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Lição 7 - Inflação

Conhecer o fenômeno da inflação, suas causas, consequências e as diferen-


tes políticas para combatê-la. Esta é a base programática desta lição, fazer
com que o aluno tenha mais familiaridade, sob o ponto de vista teórico, com
o que é um processo inflacionário é nosso objetivo.

Nesta lição, você conhecerá os resultados de algumas medidas governa-


mentais para controle da inflação. Apresentaremos os principais planos
econômicos recentemente adotados em nosso país. A análise e o correla-
cionamento existente entre eles é de fundamental necessidade, para que
você consiga se posicionar sobre as variáveis que determinam a eficácia ou
não das medidas governamentais.

1. Conceito
A inflação é caracterizada como um processo em que todos os preços sofrem
um aumento contínuo. Perceba que este aumento de preços é persistente e
generalizado, não se confundindo com altas de preços esporádicas, provo-
cadas por flutuações sazonais. O processo inflacionário, para configurar-se,
precisa abranger todas as esferas da economia, ou seja, produtos e serviços
dos três setores: primário, secundário e terciário.

Observe:
Três itens compõem, tecnicamente, o conceito de inflação:
1. É necessário que ocorra aumento de preços no custo de vida. Havendo queda de preços,
estaremos falando de deflação.
2. Persistente significa que os aumentos de preços não são verificados apenas em um dado
período. Sua caracterização depende de uma continuidade de aumentos e por mais de um
período.
3. A palavra generalizado significa dizer que o aumento de preços não é pontual, e sim
presente em diversos setores da economia.

Na inflação, observa-se nitidamente uma depreciação do valor da moeda (redu-


ção de seu poder aquisitivo). Quanto a sua intensidade, a inflação tem algumas
variações, sendo que os tipos extremos são:
• Inflação rastejante: índices muito baixos, com expansão (aumento) dos
preços quase que imperceptível. Este tipo de inflação é muito comum nos
países mais estáveis.
• Inflação galopante ou hiperinflação: : índices inflacionários muito altos,
com uma expansão descontrolada e violenta no nível geral de preços. No

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período de 1914 a 1923, a Alemanha sofreu a maior inflação registrada no
mundo: os preços cresceram um trilhão de vezes.

Entre esses níveis, a inflação crônica é visível em muitos países, os quais, por
meio de políticas de governo, atentam para seu controle e contenção. O Bra-
sil, desde a Segunda Grande Guerra, tem vivenciado processos inflacionários
de diferentes intensidades, e, em muitas situações, as autoridades monetárias
fizeram intervenções para que a inflação fosse controlada.

Para obter-se índices inflacionários, são realizadas tabulações de preços di-


versos, que são submetidos a cálculos das variações de preço em determina-
dos locais e períodos específicos. Há uma variação muito grande de índices
analisados no Brasil.

Em nosso país, por muitos anos, o índice oficial da inflação foi o Índice Geral
de Preços – IGP –, obtido através de uma média ponderada, composta de três
índices: Índice de Custo de Vida (ICV), Índice de Preços por Atacado (IPA) e
Índice Nacional da Construção Civil (INCC).

Atualmente o Governo tem utilizado oficialmente o IPCA – Índice de Preços


ao Consumidor Amplo, divulgado pelo IBGE.

2. Principais Índices de Inflação


2.1 Índice Geral de Preços – IGP – do IBGE

Começou a ser calculado em 1947, comparando preços do mês anterior com os


do mês corrente, coletados em 18 capitais. Há três grupos de preços: os de pro-
dutos no atacado, baseado em uma amostragem de cerca de 500 mercadorias,
com 60% de peso no índice final; os de preços ao consumidor, com base nas
compras de famílias com renda de 1 a 33 salários mínimos, entra com 30%; e os
de preços da construção civil, com 10% de peso, baseado em planilhas de cus-
to de empresas de engenharia. É um dos índices menos precisos, justamente
pela sua abrangência, num quadro muito dispersivo de inflação. É divulgado
em duas versões: uma contendo apenas os preços do que é produzido inter-
namente (disponibilidade interna) e outra incluindo preços de importações.

