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O OBJETO

GOIÂNIA -GO
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A TESE

ESTE RELATÓRIO TRATA DA LEGITIMIDADE DA RECONSTRUÇÃO DE MONUMENTOS HISTÓRICOS EM VISTA DA SEGUINTE QUESTÃO:

“PODENDO UM AUTORITARIAMENTE DEMOLIR, PODEM TODOS DEMOCRATICAMENTE RECONSTRUIR?”

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EPÍGRAFE

Afinal, muito já se disse que temos


memória curta, porque há quem
acredite que o passado nada tem
a dizer ao presente.

Pinheiro Sales

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GRUPO DE TRABALHO

Titulares
Aguinaldo Pacheco
Maria Eliana Jubé Ribeiro
Aluízio Antunes Barreira
Marcantônio Dela Côrte
Carlos Ribeiro dos Santos
Alberto Ribeiro do Carmo

Suplentes
Ivanor Florêncio Mendonça
DECRETO N° 1.805, DE 24 DE JULHO DE 2003.
Carlos Dias de Medeiros Júnior
Constitui Grupo de Trabalho para avaliar o resgate do Kátia do Carmo de Paiva
Monumento do Trabalhador e dá outras providências.
João Rabelo dos Santos
Pedro Wilson Guimarães Paulo Silva de Jesus
Prefeito de Goiânia Horiestes Gomes
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FOTOGRAFIAS APOIO

Arquivo Ex-vereador Paulo Arruda Vilar Lídia Rodrigues Cardoso


Fotógrafo Hélio de Oliveira Estagiária Patrícia Laine Alves
Fotógrafo Walter Soares em O Estagiário Bruno Abreu Murici
POPULAR Guimarães
Cedoc - O POPULAR
Cedoc - Secom - PMG CONSULTAS E COMENTÁRIOS
Arquivo Doraci G. Lemos Nery
Elder Rocha Lima
ILUSTRAÇÕES Heleno Godói
Miguel Jorge COLABORADORES
Arquiteto Aguinaldo Pacheco Carlos Fernando Magalhães
Estagiário Luis Otávio Teixeira Vieira Maria Guilhermina
Amaury Meneses !O POPULAR
PESQUISA HISTÓRICA D.J.Oliveira !Ofício n° 467/02-PRESI - IPHAN
Ângelo Ktenas !Processo n° 1500-T-2002 - IPHAN
a
Arquiteta Kátia do Carmo Paiva Alexandre Liah !Ofício n° 235/03 GAB/14 SR/IPHAN
Sandro Ramos Di Lima !Processo n° 12695951- PMG -
Professora Dóris Dey de Castro Pereira
Rogério Borges Despacho n° 191/99.
Pesquisadora Vera Gomes
Farid Helou !Autógrafo de Lei n° 0048, de 30 de
Yahweh A.O. Parreira agosto de 1988.
TEXTOS
José Mendonça Teles !Casa de Cultura de Arraras - SP
Jornalista Macantônio Dela Côrte
Reney Oliveira Soares !Http://www.gougon2.tripod.com/mosa
Arquiteto Aguinaldo Pacheco
Doraci G. Lemos Nery icocontemporaneo
Profa.Dra. Glacy Queirós de Roure - Pedro Ribeiro dos Santos !Lei 8.915 de 13/10/1980 -
Análise Tombamento Estadual
Jornalista Adriano Godoy - Revisão FONTES !Despacho n° 1.096 de 18/10/82 -
Tombamento Estadual
MATERIAIS !Câmara Municipal de Goiânia !Decreto 4.943 de 31/08/1998 -
!Lei Orgânica do Município de Goiânia Tombamento Estadual
Vidrotil Indústria e Comércio Ltda. !Divisão do Patrimônio Histórico !Lei 12.926 de 16/06/1996 -
vidrotil@vidrotil.com.br !Instituto Histórico e Geográfico - Tombamento Estadual
Rodhis - Arquitetura e Luz - Rubem - Arquivo Amália Hermano
062 -241-8844 !Agepel - Agência Goiana de Cultura
arquiteturaeluz@netgo.com.br !Seplam - Secretaria de Planejamento

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INTRODUÇÃO

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Criado para avaliar e apresentar Brasil. Contudo, durante todo esse
proposta de reestruturaçno e resgate do tempo, e a despeito de tantas outras
Monumento aos Trabalhadores, o reivindicaçoes, nada foi feito no sentido
Grupo de Trabalho constituído pelo Sr. de sua reconstrução.
Prefeito Pedro Wilson Guimarães, O resgate ou a reconstrução do
através do Decreto nº 1805, de 24 de Monumento aos Trabalhadores tem
junho de 2003, julga importante fazer suas raízes históricas e culturais
algumas considerações iniciais. fundamentadas nos princípios mais
Construído no final dos anos 50 elementares de incentivo e preservação
no Governo de José Feliciano Ferreira e por parte do poder constituído das
do Prefeito Jaime Câmara, o manifestações artísticas de um povo, e,
monumento em questão, atendeu a por isto mesmo, sua conservação INTRODUÇÃO
reivindicações de vários sindicatos torna-se elemento fundamental para
trabalhistas que desejavam que a que o elo do passado com o presente
cidade de Goiânia possuísse algum não seja rompido, quebrando e história de como Goiânia foi planejada
monumento que homenageasse os descaracterizando a história daquela e construída, tem acarretado graves
trabalhadores de um modo geral, e que praça e desta cidade. prejuízos à conservação e a
explicitasse, concretamente, a Da mesma forma, as razões políticas e preservação de nossos prédios e
importância de sua luta e de seu ideológicas que ensejaram sua símbolos como, por exemplo, a
trabalho produtivo através dos tempos. construção, são sumamente destruição do Mercado Central de
Infelizmente, o Monumento aos importantes ainda hoje em dia, quando Goiânia, na década de 70, com o
Trabalhadores teve uma existência tão a história das conquistas trabalhistas intuito de construírem ali um outro
efêmera quanto inglória! Logo no início tornou-se universal, demonstrando o prédio que consideravam, na época,
do ano de 1969, grupos políticos de avanço das sociedades modernas em uma obra arquitetônica avançada que
direita, contrários ao seu conteúdo, tornar a vida do trabalhador menos iria modernizar e revitalizar o centro da
utilizando piche fervido, cobriram árdua e sofrida como foi no passado. cidade. O tempo demonstrou,
inteiramente os dois belos painéis Assim, quando retrata os “enforcados irremediável e implacavelmente, o
alusivos às lutas e conquistas dos de Chicago”, a obra de Clovis quanto estavam errados!
trabalhadores de todo o mundo Graciano expressa essa realidade, cujo O exemplo mais cruel desta face
idealizados pelo artista Clóvis conteúdo temos a obrigação cívica de sombria e alienada do ser humano é
Graciano, destruindo aquela que talvez eternizar através deste Monumento, justamente essa ausência de
se constituísse na mais importante obra viabilizando sua reconstrução. consciência preservacionista;
de arte monumental que, como tal, A falta de uma consciência ingrediente desanimador, pois denota
pertencia ao Patrimônio Histórico e coletiva mais preocupada com os uma omissão preocupante que,
Cultural de Goiânia, assim como do nossos monumentos artísticos e com a infelizmente, atinge quase toda

