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FICHA CATALOGRÁFICA

Cuidados na execução de fundações em concreto-massa: Edificações verticais


J. R. de Carvalho 1. Ed. Recife, Tecomat Engenharia, 2020.
55 págs. 36,1x27,1cm

ISBN xxxxxxxxxxxxxxx

1.Concreto 2. Fundações 3. Concreto-massa 4. Reação Àlcali-agregado(RAA) 5. Formação de etringita tardia (DEF)

Cuidados na execução de fundações em concreto-massa: Edificações verticais


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GV José Carlos Guerra Tavares Sobrinho
Diretoria de Política Habitacional: Genildo Valença.
Hábil Leonardo Sá
Diretoria de Relações Institucionais: Luyndson Lino.
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Rio Ave Investimentos William Palacio

Romarco Luis Paulo Q de M Monteiro

Suassuna Fernandes Henrique Suassuna

Tecomat José Maria Neto

Torque Bento Ribas

Viana e Moura Charles Ruas


PREFÁCIO

Cuidados na Execução de Fundações em Concreto-Massa


Edificações Verticais
por Selmo Chapira Kuperman

Tive a honra e o privilégio de ter sido convidado para prefaciar o livro “Cui- O leitor encontrará nesta publicação capítulos com muitas informações
dados na Execução de Fundações em Concreto-Massa – Edificações Verticais”. importantes a respeito da RAA, exemplos detalhados de casos ocorridos e me-
Sem dúvida, a mola propulsora desta excelente publicação foi o Dr. Tibé- didas a serem tomadas para evitá-la. Entre as várias recomendações constantes
rio Andrade, que contando com o apoio de toda a equipe da Tecomat Engenha- do livro está a que reforça a necessidade de ensaios periódicos dos agregados,
ria seguiu o exemplo do saudoso Dr. Joaquim Correia de Andrade de divulgar algo que já consta de norma mas que nem sempre é seguido seja pelos fabri-
conhecimentos e recomendar boas práticas construtivas para a comunidade. cantes de agregados ou pelos fornecedores de concreto. Outra sugestão é a da
Como bem explicado nesta publicação, as dificuldades existentes no obrigatoriedade de aplicação de materiais pozolânicos em certa porcentagem
passado inerentes à divulgação de determinados problemas acabaram resul- em todos os concretos fabricados.
tando em anomalias que afetam, principalmente, sapatas e blocos de funda- A descoberta, no mundo, da formação de etringita tardia é mais recente
ção de edificações. (1997), no Brasil surgiram os primeiros casos em 2010 e sua divulgação ofi-
Os problemas mais comuns tem sido a reação álcali-agregado (RAA) e cial data de 2012. O livro aborda muito bem as causas que originam a DEF
a formação de etringita tardia (DEF). A reação álcali-agregado já era conhe- bem como suas soluções. A principal está intimamente ligada às resistências
cida no Brasil desde o início da década de 1960, com a construção da usina especificadas e ao consequente consumo de cimento. Como os elementos de
hidrelétrica Jupiá, no rio Paraná, divisa entre São Paulo e Mato Grosso do Sul. fundação tem sido calculados com resistências elevadas há uma necessidade
O uso de materiais pozolânicos naquela hidrelétrica bem como em várias ou- premente em se evitar que a temperatura supere valores, por enquanto, espe-
tras evitou o surgimento desta manifestação patológica. No entanto, mesmo cificados em 65ºC. Isto até que surja uma metodologia de ensaio confiável e
sabendo do problema e de sua solução muitas barragens construídas naquela que possa indicar se o cimento empregado tem ou não condições de deflagrar
época e até mesmo muitos anos depois resolveram não empregar materiais a etringita tardia. Um dos pontos importantes diz respeito à necessidade de
mitigadores da reação, sob a alegação principal de redução em custos. Estas constar dos projetos, seja em plantas de formas ou em especificações, de li-
sofrem até agora com fissurações, expansões do concreto e elevados custos mitações relativas às temperaturas atingidas pelos concretos com o intuito de
de manutenção. A transmissão destas experiências para a área de edificações evitar a formação de etringita tardia e/ou a fissuração de origem térmica.
comerciais e residenciais foi reduzidíssima e por esta razão em todo o país Esta publicação traz em uma linguagem acessível aspectos didáticos e
podem ser encontradas estruturas afetadas pelo problema, sendo provavel- práticos para as atividades voltadas à dosagem, produção, execução e controle
mente a cidade do Recife a que apresenta os casos mais emblemáticos. Era do concreto, assim como à sua manutenção pós-construção. Será de grande
comum se ouvir em reuniões técnicas realizadas nas décadas de 1970 e 1980 valia para todos os que estiverem de alguma maneira ligados a qualquer tipo
que RAA era “coisa de barrageiro”... de construção de concreto.
Boa leitura!
SUMÁRIO

1. Introdução e contextualização sobre os pro- 7 4.5 Medição da temperatura na obra 38


blemas de reação alcali agregado (RAA) e for-
4.6 Pós concretagem 40
mação de etringita tardia (DEF) em fundações
da Região Metropolitana de Recife (RMR). 5. Manutenção e Manutenibilidade 41
2. Principais diretrizes de projeto para preven- 17 5.1 Manutenção rotineira 42
ção da RAA e DEF
5.2 Manutenção preventiva 42
2.1 Especificações e recomendações no projeto 17
estrutural 5.3 Manutenção corretiva 42

2.1.1. Escolha do fck de projeto com respeito a 17 5.4 A manutenção estrutural 43


durabilidade dos elementos massivos
6. Capítulo de estudos de caso na RMR 49
2.1.2. Recomendações importantes relativas à 21
6.1 Caracterização do empreendimento 49
especificação do concreto para os elementos
massivos com ênfase na durabilidade 6.2 Materiais utilizados e dosagem 49
de concreto
2.2 Resumo das especificações e das recomen- 26
dações com relação ao projeto estrutural Quadro 6 - informações da carta 50
de dosagem
3. Dosagem e materiais 28
6.3 Resultados das medições 50
4. Execução e controle 34
6.4 Custos 51
4.1 O controle tecnológico do concreto 35
e seus insumos 7. Considerações Finais 52
4.2 Como realizar o controle na central concre- 35 Apêndices A – Planilha de pesagem do concre- 53
teira durante a fabricação do concreto. to na central concreteira
4.3 Como realizar o controle do 36 Apêndice B – Ficha de verificação visual 54
concreto no recebimento na obra da fundação (bloco de coroamento ou
sapata isolada)
4.4 Rastreabilidade do concreto 38
1. INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE OS PROBLEMAS gressos, Workshops, seminários, revistas téc-

DE REAÇÃO ALCALI AGREGADO (RAA) E FORMAÇÃO DE nicas, entre outros. Essa divulgação tem per-
mitido alertar a engenharia nacional de que
ETRINGITA TARDIA (DEF) EM FUNDAÇÕES DA REGIÃO o problema, muito provavelmente, não é ex-
METROPOLITANA DE RECIFE (RMR). clusivo da nossa cidade. A aparente exclusivi-
dade dessas manifestações patológicas está
relacionada à cultura de se realizar inspeções
Nos últimos anos, a indústria da constru- tornou-se endêmico, levando a um desgaste sistemáticas e periódicas em fundações de edi-
ção civil voltada para área imobiliária, particu- das construtoras e incorporadoras perante seus fícios, que começou aqui desde de 2005, mes-
larmente na Região Metropolitana de Recife, clientes. Além do desgaste, tanto as construto- mo que a superestrutura não apresente sinto-
tem enfrentado manifestações patológicas re- ras, quanto os donos dos imóveis têm despendi- mas de problemas estruturais aparentes. Essa
correntes nos elementos massivos de concreto do recursos vultosos para a recuperação e pro- cultura se deu em função de um evento grave
armado nas fundações de edifícios, como mos- teção desses elementos estruturais massivos. de desabamento de um edifício da localidade,
trado na Figura 1 . Tais problemas têm recebido ampla di- tendo sido consolidada com a lei estadual Nº
Com muito mais de uma centena de ca- vulgação, ano após ano, no meio técnico, tanto 13.0321, de 14 de junho de 2006, regulamen-
sos diagnosticados desde 2005, esse problema no país, quanto no exterior, por meio de con- tada pelo decreto número 33.747 de 6 de
agosto de 2009. Posteriormente, alguns pará-
grafos da referida lei foram modificados pela
lei 13.341, de novembro de 2007, que dispõe
sobre a obrigatoriedade de vistorias periciais,
incluindo elementos de fundações, bem como
manutenções periódicas em edifícios de apar-
tamentos e salas comerciais.
Nesse capítulo, como forma de conscien-
tização do meio técnico de que o problema
existe e de que devem ser tomadas medidas
para sua prevenção, será relatada a cronologia
dos fatos e a evolução do conhecimento desses
a partir dos inúmeros casos ocorridos na RMR,
bem como as ações tomadas pela engenharia
Figura 1 - Bloco de fundação intensamente fissurado de um edifício pernambucana para tratar do tema com o in-
de 30 pavimentos descoberto em 2011 (Fonte: TECOMAT).
tuito de orientar outras regiões, caso venham a
ser diagnosticados casos semelhantes.
1
Lei estadual Nº 13.032, de 14 de junho de 2006, que posteriormente foi modificada pela lei 13.341 de novembro de 2007.
7
Embora tenha sido registrada uma O primeiro caso emblemático na cidade
de Recife foi a Ponte Paulo Guerra, que liga o
maior incidência do problema na
centro e a zona norte da cidade à zona sul. Os
RMR, em comparação com outras
blocos de coroamento dessa ponte, construída
regiões do país, isso não significa que no ano de 1977, vinham apresentado, desde a
existam fatores condicionantes locais segunda metade da década de 1980, um qua-
e que não ocorrem em outros lugares. dro fissuratório que evoluiu com o tempo. Esse
Na realidade, o que houve, a partir de quadro era de fácil observação pelos motoristas
e pedestres que transitavam pela Ponte Aga-
2005, foi uma forte tomada de decisão
menon Magalhães, paralela e distante da Ponte
dos meios técnicos locais, no sentido
Paulo Guerra no máximo 150 metros. Nas ma-
de se realizar inspeções sistemáticas e
rés baixas, as superfícies laterais dos blocos fi-
periódicas em fundações de edifícios, cavam expostas, deixando visíveis as manchas
mesmo que a superestrutura não de lixiviação do concreto saindo pelas fissuras
apresente nenhum sintoma aparente. abertas, como pode ser visualizado na Figura 2.
No ano de 2001, a Prefeitura da Cidade do
Recife contratou uma consultoria para a investi-
gação dos problemas existentes e para a toma-
da de decisões no tocante à sua recuperação.
Nessa investigação, com a realização de uma
campanha de ensaios, chegou-se à conclusão
de que o principal mecanismo que levou a fis-
suração intensa dos blocos de coroamento foi
a reação álcali-agregado (RAA). Na época, não
houve divulgação ampla na engenharia local, e
nem foi um caso motivador para maiores inves-
tigações da possibilidade da ocorrência de sin-
tomas similares em outras estruturas de con-
creto. Essa suspeita poderia ter sido colocada
em evidência, pois o agregado graúdo reativo
utilizado na ponte pertencia, provavelmente, à
uma pedreira comercial da RMR, que deveria