2.2 Índice Geral de Preços do Mercado – IGPM – da FGV

Criado a pedido da Federação dos Bancos, com uma cláusula que impede sua
modificação pelo Governo. Tinha como função servir de corretor de contra-
tos bancários aplicáveis no dia 30 do mês em curso. É o primeiro a ser divul-
gado e tem como base os mesmos preços e a mesma ponderação do IGP, mas
do dia 20 do mês anterior ao 20 do mês em questão.

2.3 Índice Quadrissemanal de Preços ao Consumidor da FIPE

Típico de uma economia hiperinflacionária, é publicado toda semana, com a


variação dos preços das quatro semanas anteriores. Restringe-se ao municí-

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pio de São Paulo e afere o custo de vida de famílias com rendas de dois a seis
salários mínimos. Calcula os preços médios durante quatro semanas e divide
pela mesma média de quatro semanas anteriores. Trata-se, portanto, de uma
medida rápida das tendências de base dos preços.

2.4 Índice Nacional de Preços ao Consumidor

Tem como sigla INPC – do IBGE

Para rendas de 1-8 salários mínimos, foi o índice oficial de inflação de 1979 a
1986.

2.5 Índice de Preços ao Consumidor – IPC

Sucedeu ao INPC como índice oficial, até 1990 e difere apenas no período de
coleta dos preços.

2.6 Índice de Preços ao Consumidor Ampliado – IPCA – do IBGE

Para rendas de até quarenta salários mínimos.

2.7 Índices de Custo de Vida do DIEESE

Para três classes de renda: 1-3 salários mínimos, 1-5 e 1-30. Esse índice se dis-
tingue dos demais por incluir despesas com recreação, comunicação, cultura
e lazer como itens essenciais do custo de vida.

2.8 Índice da Cesta Básica – PROCON/DIEESE

Pesquisado em 70 supermercados em São Paulo, engloba 31 produtos essen-


ciais para famílias com renda até 10,3 salários mínimos e mede a variação de
ponta a ponta.

3. Consequências da Inflação
O processo inflacionário traz malefícios que prejudicam toda a estrutura
econômica do país: a desvalorização da moeda, a queda dos investimentos,
a queda do índice de emprego e muitas outras consequências danosas que
repercutem nos âmbitos político e social.

Uma nação que enfrenta um processo inflacionário, com dificuldades de es-


tabilização da economia que impedem o rápido retorno de preços e salários
equilibrados, certamente terá consequências negativas pelo menos em três
níveis:
1 -  Distribuição de Renda: com inflação, os proprietários dos fatores
capital e recursos naturais têm mais poder para manter seus ganhos,

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pois conseguem mais facilmente recompor os seus preços, sendo que
os operários têm menores instrumentos para equilibrarem seu poder
aquisitivo. Os assalariados dependem de um rendimento fixo (salários),
com prazos legais para perceberem reajustes. Por isso, têm queda do
poder de compra porque seus ganhos são corrigidos após o período
inflacionário.
2 -  Investimentos dos Empresários: a possibilidade de crescimento
econômico fica inibida, devido à política de juros elevados, geralmente
imposta pelo Governo. Estes juros altos diminuem a expectativa quanto a
lucros futuros do empresariado, que passam a não acreditar ser viável um
eventual investimento na capacidade produtiva. Este fator ampliado para
toda economia reduz sensivelmente a capacidade produtiva do sistema.
3 -  Déficit na Balança Comercial: os preços internos aumentados
desenfreadamente pela inflação incentivam os comerciantes a
procurarem produtos de outros países, que, mais baratos, estimulam
os consumidores a adquiri-los. Isto ocasiona uma queda expressiva
nos negócios das empresas nacionais. Com a procura por mercadorias
importadas – e a consequente alta nas importações – o governo acaba
por desvalorizar nossa moeda frente ao dólar, para tentar incentivar as
exportações.