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sociedade goiana, desde os mesmo seja reconstruído com quase
intelectuais, passando pelos políticos e absoluta fidelidade ao que era
terminando no homem comum: originalmente.
cidadãos alienados e indiferentes ao A reconstrução do Monumento
que acontece à sua volta. Isto explica, aos Trabalhadores será, acima de tudo,
pelo menos em parte, o que aconteceu uma eloqüente demonstração da
com o Monumento aos Trabalhadores e capacidade de nossos arquitetos,
a injustificável demora dos gestores artistas e administradores em criar as
públicos em tomar alguma iniciativa no condições necessárias à reconstrução
sentido de sua reconstrução. de uma obra tão complexa quanto
A reconstrução do referido significativa, fato que consagrará, sem
monumento, além de resgatar sua dúvida, o talento e a vontade política INTRODUÇÃO
própria história, trará para a realidade do governo atual da cidade no sentido
atual elementos importantes capazes de de realizar aquilo que tanto a Lei
forçar parte da sociedade goiana a Orgânica, os estudos de viabilidade Trabalhador.
tomar consciência de seu passado artística e arquitetônica realizados por Do ponto de vista político, a
quanto à preservação de tudo que diz este Grupo de Trabalho, quanto o bom reconstrução dos painéis de Clovis
respeito ao seu Patrimônio Histórico e senso ora determinam. Graciano passará à história da cidade,
Cultural, fazendo com que novas Senão vejamos: do ponto de como sendo uma obra de grande visão
mentalidades surjam e novos vista legal, a Lei Orgânica do Município administrativa que vê o futuro ao tempo
comportamentos sejam incentivados no de Goiânia, nas Disposições em que preserva o passado,
sentido de melhorar o nível cultural da Transitórias, no seu Art.10, estabelece eternizando este momento através do
cidade. que: “O Poder Executivo fica autorizado ato criador de reconstruir.
Sua reconstrução terá também a adotar todos os procedimentos Do ponto de vista cultural, a
um outro significado não menos necessários à reconstrução do reconstrução da obra deste artista é, no
importante, que é a demonstração da Painel/Monumento da Praça dos momento, uma expressão de
vontade dos homens de consciência e Trabalhadores...”. Assim, tomando sensibilidade humana que coloca o
dos gestores públicos envolvidos neste como base o supracitado Artigo, fica poder público municipal a serviço do
processo, em aceitarem o desafio de claro o objetivo da referida Lei e dos que há de mais essencial no ato de
reconstruir aquilo que parecia legisladores quanto a reconstrução do reparar, preservar e reconstruir aquilo
condenado a existir somente na Monumento, como também evidencia- que a insensibilidade, a insensatez e a
memória de algumas pessoas e em se, objetivamente, o nome definitivo intolerância um dia destruíram.
poucos documentos; felizmente, daquela praça que, justamente devido
porém, os dados levantados por essa à existência do referido monumento, Marcantônio Dela Côrte
comissão são suficientes para que o ficou conhecida como Praça do

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BASE LEGAL

Lei Orgânica do Município de Goiânia

Disposições Transitórias

Art. 10 - O Poder Executivo fica autorizado a adotar todos os procediemntos necessários à reconstrução
do Painel/Monumento da Praça dos Trabalhadores e o antigo coreto da Praça Joaquim Lúcio em
Campinas e o prédio “Castelinho” no Lago das Rosas.

Goiânia, de de 1990.

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Carta de Veneza sejam novos ou antigos. A reconstrução não
deve ser confundida, nem com a recriação,
Todo trabalho de reconstrução deverá, nem com a reconstituição hipotética, ambas
portanto, ser excluído a priori, admitindo- excluídas do domínio regulamentado pelas
se apenas a anastilose (urbano também?)*, presentes orientações. - a adaptação será o
ou seja, a recomposição de partes agenciamento de um bem a uma nova
existentes, mas desmembradas. Os destinação sem a destruição de sua
elementos de integração deverão ser sempre significação cultural.
reconhecíveis e reduzir-se ao mínimo
necessário para assegurar as condições de Artigo 17° - A reconstrução deve ser
conservação do monumento e restabelecer a efetivada quando constituir condição sine
continuidade de suas formas. qua non de sobrevivência de um bem cuja
integridade tenha sido comprometida por
Carta de Burra desgastes ou modificações, ou quando
possibilite restabelecer ao conjunto
LEGISLAÇÃO
Artigo 1° - Para os fins das presentes
orientações:- o termo conservação designará
(urbano também?)* de um bem uma
significação cultural perdida.
PATRIMONIAL
os cuidados a serem dispensados a um bem
para preservar-lhe as características que Artigo 18° - A reconstrução deve se limitar à ao traço original.
apresentem uma significação cultural. De colocação de elementos destinados a
acordo com as circunstâncias, a conservação completar uma entidade desfalcada e não Carta de Nairóbi
implicará ou não a preservação ou a deve significar a construção da maior
restauração, além da manutenção; ela poderá, parte (urbano também?)*da substância de Recomendação relativa à salvaguarda dos
igualmente, compreender obras mínimas de um bem. conjuntos históricos e sua função na vida
reconstrução ou adaptação que atendam às contemporânea - Conferência Geral da
necessidades e exigências práticas. Artigo 19° - A reconstrução deve se UNESCO - 19ª sessão - Nairóbi - 26 de
- o termo manutenção designará a proteção limitar à reprodução de substâncias novembro de 1976
contínua da substância, do conteúdo e do cujas características são conhecidas
entorno de um bem e não deve ser confundido graças aos testemunhos materiais e/ou Carta de Washington
com o termo reparação. A reparação implica a documentais. As partes reconstruídas
restauração e a reconstrução, e assim será devem poder ser distinguidas quando Carta internacional para a salvaguarda das
considerada. examinadas de perto. cidades históricas - ICOMOS - Conselho
- a preservação será a manutenção no estado Internacional de Monumentos e Sítios -
da substância de um bem e a desaceleração Carta de Lisboa Washington, 1986.
do processo pelo qual ele se degrada.
- a restauração será o restabelecimento da Reconstrução dum edifício os essenciais ao Ver Cartas Patrimoniais , de Isabellr Cury -
substância de um bem em um estado anterior traço original. Organizadora - em Edições do Patrimônio - 2ª
conhecido. edição - Revista e Aumentada - IPHAN -
- a reconstrução será o restabelecimento, com Qualquer obra que consista em realizar de Governo federal - Ministério da Cultura.
o máximo de exatidão, de um estado anterior novo, total ou parcialmente, uma instalação já
conhecido; ela se distingue pela introdução na existente, no local de implantação ocupado (urbano também?)* Pergunta do GT.
substância existente de materiais diferentes, por esta e mantendo, nos aspectos essenciais

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Ouro Preto - MG Pirenópolis - GO
Casarão destruído por incêndio Destruída por incêndio ANTECEDENTES
Reportagem - Maria Elisa Costa
Presidente do IPHAN
Igreja Matriz de Pirenópolis-Go, reconstruída
integralmente a arquitetura, por decisão do IPHAN e da
RECENTES
comunidade.
Reconstrução - Técnicas do instituto estão
avaliando a possibilidade de reconstrução do Lei Orgânica do Municípo de
casarão destruído e o nível de comprometimento do Goiânia
outro imóvel atingido. Maria Elisa disse que a idéia é Das Disposições Transitórias
Art. 10 - O Poder Executivo fica
tentar reconstruir pelo menos a “caixa”, o
AUTORIZADO a adotar todos
“invólucro” do prédio. os procedimentos necessários à
Ela sugeriu que o trecho em frente à construção RECONSTRUÇÃO do ......
incendiada e a rua lateral, onde está localizado o Antigo coreto da Praça Joaquim
outro casarão atingido, sejam isolados durante as Lúcio em Campinas, ....
comemorações do dia 21 de abril. Reconstruído de pois de uma
Coreto de Campinas 2002 consulta popular que definiu
Destruído por ação de administrador
Reconstruído integramente apenas na aparência Goiânia -GO “qual Coreto” deveria ser
externa, por decisão do IPHAN e da comunidade e reconstruído, já que
adaptado a nova atividade.
existiram dois de épocas
diferentes. Foi reconstruído o Itabira - MG
mais antigo. Fazenda do Pontal - Casa de Drummond
Demolida por Empresa Privada
Reconstruída réplica Reconstituída usando parte do material
pelo IPHAN, após uma
original, mas em outro local, pela
grande polêmica
Prefeitura, ITAURB, Fundação Cultural
pública com a comuni-
Carlos Drummond de Andrade, IEPHA,
dade, que optou pela
reconstrução. A Cruz
Companhia Vale do Rio Doce e comunidade
original foi recolhida e transformada em Centro Cultural. Ver
ou Museu das Publicação “Fazenda do Pontal: O casarão
Cruz do Anhangüera 2002
Destruída por enchente
Bandeiras. que reapareceu no mapa”.
Goiás - Goiás

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RELATÓRIO
VISUAL

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FOTOS DA PRAÇA

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A AGRESSÃO
os painéis foram pichados
depois as pastilhas foram arrancadas
posteriormente os cavaletes foram demolidos.

