreve como a economia se comporta no longo prazo. De acordo com esse modelo, o produto não
depende do nível de preços.

Se o produto é fixo no longo prazo e não depende do nível de preços, a curva de oferta agregada será uma
linha reta vertical cujo intercepto no eixo do produto é o montante de produto fixo Ȳ .

A imagem, a seguir, mostra a curva de oferta agregada do longo prazo (OALP) cruzando a curva de
demanda agregada (DA).
Figura 6 - Oferta agregada de longo prazo (OALP) e Demanda agregada (DA)

Dado que a curva de oferta agregada do longo prazo é uma linha vertical, então um deslocamento da curva
de demanda agregada não afetará a quantidade de produto Y, mas apenas o nível de preços P.

Se a oferta monetária aumenta, por exemplo, e a curva de DA se desloca para fora, como mostra a imagem
a seguir, o que ocorre?

Figura 7 - Oferta agregada de longo prazo (OALP) e deslocamento da Demanda agregada (DA)

O ponto de cruzamento das duas curvas muda do ponto A para o ponto B, aumentando o nível de preços.
Desse modo, oscilações na demanda agregada afetam apenas os preços no longo prazo.

A oferta agregada de longo prazo vertical satisfaz a chamada dicotomia clássica, de acordo com a qual
variáveis nominais não afetam variáveis reais, afinal, o nível de produto não depende da oferta monetária. O
nível do produto no longo prazo Ȳ é chamado de nível natural do produto ou nível do produto de pleno
emprego, que é o ponto da economia no qual a taxa de desemprego está em seu nível natural, ou, de outro
modo, os recursos da economia estão plenamente empregados.

No entanto, esse é o caso apenas do longo prazo. No curto prazo, o modelo clássico não se aplica. Como há
rigidez de preços no curto prazo, a curva de oferta agregada de curto prazo não é vertical.

Vamos tomar como exemplo o caso extremo: todos os preços são fixos no curto prazo e vamos supor a
seguinte situação:

É it t t t
É muito caro para os restaurantes trocarem seus menus.

As empresas não possuem capital para alterar os salários de seus empregados.

É muito custoso para os mercados mudarem suas etiquetas.

Posto isso, todos os preços estão fixados em valores predeterminados. A esses preços, os produtores
ofertam a quantidade que os consumidores estiverem dispostos a comprar, e utilizam a quantidade exata de
capital e mão de obra para produzir aquela quantidade.

Obviamente, isso é apenas uma simplificação e não representa a realidade em toda a sua complexidade.
Mas, por ora, vamos analisar este modelo: se o nível de preços é completamente rígido, isso significa que
ele não muda. Assim, a curva de oferta agregada do curto prazo é uma reta horizontal. O gráfico da próxima
imagem mostra esse caso.

Figura 8 - Oferta agregada de curto prazo (OACP) e Demanda agregada (DA)

No curto prazo, um deslocamento para fora da curva de demanda agregada ocasionado por uma ampliação
da oferta monetária deslocada não altera o nível de preços, como ilustra a imagem a seguir. A economia
passa do ponto inicial A para o novo ponto de equilíbrio B, alterando o nível de produto de Y1 para Y2,
elevando-o a um nível constante de preços. Dessa forma, um aumento na demanda agregada eleva o
produto no curto prazo, dado que os preços não se ajustam instantaneamente.
Agora, veja outro exemplo, na próxima imagem, depois de um movimento positivo repentino na demanda
agregada.

Figura 9 - Oferta agregada de curto prazo, (OACP) e deslocamento da Demanda agregada (DA)

Nesse cenário, a economia passa por um período de aquecimento.

Produtores ficam amarrados a preços demasiadamente baixos para seu nível elevado de
produção.

Com a demanda elevada por seus produtos, as empresas vendem uma alta quantidade de
bens e serviços, o que gera um aumento de sua produção.

Com isso, as empresas utilizam mais capital e contratam mais trabalhadores.

Como sabemos, a economia não se resume a um momento estático no curto prazo. Veremos a seguir o que
ocorre depois de um deslocamento repentino da demanda agregada.

Atenção!
Devemos frisar que os casos ilustrados aqui são dois casos extremos e que a realidade da economia é um
tanto mais complexa do que isso.

Utilizamos esses dois casos extremos como pontos de partida para fundamentar o restante da teoria.
Como veremos mais adiante, num intervalo de tempo em que alguns preços são flexíveis e outros rígidos, a
curva de oferta agregada será uma mistura das duas apresentadas até então. Ou seja, será uma curva
positivamente inclinada.

A transição do curto prazo para o longo prazo

Até agora, vimos como a economia e os preços se comportam no curto prazo e no longo prazo. Mas, como
a economia faz a transição do curto prazo para o longo prazo? Suponha que a economia esteja inicialmente
num equilíbrio de longo prazo. O equilíbrio de longo prazo ocorre quando a curva de demanda agregada
intercepta a curva de oferta agregada de longo prazo, ilustrado pelo ponto E na imagem a seguir.

Figura 10 - O equilíbrio de longo prazo.

A imagem anterior mostra três curvas: a curva de demanda agregada, a curva de oferta agregada de curto
prazo e a oferta agregada de longo prazo.

A curva de oferta agregada de curto prazo também cruza o ponto de equilíbrio,


porque, dado que no longo prazo os preços se ajustam para alcançar o equilíbrio,
quando a economia está no equilíbrio de longo prazo, ela também está em um
equilíbrio de curto prazo.

Vamos continuar com o exemplo de um aumento na demanda agregada induzido por uma expansão da
oferta monetária, como mostra na próxima imagem. Haverá um deslocamento para a direita da curva de
demanda agregada. No curto prazo, os preços são rígidos, de modo que a produção aumenta e a economia
se move do ponto E para o ponto E’.
Figura 11 - Uma expansão da DA e a transição para um novo equilíbrio.

Veja a seguinte situação:

Produção e emprego aumentam e passam a ficar acima de seus níveis naturais, o que
significa que a economia está aquecida.

As empresas passam a vender e a produzir uma quantidade alta de bens e serviços e, para
isso, utilizam mais capital e contratam mais trabalhadores.

A alta da atividade econômica pressiona os preços para cima, deslocando a economia


gradativamente para cima, ao longo da curva de demanda agregada.
4

Com maiores preços, a quantidade demandada por bens e serviços diminui, até o ponto E’’,
que é o novo equilíbrio de longo prazo.

Nesse novo equilíbrio, a produção e o emprego voltam aos seus níveis naturais, mas os preços se
encontram num nível mais elevado do que no antigo equilíbrio de longo prazo, representado pelo ponto E.
Assim, uma oscilação da demanda agregada afeta o nível de produção no curto prazo, mas esse efeito é
mitigado conforme o tempo passa e as empresas ajustam seus preços.

Política de estabilização
Vimos o exemplo de quando oscilações na economia são decorrentes de mudanças na demanda agregada.
Oscilações derivadas de mudanças na oferta agregada também são possíveis. Vamos conhecer esses tipos
de “choques”.

Choques econômicos expand_more

Eventos exógenos que deslocam essas curvas são chamados pelos economistas de choques
econômicos.