Figura 2 - Bloco de coroamento fissurado da ponte


fornecer agregado graúdo para o mercado da
Paulo Guerra em 2001 (Fonte: TECOMAT) construção civil local.
8
Só a partir de 2005 as suspeitas tomaram
vulto, com o desabamento do Edifício Areia
Branca, acontecido no final de 2004 e que foi
amplamente divulgado em nível nacional pela
mídia. Apesar das causas da queda do Edifício
Areia Branca não terem nenhuma correlação
com a RAA, estando o desabamento relacio-
nado à existência de graves falhas de concre-
tagem dos pescoços dos pilares que estavam
abaixo do nível do terreno, o ocorrido foi um in-
dutor para a realização de inspeções de funda-
ções em inúmeros edifícios na RMR.
Através de tais inspeções, começaram a
surgir, no mesmo ano de 2005, inúmeros casos
de fissuração em blocos de coroamento e sa-
patas, conforme as fotos mostradas nas Figura
Figura 3 - Bloco de coroamento fissurado de um edifício
3 a 6, levando à uma preocupação da enge- de 28 pavimentos descoberto em 2005 (Fonte: TECOMAT)
nharia pernambucana com as consequências
no tocante à segurança estrutural, para o usuá-
rio dos imóveis, e jurídica, para as construtoras
e imobiliárias.
Em inúmeros dos casos surgidos, procu-
rou-se extrair testemunhos para realização de
ensaios petrográficos nos concretos para iden-
tificação de fases deletérias no concreto. Em
todos eles, a petrografia identificou produtos
da reação álcali-agregado, bem como agrega-
dos graúdos potencialmente reativos, tendo
esses casos reforçado a suspeita levantada 4
anos antes na Ponte Paulo Guerra, conforme já
citado anteriormente.
Figura 4 - Bloco de coroamento fissurado em edifício de
Na fase mais crítica do problema, que
32 pavimentos descoberto em 2013 (Fonte: TECOMAT)
compreendeu os anos de 2005 e 2006, o Sindi-
cato da Indústria da Construção Civil no Estado
9
de Pernambuco (SINDUSCON/PE) teve um pa-
pel fundamental na condução das ações, tanto
no tocante ao avanço do conhecimento do pro-
blema e sua divulgação a nível regional e nacio-
nal, quanto na questão jurídica, se antecipando
à possíveis ações coletivas na justiça, que não
ocorreram. A entidade, ao longo de quase todo
ano de 2005, quando os casos foram surgindo,
promoveu reuniões quinzenais. Nessas reuni-
ões participaram associados, calculistas, geo-
técnicos, tecnologistas de concreto da região,
além profissionais de outros estados do Brasil
e até do exterior, com experiência no assunto,
para discutir o problema, suas consequências e
ações para mitigação em obras futuras.
Figura 5 - Bloco de coroamento fissurado em edifício de A engenharia e a comunidade acadêmica
32 pavimentos descoberto em 2013 (Fonte: TECOMAT)
de Pernambuco tiveram a percepção de que a
reação álcali-agregado não era exclusiva de es-
truturas concreto de grandes volumes em con-
tato direto com a água, percepção essa que já
existia há muito tempo em outros países. Atra-
vés de trabalhos internacionais e de informa-
ções trazidas por Bernoit Fournier, pesquisador
canadense renomado no assunto, percebeu-se
que RAA poderia afetar elementos de concre-
tos armado de pontes, viadutos, fundações de
estruturas, dormentes de concreto, entre mui-
tas outras estruturas.
Nesse período, uma iniciativa correta e
importantíssima tomada pelo SINDUSCON/PE
Figura 6 - Bloco de coroamento fissurado em edifício de foi avaliar o potencial de reatividade dos agrega-
26 pavimentos descoberto em 2018 (Fonte: TECOMAT)
dos graúdos e miúdos dos fornecedores da RMR
e, com isso, estimar a magnitude do problema.
Nesse estudo foram envolvidos o SEBRAE/PE,
10
como órgão financiador, e a Universidade Fede- ensaio acelerado das barras de argamassa, se- veis na região na época com potencial de miti-
ral de Pernambuco, como entidade gerencia- guindo a metodologia das normas americanas gar a reação, um CPIII 40, e outro CPIV 32 e a
dora do programa. Os ensaios foram realizados ASTM C 12602 (ASTM, 2001) e ASTM C 15673 combinação de adições minerais, metacaulim
no Laboratório de Furnas, situado no Estado de (ASTM, 2004) e análise petrográfica. O Brasil, até e sílica ativa, com cimentos CPII F, CPII Z e CPV
Goiás e referência no Brasil, nessa área. Na época então, mesmo com o segmento da indústria da ARI, também comercializados na região. Para
não existiam normas brasileiras sobre RAA, ape- construção civil pesada bastante desenvolvido avaliação da capacidade de mitigação, foram
sar da engenharia nacional já ter larga experiên- e que já tinha uma visão crítica sobre o proble- utilizados os 02 agregados de maior potencial
cia na construção de barragens e hidroelétricas, ma, não possuía normas orientativas sobre RAA. de reatividade, obtidos pelo ensaio da ASTM C
convivendo, então, com obras diagnosticadas O país possuía apenas duas normas de ensaios, 12603 (ASTM, 2001).
com RAA desde a década de 1960. Podemos que já estavam ultrapassadas a nível internacio- Com o ensaio de petrografia, foi possí-
citar, por exemplo, obras como a hidroelétrica nal, a NBR 97744 (ABNT,1987), conhecido como vel identificar as características mineralógicas
Apolônio Sales, pertencente à CHESF e localiza- método químico, e a NBR ABNT 97735 (ABNT, dos agregados potencialmente reativos, tendo
da no Rio São Francisco. Muitos trabalhos inter- 1987), o de expansão das barras de argamassa, o quartzo microcristalino contidos em rochas
nacionais, ao longo de todos esses anos, foram que, por sinal, já foram canceladas pela ABNT. metamórficas, que sofreram movimentações
publicados em congressos sobre essas estrutu- Como era de se esperar, a investigação tectônicas, como o mineral de maior poten-
ras afetadas, principalmente em obras de gran- detectou agregados miúdos e graúdos poten- cial de reatividade, sendo essas rochas classi-
de porte, como nas já mencionadas barragens cialmente reativos e o agregado de maior po- ficadas como milonitos e cataclasitos. Quanto
e hidroelétricas. Entretanto, infelizmente toda a tencial reatividade pertencia a uma pedreira maior o grau de milonitização, maior a quanti-
experiência adquirida não foi transferida a ou- comercial relevante no mercado entre os anos dade de quartzo microcristalino e maior o po-
tros setores da engenharia civil, responsável por 70 e final dos anos 90. O resultado dessa in- tencial de reatividade. Na prática, esse estudo
construção de outras obras de infraestrutura e vestigação foi publicado em uma trabalho6 no teve um papel importante para a conscientiza-
de habitação vertical. Congresso do IBRACON, realizado no Rio de ção do meio técnico da influência da RAA na
Na investigação conduzida pelo SINDUS- Janeiro, em 2006. fissuração dos elementos massivos de funda-
CON/PE para identificação do potencial de re- No ensaio da ASTM 15672 (ASTM, 2004), ções de edifícios na RMR.
atividade dos agregados, foram utilizados o foram avaliados os cimentos Portland disponí-