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OS PAINÉIS

Painel Esquerdo - A Luta dos Trabalhadores

MONUMENTO
Painel Direito - O Mundo do Trabalho
AO
TRABALHADOR

ESTUDOS
PARA
A
RECONSTRUÇÃO

16
1 cm

1 cm

DETALHES
é possivel
reconstruir os painéis.

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O DESENHO
Calculo da distância entre pilares em ângulo
A=17,14285º

11,459m
12=4piR/6
1,0m
12=2,094395R
12m

7,0m
R=12/2,094395
R= 5,7295m +_ 6m

1,5m

3,0m
Ângulo
120/7= 17,14285
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O CAVALETE
RECONSTRUIDO

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A RECONSTRUÇÃO
DO CAVALETE
É POSSIVEL

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A PRAÇA ANTIGA

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A PRAÇA ONTEM E HOJE
Não é mais possível reconstruir a Praça do Trabalhador, tal como era nos anos 50/60.

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A PRAÇA HOJE

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BUSTO DR. SOLON
PALMEIRAS
IMPERIAIS

OS CONFLITOS
MONUMENTO COM O EXISTENTE
AO TRABALHADOR

ESTAÇÃO DE CONTROLE
DA QUALIDADE DO AR

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A PRAÇA HOJE
O visual da estação
está obstruido
pelas palmeiras

A NOVA PRAÇA
A estação fica
mais visível apenas
com o Monumento
ao Trabalhador

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A PRAÇA NOVA

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A ESTAÇÃO E O MONUMENTO

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A ESTAÇÃO
E O MONUMENTO

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ORÇAMENTO

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36
37
ORÇAMENTO

38
ORÇAMENTO

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RELATÓRIO
FINAL

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O Prefeito Municipal de Goiânia, dos negativos sugerem que todo o painel foi
Professor Pedro Wilson Guimarães, através fotografado cena a cena;
do Decreto n° 1.805 de 24 de junho de 4. Vale ressaltar que, de fato,
2003, nomeou um Grupo de Trabalho GT uma correspondência de 1988 faz
para avaliar a possibilidade de reconstrução referência a existência de slides do
do “Monumento ao Trabalhador” - obra de monumento, que foram encaminhados à
Clóvis Graciano - em cumprimento ao Empresa Vidrotil para avaliação e
disposto no artigo décimo, das disposições orçamento;
transitórias da Lei Orgânica do Município, 5. Foi feita uma pesquisa
aprovada em 1990. sobre a existência de familiares do artista,
Inicialmente o GT reuniu-se nas especialmente junto à Casa de Cultura de
dependências do Grupo Executivo de Araras-SP, sua cidade natal, mas até agora
Revitalização do Centro (GECENTRO), no
Paço Municipal, onde compareceram todos
infrutífera;
6. Para garantir ainda mais a
RELATÓRIO
os titulares nomeados. Neste momento, fiel reprodução do desenho do artista, FINAL
ficou definido que as demais reuniões procurou-se obter informações sobre a
seriam realizadas na Secretaria Municipal de existência do projeto original de Clóvis Guilhermina, Ângelo Katenas, Elder Rocha
Cultura. Diante da complexidade de ordens Graciano. Até o momento, isto não foi Lima, Heleno Godoy, Miguel Jorge, Amaury
simbólica, histórica e política que envolve possível; Menezes e D.J. Oliveira em relação às
uma possível reconstrução do Monumento, 7. Objetivando um maior dimensões sócio-política e estética que
observou-se a necessidade de se realizar número de informaç õ e s s o b r e o envolvem a reconstrução do dito
inicialmente um inventário. Monumento, foram entrevistadas pessoas Monumento. Fomos informados que o
Nesse sentido, algumas ações foram que fizeram comentários sobre o processo próprio Frei Confaloni liderou um
desenvolvidas pelos membros do GT: de construção e demolição do mesmo. Foi movimento pela reconstrução do
ainda pesquisada a obra do artista Clóvis Monumento;
1
1. Foram obtidas fotografias Graciano ; 10. Fo r a m a i n d a o u v i d a s
do monumento, pertencentes ao acervo do 8. Foram contatadas duas pessoas ligadas à construção do
ex-vereador Paulo Vilar; empresas fornecedoras de material monumento, especialmente o sindicalista
2. Foi contatado o Arquiteto compatível com o original do painel e estas Pedro Ribeiro dos Santos, ex-presidente da
Elder Rocha Lima, autor do cavalete-suporte forneceram orçamentos estimativos do Federação dos Trabalhadores de Goiás e
do painel; custo do material. A Vidrotil de São Paulo e a anistiado político, que o reivindicou, além
3. Foram obtidos slides de Arquitetura e Luz de Goiânia. Os demais do depoimento do Engenheiro Farid Helou,
quatro fotos de parte dos painéis, de posse orçamentos foram estimados pelo próprio que o construiu2;
da Arquiteta Doraci G. Lemes Nery, que GT, que chegou a um valor médio para a 11. Fez-se ainda um apelo à
elaborou um trabalho sobre a reconstrução reconstrução apenas do monumento de R$ comunidade goianiense através do jornal
de monumentos históricos e que em razão 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais); “O Popular” para que todos aqueles que
disso os tem sob sua guarda. Tais fotos foram 9. Foram ainda ouvidos os possuíssem fotos ou documentação sobre o
doadas a ela por um Prof. da FAU-USP, de artistas, contemporâneos dos fatos, Maria Monumento pudessem fornecê-las ao GT
nome Gustavo, e que pelas características