Choque de demanda expand_more

Se um evento desloca a curva de demanda agregada, ele recebe o nome de choque de demanda.

Choque de oferta expand_more


Caso desloque a curva de oferta agregada, é chamado de choque de oferta.

Esses choques tiram a economia do equilíbrio, pois afastam o produto e o emprego de seus níveis naturais,
e o modelo de oferta e demanda agregadas busca explicar como esses choques fazem a economia oscilar.

Os choques também podem ser de dois tipos, veja no próximo recurso.

Endógenos

Dizemos que choques são endógenos quando há alterações em uma variável explicada pelo modelo.

close

Exógenos

Quando há alterações em variáveis tidas como fixas ou determinadas fora do modelo, chamamos de
choques exógenos.

O modelo também nos permite avaliar como a política macroeconômica pode reagir a esses choques.
Ações realizadas pelas autoridades voltadas para amenizar os efeitos negativos de oscilações econômicas
de curto prazo recebem o nome de políticas de estabilização. As políticas de estabilização atuam no
sentido de atenuar o ciclo econômico, a fim de manter o produto e o emprego o mais próximo possível de
suas taxas naturais.

Choques na demanda agregada


O que aconteceria se o choque na demanda agregada fosse provocado por uma redução na oferta
monetária? O cenário seria o inverso do que vimos na figura 7. A diminuição na oferta de moeda deslocará a
curva de demanda agregada para a esquerda, como visto anteriormente.

A rigidez dos preços no curto prazo faz com que a economia se mova do equilíbrio de curto prazo no ponto
E para o ponto E’, como mostra na próxima imagem. Nesse ponto, a produção e o emprego estão abaixo de
seus níveis naturais, e a economia se encontra em recessão.
Figura 12 - Uma redução da DA e a transição para um novo equilíbrio

Em resposta à diminuição da demanda, os preços e os salários caem. Essa diminuição dos preços faz com
que a economia se mova para baixo, deslizando ao longo da curva de demanda agregada, até o ponto E’’, o
novo equilíbrio de longo prazo. Neste novo equilíbrio, produção e emprego voltam às suas taxas naturais,
mas os preços se encontram abaixo do nível inicial.

Até aqui, trabalhamos com choques de demanda ocasionados por uma alteração na oferta monetária M.
Lembre-se de que definimos a curva de demanda agregada como uma relação entre o nível de preços P e
produto Y, que mantinha constante o lado esquerdo da equação quantitativa da moeda, MV. Nesse sentido,
choques na demanda agregada também podem ser ocasionados por uma alteração na velocidade da
moeda V.

Considere, então, um novo exemplo de choque na demanda agregada: a introdução de aplicativos de banco
e compras online nos smartphones e sua rápida disseminação, possibilitando a realização de transações
em qualquer momento do tempo de qualquer lugar, sem a necessidade de deslocamento físico.

Dado que constituem um meio mais rápido de realizar compras e transações do que o uso prévio de
dinheiro físico em lojas físicas, as inovações tecnológicas reduzem a quantidade de moeda que as pessoas
escolhem reter em mãos. Com isso, a redução da demanda por moeda equivale a um aumento na
velocidade da moeda.

Resumindo
Se cada pessoa reduz a quantidade de moeda que tem em mãos, isso implica que cada unidade de moeda
passa de mão para mão de forma mais rápida, de modo que a velocidade de moeda V aumenta.
Mantida constante a oferta de moeda, o aumento na velocidade acarreta um deslocamento para fora na
curva de demanda agregada.

No curto prazo, o aumento da demanda faz com que o nível de produto da economia aumente, aquecendo a
economia. Para o nível de preços do equilíbrio inicial E, as empresas vendem uma quantidade maior de bens
e serviços, o que as leva a contratarem mais trabalhadores e utilizarem uma quantidade maior de capital.

Com o passar do tempo, o nível elevado da demanda agregada empurra os preços para cima, de modo a se
ajustarem gradativamente. A quantidade demandada de produto diminui à medida que os preços
aumentam, e, aos poucos, a economia vai retornando ao nível natural de emprego e produção. Durante toda
a transição para o novo equilíbrio E’’, o produto da economia permanece acima de sua taxa natural.

Isso levanta uma questão:

É possível que o Banco Central faça algo para conter esse hiper crescimento da
economia e manter o produto mais próximo de suas taxas naturais, evitando
ocasionar um aumento elevado do nível de preços? Em outras palavras, o Banco
Central pode atuar para reduzir o nível de atividade econômica e impedir inflação
alta?

Resposta
Sim, é possível que o Banco Central possa atuar para reduzir o nível de atividade econômica e impedir
inflação alta.

As autoridades monetárias podem reduzir a oferta monetária compensando o efeito do aumento da


velocidade da moeda na curva de demanda agregada. Desse modo, é possível que o Banco Central mitigue
ou até elimine os impactos de choques na demanda agregada sobre o produto e o emprego. Isso é possível
porque o Banco Central tem controle, ainda que parcial, sobre a oferta monetária - o que é assunto de outros
temas.

Choques na oferta agregada


Analisamos os eventos exógenos que podem causar choques na demanda agregada. A oferta agregada,
contudo, também pode sofrer choques e causar oscilações na economia. Choques de oferta alteram o
custo da produção de bens e serviços e, como consequência, geram alterações nos preços dos bens e
serviços ofertados pelas empresas.
Como afetam diretamente o nível de preços, choques de oferta também são conhecidos como choques de
preços. Veja alguns exemplos:
1.
Eventos climáticos adversos que destroem colheitas, como secas, tempestades etc. A diminuição da
oferta desses alimentos aumenta seu preço;

2.
Alterações nas leis de proteção ambiental: Mudanças nas exigências de emissão de agentes
poluentes, desmatamento permitido, entre outros. Mudanças no sentido do relaxamento dessas leis
diminuem os custos das empresas, enquanto o endurecimento dessas leis representa um aumento dos
custos das empresas, que podem repassá-los ao menos parcialmente para os consumidores por meio
de preços mais altos;

3.
Pressão sindicalista por salários mais altos. Se atendida, haverá um aumento dos salários e também
nos preços dos bens e serviços produzidos por empregados sindicalizados;

4.
Atuação de cartéis internacionais. Por exemplo, o aumento do preço do petróleo na década de 1970
pela OPEP representou um choque de oferta.

Os choques também podem ocorrer de outras maneiras, como:

Choques adversos de oferta expand_more

Eventos que elevam os preços são choques adversos de oferta.

Choques favoráveis de oferta expand_more

Eventos que diminuem os custos e preços, tal qual a dissolução de um cartel internacional de
petróleo, por exemplo, são choques favoráveis de oferta.

Um choque adverso de oferta impulsiona a oferta agregada de curto prazo para cima. Se a demanda
agregada permanece constante, a economia diminui sua produção e aumenta o nível de preços, movendo-
se do ponto A para o ponto B, como mostra a imagem a seguir.
Figura 13 - Choque adverso na oferta.

No ponto B, o nível de preços está alto e a produção e o emprego estão abaixo de seu nível natural:
Fenômeno conhecido como estagflação.