Esse fator, além de contribuir para a atrofia do parque industrial nacional, pro-
voca um déficit na Balança Comercial, porque há saída de divisas (remessa de
moeda) para importações desproporcionais às recebidas de exportações.

4. Tipos de Inflação
Em qualquer lugar do mundo, governantes precisam dar sinais de que es-
tão no poder para trazer o mínimo de padrão de vida às pessoas e que pos-
suem condições de conter o custo de vida delas. Todos assumem o poder
com esta retórica1, mas em muitas nações, a tarefa de se buscar equilíbrio
entre preços e salários tem sido apenas projeto eleitoral.

As chamadas políticas de estabilização são medidas governamentais ado-


tadas para análise das causas e consequente combate à inflação.

Economistas discutem causas da inflação e apregoam medidas que, iso-


ladas ou combinadas, permitem o controle inflacionário e a estabilização
econômica. Muitas vezes, essas medidas trazem grande desconforto para a
população.

1. Retórica
Arte da oratória, arte do discurso.

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Causas primárias:
Inflação de demanda
Inflação de custos

Causas secundárias:
Inércia inflacionária
Conflito distributivo

Analisemos agora algumas das principais causas da inflação. Divididas em


causas primárias e secundárias, podemos sintetizar a inflação como sendo
de quatro origens:

4.1 Inflação de Demanda

Este tipo de inflação é causado quando há um excesso de procura na eco-


nomia, sem, no entanto, existir produto que seja proporcional a este volume
de demanda. Isto acontece porque há uma desproporção entre os meios de
pagamento (dinheiro em circulação) e a produção econômica. O nível de
produto da economia deve equilibrar-se à renda – igualdade fundamental
da economia. Isto não ocorrendo, já que existe dinheiro em excesso e não há
produto suficiente, a tendência dos preços subirem vertiginosamente acon-
tece principalmente pela ação dos especuladores.

Se houver excesso de demanda por bens ou serviços – em relação à oferta


destes bens – haverá aumento de preços. Por exemplo, se há consumo exces-
sivo de computadores e os fabricantes não conseguem produzi-los de acordo
com a procura, com toda a certeza seus preços serão reajustados.

É importante salientar que, para existir a inflação de demanda, também cha-


mada inflação de procura, é necessário que a economia esteja perto do pleno
emprego dos fatores de produção, ou seja, que não haja ociosidade na uti-
lização da força de trabalho, do conjunto de instalações, máquinas, equipa-
mentos e demais componentes do fator capital, e dos recursos naturais dis-
poníveis. Um dispêndio2 excessivo do dinheiro circulante, em um cenário de
oferta limitada de bens que podem ser produzidos a pleno emprego, resulta
em aumento de preços.

Sabe-se que, no nosso país, a origem da inflação de demanda está na má


performance das contas públicas, ou seja, quando o Governo gasta mais do
que arrecada, influencia na inflação. Nas décadas de setenta e oitenta, o dé-
ficit público subiu muito e o Governo financiava sua dívida com a poupança
interna ou captava recursos lançando títulos da dívida pública, o que in-
jetava dinheiro em uma economia que não crescia. Isso gerou inflação de
demanda.

2. Dispêndio
Aquilo que se gasta, se consome; gasto, consumo, despesa.
Fonte: dicionário Houaiss.

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Como combatê-la? O Governo utiliza duas medidas:
• Política Fiscal: aumentar impostos em geral, principalmente sobre a
renda mas também sobre os bens e serviços, para diminuir a renda das
pessoas e das empresas. Ou seja, esta é a ação de combate à inflação
pelo prisma do sacrifício dos contribuintes, “achatando” sua renda e
dificultando a circulação de bens e de serviços.
Completa esta política também procurando reduzir suas despesas como:
folha de pagamento do funcionalismo público e despesas correntes,
como materiais de escritório, gastos com obras etc. Aqui, vemos o Estado
tentando “enxugar a máquina”, cortando gastos que não alteram a efetiva
prestação do serviço público – função primeira do Estado. Observa-se que
este controle das despesas governamentais tem ficado mais nos projetos
do que nas ações.
• Política Monetária: diminuir a quantidade de emissão de papel moeda
pelo Banco Central (controle pelo Congresso Nacional), limitações ao
crédito (juros elevados, dificultar empréstimos, diminuir o número de
prestações para financiamentos, consórcios etc.) e aumentar a parcela dos
depósitos à vista que os bancos não podem emprestar (encaixe).

