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AUMENTO SAÚDE
Nº 1539 . 1/9 A 7/9/2022 . CONT. E ILHAS: €4. SEMANAL
A INCRÍVEL HISTÓRIA
DE D. PEDRO IV
Herói destemido para uns, boémio irresponsável para outros, despertou
ódios e paixões dos dois lados do Atlântico. Dedicou-se à política com fervor,
foi chefe carismático, amou muitas mulheres e viveu à frente do seu tempo.
A sua figura e o seu coração continuam envoltos em polémica,
200 anos depois de ter proclamado a independência do Brasil
POR LAURENTINO GOMES
NOVA EXPERIÊNCIA TV
FUTEBOL ASSIM
SIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM
RADAR
A semana
em 7 pontos
Borrões maiores
do que a folha ................. 14
Holofote
Serena Williams
VISÃO SETE
no adeus aos courts ...... 16
Novos restaurantes,
Raio-X no regresso à cidade.... 92
Custo dos transportes
Kalorama: Afinal,
no ambiente .................... 17
havia outro................... 100
Periscópio
Os Anéis do Poder,
Angola ainda é nossa?.. 19
MARCOS BORGA
a série mais cara
Próximos capítulos de sempre...................... 105
Rentrée política ............. 20
Festival Todos: Encontro
Fotos com História em Santa Clara ............ 106
Massacre de Munique. 23
Nómadas digitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 0 Vinhos novos
Transições Passam por turistas, mas ocupam parte do dia a trabalhar. O que leva e sedutores.................... 109
Taylor Swift e Anitta: o estes viajantes a trocar o escritório pela praia ou pela esplanada
“show das poderosas”.. 24
OPINIÃO
Na primeira pessoa D. Pedro: Herói destemido ou boémio Mia Couto
Sobreviver ao cancro irresponsável? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
A carta sem correio ........6
no pâncreas .................... 26 Dois séculos depois de o monarca ter proclamado a Independência Rui Tavares Guedes
Imagens do Brasil, o seu legado histórico continua a despertar ódios e paixões Um Governo de passo
Secos e molhados ......... 28 trocado com o País .........8
Gás regulado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2 Pedro Lopes Marques
FOCAR O Governo vai permitir o regresso ao mercado regulado do gás, Ingénuos
Os últimos dias de Marta para proteger as famílias dos aumentos previstos a partir de outubro colaboracionistas
Temido ..............................78 e a razão ............................ 18
w w w.visao.pt
ONLINE Filipe Luís Mafalda Anjos Luís Delgado
OPINIÃO EM SINCRONIZAÇÃO LINHAS DIREITAS
Últimos Maioria absoluta, Temido esticou a corda O MPLA é que manda
artigos o fator de instabilidade ao limite. Tremeu tanto
no site da que caiu
VISÃO
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ANTEVISÃO
VISÃO SETE
VISÃO PLUS Os preços das casas
VISÃO VERDE estão loucos, mas
a “loucura” não
vai abrandar, com
a inflação a subir
O primeiro imperador
– Ângelo Martins Vieira Leiria
Nas bancas
do Brasil, pela pena ALMEIDA BRUNO
Nas condecorações atribuídas
A
a mais importante – a Ordem
s grandes efemérides têm este efeito. Os holo- Militar da Torre Espada,
fotes incidem em vidas e percursos passados, do Valor Lealdade e Mérito,
resgatando momentaneamente da sombra da com palma. Ver o meu livro
História figuras que aí repousam, década após (com uma sua entrevista
década, século após século... É o que está a acontecer e respetiva nota biográfica
por estes dias com o monarca português D. Pedro IV, no final) Marcello e Spínola;
imperador Pedro I no outro lado do Atlântico, quando a Ruptura. As Forças
COMBOIOS Armadas e a Imprensa
se assinalam os 200 anos da Independência do Brasil.
O regresso das na Queda do Estado
Escrever o seu nome completo ocupa várias linhas desta grandes viagens
coluna. Pedro d’ Alcântara Francisco António João Car- Novo (1973-74).
los Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gon- – Manuel Amaro Bernardo
zaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon Carnaxide
só viveu 35 anos, mas ficaria para sempre ligado a um
RUI PINTO
desses momentos históricos que marcam um antes e um
depois, quando, nas margens do Ipiranga, em São Paulo, A minha alma está parva.
a 7 de setembro de 1822, deu um famoso grito: “Inde- Desde quando roubar
correspondência alheia
pendência ou morte!”.
e chantagear empresas
Ninguém melhor para contar a sua história, com
é trabalhar “em prol
todos os pormenores, aos leitores da VISÃO do que o da verdade e do combate
jornalista e escritor brasileiro Laurentino Gomes. Apai- ao crime organizado”?
xonado pela História do seu país, publicou três livros – Maximiano Santos
fundamentais ao seu entendimento, que se transforma- MOBILIDADE
Moreiras Grandes
riam em best-sellers: 1808, sobre a fuga da família real A revolução
portuguesa para o Rio de Janeiro, 1822, sobre o tal “grito dos carros elétricos
do Ipiranga” e a independência do Brasil, e 1889, sobre a
proclamação da República brasileira, no Rio de Janeiro. --------
A sua obra mais recente é Escravidão, uma premiada Contactos
investigação em três volumes sobre o tráfico de escravos visao@visao.pt
As cartas devem ter um máximo
de África para o Brasil. de 60 palavras e conter nome,
Mitos e realidades sobre a figura de D. Pedro cruzam- morada e telefone. A revista
-se neste texto imperdível de Laurentino Gomes, que reserva-se o direito
nos fala, também, da polémica viagem do coração do de selecionar os trechos que
monarca/imperador através do Atlântico neste ano da considerar mais importantes.
graça de 2022, depois de um “pedido, precipitado e de Morada
última hora, feito pelo governo do Presidente Jair Bol- CORREIO: Rua da Fonte da
REGRESSO À ESCOLA
sonaro”. Quis o destino que estas comemorações acon- Truques para Caspolima – Quinta da Fonte,
tecessem em plena campanha eleitoral para a Presidên- escrever sem erros
Edifício Fernão Magalhães, 8,
cia do Brasil. Que lugar ocupará a memória de D. Pedro, 2770-190 Paço de Arcos
e o seu coração, nessa disputa? visao@visao.pt
www.worldpressphoto.org
#wppoeiras2022
STRATEGIC PARTNERS
MAPEADOR
Mia
Q
Couto uem te escreve é o teu único fi- viaturas que se perderam dos respetivos
lho. Cheguei ontem à tua cidade donos, nessas ocorrências a que erronea-
e pensei: “Vou-me já apresen- mente chamam “furto”. Como diz o chefe
tar em casa da minha mãe.” Há dos mecânicos: é muito ténue a diferença
muito que sonhava por entre transições e transações. As mãos do
este momento: corria para os pai fazem com essas viaturas o que fize-
teus braços cansados e tu abraçavas-me ram comigo: apagam-lhes a alma, empres-
com força, porque não há cansaço para tam-lhes um novo corpo e depois colo-
quem acolhe um filho. cam-lhe uma falsa matrícula.
Depois, contive-me: o melhor seria O pai não pode saber das minhas con-
escrever primeiro uma carta e poupar-te fissões. A saudade é coisa de mulher. E é
ao embaraço de não me reconheceres. Não coisa de louco sentir falta de quem não se
sabes sequer o meu nome. É um privilégio conheceu. Mas agora sei a minha história.
— Escritor
teu, mãe. Quantas mães há neste mundo Com medo de que essas saudades cresces-
que não sabem como o filho se chama? O sem, o pai resolveu revelar o seu passado,
nome que me deste ficou fechado dentro sabendo que o passado de um pai é meio
de ti. Mas teremos tempo, amanhã, para futuro do filho.
que mo digas ao ouvido, como se fosse um Não eram casados, vocês os dois. O pai
segredo só nosso. fugiu assim que soube que te tinha engra-
Conto-te um pouco da minha histó- vidado. Veio à cidade apenas para assis-
ria. Amanhã ouvirás o resto. Chamo-me tir ao meu parto. Ficou na sala de espera
Joaquim José Joaquim. José vem do pai. torcendo as mãos. Com essas mãos me
Esse duplo Joaquim foi ideia do pai para levou poucas horas depois de eu ter nasci-
me afastar da minha origem africana. Para do. Embrulhou-me num pano e levou-me
os meus amigos o nome não prestava. A do hospital como se o edifício estivesse
gente do meu bairro tem um nome como em chamas. Era ele que ardia, por dentro.
quem traz um amuleto no peito, para Deitou-me por entre as peças, chapas,
meter medo. E foi assim que de Joaquim tubos de escape e as ferramentas da sua
os meus companheiros me rebatizaram oficina. O barulho dos motores abafou o
Djei Kim. Nome de DJ, nome de kung- meu choro. E o fumo dos carros encheu-
-fu, nome de chefe de quadrilha. Djei Kim -me o peito e reconfortou-me, como essas
dava medo: americano, da parte do Djei; doenças que nos dão sono.
chinês, da parte do Kim. Nesse mesmo dia, as mãos nervosas
Tinha um nome, faltava-me uma car- do meu pai, cuidadosas mas sem carícia,
reira. No meu bairro todos têm a mesma embrulharam-me em novos panos, pas-
carreira. Uma carreira congénita, uma saram-me para um novo colo onde pela
ruína vitalícia. Empresários é o que todos primeira vez havia um seio. Esfreguei o
somos lá no bairro e nenhum de nós tem rosto nele, a fome era tanta e tão nova que
empresa. Empresários por conta impró- eu não sabia onde estava a minha boca.
O pai não pria. No nosso caso, meu e do pai, temos Suguei como quem sorvia o universo. De-
pode saber uma oficina de automóveis. A nossa ofici- pois, levaram-me.
das minhas na é parecida com a vida. Por fora, engana;
por dentro, mente.
Esses que me levaram cumpriam um
contrato. Ficavam comigo até eu saber
confissões. Podes ter orgulho no teu filho. A gaveta onde estava a minha boca. E aprendi cedo:
A saudade do meu armário não guarda o meu bole- a boca era onde me faziam calar. Nem
tim de nascimento, mas guarda objetos choro nem palavra. Quem chora, pede.
é coisa mais valiosos: a minha pistola, uma meia Quem fala, oferece. E os que me adota-
de mulher. dúzia de matrículas de carro e revistas ram não queriam dar nem receber. Eu
ILUSTRAÇÃO DE SUSA MONTEIRO
Um Governo
com o passo trocado
Rui
A
Tavares maioria absoluta, conquistada no continuam à espera desse Governo, um que
Guedes início do ano, parece ter dado a seja mesmo capaz de resolver problemas e de
António Costa uma falsa ilusão: a criar oportunidades.
de que, sem oposição, ele passava A demissão de Marta Temido, prontamen-
a ser dono e senhor do tempo, te aceite, é uma prova de reconhecimento de
sem ter de se preocupar com a velocidade quem não tem conseguido resolver os pro-
com que a realidade mudava à sua volta. Par- blemas de um setor que está autenticamente
tiu do princípio de que o exame final à sua a rebentar pelas costuras e cujas debilidades,
governação só será feito daqui a quatro anos ao longo de todos os meses de verão, mais
e de que, portanto, nunca iria precisar de contribuíram para o alarme e o descrédito do
acelerar o passo de corrida para responder às Estado junto da opinião pública. Da mesma
emergências que vão surgindo. Bastava-lhe, forma, a contínua indecisão sobre a locali-
sim, manter a passada ligeira habitual, por- zação do novo aeroporto de Lisboa – ape-
— Diretor-executivo
que a meta não está ao virar de cada curva, sar da iniciativa tremendista de Pedro Nuno
mas lá para as calendas de 2026. Santos... –, o qual chegou a ser considerado
O problema é que o mundo e a vida dos um assunto urgente, constitui um reflexo
portugueses têm mudado a um ritmo muito inquestionável da incapacidade gritante do
mais rápido, nos últimos tempos, do que Governo para avançar com medidas que vão
a passada do Governo. Ao insistir em não um pouco mais além da gestão corrente. E
mudar o seu ritmo perante todos os pro- agora que já se percebeu que a inflação não
blemas que vão aparecendo, António Costa é “passageira” ou tão “temporária” quanto
conseguiu a proeza de, em apenas cinco me- o ministro das Finanças Fernando Medina
ses, desacertar o passo com o resto do País. desejava – e afirmava – quando tomou posse,
Em todas as pequenas e grandes crises que continuamos também ainda à espera de um
surgiram, a resposta do Governo foi sem- verdadeiro plano de combate ao aumento do
pre a mesma, como se fizesse parte de um custo de vida, ao contrário do que já sucede
guião que permanece imutável, apesar de os em muitos outros países europeus.
resultados continuarem a ser invariavelmen- O mais preocupante, no meio disto tudo, é
te insatisfatórios: garantir que acompanha que nunca como nestes tempos foi tão preci-
a situação, criar um grupo de trabalho para so um Governo capaz de resolver problemas.
avaliar o impacto do problema e, por norma, A situação internacional é a mais grave das
anunciar que está a ser preparada legislação últimas décadas, e avolumam-se os avisos de
que permitirá uma qualquer solução, num um inverno difícil, devido à crise energética,
futuro que ninguém consegue perceber se e da mais que inevitável recessão na Euro-
Ao insistir será próximo ou longínquo.
Essa postura tem sido acompanhada,
pa, onde os motores das locomotivas alemã,
francesa e italiana estão em risco de gripar.
em não na maior parte dos casos, por dois tipos de Adivinham-se, por isso, tempos excecio-
mudar o seu comportamento muito vincados na comu- nais e difíceis. Tempos que vão exigir res-
nicação do Governo. Por um lado, um estilo ponsabilidades acrescidas a quem governa.
ritmo perante paternalista, do género “não se preocupem Perante essa realidade, o Governo necessita
os problemas porque estamos a tratar do assunto”, mas de criar uma relação de maior transparência
que vão sem avançar medidas concretas e que se
percebam ser realizáveis; por outro, um tom
com quem lhe deu a maioria absoluta. Não
pode menosprezar os sinais de alarme ou
aparecendo, mais ou menos fatalista, a apelar à paciência fingir que eles não existem. Precisa, sim, de
António Costa e à compreensão dos portugueses, porque o informar com clareza quanto aos perigos e,
problema “é estrutural”, a “culpa” mora muito sem demoras, apresentar as soluções para
conseguiu lá atrás e a solução não pode ser encontrada os resolver.
a proeza de, tão depressa quanto todos desejariam. Em cinco meses, António Costa desperdi-
em apenas “Os portugueses esperam um Governo çou o élan da maioria absoluta e, em simul-
que resolva problemas e crie oportunida- tâneo, viu desaparecer a aura que existia em
cinco meses, des”, disse António Costa no seu discurso de cada um dos alegados sucessores que cha-
desacertar tomada de posse, a 30 de março. O primeiro- mou para o executivo. Ainda tem, no entanto,
-ministro podia repetir a mesma frase agora, quatro anos para corrigir o seu ritmo – ou
o passo com mas com uma nuance importante: assumin- então para continuar a insistir no passo tro-
o resto do País do, humildemente, que os portugueses ainda cado com a realidade do País. rguedes@visao.pt
7
JOSÉ CARLOS CARVALHO
Borrões maiores do que a folha
Um mata-borrão, utilizado noutros tempos morte da grávida transferida de Santa Maria,
pelos escritores e ainda hoje nas artes grá- num quadro de pré-eclâmpsia grave – depois
ficas, tem uma função essencial: absorver os de os enfermeiros de neonatologia do maior
enganos, de forma a limpar, ou pelo menos hospital do País terem pedido, no início de
disfarçar, uma situação desastrosa. Os ma- agosto, escusa de responsabilidade por falta
ta-borrões valem ouro na hora de camuflar de condições naquele serviço –, foi apenas a
PONTOS disparates e podem salvar a obra. última gota de tinta que aterrou num papel já
DA SEMANA A alcunha que Marcelo Rebelo de Sousa co-
locou a António Costa foi certeira. Com a sua
ensopado de polémicas e descoordenações
na prestação de cuidados médicos urgentes.
habilidade e experiência política, e com a au- António Costa terá percebido que não havia
toridade reforçada pela maioria absoluta con- mais como segurar uma ministra caída em
seguida em janeiro, o primeiro-ministro tem desgraça, que já tinha sido, em tempos, a mais
conseguido sugar as sucessivas crises, casos e popular do governo e até incluída na lista de
polémicas em que o seu governo tem estado possíveis sucessores do secretário-geral do
envolvido, desde a tomada de posse, a 30 de partido. E entendeu que, deixando-a sair,
março. Mas mesmo os melhores mata-borrões cortava um mal pela raiz e acalmava os ânimos
gastam-se – perdem a força e a capacidade dos que pediam responsabilidades políticas.
de absorção. E há borrões, de tão evidentes, Porém, deitada fora a página deste borrão, os
que não são passíveis de ser camuflados. São, problemas na máquina continuam. A suces-
simplesmente, uma nódoa. são de casos em áreas-chave, desde início de
A demissão de Marta Temido foi uma dessas abril, de um Governo que nunca viveu esta-
manchas – o culminar de um período horri- do de graça é esclarecedora: foi o imbróglio
bilis de cinco meses para o Governo. Fazia-se Pedro Nuno Santos e o anúncio falhado do
M A FA L D A A N J O S *
adivinhar há vários meses, ficou clara pelo aeroporto; foi a polémica da contratação de
menos desde o debate de política geral a 30 Sérgio Figueiredo por Fernando Medina; foi a
de junho, no Parlamento. O tom de António enorme área ardida, com mais de 1% do terri-
Costa não foi o de um primeiro-ministro com tório consumido pelos fogos, neste verão; foi a
confiança absoluta na ministra, mas apenas o revolta do Porto no dossier da descentraliza-
de alguém que está, taticamente, a tentar gerir ção; foram as declarações infelizes da ministra
a crise num executivo desfocado, descoorde- da Agricultura a confundir Estado e partido;
nado e com muitos fogos para apagar. foi a transferência dos Gabinetes da Europol
A situação na Saúde, como aqui escrevi, era e Interpol da Polícia Judiciária para o Sistema
uma tragédia anunciada. E era anunciada de Segurança Interna, na tutela do primeiro-
porque Marta Temido nunca percebeu que a -ministro, pondo em causa a separação de
estratégia que usou durante a imprevisibilida- poderes; foram as ausências permanentes de
de da crise pandémica – pedir mais um esforço Costa, chamado a resolver questões europeias.
sobre-humano às equipas e contar com a tole- A descoordenação, atenuada pelo conforto dos
rância dos portugueses para com as falhas do resultados eleitorais, começa a ser demasiado
sistema – de nada lhe valeria no rescaldo e no gritante e demasiado insustentável, mesmo
regresso à normalidade. Saiu-se bem na gestão dentro do Partido Socialista. E o Presidente da
de crise, mas falhou na gestão do regresso ao República foi dando sinais, durante o verão,
dia a dia. E nunca percebeu que o novo estado de que está atento e não deixará passar tudo.
de coisas era mais complicado do que o “velho Cabe agora a António Costa, na rentrée, provar
normal”, com as equipas esgotadas e, sobretu- que é mais do que um mata-borrão e fazer o
do, sem perspetivas de melhoria de carreira e que se espera de um primeiro-ministro: pôr
*Diretora de condições. O SNS está em agonia, e Marta ordem na casa e evitar mais conspurcações e
manjos@visao.pt Temido, toldada por dogmas ideológicos e asneiras. Não há maioria absoluta que valha
boas intenções, não conseguiu ver isso. A se os erros se sucederem a esta velocidade.