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para cópia digital. do trabalho, inúmeras questões foram
Em relação a esse último item, vale levantadas em relação aos critérios de
ressaltar que alguns goianienses natureza técnica, conceitual e política a
responderam ao apelo de forma expressiva. serem observados no sentido de uma
Ferroviários, ainda hoje moradores do Setor possível reconstrução do Monumento .
Norte Ferroviário, informaram que possuem A primeira delas, já respondida por
algumas fotos. O fotógrafo Hélio de este relatório, é a referente à posse de
Oliveira, principal documentarista de documentos suficientes para que uma
Goiânia, forneceu ao GT cópias digitais de possível reconstrução do Monumento se dê
fotos importantes que constam de seu com o máximo de fidelidade, como é exigido
acervo particular, sendo estas agregadas ao pelas cartas patrimoniais.
relatório. Também o artista A segunda refere-se à legitimidade
Alexandre Liah relatou à comissão a
realização de um documentário fotográfico
da reconstrução de um monumento histórico
cuja demolição (destruição) parece apontar
RELATÓRIO
feito por ele sobre o setor Norte Ferroviário, para razões político-administrativas. FINAL
ainda que nesta época o monumento já De modo geral, as cartas
houvesse sido demolido. Fazemos ainda patrimoniais recomendam a não comunidade, o painel/monumento não foi
referência a Ruth, filha de ferroviário, e ao reconstrução. Mas há exceções. Admite-se a avaliado por este GT , como um objeto
estagiário da SEDEM, o estudante de anastilose, o que não é o caso, salvo se arquitetônico tombado legalmente como
arquitetura Reney, que compareceram encontrarmos os vestígios das fundações do patrimônio histórico, tampouco
espontaneamente à Secretaria de Cultura e monumento no local original ou até mesmo estabeleceu-se em relação a este critérios
afirmaram possuir fotos de interesse sobre a as pastilhas originais, que podem estar de valor artístico: se é belo ou não. Isto é, o
Estação e o Monumento e forneceram guardadas em algum local a ser descoberto. monumento não foi avaliado a partir de
documentos que ajudaram na reconstrução Inicialmente é importante ressaltar abordagens patrimonialista, arquitetônica
virtual da Estação. que o Monumento ao Trabalhador não é um ou plástica concebidas de forma
Esse primeiro mapeamento de bem tombado no "stricto senso", visto que individualizada. De fato, optou-se por
informações coletadas pelo GT possibilitou não há um ato administrativo que o tombe considerá-lo essencialmente como um
a produção, por meio digital, de diretamente. Assim, do ponto de vista legal, “objeto-testemunho”, uma referência
ilustrações sobre o Monumento em diversas e salvo melhor juízo, as cartas patrimoniais histórica e simbólica da política goiana, do
perspectivas. Foi produzido ainda um não o atingem diretamente com suas Brasil e da própria democracia. Talvez um
pequeno clipe, de 100 segundos, recomendações. O que não significa que, “patrimônio imaterial”, entretanto já
posicionando o monumento no local exato enquanto lugar de referencia na cidade, presentificado em nossa memória.
em que foi construído para verificar as não possa vir a ser considerado como Para Rodrigues “... o patrimônio é
possíveis interferências visuais com o edifício patrimônio antes mesmo de receber um aval um retrato do presente, um registro das
tombado da Estação Ferroviária de oficial. possibilidades políticas dos diversos grupos
Goiânia3. Entretanto, mesmo considerando tal sociais expressas na apropriação de parte
Dando continuidade ao relatório, possibilidade, diante da complexidade de da herança cultural, dos bens que
faz-se necessário ressaltar que, no decorrer uma intervenção a ser realizada por esta materializam e documentam sua presença
prefeitura, mesmo com o apoio da

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no fazer histórico da sociedade. (Revista do décimo das disposições transitórias, foi
Patrimônio, IPHAN, 1996, p.195) reconstruído o Coreto da Praça Coronel
Seguindo nessa direção, no nosso Joaquim Lúcio, no bairro de Campinas,
entendimento, tanto o ato de se construir também destruído totalmente por razões
como o ato de se demolir um monumento administrativas. O mesmo ocorreu com o
dedicado a relembrar a luta dos Castelinho situado no Lago das Rosas.
trabalhadores pela conquista de direitos Ambos símbolos de nossas raízes e história.
sociais entre eles a jornada de oito horas Com certeza os desastres naturais,
de trabalho e a referência ao mundo do incêndios, guerras e tantos outros são
trabalho tem em si uma especificidade que motivos para ensejar a reconstrução de
vai além do objeto arquitetônico e da beleza monumentos destruídos. Nessa direção,
plástica que o materializa. Concebido como temos presenciado destruições no
uma forma simbólica de se elaborar a nossa Afeganistão e no Iraque de monumentos RELATÓRIO
relação com o passado, a demolição deste importantíssimos e cuja reconstrução
Monumento parece indicar mais que um poderá vir a ser demandada não apenas por FINAL
descaso político-administrativo mas, sua população visto que muitos dos bens
sobretudo, uma espécie de silenciamento culturais que ali se encontravam podem ser que cabe dirimir dúvidas sobre a
tácito da história de nossos trabalhadores. considerados como patrimônio universal. possibilidade de se reconstruir ou não este
Muito apropriadamente escreve o Semelhante problemática tem sido determinado monumento. É bom lembrar
jornalista Pinheiro Sales em seu artigo “A enfrentada atualmente pela China, que na que foi através de um plebiscito realizado em
direita coloca suas garras de fora” veiculado esteira da construção de uma grande Campinas que se decidiu o que reconstruir
em O Popular de 15 de agosto de 2003, barragem monumentos foram transpostos, como Coreto da Praça Coronel Joaquim
onde diz: “Afinal, muito já se disse que temos por inteiro, para outros locais. Isto é, foram Lúcio.
a memória curta, porque há quem acredite demolidos e reconstruídos, como a única Uma outra questão levantada no
que o passado nada tem a dizer ao forma de salvá-los. Também no Egito um interior do GT foi em relação à originalidade
presente”. Isto seria o próprio fim da história. processo análogo foi realizado. de uma obra de arte. Em caso de
Quanto ao ato de se reconstruir Entendemos que as regras criadas desaparecimento ou destruição de uma
monumentos históricos em Goiás e no Brasil pelas cartas patrimoniais são princípios e obra, cujo artista responsável fosse, falecido
é possível observarmos inúmeros que estes precisam ser aplicados seria sua reconstituição um ato de
antecedentes, sendo alguns deles bastante pragmaticamente dentro de conjunturas. “falsificação”?
semelhantes ao caso atual. Recentemente Contudo, os monumentos não devem ser Em relação ao Monumento ao
foi reconstruída a “Cruz do Anhangüera”, concebidos apenas como objeto de Trabalhador, vale esclarecer que este se
destruída pela enchente que assolou a especialistas, mas também como memória caracterizava como uma obra
cidade de Goiás, mesmo debaixo de histórica e simbólica que dá materialidade mecanicamente reproduzível, já que as
acirrada polêmica sobre a pertinência da aos caminhos e trajetórias percorridos por pastilhas poderiam ser colocadas por outra
ação. um povo. E neste ponto vale lembrar que o pessoa, que não o próprio artista, como de
Já há algum tempo, aqui mesmo em “Monumento ao Trabalhador” é um fato o foi. Fato que tira da obra a
Goiânia, em razão do já citado dispositivo Monumento dedicado aos trabalhadores de "manualidade" e, portanto, tal como uma
constitucional municipal, qual seja, o artigo Goiânia. Sendo assim, é a esta população

