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INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

ECONOMIA
Licenciatura em Serviço Social

INTRODUÇÃO À POLÍTICA ECONÓMICA

Maria Manuel Rodrigues

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Conteúdos:

1. Breves Noções de Política Económica

2. Perspetivas de Monetaristas e Keynesianos sobre a Política Económica de


Estabilização

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1. Breves Noções de Política Económica

A Política Económica consiste no conjunto de actuações das autoridades económicas com


vista a atingir determinados objectivos (como o nível de crescimento e emprego, o nível de
preços, o saldo das balanças externas, o desenvolvimento do capital humano, etc.).

A escolha dos objectivos é uma decisão política, mas deve fundamentar-se na ciência
económica.

As autoridades a quem cabe a responsabilidade da política económica são, em princípio,


autoridades estatais (governo, parlamento e banco central). No entanto, com a intensificação
dos processos de integração económica e monetária, esta realidade tem vindo a modificar-se.
No caso de Portugal, Estado-membro da União Europeia e da Zona Euro, a soberania na
condução da política monetária e cambial foi transferida para o Banco Central Europeu
enquanto a política orçamental se mantém como uma competência estatal, mas sujeita a fortes
restrições.

As escolas de pensamento relativamente à Política Económica dividem-se em dois grandes


grupos:

• Escola Liberal de Política Económica – Considera que os equilíbrios económicos devem


encontrar-se pelo livre funcionamento dos mercados. A política económica deverá limitar-
se a aumentar a eficiência dos mercados, essencialmente ao nível da variação de preços
(leia-se controle da inflação).

• Escola Intervencionista – considera que o livre funcionamento dos mercados, só por si, não
garante a ausência de desequilíbrios no sistema económico. Por isso, não poderá dispensar-
se a intervenção das autoridades em termos de atuação de Política Económica.

Quanto ao horizonte temporal, a Política Económica divide-se em:

• Políticas de curto prazo ou conjunturais – visando obter resultados imediatos;

• Políticas de longo prazo ou estruturais – quando se esperam obter resultados a médio ou


longo prazo, porque estas políticas visam aumentar o crescimento económico a partir da
alteração das “estruturas” ou bases de funcionamento da economia (entre estas bases,
pode considerar-se o progresso técnico, a acumulação de capital físico e humano, as
infraestruturas). Neste horizonte, a política económica pode incluir:

o Investimentos públicos (em infraestruturas de transportes, em escolas, em


saneamento básico, em organismos públicos de investigação, etc.) que propiciam, eles
próprios, o aumento do investimento privado;

o Incentivos ao investimento privado (como isenções fiscais, subsídios, bonificações da


taxa de juro, parcerias público-privadas, etc.)

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2. A Perspectiva de Monetaristas e Keynesianos
sobre a Política Económica de Estabilização

A Política Económica de Estabilização visa a utilização deliberada das receitas e despesas


públicas (Política Orçamental) ou da oferta de moeda (Política Monetária) para alcançar
determinados objetivos macroeconómicos.

O equilíbrio no mercado do produto e no mercado monetário

A figura superior consiste na representação gráfica do equilíbrio no mercado do produto (IS) e


no mercado monetário (LM). O eixo das ordenadas representa a taxa de juro (i) e o eixo das
abcissas o nível de produto ou rendimento (Y). Dizemos que o ponto onde a IS e a LM se cruzam
dita o ponto de equilíbrio simultâneo nos dois mercados. Ou seja, permite-nos saber qual o nível
do rendimento e da taxa de juro (Y; i) que equilibra simultaneamente o mercado do produto e
o mercado monetário. Ao permitir um duplo equilíbrio, o ponto encontrado corresponde a um
equilíbrio estável.

No entanto, o nível de `rendimento (ou produto) de equilíbrio encontrado pode não


corresponder ao produto potencial da economia em causa, pelo que, nessa situação, haverá
desemprego de factores. A resposta para ultrapassar esta situação consiste em aumentar o nível
de Y.

O que podem fazer as autoridades económicas para este efeito?

• Atuar no mercado do produto e fazer deslocar a IS para a direita


e/ou
• Atuar no mercado monetário e fazer deslocar a LM para a direita

LM representa as várias combinações entre o


nível do produto (y) e a taxa de juro (i) que
traduzem o equilibrio no mercado do produto

o equilibrio do mercado da-se no cruzamento Pág. 4


nos dois mercados
De acordo com a equivalência Y = C + I + G +X-M, a IS deslocar-se-á para a direita se:

✓ Aumentar C; y=c+fbc(i)+x-m
✓ Aumentar G;
aumento do produto=aumento do procura interna ou
✓ Aumentar FBC (I); aumentar a procura externa líquida
✓ Aumentar X e/ou reduzir M
y=aumento do PI ou aumento PXL

Ou seja, a IS deslocar-se-á para a direita se aumentar a procura interna ou a procura externa


líquida. Para aumentar C, o Estado pode baixar os impostos ou aumentar as transferências para
os particulares visando aumentar o seu rendimento disponível. O I, em dependência da taxa de
juro, pode ser aumentado reduzindo essa taxa. No entanto, em problemas que exijam respostas
imediatas, é ao nível de alteração dos gastos públicos (G) que se encontra a resposta mais eficaz.
Todas estas medidas (à exceção da variação da taxa de juro) se enquadram na política
orçamental. Para alterar a procura externa líquida pode recorrer-se à manipulação da taxa de
câmbio (política cambial).