ENERGIA UCRÂNIA
sua empregada
doméstica viu.
Ela viu que
podia almoçar
e jantar todo
o santo dia,
GETTY IMAGES
SAÚDE
e que o seu filho
podia entrar na Caem, por fim,
as máscaras
ÁFRICA universidade.
Angola fragilizada com crise Os pobres neste Foram um símbolo do
pós-eleições país cresceram combate à pandemia e das
medidas restritivas impostas
Os resultados definitivos das eleições em Angola
deram a vitória, mais uma vez, ao MPLA, com 51%
e conquistaram às populações. Quase 30
meses depois de terem sido
dos votos, contra os 44% conseguidos pela UNITA. a cidadania” impostas em Portugal, como
A frágil democracia angolana está em suspenso: o instrumento de controlo da
partido derrotado anunciou, na terça-feira, que vai LULA DA SILVA, durante propagação da pandemia,
entregar uma reclamação com efeitos suspensivos o primeiro debate com as máscaras deixaram de ser
acerca dos resultados das eleições anunciados pela todos os candidatos obrigatórias nos transportes
à Presidência
Comissão Nacional Eleitoral, que proclamaram a públicos, nas farmácias e nos
da República brasileira
vitória do partido liderado pelo atual Presidente, João aviões, onde o seu uso ainda
Lourenço. Daqui para a frente, protestos e tumultos era mandatório, mantendo-
não são de pôr de parte, sobretudo na capital, se apenas nas unidades de
Luanda, onde a UNITA foi o partido mais votado. saúde e nos lares de idosos.
Serena Williams
A despedida da rainha
Palmarés Despedida...
único A poucas semanas serena
Naquilo a que, no O anúncio da
ténis, se chama de completar 41 anos, despedida surgiu
a Era Open – aquela que é por na última edição
teve início em da revista Vogue,
1968, com a muitos considerada para a qual a
Últimas
profissionalização a melhor tenista Bom exemplo
tenista posou em
dos quatro mais um ensaio
partidas maiores torneios de sempre diz adeus e mau feitio de moda – que
A discussão é mundiais –, aos courts, no US A meteórica carreira poderá ser um
interminável e, ninguém venceu de Serena Williams dos seus próximos
provavelmente, mais do que Open, o mesmo em e também a da sua interesses: “Chega
inconclusiva. Serena. Ao todo, que obteve a primeira inseparável irmã uma altura na vida
Quem é a melhor a norte-americana Venus tiveram o em que temos
tenista mundial conta com 23 grande vitória condão de servir de decidir seguir
de sempre? vitórias individuais de uma carreira de exemplo nos numa direção
Desportistas como em torneios Grand Estados Unidos da diferente. Essa
Margaret Court, Slam (seis no extraordinária América e em todo altura nunca é fácil
Martina Navratilova, US Open, sete o mundo. O facto de quando se gosta
Chris Evert ou em Wimbledon, — POR MANUEL BARROS serem as primeiras tanto de algo.
Steffi Graf fizeram três em Roland MOURA mulheres negras a E, meu Deus, como
história. Mas Garros e sete ter sucesso num eu gosto
g de ténis...
muitos garantem na Austrália). desporto altamente Mas a contagem
que nenhuma Em pares, elitista mostrou a decrescente
dec
se compara a venceu 14 vezes milhões de crianças, começou. Tenho
com
Serena Williams, a nas mesmas não apenas negras de me
m focar em
força da Natureza competições. mas a todas as que ser mãe, nos
que dominou o Foi número 1 do vivem em situações meus objetivos
meu
ténis feminino ranking mundial desfavorecidas, que espirituais e em
esp
nas primeiras durante 319 é possível vencer descobrir algo
des
décadas do século semanas na vida. E Serena diferente.” E
dife
XXI, depois de, e conquistou sempre abraçou assim chega ao
assi
em 1999, com quatro essa luta, mesmo fim uma era do
apenas 17 anos, medalhas que, por vezes, desporto mundial,
des
ter vencido, pela de ouro o seu mau feitio profundamente
prof
primeira vez, o em Jogos em campo falasse marcada por
mar
Open dos Estados Olímpicos: mais alto, como esta mulher,
Unidos da América. uma bem se devem que alcançou o
Curiosamente, o sozinha, lembrar, entre tantos topo depois de
top
mesmo torneio que em Londres outros, os árbitros uma luta tenaz,
teve início na última 2012, e portugueses sempre a par da
sem
segunda-feira, 29, outras trêss Mariana Alves e irmã e fortemente
e que a tenista com a irmã, Carlos Ramos, que impulsionada pela
imp
norte-americana, também em sentiram a fúria da família, sobretudo
fam
a poucas semanas Londres 2012, tenista no US Open pelo pai, Richard
de completar 41 Pequim 2008 de 2004 e 2018, Williams, uma
Will
anos de idade e Sydney respetivamente. figura controversa,
figu
(26 de setembro), 2000. Em que as treinou
anunciou ser o 2021, a Forbes desde muito cedo
des
último da sua apontou-a e que
qu ajudou,
carreira. Competirá como a mulher indubitavelmente,
indu
na prova individual mais bem a moldar
m a fibra
e na de pares, ao paga da da rainha
r do ténis.
lado, como sempre, história do
da sua irmã Venus, desporto.
dois anos mais
velha.
Os meios de transporte são responsáveis por uma larga fatia das emissões de dióxido de carbono
e demais gases com efeito de estufa. Com os dados que aqui mostramos, cada um pode começar a escolher
como se deslocar, por forma a reduzir a sua pegada ecológica
474,2 MIL
Comboios 6g
internacionais 631 MIL
EUA
VENDAS DE CARROS 696 MIL
ALEMANHA
COM BATERIA VS.
AUTOMÓVEIS HÍBRIDOS Na China, há centenas
327 MIL
REINO UNIDO
2011- 2021 de empresas 322 MIL
comercializadoras FRANÇA
71% 29% de carros elétricos 154 MIL
e quase 300 modelos NORUEGA
Bateria Híbridos disponíveis no mercado 313 MIL
Resto do mundo
828 MIL
Resto da Europa
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
FONTE Departamento do Reino Unido para Negócios, Energia e Estratégia Industrial, World in Data, Agência Internacional de Energia e Visual Capitalist MT/VISÃO
Ingénuos colaboracionistas
CORRETO
e a razão
Pedro
A
Marques guerra que nunca ia ser desenca-
deada, apesar de ter sido de facto
jugar e viveremos melhor. Digamos que não
há aqui grande lógica.
Lopes declarada em 2014, aquela que Não ignoro a capacidade que as dificul-
tinha sido, várias vezes, anunciada dades têm para levar as pessoas a esquece-
em textos e entrevistas de Putin rem valores essenciais. Mas, repito, as mui
e dos seus ideólogos, mas que muita gente circunspetas análises que juram movimentos
jurava que nunca iria acontecer, já leva mais que provocarão o reforço de forças antiliberais
de seis meses. e fortes convulsões sociais parecem dema-
A vidinha vai nublando a realidade, já se siadas vezes desejos. Logo porque muitas das
sabe, mas nem essas nuvens a conseguem es- pessoas que as repetem incessantemente são
conder nem, sobretudo, quem a compreende as mesmas que continuam a garantir-nos que
como decisiva para que prevaleça um império a culpa de haver guerra é da NATO, dos nor-
autocrático, que pretende destruir as demo- te-americanos, que a Ucrânia está infestada
cracias e todos os valores que levaram milha- de nazis e por isso, pronto, que se lixem os
— Analista político
res de anos a conquistar, pode deixar que a ucranianos, pois é preciso haver paz. Aqueles
escondam. apelos à paz que são feitos como se diz que
Vem aí o inverno, e está prometido muito é melhor comer bem do que passar fome ou
descontentamento. As sanções que o mun- estar aquecido quando há frio.
do livre impôs à Rússia trazem consequên- É, aliás, espantoso que as mesmas pessoas
cias nefastas para a sua gente: recursos que que estão sempre a bater no peito pela defesa
podiam ser canalizados para o bem-estar dos das mais amplas liberdades sejam as primeiras
povos vão para as indústrias especializadas em a relativizar a ação de uma ditadura em que
matar, e a energia de que dependemos enca- nenhuma das liberdades que defendem existe.
rece todos os bens. Agora que já passaram seis meses e todas
Tudo isto traz problemas graves às demo- as mentiras de desnazificação, de geoestraté-
cracias e poucos ou nenhuns às ditaduras. gias e outras que tais morreram, e ficou a sim-
Na Rússia, quem disser que há uma guerra ples verdade de que Putin quer só acrescentar
arrisca-se a ir para a prisão e a que o carce- território não hesitando em matar e destruir,
reiro perca a chave, mas nas democracias, e que fique tudo claro e os que se escondem por
muito bem, pode-se dizer que Putin está a detrás de falácias, meias-verdades e relativis-
desnazificar a Ucrânia sem que uma só pessoa mos digam claramente que querem a rendição
lhe aponte o dedo por ser colaboracionista de da Ucrânia ou, pelo menos, que seja entregue
um torcionário; nas ditaduras, a contestação à Rússia grande parte do território ucraniano.
trata-se com baionetas e campos de concen- É provável que uma parte importante des-
tração; nas democracias liberais, podemos tes amantes da paz do tipo “abaixo o assas-
protestar e mudar de governo por as nossas sínio de pombas” ou supostos pragmáticos
comodidades diminuírem mesmo que a res- acredite que legitimar a invasão dum país
Não é só o ponsabilidade por isso acontecer seja de um ajude à verdadeira paz. Vamos tentar acreditar
otimismo que ditador distante. nisso, já que o contrário seria demasiado pe-
Não há quem não saiba disto, ouço o es- noso. Mas pensar que alguém pode acreditar
me faz pensar timado leitor pensar. Talvez, mas, no país em que uma potência declaradamente imperialis-
que os povos que vivo, vejo, sobre as convulsões sociais que ta, cuja única força é a das armas, parará a sua
do mundo livre se jura irem acontecer, demasiadas previsões
que mais parecem desejos. Garantem-nos
expansão está para lá da ingenuidade; pensar
que há entre os nossos irmãos quem ache bem
vão continuar que a provável crise económica encaminhar- sacrificar um povo inteiro em razão de algum
a resistir, -nos-á para o abismo das extremas-direitas bem-estar está para lá do egoísmo; pensar que
que pululam por toda a Europa. A intenção é pactuar agora com um ditador como Putin
é sobretudo até transparente: querem levar-nos a pensar não trará muitos mais sacrifícios num futuro
a minha que, se forçarmos a Ucrânia a deixar de existir próximo é só uma criminosa estupidez.
crença de que e a ser esmagada pela Rússia, conseguiremos
segurar a mesma extrema-direita dentro das
Não é só o otimismo que me faz pensar
que os povos do mundo livre vão continuar
não se perdeu nossas portas e a prosperidade chegará. Ou a resistir, a apoiar de todas as formas o povo
a mais básica seja, sacrificamos a Ucrânia a um país impe- ucraniano, e que estarão dispostos a sacrifí-
rialista e subjugado à mais feroz extrema-di- cios, é sobretudo a minha crença de que não
racionalidade reita para nos livrarmos da extrema-direita se perdeu a mais básica racionalidade e a de-
e a decência aqui, e reforcemos assim quem nos quer sub- cência. visao@visao.pt
Rentrée
Partidos regressam
de férias entre
crises, com PS
e PSD a esgrimirem
planos para
o presente
— P O R J O Ã O A M A R A L S A N TO S
O
s corredores e salas season –, como a contra-
da Assembleia da tação (revertida) de Sérgio
República voltam Figueiredo como consultor
a ganhar vida já na do Ministério das Finan-
próxima quarta-feira, 6 de ças, pela “mão” de Fernando
setembro. Até lá, como todos Medina, ou a transferência
os anos, a política partidária dos gabinetes da Europol e da
continua a ser ensaiada em Interpol em território por-
digressão de norte a sul do tuguês da PJ para o Sistema
País, nas tradicionais inicia- de Segurança Interna, sob a
tivas de verão, que colocam tutela do primeiro-ministro,
em cima da mesa os temas são outros dos temas que
que prometem vir a marcar prometem “aquecer” o debate
a agenda mediática neste político após o verão. que decorre no Mercado de
regresso de férias. E assuntos Talvez à espera de co- Sant’Ana, em Leiria, momen-
não vão faltar... nhecer as opiniões de toda a to que antecede as jornadas
Em tempos de guerra na oposição em relação a estas parlamentares do partido,
Europa, a inflação e a crise matérias, o PS decidiu agen- agendadas entre os dias 11 e
energética e dos combustí- dar o regresso das férias para 13 de setembro no mesmo
veis, sentidas nos bolsos dos mais tarde. Assim, a rentrée distrito.
portugueses, prometem con- do partido do Governo será Será, provavelmente, este
tinuar a dominar os discursos a última a ter lugar, entre os o momento escolhido por
da rentrée política nacional. dias 7 e 11 de setembro, na António Costa para divulgar,
A seca e os incêndios em Por- Batalha, distrito de Leiria. Inflação, crise mais em pormenor, o “pacote
tugal, que, durante os meses Durante cinco dias, o PS or- na energia e nos de medidas” prometido no
mais quentes, marcaram o
quotidiano noticioso, tam-
ganiza a Academia Socialista,
descrita pelo partido como
combustíveis, passado mês de julho com
vista a proteger e a apoiar
bém têm espaço assegurado uma “iniciativa de formação e seca e incêndios, as famílias e empresas face
nesta agenda. Tal como os reflexão política para jovens”, demissão à inflação, agravada com o
problemas vividos no seio do que consiste em “vários dias prolongamento do conflito
Serviço Nacional de Saúde, de palestras e workshops de Temido, na Ucrânia.
com a substituição da minis- sobre temas da atualidade dossier “Sérgio
MONTENEGRO AVANÇA
tra Marta Temido à cabeça;
ou ainda os desafios que sur-
política e estruturantes para
o desenvolvimento do País”.
Figueiredo”, SNS COM PROPOSTAS
gem com o início de um novo No último dia desta iniciativa, e novo ano letivo. As medidas do Executivo
ano letivo. será a vez de o secretário- A lista de temas para combater a crise (e as
Outras polémicas em -geral do PS e primeiro-mi- outras questões referidas
torno do Governo – e que nistro, António Costa, entrar no regresso das acima) chegam, porém, de-
animaram a (preenchida) silly em cena, com um discurso férias é extensa pois de o principal partido da
Bernardo
D
Pires epois de oito anos a seguirmos roteiro entre as partes, o tal que ninguém se
de Lima à distância os efeitos da anexa- atreve a calendarizar, mas que quase todos
ção da Crimeia, os últimos seis querem que aconteça.
meses aproximaram-nos, com A verdade é que a maioria dos países quer
estrondo, da agressividade rus- o fim do conflito para ontem, na expectati-
sa. Pondo as coisas de outra forma, este meio va de que diminuam rapidamente a pressão
ano afastou-nos de uma ideia de insegurança inflacionista e as tensões sociais. Neste grupo
longínqua e aparentemente condicionada no estão convictamente África, a América Latina
modo e no espaço, para nos acercar de uma e praticamente todo o Indo-Pacífico que não
real ameaça extensível nos meios, no territó- beneficia com a economia de guerra (China e
rio, na destruição humana e na brutalidade Índia, por via das importações com descon-
dos resultados que diariamente sentimos. to de energia russa) ou se encontra alinhado
Não custa por isto aceitar que toda a política com os EUA e a UE no G7 (caso do Japão). No
— Analista de política
é, inexoravelmente, internacional. centro destes países desligados do momen-
internacional
Ao longo deste semestre, passámos por al- to-fronteira para a democracia com que na
gumas etapas no conflito. A primeira, presen- Europa temos definido esta guerra, estão os
NORTE te no primeiro mês, expôs a tentativa falhada BRICS, com os quais Moscovo tem afina-
Um possível adiamento de operar uma guerra-relâmpago sobre Kiev, do relações e sobre os quais tem reforçado
do fecho das três centrais capaz de vergar o regime para o substituir influência. Por tudo isto se percebe que Putin
nucleares alemãs reabriu por um fantoche de tipo Bielorrússia. Para o está longe de estar isolado no mundo e que
o debate na coligação e Kremlin, isto teria um duplo significado: re- em muitas dimensões é acompanhado na
na opinião pública. Porém, velava toda a fragilidade da apregoada inexis- disputa que agressivamente faz à ordem de-
alguns peritos apontam para
tência do Estado ucraniano e mostrava, para mocrática.
uma poupança no consumo
consumo interno, a impreparação euro-ame- Se olharmos para o conflito como o pro-
de gás de apenas 2% a 4%.
ricana para travar a ambição russa. Esta etapa longamento militar de uma doutrina política
SUL
acabou por ser um estrondoso falhanço para com adeptos no mundo e alguns condescen-
O MPLA perdeu um milhão Putin: Kiev resistiu com meios e patriotismo, dentes no espaço euro-atlântico – retrato
de votos em cinco anos. A as instituições ucranianas fortaleceram-se e já possível de tirar ao fim de seis meses –, e
UNITA teve mais um milhão o Ocidente definiu um roteiro conjunto, que antevendo o agravamento das economias e
e venceu na província de resiste até hoje. das tensões sociais nas democracias, ou nas
Luanda com o dobro dos A segunda etapa percorreu os meses de sociedades mais frágeis e em risco crónico,
votos do MPLA. 65% dos abril a julho, dispersando ataques russos estamos seguramente a entrar num outro
angolanos têm menos de pelo território, até se concentrarem na semestre, definido pela paciência estratégi-
25 anos, 60% destes estão expansão da área controlada no Donbass e ca ocidental e pela ultrapassagem de testes
desempregados. na orla sul costeira. A destruição e a crise de stresse vitais à consolidação do seu papel
humanitária causadas acabaram por cris- no conflito (legislativas italianas, intercalares
ESTE talizar o conflito geograficamente e ilustrar americanas, coesão no governo alemão, rela-
Dos 20 maiores portos do a tipologia de armamento utilizado. Além ção franco-britânica, mobilização de apoios
mundo, 13 ficam na Ásia, sete disso, focou o esforço internacional nas militares e financeiros à Ucrânia). Se optar-
deles na China. EUA e Europa dimensões humanitária e alimentar, permi- mos por alinhar com a pressa do resto do
têm três cada e os Emirados tindo que o apoio militar à Ucrânia pudesse mundo numa paz podre, que possa eventual-
um. Mais “autonomia fazer-se com mais previsibilidade. Será este mente desanuviar a economia mundial, esta-
estratégica” europeia também a definir, no tempo e no modo, o nível de remos a aceitar o modus operandi de Putin e
implica apostar nestas
resistência e contra-ataque ucraniano nos a reconhecer a nossa incapacidade em definir
infraestruturas estratégicas.
próximos meses. os termos da segurança futura na Europa. Se
OESTE
A terceira etapa é a que vivemos desde optarmos por gerir conjuntamente, com mais
Liz Cheney, a única que o início de agosto testemunhou ataques meios e apoio duradouro, a reconquista da
republicana no comité ucranianos a alvos russos na Crimeia. Isto soberania total ucraniana, estaremos a defi-
que investiga a invasão ao prova uma capacidade militar mais sofisti- nir o estatuto da Europa na geopolítica das
Capitólio, perdeu as primárias cada e condições políticas mais confiantes. próximas décadas, derrotando novamente o
do Wyoming para uma fiel Tal não significa que o caminho seja de recuo autoritarismo e levantando a cabeça com a
de Trump, opondo-se a russo, como exige Kiev, mas sim que o qua- dignidade que precisamos de ter.
tudo o que este provoca na dro do conflito é mais equilibrado do que se Não estou certo sobre o caminho que to-
degeneração da democracia suspeitava. Será, certamente, a sua evolução maremos, mas não tenho dúvidas sobre qual
americana. a definir os termos políticos de um qualquer é o certo modus operandi. visao@visao.pt
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5 DE SETEMBRO DE 1972
Massacre de Munique
Ficou para a História como o maior atentado terrorista de sempre a afetar
um grande evento desportivo e como um marco na longa história da luta
israelo-palestiniana. Na madrugada de 5 de setembro de 1972, enquanto
decorriam os Jogos Olímpicos de Munique, um comando de terroristas da
Organização Setembro Negro, fação da Organização para a Libertação da
Palestina (OLP), invadiu o edifício onde se encontrava parte da delegação
de Israel. Em pouco tempo, os oito terroristas abateram duas pessoas e
fizeram nove reféns. As autoridades alemãs recusaram a Israel a hipótese
de enviar forças especiais para tentar resolver a situação. Preferiram mon-
tar uma emboscada, na tentativa de capturar os terroristas quando estes
entrassem num avião que lhes fora cedido para fugir e os esperava na base
militar de Fürstenfeldbruck, para onde todo o grupo, terroristas e reféns,
foi transportado de helicóptero. Quando se aperceberam da armadilha, os
sequestradores começaram a matar reféns e a fazer explodir os helicópte-
ros. Na troca de tiros, morreram os nove israelitas, cinco terroristas e um
polícia alemão. Apenas três elementos do comando foram capturados.