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gravura, ou mesmo uma foto, ou um cartaz, 1982 do então governador Ary Valadão, e
poderia ser reproduzida tantas vezes quanto que, salvo melhor juízo, o cavalete do
se quisesse sem caracterizar uma monumento ainda estava lá, sendo
“falsidade”. No caso, mesmo sendo ela destruído quando da construção da Avenida
“uma cópia” única. Portanto, caso venha a Goiás Norte em 19854. F o t o
ser reconstruído, o monumento será de fato publicada em O Popular de 16 de setembro
uma réplica, tal como as inúmeras gravuras de 2003, de autoria do fotógrafo Walter
de um mesmo tema o são. Nem por isso, Soares, e datada de 04 de junho de 1981,
menos importante que o “original”. registra que o cavalete ainda estava lá,
Ainda em relação a este aspecto, inteiro. Cabe observar que, quando se
vários artistas foram consultados e tomba um objeto qualquer, como principal,
posicionaram-se quanto ao fato de não o acessório agregado que o compõe
considerarem tal reconstituição como um também o é, ou seja, o cavalete enquanto RELATÓRIO
ato de falsificação, além de reafirmarem a testemunho da existência do monumento
possibilidade de se refazer o painel com as também o foi. Confirmada esta FINAL
informações fotográficas disponíveis. característica de objeto agregado, e
Quanto à reconstituição do portanto parte, trataria-se uma anastilose, o 1985 o cavalete ainda estava lá. Vale
Monumento, as opiniões entre os artistas que necessariamente implicaria em sua observar que a reforma realizada em
plásticos consultados foram divergentes: reconstituição. meados dos anos 80, com a destruição da
enquanto alguns posicionaram-se contra a Reforçando ainda mais este Praça, foi feita após a permuta com a
reconstrução e sugeriram a realização de argumento, convém lembrar que a praça ali RFFSA5.
um concurso público para a escolha de existente era inicialmente conhecida como Em relação à estátua hoje existente,
uma nova obra, outros posicionaram-se a “Praça da Estação”, sendo posteriormente em frente à Estação, do busto do Dr. Sólon
favor da reconstrução contrapondo-se a resignificada pela população como Edson de Almeida, o GT pensa que este se
idéia de um “monumento ao monumento”. “Praça do Trabalhador” por se encontrar encontra deslocado de sua função, visto
Por último surgiu a questão dos referida ao Monumento do Trabalhador”, que temos nas proximidades uma Praça
tombamentos da Estação Ferroviária, em daí “Praça do Monumento ao Trabalhador”. situada entre a Rua 67-A e a
especial o ainda não homologado De fato, o nome legal da Praça até Av.Independência com o nome do
tombamento pelo Instituto do Patrimônio 1990, quando o nome “Praça do homenageado. Na verdade, por razões por
Histórico e Artístico Nacional - IPHAN - Trabalhador” foi usado e consolidado na Lei nós desconhecidas, o busto foi retirado
dentro do processo Art Déco de Goiânia - e Orgânica Municipal, era “Praça Americano desta Praça e recolocado na Praça do
seu entorno envolvente e a “anexação” a do Brasil”, conforme lei n° 1.486 de 07 de Trabalhador. Somos, portanto, pela sua
este de um objeto arquitetônico e artístico, março de 1959. Contudo, já em 08 de maio recolocação no local devido.
significativo em forma, volume e cor, que de 1967 a planta do Departamento Quanto à concorrência que o
poderia ser “concorrente”. Estadual de Saneamento já trás anotado o Monumento ao Trabalhador traria ao
Em relação a este ponto, alertamos nome “Praça do Trabalhador”. E só em edifício da Estação, hoje valorizado por ser
que a Estação Ferroviária foi tombada pelo 1985 a área foi permutada com a Rede um representante da art déco, temos a
Estado de Goiás em 1982, através do Ferroviária Federal S/A - RFFSA. Assim, até observar dois aspectos: o primeiro é de que
Despacho n° 1096 de 18 de outubro de

44
a Estação Ferroviária foi inaugurada em replantado em outro local, já que tais
1952, portanto é uma art déco tardia, palmeiras podem (e devem ) ser
provavelmente uma revivência do estilo, que reaproveitadas.
nasceu no pós-guerra de 1914 e teve seu
auge nos anos 20/30 do século passado. O Isto posto, a conclusão a que o
segundo é de que o “Monumento ao Grupo de Trabalho chegou foi a de que:
Trabalhador” faz parte da nascente quanto à Praça do trabalhador, ela já não é
arquitetura moderna no Brasil, é mais passível de reconstrução em seu todo,
contemporâneo da construção de Brasília, pois com a construção da avenida Goiás
pois foi inaugurado em 1959. Norte parte do terreno originalmente
Arquitetonicamente tem a mesma ocupado pela mesma foi cortado e
linguagem que a Catedral de Brasília, por incorporado ao sistema viário hoje existente.
exemplo. Em relação à reconstrução do monumento, RELATÓRIO
Logo, a Estação é o fim do pensamos que esta seja legítima, pois além
movimento art déco e o Monumento é o de pertencer historicamente a envolvente da FINAL
estado nascente de outro, que trouxe a Estação e, portanto, parte dela, reafirma
modernidade ao Brasil. Ambos, uma história de luta do cidadão 3. Que seja contratado
representantes de uma arquitetura trabalhador. Em função dos documentos diretamente um artista plástico público e
internacional, portanto resignificados por coletados a reconstrução é passível de ser notório, que se disponha a fazer o trabalho
nossas manifestações culturais locais. Qual realizada com fidelidade no mesmo local de reconstrução do desenho do painel em
é mais importante para a nossa história? onde este foi construído no final dos anos todos os seus detalhes de cor e forma, bem
Ambos, é obvio. Assim, não havendo 50. como escolher o material para sua
precedência de um sobre o outro, os dois Nesse sentido, fazemos as seguintes execução e acompanhar a fabricação e
podem conviver no mesmo espaço, recomendações: toda a aplicação das pastilhas.
mostrando inclusive a diversidade 4. Que sejam contratados
característica de nossa arte. 1. Que seja reconstruído o arquiteto e engenheiro reconstrutores do
Quanto a um possível bloqueio Monumento ao Trabalhador, no mesmo projeto do cavalete-suporte do
visual a ser provocado pelo Monumento, as local, nas mesmas dimensões e com a maior Monumento. Como o autor original do
ilustrações mostram que ele será quase fidelidade possível ao original. Nesse cavalete, arquiteto Elder Rocha Lima, ainda
inexistente, em razão da preocupação sentido, sugere-se um inventário mais está no exercício da profissão, recomenda o
patente em seu projeto original, que o fez exaustivo sobre esta obra, sua história e seu código de ética que o mesmo seja
totalmente vazado e leve. Mesmo existindo artista. consultado, já que a preferência neste
alguma interferência, ela é 2. Como a Estação Ferroviária projeto de reconstrução é dele. Na
significativamente menor que a provocada é tombada nos níveis municipal, estadual e impossibilidade, recusa ou desinteresse,
pelas atuais palmeiras imperiais, lá federal, este relatório deve ser encaminhado que seja contratado profissional igualmente
plantadas em razão do projeto paisagístico para as três instâncias, para que os seus qualificado e competente.
elaborado em meados de 1980. No respectivos conselhos de patrimônio 5. Que seja elaborado, pela
entender deste GT, este adorno sim é apreciem e dêem parecer, cumprindo assim Divisão de Patrimônio da Secretaria de
equivocado e deve ser removido e as leis de proteção.

45
Cultura, um inventário histórico detalhado e suplentes do Grupo de Trabalho:
o mais completo possível sobre o
monumento, o artista, os diretamente
envolvidos na construção e na demolição,
para que seja instalada, na Estação, sala Arquiteto Aguinaldo Pacheco
com estas informações históricas. Coordenador
6. Que o processo de
reconstrução do Momento ao trabalhador Arquiteta Maria Eliana Jubé Ribeiro
seja considerado menos como um ato
tomado por um sentimento nostálgico do Arquiteto Aluízio Antunes Barreira
passado, mas sim como o reconhecimento
simbólico da história de nosso povo. E que Jornalista Marcantônio Dela Corte
no decorrer do processo de sua RELATÓRIO
reconstrução, caso seja de fato Artista Carlos Ribeiro dos Santos
reconstruído, sejam realizadas atividades FINAL
culturais que discutam as relações entre Professor Alberto Ribeiro do Carmo
patrimônio cultural, cidadania e memória demonstrativo deste foram realizados pelo estagiário Luis
social. Momento de fundamental Artista Ivanôr Florêncio Mendonça Otávio Teixeira Vieira.
4
Em comentário o Sr. Reney Oliveira Santos, um
importância para o estabelecimento de ferromodelista informado e apaixonado pela nossa
uma política de identificação e proteção do Cenógrafo Carlos Dias Medeiros Júnior Estação, confirma que jogou bola na área do monumento
patrimônio cultural. e que em março de 1984 ele ainda estava lá.
5
Aliás, toda a história da “Praça do Trabalhador” está
7. Decidida a reconstrução, Arquiteta Kátia do Carmo de Paiva documentada em relatório, juntado ao Processo n°
sugerimos que o mesmo seja inaugurado no 122695951/1999, elaborado por arquitetas da Secretaria
de Planejamento Municipal - SEPLAM, em especial pela
dia 1º de maio de 2004. Senhor João Rabelo dos Santos Arq. Maria Aparecida de Jesus Cuevas.