4.2 Inflação de Custos

Esta forma inflacionária provém do lado da oferta de bens e serviços. Veri-


fica-se aqui um repasse automático e exagerado ao preço final, quando os
custos operacionais aumentam. Há um consenso que, em uma economia
de mercado, o empresário opera visando ao lucro e, se houver aumento no
preço de algum fator de produção, principalmente matéria-prima, ele de-
verá repassar para o preço, sob risco de operar com prejuízo. Sem lucro,
seu empreendimento acaba inviabilizando-se, caso o prejuízo se prolongue.
Logo, podemos dizer que a inflação de custos está associada a uma inflação
de oferta, já que a demanda continua a mesma, mas os custos de certos fa-
tores de produção aumentam. Isto pode ocorrer, por exemplo, com os au-
mentos salariais, aumento do custo de matéria-prima ou de qualquer outro
fator de produção que sofra reajustes de preço.

O problema centraliza-se em alguns setores que exercem domínio de mer-


cado, com características oligopolizantes (poucas empresas, mas fortes em
estrutura). Estas grandes empresas conseguem lucros exorbitantes ao con-
quistarem reajustes bem acima dos aumentos que ocorrem em suas despesas
operacionais. Os oligopólios são responsáveis por muitos produtos impor-
tantes, como automóveis, produtos de higiene e limpeza, eletrodomésticos
e medicamentos, entre outros. Assim, os preços elevados destas empresas
ajudam a inflação a subir de forma descontrolada.

A forma de combate utilizada para este tipo de inflação é justamente o con-


trole de preços. No passado, o CIP – Conselho Interministerial de Preços –

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tinha esta responsabilidade (para produtos industrializados), bem como a
SUNAB – Superintendência Nacional de Abastecimento (para produtos da
agricultura e pecuária). Extintos com o Plano Real, departamentos variados
exercem a política de monitoração de preços.

4.3 Inércia Inflacionária

Esta inflação é conhecida como uma resistência que os preços de uma eco-
nomia oferecem às políticas de estabilização, criadas para combater a infla-
ção de demanda e de custos, ou seja, as causas primárias. O componente que
causa esse processo é a indexação generalizada da economia, como acontece
no Brasil, através de inúmeros índices de correção de preços, muitas vezes
atendendo a interesses corporativos.

A indexação fixa índices específicos para reajuste de prestações, salários, con-


tratos, aluguéis e outros preços, pela inflação do período passado.

As equipes econômicas do Governo, responsáveis pela estabilização, sempre


estabelecem metas contendo a prerrogativa de diminuição dos índices exis-
tentes, mas o próprio Governo institui novos índices, sempre que convenien-
te, para a implementação de novas medidas econômicas.

Falamos de inércia inflacionária porque a inflação segue a tendência de se


manter, de forma constante, no mesmo patamar, sem aceleração. Essa desa-
celeração ocorre por dois mecanismos de indexações: formais ou informais.
Os formais são, por exemplo, os contratos de instituições de ensino, os con-
tratos de aluguéis, de fornecimentos, de arrendamento, etc. Por outro lado, os
mecanismos informais ocorrem quando os agentes aumentam seus preços,
seguindo o comportamento daqueles que também reajustaram valores; um
bom exemplo é o restaurante que aumenta os preços de determinados pra-
tos porque o fornecedor da matéria-prima, utilizada naquele prato, também
aumentou seus preços.

4.4 Conflito Distributivo

A disputa sobre a alavancagem da posse da renda entre os proprietários dos


fatores trabalho e capital é o eixo do conflito distributivo. Neste conflito, a
conhecida espiral de preços e salários indica que, logo após um aumento de
preços dos bens e serviços por parte dos empresários, os empregados lutam
por reajustes salariais para aumentar a sua renda.