MORTES
Afonso Macedo
O DJ de música eletrónica,
promotor de eventos,
radialista, distribuidor e
gerente de lojas de discos
morreu na madrugada
de sábado, 27, vítima de
ataque cardíaco fulminante
durante as férias no Alentejo.
Tinha 52 anos, era natural
de Coimbra, onde vivia, e
trabalhou desde a década de
1990 na indústria da música.
Privilegiando o techno e a
música house, era presença
habitual em festivais de
música eletrónica nacionais,
como o Neopop (em Viana
do Castelo), Forte (em
Montemor-o-Velho), Boom
(em Idanha-a-Nova) ou Les
Siestes Electroniques (na sua
cidade natal). Esteve ligado
aos coletivos Journeys,
Cosa Nostra e Put Some.
Recentemente, era presença
assídua no Sala 8, um espaço
de música eletrónica
em Coimbra. MTV VIDEO MUSIC AWARDS
Dois cancros
em simultâneo
levaram João à
sua maior prova
de vida: superar
a doença. Quase
seis anos depois,
e agora com 56,
ganhou a luta e
diz que é possível
domar o intruso
oncológico,
sobretudo num
órgão em que
costuma ser
sentença de morte
N
o dia 27 de abril de
2017, estava a jan-
tar com a família
e tive dor súbita
abdominal muito intensa.
Senti que algo de estranho
se passava, era uma dor fora
do comum. Fui ao hospital a
pensar que ia só passar por
lá. Acreditamos que domi-
namos tudo, estava no meio
de assuntos de trabalho por
resolver, como profissional
“Deram-me quatro
fígado, a vesícula e o pân-
creas. As segundas análi-
ses deram uma melhoria
no pâncreas. Nunca
estado avançado. Durante
a cirurgia para a remoção
desse intruso, descobriram
que o meu pâncreas não
Secos e molhados
O planeta está cada vez mais sujeito
a fenómenos climáticos extremos. A água
que falta de um lado cai copiosamente
do outro. A tragédia é igual para todos.
Tal como para aqueles que sofrem com
outra radicalização: a do clima político
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JAFFARABAD PAQUISTÃO
Dezenas de pessoas tentam salvar os seus pertences e atravessam
uma estrada inundada após fortes chuvas de monção na província
de Baluchistão, no domingo, 28. As monções deste ano são as mais
graves dos últimos 30 anos e já mataram mais de mil pessoas.
BAGDADE IRAQUE
Apoiantes do clérigo xiita
iraquiano Moqtada Sadr
invadiram a sede do governo,
em Bagdade, na segunda-
feira, 29, depois de o líder
ter anunciado a sua “retirada
definitiva” da cena política
no Iraque perante a crise
que o país árabe vive desde
as eleições de outubro de
2021. Para evitar distúrbios,
o exército viu-se forçado
a encerrar o local, onde
funciona o gabinete
do primeiro-ministro.
POR
LAURENTINO GOMES
Jornalista e escritor, autor de três livros
fundamentais sobre a História brasileira: 1808, 1822
e 1889. A sua obra mais recente é Escravidão – uma
investigação em três volumes sobre o tráfico de
escravos de África para o Brasil
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de D. Carlota Joaquina de 1831
Bourbon, nasce no quarto 1824 7 de abril – D. Pedro I abdica
Dom Quixote, do Paço Real 30 de abril – Golpe de da Coroa Imperial em favor
de Queluz, às 6h30 da 1817 Estado absolutista, liderado do seu filho, D. Pedro II, então
manhã. 6 de novembro – D. Pedro por D. Miguel que, logo a com apenas 5 anos, e adota o
casa-se no Rio de Janeiro seguir, é destituído dos seus título de duque de Bragança.
com D. Leopoldina Josefina cargos militares e enviado Em abril, deixa o Brasil e parte
Carolina, arquiduquesa de para o exílio, em Viena de para a Europa. Depois de uma
Áustria, que era a segunda Áustria. passagem por Londres, fixa a
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e inquisitivo, usando expressões como “eu lhe ordeno” todas as partidas. Pedro reagiu de forma desesperada
ou “execute literalmente”. Numa carta a João Severiano produzindo “uma cena de pessoas perversas em uma
Maciel da Costa, ministro do Império e futuro marquês das piores tavernas de arrabaldes”, segundo o relato
de Queluz, deu um conselho tipicamente brasileiro: “Não do viajante. Em seguida, tentou fazer bluff, mas, como
preciso de recomendar-lhe que faça muito espalhafato, continuava a perder, abandonou o jogo irritadíssimo.
indo aos Arsenais, Alfândegas, etc., etc.; já governou e São escassas ou imprecisas as informações sobre a sua
sabe muito bem como se engana o povo...” educação. Cartas e bilhetes hoje preservados nos arqui-
Mesmo nascido numa família real, mantinha negócios vos revelam domínio precário da língua portuguesa. Há
paralelos, alguns até mesquinhos, que não combinavam erros de ortografia, concordância e, em especial, de falta
com as altas responsabilidades da função de imperador. de pontuação. Os textos são às vezes chulos, mais dignos
Na juventude, D. João VI repreendeu-o ao descobrir que de um cavalariço do que de um príncipe. Os poemas que
o filho comprava cavalos comuns no Rio de Janeiro, os perpetrou eram medíocres. Ele próprio reconheceria as
marcava com o selo da Fazenda Real de Santa Cruz e os suas limitações ao escrever a Felisberto Caldeira Brant,
revendia por um preço muito maior para pessoas que então visconde de Barbacena: “Eu e o mano Miguel se-
queriam ostentar proximidade com a Corte. O inter- remos os últimos malcriados desta família.” Referia-se
mediário nas negociações era o barbeiro do palácio da ao irmão mais novo, igualmente tacanho nas letras e no
Quinta da Boa Vista, Plácido Pereira de Abreu, com quem comportamento. Preocupado com o que lia nas cartas do
o príncipe repartia os lucros. filho, D. João VI recomendou-lhe de Lisboa: “Quando
Robert Walsh relatou que Pedro se dedicava a vá- escreveres, lembra-te de que és um príncipe e que os teus
rias outras atividades lucrativas. Fabricava cachaça, escritos são vistos por todo mundo e deves ter cautela
comercializada nos botequins cariocas. Arrendava os não só no que dizes mas também no modo de te expli-
pastos da Real Fazenda para descanso do gado que cares.” Conselho que D. Pedro, obviamente, não levou
descia de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. Os seus em conta. Uma carta a José Bonifácio, em 1822, escrita
escravos cortavam o capim da fazenda e vendiam-no da cidade de Paraíba do Sul, Rio de Janeiro, começava
nas ruas da cidade. assim: “Nu em pelo, pego na pena para lhe participar
Gostava de jogar, mas era mau perdedor. O viajante que vamos bem.” Ou seja, o príncipe declarava estar nu
francês Jacques Arago contou ter sido convidado pelo enquanto escrevia.
imperador para uma partida de bilhar, quando estava
no Rio de Janeiro. Conhecedora do caráter impulsivo ANALFABETO COM GOSTO MUSICAL
do marido, a imperatriz Leopoldina aproximou-se do Tudo isso contribuiu para que Pedro passasse para a
francês, antes que o jogo começasse, e cochichou-lhe ao História como um soberano iletrado e sem educação.
pé do ouvido: “Deixe-o ganhar algumas partidas, meu “Dom Pedro era inteligente, voluntarioso, de uma assom-
marido é bastante colérico.” Arago, que era um excelente brosa versatilidade, instintivo, vivo, nervoso, decidido,
jogador, não lhe deu atenção e, em vez disso, ganhou corajoso, volúvel; mas a sua cultura literária, descurada
desde a infância, ficara incompleta e bárbara”, afirmou anos, antes ainda da fuga da Corte para o Rio de Janeiro.
o historiador português Luiz Norton. O seu biógrafo, Com o franciscano António da Arrábida aprendeu latim.
Octávio Tarquínio de Sousa, assegura, no entanto, que O cónego Renato Boiret ensinou-lhe francês. Estudou
essa imagem é distorcida. Segundo ele, embora não fosse inglês com Paulo Tilbury, capelão da Guarda Imperial,
um leitor assíduo e disciplinado, Pedro “leu mais do que e João Joyce, padre irlandês. Nas artes, teve como pro-
pretende inculcar a imagem de um semianalfabeto”. As fessor de pintura e desenho Domingos António de Se-
suas leituras incluiriam as obras do napolitano Gaeta- queira. Na música, sua educação foi bem mais esmerada,
no Filangieri e do franco-suíço Benjamin Constant de incluindo professores como os maestros e compositores
Rebeque, dois propagadores das novas ideias políticas Marcos António Portugal, José Maurício Nunes Garcia e
do começo do século XIX. Teria lido também as obras Sigismund Neukomm. Como resultado, a obra musical
de Voltaire. de D. Pedro ainda hoje surpreende os especialistas, com
Nesses livros, o príncipe pôde observar a mudança destaque para os acordes que compôs para o Hino da
dos tempos e os desafios que teria de enfrentar como Independência. Anos mais tarde, depois de abdicar do
rei e imperador. “O meu esposo, Deus nos valha, ama as trono brasileiro, em 1831, tornou-se amigo, em Paris,
novas ideias”, escreveu ao pai, o absolutista Francisco II, do compositor Rossini, que se dizia encantado com os
imperador da Áustria, uma assustada princesa Leopol- seus conhecimentos musicais.
dina, em junho de 1821.
Desde a mais tenra infância, a instrução de Pedro EXCESSIVO, EXAGERADO, DESMEDIDO
fora confiada a cinco padres. José Monteiro da Rocha, A sua vida privada foi intensa e tumultuada. Embora
jesuíta, ministrou-lhe as primeiras letras, entre os 6 e 9 não bebesse, gostava de farras, noitadas, amigos de má
reputação e, em especial, das mulheres. “O príncipe vive
rodeado de aventureiros”, relatou o barão Wenzel de
Mareschal, encarregado de negócios da Áustria no Rio
D. Pedro teve oito filhos, sete de Janeiro. O grande parceiro nas aventuras, públicas
e privadas, foi o português Francisco Gomes da Silva,
com Leopoldina e um com o Chalaça, uma das personagens mais memoráveis da
Amélia. Fora do casamento, História brasileira. Oito anos mais velho do que Pedro,
ex-seminarista, beberrão e bom tocador de viola, Chalaça
o número é lendário. era filho adotivo de um joalheiro que fugira com a família
real para o Brasil, em 1808. Tinha na Corte um protetor
Alguns cronistas chegaram influente, o roupeiro de D. João VI, Francisco Rufino de
a atribuir-lhe mais Sousa Lobato, o seu suposto pai biológico. Apesar da
alta proteção, em 1816 Chalaça foi expulso do palácio. O
de 120 rebentos ilegítimos motivo seria a desastrada tentativa de seduzir uma dama
Coração polémico
Escondido dos olhares públicos durante dé-
cadas, na Igreja de Nossa Senhora da Lapa,
no Porto, o coração de D. Pedro saltou de
repente para a ribalta e para a polémica,
nas celebrações dos 200 anos da Indepen-
dência do Brasil. Jair Bolsonaro pediu que
o coração fosse exposto em Brasília e Por-
tugal acedeu, com o presidente da câmara
do Porto, Rui Moreira, a encarregar-se pes-
soalmente da entrega, numa cerimónia no
Palácio do Planalto. Rui Moreira já anunciou
que, em breve, o coração ficará exposto ao
público, no Porto, de forma definitiva.
da nobreza que, ofendida, foi reclamar ao rei. Coube a D. com o imperador, levou uma surra do marido; um
Pedro tirá-lo do ostracismo e levá-lo de volta para a Cor- com Ana Steinhaussen Leão, mulher do bibliotecário
te, depois de o amigo o ter defendido numa briga de bar. da imperatriz Leopoldina; um com Adozinha Car-
A partir daí os dois tornaram-se inseparáveis parceiros neiro Leão, sobrinha de Fernando Carneiro Leão, um
de noitadas e de negócios obscuros. Chalaça era dono de dos supostos amantes de Carlota Joaquina; um com
vários locais de reputação também duvidosa, no centro Gertrudes Meireles de Vasconcelos; um com a mineira
da cidade, frequentados por prostitutas, vagabundos e Luísa Meireles, e mais um – o derradeiro, nascido em
marinheiros. E nessa condição se tornou o alcoviteiro 1832, já depois da abdicação do trono brasileiro – com
do príncipe nas suas escapadas sexuais. a freira Ana Augusta Peregrino Faleiro Toste, tocadora
Nos dois casamentos oficiais, D. Pedro teve oito fi- de sino no Convento da Esperança, na ilha Terceira, nos
lhos, sete com Leopoldina e um com Amélia. Fora do Açores. Também teria tido uma filha com uma negra
casamento, o número é lendário. Octávio Tarquínio de com 16 anos chamada Andresa dos Santos, serva do
Sousa assegura que, entre naturais e bastardos, teve Convento da Ajuda. Dois desses filhos bastardos foram
uma dúzia e meia de filhos. Alguns cronistas chegaram a batizados com o mesmo nome – Pedro de Alcântara
atribuir-lhe mais de 120 rebentos ilegítimos, cifra nunca Brasileiro. O primeiro, filho da marquesa de Santos,
comprovada mas não de todo impossível. Em menos de morreu em 27 de dezembro de 1825, com apenas dois
um ano, entre novembro de 1823 e agosto de 1824, teve dias; o segundo, filho de Clémence Saisset, nasceu no
três filhos, todos, obviamente, de mulheres diferentes: o dia 31 de agosto de 1829 e foi batizado em Paris como
primeiro, com Maria Benedita de Castro Canto e Melo, se fosse filho legítimo do marido traído.
futura baronesa de Sorocaba; o segundo, com a irmã As aventuras sexuais teriam começado muito cedo
dela, Domitila de Castro Canto e Melo, futura marquesa na adolescência, envolvendo “criaturas fáceis, serviçais
de Santos, e, por fim, o terceiro com a própria mulher, de dependências da Quinta da Boa Vista, raparigas dos
a imperatriz Leopoldina. Essa espantosa capacidade arredores, mulatinhas a quem lançava um olhar de
reprodutiva revela, nas palavras de Octávio Tarquínio, cobiça e logo o satisfaziam”, no dizer do biógrafo Oc-
um D. Pedro “excessivo, exagerado, desmedido (...) nas távio Tarquínio de Sousa. O primeiro caso que deixou
práticas amorosas, numa insaciável fome de mulher (...), vestígio foi com a dançarina francesa Noemi Valency.