Ao se deparar com um choque adverso de oferta, a autoridade formuladora de política econômica, como o
Banco Central, pode escolher entre duas alternativas:

stagflação
Dado que combina estagnação da produção com inflação (aumento generalizado nos preços).

Primeira opção

Não fazer nada, mantendo constante a demanda agregada, e deixar a economia realizar o processo de
ajuste sozinha. Veja as vantagens e desvantagens:

Vantagem

Como a produção e o emprego estão abaixo de suas taxas naturais, a tendência dos preços é cair,
retornando ao nível de preços anterior naturalmente. Assim, a economia sai do ponto B e volta ao
ponto A.
close

Desvantagem

O problema é que esse processo de ajuste apresenta um custo em forma de recessão, com várias
pessoas enfrentando desemprego e baixa produção.

Segunda opção

Acomodar o choque na oferta. O Banco Central pode fazer isso impulsionando a demanda agregada por
meio do aumento da oferta monetária.

A vantagem é que isso acelera o processo de ajuste e conduz a economia de forma mais rápida em direção
ao nível natural de produto e emprego. O diagrama, a seguir, ilustra esse mecanismo.

Figura 14 - Acomodação de um choque adverso na oferta.

Se um aumento na demanda agregada coincide com o choque na oferta agregada, a economia salta do
ponto A para o ponto C imediatamente.

A desvantagem é que o nível de preços se torna permanentemente mais alto. Não há uma forma de ajustar
a demanda agregada de modo a manter o produto e o emprego em seu nível natural e o nível de preços
estável.

video_library
Transações do curto para o longo prazo
Neste vídeo, o especialista aborda os principais conceitos e aspectos sobre transações do curto para o
longo prazo. Vamos lá!
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre a demanda agregada, assinale a alternativa falsa:

A demanda agregada é a relação entre a quantidade de produto demandada e o nível de


A
preços agregado da economia.

A demanda agregada pode ser entendida como a relação expressa no lado direito da
B
equação quantitativa da moeda, mantendo fixos os termos do lado esquerdo.

C O nível de preços e o nível de produto apresentam uma relação positiva entre si.

D A demanda agregada é negativamente inclinada.

E A demanda agregada é afetada pelas políticas fiscal e monetária.

Parabéns! A alternativa C está correta.

a) Verdadeiro. A demanda agregada é construída a fim de ser uma representação dessa relação.

b) Verdadeiro. A equação quantitativa da moeda MV = PY revela uma relação entre preço e produto do
lado direito da igualdade, se mantido fixo o lado esquerdo.
c) Falso. Como visto na seção de Demanda Agregada, a Teoria Quantitativa da Moeda sustenta que MV
= PY. Considerando fixas a oferta monetária e a velocidade da moeda, os termos M e V do lado
esquerdo da equação são constantes. Assim, para manter a igualdade valendo, uma variação positiva
em P deve implicar uma variação negativa em Y, e vice-versa.

d) Verdadeiro. Para manter a igualdade, o nível de preços P e a quantidade do produto Y devem ter uma
relação negativa entre si, de modo que a curva de demanda agregada também seja negativamente
inclinada. Quando desenhamos demanda agregada como a relação negativa entre nível de preços e
produto, a curva será negativamente inclinada.

e) Verdadeiro. A demanda agregada depende se uma série de fatores, como a confiança dos
consumidores, a percepção dos investidores quanto ao cenário econômicos, da política fiscal e da
política monetária.

Questão 2

Sobre a oferta agregada, assinale a alternativa falsa:

A oferta agregada é a relação entre a quantidade de bens e serviços ofertada e o nível


A
de preços da economia

B A oferta agregada de longo prazo é uma curva com inclinação positiva.

A oferta agregada de longo prazo depende dos montantes fixos de capital e mão de
C
obra e da tecnologia disponível para produção.

D A oferta agregada de longo prazo satisfaz o modelo clássico.

E A oferta agregada de curto prazo é uma curva horizontal.

Parabéns! A alternativa B está correta.


a) Verdadeiro. A oferta agregada é construída para que seja uma representação dessa relação.

b) Falso. Como vimos na parte de oferta agregada de longo prazo, a curva de oferta agregada no longo
prazo é uma linha reta vertical. O motivo para isso é que no longo prazo os preços são flexíveis, e a
economia fica em torno do produto de pleno emprego.

c) Verdadeiro. No longo prazo, o nível de produto é determinado pela capacidade de oferta de bens e
serviços da economia, que depende dos insumos disponíveis para a produção nessa economia.

d) Verdadeiro. O modelo clássico assume que o produto não depende do nível de preços, e a oferta
agregada de longo prazo, vertical, exibe exatamente essa relação. Uma alteração no nível de preços via
demanda agregada no longo prazo não afeta o nível de produto.

e) Verdadeiro. Como vimos na parte de oferta agregada de curto prazo, a curva de oferta agregada no
curto prazo é uma linha reta horizontal.

2 - Os diferentes equilíbrios na economia


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os diferentes equilíbrios na economia e
entender o impacto de alterações nas políticas fiscal e monetária.
Introdução
Até aqui, estudamos a curva de demanda agregada como a relação entre o nível de preços e o produto,
mantido constante do lado esquerdo da equação quantitativa da moeda. Vimos também que variações na
velocidade da moeda e na oferta monetária deslocam a curva de demanda agregada. Neste módulo, vamos
aprofundar o aprendizado sobre a curva de demanda agregada. O modelo que vai servir de alicerce para a
curva de demanda agregada é conhecido como IS-LM.

No modelo de demanda agregada desenvolvido anteriormente, não demos atenção para uma variável
importante da economia: a taxa de juros. Conheça agora sobre as curvas IS e LM:

Curva IS

A taxa de juros afeta o mercado de bens e serviços, por meio do investimento e da poupança. Este mercado
é representado pela curva IS.

Curva LM

A taxa de juros afeta o mercado de moeda, influenciando a oferta e demanda por moeda. Este mercado é
representado pela curva LM.

Dado que ela afeta tanto o investimento quanto a demanda por moeda, a taxa de juros é a variável que
conecta as duas partes do modelo IS-LM. Neste módulo, vamos examinar com mais atenção esses dois
mercados.

A cruz keynesiana
Antes de entrar no modelo IS-LM, contudo, vamos começar com um modelo básico, chamado de a cruz
keynesiana. Em sua obra intitulada A Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, John Maynard Keynes
propôs que, no curto prazo, a economia era determinada pelo planejamento dos gastos, por parte dos
domicílios, empresas e governo.

A intuição por trás dessa teoria é que, se as pessoas desejassem gastar mais, maior seria a quantidade de
bens e serviços que as empresas conseguiriam vender e, assim, optariam por produzir mais bens e serviços
e contratariam mais trabalhadores. Nesse sentido, Keynes acreditava que o problema durante as recessões
era o gasto insuficiente.

Para compreender essa teoria, façamos uma distinção conceitual. Há dois tipos de gastos na economia:

Gasto planejado

Correspondente ao montante que os domicílios, empresas e governo gostariam de gastar com bens e
serviços.
close

Gasto efetivo

Correspondente ao montante que os domicílios, empresas e governo efetivamente gastam com bens e
serviços.