Em sequência, os empresários voltam aos reajustes, e essa situação contínua


não acalma a inflação, mesmo com políticas monetárias, fiscais ou de conten-
ção de preços.

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INFLAÇÃO MENSAL (IPC-FIPE)
Comparação com planos de estabilização anteriores

Fonte: Fipe

TAXA DE INFLAÇÃO
Acumulada em 12 meses

Fonte: FGV, IBGE

5. Planos Econômicos
No início dos anos 80, a inflação brasileira disparou com taxas muito eleva-
das. As consequências foram tão nefastas que nossa indústria parou de cres-
cer e, para muitos economistas, a era de 80 ficou conhecida como “a década
perdida”. O período foi muito negativo para nossa economia, principalmente
porque o Governo, mesmo adotando fortes medidas contra a alta da inflação,
obteve pouco sucesso.

Os planos que se sucederam a partir de 1986 foram:

5.1 Plano Cruzado

José Sarney herdou dois ministérios com seus titulares já definidos: no Ministério
da Fazenda, Francisco Dornelles, e, no Ministério do Planejamento, João Sayad.
Em 1985, Dornelles pede demissão e Dilson Funaro foi nomeado para a Fazenda.
No entanto, poucos meses depois, a inflação volta a crescer.

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Implementado pelo Decreto-lei nº 2.283 de 28/02/86, a unidade do sistema mo-
netário brasileiro foi modificada para o cruzado (Cz$), que cortou três zeros do
antigo cruzeiro, ou seja, Cz$ 1,00 correspondia a Cr$ 1.000,00.

Além da troca de moeda, o Plano Cruzado adotou forte congelamento de pre-


ços e de salários, com o objetivo de estabilizar o poder aquisitivo.

Fontes do Governo acreditavam que a inflação da época tinha um forte com-


ponente inercial (conforme já estudado em Inércia Inflacionária), associado
ao conflito distributivo caracterizado por turbulências constantes entre pa-
trões e empregados, ou seja, muitas greves.

O próprio Governo (setor público) não acompanhou o congelamento de pre-


ços com a devida seriedade em seus gastos. O déficit público cresceu bastante
e alguns preços públicos subiram, como energia, gasolina etc. Aconteceram
episódios de especulação – desabastecimento induzindo o aparecimento de
ágio3, empresários esconderam mercadorias para conseguir melhores pre-
ços, boicotes diversos, ações dos oligopólios etc. – e perdeu-se o controle da
inflação.

Em julho de 1986, o governo instituiu o Empréstimo Compulsório sobre o


comércio de automóveis e de combustíveis, tentando retirar o excesso de di-
nheiro confiscado das cadernetas de poupança para o consumo. Mas, o au-
mento do consumo foi tão grande que comprometeu a produção voltada à
exportação. Isto provocou a queda do superávit e impossibilitou o pagamento
da dívida externa. Em janeiro de 1987, Dilson Funaro declarou moratória, sus-
pendendo o pagamento dos juros da dívida externa.

5.2 Plano Bresser

Em julho de 87, a inflação atingiu um patamar extraordinário, chegando a


26%. Substituindo Funaro, o economista e empresário Luiz Carlos Bresser Pe-
reira implantou o Plano Bresser com estas medidas: renovou o congelamen-
to de preços e salários por aproximadamente três meses, elevou as tarifas e
impostos, e extinguiu o gatilho salarial. Bresser Pereira retomou a negociação
com o FMI e suspendeu-se a moratória.

5.3 Plano Verão (Cruzado Novo)

Implementado em 31/01/89, pelo Decreto-lei nº 7.730, substituiu o cruzado


pelo cruzado novo (NCz$), em que NCz$ 1,00 equivalia a Cz$ 1.000,00. Con-
cluiu-se que a modificação do padrão monetário com o corte de três zeros,
ocorrido no Plano Verão, acompanhado por normas que determinavam o
congelamento de preços e salários, também não resolveu o problema infla-
cionário.