numa lascívia quase sem pausa”. O historiador Alberto Rangel diz que, na verdade, Pe-
A lista conhecida dos bastardos inclui quatro com dro namorou simultaneamente duas irmãs francesas,
Domitila de Castro Canto e Melo, a marquesa de Santos; mas o romance ficou sério mesmo com Noemi. Ela
um com Maria Benedita, a baronesa de Sorocaba, irmã engravidou do príncipe quando as negociações em
de Domitila; um com a bailarina Noemi Valency, o seu Viena para o casamento com a princesa Leopoldina já
primeiro amor; um com a francesa Clémence Saisset, estavam bem avançadas. A inglesa Maria Graham re-
uma mulher casada que, por causa das suas ligações lata que D. Pedro estava tão perdidamente apaixonado
pela dançarina que se casou com ela em segredo, mas dência, os seus restos mortais chegaram a São Paulo e
a história teria um fim trágico. desfilaram sob o rufar de tambores em paradas milita-
Sob pressão da rainha Carlota Joaquina, Noemi concor- res, promovidas pela ditadura então no poder. Também
dou em romper com o romance e embarcar para o Recife, foi representado, no filme brasileiro Independência ou
acompanhada de um oficial francês e sob os cuidados do Morte, como um herói de porte marcial, sem vacilações
governador de Pernambuco, Luís do Rego Barreto. Incapaz ou defeitos, interpretado pelo ator Tarcísio Meira. Era a
de impedir a viagem, Pedro deu-lhe na despedida 12 contos moldura que lhe cabia naquele momento em que o go-
de réis, tomados de empréstimo a António Alves, traficante verno militar torturava presos políticos, propagandeava
de escravos., Noemi recebeu de D. João VI mais 11 contos o milagre económico e tentava dourar a pílula das dores
de réis, enxoval completo e vários presentes. A dançarina e dos sofrimentos nacionais. Em 2002, reapareceu na
deu à luz um menino, que morreu ainda recém-nascido. série O Quinto dos Infernos, da TV Globo, transfigu-
Transtornado, Pedro teria pedido ao governador que lhe rado em jovem boémio, farrista e mulherengo, na pele
enviasse o cadáver do filho mumificado. Guardada no gabi- do ator Marcos Pasquim. Era a imagem que lhe estava
nete do imperador, a macabra relíquia teria sido sepultada reservada numa fase de grandes transformações, em que
por ordem da regência em 1831, depois da abdicação do pela primeira vez um retirante nordestino, sindicalista e
trono e a volta de D. Pedro a Portugal. metalúrgico chegava ao poder, o hoje novamente candi-
No Brasil, a história e a imagem de D. Pedro vêm dato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
sendo moldadas, polidas ou desfiguradas de acordo com Nas últimas semanas, D. Pedro encontra-se novamente
as conveniências políticas de cada momento. Cinquenta no centro de uma acesa polémica, desta vez envolvendo
anos atrás, por ocasião do sesquicentenário da Indepen- o destino e o uso político do seu coração nas celebrações
do bicentenário da Independência. O pedido, precipi-
tado e de última hora, feito pelo governo do Presidente
Jair Bolsonaro ao governo português, para o envio da
preciosa relíquia do Porto para o Brasil gerou protestos
No Brasil, a história em ambos os países. Desde que assumiu o governo, o
e a imagem de D. Pedro Presidente brasileiro sequestrou os símbolos e as datas
cívicas nacionais, que sistematicamente tem usado para
têm sido moldadas, polidas atacar as instituições democráticas. É provável que faça
isso novamente no dia 7 de setembro, por ocasião das
ou desfiguradas, de acordo comemorações do bicentenário, diante do delicado cora-
com as conveniências ção de D. Pedro. Nesse caso, seria uma ofensa à memória
do imperador – e a todos os brasileiros e portugueses
políticas de cada momento que ainda hoje o admiram. visao@visao.pt
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300
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21 dez 2021
180,267
na Ucrânia
3 jan 1 fev
de 6,4 milhões e 1,3 milhões de consu-
midores, respetivamente. Nesse espaço 2021 2022
de tempo, a economia recuperou, mas FONTE Title Transfer Facility (TTF), contratos de referência de gás natural na Europa
7 mar 2022
227,201
O MERCADO REGULADO
DE ENERGIA foi o único em Portugal
durante vários anos. A ERSE, a
entidade que
29 ago 2022
o regula, tem o dever de:
272,603
Definir anualmente os preços
da energia, a qualidade do serviço
e a informação, tendo em vista os
interesses dos consumidores
310
mai 2023
302 300,78 301,62 295
300
296
296,52 292,49
290
280
No MERCADO LIVRE,
set 2022 os consumidores podem
277,5
282 escolher o comercializador
270 e mudar sempre que tiverem
melhores ofertas. Podem
set out nov dez jan fev mar abr mai também, em alguns casos,
2022 2022 2022 2022 2023 2023 2023 2023 2023 escolher as fontes a partir
FONTE Title Transfer Facility (TTF), contratos de referência de gás natural na Europa AR/VISÃO
das quais é produzida
a eletricidade que consomem.
Os comercializadores devem:
ao mercado regulado do gás natural – o seguinte exemplo: um casal sem fi-
à semelhança do que já acontece na lhos com um consumo anual de 138 Definir os preços da energia e
eletricidade, em que os clientes podem metros cúbicos de gás natural (numa a oferta do serviço em condições
permanecer na tarifa regulada até 2025 casa sem aquecimento central) pagará, de mercado. Por norma, os preços
(ver caixas nestas páginas). a partir de 1 de outubro, entre €38 e são revistos com mais frequência
De acordo com cálculos do Minis- €44 mensais no mercado livre, mas, do que no mercado regulado
tério do Ambiente, as diferenças são se entretanto mudar para o mercado
notórias e indicam que o regresso ao regulado, a fatura descerá para cerca de Cobrar aos clientes as tarifas
preço regulado será “um grande apoio” €13,23, representando uma poupança de acesso às redes definidas pela
para suportar a subida do gás. Veja-se mensal de quase 70%. Já um casal com ERSE
dois filhos, com um consumo anual de visões do regulador e os preços reais apresentar um aumento de 150% nos
292 metros cúbicos de gás, terá a sua da energia, como tem sucedido. lucros do primeiro semestre e que
despesa mensal de gás agravada para Nem o Governo nem a Galp hesitam é uma das mais sérias candidatas ao
valores entre €70 e €81, mas, se mudar em garantir que a empresa, enquanto pagamento de um eventual imposto
para o mercado regulado, o valor des- CUR, terá capacidade para acolher, no sobre os lucros excessivos de alguns
cerá para €25, gerando uma poupança mercado regulado, a totalidade dos setores de atividade.
de 64% a 69%. Ao fim de um ano, a 1,3 milhões de consumidores de baixa A VISÃO sabe que a Galp Energia
fatura de gás destas famílias poderá pressão, que representam menos de já estimou os efeitos desse cenário
conhecer uma redução entre €300 um décimo do consumo total de gás extremo, mas a empresa não quis pro-
e €670 no mercado regulado, cujos em Portugal. Mas certamente que um nunciar-se sobre o tema. Recorde-se
preços “são menos de metade dos pra- cenário de transferência em massa de que o grupo tem custos de aquisição de
ticados no mercado liberalizado”, ainda clientes, a cumprir-se, representaria gás mais baixos do que os atuais preços
segundo o ministro Duarte Cordeiro. um pesadelo para qualquer empresa. grossistas de mercado, ao abrigo dos
Face a estes valores, a reabertura Até mesmo para a Galp, que acaba de contratos de longa duração, superiores
do mercado regulado do gás poderá a um ano, negociados com fornecedo-
gerar uma transferência em massa das res como a Nigéria LNG.
famílias, fazendo com que mais de um Em Portugal, o gás natural é usado
milhão de consumidores volte a ser para a produção de eletricidade (57%)
cliente do comercializador de último e para consumo direto por empresas e
recurso (CUR), ou seja, as várias em-
presas do grupo Galp Energia que têm
A redução famílias (43%), mas a maioria dos lares
nacionais ainda usa o gás de botija para
a obrigatoriedade de praticar os preços do IVA e a entrega aquecer água e cozinhar. Em meados
regulados. Em outubro, entrarão em
vigor as tarifas definidas pela ERSE de cheques- de agosto, voltaram a ser impostos
preços máximos de venda para o gás
para o próximo ano, refletindo um
aumento de cerca de 3,9% em relação
-energia a alguns de garrafa.
O
(ACEMEL) se tem mostrado preocu- Governo atribuiu, em março, preços vertiginosos da eletricidade
pada com os efeitos da redução espe- uma comparticipação mensal estão a expor, por diferentes razões,
rada no número de clientes dos seus de dez euros por botija de gás as limitações do nosso atual projeto
associados, que poderá pôr em risco aos beneficiários da tarifa social de de mercado para a energia elétrica”,
a sobrevivência de algumas empresas. eletricidade e de prestações sociais disse von der Leyen no seu discurso
A redução do IVA no gás e na eletrici- mínimas. A medida, temporária, foi na Cimeira Estratégica de Bled, na
dade, como acontece na Alemanha (de criada para responder à atual crise Eslovénia, recordando que os atuais
19% para 7%) e em Espanha (de 10% energética, mas, de acordo com o Diá- mercados grossistas “foram desen-
para 5%), ou a entrega de cheques- rio de Notícias, terá chegado apenas volvidos sob circunstâncias e pro-
-energia a alguns consumidores são a oito mil famílias por mês, quando o pósitos completamente diferentes”.
medidas defendidas pela associação. objetivo, segundo uma previsão da O aumento dos preços da energia
Mas baixar, ou mesmo anular, o DECO, seria atingir cerca de 380 mil em mercado livre, quase dez vezes
famílias. Estima-se que o gás de botija
imposto não parece estar, para já, nos mais caros do que há um ano, está a
seja usado em mais de metade dos
planos do Governo. O efeito seria bas- levar muitos países europeus a pe-
lares portugueses, ou seja, em cerca
tante limitado. Numa família com uma de 2,1 milhões de casas.
dir um teto máximo para o preço da
despesa média mensal de consumo real eletricidade. Alguns puseram em prá-
de gás de €13,75 euros, uma descida tica planos de poupança de energia,
do IVA para 6% traduzir-se-ia numa limitando os horários da iluminação
redução do valor do imposto dos atuais de espaços públicos e reduzindo a
€3,16 para €0,82. climatização de interiores, de modo
a cumprir a meta da União Europeia
LUZ TAMBÉM MAIS CARA de redução do uso de gás em 15%. O
No caso da eletricidade, apenas cerca Governo português também deverá
de 20 mil clientes optaram, no pri- apresentar, em breve, um plano com
meiro semestre do ano, por voltar esse objetivo. csteixeira@visao.pt
O fim da hegemonia
do MPLA
Resultados das cinco eleições gerais
realizadas em Angola
81,64
71,84
61,8
54,6 51,17
34,8
26,7
43,95
18,6
10,39
4,88
10,6 7,9 9,56 11,5
1992 2008 2012 2017 2022
NÚMERO DE DEPUTADOS
191
175
150
129
124
90
70
51
32
21 16 19 6
13 13
em 2027, tal como Luísa Damião (vice- Recorde-se que o líder da UNITA, 1992* 2008 2012 2017 2022
-presidente do MPLA), Carolina Cer- Adalberto Costa Júnior (ACJ), teve de re-
*A UNITA não reconheceu os resultados,
queira (ministra de Estado para a Área nunciar no ano passado à nacionalidade os seus deputados nunca tomaram posse
Social) e Vera Daves (ministra das Finan- portuguesa por imposição do Tribunal e o país manteve-se em guerra civil até 2002
ças). As especulações sobre o futuro do Constitucional (TC), supostamente por FONTES Comissão Nacional Eleitoral de Angola MT/VISÃO
partido governante aumentaram quan- ter sido eleito fazendo tábua rasa dos es-
do, no último comício de campanha, no tatutos do seu partido e querer disputar
distrito de Camama (Luanda), JLo disse a presidência ao arrepio da lei suprema. principal adversário era um indivíduo
que as mulheres “merecem todas as O processo arrastou-se largos meses ao serviço de interesses estrangeiros e,
oportunidades” por também já serem a e só terminou quando ACJ se submeteu tal como os outros líderes da oposição,
maioria no país. E, em tom jocoso, afir- a um congresso extraordinário, em que não era de fiar: “Hoje estão a concorrer
mou: “Se um dia decidirem revoltar-se viria a ser reeleito e a sua liderança re- nessas eleições [Angola], amanhã vão
contra nós, vamos ter de fugir, podem conhecida pelos juízes do TC (nomeados poder concorrer às eleições em outros
esmagar-nos. (...) Temos de tratar bem por João Lourenço, à semelhança do países (...) são desonestos. (...) Por isso, o
a mulher angolana; não por medo, mas que sucede com todos os outros órgãos MPLA é a escolha óbvia, porque não tem
por uma questão de justiça!” judiciais superiores, como está previsto candidatos com dupla nacionalidade.”
Ora a lei e os tribunais deveriam no artigo 119.º da Constituição). Mesmo Afinal, pode não ser bem assim.
complicar a vida a Esperança da Costa assim, nos últimos meses, o chefe do De acordo com o Club-K, um site co-
e a Carolina Cerqueira, ainda antes de movimento do Galo Negro nunca deixou notado com alguns setores da oposição
assumirem funções na V legislatura que de ser um alvo privilegiado do MPLA. angolana, vários candidatos e membros
vai iniciar-se dentro de duas semanas e Entre acusações de bigamia, pedofilia e do governo do MPLA têm cidadania por-
terminar no verão de 2027. Uma e outra habilitações superiores forjadas, Adal- tuguesa: Eugénio Laborinho (ministro
são suspeitas de ter dupla nacionalida- berto foi visado pela sua “angolanidade”, do Interior) Francisco Queiroz (Justiça),
de, angolana e portuguesa, estatuto que ou falta dela, em diversas ocasiões. No Manuel Almeida (Obras Públicas) e Te-
lhes está constitucionalmente vedado final de julho, já em campanha, num resa Rodrigues (Administração Pública)
por haver a possibilidade de terem de comício realizado em Menongue, no são alguns dos casos identificados, a par
substituir João Lourenço. Cuando Cubango, JLo afirmou que o seu das duas (possíveis) recordistas da repre-
É
de as notícias sobre o assunto terem tempo, convém não subestimar as
surgido já na fase final da campanha. vantagens de que o MPLA vai conti-
Quanto à liberdade de expressão e dos nuar a beneficiar com a manutenção
média, admite já não ter grandes ilusões: do seu controlo do aparelho de Estado,
“No período de 2022-2027, o Presidente especialmente dos recursos financei-
volta a ter duas opções – democratizar um observador privile- ros e dos instrumentos de coerção,
ou endurecer o regime. O programa elei- giado do país sobre o qual escreveu assim como da vontade internacional
toral do MPLA, no seu ponto 3.1.4, traz Magnífica e Miserável – Angola desde de assegurar a estabilidade em Angola
promessas que contradizem o que se fez a Guerra Civil e um especialista na (o que se traduz em algum apoio im-
nos últimos anos. Promete [por exemplo] investigação e no estudo das elites de plícito por uma solução de continuida-
reforçar o papel da Entidade Reguladora regimes cleptocráticos. Conversa com de). Não há dúvida, no entanto, de que
da Comunicação Social Angolana (ERCA), Ricardo Soares de Oliveira, académico estamos a entrar num período em que
mas mantém à sua frente um antigo que duvida de que possa haver refor- o MPLA vai estar sob pressão.
mentor da propaganda do partido. (...) mas sistémicas sob a batuta do MPLA e Pode haver algum tipo de reforma
Iremos continuar no mesmo sufoco.” de João Lourenço. do Estado, com o reforço da oposi-
O ambiente pós-eleitoral em Angola Depois destas eleições, faz algum ção no Parlamento?
está a inspirar múltiplos receios e, nos sentido falar em perda de hegemo- No contexto atual não se vai poder al-
últimos dias, tem havido cenas de dis- nia política do MPLA e princípio do terar a Constituição de forma signifi-
túrbios e tensão em vários pontos do fim do “lourencismo”? cativa. Angola já tem um dos sistemas
território. As forças de segurança estão A hegemonia do MPLA acabou, mes- políticos mais centralizados de África.
em alerta máximo e têm reprimido to- mo se o partido continua a ser a força A Constituição de 2010 já foi montada
dos os ajuntamentos e manifestações, política dominante. O contraste com as para beneficiar o statu quo, pelo que
com as redes sociais a fervilharem de duas décadas a seguir ao fim da guerra a sua manutenção deverá favorecer o
relatos de violência e de detenções, so- civil, que acabou em 2002, e durante MPLA. A bancada parlamentar da opo-
bretudo na província de Cabinda. “Este as quais o MPLA foi o dono incontes- sição cresceu, e isso é uma boa notícia
ambiente é o resultado de uma grande tável do país, é hoje inegável. Partindo para a qualidade do debate político em
desilusão. Aos olhos de muitos angola- do princípio de que os resultados re- Angola, mas o MPLA vai poder conti-
nos, as instituições – com a CNE [Co- fletem a realidade, o MPLA parece ter nuar a governar sozinho. E se alguém
missão Nacional Eleitoral] como caso tido uma performance eleitoral fraca pensava que esta maioria diminuída
flagrante – deixaram de ser credíveis. em regiões historicamente próximas iria colocá-lo numa postura colabora-
Os jovens estão indignados”, adverte do partido, e sofreu a humilhação da tiva, a afirmação de João Lourenço de
Gilson Lázaro, sociólogo e professor derrota em Luanda, mesmo em bairros que o partido vai governar sozinho e
associado na Universidade Agostinho burgueses. Teve menos votos do que de que não é necessária qualquer “Ge-
Neto. A contragosto, aponta cenários o número oficial de membros do par- ringonça” mostra pouca disponibili-
para os tempos mais próximos: “Uma tido, o que, no mínimo, revela falta de dade para uma governação de unidade
frustração incontrolável dessa juventude entusiasmo por parte das bases. Uma nacional.
de Luanda e de outros centros urbanos, grande fatia do povo angolano votou O proclamado combate à corrupção
uma resignação completa e uma acei- na UNITA, ou não votou em ninguém. de João Lourenço e a sua alegada
tação com a normalidade possível, face A UNITA regressou ao estatuto de promessa de recuperar as verbas
às circunstâncias.” E confessa: “Há uma quase paridade com o MPLA, pelo desviadas nos últimos anos, pelos
grande frustração, eu próprio começo menos no imaginário dos angolanos. titulares de cargos públicos, podem
a ter dúvidas de que Angola tenha um No contexto de um sistema político manter-se na agenda do futuro go-
grande futuro democrático. Estou a fa- altamente personalizado, isto só pode verno?
lar de liberdade, de oportunidades, não ser uma derrota pessoal para João A limpeza estrutural da corrupção
necessariamente de questões materiais. Lourenço, e vai por certo fragilizá-lo, seria sempre uma tarefa complexa e
O que mais receio é que a frustração e não só na governação mas também prolongada, pelo que durante alguns
a ira das pessoas sejam canalizadas para dentro do MPLA, onde já era impopu- anos houve um debate legítimo entre
as ruas.” ffialho@visao.pt lar junto de algumas fações. Ao mesmo os observadores da política angola-
LUSA
maior dos salões da Sociedade de Geo-
grafia, com sede num velho edifício
na Baixa Pombalina, em Lisboa. Um
ancião de ar tranquilo, visivelmente na Universidade Pontifícia Católica do pulsões populistas. Os acontecimentos
“carcomido” pelo tempo mas de olhar Rio de Janeiro, tendo ali publicado obra parecem deslocados e estranhos ao
ainda vivo e eloquência que só a de- de referência). tema, mas o fio de raciocínio arguto e
bilidade da voz consegue trair, parece Basílio Horta, presidente da Câmara lógico conduz-nos ao que interessa – o
saltar de uma outra época para nos Municipal de Sintra, independente eleito mestre está informado, analisa ao por-
dar lições sobre a nossa. Aos 99 anos, pelo PS, ex-dirigente do CDS e um dos menor cada distopia política do nosso
Adriano José Alves Moreira, um “rapaz” quatro deputados eleitos pelo chamado tempo e explica as causas e os efeitos.
do tempo do cinema mudo, olha para “partido do Táxi” em 1987 – os outros O cérebro do homem centenário é uma
a câmara de um computador pessoal e eram, precisamente, Adriano Morei- base de dados em constante atualização.
fala-nos por Zoom. À frente, o seu pú- ra, Lucas Pires e Nogueira de Brito –,
blico de sempre: os alunos e a academia. destaca o seu manual Ciência Política A CAPELA DA SUA ALDEIA
Neste evento, ele é coapresentador de (1979), que considera “incontornável” Adriano Moreira, nascido em 1922,
um livro de Ciência Política sobre os para os que se dedicam a esta área. completará, no próximo dia 6, os 100
populismos, lançado por um dos seus Na sessão da Sociedade de Geografia, anos de vida. Não terá memória política
discípulos mais diletos, também ele os alunos, 80 anos mais novos, apuram dos tempos da I República. Mas man-
professor universitário e uma espécie o ouvido. A ligação não está perfeita, o tém vivas as recordações pessoais dessa
de “guarda-livros” da extensa biblio- volume é baixo, a voz de Adriano um infância distante. A primeira referência
grafia do velho professor. José Filipe fio frágil e evanescente. Pode ouvir-se surge com uma lição de vida e remete
Pinto, politólogo, docente da Lusófona, uma mosca: a magistral lição de História para o seu avô Valentim, tido como
especialista no estudo dos populismos e Ciência Política recua a Vestefália, à um farol. Estando o pequeno Adriano
europeus (e não só), fala-nos das duas queda dos impérios na Grande Guer- a fazer diabruras, apercebeu-se de que
peças “de museu” que recentemente ra, à reconfiguração da Guerra Fria, à o avô, entretido a ler o jornal, observa-
manuseou: os dois primeiros artigos queda do Muro de Berlim, ao advento va, de esguelha, com ar desaprovador.
conhecidos, publicados por um então dos tiranetes emergentes, aos riscos do Disfarçando, Adriano vem sentar-se ao
jovem académico no Jornal do Foro. O sistema democrático e à emergência das lado do senhor Valentim. “Não faças às
primeiro, de 1943, versa sobre o tema
da “Extraterritorialidade de Leis e Sen-
tenças”, numa “Nota Crítica” sobre o
professor espanhol Lorenzo Herrera
Mendoza. E assim iniciava Adriano
Por 100 anos que vivesse, o pequeno
Moreira uma longa carreira de autor Adriano jamais esqueceria
de artigos científicos, livros e manuais
sofregamente consumidos, nas décadas o conselho do avô Valentim:
seguintes, por universidades dos dois
lados do Atlântico (a seguir ao 25 de
“Não faças às escondidas
Abril, no período de autoexílio, ensinou o que não podes fazer às claras”
56 VISÃO 1 SETEMBRO 2022
“Devo tanto
ao meu pai
que não há
nenhuma
palavra que acolha
a dívida. Do amor
incondicional ao
exemplo de inquietação
permanente com o
mundo, o Adriano
Moreira, que faz 100
anos, sempre foi o meu
MARCOS BORGA
porto seguro”
ISABEL MOREIRA
Deputada do PS e filha
de Adriano Moreira
“Um
intelectual
marcante
e um
humanista
personalista
incansável.