2
AMERICAM SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C-1260-01. Standard Test Method for Potencial Alkali Reactivity of Aggregates (Mortar-Bar Method). Philadelphia. 2001.
3
AMERICAM SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C-1567-04. Standard Test Method for Determining the Potential Alkali-Silica Reactivity of Combinations of Cementitious
Materials and Aggregate (Accelerated Mortar-Bar Method). Philadelphia. 2004.
4
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9774. Verificação da reatividade potencial pelo método químico -Método de ensaio. Rio de Janeiro, 1987.
5
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9773. Reatividade potencial de álcalis em combinação com cimento – agregado-Método de ensaio. Rio de Janeiro, 1987.
6
Andrade, T; Silva, J. J. R.; Hasparyk, P. N; Silva, M. C. Investigação do Potencial de Reatividade para o Desenvolvimento de RAA dos Agregados Miúdos e Graúdos Comercializados na
Região Metropolitana do Recife. RAA -2006 – II Simpósio sobre reação álcali-agregado em estruturas de concreto (IBRACON). Rio de Janeiro, 2006.
11
A partir dos inúmeros casos que foram quadro fissuratório. Ampliando a investigação, vos a 1ª e 2ª etapas de concretagem, utilizando
surgindo com a realização de inspeções nas foi contactado o engenheiro responsável na o concreto da concreteira A. Os blocos executa-
fundações, ao longo de 2005 e 2006, foi possível época pela execução da estrutura de concre- dos na 3ª etapa, com a concreteira B, estavam
identificar, em muitas situações, a concreteira to, que tinha arquivado as plantas de forma da intensamente fissurados, tanto na superfície
fornecedora do concreto e rastrear, com uma fundação e nela existiam informações valiosas horizontal superior, quanto nas superfícies late-
certa margem de confiabilidade, o agregado para a investigação e elucidação do problema rais. Por último, os blocos relativos a 4ª concre-
graúdo utilizado no concreto. Em todas as in- observado. Na planta estavam anotadas as da- tagem empregando a concreteira A não apre-
vestigações, sem exceção, houve uma correla- tas de concretagem, a concreteira responsável sentam nenhuma tipologia de fissuras.
ção direta entre a intensidade do quadro fissu- pelo fornecimento do concreto de cada bloco e A Figura 7 mostra uma foto em que se po-
ratório e o potencial de reatividade do agregado a resistência à compressão de todas as partidas dem observar dois blocos simétricos, com mes-
obtido nos ensaios de expansão. Além disso, na de concreto (caminhão). ma carga de solicitação, mesmas dimensões,
análise petrográfica realizada nos concretos A concretagem da fundação foi realizada mesmo número de estacas e mesma armadu-
extraídos de elementos fissurados, principal- em 04 etapas distintas, sendo a 1ª, 2ª e 4ª etapas ra. O bloco da esquerda, que utilizou o concreto
mente nos de maior intensidade, as classifica- com fornecimento do concreto da concreteira da concreteira B, apresentou-se intensamente
ções dos agregados graúdos do concreto foram A e a 3ª concretagem com a concreteira B. Após fissurado. Por outro lado, o bloco da direita, cor-
sempre o milonito e cataclasito. a inspeção visual de todos blocos, foi observa- respondente a última concretagem em que foi
Para exemplificar a importância desse do um pequeno quadro fissuratório localizado utilizado concreto da concreteira A, não apre-
estudo, com ações investigativas tomadas em apenas na superfície superior dos blocos relati- sentava qualquer tipo de fissuração.
alguns casos surgidos, pode-se dar o exemplo
de um edifício inacabado e que foi inspecio-
nado na metade do ano de 2006. A obra desse
edifício foi paralisada em 1996, com a estrutura
executada até a 10º laje e com as alvenarias de
periferia, tendo um total de 26 lajes. Os com-
pradores dos imóveis conseguiram resgatar o
edifício da massa falida e deram continuidade
às obras com recursos próprios. Antes de dar
início às obras, o condomínio tomou a iniciativa
de realizar uma inspeção na estrutura de con-
creto, que incluía as fundações do edifício. Na
inspeção dos elementos de fundação, a equi-
pe deparou-se com um caso atípico até então:
Figura 7 - Blocos de mesmas características, um intensamente
existiam blocos de coroamento com níveis dis- fissurado (esquerda) e o outro bloco sem fissuração (direita)
tintos de fissuramento e outros sem qualquer (Fonte: TECOMAT)
12
A concreteira B, no qual os blocos esta- te. Petrograficamente, o potencial de reativi- cial dos agregados na RMR. No final de 2006,
vam intensamente fissurados, tinha pedrei- dade do agregado graúdo da concreteira B o SINDUSCON e a Associação das Empresas do
ra própria e, portanto, muito provavelmente foi indiscutivelmente superior ao agregado da Mercado Imobiliário (ADEMI) de Pernambuco
o agregado graúdo empregado seria dessa concreteira A, confirmando, mais uma vez, a in- promoveram um evento para divulgação do
pedreira. Entretanto, não foi possível o rastre- vestigação de campo. problema, além de distribuir uma cartilha aler-
amento do agregado graúdo utilizado no con- Além dessas informações, os agrega- tando sobre ele e com recomendações para mi-
creto da concreteira A. dos graúdos foram extraídos dos testemunhos tigar a RAA e seus sintomas em obras futuras.
A primeira informação importante extraí- para realização do ensaio acelerado das barras As recomendações básicas propostas fo-
da da investigação é que o agregado graúdo da de argamassa pelo método da ASTM C 12602 ram: a mudança no detalhamento das arma-
concreteira B foi o terceiro de maior potencial (ASTM,2001). Os resultados também confirma- duras dos blocos de coroamento; e o emprego
de reatividade obtido no estudo realizado pelo ram a investigação de campo, com o agregado de cimentos Portland pozolânicos (CPIV) ou es-
SINDUSCON, correlacionando diretamente o graúdo da concreteira B apresentando expan- cória de alto (CPIII), que tiveram bom desem-
agregado com os blocos mais fissurados. Avan- são bem superior ao limite normativo, e o agre- penho para mitigação dos agregados mais re-
çando na investigação, foram extraídos teste- gado da concreteira A com expansão inferior e ativos no estudo conduzido pelo SINDUSCON
munhos relativos às 4 etapas de concretagem próximo ao limite normativo. e, na ausência desses cimentos, a utilização de
para determinação da resistência compressão Esse caso em especial teve uma impor- adição metacaulim ou sílica ativa em um per-
e análise petrográfica. tância significativa pois, na época, muitos pro- centual mínimo de 12% em substituição aos
Na análise petrográfica realizada dos fissionais de engenharia relutavam em acredi- demais tipos de cimento. Essas ações foram re-
concretos extraídos, o agregado graúdo da con- tar na influência da RAA nos problemas surgidos comendadas independente da reatividade dos
creteira B foi classificado como milonito, com em elementos massivos de concreto armado agregados e deveria se estender aos demais
a característica mineralógica muito parecida em fundação de edifícios na RMR. Toda essa elementos da fundação, como estacas, cintas,
com agregado graúdo pertencente a concre- experiência adquirida em 2005 foi divulgada sapatas de fundação.
teira B, no estudo conduzido pelo SINDUSCON/ no Workshop sobre RAA dentro do congresso A divulgação desses casos da RMR, a nível
PE. Foram encontrados quartzo microcristali- do IBRACON, realizado em setembro de 2005, nacional, motivou a engenharia do país a cons-
no e quartzo com extinção ondulante, minerais no Recife. No ano seguinte, no congresso de tituir comissão na ABNT para atualizar e criar
classificados como potencialmente reativos. Já IBRACON do Rio de Janeiro, diversos trabalhos normas brasileiras para RAA. Com o trabalho
o agregado da concreteira A foi classificado, foram apresentados no II Simpósio de Reação dessa comissão, entrou em vigor, em 2008, a
petrograficamente, como granito porfirítico, Àlcali-Agregado em Estruturas de Concreto, re- NBR 15577, que foi dividida em 06 partes: a par-
apresentando quartzo com extinção ondulan- latando casos e o estudo de reatividade poten- te 1 é o guia7 sobre a reação álcali-agregado; a