Respondidos todos os Senhor Paulo Silva de Jesus


questionamentos até nós chegados e em
resposta objetiva à nossa incumbência Professor Horiestes Gomes
advinda do Decreto n° 1.805 de 24 de
junho de 2003 finalizamos: é possível e
desejável historicamente a reconstrução do Goiânia, 09 de setembro de 2003.
“Monumento ao Trabalhador”.
Notas:
Salvo melhor juízo, 1
Na realização das pesquisas e entrevistas colaboraram a
Professora Dóris Dey de Castro Pereira e a pesquisadora Vera
é o que temos a relatar. Gomes.
2
Os comentários de cada um dos entrevistados encontram-
se registrados como anexos a este relatório e arquivados na
À sua superior consideração, Divisão do Patrimônio da Secretaria Municipal de Cultura.
3
A reconstituição virtual do Monumento bem como o clipe

Assinam este, como membros titulares e


46
RELATÓRIO FINAL FAC SIMILI DAS ASSINATURAS

47
ANEXOS

48
Goiânia, 3 de dezembro de 2003

Resgate difícil

Prefeitura vai apoiar reconstrução Perspectiva de como ficaria o novo


do Monumento ao Trabalhador, em monumento: características
frente à Estação Ferroviária, mas originais preservadas
projeto enfrenta muitos empecilhos

Rogério Borges

O grupo formado em julho pela Prefeitura de Goiânia para estudar a possibilidade de reconstruir o Monumento ao
Trabalhador, em frente à Estação Ferroviária, apresentou suas conclusões ao prefeito Pedro Wilson. Os
profissionais recomendam que a estrutura, danificada em 1969 e totalmente demolido em 1985, seja reerguida. A
obra era constituída por dois grandes painéis que representavam cenas da luta dos trabalhadores por liberdade. A
autoria dos murais era de Clóvis Graciano, com projeto arquitetônico de Elder Rocha Lima (veja quadro). Os
defensores da restauração dizem que a iniciativa corrigiria uma atrocidade cometida pelo regime militar. “Temos de
fazer essa reconstrução para que erros assim não se repitam”, alega Marcantônio Delacorte, um dos integrantes do
grupo.
O resultado da avaliação conta com o apoio do prefeito Pedro Wilson, que quer levantar novamente o monumento
até o final de 2004. Uma equipe de técnicos foi destacada para coordenar as ações nesse sentido. Entretanto, o
prefeito informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que só irá liberar a construção depois que obtiver o
consentimento da família de Clóvis Graciano. Caso seus descendentes concordem, serão convidados a vir a
Goiânia para a inauguração do monumento. A arquiteta Lana Jubé, coordenadora de projetos diretamente ligados ao
gabinete do prefeito e uma das responsáveis por levar adiante a recuperação da estrutura, avisa que a obra
depende ainda da permissão de Elder Rocha Lima, que será convidado a refazer seu trabalho arquitetônico.
Negativa
“Não concordo com essa reconstrução, não aceito o convite para participar dela e não autorizo, de forma nenhuma,

49
a reprodução do meu projeto arquitetônico”, antecipou Elder Rocha Lima à reportagem do POPULAR. “Se eles
quiserem fazer um outro monumento que lembre o primeiro, aí sim eu apoiarei e até me envolverei no projeto”,
completou. “Ainda precisamos conversar melhor com o Elder”, diz Lana Jubé. Caso o arquiteto mude de idéia, mas
não aceite participar diretamente da obra, deverá ser aberto um concurso para escolher quem irá reconstruir o
monumento. O mesmo processo seria adotado para a elaboração da réplica dos painéis de Graciano. Além de Elder,
membros do próprio grupo que formulou o relatório têm reservas quanto à pertinência de se levantar outra vez o
monumento, tal qual ele era. Houve votos em separado na aprovação do documento, que fazem contrapontos à
iniciativa.
Para Lana Jubé, a construção de réplicas de monumentos desaparecidos vai na contramão do que o urbanismo e a
preservação do patrimônio em todo o mundo recomendam. “O aconselhável é que se tenha outro tipo de
manifestação para lembrar o que foi destruído”, observa. “Mesmo quanto à restauração, não é aconselhável fazer a
reforma se não houver, pelo menos, 70% da estrutura ainda em pé”, prossegue. Ela admite que a componente
histórica tem sua força no caso específico do Monumento ao Trabalhador. “Porém, a própria história pode ser
recontada de muitas outras maneiras”, argumenta. O prefeito Pedro Wilson determinou que seja inserido no projeto
a montagem de uma sala, dentro da Estação Cultura, que explique todo a trajetória do caso.
Patrimônio
O documento produzido sobre o Monumento ao Trabalhador também assegura que no local onde a estrutura ficava
há a permissão para uma nova obra. A dúvida sobre um possível impedimento nesse sentido foi suscitada em
virtude de a área da Praça do Trabalhador fazer parte do Conjunto Art Déco de Goiânia, tombada pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Por lei, áreas tombadas pelo patrimônio histórico não podem sofrer
intervenção sem o devido acompanhamento do instituto, sob pena de perder o título. De acordo com o relatório, o
tombamento ainda não foi realizado, considerando assim que o monumento não desfiguraria a praça. No entanto, o
Iphan informa que a homologação do tombamento foi feita na semana passada.
Salma Saddi, superintendente do Iphan em Goiás, explica que o espaço destinado ao Monumento ao Trabalhador
pode sofrer algumas modificações, desde que acatem especificações estabelecidas pelo Instituto. “Isso já
aconteceu, por exemplo, com a reforma da Avenida Goiás”, cita. Ela revela que o órgão só poderá se pronunciar
sobre a possível reconstrução do monumento depois que receber o projeto completo da obra. Além de pertencer ao
patrimônio nacional, a Estação Ferroviária também é resguardada pelo patrimônio histórico estadual. O relatório
garante que este também não é um entrave. De acordo com as investigações do grupo, o tombamento foi
promulgado no dia 18 de outubro de 1982. Nessa época, os painéis já tinham sido destruídos, mas os cavaletes e os
muros que os sustentavam ainda estavam de pé. Portanto, o monumento também teria sido protegido pela lei.
Dinheiro
O preço da obra é outro obstáculo para a concretização da proposta. No relatório apresentado ao prefeito, há
orçamentos que variam de acordo com o material a ser utilizado na reconstrução. Reerguer o monumento, por esses
cálculos, oscilaria entre R$ 107 mil e R$ 200 mil. Há ainda a sugestão de fazer algumas adaptações na própria
Praça do Trabalhador para receber a nova atração. Nesse caso, os custos totais girariam entre R$ 204 mil e R$ 320

50
mil. “Para que tenhamos uma réplica exata, o valor é o maior”, previne Lana Jubé. “As pastilhas italianas são
cotadas em dólar”, complementa.
A verba não está prevista na proposta orçamentária da Prefeitura para 2004, que está sendo discutida na Câmara
Municipal. “Não está e não deveria estar”, adverte Lana Jubé. Ela afirma que o compromisso firmado pelo prefeito
Pedro Wilson estabelece que o dinheiro para a construção do novo monumento deve ser angariado junto ao
Ministério da Cultura, dentro do programa Monumenta. “O projeto ainda não está finalizado. Já estamos
conversando com a Secretaria Municipal de Cultura para que, quando a proposta estiver pronta, ela seja adequada
para poder conseguir os recursos”, conta a arquiteta. Um dos pontos que ainda precisam ser definidos é o que será
feito das palmeiras imperiais que hoje ocupam o espaço onde ficava o monumento. Um estudo sobre o assunto já foi
pedido ao Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura de Goiânia.