Por sua vez, o recurso à política monetária - aumentando a quantidade de moeda em circulação
(oferta de moeda) - permitiria deslocar a LM para a direita.

Este tipo de respostas foi desenvolvido e apoiado por Keynes. Em 1936, na sequência da grande
depressão, J. M. Keynes lança as bases de uma autêntica “revolução” em termos de pensamento
económico com o seu livro “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” onde apresenta
várias e novas propostas. Entre elas:

1. Defesa de políticas ativas de promoção do pleno emprego;


2. Defesa do aumento das despesas de Estado, em período de recessão;
2.

3. Defesa de políticas ativas de redistribuição do rendimento e do estado-providência


(Welfare State) para alimentar e estabilizar a procura efetiva;
4. Defesa da expansão das funções tradicionais do estado;
5. Defesa de uma política de mais fácil acesso ao crédito e de mais baixas taxas de juro
(para baixar os custos do investimento).
Entre a 2ª GM e o primeiro choque petrolífero as políticas anti cíclicas (ou seja, com a
preocupação de evitar ou reduzir os efeitos negativos das crises cíclicas), foram adotadas com
êxito e conduziram ao que na gíria económica se conhece como “Os 30 gloriosos”: para
combater o desemprego elevado, adotavam-se políticas expansionistas - menos impostos,
crédito abundante e barato, mais despesas públicas. Por sua vez, se era a inflação que devia ser
travada adotavam-se políticas contracionistas.

Conforme já se afirmou anteriormente, o primeiro choque petrolífero traria um novo fenómeno


- a estagflação. Para os economistas seria um novo “enigma” e as “curas” desenvolvidas por
Keynes para as crises cíclicas apresentava alguns limites para esta situação. É então que uma
outra linha de pensamento ganha força – o monetarismo – tendo como um dos principais
mentores Milton Friedman. Em 1961, Friedman apresentara as suas ideias com a publicação do
livro “Liberdade para Escolher” que quer fazer vingar. Começa a falar-se da “contra- revolução”

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monetarista que apela ao regresso a anteriores conceções sobre a economia e sobre o papel do
estado que, após Keynes, se julgavam completamente ultrapassadas.

Para os monetaristas, as políticas de despesas públicas complementadas por emissão de moeda


geram apenas efeitos inflacionistas cumulativos. Na mesma linha, a política monetária é
considerada eficaz no curto prazo, mas ineficaz e inflacionista a médio e longo prazo.

Partindo da identidade MV = PY (equação quantitativa da moeda) que dita que ao


multiplicarmos a quantidade de moeda em circulação (M) pela velocidade com que esta circula
(V) obteremos um valor idêntico ao produto nominal gerado na economia (PY) que, poderemos
fazer corresponder ao valor do PIBpm (já que o Y é aqui tomado em volume). Sobre esta
identidade onde entra a parte teórica? Na forma como se estabelecem as hipóteses sobre o
comportamento das variáveis.

Para os monetaristas o aumento da oferta de moeda reflete-se sempre no aumento dos preços
uma vez que não tem efeitos reais no volume de produção (ΔY = 0) e a velocidade de circulação
da moeda (V) não se altera (ΔV = 0). Doutra forma, e como já afirmámos no ponto relativo às
causas da inflação, os monetaristas consideram que no longo prazo os preços aumentam
proporcionalmente ao stock de moeda em circulação. O desemprego, sendo considerado
voluntário, está longe do centro das suas preocupações, ocupado, isso sim, pelos níveis de
inflação.

Ainda na linha monetarista, os salários baixos e as políticas de redução dos salários reais são
essenciais para permitir taxas de lucro que estimulem o investimento privado, e esta é a via para
se conseguir um crescimento económico continuado, que aumentará o volume do emprego e,
consequentemente, beneficiará os trabalhadores. O essencial para eliminar os desequilíbrios
económicos é deixar funcionar as leis do mercado, reduzir a intervenção do estado na economia
(nomeadamente como Estado-Providência que, nas palavras de Friedman, é considerado uma
subversão) bem como o poder dos sindicatos, também eles responsáveis pelo desemprego, a
par do Estado-Providência.

Entre os primeiros governos a adotarem os ideais monetaristas apontam-se o de Reagan (nos


EUA), e o de Thatcher (no Reino Unido). Esta linha de pensamento continuará a estender-se
gradualmente pelos países ocidentais.

Entretanto, a crise de 2008-2009 virá trazer nova roupagem – a deflação. Começa-se então a
falar na “ressurreição de Keynes” já que a sua teoria poderia de novo responder a este problema.
O próprio FMI chegou, então, a recomendar o uso dos instrumentos de política orçamental mais
potentes (leia-se gastos públicos) para afrontar a situação - embora aquando da intervenção da
troika em Portugal, onde a crise se fez sentir mais tarde, as medidas apontadas tivessem um
pendor contracionista.

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