Essa distinção sugere que nem sempre o gasto planejado e o gasto efetivo serão iguais. A razão para isso é
que, no caso de as vendas não corresponderem às expectativas das empresas, as firmas poderiam ter um
investimento não planejado em estoques. Se as vendas superam o montante planejado, os estoques
diminuem, caso contrário, os estoques se acumulam.

O que determina o gasto planejado?

Supondo uma economia fechada, isto é, uma economia que não realiza exportações nem importações, o
gasto planejado, YP , será determinado assim:

YP = C + I + G

C - Consumo
I - Investimento planejado
G - Compras do governo

Rotacione a tela screen_rotation


Rotacione a tela. screen_rotation
O consumo C, por sua vez, será uma função da renda disponível, que é simplesmente a diferença entre a
renda total (Y) e os tributos pagos ao governo (T). Então, escrevemos:

C = c(Y − T)

Rotacione a tela. screen_rotation


Para simplificar, consideraremos que o investimento I, os dispêndios do governo G e os impostos T são
exógenos. Isso significa que a política fiscal (dada pelos gastos do governo e pelos tributos) é fixa.

Logo:

I = I¯

Rotacione a tela. screen_rotation

G = Ḡ

Rotacione a tela. screen_rotation

T = T̄

Rotacione a tela. screen_rotation


Juntando as equações acima, temos que:

YP = c(Y − T̄) + I¯ + Ḡ

Rotacione a tela. screen_rotation


Essa equação revela que o gasto planejado Yp é uma função da renda, Y, do investimento, I¯, e da política
fiscal, representada por Ḡ e T̄ . Dado que as demais variáveis estão fixas, temos uma relação entre o gasto
planejado e a renda. Essa relação é positiva, uma vez que uma renda mais alta provoca um maior consumo
e, por consequência, um maior gasto planejado.

A próxima imagem mostra a curva de gasto planejado. A inclinação da curva é chamada de propensão
marginal a consumir (PMgC). Isso significa pensar: quanto você consumiria a mais se ganhasse um real
adicional? Ou, o quanto o gasto planejado aumenta com uma unidade a mais de renda?

Como visto, nem sempre o gasto efetivo e o gasto planejado são iguais. Quando isso ocorre, no entanto,
dizemos que a economia se encontra em equilíbrio.
Figura 15 - O gasto planejado YP.

Lembre-se que o produto, ou PIB, é igual ao total da renda, mas também pode ser interpretado como o gasto
total com bens e serviços. A condição de equilíbrio pode ser expressa então da seguinte maneira:

Gasto Efetivo = Gasto Planejado

Ou seja:

Y = YP

Rotacione a tela. screen_rotation

Representamos essa igualdade por uma reta de 45o no painel (b) da imagem a seguir. Essa reta passa por
todos os pontos no qual a igualdade é válida e os eixos do gráfico são iguais. O equilíbrio dessa economia
está no ponto em que as duas retas se cruzam, representado pelo ponto A no gráfico. O produto de
equilíbrio está sinalizado por Y*.

Figura 16 - A cruz keynesiana.

Entretanto, quando o gasto efetivo e o planejado não são iguais, como se alcança o equilíbrio?

Vamos analisar primeiro o caso, em que o gasto efetivo Y supera o gasto planejado YP (ou seja, Y > YP), e,

portanto, estamos à direita do produto de equilíbrio Y*. Nessa situação, os produtores produziram (Y)
efetivamente mais do que os gastos planejados (YP). Então, a produção que não foi vendida gera um
aumento não planejado de estoques. Devido a isso, as empresas decidem cortar a produção e diminuir o
número de trabalhadores, o que acarreta a diminuição do PIB, deslocando o produto pouco a pouco para a
esquerda.

Esse processo de redução da renda continua até que a renda se iguale ao nível de equilíbrio. Analogamente,
se Y < YP, estamos à esquerda do produto de equilíbrio Y*: As vendas são maiores do que o esperado, os

estoques ficam abaixo do desejado, e as firmas aumentam a produção até alcançar Y*. A próxima imagem
mostra esses dois casos, indicados por um box cinza.

Figura 17 - O ajuste na cruz keynesiana.

O multiplicador de gastos
O que ocorre se uma das variáveis exógenas muda? Vamos supor que o governo deseje aumentar seus
gastos G. Como isso afeta a economia?

Como os dispêndios do governo são um dos componentes do gasto planejado, um aumento nos gastos do
governo leva a um maior gasto planejado para qualquer nível de renda. Vamos denotar a variação nos
gastos do governo por ΔG (a letra grega Δ (delta) é frequentemente usada para denotar variação).

A curva de gasto planejado se desloca então para cima em ΔG. O diagrama da próxima imagem mostra
esse movimento. O equilíbrio da economia salta do ponto A para o ponto B.
Figura 18 - Um aumento nos gastos do governo.

O gráfico mostra que um aumento nos gastos do governo resulta num aumento de ainda maior magnitude
da renda. Isso significa que ΔY>ΔG, e, portanto, ΔY/ΔG>1. A razão ΔY/ΔG é chamada de multiplicador dos
gastos do governo. Esse multiplicador informa o quanto o produto ou a renda aumentam em virtude de um
aumento de uma unidade monetária nos gastos do governo.

Atenção!
O fato de ΔY ser maior que ΔG implica que o multiplicador dos gastos do governo é maior do que 1: um real
a mais gasto pelo governo gera um aumento de renda superior a um real.

A razão para esse efeito multiplicador está no componente do consumo, que depende positivamente da
renda: C=c(Y-T). Assim, uma renda maior provoca um consumo mais elevado. Isso gera um efeito espiral na
renda: O aumento nos gastos do governo faz a renda crescer, o que, por sua vez, causa um aumento do
consumo, que gera um aumento ainda maior da renda, que faz crescer novamente o consumo, e assim por
diante.

Qual a magnitude do multiplicador? Podemos responder a essa pergunta algebricamente, indicando por t1,

t2, t3 etc. os diferentes momentos no aumento do consumo:

Uma mudança inicial nos gastos do governo =

ΔG

Rotacione a tela. screen_rotation


Aumento do consumo em t1 =

P M gC × Δ G

Rotacione a tela. screen_rotation


Aumento do consumo em t2 =

P M gC 2 × Δ G

Rotacione a tela. screen_rotation


Aumento do consumo em t3 =

P M gC 3 × Δ G

Rotacione a tela screen_rotation


Rotacione a tela. screen_rotation
Logo:

Δ Y = ( 1 + P M gC + P M gC 2 + P M gC 3 + … ) × Δ G

Rotacione a tela. screen_rotation


No primeiro momento, o consumo aumenta ΔG multiplicado pela PMgC. No segundo momento, o consumo
aumenta a renda que foi aumentada no primeiro momento, ou seja, PMgC x (PMgC x ΔG), e assim
sucessivamente.

Dica
Para calcular o multiplicador dos gastos do governo, basta dividir os dois lados da equação por ΔG.

O primeiro termo do lado esquerdo é uma série geométrica infinita e pode ser substituído por 1/(1-PMgC).
Assim:

ΔY 1
ΔG = (1− P M gC)

Rotacione a tela. screen_rotation


Essa é a equação do multiplicador dos gastos do governo.