7
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15577 – parte 1. Agregado-Reatividade Álcali-agregado Parte 1: Guia para avaliação da reatividade potencial e medidas
preventivas para uso de agregados em concreto. Rio de Janeiro, 2018.
13
parte 2 se refere à amostragem8 para realização armaduras, reduzem a expansão e a fissuração sem estar levando ao quadro fissuratório nos
dos ensaios; as partes 3, 4, 5 a 6 são os ensaios dele nessas regiões. Atualmente, em muitos ca- pilares. A partir dessa constatação, tomou-se a
normativos para caracterização do potencial de sos, dependendo do nível de fissuração e ida- iniciativa de inspecionar a fundação, através da
reatividade dos agregados9,10,11, e mitigação12 da de da estrutura, está se adotando a postura de demolição do piso de concreto. Para a surpresa
RAA. Essa norma já está em sua segunda revi- não realizar nenhuma intervenção mais radical, de todos, os blocos de coroamento apresenta-
são, a último foi em 2018, sendo nessa revisão apenas o fechamento das fissuras por injeção e ram intensa fissuração com apenas 2,5 anos de
introduzida a parte 713, que contempla o ensaio o monitoramento dos elementos. executados, sendo mostrados os elementos fis-
acelerado de prismas de concreto. Em 2016 ocorreu um novo avanço no co- surados na Figura 8 e Figura 9.
De 2007 até 2016, muitos casos foram nhecimento dos problemas existentes e esse O projeto estrutural especificava um con-
diagnosticados na RMR a partir de inspeções avanço se deu com a investigação de um novo creto com fck de 50MPa, tendo sido alcançada
sistemáticas realizadas, tendo a engenharia caso surgido. Esse caso ocorreu em um edifício essa resistência empregando cimento Portland
pernambucana convivido com mais tranqui- comercial e o problema foi detectado antes da CPV ARI, com adição de metacaulim, com eleva-
lidade com o problema, diferentemente dos sua entrega aos condôminos, com aproximada- díssimo consumo de cimento. Nesse caso espe-
primeiros anos de descobrimento. Até porque, mente 2,5 anos após o início da obra. O edifí- cífico, pela idade da manifestação e intensidade
com o conhecimento adquirido, sabe-se que cio estava em fase de limpeza para a retirada do quadro fissuratório, a suspeita de que pode-
estado de fissuração, muitas vezes intenso, não do “habite-se”, quando a equipe da construtora ria haver um outro mecanismo de expansão in-
implica necessariamente na perda significativa percebeu fissuras inclinadas em dois pilares, no terna foi grande. A campanha de investigação
da capacidade resistente desses elementos. O primeiro pavimento de garagem. Foi realizada comtemplou a retirada de testemunhos para re-
estado de confinamento do concreto nas regi- revisão no cálculo estrutural e investigação das alização de ensaio microestrutural do concreto
ões das peças com maior estado de compres- armaduras dos pilares com pacometria, não e determinação de expansão residual do con-
são, bem como a restrição à expansão devido às tendo sido encontrado problemas que pudes- creto, além da análise petrográfica do agregado.

8
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15577 – parte 2. Agregados–Reatividade álcali agregado Parte 2: Coleta, preparação e periodicidade de ensaios de amostras
de agregados para concreto. Rio de Janeiro, 2018.
9
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15577 – parte 3. Agregados–Reatividade álcali agregado Parte 3: Análise petrográfica para avaliação da potencialidade
reativa de agregados em presença de álcalis do concreto. Rio de Janeiro, 2018.
10
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15577 – parte 4. Agregados–Reatividade álcali agregado Parte 4: Determinação de expansão em barras de argamassa pelo
método acelerado, Rio Janeiro, 2018.
11
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15577 – parte 6. Agregados–Reatividade álcali agregado Parte 6: Determinação da expansão em prismas de concreto Rio
Janeiro, 2018.
12
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15577 – parte 5. Agregados–Reatividade álcali agregado Parte 5: Determinação da mitigação da expansão em barras de
argamassa pelo método acelerado, Rio Janeiro, 2018.
13
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15577 – parte 7. Agregados–Reatividade álcali agregado Parte 5: Determinação da expansão em prismas acelerados de
concreto. Rio Janeiro, 2018.
14
O ensaio microestrutural foi realizado
com auxílio de Microscópio eletrônico de Varre-
dura (MEV) e espectrometria de energia disper-
siva (EDS), utilizando pela primeira vez amos-
tras polidas do concreto, em vez de amostras
fraturadas. A expansão residual do concreto foi
realizada com testemunhos de concreto extra-
ídos dos elementos de fundação. Nessa expan-
são, foi empregada uma adaptação do método
de ensaio de prisma de concreto para determi-
nação do potencial de reatividade dos agrega-
dos, NBR 15577-parte 610. Os testemunhos de
100mm de diâmetro foram cortados no formato Figura 8 - Bloco de coroamento intensamente fissurado
de prisma com a mesma dimensão dos prismas na superfície horizontal e lateral por DEF, sendo preparado
utilizados na NBR 15577-parte 610, isto é, seção para injeção de epóxi (Fonte: TECOMAT)

transversal de 75 x 75mm e altura de 285mm.


Nas duas faces opostas, com 75mm de lado, fo-
ram colados 02 pinos centrados na seção e, a
partir desse momento, o ensaio foi conduzido
conforme prescrito pela norma, medindo a ex-
pansão regularmente durante 06 meses.
A microanálise foi realizada pelo Progra-
ma de Pós-graduação em Ciência e Engenharia
de Materiais da Universidade federal da Paraí-
ba (PPCEM), e a conclusão do relatório indicou
um intenso ataque de etringita tardia, que es-
tava preenchendo poros, interfaces agregado/
pasta de cimento e microfissuras, como obser-
vado na Figura 10, sendo confirmada etringita
pela sonda EDS. Não havia indícios, ainda, de Figura 9 - Bloco de coroamento intensamente fissurado
na superfície horizontal e lateral por DEF, sendo preparado
desenvolvimento de RAA, apesar do agregado
para injeção de epóxi (FONTE: TECOMAT)
graúdo ter sido classificado como potencial-
mente reativo no ensaio petrográfico realizado.

15
Figura 10 - Microfotografia realizada no MEV mostrando
um veio de etringita tardia na interface entre um
agregado e a pasta de cimento (FONTE: PPCEM)

Como a etringita é uma fase natural da pasta na RMR foram diagnosticados, depois de 2016, Nesse contexto, a elaboração dessa carti-
de cimento endurecido, a sua existência por si passando esse mecanismo a ser uma outra pre- lha pela TECOMAT Engenharia Ltda, com apoio
só não caracteriza expansão do concreto. Nesse ocupação na construção de novas obras. Entre- da ADEMI/PE e SINDUSCON/PE, tem como ob-
caso específico do edifício, como não existia in- tanto, diferentemente da RAA, o mecanismo de jetivo conscientizar a cadeia da construção ci-
dícios de reação álcali-agregado, aliada a análi- formação da etringita tardia, que teve seu pri- vil, mais especificamente a imobiliária, para o
se ter sido realizada em amostras polidas, ficou meiro diagnóstico em 1987, não tem ainda nor- problema e orientar a tomada de medidas pre-
mais evidente a ação deletéria. mas nacionais e internacionais específicas que ventivas nas fases de projeto, execução e pós
Já o ensaio de expansão residual do con- tratem e orientem sobre esse mecanismo de entrega/execução dos elementos para prevenir
creto dos blocos, realizado em 06 testemunhos, expansão interna do concreto. Portanto, ficou o problema. Uma fase importantíssima para
evidenciou também a expansão interna do con- evidente, através das experiências adquiridas prevenção dessas expansões deve ser tomada
creto, com cp´s de prova chegando a ter valo- ao longo desses anos na RMR, que os elemen- indiscutivelmente na fase de projeto, bem an-
res de expansão de até 0,13% com apenas 06 tos massivos de concreto armado de fundação tes do início das obras. Portanto, a seguir, serão
meses de ensaio. Como nesse caso específico de edifícios devem ser tratados diferentemente fornecidas as principais diretrizes a serem ado-
que alertou para o problema, outros edifícios dos concretos empregados na superestrutura. tadas nessa fase.

16
para cada classe de agressividade, a norma
2. PRINCIPAIS DIRETRIZES 2.1 ESPECIFICAÇÕES E especificou um fck de projeto mínimo e uma

DE PROJETO PARA PREVENÇÃO RECOMENDAÇÕES NO relação água/cimento máxima. Entretanto,


essa norma, que foi atualizada em 2018, não
DA RAA E DEF PROJETO ESTRUTURAL faz menção que as classes de agressividade
são única e exclusivamente para a mitigação
Na etapa de projeto, a escolha do fck e
As sapatas e blocos de coroamento em do mecanismo de corrosão de armadura e que
relação água/cimento máxima para dimensio-
concreto armado, cuja menor dimensão da não se aplica aos mecanismos de expansão in-
namento desses elementos são importantes
peça seja superior 0,6m, serão, a princípio, terna, isto é, reação álcali agregado e formação
recomendações de especificações do concre-
tratados como elementos de concreto mas- de etringita tardia.
to, que devem constar na planta de forma da
sivos, também conhecidos na literatura com Com essa exigência normativa e a cons-
fundação e são essenciais para prevenir futuros
concreto massa. Esses elementos vão requerer cientização da engenharia nacional com a
problemas de expansão interna nos elementos
cuidados, ações preventivas antes e durante a durabilidade das estruturas de concreto ar-
na fase de pós obra.
execução, a fim de mitigar possíveis expansões mado, os calculistas começaram a utilizar fck´s
internas, bem como meios para facilitar inspe- mais elevados para dimensionar as estruturas
ções futuras no pós obra. Tais ações envolvem, de concreto dos edifícios, principalmente nas
principalmente, a fase de projeto, a escolha dos grandes cidades costeiras, onde a agressividade
2.2 ESCOLHA DO F CK DE
materiais e a dosagem de concreto, mobilizan- ambiental é mais severa devido à névoa salina
do toda a cadeia. Isto é: o projetista, a forne- PROJETO COM RESPEITO que contém íons cloretos. Aliada a essa cons-
cedora de concreto, o tecnologista/laboratório A DURABILIDADE DOS cientização, começou a proliferação de edifícios
responsável pelo controle tecnológico do con- mais altos, que geram cargas mais elevadas,
creto e a construtora.
ELEMENTOS MASSIVOS havendo a necessidade de empregar concretos
mais resistentes. Em função dessas mudanças,
A partir de 2003, com a revisão da NBR os projetos com fck de 40, 45 e 50Mpa, ou até
6118, foi introduzido conceito de durabilida- valores superiores, passaram a ser corriqueiros,
de nas estruturas de concreto, que até então atendendo a uma classe de agressividade IV.
era inexistente. Nessa nova versão, NBR 6118 14
A cidade do Recife e sua região metro-
(ABNT, 2003), foram introduzidas 4 classes de politana não fugiram à regra, e esses fck´s mais
agressividade ambiental para o concreto e, elevados nos projetos estruturais e relações