Detalhe da obra de Clóvis Graciano: crítica social

HISTÓRIA DO MONUMENTO
O Monumento ao Trabalhador foi erigido entre os anos de 1958 e 1960, a mando do então governador do Estado,
José Feliciano Ferreira, e do prefeito de Goiânia na época, o jornalista Jaime Câmara. A construção era formada por
dois grandes murais de concreto, com 12 metros de comprimento cada, dispostos em semicírculo, em que foram
montados painéis, em pastilhas italianas, que reproduziam cenas ligadas à luta operária. Entre as ilustrações estava
o episódio dos Enforcados de Chicago, chacina de trabalhadores que originou as comemorações do 1º de maio.
Os murais eram sustentados por grandes cavaletes de concreto de linhas sinuosas, projetados por Elder Rocha
Lima, referente à arquitetura Moderna, que dá os traços da maioria dos prédios de Brasília. A estrutura logo se
tornou um ponto turístico da cidade, onde os visitantes poderiam ver os trabalhos do artista plástico Clóvis Graciano,
considerado um dos melhores muralistas do país. Como retratava cenas de opressão à classe trabalhadora, a obra
desagradou o regime militar instaurado no país em 1964. No início de 1969, os painéis amanheceram recobertos de
piche. Em seguida, as pastilhas que compunham o mural foram arrancadas, ficando apenas a base de concreto. Na
construção da Av. Goiás Norte, em 1985, a estrutura foi totalmente demolida.

51
TCU cobra mais proteção a prédios históricos
Após incêndio em Ouro Preto, governo deve enviar ao tribunal propostas de preservação
SANDRA SATO e EDUARDO KATTAH
O Tribunal de Contas da União, em Brasília, vai
cobrar providências do governo federal para
proteger os patrimônios histórico e cultural do
País, para evitar tragédias como o incêndio que
destruiu um casarão e atingiu parcialmente outro
na segunda-feira, em Ouro Preto. Em 30 dias, o
governo deverá enviar ao tribunal uma série de
informações. Entre elas, por exemplo, se o Plano
Plurianual, com as diretrizes para gastos do
Orçamento da União, conterá propostas de
Auremar de Castro/Estado de Minas/AE preservação dos patrimônios históricos.
Ruínas de prédio no centro histórico de Ouro O ministro do TCU, Marcos Vinícios Vilaça, ficou
Preto: para MPE, há hipótese de incêndio assustado com a verba disponível no orçamento
criminoso
deste ano para o Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (Iphan) preservar monumentos e cidades históricas.
"Descontados os recursos destinados ao custeio, como pagamento de servidores
ativos e inativos, o Iphan dispõe de ridículos R$ 17 milhões para aplicação na área
fim."
A assessoria do ministro apurou que existem 15 bens inscritos como Patrimônio
Mundial no Brasil. "O Poder Público tem responsabilidades pela proteção, conservação
e manutenção do patrimônio histórico e artístico, pertencente à sociedade brasileira",
cobrou Vilaça.
Em Ouro Preto, a presidente do Iphan, Maria Elisa Costa, cobrou ontem um melhor
aparelhamento do órgão e disse que o incêndio serve como um "alerta" para a
necessidade de se fortalecer o processo de fiscalização e preservação dos bens
tombados do País.
Segundo ela, que esteve ontem na cidade histórica, o instituto foi "muito maltratado"
nos últimos anos. Entre as principais deficiências, ela aponta a falta de recursos
humanos e materiais. Em Minas, por exemplo, são apenas seis arquitetos
responsáveis para cuidar do patrimônio das cidades históricas do Estado. Ela solicitou
a abertura de concursos para a contratação de pessoal para o órgão. Segundo ela, as
últimas contratações foram feitas em 1987.
A Superintendência do Iphan em Minas possui ao todo 50 servidores no Estado, que
atuam na sede, em Belo Horizonte, e em outras quatro sub-regionais - Ouro Preto,
Diamantina, Serro e Sabará - além de museus e escritórios em São João Del Rey,
Tiradentes e Caeté.
Maria Elisa disse que o orçamento do Iphan ainda não foi definido e não soube
informar a quantidade de recursos que foram destinados ao órgão no ano passado. Em
2002, a Superintendência de Minas recebeu R$ 100 mil.
Reconstrução - Técnicos do instituto estão avaliando a possibilidade de reconstrução
do casarão destruído e o nível de comprometimento do outro imóvel atingido. Maria
Elisa disse que a idéia é tentar reconstruir pelo menos a "caixa", o "invólucro" do
prédio.
Ela sugeriu que o trecho em frente à construção incendiada e a rua lateral, onde está
localizado o outro casarão atingido, sejam isolados durante as comemorações do dia
21 de abril.

52
REVITALIZAÇÃO DO CENTRO:
O OLHAR DA CULTURA NOS 70 ANOS

A cidade nasceu para a autonomia e a diversidade. É o lugar de tudo e de todos.


Junto à sua invenção nascem os conceitos de cidadão como aquele que detém direitos civis e políticos.
A diversidade obriga a convivência com os diferentes. Para isto se fez necessárias a civilidade e a
urbanidade.
Mas cidadão é também aquele que tem sentimentos, idéias e costumes que denotam o estado de civilização. O
cidadão é culto, instruído, polido, cortês, e afável.
A cidade é o espaço da cidadania.
Goiânia foi construída com esta visão civilizatória.
Entendiam os seus idealizadores e construtores que o contato com o objeto civilizatório, civiliza. Por isso mesmo,
diversos equipamentos culturais foram construídos antes de sua “inauguração”, que foi chamada inclusive de batismo
cultural.
Considerando esta deliberada origem cultural da cidade, um estilo arquitetônico - que simboliza a racionalidade
matemática ligada às nossas origens latino-americanas - foi adotado em todos os edifícios públicos: o Art Déco. Estado
construtor quis sinalizar com isto a importância das ações culturais para a consolidação das qualidades de uma cidade.
Passados 70 anos vemos que o centro histórico de Goiânia foi abandonado.
Os equipamentos culturais originais esquecidos.
O centro não é mais um lugar para se morar.
Diversos problemas surgiram em razão deste fenômeno, que não é só goiano, mas mundial. Contribuiram para
isso os conceitos de renovação urbana que predominaram até os anos 70. Desenvolvimento seria então substituir ou
abandonar o histórico pelo novo. E nesse afã de modernidade confundiram padrão de vida com qualidade de vida e
optaram pelo primeiro.
Novos bairros surgiram e foram também abandonados.
Hoje, o "moderno" são os condomínios fechados, que de novo nada tem pois só estamos retornando ao que de
pior existia antes da invenção da própria cidade, as paliçadas que caracterizaram as primeiras "ocupações urbanas” no
Brasil do século XVII. Modernos guetos. A mesmice. O fim da cidade de tudo e para todos.
Os poderes públicos tiveram (e têm) uma responsabilidade muito grande pela deteriorização do centro. Pode até
não ser esta responsabilidade o determinante, mas foi ele o primeiro a “detonar” o nosso patrimônio histórico (o velho)
para construir o moderno (o novo). Deu o mau exemplo.
Citamos todas as desastradas alterações da Praça Cívica, desde a mudança do nome Praça Cívica - na ânsia do
culto à personalidade -, passando pelas demolições do Correio, do Obelisco Principal (onde ele está?), das construções
do Centro Administrativo, do Palácio das Campinas, dos anexos absurdos aos Tribunais e outras repartições públicas.
Mau exemplo continuado com a destruição da Estrada de Ferro, até a pior de todas as intervenções urbanas que