O seu centenário
é uma espécie de
condecoração de Deus
à sua longa vida”
D.R.
gueses das Províncias da Guiné, Angola não passa, nas legislativas de 1987, de
e Moçambique, que assimilava (embora 4,7% dos votos. O CDS elegia apenas
sem direitos equivalentes aos metropo- quatro deputados (tinha conseguido
como Gandhi ou Mandela. No universo litanos…) os locais formados na cultura 42, em 1976) e torna-se o “partido do
não laico, serve-lhe de referência João ocidental e segregava os restantes. táxi”, por num táxi poder caber todo o
Paulo II, mas também o Papa Francisco. Sintomaticamente, o ministro es- grupo parlamentar. Basílio Horta, um
colheu o seu dia do seu aniversário, 6 dos “quatro magníficos”, fala de um lí-
CONVERSA COM SALAZAR de setembro de 1961, para publicar a der de trato exemplar e desapegado do
Passada a fase de fascínio pela opo- medida e, precisamente um ano de- poder: “Tive muita honra em pertencer
sição, muito influenciada por Teófilo pois, acabava com a lei draconiana da a esse grupo parlamentar e em trabalhar
Carvalho dos Santos, Adriano Moreira expropriação de terras aos autóctones com o Professor Adriano Moreira, que
converte-se ao salazarismo e, nessa fase, das colónias. Outras reformas, como nos disse que, perante aquele resultado,
será responsável por algumas medidas o fim do iníquo trabalho forçado e a tínhamos de devolver o partido ao seu
duras, durante a crise académica de lei da imposição do cultivo agrícola de fundador; e pediu-me a mim que o fos-
se dizer ao Diogo [Freitas do Amaral].”
Aos 100 anos, Adriano Moreira con-
tinua a emocionar-se com a diáspora
Claros e escuros: reabriu com lusófona e a acreditar nas potencialida-
des do seu País, na vertente atlantista: “A
outro nome, o campo do Tarrafal, nossa janela atlântica é o nosso espaço
para prisão de nacionalistas de liberdade.” E essa mensagem bem
poderia ser o mote de uma nova ligação,
africanos, mas acabou com o por Zoom, com os seus concidadãos,
quase todos muito mais novos do que
infame Estatuto do Indigenato ele. fluis@visao.pt
DIGITAIS
Tomáš Zert
38 anos, checo
O QUE FAZ
É fotógrafo, mas
ultimamente vive
sobretudo dos trabalhos
de edição de fotografia
e de vídeo que faz para
outras pessoas
É NÓMADA PORQUE
Está a tentar viver a vida
como se estivesse de
férias. E cita o poema
Invictus para se justificar:
“Sou o comandante da
minha alma”
MARCOS BORGA
e no ar adivinham-se os tais hambúrgueres Os dois chegaram à costa vicentina no início
apetitosos. Apetece esticar as pernas numa de junho e, depois de um mês numa pequena
espreguiçadeira e não fazer nada, pensa- casa arrendada junto ao castelo de Aljezur, mu-
19,6%
mos quando damos por Annouck e Fabrice daram-se para um alojamento local na Arrifana
sentados na esplanada animada mesmo ali para ficarem mais perto do cowork do hostel.
em baixo. Quem os viu e quem os vê. Horas Têm estado sempre a trabalhar cinco dias por
antes, parecia terem sido transplantados de PORTUGUESES EM semana, “como na Bélgica”, comparam, mas
um qualquer escritório da Antuérpia – só a TELETRABALHO ao final do dia sobra-lhes tempo para o surf,
camisa havaiana dele e as sandálias de ambos Entre abril e junho de os passeios de bicicleta e as caminhadas. “Dá
denunciavam o espírito do lugar. 2022, de acordo com o também para conhecer a cultura, claro, e viver
INE, 958,6 mil pessoas mais devagar”, acrescenta ele.
A ATRAÇÃO DO SURF trabalharam em casa A decisão foi tomada em plena pandemia,
Logo de manhã, tínhamos ouvido Ira contar que Fabrice acredita ter vindo facilitar o no-
75,1%
o que a trouxera até à Arrifana (já lá vamos), madismo. “Já existiam nómadas digitais, mas
mas agora eram os planos de Annouck e até há três anos a sociedade não os compreen-
de Fabrice que nos levavam a rever a nossa dia”, nota. “Só agora é que se trabalha remo-
existência. Largar tudo, mudar de país e TÊM O ENSINO tamente sem qualquer problema mesmo.”
trabalhar remotamente, como fez a ucra- SUPERIOR A oferta segue a procura. Um pouco por todo
niana, cheira a aventura, mas e o que dizer A probabilidade de o País, Interior incluído, proliferam os espaços
daquilo que estes belgas planearam para os um empregado com de coworking, muitas vezes gratuitos por serem
próximos dois anos? Ensino Superior estar patrocinados pelos municípios. Existe, aliás, o
Fabrice coloca o caso dele e da mulher com em teletrabalho é 11,7 projeto Work From Centro de Portugal que
a racionalidade e o pragmatismo que o ima- pontos percentuais mais resulta de uma parceria do Estúdio Tipo-gra-
elevada
ginamos a usar no seu dia a dia de trabalho: fia com o Turismo do Centro para promover a
decidiram passar dois anos entre a Arrifana região enquanto destino para visitar e trabalhar.
59,9%
e a Cidade do Cabo, na África do Sul, por No Hi Arrifana, uma hora de cowork custa
períodos de seis meses. “Estamos ambos três euros e um dia dez, mas se for uma sema-
com 30 anos e não temos filhos, estava na na de livre-trânsito com acesso à sala ampla,
altura de aproveitarmos para ter um pouco DOS TRABALHADORES mais pequenas salas de reuniões e de jogos,
de aventura nas nossas vidas”, explica, “mas REMOTOS sempre com WiFi incluído, o preço fixa-se
não queríamos parar de trabalhar porque as têm atividades nos 40 euros, e um mês inteiro fica nos 120. É
nossas carreiras são importantes”. intelectuais e científicas este último o regime de boa parte dos nómadas
MARCOS BORGA
ACUSAÇÃO OU SEDUÇÃO
Tal como muitos EA, Julia Wise – que
é hoje a funcionária mais antiga da
CEA – acha que os argumentos de
Singer são convincentes, mas acredita
de igual modo que a obrigação não é
um fator de motivação forte a longo
prazo. Também não está totalmente
convencida dos argumentos de Holden
Karnofsky, co-CEO da Open Philan-
thropy e cofundador da GiveWell, que
escreveu sobre um “altruísmo anima-
do”, o qual se enfatiza que ser capaz de
marcar uma diferença significativa na
vida dos outros é uma oportunidade
emocionante.
Para Julia Wise, o facto de ser relati-
vamente fácil e barato salvar uma vida
publicado em 1971, Fome, Riqueza, Jovens O típico altruísta tanto pode ser uma acusação como uma
Moralidade, Singer argumenta que, se eficaz é um homem branco, sedução. “Uma sociedade melhor já te-
nos sentirmos obrigados a entrar num com diploma universitário, na ria evitado isso”, sublinha. Como não foi
casa dos 20 anos, que vive
lago para salvar uma criança que está na América do Norte ou na capaz, o que ela sente é uma espécie de
a afogar-se, mesmo que isso estrague Europa determinação – ter esperança de que o
a nossa roupa, devemos sentir-nos mundo possa melhorar e ter vontade de
igualmente obrigados a salvar vidas de resolver problemas tão terríveis.
pessoas que não vemos, renunciando Numa recensão ao primeiro livro
à compra de roupa nova. de MacAskill, Doing Good Better, a
Esta linha de pensamento pode con- filósofa e também professora em Ox-
duzir a um sentimento esmagador de ford Amia Srinivasan escreve que “o
responsabilidade. No livro Strangers Altruísmo Eficaz retoma o espírito do
Drowning, a jornalista Larissa MacFar- O movimento argumento de Singer, mas protege-nos
quhar descreve uma frustrada e isolada da explosão que é a sua conclusão”:
Julia Wise, então na casa dos 20 anos, tem de responder a de que pequenos luxos podem ser
acreditando que não tinha o direito de
cuidar mais de si mesma do que dos
à pergunta moralmente inaceitáveis.
Na sua opinião, o Altruísmo Eficaz é,
outros. Num episódio memorável, o impossível: quanto no essencial, apenas decência coletiva,
namorado comprara-lhe um doce de com uma marca melhor e com mais
maçã por quatro dólares e ela chora do conforto organização. E adianta: “O Altruísmo
amargamente, sentindo imensa culpa
por ter privado uma criança de uma
estamos dispostos Eficaz, tal como o utilitarismo, ou nos
intima a que façamos o melhor possí-
rede mosquiteira que a poderia salvar
de morrer de paludismo.
a prescindir em vel ou nos pede apenas que tentemos
melhorar as coisas. A primeira ideia é
Julia Wise ressalva que aquela men- troca de ganhos genuinamente radical, exigindo que al-
talidade antecedeu os encontros com
o movimento Altruísmo Eficaz. “Os potencialmente teremos a nossa vida diária de maneira
inimaginável para a maioria das pessoas...
jovens adultos querem ser hardcore
em qualquer coisa, e eu decidi ser har-
enormes para a A segunda ideia, por outro lado, é parti-
lhada por todo o sistema moral plausível
dcore em termos de sacrifício”, diz-me, sociedade? e por todas as pessoas decentes.”
pério Britânico apenas em 1833, décadas um código QR leva-nos a um conto, vida pode ser assim cem vezes ou mil
depois nos Estados Unidos da América Afterwards (Depois), que ele dedica à vezes mais tão boa.”
e só em 1962 na Arábia Saudita. A his- namorada, Holly. Situado milhares de Por estes dias, penso naquela con-
tória encoraja MacAskill a favorecer o anos no futuro, numa eutopia (ou seja, versa – nos momentos da minha vida
progresso gradual e não a revolução. “um lugar bom”, ao contrário de utopia, que brilharam com beleza, alegria,
A abolição da escravatura foi, con- um “não-lugar”), há uma cena em que amor e risos, e na estabilidade e segu-
fessa, “talvez a melhor mudança moral uma personagem descreve uma certa rança que possibilitaram esses momen-
de todos os tempos; está certamente história. Incrédula, ela lê que, em tem- tos. Penso em todas as pessoas que hoje
no topo, tal como o feminismo, e os pos, as pessoas viajavam em comboios vivem e que merecem ter esses mo-
dois foram extremamente incremen- subterrâneos, amontoadas, adoecendo mentos, e em todas as vidas ainda por
tais. Não parece, porque ‘encolhemos’ umas às outras. “E faziam isso todos os vir que podem ser muito melhores e
demasiado o passado, mas estamos a dias. E odiavam. Porém, continuavam ricas em significado – ou muito piores.
falar de quase 300 anos”. a fazê-lo porque precisavam, e apenas Se isso depender do que todos nós
Enquanto trabalha para defender para terem uma vida que nem sequer fizermos nas próximas décadas, não sei
as gerações vindouras, MacAskill tenta era boa. Mal imaginavam o quão boa a exatamente como ajudar a garantir que
também não se esquecer de como as vida poderia ser.” as nossas ações mudarão as coisas para
ideias evoluíram ao longo de décadas Achei surpreendentemente enterne- melhor. Mas se o futuro puder ser tão
e de séculos. Em What We Owe The cedor. Se pensar nos meus antepassa- vasto e tão bom quanto MacAskill acre-
Future, ele mostra-se convencido de dos de há 200 anos, jamais eles seriam dita, parece que vale a pena tentar.
que um futuro próspero não é uma capazes de imaginar a minha vida atual.
fantasia: pode não ser provável, mas é Mas não me surpreende que seja difícil *Naina Bajekal é editora-executiva da Time
possível. “É um futuro que, com bas- imaginar um futuro muito melhor do — Com Leslie Dickstein, em Nova Iorque
tante paciência e sabedoria, os nossos que aquele a que MacAskill chama “Es-
descendentes podem realmente cons- candinávia global”, em que todos têm
truir – se lhes abrirmos o caminho.” uma vida tão boa como as pessoas mais
Parte dessa tarefa requer cultivar abastadas de hoje. “Podemos mesmo
© 2022, TIME Inc. Todos os direitos reservados.
uma compaixão imaginativa. No final melhorar as coisas no futuro”, assegura. Traduzido da TIME Magazine
da edição de capa dura do novo livro, “Imagine os seus melhores dias. A sua e publicado com autorização da TIME Inc.
EDIÇÃO MENSAL
GRATUITA,
EXCLUSIVA PARA
INVISUAIS
Porque
é bom ler
Com o apoio de: Papel fornecido por:
UM PONTO
(MS), em Lisboa, já vinha sen-
do traçado há algum tempo. E
não era positivo. Mas a gover-
nante, que chegou a mostrar
vontade de sair do executivo,
FINAL
pela primeira vez, ainda du-
rante o pico da pandemia,
foi mostrando capacidade
de contrariar as probabilida-
des, graças à ajuda de António
Costa, que a manteve em três
Após algumas ameaças no último ano governos do PS. Com a morte
de uma grávida, devido a pa-
e meio, a ministra da Saúde atirou a toalha ragem cardiorrespiratória, o
ao chão, ao início de uma madrugada em que veio expor as fragilidades
da resposta no Serviço Na-
que se deixou levar pela emoção e convenceu cional de Saúde (SNS) – por
Costa a deixá-la sair. Mas já andaria estar em causa a capacidade
do maior hospital do País –,
insatisfeita, pelo esboço orçamental que lhe a ministra não terá esperado
chegara às mãos e por se sentir traída pelo sequer por uma explicação
técnica mais aprofundada
setor. Ainda terá de mostrar nervos de aço, dos clínicos envolvidos no
para ficar alguns dias em gestão a pedido caso: pediu a demissão a um
primeiro-ministro que foi
do chefe do Governo surpreendido pela decisão
– até pela hora a que lhe foi
comunicada.
— POR NUNO MIGUEL ROPIO
Quando o caos parece ter
tomado conta do setor, a mal-
sucedida viagem de trans-
ferência daquela grávida do
Santa Maria, com os serviços
de neonatologia a rebentar
pelas costuras, para o Hospital
de São Francisco Xavier, foi,
assim, a “gota de água” que
fez transbordar a paciência
da ministra, que esteve quase
1 500 dias à frente de uma das
pastas mais difíceis. A VISÃO
apurou, junto de fontes liga-
das ao gabinete do MS, que
ARLINDO CAMACHO
A
7 de setembro completam-se para evitar que se repitam – agora na forma
200 anos da Independên- como são hoje tratados os imigrantes bra-
cia do Brasil; e a 2 de outu- sileiros. Lembro uma: como no tempo de
bro realizam-se as eleições governos de Cavaco Silva, sendo ministro
presidenciais, em que está em Dias Loureiro, eles, imigrantes brasileiros,
causa a própria democracia: a “ascensão” incluindo os dentistas, foram recebidos,
ou “queda” do país? Se o Brasil tivesse ou- quando em maior número começaram
tro Presidente, que não o inenarrável Jair a chegar a Portugal. Sucederam-se fac-
Bolsonaro, tantas vezes entre o sinistro e tos e situações inadmissíveis, e não fora o
o insano, e tivesse outro governo, à altura Presidente português ser Mário Soares, e o
do grande país que é, as comemorações da embaixador brasileiro ser José Aparecido de
— Fundador da VISÃO
Independência decerto teriam outra am- Oliveira, grandes amigos do Brasil e de Por-
plitude e qualidade. Assim, são o que são, tugal respetivamente, e as próprias relações
com dúvidas quanto ao que serão, no que diplomáticas entre os dois países teriam
se poderão transformar, no próprio dia 7 sido gravemente afetadas.
de setembro… Os tempos hoje são outros, claro, mas
Porquê? Porque Bolsonaro, com a voltando a 1922, os presidentes acen-
desvergonha e os métodos que o caracte- tuaram – e o brasileiro foi o primeiro a
rizam, tenta aproveitar as comemorações fazê-lo – que o 7 de setembro era uma
em favor da sua campanha como candida- “data luso-brasileira”, e não só brasileira.
to à reeleição, apelando aos seus apoian- Ora, creio que esta deve ser uma tónica
tes para que nesse dia venham para a rua fundamental do que Marcelo deve dizer ao
À MARGEM manifestar-se. E até os queria num inédito e no Brasil. País a que tem uma profunda
desfile militar em Copacabana! ligação, de tal forma que ninguém mais
ADRIANO MOREIRA Não vou comentar as comemorações em do que ele lamentará, embora tenha de o
Falamos de centenários. Portugal, que também entendo deveriam calar, não seja possível, com Bolsonaro e
E não quero deixar ter mais relevância e talvez outra orienta- seus prosélitos, o que também sem dúvida
de assinalar aqui, ção. Mas sei as limitações decorrentes do deseja...