3. Ágio
Lucro sobre a diferença de valor da moeda. Juro de dinheiro emprestado; usura. Especulação
sobre a alta ou a baixa dos fundos públicos

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O sucessor de Bresser Pereira foi Maílson da Nóbrega, que se concentrou
numa política simplista, sem medidas pirotécnicas. As preocupações eram
voltadas às questões sociais, por meio do crescimento econômico – abrindo
a economia para O sucessor de Bresser Pereira foi Maílson da Nóbrega, que
se concentrou numa política simplista, sem medidas pirotécnicas. As preo-
cupações eram voltadas às questões sociais, por meio do crescimento econô-
mico – abrindo a economia para o mercado externo, privatizando estatais e
cortando gastos públicos.

5.4 Plano Collor I

Decretado em 15/3/1990, logo após a posse do presidente Fernando Collor de


Mello, o Plano Collor I foi um plano extremamente ousado. A inflação, até
então, subia a taxas cada vez maiores. Partindo do diagnóstico de que havia
muita moeda em circulação na economia, sua principal medida determinou
a retenção de saldos em conta corrente, cadernetas de poupança e aplicações
financeiras que fossem superiores a NCz$ 50.000,00. O Plano Collor consistiu
num bloqueio de cerca de 85 bilhões de dólares, representanto algo perto de
2/3 da moeda em circulação.

Essa medida, muito impopular, fez com que muitos se desesperassem. Nada
podia ser feito. Um dia antes, o Banco Central baixou norma, expedida em
caráter de urgência para todos os bancos, atribuindo a ordem da retenção
de todos os valores, os quais seriam devolvidos, depois de 18 meses e em 12
parcelas mensais.

Retornou-se ao cruzeiro (Cr$), com a seguinte paridade4: cada Cr$ 1,00 equi-
valia a NCz$ 1,00, ou seja, não houve corte de zeros.

Sem qualquer congelamento ou controle efetivo de preços, a inflação caiu


significativamente, mas voltou em meados do mesmo ano.

Além das medidas mencionadas, outras foram tomadas com o intuito de


desindexar5 a economia. O plano congelou a dívida interna e apertou o cré-
dito, aumentando juros e dificultando empréstimos.

O Governo iniciou um ousado projeto de reforma estrutural, com progra-


mas de privatização e corte de funcionários. E, visando melhorar a situação
das contas públicas, cortou subsídios e aumentou a carga tributária. Os ser-
viços públicos tiveram um realinhamento de preços.

Tudo isso, somado ao aumento das importações, causou aumento nos cus-
tos de produção, fazendo com que a inflação voltasse a subir.

4. Paridade
Estado de câmbio em que há equivalência de moedas.
5. Desindexar
Eliminar a correção monetária automática de preços e salários.

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5.5 Plano Collor II

Já em fevereiro de 1991, o governo Collor renovou seu antigo plano para es-
tabilização da economia com tímidas medidas: congelamento temporário de
preços, mas apenas de alguns bens, acompanhado por um moderado contro-
le de preços, mas esse plano não trouxe resultados concretos.

5.6 Plano Real – FHC

Com a interrupção do governo Collor, seu vice, Itamar Franco, assumiu a pre-
sidência com uma preocupação muito grande em controlar, combater e di-
minuir a inflação.

Vários anos de convívio, com elevações de preços, provocaram uma utiliza-


ção desmedida de indexadores diversos. A inexistência de medidas eficazes
contra as ações de empresas oligopolistas, conflito distributivo crescente e
outros sintomas de nossa economia faziam com que existisse a necessidade
da arquitetura de um plano abrangente que estancasse a inflação de forma
eficaz.

Em 1993, a moeda foi substituída novamente. Criou-se o Cruzeiro Real (CR$).


Essa nova moeda tinha a seguinte equivalência: CR$ 1,00 = Cr$ 1.000,00. Essa
medida não era um plano econômico, apenas diminuía o número de zeros
dos preços, que não paravam de subir.