O multiplicador de impostos
Um processo similar ocorre quando há uma alteração nos impostos cobrados pelo governo. Quando o
governo decide reduzir os impostos em ΔT, a renda disponível Y - T aumenta imediatamente em ΔT, o que
gera, portanto, um aumento do consumo em PMgC×ΔT.

O gasto planejado se torna maior para qualquer nível de renda Y. O painel (b) da figura 19 mostra o
deslocamento para cima do gasto planejado, causado por um aumento no consumo da magnitude de
PMgC×ΔT. Novamente, o equilíbrio salta do ponto A para o ponto B. Assim como o aumento nos gastos do
governo gera um efeito multiplicador sobre a renda, o mesmo ocorre com a diminuição dos impostos.
Figura 19 - Uma redução nos impostos.

Novamente, o aumento na renda gerado por um aumento no consumo vai resultar em um aumento ainda
maior do consumo, que aumentará a renda ainda mais, e assim sucessivamente. A diferença é que agora a
variação inicial não é mais da ordem de ΔG, e sim de PMgC×ΔT.

Observe a diferença:
Um aumento no gasto público tem impacto imediato sobre o gasto total.

Uma diminuição dos impostos se transforma em renda dos consumidores, que transformam apenas
uma parte dessa renda em consumo.

Ou seja, apenas PMgC×ΔT se transformam em consumo no primeiro instante. Assim como antes, a
mudança inicial nos gastos é multiplicada por 1/(1-PMgC). O efeito na renda pode ser expresso por:

Δ Y/ Δ T = − P M gC/ (1 − P M gC)

Rotacione a tela. screen_rotation


A diferença é que, para a conta anterior, está no denominador do lado esquerdo da igualdade. Em vez de 1,
temos o PMgC, pois o termo de impostos T na equação do gasto planejado aparece multiplicado por c, que
é a propensão marginal a consumir. O sinal negativo do lado esquerdo da equação indica que o consumo se
movimenta na direção contrária aos impostos (maiores impostos, menos consumo, e vice-versa).

Resumindo

Essa expressão recebe o nome de multiplicador gerado por impostos e indica o montante em que a renda
varia em resposta a uma variação de uma unidade monetária nos impostos.

A curva IS
Usamos a cruz keynesiana para mostrar como a economia se comporta quando o governo decide alterar a
política fiscal, isto é, modificar seu nível de gastos ou impostos cobrados. Além disso, vimos que o fato de o
consumo ser positivamente relacionado com a renda gera um efeito multiplicador quando esta aumenta.
Todavia, o modelo da cruz keynesiana supõe que o nível de investimento planejado, I, é fixo. O componente
do investimento, no entanto, depende da taxa de juros, r. Escrevemos:

I = I (r )

Rotacione a tela. screen_rotation


A taxa de juros r mede o custo dos recursos para financiar o investimento. Para que um investimento seja
lucrativo, o seu retorno deve superar seu custo, ou seja, os pagamentos pelos empréstimos realizados para
financiar projetos de investimento, que são determinados pela taxa de juros. Se a taxa de juros aumenta, a
quantidade de projetos de investimentos que é lucrativa diminui, assim como o investimento.

Dessa forma, o investimento é negativamente relacionado com a taxa de juros. A imagem a seguir mostra
essa relação, ilustrando a curva da função investimento.

Figura 20 - A função investimento.

E o que acontece com o produto se a taxa de juros se altera? Vamos supor um aumento na taxa de juros, de
r1 para r2. Dado que o investimento é negativamente relacionado com a taxa de juros, uma taxa de juros
maior implica uma redução no nível de investimento, de I(r1) para I(r2), como mostra a próxima imagem.

Figura 21 - A cruz keynesiana.


A função do gasto planejado é uma soma do investimento com os componentes de consumo e gastos do
governo. Essa diminuição do gasto planejado, por sua vez, diminui o produto de Y1 para Y2.
Consequentemente, uma elevação na taxa de juros resulta numa redução da renda, tudo mais constante.

A curva IS sintetiza a interação entre a taxa de juros e o nível de renda do mercado de bens e serviços. Ela
está representada no diagrama da imagem a seguir. A curva IS combina a relação entre r e I, expressa pela
função investimento, e a relação entre I e Y, implícita na cruz keynesiana.

Figura 22 - A curva IS.

Cada ponto na curva IS representa um equilíbrio no mercado de bens, e a curva explicita a relação entre a
taxa de juros e o nível de renda de equilíbrio. Visto que um aumento na taxa de juros provoca uma queda no
investimento planejado, que, por sua vez, gera uma diminuição da renda, a curva IS tem inclinação negativa.

Política fiscal na curva IS


Aprendemos com a cruz keynesiana que, além do investimento, o nível de equilíbrio da renda depende
também da política fiscal, isto é, dos gastos do governo G e dos impostos T. A curva IS mostra o nível de
renda para qualquer taxa de juros determinada, variando o nível de investimento, que traz o equilíbrio no
mercado de bens. No entanto, ela é construída para uma determinada política fiscal.

Quando há variações na política fiscal, a curva IS se desloca.

Vimos que um aumento dos gastos do governo desloca a curva de gasto planejado na cruz keynesiana.
Esse aumento no nível de dispêndios também deslocará a curva IS. A próxima imagem utiliza a cruz
keynesiana para mostrar como um aumento da ordem de ΔG nas compras do governo desloca a curva IS.

Contudo, essa figura é referente ao equilíbrio de uma determinada taxa de juros r¯ , e, portanto, para um
determinado nível de investimento. Assim, um aumento nos gastos do governo desloca a curva IS para fora.
Figura 23 - A cruz keynesiana | A curva IS.

É possível replicar o mecanismo para outras mudanças na política fiscal do governo. Fizemos anteriormente
a análise, via cruz keynesiana, do que ocorre com a renda no caso de uma diminuição nos impostos.
Novamente, a curva de gasto planejado se desloca para cima e aumenta a renda. Do mesmo modo, uma
diminuição nos impostos resultará no deslocamento para fora da curva IS.

Por outro lado, uma redução nos dispêndios do governo ou um aumento nos impostos reduz a renda,
deslocando a curva IS para dentro.

O mercado monetário e a preferência pela liquidez


Mostramos o que acontece com a renda no mercado de bens e serviços quando há alterações no nível de
investimento e na política fiscal, ilustrado pela curva IS. O próximo passo é mostrar o que acontece no
mercado de encaixes monetários. A curva LM representa graficamente a relação entre a taxa de juros e o
nível de renda nesse mercado. Para entender essa relação, vamos retomar a teoria de Keynes.

Ainda em sua obra A Teoria Geral, Keynes desenvolveu uma teoria para explicar como a taxa de juros se
comporta no curto prazo, à qual deu o nome de teoria da preferência pela liquidez. Esse nome vem da
hipótese de que a taxa de juros se ajusta para equilibrar a oferta e a demanda por moeda corrente, o ativo
mais líquido da economia.

A liquidez de um ativo considera a facilidade com a qual ele pode ser convertido em dinheiro. Por exemplo:
Poupança

A poupança tem alta liquidez, pois é fácil resgatar o dinheiro da conta.

close

Imóvel

Um imóvel tem baixa liquidez, pois não se converte em dinheiro facilmente.