não obstante isso ser atual poder instalado em Brasília. Além de Face ao que em síntese anotei ou su-
justamente feito noutras saber, quase por dentro, a menorização das geri, sobretudo ao evidente propósito
páginas da revista, o instituições que reúnem os países de língua de Bolsonaro fazer das comemorações
de Adriano Moreira, portuguesa, a CPLP e o IILP. Por igual deixo da Independência (também) uma peça, e
no próximo dia 6. Até de lado a controversa “cedência temporária” importante, da sua campanha eleitoral,
porque ele sempre foi, do coração de D. Pedro. houve quem defendesse que o Presidente
além de muito mais, um Limito-me, pois, à participação do português não devia ir ao Brasil, não podia
estrénuo e esclarecido Presidente português nas comemorações, correr o risco de concorrer para tal obje-
defensor e dinamizador que suponho uma simples presença, sem tivo ou sequer fazer parte de tal cenário.
da aproximação entre qualquer intervenção ou destaque. Ao No entanto, embora não me chocasse que
Portugal e o Brasil. contrário do que aconteceu há cem anos, se fizesse representar por outra alta figura
Como, aliás, da lusofonia quando António José de Almeida foi ao do Estado, julgo certa, ou inevitável, a
em geral. Convicta Brasil agradecer ter-se tornado indepen- sua presença nas comemorações. Mas, ao
e inteligentemente,
dente, num belo gesto simbólico, sem- mesmo tempo, considero absolutamente
embora a certa altura
pre recordado durante a Guerra Colonial, indispensável que denuncie qualquer ins-
propugnando soluções
ou caminhos que não
mantida pela ditadura exatamente para trumentalização dessa presença em favor
me pareciam os mais impedir a independência de outras coló- de Bolsonaro. E, mais, com o seu talento e
adequados. Para lá nias do “Império”. a sua experiência, considero indispensá-
disso, tive a honra e o Na altura, o Presidente português foi vel que faça declarações e/ou tenha gestos,
gosto de ele aceitar ser alvo das mais expressivas homenagens. E tome atitudes, que desde logo impossibili-
vice-presidente de uma nos discursos proferidos por ele e pelo seu tem tal aproveitamento – em vésperas das
comissão parlamentar homólogo brasileiro, Epitácio Pessoa, sem- eleições, por parte de quem, para não dizer
luso-brasileira criada por pre se acentuou a fraternidade entre os dois mais, flagrantemente viola regras básicas
minha proposta e a que povos. Com o tempo diluída, com culpas da democracia e de uma salutar convivên-
presidi. repartidas. Cabe-nos registar as nossas, cia democrática. jcvasconcelos@jornaldeletras.pt
E
de Mental e no Plano Nacional
stamos habituados a página de internet, vários nú- Mental, hoje a transversalidade de Prevenção do Suicídio, que
ver nas séries e nos fil- meros de telefone para situa- dos apelos de ajuda é maior. A “esteve anos na gaveta”.
mes norte-americanos ções de crise em contexto de VISÃO enviou perguntas ao
chamadas para o 911, o suicídio. Além dos telefones dos Ministério da Saúde, mas não UM “ATENDIMENTO EMO-
número de emergência equi- Serviços de Saúde Mental do obteve resposta até ao fecho CIONAL”
valente ao nosso 112. A partir hospital de cada região, do 112, desta edição. A jusante desta questão, as his-
de agora, talvez vejamos tam- do SNS24 (808 24 24 24, opção Quem marca estes números tórias de quem liga para as linhas
bém para o 988. É este o novo 4; criada no âmbito da pan- sente-se sobretudo sozinho, estão relacionadas com depres-
número nacional para a saúde demia), existem outras cinco isolado, triste, angustiado, an- são e solidão: 25% no Telefone da
mental lançado pelo governo Linhas de Crise recomendadas. sioso, com algum tipo de sofri- Amizade, 50% na Vozes Amigas
dos EUA, a 16 de julho, e que Nestas linhas, cujo “atendi- mento, causa ou consequência de Esperança e cerca de 130 casos
pretende condensar, numa li- mento é da responsabilidade de de uma doença mental. No na Voz de Apoio.
nha única e fácil de decorar, o cada uma”, como é frisado na limite, sente vontade de mor- Do outro lado da linha, entre
apoio em situações de crise de mesma página, caem chama- rer – como em cerca de 5% quem responde – um leque de
saúde mental, suicídio e/ou uso das de variados tipos. Se, no do total de chamadas (1 118 voluntários, nem sempre su-
de substâncias. início, “foram pensadas como em 2021) na Vozes Amigas de ficiente para todas as solicita-
Em Portugal, não existe um prevenção do suicídio”, refere Esperança. Na Voz de Apoio, ções (em 2021, a SOS Voz Ami-
número único de ajuda em si- Ana Matos Pires, psiquiatra dos 1 406 atendimentos do ano ga recebeu dez mil chamadas)
tuação de crise. O Serviço Na- e membro da Coordenação passado, 118 estavam relacio- –, estão pessoas com diversas
cional de Saúde indica, na sua Nacional das Políticas de Saúde nados com suicídio. origens, formações e profissões,
À conquista
do trono
de ferro da TV
House of the Dragon deu à HBO
a sua melhor estreia de sempre,
mas será necessário mais do que isso
para que a sucessora de A Guerra
dos Tronos cumpra o seu papel,
num ambiente mediático muito
mais fragmentado
— PO R N U N O AG U IAR
A
Troika tinha acabado grande que a plataforma HBO
de chegar a Portu- Max “crashou” para milhares
gal, a Primavera Ára- de pessoas.
be explodia, Barack Segundo os dados enviados
Obama ainda estava no seu à VISÃO pela Parrot Analytics,
primeiro mandato, Paulo Bento nos primeiros dias desde a
era o selecionador português. estreia, House of the Dragon Uma série para todos por mais uma temporada.
Parece que foi já noutra vida teve 83 vezes mais procura do House of the Dragon “As expectativas foram al-
que estreou a primeira tempo- que a média das séries anali- (em cima) e The Rings cançadas com sucesso”, apon-
of Power (direita)
rada de A Guerra dos Tronos, sadas pela empresa. Esta mé- estreiam com poucos ta Henrique Tomé, analista
em 2011. Mais importante ain- trica cruza pesquisas online, dias de diferença. XTB. “Apesar de estarmos
da para aquele que viria a ser interações nas redes sociais e Capturarão a nossa perante uma fase de con-
o maior êxito da HBO, nessa downloads ilegais. Foi a quar- atenção como os tenção de custos, o setor do
altura era mais fácil capturar ta série mais procurada entre êxitos do passado? streaming continua muito
a atenção do público: o strea- todas as plataformas, apenas competitivo, e a HBO não se
ming ainda parecia uma coisa atrás de Stranger Things (Ne- pode dar ao luxo de não in-
meio futurista, a Netflix tinha tflix), Better Call Saul (Netflix) vestir, sobretudo nesta fase,
dez vezes menos clientes e só e… A Guerra dos Tronos. em que a Netflix continua a
chegaria a Portugal quatro anos A série tem vários dos in- perder quota de mercado.”
mais tarde. Hoje, vivemos com gredientes que deram a coroa
uma televisão revolucionada, a Tronos: violência, sexo, intri- APOSTA NOS DRAGÕES
que tem várias plataformas ga palaciana e, bom, dragões. House of the Dragon é basea-
e mais séries e filmes do que Como uma banda que só toca da no livro Fire & Blood, de
temos tempo para ver. É nesse os hits ao vivo. Olhando apenas George R. R. Martin, e funciona
ambiente exigente que nasce para Portugal, teve uma procu- como uma prequela de Tronos,
House of the Dragon, com
muitos mais adversários para
ra 22 vezes superior à média
nacional e foi a terceira série
Numa altura passando-se cerca de 200 anos
antes dos acontecimentos da
derrotar antes de se sentar no que mais interesse gerou, tam- em que série que terminou há três.
trono de ferro da televisão. bém atrás de Stranger Things o streaming Desta vez, os holofotes são co-
Os sinais iniciais até são e Tronos. locados sobre o clã Targaryen
bastante positivos. O primeiro O segundo episódio teve enfrenta a sua (os antepassados de Daenerys)
episódio da série, transmitido uma audiência ligeiramente primeira crise, e a guerra civil pelo domínio de
a 21 de agosto, deu à HBO a sua
melhor estreia de sempre, com
superior (10,2 milhões), e a
HBO disse que, no espaço de
HBO e Amazon Westeros. A tarefa é reconciliar
o público com o universo cria-
cerca de dez milhões de espec- uma semana, as visualizações fazem duas do por R. R. Martin, depois de
tadores nos Estados Unidos da do primeiro aumentaram para das suas a última temporada de Tronos
América. Na Europa, a HBO 25 milhões. Números suficien- ter sido arrasada pela crítica e
diz que também bateu todos temente convincentes para maiores apostas deixado tantos fãs desiludidos.
os recordes. A procura foi tão anunciar a renovação da série de sempre No entanto, para a HBO,
O Centro Incluir –
inaugurado no final
de 2021, em Lisboa,
e muito recentemente,
no Porto – abre as portas
do mercado de trabalho
a todos, ajudando
a tornar muitos sonhos
realidade
ABRAÇAR A INCLUSÃO
“Incluir” não é apenas uma palavra para o Pingo Doce. É uma maneira de agir. Prova disso são os Centros
Incluir, espaços únicos de recrutamento, acolhimento e formação, criados para potenciar a integração
no mercado de trabalho de pessoas com deficiência ou incapacidade. Uma iniciativa pioneira na área
do Retalho em Portugal, que continua a dar frutos e a fazer futuro
U
m mundo onde todos contam, taram barreiras de acesso ao mercado
as oportunidades são iguais
O PROGRAMA de trabalho, o Programa Incluir já
e não importa ser diferente, INCLUIR EM envolveu mais de 371 tutores e 67 par-
mas, sim, fazer a diferença. NÚMEROS ceiros, estando implementado em 397
É partindo desta visão que o Grupo locais de trabalho do Grupo Jerónimo
Jerónimo Martins cria o Programa 800 Martins, incluindo o Pingo Doce. Na
Incluir, com o objetivo de oferecer Total de pessoas em que este base do programa de inclusão está um
oportunidades de emprego em Portu- programa teve impacto, desde conjunto de boas práticas que fazem a
gal a três grupos vulneráveis no acesso 2015, a maioria no eixo da diferença, nomeadamente, um modelo
ao mercado de trabalho: pessoas com deficiência de formação prática em contexto de
deficiência, migrantes e refugiados, e trabalho e respetiva tutoria e follow-
pessoas em situação social de risco. 156 -up, bem como a construção de uma
Desde o seu lançamento, em 2015, Oportunidades de trabalho rede consolidada de parceiros que en-
que este programa pioneiro já teve um criadas em 2022 caminha e acompanha os candidatos.
impacto positivo nas vidas de cerca de
800 pessoas – a maioria no eixo da DO SONHO À REALIDADE
deficiência. 70 Construído em conjunto por forman-
Além das 800 pessoas, cujas vidas Pessoas já formadas pelo dos, tutores e parceiros, o Programa
mudaram a partir do momento em Centro Incluir Lisboa, Incluir criou espaços onde a inclusão é
que as suas competências foram va- inaugurado no final de 2021 uma prática diária. O primeiro Centro
lorizadas e desenvolvidas e se levan- Incluir, que abriu em Lisboa em de-
Um país de bondade
e de bruma
Pedro
“
Strecht Queria de ti um país de bondade costas ou encostos a sombras rentáveis,
e de bruma mas que é pleno de grandeza e chance ou
Queria de ti o mar de uma rosa de oportunidade, em que todos que começam
espuma” – Mário de Cesariny podem realmente ser iguais em direitos:
em atos, não em retórica, algo que é muito
Queria de ti um país de bondade para os mais do que apenas um papel manda dizer.
mais novos. Queria.
Um país onde o número dos que nascem De ti, um país de bondade que reconhe-
fosse maior do que diz quantos são os que ce que os mais novos são bons, melhores,
morrem (é inverso desde 2007). quase sempre muito melhores do que nós
Um país onde dois tivessem mais do que alguma vez fomos, e merecem estima e
um… filho. reconhecimento e, de novo, que alguém os
Um país (re)feito da palavra esperança e agarre e eles não fujam para nunca mais,
— Médico
de futuro. nunca... voltarem. Porquê? Nem bruma
pedopsiquiatra
Um país em que, por cada ano de escola nem espuma, só escuridão e precipício.
que em setembro começa, as palavras di- Não queria mais esse país!
tas fossem de força e de paixão. E de luta, Escrevo diante do confronto de muitos
feita de gosto de ensinar e (muito) prazer jovens que conheço. E, só este ano, tive um
de aprender. Textos belos que lembrassem filho que concorreu e entrou em duas uni-
que, de alguma maneira, vai sempre valer a versidades na Holanda; um afilhado que
pena. E não lhes ganhasse a esses ou a essas volta para Delft para completar o mestra-
(textos, palavras, professores, alunos, pes- do após uma licenciatura no Técnico; uma
soas…) o desânimo, a apatia, a indiferença sobrinha que parte agora, em setembro,
de um qualquer tempo incerto. para seis meses de Erasmus em Roma,
Que nesse país não se ouvisse tanto um em Arquitetura, e a filha de uma prima,
“logo se vê”, “não sabemos”, “pouco im- na mesma situação, fá-lo para o Norte de
porta”. Porque tudo, afinal, no mundo dos França. E o rapaz, jovem adulto, que de
mais pequenos, importa. E tem de ser feito certa maneira também é família, juntou-se
de mar, da sua imensidade que nos torna agora mesmo à irmã que já está em Lon-
pequenos, é certo, mas plenos de vontade dres, há mais de dois anos.
de prosseguir e de descobrir. Num cami- Escrevo recordando as consultas à dis-
nho de rosas a que não faltam os espinhos tância que no letivo passado mantive com
(está gasta a imagem, mas vale), pois não um rapaz que foi para Estocolmo (Gestão),
se conhece destino algum a que se chegue e outro que está já agora na Coreia do Sul
por caminho plano, sem névoa ou espuma. (Engenharia), e uma rapariga, já crescida,
Queria de ti um país em que se ouvis- que esteve na Alemanha (Finanças), voltou
sem poetas e humanistas, e não apenas e agora o seu maior desejo é regressar para
cientistas. E em que aparecessem mais terras germânicas. Ou mais outros (e have-
pessoas da arte – pois como diz a pintu- ria outros, tantos), como um que por déci-
Queria de ra de Bob & Roberta Smith, “All Schools mas não entrou, há uns anos, em Medicina
ti um país Should Be Art Schools” – e não só gen- e escolheu Bioquímica e agora é cientista
em que se te a pensar no dinheiro e nas contas que,
realmente, também são precisas, pois não
nos Estados Unidos da América.
Entrei para Medicina, Universidade Nova
ouvissem se vive do nada, mas que o nada fosse mais de Lisboa, com a ridícula média (para os
poetas e do que a felicidade interna bruta medida dias de hoje) de 16,88 valores, a mais baixa
por uma curva da inflação, a taxa de de- desse ano letivo. Era 1983. Portugal era
humanistas, semprego ou o temor de escolher e seguir pobre, o FMI andara por aí, e ainda nem
e não apenas uma paixão para quando se for grande: sequer tinha entrado para a então dita CEE.
cientistas. “Filho/a, artes é desemprego, huma-
nidades não dá para nada”, ouço ano após
A televisão a cores existia há três anos. Eco-
nomicamente éramos pobres, culturalmen-
E em que ano ao ritmo em que se desperdiçam ta- te éramos pobres. A minha banda, já então
aparecessem lentos trocados por coisas ditas úteis para preferida, lançava o épico disco Power,
a vida. Corruption and Lies. Mudámos?
mais pessoas Um país de bondade que não é sinóni- Queria de ti um país... Desculpem, ainda
da arte mo de paternalismo, fáceis palmadas nas quero! visao@visao.pt
PICA-PAU,
EM LISBOA
Restaurantes
Novinhos em folha
NUNO CORREIA
HAJA
APETITE
O vento quente trouxe novidades
gastronómicas a Lisboa e ao Porto.
Da comida portuguesa à asiática, guia
de 14 restaurantes que abriram
nos últimos meses para o regresso
à cidade – há um mesmo a estrear
— P O R F LO R B E L A A LV E S , I N Ê S B E LO,
M A R I A N A C O R R E I A D E B A R R O S , S A N D R A P I N TO
E S U S A N A S I LVA O L I V E I R A
Animal
INTERNACIONAL
23h15
citrinos e ponzu (€23), como antes da sobremesa”, explica,
uma beringela, arroz japonês numa aplicação fiel do modelo
e cebolete (€14) ou um pato tradicional dos restaurantes
confitado, groselha e massa japoneses de sushi. O peixe
chitarra (€26), para rematar vem do Mercado 31 de Janeiro,
com um semifrio de maracujá o atum é Bluefin do sul de
e coco (€8), uma das criações Espanha (o momento alto é o
lula com molho de manteiga doces da japonesa Kozue nigiri de otoro), muitos peixes
LUÍS BARRA
(€19); a katsu sando (€16) Morimoto. Com um interior são maturados na casa, outros,
de cachaço de porco preto espaçoso e aberto para a como a dourada, descansam
em pão brioche caseiro, que esplanada, uma selva urbana 24 horas em alga kombu,
barrámos com karashi-ko muito bem cuidada, a refeição o arroz vem da província
(mostarda japonesa picante); deve ainda ser regada a um japonesa de Toyama e é Oitto
e, para rematar, kakigori (€6), dos cocktails do bar. Às quintas, temperado com um vinagre
PORTUGUESA
a sobremesa feita com gelo há DJ e ao sábado um trio de envelhecido, sempre servido
raspado finalizada com xarope, jazz, sempre à noite. à temperatura do corpo (36 No restaurante Oitto, aberto
popular no Japão nos meses ºC). Em jeito de degustação, no início de julho, no número
de verão. Falta dizer que Tv. da Glória, 22 > T. 21 116 4120 as peças vão sendo servidas 8 do Largo do Picadeiro, no
só aceitam reservas para a > Restaurante: seg-dom 12h30- à vez, já com a soja e o Chiado, Carlos Afonso, 35
primeira ronda de jantares, a 14h30, 19h30-22h30; Bar: wasabi (fresco) necessários, anos, diz que, além de querer
partir das 19h; depois, é por seg-qui até às 24h, sáb-dom até e recomenda-se que sejam fazer comida com sabor e de
ordem de chegada. às 02h comidas à mão. O menu custa partilha, está focado na arte
ALVARO ISIDORO
esteve durante três anos.