14
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2003.
17
a/c mais baixas para os concretos foram exten-
sivos também para os elementos massivos das
fundações dessas estruturas. Esse conceito foi
equivocado e muito provavelmente pode ter
contribuído, a partir de 2003, para o aumen-
to dos casos de expansões internas dos con-
cretos em elementos massivos das estruturas,
localizados nas fundações. Por outro lado, o
que se tem observado em inúmeras inspeções
realizadas pela TECOMAT ao longo desses úl-
timos 15 anos, em edifícios recém construído
e até com 50 anos ou mais de idade, é que a
corrosão das armaduras não é um problema
Figura 11 - Bloco de fundação de um edifício na RMR com idade aproximada
em elementos enterrados. de 45 anos sem nenhum sintoma de corrosão de armadura (Fonte: TECOMAT).
Nas inspeções realizadas em elementos
de fundações de estruturas com idades de 30,
40, 50 anos ou mais, que utilizaram em projeto
concretos de fck´s de 15, 20, 25MPa, não se ob-
serva corrosão das armaduras. Como exemplo,
mostra-se na Figura 11 e Figura 12, a visualiza-
ção dos blocos de coroamento sem nenhuma
manifestação de corrosão com mais de 45 anos
de idade. Esses concretos muito provavelmen-
te foram dimensionados com fck não superior a
20MPa, que eram usuais na época. Entretanto,
na superestrutura desses mesmos edifícios, o
mecanismo de corrosão é evidente, chegando
a ser preocupante, em muitos casos. Essa evi-
dência é um fato importante, o que indica que
a classe de agressividade ambiental de elemen- Figura 12 - Bloco de fundação de um edifício na RMR com idade aproximada
tos de concreto armado enterrados, definida de 35 anos sem nenhum sintoma de corrosão de armadura (Fonte: TECOMAT).

18
pela NBR 6118, está muito mais para a Classe I, idades. Esse aumento no consumo de cimen- das 04 classes relativas à corrosão. Como os sul-
mais branda, do que para a classe IV, mais seve- to pode favorecer bastante o desenvolvimento, fatos são agentes externos ao concreto, a ação
ra, no tocante à corrosão das armaduras. tanto de DEF, quanto de RAA, isto é, ao surgi- para sua mitigação é a fixação também de um
A norma cita, como exemplo da classe I mento de “efeitos colaterais” nos elementos fck mínimo e uma relação água/cimento máxi-
de agressividade ambiental menos agressiva, massivos de fundações. ma, com o objetivo de reduzir a permeabilida-
o meio rural e o meio submerso, fixando para Um outro mecanismo de deterioração do de do concreto e a taxa de penetração desses
esses casos uma relação água/cimento máxima concreto pertinente em elementos enterrados agentes, similar à mitigação da corrosão das ar-
de 0,65 e um fck mínimo de 20MPa. Já para a de concreto seria o ataque externo de sulfatos, maduras. Para esse mecanismo, a NBR 1265515
mais agressiva, que é a classe IV de agressivi- que pode estar presente no solo e/ou na água (ABNT, 2015) específica 03 classes agressivida-
dade, quando o concreto armado está sujeito do lençol freático. A NBR 1265515 (ABNT, 2015), de, com concentrações máximas de sulfatos,
ao respingo de maré, o fck tem de ser, no míni- quanto a esse mecanismo, divide em 03 classes tanto no solo, quanto na água contida nesse
mo, 40MPa, com uma relação a/c máxima de de agressividade ambiental, diferentemente solo, sendo mostrado no Quadro 1.
0,45. Essa não propensão à corrosão, encontra-
da nesses elementos enterrados nas inúmeras
inspeções realizadas, tem respaldo técnico na
literatura e está relacionada à uma menor dis-
ponibilidade de oxigênio em tais ambientes, es-
Condição de Sulfato solúvel em
sencial para o mecanismo de corrosão. exposição devido à (SO4-) água presente Sulfato solúvel (SO4-) Máxima Mínimo
no solo presente na água relação a/c* fck MPa
agressividade
Por outro lado, quando o projeto estru- % em massa

tural especifica um fck de 40, 45, 50MPa ou


fraca 0,00 a 0,10 0 a 150 - -
mais para o concreto, para atender a classe IV
moderada
de agressividade ambiental, que se refere es- 0,10 a 0,20 150 a 1500 Acima de 1500 35

pecificamente à corrosão das armaduras, está severa Acima de 0,20 Acima de 1500 0,45 40

elevando o seu consumo de cimento e, con-


*Baixa relação/cimento ou elevada resistência podem ser necessárias para obtenção de baixa permeabilidade
sequentemente, aumentando o teor de álcalis do concreto ou proteção contra corrosão da armadura ou protenção a processos de congelamento e degelo;
** Água do mar;
no concreto e sua temperatura nas primeiras
***Para condições severas de agressividade, devem ser obrigatoriamente usados cimentos resistentes a sulfatos.

Quadro 1 - Classe de agressividade para concreto com relação


a contaminação externa por sulfatos NBR 1265515 (ABNT, 2015)

15
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655. Concreto de Cimento |Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação - Procedimento. Rio de Janeiro, 2015.
19
Em todos esses anos, nos trabalhos de I de agressividade ambiental) teria uma condi- tos de massivos das fundações e, consequen-
inspeções e investigações realizados pela TE- ção muito favorável a mitigação, tanto para a temente, a redução da quantidade álcalis no
COMAT, a RMR não possui histórico de concen- reação álcali agregado, quanto para formação concreto, é uma ação de mitigação importante
tração elevada de sulfatos, podendo, a princí- de etringita tardia e atenderia aos requisitos para prevenção da RAA.
pio, ser enquadrada na classe de agressividade de durabilidade no tocante a corrosão das ar- No tocante à formação de etringita tar-
fraca. Exceção ao citado anteriormente, foi o maduras. dia, dosagem com consumos de cimento na or-
caso do desabamento do Edf. Érica, em 12 de Uma ação significativa para mitigar as dem de 300Kg/m3, apesar não evitar o emprego
novembro de 1990, situado no bairro de Jar- expansões internas no concreto, por RAA e/ou de outras ações para reduzir a temperatura de
dim Fragoso, Olinda. Ainda que seja uma edi- DEF, em elementos massivos de concreto ar- lançamento do concreto, reduz a intensidade
ficação do em alvenaria resistente, o processo mado em fundações, é a redução do consumo dessas ações. Quanto menor o consumo de ci-
de investigação apontou teores de sulfato ele- de cimento a um mínimo possível, desde que mento, menor calor de hidratação gerado por
vado na água do lençol freático. Apesar de na atenda as exigências de durabilidade quanto unidade de volume de concreto e menor será
maioria dos casos não existir histórico de con- à corrosão das armaduras e ataque externo de a elevação da temperatura devido a esse calor.
taminação do solo na RMR com sulfatos, é pru- sulfatos. Com essa relação água/cimento máxi- Por outro lado, caso a contaminação de sulfatos
dente a realização de ensaio químico do solo ma de 0,65 e emprego de pozolanas de alta rea- presente na água do solo e/ou na água do len-
e da água para determinação da concentração tividade, é possível obter dosagens com consu- çol freático esteja nos limites que caracterizem
desses íons (SO4-). mo de cimento inferiores a 300Kg por m3, que o ambiente como moderado ou severo, deverão
As amostras poderão ser coletadas quan- atenderia fck´s de 30, 35, ou até mesmo superior ser fixados os limites de relação água/cimento
do forem realizados os ensaios de sondagem a 40MPa, dependendo do cimento Portland, da máxima e fck mínimo definido para cada uma
para o projeto de fundação. Nessa etapa, o pro- quantidade de pozolana de alta reatividade e a das classes, constante no Quadro 1.
jeto estrutural ainda está na sua fase inicial de combinação de aditivos a serem utilizados. Para o caso específico da classe de expo-
elaboração e essa informação terá importância Com consumo de cimento próximo ou in- sição severa, além de o concreto ter de aten-
para definição da relação água/cimento má- ferior aos 300Kg/m3, haveria uma redução sig- der a uma relação água/cimento igual ou infe-
xima e fck de projeto, a serem especificados e nificativa da quantidade de álcalis no concre- rior a 0,45 e um fck superior a 40MPa, o cimento
utilizados em projeto. Caso a condição de ex- to, em relação a concretos com fck de 40MPa e Portland, ou a combinação do cimento Portland
posição quanto aos sulfatos seja fraca, que pro- relação água/cimento máxima de 0,45, espe- com adição mineral, deverá ser resistente aos
vavelmente é a condição dos terrenos na RMR, cificados para classe de agressividade IV. Essa sulfatos. Nessas classes com maior contami-
não existem limites quanto a relação água/ci- classe de agressividade, como já foi comen- nação com sulfatos, conforme já foi dito que é
mento máxima e fck mínimo, no tocante ao ata- tado anteriormente, é a adotada atualmente muito improvável que ocorra na RMR, o poten-
que externo de sulfatos, como pode ser visto no pelos projetistas erroneamente nos elementos cial de redução de cimento seria menor, princi-
Quadro 1. Nesse caso, a adoção de um fck de 30 de concreto armado massivos de fundações palmente na classe de exposição severa, e ações
ou 35MPa por parte do projetista da estrutura de edifícios na RMR, com intuito de prevenir mais enérgicas deverão ser tomadas para baixar
para os elementos de fundação, fixando uma a corrosão das armaduras nesses elementos. A a temperatura de lançamento do concreto e re-
relação água/cimento máxima de 0,65 (Classe redução do consumo de cimento dos elemen- duzir o seu consumo de cimento.
20
2.1.2. RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES RELATIVAS À
ESPECIFICAÇÃO DO CONCRETO PARA OS ELEMENTOS MASSIVOS
COM ÊNFASE NA DURABILIDADE

