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Capitulo 1

Este é um trabalho realizado por alunos, pelo que não está livre de conter gralhas ou
falta de informação; torna-se, assim, essencial fazer uma análise crítica à sua leitura,
tendo em conta a matéria lecionada nas aulas. Qualquer correção deverá ser enviada
para comissao2ano@aefep.pt
Capítulo 1. Macroeconomia

1.0. Definição de macroeconomia


Macroeconomia =análise económica numa perspetiva agregada
 Análise económica = estudo do problema da escassez: necessidades ilimitadas vs recursos
escassos → escolhas → custo de oportunidade (depende de preferências, incentivos);
 Perspetiva agregada: grandezas económicas ao nível do país/bloco de países.

Objetivo: melhorar ambiente económico global → melhorar condições materiais de vida individuais.

Nota:
Ambiente económico global tem dinâmicas diferentes das individuais
(microeconomia) → macroeconomia permite estudar/solucionar problemas
para os quais o estudo microeconómico se mostrou ineficiente.

Instrumento: Intervenção económica (medidas que recaem sobre sistema económico, política
económica). Têm destaque duas fases do crescimento económico:
 Estabilização (curto prazo): redução das oscilações de uma economia e minimização da
amplitude dos ciclos económicos;
 Expansão (longo prazo): crescimento económico continuado e melhoria do nível de vida
material da população.

Indicadores relevantes no estudo da macroeconomia:


 Produto interno bruto (PIB): expressa a quantidade de bens e serviços criados numa
economia; principal indicador do nível de vida material; utilização do indicador PIB a
preços constantes extingue a influência de variações de preço.
 Desemprego
 Inflação: taxa de crescimento do nível geral de preços; oscila com as flutuações da
atividade real (PIB, desemprego)
 Taxas de juro
 Taxas de câmbio
 Índices de cotações em bolsa
 Abertura das economias
1.1. Génese da macroeconomia
Grande depressão (1929-33): queda acentuada do PIB + subida do desemprego → recessão →
amplitude e persistência desta eram impossíveis de explicar/resolver recorrendo à teoria económica
vigente (apoiada na microeconomia).

Solução: John Maynard Keynes “The general theory of employment, interest and money” → modelo
keynesiano = ciclos económicos, política monetária/fiscal.

Conclui-se que a macroeconomia tem uma génese aplicada: surgimento da macroeconomia = tentativa
de explicar e solucionar as recessões (valorizar não a teoria, mas a intervenção para a resolução dos
problemas).

Progressos: construção de teorias mais completas e assentes em princípios, alargamento do objeto


(crescimento económico + interação ciclos/crescimento), sofisticação (teorias e modelos permitem fazer
previsões e interceder através de instituições e instrumentos de intervenção – política económica).

Nota:
PIB real ≠ PIB natural, potencial, de equilíbrio (não considera fatores
conjunturais e pressupõe taxas de utilização dos recursos produtivos
elevadas).
1.2. O objeto da Macroeconomia

Crescimento Económico

O crescimento económico é medido através da variação percentual do PIB real per capita definindo-se
como taxa de variação persistente (tendência) no longo prazo do PIB real.

Tem importância para a Macro porque o crescimento continuado do PIB real


é a única forma de uma sociedade conseguir melhores níveis de vida (já
pequenas diferenças na taxa de crescimento geram grandes diferenças).

Ao longo do tempo, as economias oscilam em torno da tendência, ou seja, alternam entre “períodos
bons” e “períodos maus”: ciclos económicos.

Ciclo Económico
Oscilações do produto real medidas pela taxa de variação percentual do PIB real em torno da tendência,
alternando períodos “bons” com “maus”. Afetam a maior parte dos setores de atividade (âmbito
generalizado), são um fenómeno recorrente e frequência/duração irregulares.

A análise dos ciclos económicos é relevante porque períodos “maus” têm custos sociais elevados
(desemprego, falências, perda de nível de vida, etc.) e pelo facto de uma maior estabilidade económica
gerar efeitos positivos a nível de crescimento (facilita decisões económicas).

Como medir um ciclo?


Um ciclo vai de “pico a pico” ou “cava a cava”.
Considera-se um “pico” quando num trimestre se verifica
um valor do PIB mais alto que os verificados nos dois
trimestres anteriores e nos dois seguintes. Diz-se “cava”
quando o PIB atinge um nível mais baixo que o do PIB nos
dois trimestres anteriores e nos dois seguintes.
Entre o pico e a cava verifica-se uma recessão.
Entre a cava e o pico temos expansão, que pode ser subdivida em dois momentos: recuperação (até o
valor do PIB se igualar ao do pico anterior) e expansão (propriamente dita).
Através da análise de alguns diagramas, podemos constatar a existência de um facto estilizado, ou seja,
de uma regularidade empírica observável nos dados e que é útil tentar perceber e descrever:

Analisando o nível do PIB Real (gráfico 1), apercebemo-nos facilmente da existência de um “pico” e de
uma “cava”.
Através do gráfico 2, confirmamos que entre o pico e a cava estamos perante uma recessão uma vez
que a taxa de variação do PIB é negativa (< 0.00).

NOTA:
Importa salientar que só conseguimos observar ciclos através do nível do PIB
(gráfico 1); a taxa de crescimento (gráfico 2) apenas tem importância quando
estamos perante variações significativas.

Inflação

Pela análise do diagrama, verificamos um aumento progressivo


do nível geral de preços. Esta subida deve-se ao clima
económico favorável (conjuntura favorável) e ao estímulo à
atividade económica.
Após o pico (obtido no gráfico 1), há um processo de desinflação,
decorrente do desemprego gerado pela recessão, que ocorre
com um desfasamento (o nível de inflação reage com uma certa
inércia ao movimento do PIB, há um certo gradualismo) devido ao caráter de médio prazo do negócio
empresarial.