Carlos Afonso passa, assim,
de uma cozinha com nove
metros quadrados para um
restaurante com perto de
300 metros quadrados,
que se estende por dois
andares. “Aqui, consigo ter
mais espaço para cozinhar
e ser criativo.” A partir de 15
de setembro, o Oitto contará
ainda com uma esplanada
com 40 lugares, onde se LOTA
DA ESQUINA
podem saborear os pratos da
carta acompanhados por um
cocktail ou um copo de vinho.
e padaria da Esquina. Nesta ainda numa área dedicada considerável; está explícito no
Lg. do Picadeiro, 8 > T. 21 040 quinta, 1, será no piso térreo, aos sabores da terra, com balcão do bar, de onde saem
3199 > seg-dom 19h-23h decorado em tons de azul carnes (vitela barrosã, cabrito, os copos de vinho natural,
e verde, que os clientes vão borrego, porco e algumas os cocktails, as cervejas
poder sentar-se, a almoçar carnes bovinas) e vegetais, artesanais, a kombucha, mas
Lota da Esquina ou a jantar. Na ementa,
especializada nos peixes e
tudo com rótulo biológico. É
caso para dizer que há muito
também as bebidas não
alcoólicas; e completa-se
PORTUGUESA mariscos da nossa costa, há para provar nesta nova casa
A dias de inaugurar o seu novo sugestões para agradar a com assinatura de Vítor Sobral.
restaurante, que ocupa dois todos os apetites e carteiras.
pisos da antiga Docapesca Das amêijoas à Bulhão Pato a Passeio D. Luís I, Lg. da Lota,
de Cascais, Vítor Sobral uma sapateira desfiada, ideais Cascais > T. 93 488 1915, 91 964
faz-nos uma visita guiada para partilhar, passando pelos 4738 > seg-dom 12h30-23h, bar
pelos cerca de dois mil pratos com mais substância, 19h-2h
metros quadrados da Lota da com muitos grelhados, bem
Esquina – sem contar com a como arrozes, massadas,
futura (e espaçosa) esplanada marinados, entre outras Come to Tricky’s
que será instalada junto à receitas. Depois, no dia 8,
CONTEMPORÂNEA
entrada principal. “Este é o abrirá, no piso superior, o bar
maior restaurante que vou de cocktails, com uma carta Três D marcam a alma (e o
gerir. Podemos dizer que é bem recheada de bebidas, logótipo) do Come to Tricky’s:
uma grande Esquina com música ao vivo e DJ sets. Mas dine (jantar), drink (beber) e
LUÍS BARRA
muita coisa a acontecer aqui não será tudo. Neste mesmo dance (dançar). O convite
dentro”, diz, orgulhoso, o chefe andar, em meados de outubro, é feito à chegada, com a
de cozinha dos restaurantes o chefe de cozinha apostará música animada num volume
em casa, que chegou a Pupo Lameiras faz uma carta amêndoa e canela. Também
funcionar como restaurante, vegetariana. O convite para as sobremesas (€6) seguem
com apenas meia dúzia de criar a ementa do Espécie, a mesma linha, de que
mesas. Em julho passado, aberto no final de junho, são exemplo o arroz-doce
mudaram-se para Alfama, partiu da proprietária, Marta cozinhado com coco ou a
com a cozinha, aberta para onde conseguem sentar Almendra (também dona do banana frita e paçoca, com
a sala, onde um conjunto de quase 40 pessoas e têm Cruel e do Boteco Mexicano). gelado de amendoim e
cozinheiros pensa uma carta mais espaço para cozinhar. “Não havia uma cozinha de caramelo de miso.
feita com ingredientes de A carta tem mais variedade autor vegetariana na Baixa.
produtores maioritariamente de dim sum, feitos à mão e Queremos conquistar os R. da Picaria, 84 > T. 96 733 6147
do Oeste. Trabalho de equipa com diferentes recheios, mas não vegetarianos, com estes > seg-qui 12h30-23h, sex-sáb
12h30-24h
é a expressão-chave deste também alguma comida do pratos coloridos, saborosos
restaurante com boa onda, Vietname. Exemplos? Dim e a preços democráticos”, diz
aberto desde abril, onde o sum de borrego, cogumelo Marta. “A carta foi pensada
rumo é traçado pelos sócios, a shiitake, cenoura, gengibre e sem grandes preceitos.
norte-americana Jenifer Duke, cebolinho (€9,50/3 unidades); Tentei fazer a comida que
da loja e projeto de vinhos wonton picante de frango do faço habitualmente, mas
naturais Rebel Rebel, e João campo, coentros, gengibre e em versão vegetariana,
LUCÍLIA MONTEIRO
Magalhães Correia, chefe de couve chinesa (€8,50/4); bao trabalhando os legumes como
cozinha do Água pela Barba de porco caramelizado com sendo as estrelas do prato”,
e do Season, aqui a levantar molho barbecue (€9,25/3); explica o chefe de cozinha.
um projeto sonhado durante ou salada de pato crocante E com a criatividade a que
três anos. “Queríamos um sítio (€10,50). Uma dica: não deixe já nos habituou. Entre as
que não fosse nem demasiado de provar os cocktails do sugestões, há sopa de milho Tokko
pretensioso nem demasiado Living the Drink, feitos em fria ou quente (€4), pastel
JAPONÊS
chique, com boa comida e especial para o Aura. de massa tenra de queijo,
serviço, para passar um bom cebola e pimento (€3,50), À entrada, detemo-nos na
bocado.” E conseguiram R. das Escolas Gerais, 88A > T. 91 um inesperado KFC – Korean grande janela virada a rua.
cumprir o objetivo. Sem balizar 011 6489 > ter-sex 18h-23h, sáb Fried Cauliflower (€5,50), que Dali, é visível o ambiente
entradas e pratos principais, 12h-15h, 18h30-23h30 mais não é do que couve- descontraído pautado por
LUCÍLIA MONTEIRO
e de cozinha, e o melhor
da gastronomia oriental.
Nas entradas, sugerem- LA DOLOROSA
nos opções como o
aromático carpaccio de
salmão trufado (€10), a
salada de alface grelhada
La Dolorosa com molho de chocolate
para sobremesa e, claro,
Mare. A carta oferece “comida
italiana autêntica” e conta
MEXICANO
com muxama, castanha e margaritas, micheladas, com ingredientes que vêm
tomate confitado (€4) e Em Leça da Palmeira, o tequilas e cocktails. diretamente de Itália, caso das
o novo ceviche de peixe Grupo do Avesso abriu uma anchovas oriundas de Cetara,
branco, polvo, cebola roxa taqueria mexicana, a poucos Lg. do Castelo, 168, Leça da cidade piscatória da Campânia,
e pimenta. Seguem-se os metros de onde detém os Palmeira, Matosinhos > T. 91 do tomate San Marzano, do
tacos (salmão €6, atum restaurantes Fava Tonka, 267 3469 > seg-qui e dom presunto de Parma e, claro,
picante €9), os tradicionais Esquina do Avesso, Terminal 19h30-23h, sex 19h30-24h, sáb dos queijos. Para início de
uramaki, hossomaki, 4450 e Sushiaria. Com 13h-24h conversa, provem-se os
temaki e sashimi. Há ainda paredes pintadas de laranja, grissinis artesanais que são
combinados de sushi (a a contrastar com o azulão postos na mesa e a focaccia
partir de €14/10 peças), das cadeiras e mesas, o La Al Mare de cavala fumada na casa
com opção vegan, pokes Dolorosa tem uma carta ITALIANO com as tais anchovas vindas
(de salmão e de atum descontraída. “Servimos de Cetara. Do forno a lenha,
marinado), nigiris flamejados muito mais do que tacos. A Tem vista para o Atlântico e à vista dos clientes, saem
e especiais Tokko, e pratos comida é desprendida, mas para a foz do Douro o novo pizzas napolitanas de massa
quentes, como a pescada com muito sabor, muitas (e terceiro!) italiano do grupo mãe (a partir de €10,20). Além
fumada com vegetais malaguetas e pimentos, Cafeína, de Vasco Mourão, das massas, os adeptos da
grelhados (€10) e shogayaki e um toque de mar”, diz com o chefe de cozinha cozinha mediterrânica ainda
(€14), nome para as fatias Ricardo Rodrigues, o dono. chileno Camilo Jaña ao se deliciam com o entrecôte
finas de carne de porco Da cozinha aberta saem leme. Aliás, foi a localização alla fiorentina (€38,40, duas
frita e gengibre. À hora do quesadillas (€10), huevos “excecional”, aliada “ao gosto pessoas) ou o tornedó de
almoço, têm disponível um rancheros divorciados (€7) pela cozinha italiana”, que lombo com pancetta (€21,60).
menu executivo que inclui e vários tacos de tortilha de levou o empresário a abrir o Al O Al Mare tem também um bar
entrada, prato quente ou milho para comer à mão (al
combinado, sobremesa, pastor, Gobernador, carne
AL MARE
bebida e café (€19,50). Para assada, carnitas, Lengua, De
fechar, e adoçar o momento, la Baja, a partir de €6). Mas
não podiam faltar o bolo de também o tradicional pozole
chiffon com creme inglês (caldo de porco desfiado,
e gelado (€6) ou o pudim milho pozolero, €18) e a
matcha (€6). O sommelier cochinita pibil (tortilhas de
Sérgio Macedo é agora o milho, porco marinado em
responsável pela carta de achiote, laranja e habanero,
vinhos do Tokko, estando €20). Tudo picante q.b.,
para breve a abertura de como se deseja. Daí que
um wine bar. não se estranhe a frase no
néon de uma das paredes:
LUCÍLIA MONTEIRO
Fora
de outubro, terá visitas
guiadas em várias
datas. A entrada é
grátis. anos da Vindouro –
Festa Pombalina /
Wine & History. São
—— Festa três dias de festa
com a presença de
GIN E MUITO MAIS produtores de vinho
Até domingo, 11, o DOC Douro e Porto,
Hendrick’s Cucumber várias sessões de
Lemonade Garden Conversas Sobre
toma conta do Vinho, orientadas
Quiosque do Oliveira, por Manuel Moreira,
no Príncipe Real, com concursos de vinho
cocktails de gin e finais e doces, provas
de tarde inusitados livres e ainda o
D.R.
chefes de cozinha
Inaugura nesta Joachim Koerper e
quinta, 7, na Casa da Paco Roncero, ambos
Imprensa, em Lisboa, com Estrela Michelin
MARCOS BORGA
Gerais, a ter lugar na com ervilhas e batata-
quarta, dia 7, no jardim doce, as empadas e o
da Torre de Belém. bolo de alfarroba. Estas
O espetáculo, que e outras sugestões, que
assinala o bicentenário nos trazem os sabores final que permite tornar Franco Pepe (Caiazzo, programados pela
da independência das cozinhas algarvia a pulseira ajustável. Itália); as combinações Matéria Prima, assim
do Brasil e a primeira e mediterrânica, estão Está disponível em três improváveis de Sarah como os concertos
tournée em Portugal agora disponíveis para padrões diferentes – Minnick (Portland, Feira da Alegria,
da orquestra sob a entrega em casa, em Original, Dégradé ou EUA) vão para lá dos pensados por Rui Silva.
batuta do maestro exclusivo, na plataforma Pick & Pick –, e há 33 ingredientes; a TV
Fabio Mechetti, tem Uber Eats. tons de fio à escolha. tornou Gabriele Bonci
a participação do A The Maker Box (Roma, Itália) famoso —— Aplicação
pianista brasileiro custa €33,95 (com e incontornável; e
Jean-Louis Steuerman portes incluídos) e as os asiáticos Ann Kim O OSCAR RESOLVE
e inclui obras encomendas fazem- (Minneapolis, EUA) e Há roupa para passar,
consagradas do se através da página Yoshihiro Imai (Quioto, a limpeza profunda
repertório sinfónico de Instagram catz_ Japão) também põem a está em standby e
brasileiro e português. themaker. mão na massa. A nova o candeeiro da sala
série estreia-se a 7 de continua por montar?
MARACUJÁLIA NO
D.R.
MEO Kalorama
Afinal, havia outro
Há espaço para mais um? A qualidade do cartaz é o grande trunfo deste
festival de verão que quer impor-se anualmente no Parque da Bela Vista,
em Lisboa. A primeira edição do Kalorama começa hoje, 1 de setembro
— PO R PED RO D IAS D E ALM EI DA
À
primeira vista, do o plafond disponível para
pareceria que o o verão, o Kalorama assumia
País – e, em par- alguns riscos, ainda maiores
ticular, a zona de sabendo-se que a ambição dos
Lisboa – estava organizadores é a de terem
tão bem servido cerca de 40 mil espectadores
de grandes e médios festivais por dia na Bela Vista. Mas o
de música de verão que não ha- grande trunfo do Kalorama é
veria mesmo espaço (nem tem- mesmo a qualidade do cartaz
po) para mais nenhum. Não foi (desenhado por quem sabe do
isso que acharam Artur Peixoto assunto e domina os mean-
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(há vários anos uma presença dros do pujante mercado glo-
fundamental, mas discreta, na bal da música ao vivo), que já
organização de grandes con- levou a uma elevada procura
certos e festivais em Portugal, de bilhetes, cerca de 25% com-
atualmente à frente da House prados a partir do estrangeiro THE CHEMICAL BROTHERS
of Fun) e os responsáveis pela (com destaque para Espanha,
Andam nisto desde 1989 e já passaram por palcos portugueses
promotora espanhola Last Tour França e Inglaterra). Mas há vezes suficientes para lhes perdermos a conta… A música de Tom
(que organiza, por exemplo, outras preocupações a serem Rowlands e Ed Simons parece não envelhecer e mantém a sua
o festival BBK, em Bilbau, e sublinhadas pelos organiza- eficácia, com um objetivo muito preciso: fazer dançar multidões.
o Cala Mijas, em Málaga, que dores nesta primeira edição: o Há hits, como Galvanize ou Hey Boy, Hey Girl, que nunca falham.
também acontece por estes festival está “empenhado em Palco Colina > 1 set, 23h30
dias). Juntos, criaram o Ka- implementar um modelo sus-
lorama, apontando para uma tentável e inclusivo” em linha
nesga do calendário estival com a Agenda 2030 da ONU,
ainda por ocupar, o arranque apostando na “inclusão social,
de setembro, e apostando no na transparência de processos,
conceito de “último grande em energias menos poluentes e
festival de verão europeu”. na otimização e na reutilização
A operadora MEO associou-se de recursos.”
como principal patrocinador O Kalorama terá três palcos
e assim nasceu o MEO Kalo- (MEO, Colina e Futura, com
rama que, desta quinta, 1, até curadoria dessa rádio online)
sábado, 3, vai ocupar o Par- e todos os dias apresenta, a
que da Bela Vista, em Lisboa, abrir o Colina, artistas locais na
GETTY IMAGES
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apostado em transformar-se numa espécie
de clássico crooner.
Palco Meo > 2 set, 23h
NICK CAVE
& THE BAD SEEDS
A passagem do músico australiano por
palcos nacionais começa a tornar-se
uma rotina. Nada que faça enfraquecer
a intensidade (e proximidade) com que
se relaciona com o seu público, cada vez
mais vasto. E há muita gente à sua espera:
esta passagem por Lisboa acontece
depois do cancelamento, em 2020 e
2021, dos concertos marcados para a
Altice Arena (na sequência do lançamento
do álbum Ghosteen em outubro de 2019).
No Parque da Bela Vista deve repetir-se o
alinhamento do concerto que aconteceu
a 9 de junho no NOS Primavera Sound,
no Porto, com o regresso a velhas
canções (como From Her to Eternity,
Tupelo, The Mercy Seat, The Ship Song
e City of Refuge...) e a interpretação de
temas mais recentes e etéreos. O violino
LUCÍLIA MONTEIRO
e as teclas de Warren Ellis são, cada vez
mais, um espetáculo à parte nos mais
recentes concertos de Nick Cave.
Palco MEO > 3 set, 21h
RÓISÍN
MURPHY
A última vez que atuou em
Lisboa foi em setembro de
2019, no Festival Lisb-On.
Aí, mostrou como a sua
música se torna irresistível
em palco, sem grandes
margens para falhar. Ainda
há ecos dos festivos
Moloko, que fundou em
1994 (The Time is Now,
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FARO
Festival F
Reunião de (várias) famílias
É apresentado como sendo o “último grande
festival de verão” e está de regresso ao centro
histórico de Faro, agora com mais palcos FIGUEIRA DA FOZ
Figueira
Jazz Fest
Nascido há dois anos enquanto
palco privilegiado para o jazz
nacional e o diálogo deste com
outros géneros musicais, este
festival repete a sua fórmula
de sucesso apostando em
três espetáculos inéditos e,
provavelmente, irrepetíveis.
Assim, nesta quinta, 1, sobe ao
palco o saxofonista, produtor e
compositor Cabrita que, além
de vir acompanhado da banda
habitual, composta por três
saxofonistas, um baterista e
um guitarrista/teclista, convida
ainda The Legendary Tigerman,
Samuel Úria e Selma Uamusse
para com ele interpretarem
os temas do primeiro disco
em nome próprio, editado
em 2020. Para sexta, 2, está
ARLINDO CAMACHO
É
guitarra portuguesa e Carlos
uma história de sucesso a do destacam-se as atuações de gente tão Barretto no contrabaixo) e a
F que, desde 2014, invadiu as diversa como Wet Bed Gang, A Garota voz de Teresa Salgueiro, para
muralhas de “Vila Adentro”, Não, Viviane, Pedro Mafama, Bárbara um concerto de cruzamento
como é conhecido o cen- Bandeira, Cláudia Pascoal, Rita Vian, entre géneros musicais e
tro histórico de Faro, com um festi- The Black Mamba ou José Cid com a respetivos repertórios. No
val dedicado ao melhor da produção Orquestra Clássica do Sul. Já na sexta, sábado, 3, dois velhos amigos,
nacional, com pop, rock e hip-hop a 2, haverá HMB, Agir, Marco Rodrigues, Pedro Burmester e Mário
coabitarem em harmonia durante três Paus, Richie Campbell, T-Rex ou Bateu Laginha, voltam a reunir-se
dias. Entretanto, alargou-se também Matou, enquanto para sábado, 3, estão em palco, como tantas outras
para fora de muralhas, conseguindo reservados dois dos nomes mais fortes, vezes, agora para prestar
atrair um público cada vez mais varia- Dino D’Santiago e Miguel Araújo, para uma sentida homenagem a
do, num modelo que se mantém nesta encerrar este festival desenhado a pen- outro grande amigo, Bernardo
edição. Após dois anos de ausência, sar em vários públicos. Como já é tra- Sassetti. Onze anos depois
trata-se de um regresso em grande, dição, além dos concertos haverá ainda do espetáculo 3 Pianos (que
contando agora com dois novos palcos uma programação de atividades parale- juntou os três pianistas em
– no total, são nove: Ria, Sé, Quintalão, las, como stand-up comedy, tertúlias, palco), interpretam a música
Museu, Músicos, Castelo, Arco e os no- exposições e até uma silent party diária, do compositor e pianista
vos Magistério e Arraial, sempre com a na Fábrica da Cerveja, onde a música desaparecido em 2012. — M.J.
ria Formosa como pano de fundo para será ouvida através de auscultadores.
receber um verdadeiro encontro de — Miguel Judas Centro de Artes e Espectáculos
família(s) da música portuguesa, neste > R. Abade Pedro, 2, Figueira da
Foz > T. 233 407 200 > 1-3 set,
ano representada por mais de 50 artis- Vários locais de Faro > 1-3 set, qui-sáb 22h > €5 e €10 (passe)
tas. Na primeira noite, nesta quinta, 1, qui-sáb 19h45 > €22 a €54 (passe)
GUIMARÃES
Contextile
Refazer a trama
Com um programa reforçado, a Bienal de Arte Têxtil
Contemporânea reúne obras de 50 artistas vindos de 33 países
A
Contextile celebra 10 anos de exis- e a contar com a participação da comunidade.
tência e bem pode orgulhar-se da O reconhecido artista ganês “usa a transforma-
adesão da comunidade artística aos ção de materiais para explorar temas como mer-
desafios lançados. Das mais de 1 500 cadorias e bens primários, comércio, migração,
obras apresentadas neste ano a concurso – um globalização e intercâmbios económicos”.
número recorde que espelha o reconhecimento Já a exposição O Têxtil na Arte Portuguesa, no
internacional da bienal –, o júri selecionou 58, Centro Internacional das Artes José de Guima-
de 50 artistas, que trabalharam a partir do tema rães, irá refletir sobre a história da expressão
desta 6ª edição: Re-Make, ou seja, repensar a artística desses materiais, em Portugal, e mostra
cultura têxtil e perceber como a sua ligação à obras de dez artistas que, em várias épocas, in-
arte pode provocar mudanças, reagindo às con- cluíram o têxtil nas suas práticas artísticas: Ana
dições políticas e sociais da atualidade. “Preci- Vieira, António Barros, Eduardo Nery, Gisella
sávamos de fazer um ponto de situação, e neste Santi, Joana Vasconcelos, João Pedro Vale &
espaço de reflexão crítica podemos sempre Nuno Alexandre Ferreira, José de Guimarães,
aperfeiçoar-nos e melhorar”, sublinha Cláudia Leonor Antunes, Lourdes Castro e Margarida
Melo, diretora artística da Bienal de Arte Têxtil Reis. Esta edição conta ainda com um país convi-
Contemporânea. Uma reflexão decisiva numa dado, a Noruega, que traz a vários locais de Gui-
cidade, Guimarães, em que o têxtil é um dos marães obras de 12 artistas. Outras exposições,
grandes símbolos. conversas, residências artísticas, visitas guiadas e
Além da exposição internacional, patente no workshops completam o programa.