A primeira fase na mitigação das expan- mente utilizados. Esse problema pode ocorrer o resultado do ensaio para determinação da
sões internas está na redução do consumo de principalmente no que se refere aos agregados reatividade potencial dos agregados graúdos
cimento, com a adoção de uma especificação miúdos, que são agregados naturais, sendo for- e miúdos utilizados, com periodicidade de no
adequada da relação água/cimento e do fck necidos por intermediários, que podem adqui- máximo 3 meses, utilizando o método acelera-
de projeto, que também permita atender aos rir o material de lavras distintas. do das barras de argamassa, a NBR 15577-parte
aspectos de durabilidade no tocante a corro- Além de mitigar eventuais problemas de 4. Caso a concreteira mude de fornecedor de
são das armaduras e ataque externo de sulfa- RAA dos agregados das usinas de concreto, as qualquer um dos agregados durante a execu-
tos, os quais foram abordados nos itens ante- pozolanas de alta reatividade permitem a redu- ção da fundação, deverá obrigatoriamente in-
riores. Entretanto, outras ações mitigadoras ção do consumo de cimento, que é importante formar tal mudança para avaliação, caso não se
são importantes e devem ser exigidas em para mitigação dos mecanismos de expansão tenha ensaios de reatividade potencial desse
projeto, para que sejam efetivamente adota- interna. Essa ação não é só simplesmente pela agregado. Caso um ou os dois agregados sejam
das pelas construtoras. substituição do cimento por adição, mas tam- potencialmente reativos, a concreteira deverá
O uso de adição mineral em substituição bém pelo ganho de resistência à compressão também fornecer o ensaio de mitigação pelo
ao cimento, nesse caso, a sílica ativa ou o meta- do concreto em igualdade de relação água/ método acelerado das barras de argamassa, a
caulim, que são pozolanas de alta reatividade, é cimento. Nesse caso, para um determinado fck NBR 1557711-parte 5 (ABNT, 2018), utilizando o
outra ação importante, mesmo que os agrega- de projeto, é possível atender a essa resistên- cimento empregado na usina com substituição
dos sejam classificados como potencialmente cia de projeto, elevando a relação água/cimen- de 10% de adição mineral, também empregado
inócuos pela NBR 15577-parte 1 (ABNT, 2018). to em relação a um mesmo concreto sem adi- no concreto, que foi recomendado no projeto.
Essas adições mitigam a reação álcali-agregado ção mineral. Com isso, é possível a redução do Em projeto, poderá constar, também, a possi-
e eventuais usos de agregados potencialmente consumo de cimento da dosagem. No projeto bilidade de ser suprimido o emprego de adi-
reativos pelas concreteiras, mesmo que as usi- estrutural deve constar a obrigatoriedade da ção mineral em substituição ao cimento, caso
nas apresentem ensaios de reatividade recentes substituição de 10% de cimento Portland por o cimento Portland utilizado seja CP III 40, isto
indicando que seus agregados são potencial- sílica ativa ou metacaulim. é, cimento Portland de alto forno. Entretanto,
mente inócuos. A precaução é devida a defasa- Apesar do emprego compulsório de adi- o percentual de escória no cimento deverá ser
gem entre o ensaio fornecido à construtora em ção mineral, no projeto deve constar a necessi- igual ou superior a 60%, devendo ser seguida a
relação aos agregados que estão sendo efetiva- dade da concreteira de fornecer à construtora mesma recomendação nos ensaios de reativi-
21
dade potencial dos agregados. etringita primária e a possibilidade posterior nam, independe das ações de cura ou do perío-
Por último, sabe-se que a formação de de formação da etringita tardia. A evolução da do em que a concretagem é realizada, isto é, de
etringita tardia é um mecanismo de expansão temperatura de uma peça de concreto duran- dia ou de noite. Esse é um ponto interessante
interna do concreto, originado de uma anoma- te a hidratação do cimento, que são reações de frisar, pois profissionais, pela falta de conhe-
lia na formação da etringita. A etringita é uma exotérmicas, depende de uma série de variá- cimento de que a elevação da temperatura do
fase existente e essencial ao cimento Portland veis, umas mais e outras menos significativas. concreto se dá pelo calor gerado internamente,
endurecido, que se forma quase que imedia- As mais significativas que podem ser citadas já indagaram da possibilidade da concretagem
tamente quando se adiciona água ao cimen- são a temperatura de lançamento do concreto, ser feita a noite e/ou se molhar a peça abun-
to. Com o decorrer da hidratação do cimento, a massividade do elemento, o calor liberado dantemente para se evitar ações mais dispen-
ela vai se tornando instável e reduzindo o seu pelo cimento utilizado e o seu consumo. diosas de resfriamento do concreto.
percentual na pasta, em detrimento ao apare- Na RMR, no tocante à temperatura de A temperatura inicial do concreto e a sua
cimento de outra fase mais estável, sem que lançamento do concreto, caso não se adotem variação ao longo do ano dependem de região
ocorra expansão. Entretanto, quando o calor de ações para baixar essa temperatura, ela atingirá para região. No sul do país, na época do inver-
hidratação do cimento Portland no concreto alguns graus acima da temperatura ambiente, no, essa temperatura pode chegar a valores tão
se acumula em peças massivas, nas primeiras podendo variar entre 32oC a 35oC, em qualquer baixos quanto 15oC, 20oC, em função da tempe-
24 a 48 horas do lançamento do concreto, a época do ano. Essa faixa estreita de tempera- ratura ambiente ser mais baixa e, por isso, trans-
temperatura nesse elemento aumenta consi- tura reside no fato de que a RMR está localiza- ferindo menos calor aos insumos estocados.
deravelmente. Com esse aumento, a etringita da em uma região costeira, com clima tropical Em contrapartida, na região norte, a tempera-
existente se decompõe bruscamente sem a for- úmido, em que as variações térmicas diárias e tura de lançamento do concreto pode atingir
mação da fase mais estável, deixando os íons ao longo do ano são pequenas. 40oC ou mais, como foi acompanhado pela TE-
sulfatos adsorvidos na matriz cimentícia. Com Para atingir temperaturas acima de 65oC, COMAT, na construção da Ponte sobre Rio Ne-
o passar do tempo, na presença de umidade, o calor gerado pela hidratação do cimento, sub- gro, em 2009. Em climas mais frios, o concreto
esses íons têm a capacidade de restaurar no- traído do calor dissipado pela superfície do ele- pode liberar mais calor do que em climas mais
vamente a etringita, que irá surgir na forma de mento, em algum momento do ciclo térmico, quentes, sem que se atinja a temperatura limi-
veios na matriz cimentícia, conforme pôde ser deverá ser suficiente para elevar a temperatura te de 65oC, em função de que as temperaturas
visualizado na Figura 10. entre 40oC e 43oC. Esse incremento da tempe- de lançamento do concreto são naturalmente
Essa formação “tardia” da etringita, que ratura do concreto, devido à hidratação do ci- mais baixas. Portanto, para um mesmo concre-
é expansiva à medida que absorve água, leva mento, somado à temperatura de lançamento, to, utilizando os mesmos insumos, pode exis-
à expansão interna gradativa do concreto e a ultrapassará a temperatura limite de 65oC. Tal tir a necessidade de resfriá-lo no clima como o
sua fissuração. Na literatura técnica, existe um incremento na temperatura, devido às reações do Nordeste, entretanto, para climas do sul do
consenso de que 65oC é a temperatura aci- de hidratação do cimento, é facilmente alcan- país, esse mesmo concreto poderá ser lançado
ma da qual pode ocorrer a decomposição da çado e, diferentemente de que muitos imagi- sem a necessidade de resfriamento.