Em março de 1994, um novo plano começou a ser executado. Tratava-se do


Plano Real ou FHC, referência ao nome do Ministro da Fazenda da época,
Fernando Henrique Cardoso. Criou-se a URV – Unidade Real de Valor –, um
tipo de indexador único, que padronizou todo e qualquer reajuste de preços
e salários. Com a URV implantada, o Governo comprometeu-se a um esforço
para equilibrar suas contas, evitando a emissão de moeda.

No mês de julho, precisamente no dia 01/07/1994, implementou-se definitiva-


mente o plano, quando aconteceu mais uma reforma monetária, com o sur-
gimento do real (R$), com a seguinte paridade: R$ 1,00 = CR$ 2.750,00, que era
o valor de 1 URV em 30/06/94.

Com o Plano Real, a política cambial tornou-se parcialmente flexível: o Go-


verno comprometeu-se a manter o limite superior de venda de um dólar por
real, permitindo ao mercado cotar a moeda estrangeira a valores inferiores
a esse limite. Parte das reservas internacionais serviu de lastro para a ma-
nutenção da taxa de câmbio. Na verdade, esta flexibilização era apenas para
abaixo de R$ 1,00.

Outro ponto importante foi o estabelecimento de regras rígidas para a emis-


são de moeda, ficando o Congresso Nacional como responsável para definir
os limites de emissão monetária, cabendo ao Conselho Monetário Nacional a
supervisão da emissão de moeda e ao Banco Central do Brasil executar esta
política.

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►►5.6.1 Consequências do Plano Real
O Plano Real permanece em nossa atualidade, tendo sofrido vários ataques:
crises externas, aumento violento do dólar, entre outros. Conseguiu-se uma
queda substancial da inflação inercial, sendo que, em seus primeiros anos, o
plano obteve franca adesão, tanto por parte dos políticos quanto por parte da
sociedade.

Com a estabilidade da moeda, houve aumento considerável do consumo, re-


percutindo uma melhoria no padrão de vida de muitas famílias brasileiras,
apesar das dificuldades para uma expansão proporcional da oferta de bens
e serviços.

Era previsível esse aumento da demanda, principalmente porque as autori-


dades monetárias sabiam que parte do imposto inflacionário – que era capta-
do pelo sistema bancário e pelo Governo – passou a ficar nas mãos de parcela
da população de baixa renda.

Como medida de precaução, no primeiro mandato do governo FHC, ado-


tou-se medidas para restrição ao crédito, desistimulando-se compras a
prazo, por meio da elevação dos juros. O aumento das importações elevou
o nível da oferta, pois muitas medidas governamentais permitiram uma
maior penetração de produtos estrangeiros.

Como consequência, muitos setores da economia foram afetados. Indústrias


de calçados, têxteis e outros com problema de competitividade sofreram im-
pactos dolorosos, sendo que algumas empresas até fecharam as portas, cau-
sando uma diminuição importante no nível de empregos nestes setores.

De forma geral, a abertura de mercado e demais medidas do Plano criaram


um cenário de estabilização geral da economia, mas com um custo social
muito grande: os índices de desemprego subiram de forma muito grave.

Pode-se dizer que o desemprego teve seu crescimento tanto pelas medidas
conjunturais do Governo, como pela necessidade da busca de competitivida-
de do setor privado, que ficou mais vulnerável ao mercado exterior.

A partir do segundo mandato de FHC (1998-2001), devido a um cenário mais


promissor com queda gradual de juros, melhoria do quadro social (apesar do
desemprego) e outros indicadores de potencial de consumo, o país foi rece-
bendo fortes investimentos, principalmente de setores importantes como te-
lecomunicações, automóveis, financeiro, turismo, seguros, comércio (hiper-
mercados etc.).

No ano de 2001, empresas especializadas em consultoria internacional apon-


taram o Brasil como um dos principais polos de atração de investimentos, o
que trouxe uma expectativa muito otimista para solução de nossos proble-
mas sociais.

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