Retomando o exemplo de uma economia fechada, denotamos por M a oferta monetária e P o nível de
preços dessa economia. Logo, M/P é a oferta de encaixes monetários reais. A teoria da preferência pela
liquidez começa supondo que a oferta por encaixes monetários reais é fixa:

(M / P ) s = M̄ / P¯

Rotacione a tela. screen_rotation


O Banco Central ou alguma autoridade monetária determina de maneira exógena a oferta monetária.
Tomaremos o nível de preços P também como variável exógena, utilizando o modelo IS-LM para explicar o
comportamento da economia no curto prazo, em que o nível de preços é fixo. A combinação de ambos
esses pressupostos implica que a oferta de encaixes monetários reais é fixa e, portanto, independe da taxa
de juros.

Graficamente, se representarmos esse mercado como função da taxa de juros e dos encaixes monetários
reais, a curva de oferta de encaixes monetários reais será uma reta vertical, como mostra o diagrama na
imagem a seguir.

Figura 24 - A teoria da preferência pela liquidez. A cruz keynesiana | A curva IS.

A demanda por encaixes reais, por sua vez, não é fixa. A teoria de Keynes presume que o montante de
moeda corrente que as pessoas optam por ter disponível é determinado pela taxa de juros. O motivo por
trás dessa hipótese é que a taxa de juros seria o custo de oportunidade de reter moeda.

Em outras palavras, quando se opta por ter moeda em mãos, o indivíduo está
deixando de manter o dinheiro sob outras formas que rendem juros, como títulos
ou depósitos bancários.

Nesse sentido, quando a taxa de juros sobe, aumenta o custo de oportunidade de se manter moeda
corrente, e, portanto, as pessoas diminuem a parcela da renda que mantêm sob a forma de moeda corrente.
Formalmente, podemos definir a demanda por encaixes monetários reais como:

(M / P ) d = L(r )

Rotacione a tela. screen_rotation


A função L(r) mostra que a quantidade de encaixes monetários reais demandada depende da taxa de juros r.
Como explicamos, dado que a quantidade demandada de moeda corrente é menor a taxas de juros mais
altas, a curva de demanda possui inclinação negativa, também presente na próxima imagem.
Figura 25 - A teoria da preferência pela liquidez | Um aumento na oferta monetária.

Segundo a teoria da preferência pela liquidez, oferta e demanda por encaixes monetários reais determinam
conjuntamente a taxa de juros no mercado de moeda. No equilíbrio, oferta e demanda por encaixes
monetários reais são iguais. Assim, a taxa de juros se ajusta a fim de equilibrar o mercado monetário.

Esse ajuste ocorre, porque, caso o mercado monetário esteja fora do equilíbrio, os indivíduos ajustam suas
carteiras de ativos e acabam por alterar a taxa de juros no processo.

Se a taxa de juros está abaixo do nível de equilíbrio, a demanda por encaixes monetários
reais excede a oferta.

Nesse cenário, seu João da padaria prefere manter mais dinheiro no caixa do que no banco, as pessoas
tentam vender títulos e retirar dinheiro de suas contas bancárias, e os bancos reagem aumentando as taxas
de juros que oferecem para tentar atrair recursos que agora estão mais escassos.

A taxa de juros alcança então um nível de equilíbrio no qual os indivíduos estão satisfeitos com as carteiras
de ativos não monetários e monetários.

De maneira similar, se a taxa de juros está acima do nível de equilíbrio, a oferta por encaixes monetários
reais excede a demanda, e os indivíduos que detêm o excedente da oferta monetária buscam trocar uma
parte da moeda corrente, que não rende juros, por títulos ou depósitos bancários que rendam juros.

Nesse caso, seu João da padaria preferirá deixar o dinheiro rendendo no banco do que no caixa de seu
estabelecimento.
As entidades emissoras de títulos, como os bancos, respondem ao excesso de oferta monetária reduzindo
suas taxas de juros.

Uma vez que a taxa de juros se ajusta para responder a desequilíbrios no mercado monetário, é apenas
lógico assumir que ela reage a mudanças na oferta de moeda.

Caso o Banco Central decida, por exemplo, aumentar a oferta monetária M


repentinamente, o que ocorreria com a taxa de juros?

Resposta
Um aumento em M faz subir, por sua vez, a razão de encaixes monetários reais M/P, dado que P é fixo. A
oferta de encaixes monetários se desloca para a direita, e a taxa de juros de equilíbrio cai de r1 para r2.

Um nível mais baixo da taxa de juros faz com que os indivíduos dessa economia fiquem satisfeitos em reter
uma parcela maior de encaixes monetários reais. Com mais moeda em circulação, seu João não se importa
em deixar mais dinheiro no caixa da padaria. A imagem a seguir mostra esse movimento.

Figura 26 - Um aumento na oferta monetária.

Caso o Banco Central tivesse repentinamente reduzido a oferta monetária, o movimento seria contrário. A
oferta de encaixes monetários reais se deslocaria para a esquerda e a taxa de juros subiria.
A curva LM
Agora que vimos como a teoria da preferência pela liquidez explica os determinantes da taxa de juros,
podemos construir a curva LM. Precisamos traçar a relação entre a taxa de juros r e o nível de renda Y.
Como uma mudança no nível de renda afeta o mercado de encaixes monetários reais? Quando a renda é
elevada, gasta-se mais, e os indivíduos realizam um número maior de transações que demandam moeda.
Assim, uma maior renda implica mais demanda por moeda.

Nesse sentido, pode-se dizer que o nível de renda afeta positivamente a demanda por encaixes monetários
reais. Como a demanda por moeda é negativamente relacionada com a taxa de juros, podemos sintetizar
essa relação pela expressão:

(M / P ) d = L(r , Y)

Rotacione a tela. screen_rotation


Mas, o que acontece com a taxa de juros quando o nível de renda se altera? Quando a renda aumenta, por
exemplo, a curva de demanda por moeda se desloca para a direita. Esse deslocamento acarreta um
aumento da taxa de juros para equilibrar o mercado monetário, de r1 para r2, mantida fixa a oferta de
encaixes monetários reais.

Assim, de acordo com a teoria da preferência pela liquidez, uma renda mais alta resulta numa taxa de juros
mais alta. A próxima imagem mostra essa relação, com o ajuste no mercado de encaixes monetários reais
ilustrado no painel (a) e a curva LM no painel (b).

Figura 27 - Mercado de encaixes monetários reais | A curva LM.

Política monetária e a curva LM


Como vimos, a curva LM mostra a taxa de juros que equilibra o mercado de encaixes monetários reais para
qualquer nível de renda. No entanto, a taxa de juros de equilíbrio depende também do nível da oferta de
encaixes monetários reais, M/P, que consideramos como fixa. Assim, curva LM é desenhada para uma
determinada oferta de encaixes monetários reais. Se o Banco Central decide alterar a oferta monetária, a
curva LM se desloca.