22
Após algumas horas do lançamento e
adensamento do concreto, tem início a hidra-
tação do cimento do concreto e a liberação de
calor. No caso de peças não massivas, isto é,
elementos cuja menor dimensão seja inferior a
0,60m, o calor que é gerado muito rapidamente
pelo cimento também é dissipado rapidamen-
te. Nessa situação, dificilmente a temperatura
pode ultrapassar os 65oC, a não ser que se tenha
consumos de cimentos extremamente eleva-
dos, aliado também à utilização de cimentos de
elevado calor de hidratação. Entretanto, quan- Figura 13 -Curva do comportamento da evolução da temperatura, em horas,
de 02 blocos de fundação de uma mesma edificação ( Fonte: TECOMAT).
do os elementos são massivos, o calor gerado se
acumula, aumentado a temperatura do concre-
to a valores muito além dos 35oC de temperatu-
ra em que eles foram lançados.
Após a concretagem da peça, o concreto
se mantém por algum tempo com a tempe- interna da peça. Fixando as demais variáveis, possuíam massividades distintas, isto é, dimen-
ratura em que foi lançado, até que as reações a partir de uma certa massividade do elemen- sões diferentes. Nessa obra já foram tomadas
de hidratação do cimento tenham início. Mais to, o pico de temperatura chegaria a um valor ações mitigadoras, como atuar na dosagem de
de 80% do total de calor gerado pela reação limite para um mesmo concreto, em função concreto para reduzir ao máximo o consumo
é liberado dentro das 48 horas após o lança- de que se atingiria o regime muito próximo do de cimento, e foi utilizada adição de gelo em
mento, levando, portanto, à uma elevação mui- adiabático. No regime próximo ao adiabático substituição à água de amassamento para res-
to brusca da temperatura. Isso ocorre porque há muito pouca troca de calor no núcleo do friamento do concreto. O bloco de maior di-
a taxa de difusão do calor do núcleo para su- elemento massivo para meio externo durante mensão (linha azul) possuía 4,10m de compri-
perfície é muito inferior à taxa de calor gera- a curva ascendente da temperatura. mento por 4,10m de largura e 2,00m de altura,
da pela hidratação do cimento nas primeiras Para exemplificar o problema, será feita totalizando 33,6m3 de concreto. Já o bloco me-
horas. Quanto maior essa diferença de calor uma análise do gráfico da Figura 13, que mos- nor (linha vermelha), tinha 2,10m de compri-
gerado e calor dissipado, maior a acumulação tra a evolução da temperatura do concreto mento e largura e 1,80m de altura, que leva a
desse calor no núcleo da peça, levando, con- em dois blocos de fundação distintos de uma um volume de concreto de apenas 12,2m3.
sequentemente, ao aumento da temperatura mesma obra na RMR, sendo que os mesmos

23
O concreto de fck de 40MPa possuía um temperatura de elementos massivos de concre- um modo geral esses dois cimentos estão em
consumo de cimento de 309kg, 42kg de síli- to é o tipo de cimento Portland a ser utilizado. direções oposta no tocante ao calor de hidrata-
ca ativa e relação água/aglomerante de 0,52, Existem cimentos que possuem maiores taxas ção. Devido ao desempenho mecânico bem su-
bem inferior aos 0,65 propostos para especifi- de hidratação nas primeiras idades do que ou- perior do cimento CPV ARI em relação ao CPIV
cação em projeto. O cimento Portland utiliza- tros, sendo dado como exemplo os cimentos 32, para produzir um concreto com mesmo fck e
do foi o CPII F 40, tendo sido utilizado 120Kg Portland de alta resistência inicial (CPV ARI) abatimento e utilizando os mesmos agregados
de gelo na central em substituição a água de em relação a um cimento Portland de alto for- e aditivos, a relação água/cimento a ser empre-
amassamento. no (CPIII), com elevado percentual de escoria. gada para o concreto com CPV ARI pode ser, a
Nas duas curvas da Figura 13, pode ser Caso esses dois cimentos sejam empregados princípio, bem superior ao concreto que esteja
observado que os concretos foram lançados a em elementos de concreto de massividades utilizando o CPIV 32. Com essa relação água/
uma temperatura no entorno de 26oC e, caso equivalentes, com consumos desses cimentos cimento bem superior, o consumo de cimento
não tivesse sido tomada a ação de substituir também equivalentes, é obvio que o cimento da dosagem com CPV ARI pode ser bem menor
120Kg de água de amassamento por gelo, essa Portland que libera mais calor nas idades iniciais em relação ao concreto que esteja empregando
temperatura de lançamento estaria próxima de tende a levar o elemento massivo a um pico o cimento pozolânico CPIV 32. Com essa redu-
35oC na RMR, conforme já citado. A elevação da térmico mais elevado, desde que a temperatura ção de consumo de cimento no concreto que
temperatura inicia-se algumas horas após o seu de lançamento para ambos os concretos tam- use o CPV ARI em relação ao concreto que es-
lançamento e o pico térmico ocorre em um in- bém sejam próximos. Entretanto, por liberarem teja utilizando o CPIV 32, o calor de hidratação
tervalo quase sempre inferior 36 horas após a maior calor de hidratação nas primeiras idades gerado pelo concreto com CPV ARI pode até ser
concretagem, como pode ser visto nas curvas não quer dizer que os cimentos de elevada re- inferior ao concreto que esteja usando o cimen-
de elevação da temperatura de ambos os blo- sistência inicial não possam ser utilizados em to Portland CPIV 32.
cos. O intervalo de tempo para chegar ao pico elementos massivos, pois existem outras ações Para exemplificar o que foi comentado
térmico e a sua magnitude é maior e a taxa de que podem ser utilizadas para compensar esse acima, tem-se a concretagem hipotética de um
resfriamento é menor, quanto maior a massi- aspecto negativo. determinado bloco de fundação com 150m3 de
vidade do elemento. Entretanto, essa diferen- Podemos lançar como exemplo uma situ- concreto com fck de 35MPa. O concreto A está
ça no pico térmico é cada vez menor à medida ação comercial em que só existem duas opções utilizando um cimento CPV ARI, com um con-
que a massividade aumenta, pois o regime tér- de cimento Portland no mercado para uma sumo de água de 180l/m3 de água e uma rela-
mico vai se aproximando do regime adiabático, determinada construtora, no que tange a con- ção água/ cimento de 0,60, com isso o consumo
como já foi mencionado. O bloco de maior mas- cretagem de elementos massivos de concreto, de cimento dessa dosagem seria de 300Kg/m3.
sividade atingiu uma temperatura máxima de com fck de 35MPa. Um cimento CPV ARI, com Caso tivesse sido utilizado no concreto o cimen-
68,3oC e o bloco de menor massividade 63,5oC, resistência à compressão, no ensaio padrão, to CPIV 32, para se conseguir o fck de projeto
conforme pode ser visto no gráfico da figura 13. de 55MPa, aos 28 dias; e um outro cimento de 35MPa, a relação água/cimento teria de ser
Um outro aspecto importante quando se Portland, o cimento pozolânico CPIV 32, com bem inferior, em função da resistência desse ser
discute tecnicamente a questão do controle da resistência de 36MPa, também aos 28 dias. De bem inferior ao cimento CPV ARI do exemplo.

24
Caso essa relação fosse de 0,45 para o mesmo mico seria de 77,3oC para o bloco de maior Com esse consumo de 400kg/m3 exempli-
consumo de água de 180Kg/m3, a quantidade massividade, e 72,0oC para o de menor. A es- ficado, o pico térmico poderia ter atingido 52oC
de cimento seria de 400Kg/m3, isto é, uma dife- timativa desses valores foi obtida a partir da (0,13oC/Kg x 400Kg) e 44oC (0,11oC x 400kg), res-
rença a mais de 100Kg de cimento por m3. Por- temperatura de lançamento, que agora seria pectivamente, para o bloco de maior e menor
tanto, apesar do concreto B estar utilizando um no entorno de 35oC, somado à elevação da tem- massividade, caso o calor de hidratação dos ci-
cimento Portland, a princípio, de baixo calor peratura devido à hidratação do cimento, que mentos fossem equivalentes. Portanto, sem a
de hidratação, esse concreto poderá liberar um seria de 42,3oC e 37,5oC, respectivamente, para substituição parcial da água de amassamento
calor superior ao concreto que está utilizando o elemento de maior e menor massividade. No por gelo e sem a preocupação da otimização na
um cimento CPV ARI. Na prática, essa situação tocante a dosagem, como já foi citado, foi tra- dosagem para redução do consumo de cimen-
é bastante possível que ocorra e nem sempre se balhada para reduzir ao máximo o consumo to, as temperaturas máximas atingidas pelos
deve pensar o óbvio de que, por ser um cimen- de cimento. Caso não tivesse sido empregada blocos poderiam alcançar 87oC para o bloco de
to CPIV, o concreto produzido por esse cimento adição mineral, combinação de aditivos para maior volume e 79oC para o bloco menor volu-
liberará sempre um calor de hidratação inferior redução do consumo de água da dosagem, o me. Esses valores são totalmente incompatíveis
do que um cimento CPV ARI ou CPII, indepen- consumo de cimento poderia ter alcançado va- para mitigação da DEF, o que ressalta a neces-
dente de outras variáveis intervenientes. lores próximos ou superiores a 400Kg/m3, em sidade de se alertar no projeto estrutural sobre
Voltando ao exemplo dos dois blocos vez dos 309Kg/m3 de cimento, e 42Kg/m3 de a necessidade de otimização da dosagem para
mostrados na Figura 13, caso não tivesse sido sílica ativa obtidas na dosagem elaborada es- redução do consumo de cimento e do controle
utilizado gelo em substituição parcial a água pecificamente para os elementos massivos da da temperatura desses elementos de concreto
de amassamento, a estimativa para o pico tér- fundação dessa obra. armado das fundações de edifícios.

Esse alerta passa obrigatoriamente em se colocar


em nota na planta de forma do projeto estrutural, que
a temperatura dos elementos massivos de concreto
armado deve ser monitorada, limitando essa
temperatura, através da otimização da dosagem,
resfriamento do concreto e/ou concretagem em
camadas, a um valor máximo de 65oC.