53
foi a destruição da Avenida Anhanguera, por uma solução atrasada e não sustentável para o transporte urbano.
Seguindo este rastro de destruição da história e da sustentabilidade econômica do centro, não se cuidou em ter
um Plano Diretor que evitasse a demolição sem reposição imediata das edificações, o que fez do centro um cemitério de
lotes vagos e subutilizados socialmente para estacionamentos de carros. Não se construiu nada para abrigar os carros
salvo coberturas de amianto e cimentados que, além de impermeabilizarem deteriorando o sistema de coleta de águas
pluviais. E o maior malifício, provocam um esvaziamento do centro no período noturno.
O privilegiamento que se deu ao automóvel fez com que os pedestres fossem jogados no meio da rua e os
passeios convertidos em rampas impossíveis de se andar.
A invasão dos espaços públicos pelo mal educado automóvel e seu motorista e o comércio irregular fez com que
árvores fossem arrancadas, passeios rebaixados com rampas e desníveis, tornando um verdadeiro inferno andar pelo
centro.
A falta de uma política urbana voltada para a função social da propriedade e de uma legislação urbana
desarticulada e defasada permitiu o uso predatório da propriedade privada e a existência de prédios abandonados em
diversas fases de construção e imóveis vazios que chegam a quase uma dezena de milhares.
Todas estas ações públicas e privadas trouxeram a desvalorização imobiliária, a transformação negativa do perfil
econômico, o esvaziamento residencial, a degradação ambiental.
Destroí-se para colocar nada no lugar.
O complexo formado pelos passeios danificados, ausência de árvores, abusos dos donos de automóveis, um
transporte coletivo caótico, soluções urbanísticas desastradas e mais a questão da violência urbana e das novas
modalidades de comercio advinda dela e da competição desenfreada, fez do centro um hostil.
Tudo isto sem nem pensar em consultar os cidadãos.
Daí, ninguém mais quer morar no centro.
Nada disso existia quando Goiânia foi construída. Havia no seu desenho original a ordem geométrica e uma
harmonia entre o meio ambiente, o pedestre e os automóveis emergentes.
Mas felizmente nos anos oitenta junto com a evolução do pensamento ecológico e do conceito de
desenvolvimento sustentado, no seu amplo sentido, surgiram os RE e a cidade “velha” passou a ser vista com os olhos
do valor histórico, ligado ao desenvolvimento econômico sustentado.
Daí se começou a Restaurar, Recuperar, Revitalizar e Requalificar os centros das cidades.
Nos países do dito primeiro mundo este processo já está bastante desenvolvido, revertendo o esvaziamento dos
centros históricos e dando a eles novamente um valor econômico, social e cultural.
O centro de Goiânia é um lugar com todas as qualidades e serviços urbanos essenciais. Tem toda infra-estrutura
urbana. Tem todo tipo de equipamentos, o que torna sua reocupação mais barata do que a construção de novos bairros.
Para revitalizar o centro precisamos, antes de tudo, mostrar para as pessoas e empresários que a Revitalização é
um PROCESSO, composto de muitos projetos e ações, tanto do poder público quanto da comunidade.
Ações simples tais como a normatização de uso de letreiros, o tratamento das fachadas, a recuperação dos
passeios em benefício dos pedestres, um novo mobiliário urbano, uma iluminação diferencial, novas redes de energia
telefonia que não entrem em conflito com a arborização, o tratamento de praças e ruas, um plano de transporte público e
privado sustentável , um plano de negócios para o centro, tratando-o como um cluster (um shopping a céu aberto)

54
propiciando sinergia entre os empreendimentos e que leve a um crescimento econômico e ao desenvolvimento
sustentável e a preservação e controle da destruição dos aspectos arquitetônicos.
Todas elas são ações desejáveis neste momento.
A prefeitura já vem fazendo sua parte ao construir o Mercado Aberto, ao restaurar e revitalizar a praça Cel.
Joaquim Lúcio e seu Coreto, a Biblioteca Marieta Teles, o Museu de Artes de Goiânia, a Praça dos Artistas no Setor Sul,
ao promover o tombamento de imóveis significativos, ao projetar a recuperação da Avenida Goiás, a restauração do
Mercado Popular da Rua 74, da Estação Ferroviária. Do Centro Livre de Artes e outras obras significativas e simbólicas
da vontade política de revitalizar o Centro.
Agora entra em cena a Secretaria Municipal de Cultura, por entender que equipamentos culturais, sejam cinemas,
teatros, centros culturais, escolas, seja a própria recuperação da arquitetura Art déco, fará com que o goianiense volte a
descobrir o centro. Aliás, também, descobrir o centro no sentido de mostrar as fachadas Art déco dos prédios particulares
e que não foram tombados junto com o traçado urbano de Goiânia. Tombamento este que é a principal ação de
revitalização promovida em conjunto pelas três esferas de poder e que dá a Goiânia a sua cara cultural, através desses
monumentos arquitetônicos característicos de nossa cidade.
Goiânia é a capital da Art déco.
Somos únicos.
A SeCult pensa assim pois os equipamentos e atividades culturais têm o poder de manter o “fluxo vital” da cidade
nas diversas horas do dia.
Neste conceito, por exemplo, está em elaboração a revitalização da Rua 8 , que se pretende em conjunto com os
empresários e entidades que circundam este espaço urbano tão rico em tudo: tem hotéis, cinemas, bancos, livrarias,
museus, serviços públicos, bares, restaurantes, teatro, etc. Todos estes empreendimentos tradicionais e que se
operassem como um complexo urbano comercial e cultural poderão transformar a região em uma Rua 24 horas,
dinamizando este setor central de nossa cidade.
No sentido de criar um dinamismo e uma sinergia em pontos vitais da cidade, a Secretaria de Cultura vem
desenvolvendo dois tipos de ações integradas e integradoras de equipamentos culturais existentes e a serem
projetados.
Partimos as nossas ações dos dois eixos estruturantes de nossa cidade, em especial de nossa cidade histórica,
que são os eixos formados pelas Av. Anhanguera, que corta e integra a cidade de leste a oeste e o eixo da aV. Goiás, no
sentido mais amplo de sua configuração que corta e integra a cidade de Sul a Norte.
Nestes dois eixos estão instalados diversos complexos culturais que se ativados darão à cidade a coluna
vertebral cultural necessária ao seu soerguimento.
Já citamos Complexo Cultural do Centro composto pela Rua 8 e seus arredores, que deve ser estendido até o
cruzamento da Tocantins com o Teatro Goiânia, até a Araguaia agregando o Mercado Central, até a Parnaíba com o
Mercado Aberto e Praça Cívica e os principais edifícios da Art déco, bem como os equipamentos culturais mais
importantes . Agregam-se a ele o Complexo Cultural Bairro Popular que contém elementos diversos e importantes como,
Mercado Popular da Rua 74, Cefet, Mercado Aberto, Mutirama,e Bosque Botafogo, etc. O Complexo Cultural Estação
Ferroviária. O Complexo Cultural Chafariz-Praça Universitário. O Complexo Cultural Bosque dos Buritis. O Complexo
Cultural Lago das Rosa e por fim o importante Complexo Cultural de Campinas.

55
Outros Complexos Culturais poderão ser constituídos e/ou construídos nestes dois eixos.
Pois é a partir destes dois Eixos e destes Complexos que a Cultura vai dar sua contribuição, , ao processo de
recuperação, restauração requalificação e por fim de revitalização do centro de Goiânia. Na comemoração dos 70 anos é
neles que acontecerão nossos eventos e projetos indo do Jardim Botânico ao Pic-Textil. Da Praça universitária a Praça
Coronel Joaquim Lúcio.
Desta forma, ao amarmos nossa cidade, valorizá-la, diferenciá-la, outros assim também a verão e atrairemos
mais civilização, mais desenvolvimento, mais qualidade de vida.
Goiânia não foi a primeira cidade construída através de um projeto com objetivo civilizatório e de ocupação
territorial do Centro-Oeste.
Outras cidades vieram e virão, pois a cidade é uma invenção que consolidou a qualidade humana da
sociabilidade.
E Goiânia é a nossa cidade.
No momento único de comemorarmos os 70 anos de Goiânia, na criação dos Ministério das Cidades devemos
promover esta ação política emblemática que venha mostrar como se deve tratar a cidade que residimos e que
escolhemos para conviver com outros humanos civilizados. Revitalizando-a .

Aguinaldo Pacheco
Secretaria Municipal de Cultura
Goiânia, 06 de fevereiro de 2003.

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