Exemplo

Se a autoridade monetária aumenta subitamente a oferta monetária, de M' para M'', a oferta de encaixes
monetários reais também aumenta na mesma proporção, dado que P é fixo. Mantendo a renda constante e,
consequentemente, a curva de demanda por moeda também constante, um aumento na oferta monetária
faz com que a taxa de juros de equilíbrio do mercado monetário diminua.

Desse modo, um aumento na oferta monetária desloca para baixo (ou para a direita) a curva LM. A imagem
a seguir mostra esse deslocamento. O gráfico (a) mostra o que ocorre no mercado monetário quando o
Banco Central aumenta a oferta monetária.

(a) Um aumento na oferta monetária | (b) A curva LM.

O modelo IS-LM
Examinamos como cada curva se comporta separadamente e como respondem a alterações nas políticas
fiscal e monetária. A combinação das duas curvas determina o nível da renda e taxa de juros na economia.
Se há um deslocamento em uma das duas curvas, há uma oscilação na renda nacional e o equilíbrio de
curto prazo se modifica.

A da próxima imagem mostra um possível equilíbrio de curto prazo da economia. O ponto no qual as duas
curvas se interceptam indicado pela letra E é o equilíbrio inicial, correspondente à renda nacional Y1 e à taxa
de juros r1.
Figura 28 - O modelo IS-LM.

Exemplo
Suponha que o governo decida realizar uma política fiscal contracionista, isto é, visa a melhorar o resultado
das contas públicas ao diminuir seus gastos ou aumentar os impostos. Por ora, vamos considerar uma
redução nos dispêndios (G). Como vimos acima, esse tipo de política desloca a curva IS para dentro, sem
alterar a curva LM.

Uma vez que a renda diminui, pela teoria da preferência da liquidez, sabemos que a quantidade de moeda
demandada também diminui, pois o número de transações diminui. Como a oferta monetária não se
modificou, a menor demanda por moeda faz cair a taxa de juros de equilíbrio para r2.

A diminuição da taxa de juros, no entanto, afeta o mercado de bens por meio do investimento. Como o nível
de investimento é sensível à taxa de juros, a queda na taxa de juros aumenta os planos de investimento das
empresas. Por conseguinte, a redução da renda, em resposta a uma contração fiscal, é menor no modelo IS-
LM do que na cruz keynesiana, em que supomos que o nível de investimento é fixo. Podemos ver esse
deslocamento no diagrama da imagem a seguir.

Figura 29 - Uma política fiscal contracionista.

Vamos examinar agora os efeitos de uma política monetária. Considere que o Banco Central decida reduzir
a oferta monetária repentinamente. Relembrando o que estudamos aqui, uma diminuição em M resulta
numa queda nos encaixes monetários reais M/P, dado que os preços são rígidos no curto prazo.

A diminuição na oferta de encaixes monetários reais acarreta uma taxa de juros mais alta, segundo a teoria
da preferência pela liquidez. Com isso, a curva LM se desloca para cima, como mostra a próxima imagem.
No novo equilíbrio, a taxa de juros é maior e o nível de renda diminui.
Figura 30 - Uma diminuição da oferta monetária.

Mas, o que aconteceria se o governo mudasse a política fiscal e a política monetária simultaneamente, ou
em um curto intervalo de tempo? Vamos retomar o exemplo de uma política fiscal contracionista.

Sabemos que, no novo equilíbrio, o produto diminui e a taxa de juros também. Mas esse é o resultado
apenas se o Banco Central não fizer nada. É possível que o Banco Central decida reagir a esse aumento para
atingir algum objetivo específico na economia.

Comentário
Se o Banco Central deseja manter constante a taxa de juros, ele precisa responder com uma política que
aumente a taxa de juros. Como vimos, esse é o caso de uma política de redução da oferta monetária. A
figura 20 mostra uma possibilidade de resposta do Banco Central à contração fiscal.

Num primeiro momento, a curva passa do ponto A para o ponto B na próxima imagem, reduzindo a renda e a
taxa de juros. Com a reação do Banco Central, a taxa de juros sobe, mas o produto cai ainda mais, e o novo
equilíbrio passa a ser o ponto C.

É possível ainda que o Banco Central saiba antecipadamente da decisão do governo de aumentar os gastos
e realize a redução da oferta monetária simultaneamente. Nesse caso, o equilíbrio salta do ponto A para o
ponto C, sem alterar a taxa de juros. Contudo, este é apenas um dos resultados possíveis.

Figura 31 - Política monetária como resposta à política fiscal: Banco Central mantém a taxa de juros.

Outra possibilidade é o Banco Central manter constante o produto. Nesse caso, ele precisaria realizar uma
política fiscal no sentido contrário: para responder a uma diminuição no nível do produto, ele deve realizar
uma política que desloque a LM para a direita (para baixo), a fim de empurrar o nível de renda para cima.
Assim, a resposta do Banco Central deve ser no sentido de um aumento na oferta monetária.

A imagem, a seguir, mostra como seria essa resposta. O nível de renda de equilíbrio se manteria, mas a taxa
de juros cairia tanto em resposta à política fiscal quanto à política monetária.

Figura 32 - Política monetária como resposta à política fiscal: Banco Central mantém o nível de renda.

Em ambos os casos, o ajuste na oferta monetária que o Banco Central fez foi exatamente o suficiente para
manter ou a taxa de juros constante, ou o nível de renda constante.

Muitas vezes, na realidade, o Banco Central não saberá a magnitude exata do deslocamento da IS e,
consequentemente, não saberá o tamanho preciso do ajuste que deve realizar, apenas o seu sentido.
Nessas situações, podemos afirmar com certeza o que ocorre com a variável que o Banco Central ignora,
isto é, a que ele não quer manter constante, mas o resultado sobre a variável que ele pretende manter pode
ser ambíguo.

No primeiro caso, sabemos que o produto cai com certeza em consequência de uma contração fiscal e uma
diminuição na oferta monetária. No entanto, se o Banco Central errar a mão na política monetária, o
resultado sobre a taxa de juros será ambíguo. É possível que a taxa de juros do novo equilíbrio seja um
pouco mais alta do que a inicial, caso o Banco Central diminua demais a oferta monetária, ou que a taxa de
juros seja um pouco mais baixa, caso ele não diminua o suficiente a oferta monetária. No segundo caso,
sabemos que a taxa de juros com certeza cai em virtude de uma contração fiscal acompanhada de uma
expansão monetária, mas o efeito sobre o produto pode ser ambíguo se o Banco Central não for preciso.

É possível que a taxa de juros do novo equilíbrio seja um pouco mais alta do que a inicial, caso o Banco
Central diminua demais a oferta monetária, ou que a taxa de juros seja um pouco mais baixa, caso ele não
diminua o suficiente a oferta monetária. No segundo caso, sabemos que a taxa de juros com certeza cai em
virtude de uma contração fiscal acompanhada de uma expansão monetária, mas o efeito sobre o produto
pode ser ambíguo se o Banco Central não for preciso.
IS-LM como uma teoria para a demanda agregada
O modelo IS-LM serviu para explicar o equilíbrio no curto prazo quando o nível de preços é fixo. Para
compreender como o modelo IS-LM se encaixa no modelo de oferta e demanda agregada visto no início da
aula, permitiremos que o nível de preços se modifique.