Palácio Vila Flor, espaços públicos acolherão in- — Joana Loureiro
tervenções artísticas, como as de Ibrahim Maha-
ma (uma na muralha do centro histórico, outra Vários locais de Guimarães > T. 96 381 9911 > 3 set-30
no Instituto de Design), ambas em grande escala out > grátis a €8 (passe)
Arte pública
O artista ganês
Ibrahim Mahama
apresenta duas
instalações de
grande escala
nesta edição do
Contextile, em
Guimarães
D.R.
MOTELX
Afinal, há um terror português
Entre antestreias, retrospetivas, sessões competitivas
e tesouros recuperados, o MOTELX dá destaque
ao cinema nacional
S
erá que O Convento, de Manoel de Olivei- mateca, para projetar Os Crimes de Diogo Alves,
ra, pode ser considerado um filme de ter- de 1911, realizado por João Tavares (com a banda
ror? À 16ª edição, o MOTELX conseguiu, sonora, criada por Bernardo Sassetti, a ser in-
finalmente, fazer do cinema português o terpretada ao vivo), e O Fauno das Montanhas,
tema principal. Mas, claro, é preciso alguma elas- de Manuel Luís Vieira, cineconcerto inserido na
ticidade nos critérios de classificação de género. secção Warm-Up, com música ao vivo tocada
Se esse filme de Oliveira, que mexe com pela Orquestra Metropolitana de Lisboa. Tudo
o mistério e o sobrenatural (como acontece isto, além da competição nacional de curtas, em
também com o seu O Estranho Caso de Angé- crescente qualidade.
lica), é uma das mais surpreendentes cartadas, Entre as novidades internacionais, também
o festival está cheio de outras boas surpresas. há muito o que dizer. Natural destaque para
Um dos grandes destaques é a estreia d’ Os Dark Glasses, um giallo contemporâneo de Da-
Demónios do Meu Avô, de Nuno Beato. Trata- rio Argento; Final Cut, de Michel Hazanavicius,
-se da primeira longa-metragem de animação um remake francês do nipónico One Cut of The
stop motion portuguesa e, de facto, mexe com Dead, filme de zombies que esteve na abertura
o imaginário sobrenatural de tradição popular, do festival de Cannes, e ainda A Praga, recupe-
assim como Coisa Ruim, de Tiago Guedes e de ração de um filme de Zé do Caixão, figura mítica
Frederico Serra, outro dos filmes revisitados. do cinema de terror brasileiro.
Do realizador e produtor Frederico Serra pode Mas há mais... Holy Spider, que marca o re-
ver-se também, em antestreia, o filme Criança gresso ao festival do iraniano Ali Abbasi, ou a
Lobo, que será, no futuro, uma série de televi- animação espanhola Unicorn Wars, de Alberto
são. A secção Quarto Perdido, que descobre um Vázquez. Quem for à procura de sustos, tripas
cinema de terror português, vai mostrar, ainda, e sangue, pode sorver toda essa adrenalina, na
O Fascínio, de Fonseca e Costa. Somando a O secção X, que vai subindo de intensidade ao
Convento e a Coisa Ruim, são três filmes produ- longo do dia até chegar ao auge nas sessões da
zidos por Paulo Branco, pretexto para homena- meia-noite. — Manuel Halpern
gear o produtor no festival.
Ainda no campo do cinema português, o Cinema São Jorge, Cinemateca e outros locais
MOTELX viaja mais atrás, com a ajuda da Cine- de Lisboa > 6-12 set
“Os Demónios
do meu Avô”
Com argumento
de Possidónio
Cachapa e
Cristina Pinheiro e
realização de Nuno
Beato, a primeira
longa-metragem
portuguesa
com a técnica
de stop motion
revisita tradições
populares
portuguesas
D.R.
PRIME VIDEO
Enredo A série
une todas as
grandes histórias
da Segunda Era
da Terra Média:
a forja dos anéis,
o surgimento de
Sauron, a queda
de Númenor e
a última aliança
entre elfos e
homens
D.R.
D
epois da estreia auspiciosa d’ A Guerra miliares como Gandalf ou Bilbo Baggins não es-
dos Tronos: A Casa do Dragão, con- tão de regresso. Mas Galadriel (Morfydd Clark)
solidada numa audiência de dez mi- anuncia que Sauron voltou, com imagens de
lhões de espectadores, só na primeira uma multidão de orcs ajoelhada diante de uma
noite de exibição na HBO, conseguirá O Senhor figura misteriosa. Quem interpretará o vilão,
dos Anéis: Os Anéis do Poder superar a fasquia que agora ganha um corpo humano, continua a
da concorrente direta? Para quem quer angariar ser segredo muito bem guardado.
mais subscritores, apresentar a obra épica de A forja dos 20 anéis do poder, a ascensão de
J.R.R. Tolkien a uma nova geração pode não ser Sauron, a queda da ilha de Númenor e a última
tarefa fácil. aliança entre elfos e homens dão rumo à narra-
Para fazer este spin-off, que regressa às ori- tiva, antes de Bilbo Baggins abandonar o conda-
gens da história nunca antes abordadas nos seis do e deixar o anel a Frodo.
filmes de Peter Jackson (vencedores de 21 Os- Os produtores John D. Payne e Patrick
cars), a Amazon de Jeff Bezos dispôs-se a gastar McKay, figuras emergentes no meio, inspira-
perto de mil milhões de euros na sua produção, ram-se nos seis livros da saga, mais os apêndi-
a mais cara de sempre da história da televi- ces com pormenores sobre o passado da Terra
são, incluindo acordo de direitos, produção e Média. Ambos sabem que as diferenças criativas
marketing por cinco temporadas. serão analisadas à lupa e que a tentação para
O projeto teve início, em 2017, com a compra comparar a série às longas-metragens, respon-
dos direitos de autor de J.R.R. Tolkien. A série sáveis por tornar a fantasia um género mains-
passa-se na Segunda Era da Terra Média – ou tream, é grande. — Sónia Calheiros
seja, 3 500 anos antes da Terceira Era, em que
se desenrolam as aventuras de Hobbit e d’ O Prime Video > Estreia 2 set, sex > 8 episódios,
Senhor dos Anéis – e por isso personagens fa- um por semana
2.
Cineteatro
a Céu Aberto
Ao espreitarem para
dentro do antigo
Cine-Estrela, no
Campo das Amoreiras,
os responsáveis
pelo Festival Todos
encontraram um ecrã
a funcionar, entre
bilhetes e antigas
bobinas. E descobriram
o lugar ideal para
CLÉMENT MARTIN
exibir três filmes que
passaram pela tela
deste “cinema piolho”,
encerrado nos finais
dos anos 80: Viva Las
1.
Festival Todos
Vegas, de Roy Rowland
Lisboa (3 set, sáb), Umrao
Jaan, de J.P. Dutta
Crossing (10 set, sáb), e O Ás
SOFIA SILVA
D.R.
3. 4. 6. 7.
9-11 set, 15h > €3 Lg. das Galinheiras os €4) > Mesas de Paz
> 11 set, dom 18h > grátis > Jardim do Campo das
Amoreiras > 10-11 set,
sáb-dom a partir de 15h
POR
Manuel
Gonçalves
da Silva
comer&beber@visao.pt
Novos e tão
sedutores
Um encanto da ilha do Pico,
uma demonstração de qualidade
e uma boa nova da Ramos Pinto
E
nquanto decorre a colheita das uvas,
porventura a mais participada e excitante
atividade ligada à vinha e ao vinho
– “Ó moças não há tempo/ Como é o
de vindimar/ De dia colhe-se a uva/ E à noite é ROLA-PIPA QUINTA BONS ARES
namorar!”, cantava-se nas rogas do Douro –, va- PICO DO MONTE REGIONAL
mos provando os vinhos já feitos, que chegam ao BRANCO D’OIRO DURIENSE
mercado no seu tempo certo, prontos para beber 2020 REGIONAL ROSÉ
ou para guardar em casa. E que bons vinhos LISBOA 2021
temos para degustar: Rola-Pipa 2020, branco de Vinho de lote BRANCO
lote com Verdelho, Terrantez do Pico e Arinto com as castas 2021 Elaborado
dos Açores, três nobres castas açorianas, que Verdelho, com uvas das
assinala o 72º aniversário da Cooperativa Vitivi- Terrantez do Lote das castas castas Cabernet
nícola do Pico – Picowines, narra uma história Pico e Arinto Viognier, Arinto Sauvignon (60%),
exaltante e tem um perfil irresistivelmente sedu- dos Açores, de e Marsanne de Tinta-Barroca
tor; Quinta do Monte d’Oiro Branco 2021, vinho vinhas plantadas vinhas em modo (30%) e Touriga-
biológico – a viticultura em modo de produção à beira-mar. Há de produção Nacional (10%),
biológica com gestão parcelar foi opção rápida elementos de iodo biológica, com com fermentação
e clara de José e de Francisco Bento dos Santos, e de salinidade, fermentação em e estágio de 10%
pai e filho, para a sua propriedade da região de presentes em cubas de inox. em casco. Tem
Lisboa –, tão elegante, acessível e amigo da mesa toda a prova, que Aroma sedutor, cor suave, entre o
que se tornou companhia habitual; e Bons Ares lhe imprimem muito limpo e amarelo e o rosa,
Rosé 2021 é uma primeira edição, uma estreia um caráter fresco, com boas aroma fino com
auspiciosa e uma boa surpresa da Ramos Pinto, genuinamente notas cítricas, e notas frutadas,
pela elegância, frescura e versatilidade verdadei- picoense, advindo paladar elegante, vegetais e um
ramente agradáveis. da lava basáltica com perfeita delicado toque
Mas voltemos ao Rola-Pipa, cuja história me- do solo e dos harmonia entre floral, paladar
rece registo particular: naquele solo de lava preta ventos salgados acidez e fruta. elegante, fresco,
da ilha do Pico foi preciso criar condições para do Atlântico. Um vinho sempre seco e macio,
fazer chegar os vinhos aos barcos, para serem Fino e delicado apetecível, com acidez
transportados até à ilha do Faial, e é por isso no aroma, que mas cujo lugar bem medida a
que lá estão, bem visíveis, os sulcos abertos nas também exibe de eleição é derramar frescura.
lajes de basalto pelas rodas dos carros de bois boas notas de a mesa, onde Requer mesa com
nas suas idas e voltas, a que chamam “rilheiras”; fruta fresca, muito revela grande mariscos, peixes,
as rampas talhadas por forma a nelas rolarem as bem estruturado e versatilidade. pratos de cozinha
pipas até ao embarque, daí o nome rola-pipas; cheio de harmonia italiana e oriental.
e as plataformas, também aplanadas na rocha, a no paladar. €10
golpes de “marrão”, ditos ancoradouros, em que Surpreende e €14
os barcos acostavam. Dali saíram vinhos célebres, seduz.
dos quais este é herdeiro, ou não tivesse sido
propositadamente “rolado”. €25
Palmeiras SEM
A nova carta do
restaurante Ria, ARREDAR PÉ
servida numa food “Gurus”
truck junto à piscina e experiências
Palms, aposta exclusivas
nos petiscos
Spice Spoons
O programa inclui
uma visita ao
Mercado de Loulé,
acompanhada
pelo chefe
de cozinha
Bruno Viegas,
para comprar
ingredientes
frescos e locais.
Segue-se uma
aula de cozinha
no hotel, para
aprender técnicas
e receitas
tradicionais.
D.R.
VILAMOURA
Spa Do ambiente
D
de laranja e
o Anantara Vilamoura não se vê chá das cinco, servido a preceito, ou brindar terminando numa
o mar, ele está a dez minutos de ao descanso de cocktail na mão. massagem de
distância. A verdade é que não lhe Neste verão, o Anantara apresentou duas óleo de lavanda.
sentimos a falta, compensada pe- novidades: a nova carta do restaurante Ria,
los banhos na piscina ladeada de palmeiras, servida numa food truck junto à piscina
como se estivéssemos em Palm Springs, ou Palms, e a inauguração do Sensai, ambos
na piscina Cascades, exclusiva para adultos, chefiados por Bruno Viegas e abertos a não Golfe Vilamoura é
em que se dá umas braçadas sem sobressal- hóspedes. Se o primeiro, apenas com serviço destino de eleição
tos e se prolongam as leituras, em perfeito de almoço, conquista pelos petiscos, como para a prática
silêncio. Mordomias não faltam neste cinco a salada de polvo, e pela frescura do maris- da modalidade.
estrelas, o primeiro hotel Anantara na Euro- co, representada na Torre de Mariscos da Aulas individuais
pa, onde se conjuga a hospitalidade tailan- Ria e no ceviche de corvina, no segundo, o e personalizadas,
desa – país de origem da marca – com as Sensai, somos brindados com uma explosão reserva de
tradições e os produtos algarvios. de sabores. O ideal é começar pelo omaka- horários, uma
A localização privilegiada, com vista para se, um especial de peças de sushi escolhi- visita pelos
o campo de golfe, desenhado pelo antigo jo- das pelo chefe Fábio Terada, e depois seguir campos de golfe
gador Arnold Palmer, facilmente cativa gol- para o carabineiro picante, abacate e ovas de à volta, tudo isto
fistas e há também quem venha pelo serviço peixe-voador e o ramen “Como um cozido à é possível ao
e conforto dos quartos. São 280, se incluir- portuguesa”. Já tínhamos dito que a cultura contactar Tomás
mos as suítes, todos com varanda, em que portuguesa é uma presença constante por Carlota, o “guru”
há uma generosa chaise-longue, de qual não aqui, não tínhamos? — Susana Lopes Faustino de golfe do
apetece sair. Com tanto para explorar, há Anantara.
que contrariar a preguiça e aproveitar para Av. dos Descobrimentos, Vilamoura > T. 289 317 000
ir passear pelos jardins e terraços, tomar um > a partir de €150
paisagens mais
muitos pratos com um toque
“Sou um fã de Saramago”, nosso, a amabilidade das
confessa. Ensaio sobre a pessoas e a forma como
CLINIC
Pedro Strecht e Joana Marques
Colaboradores Texto: Manuel Gonçalves da Silva, Manuel Halpern, Miguel Judas,
Pedro Dias, Margarida Robalo e Sónia Graça (Revisão)
AESTHETIC MEDICINE Ilustração: Susa Monteiro
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credenciada que tem na génese Maria João Costa (Diretora Coordenadora de Publicidade) mjcosta@trustinnews.pt
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da Finlândia. Grande massa de água salgada. Tempo em que o
Sol está abaixo do horizonte. // 2. Idolatra. Segundo. Quentura.
Pessoa notável na sua especialidade. // 3. Óxido — MÉDIO
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da Feira do Livro de Lisboa 2022. // 5. Argila. Rangífer.
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Fruto silvestre. // 8. Amarra com nó. Prefixo (repetição).
Gosto muito. // 9. Disciplina. No caso de. Sigla de Polyvinyl
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Europa Central. Acreditar. // 11. Antes do meio-dia. Português.
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vontade. // 2. (...) Costa Júnior, líder da UNITA. Erradamente.
// 3. Lista. Rosto. Escândio (s.q.). // 4. Seguir até. Recurso (fig.).
(...) Maria Cardoso, cronista da VISÃO. // 5. Natureza. Irrigue.
// 6. Prefixo (ouvido). Receias. // 7. Blandícia. Reza. // 8. Suspiro.
Na moda. // 9. Rádio (s. q.). Fogueira. // 10. Cálcio (s. q.). Antes
de Cristo. // 11. Aquilo que não pode ser discutido ou em
que não se pode tocar (fig.). Preposição que indica lugar.
// 12. Substância resinosa misturada com um corante, para
fechar garrafas, cartas, etc. Deste, desse ou daquele modo.
// 13. Catedral parisiense (duas palavras juntas). Tomba. // 14.
Sufixo (agente). Alento. Abraço (inf.). // 15. Inerente. Aquilo
de que o animal se apodera para comer. // 16. Automóvel de
praça munido de taxímetro. Que se pode arar. // 17. Espanha
(internet). Vento brando e aprazível. Profissão de fé.
— E M Q U E D I R E Ç Ã O S E D E V E M R O D A R A S M A N I V E L A S PA R A P R O D U Z I R O S M O V I M E N TO S 1 E 2 ?
1. Como se chamava 3. Em que ano foi 5. Onde nasceu, 7. Qual a nacionalidade 9. Em quantos países
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2000? da Serra da Estrela? A. Aveiro da Literatura em 2018)? A. Um
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B. The Stars Upon Us B. 1982 C. Setúbal B. Ucraniana C. Cinco
C. Parachutes C. 1991 C. Polaca
6. Para que clube foi 10. Em que ilha de Cabo
2. Onde acontece, de 4. Qual destes filmes jogar o futebolista Luís 8. O “calço” é um pão Verde fica o Aeroporto
quatro em quatro anos, não foi realizado Figo quando deixou doce típico de que Internacional Cesária
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