Desemprego

O desemprego está, tal como a inflação, relacionado com o ambiente


económico.
Durante uma recessão, as empresas, com receio de baixar o nível de
vendas, tendem a reduzir os preços de forma a incentivar a procura.
Para tal, procuram reduzir os custos de produção, nomeadamente
através de cortes no pessoal.
Neste contexto, a taxa de desemprego tenderá a aumentar, o que
significa que a população terá cada vez mais dificuldade em
encontrar emprego e, por conseguinte, ao deterioramento do nível de vida geral.
Esta subida é também desfasada; só se começa a sentir com os choques que sucedem a entrada de uma
economia em recessão.

Taxa de Juro

Diminui após a entrada na recessão. Esta redução pode ser explicada


num contexto de intervenção política, económica e monetária, em
que a taxa de juro decresce com o objetivo de estimular a procura de
financiamentos que, consequentemente, leva ao aumento da procura
de bens e serviços (consumo) e ao investimento.

Alternativamente, podemos medir o ciclo económico como um


Hiato do Produto (Output Gap).
O Output Gap é a diferença entre o PIB real observado (linha
vermelha) e o PIB real natural (ou tendência) (linha preta).
Caracteriza-se por um período em que o PIB observável e o PIB
real diferem e, quando estes voltam a coincidir, temos o fim do
ciclo (zonas sombreadas do gráfico). Por outras palavras, quanto
e durante quanto tempo nos afastamos da tendência são
indicadores do ciclo económico.
Y → PIB real observado

Yn → PIB real natural (ou Produto real potencial ou de equilíbrio de longo prazo ou de equilíbrio de
preços flexíveis) = produto real que se poderia obter na economia com a utilização normal máxima (85-
90%) dos recursos produtivos disponíveis, dada a estrutura legal e institucional da economia, sem criar
pressões inflacionistas. Por outra palavras, é o valor da atividade produtiva realizada sob “condições
normais” (na ausência de ciclos).

Natural unemployment rate (Taxa de desemprego natural) - Taxa de desemprego que permite uma
taxa de inflação constante.

Relação entre Output Gap, desemprego e inflação:

 ciclo negativo → desemprego real superior ao natural → inflação desce

 ciclo positivo → desemprego real inferior ao natural → inflação sobe


1.3. O método da Macro

O estudo macroeconómico caracteriza-se por três fases:


→ Recolha de dados : medição das variáveis; identificação da tendência e do ciclo
→ Construção de teorias e modelos explicativos : explicação do estado da macroeconomia
→ Formas de intervenção política que atuem na resolução de um dado problema.

Dados → Teoria/Modelo → Política

Dados → medição das variáveis; identificação da tendência e do ciclo. Construção da base estatística,
através da descrição dos factos e diagnóstico da situação a estudar.

Teoria/Modelos → explicação do ambiente macroeconómico (tendência; ciclo) e causas de um dado


fenómeno; método dedutivo.

Política → desenvolvimento de formas de atuação para melhorar a situação macroeconómica


(tendência; ciclo). Consiste na planificação de mecanismos de intervenção.

NOTA:
Uma teoria válida hoje é apenas uma teoria que ainda não foi refutada.
Quando o for, através de factos que a contrariarem, tem que se formular uma
nova teoria.

Podemos identificar duas dimensões da macroeconomia: dimensão positiva (dados + teoria) e


dimensão normativa (política).

Dimensão positiva - observação dos factos (medida) e,


consequentemente, a explicação dos factos através da teoria
Desta forma, produz hipóteses explicativas relativamente a uma dada
situação macroeconómica, através da lógica dedutiva, da abstração e
da simplificação da realidade em “leis descritivas do seu
funcionamento”
Método Científico :

O que entendemos por modelos?


Conjunto coerente e resolúvel de equações que relacionam as variáveis macroeconómicas,
assumindo determinadas hipóteses sobre formas funcionais e sobre a estrutura da economia.

Dificuldades de aplicação do método científico na Macro:


 impossível fazer experiências laboratoriais
 os fenómenos agregados são muito complexos
 os dados com que trabalhamos são sempre aproximações (ex.: nunca temos a certeza
absoluta de qual é o PIB da economia)
 trabalhamos com muitas variáveis que não observamos (ex.: as expectativas)
 a macroeconomia é uma ciência jovem, o tempo de conhecimento é relativamente pequeno
comparado com outras ciências
1.4. Teoria e Política

Dimensão normativa - é passar da compreensão de como a economia


funciona para a nossa perceção da forma como esta deveria funcionar
(juízos de valor). Assim as políticas macroeconómicas procuram resolver
o problema económico (escassez=escolhas) numa perspetiva agregada da
economia. As políticas Macroeconómicas consistem, portanto, num
conjunto de escolhas.

No entanto, estas escolhas são condicionadas por restrições técnicas (dilemas):


 Escassez de variáveis-instrumento (controláveis);
 Incompatibilidades entre variáveis-objetivo (perseguir um dado objetivo pode ser incompatível
com outro);
 Horizonte temporal para atingir os objetivos;
 Incerteza quanto aos efeitos finais de algumas decisões sobre os objetivos a atingir.

Estas incompatibilidades e componentes de incerteza são próprias da política macroeconómica e podem


apresentar-se, em maior ou menor escala, como obstáculos à prossecução dos objetivos pretendidos.

Da mesma maneira que na economia positiva há a divisão entre ciclos e crescimento, na economia
normativa também existem políticas mais ligadas ao crescimento (políticas estruturais) e outras mais
ligadas aos ciclos (políticas conjunturais). Em macroeconomia, o estudo centra-se nas políticas
relacionadas com os ciclos (anti-cíclicas).

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