Como visto anteriormente, a demanda agregada expressa uma relação entre o nível de preços e o nível da
renda nacional. Utilizamos a teoria quantitativa da moeda para derivar essa relação. Agora, utilizaremos o
modelo IS-LM.

Sabemos que a relação entre renda e nível de preços ilustrada pela curva de demanda agregada é uma
relação negativa. Para entender por que o produto aumenta à medida que o nível de preços diminui, vamos
examinar o que acontece no modelo IS-LM quando o nível de preços se altera.

Relembrando

Recorde que no modelo IS-LM, a variável de nível de preços estava presente, de maneira implícita, na curva
de oferta de encaixes monetários reais M/P. Naquele momento, consideramos o nível de preços P fixo. Se o
nível de preços aumenta, todavia, a oferta de encaixes monetários diminui.

Essa redução na oferta de encaixes monetários reais desloca a curva LM para cima, o que acarreta um
aumento da taxa de juros de equilíbrio e a redução do nível de renda, como mostra o painel (a) da próxima
imagem.

O nível de preços sobe de P1 para P2 e a renda cai de Y1 para Y2. O painel (b) mostra a curva de demanda
agregada, que ilustra graficamente a relação negativa entre renda nacional e nível de preços.

Figura 33 - Uma diminuição da oferta monetária | A curva de demanda agregada.

Assim, a curva de demanda agregada mostra o conjunto de pontos de equilíbrio no modelo IS-LM ao passo
que se altera o nível de preços e, consequentemente, a renda. Agora, veja o vídeo para fixar os pontos
importantes que vimos nesse módulo.
video_library
Juros, investimento, curva IS e a cruz keynesiana
O vídeo, a seguir, faz um resumo sobre a curva IS e o mercado monetário e a preferência pela liquidez.
Vamos lá!
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Sobre a cruz keynesiana, assinale a alternativa incorreta:

O gasto planejado corresponde ao montante que domicílios, empresas e governo


A
gostariam de gastar com bens e serviços.

Quando gasto planejado e gasto efetivo se igualam, diz-se que a economia está em
B
equilíbrio.

C O gasto planejado é uma função da renda, do investimento e da política monetária.

A relação entre gasto planejado e renda é positiva devido ao componente de consumo


D
que varia positivamente com a renda.
Quando gasto planejado é maior que gasto efetivo, há acumulação não planejada de
E
estoques.

Parabéns! A alternativa C está correta.

a) Verdadeiro. Aquela é a definição de gasto planejado.

b) Verdadeiro. Aquela é a definição de equilíbrio na cruz keynesiana.

c) Falso. O gasto planejado é uma função da renda, do investimento e da política fiscal, ou seja, dos
gastos do governo e impostos, como se explica na parte de cruz keynesiana. A política monetária não é
analisada na cruz keynesiana.

d) Verdadeiro. Um aumento na renda provoca um maior consumo, o qual provoca, por sua vez, um
maior gasto planejado. Assim, a relação entre gasto planejado e renda é positiva devido ao consumo. A
inclinação da curva de gasto planejado é dada de acordo com a propensão marginal a consumir.

e) Verdadeiro. Quando o gasto efetivo é inferior ao gasto planejado, ocorrerá um aumento não
planejado nos estoques. Estaremos à direita do produto de equilíbrio.

Questão 2

Sobre as curvas IS-LM, é falso afirmar que:

A A curva IS mostra os diferentes pontos de equilíbrio no mercado de bens e serviços.

A curva LM mostra os diferentes pontos de equilíbrio no mercado de encaixes


B
monetários reais.

C A cruz keynesiana serve como alicerce para construir a curva IS.

D
A curva LM é desenhada para uma determinada demanda por encaixes monetários
reais.

A curva LM mostra a relação entre o nível de renda e a taxa de juros para uma
E
determinada oferta de encaixes monetários reais.

Parabéns! A alternativa D está correta.

a) Verdadeiro. A curva IS é construída de modo que cada ponto na curva IS representa um equilíbrio no
mercado de bens, para um dado nível de gastos do governo e a curva explicita a relação entre a taxa de
juros e o nível de renda de equilíbrio.

b) Verdadeiro. A curva LM é construída de modo que cada ponto na curva LM representa um equilíbrio
no mercado monetário, para um dado nível de encaixes monetários reais e a curva explicita a relação
entre a taxa de juros e o nível de renda de equilíbrio.

c) Verdadeiro. A curva IS mostra os diferentes pontos de equilíbrio da cruz keynesiana quando se muda
o nível de investimento e se desloca a curva de gasto planejado, sintetizando a relação entre nível de
renda e taxa de juros.

d) Falso. Como vimos na parte de política monetária e a curva LM, a curva LM é desenhada para uma
determinada oferta de encaixes monetários reais. Assim, se há uma alteração na oferta monetária, a
curva LM se desloca, isto é, há um novo desenho de uma outra curva LM para aquele nível de oferta
monetária. Por outro lado, para um determinado nível fixo de oferta monetária, há uma determinada
curva LM que sintetiza a relação entre os níveis de renda e taxa de juros que equilibram aquele
mercado. Assim, se há uma alteração na demanda por encaixes monetários reais no mercado
monetário, e essa alteração na demanda afeta a taxa de juros, isso não desloca a oferta, apenas fará
com que deslizemos ao longo da curva LM para um outro ponto que represente este novo equilíbrio
correspondente a essa nova taxa de juros.

e) Verdadeiro. A curva LM é construída de modo que cada ponto na curva LM representa um equilíbrio
no mercado monetário, para um dado nível de encaixes monetários reais e a curva explicita a relação
entre a taxa de juros e o nível de renda de equilíbrio.
Considerações finais
Construímos neste conteúdo o modelo de oferta e demanda agregada, uma das ferramentas mais
importantes para a análise do comportamento da economia. Com esse instrumento, podemos avaliar o
impacto de diversas políticas econômicas - em particular, a política monetária e a política fiscal - para lidar
com os choques que atingem a economia.

Leia agora as manchetes de Economia dos jornais: Você encontrará chamadas como “Banco Central diminui
a taxa de juros para enfrentar recessão”, ou “Economistas debatem o efeito de um aumento de gastos
públicos”. Tente entender essas manchetes a partir do instrumental desenvolvido aqui!

headset
Podcast
Agora, a(o) especialista encerra o tema, fazendo um breve resumo dos principais tópicos que foram
abordados ao longo dos módulos.

Explore +
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste conteúdo, sugerimos que leia:

BACHA, E. A crise fiscal e monetária brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
BOLLE, M. B. de. Como matar a borboleta azul ‒ Uma crônica da era Dilma. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016.

Referências
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Nacional por Amostra de Domicílios Contínua ‒
PNAD Contínua. Consultado na Internet em: 14 jul. 2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Produto interno bruto (PIB) real. Frequência:
Trimestral. Consultado na Internet em: 14 jul. 2020.

KEYNES, J. M. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. In: Os Economistas. São Paulo: Abril
Cultural, 1983.

MANKIW, N. G. Macroeconomia. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

Material para download


Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF.

Download material

O que você achou do conteúdo?

Relatar problema

Você também pode gostar