25
2.2 RESUMO DAS Relação água/cimento máxima e fck mínimo
para adoção no projeto estrutural em relação
aos elementos massivos das fundações
ESPECIFICAÇÕES E DAS
RECOMENDAÇÕES COM
RELAÇÃO AO PROJETO
ESTRUTURAL Com relação a corrosão
das armaduras Classe I
de agressividade
(NBR 6118 ABNT, 2018)
a/c ≤ 0,65
Na fase de concepção do projeto estru- fck ≥ 30MPa
tural, o projetista deve adotar o fluxograma
da Figura 14 para orientá-lo na adoção do fck
de projeto e relação água/cimento máxima,
especificamente para os elementos massivos
de concreto armado das fundações. Como Com relação ao ataque
externo de sulfatos
dado orientativo para a definição de elemen- (NBR 12655 ABNT, 2015)

to massivo, a princípio, pode-se considerar os


blocos de coroamento e/ou sapatas isoladas
de concreto, com a menor dimensão igual ou Condição de Condição de
superior a 60cm. exposição: exposição:
Fraca Severa
Para essa análise, descrita no fluxograma, a/c ≤ 0,65 Condição de a/c ≤ 0,45
fck de 30MPa ou exposição: fck ≥ 40
faz-se necessária a realização de ensaio para 35MPa Modeada CP – R. Sulfatos
a/c ≤ 0,50
determinação do teor de sulfatos na água con- fck ≥ 35MPa

tida no solo ou na água do lençol freático. A


amostra de solo ou água do lençol freático de-
Figura 14 - Fluxograma para definição do fck de projeto e relação água/cimento
verá ser coletada quando da realização da son-
máxima para os elementos massivos de concreto em fundações de edifícios
dagem do terreno para o estudo geotécnico e
dimensionamento da fundação da estrutura. O
ensaio deverá ser realizado por um laboratório projeto para dimensionamento da estrutura adotada em projeto deverá ser a da classe I de
idôneo e habilitado. da fundação e especificar em projeto a rela- agressividade ambiental, isto é 0,65, a qual é
Em posse do resultado, caberá ao proje- ção água/cimento máxima, que atenda aos re- definida pela NBR 6118 (ABNT, 2018), que é
tista da estrutura analisar o resultado, a partir quisitos de durabilidade do concreto armado. específica para corrosão das armaduras. O fck a
da tabela 01 e do fluxograma mostrado na fi- Caso a condição de exposição aos íons sulfa- ser utilizado em projeto dos elementos massi-
gura 14, com o objetivo de adotar um fck de tos seja fraca, a relação água/cimento máxima vos poderá ser de 30MPa ou mais, os quais po-
26
derão ser obtidos com certa facilidade utilizan-
NOTA RECOMENDAÇÕES
do a/c igual ou inferior a 0,65, desde o cimento
Portland seja de classe 40 e se utilize adição Os concretos dos elementos massivos das fundações deverão conter 10% de adição mineral (sílica ativa, metacaulim)
01 em substituição do cimento Portland. A única exceção da obrigatoriedade ao uso de adição mineral (Sílica ativa ou
mineral do tipo sílica ativa ou metacaulim, em metacaulim) é se o cimento Portland utilizado for o CPIII 40, com um teor de escória igual ou superior 60%.

substituição parcial ao cimento.


A concreteira deverá apresentar certificado de ensaio de reatividade potencial pelo Método Acelerado das Barras de
Por outro lado, se a condição de exposi- Argamassa (NBR 15577 parte 4 (ABNT, 2018)) dos agregados utilizados no concreto. Os ensaios devem ter sido reali-
02 zados no máximo 3 meses antes do início da execução do concreto da fundação e os certificados devem identificar os
ção for moderada ao ataque externo de sulfa- fornecedores desses insumos. Caso os agregados tenham sido substituídos sem que se tenham ainda ensaios compro-
batórios a concreteira deverá informar a construtora para a tomada de decisão.
tos, deverá ser adotada para o concreto o que
recomenda o Quadro 1, e que está visualizado Caso qualquer um dos agregados seja potencialmente reativo, a concreteira deverá fornecer certificado de ensaio de
03 mitigação da reatividade potencial pelo Método Acelerado das Barras de Argamassa (NBR 15577 parte 5 (ABNT, 2018)),
na Figura 14. Para o dimensionamento dos ele- utilizando o mesmo cimento Portland e a adição mineral, com a mesma proporção relativa empregados no concreto.
mentos, deve ser adotado um fck igual ou su-
perior a 35MPa e utilizada na dosagem uma 04
A construtora deverá monitorar a temperatura dos elementos massivos da fundação, adotando ações para que a tem-
peratura não ultrapasse os 65oC.
relação água/cimento igual ou inferior a 0,50.
Entretanto, se a condição de exposição aos íons Quadro 2 – Resumo das recomendações na fase de projeto estrutrual

sulfatos for severa, deve-se a adotar para o di-


mensionamento do concreto um fck igual ou
maior a 40MPa, fixando-se em projeto uma re-
lação a/c igual ou inferior a 0,45 e a obrigato-
riedade do emprego de cimento Portland re-
sistente a sulfatos. Essas especificações estão
voltadas para mitigação dos mecanismos de
Alguns dos cuidados aqui apresentados não se
deterioração do concreto com relação à corro-
restringem somente aos elementos massivos de
são da armadura e ataque externo de sulfatos.
Todavia, quanto aos mecanismos de ex- concreto de fundação cuja menor dimensão da peça
pansão interna do concreto, a RAA e a DEF, seja superior a 0,6m. Peça de dimensões menores
adoção de fck de projeto mínimo e relação água/ também carecem de cuidados. Por exemplo, em
cimento máxima não possui nenhuma efetivi- todos os elementos de fundação, inclusive as vigas,
dade para a mitigação. Para esses dois meca-
é de fundamental importância a tomada de ações
nismos, o projeto estrutural deve conter reco-
para a prevenção da RAA.
mendações importantes em planta que possam
orientar as construtoras e incorporadores a mi-
tigar esses mecanismos. Essas recomendações
estão mostradas no Quadro 2.

27
3. DOSAGEM E MATERIAIS

A fase que anteveem a concretagem


dos elementos massivos das fundações é mui-
to importante e deve iniciar-se no mínimo 60
dias antes da concretagem desses elementos.
Devem-se reunir previamente o projetista, a
construtora, a concreteira e o tecnologista/la-
boratório tecnológico de concreto para alinhar
aspectos fundamentais para mitigação da RAA
e DEF. Nessa reunião, deverão ser discutidos o Figura 15 - Bloco de coroamento modelado
planejamento para execução da fundação; aná- (Fonte: TECOMAT)
lise das dimensões e volumes dos elementos;
ensaios disponíveis do cimento, das adições e
dos agregados; estimativa do potencial de con-
sumo de cimento e adição por parte da concre-
Figura 16 – Corte da vista superior do bloco de
teira, a partir da especificação do fck e da relação
coroamento. Vista das isocurvas de temperatura
água/cimento máxima definida em projeto e da ratura. Essa opção é possível a partir da experi- em °C no interior do bloco(Fonte: TECOMAT)
trabalhabilidade requerida para concreto para ência da equipe envolvida, principalmente do
o seu lançamento e adensamento. Além desses tecnologista de concreto, e tem como objetivo
pontos, deverão ser avaliadas a necessidade de a tomada de ações para controle da tempera-
medidas para baixar o pico térmico do concre- tura do concreto. cimento Portland a ser utilizado, propriedades
to, através do emprego de gelo em substituição Como outra opção, pode-se fazer a aná- térmicas do concreto, geometria dos elemen-
à água de amassamento, de nitrogênio líquido lise térmica utilizando softwares específicos tos massivos, tipo de fôrma empregada, pro-
adicionado ao caminhão, concretagem em ca- no qual simula-se a evolução da temperatura priedades térmicas do solo, entre outras.
madas, entre outros aspectos relevantes. (Figura 15, Figura 16 e Figura 17) e as tensões Como se pode observar, as Figura 16 e
Para a avaliação, como uma forma mais de origem térmica que são geradas dentro do Figura 17 mostram as isocurvas de temperatu-
simples e com relativa precisão, pode-se ado- elemento. Entretanto, nesse caso, uma quanti- ra, isotérmicas, com temperatura máxima atin-
tar parâmetros médios de temperatura de dade bem superior de informações deverá ser gida na região próxima do centro geométrico
lançamento do concreto na região e valores obtida, mesmo que estimada, como calor de do bloco igual a 67,7°C, após 33 horas de real-
médios de coeficiente de elevação da tempe- hidratação liberado em função do tempo do izada a concretagem.

28
fornecido por usinas de concreto comerciais
instaladas nos centros urbanos. Essas usinas
possuem os seus insumos adquiridos que me-
lhor se adequa às suas necessidades técnicas
e econômica. Nesses casos, as obras têm de se
adaptar muito mais ao concreto e aos insumos
utilizados pela concreteira e não a concreteira
à obra, como no caso de construções de gran-
des volumes de concreto. Nos casos de grandes
obras, as usinas são instaladas nos canteiros e
os insumos são adquiridos especificamente
para a especificidades dos concretos a serem

Figura 17 - Corte da vista lateral do bloco de coroamento. Vista das isocurvas


utilizados na obra. Portanto, é possível que,
de temperatura em °C no interior do bloco(Fonte: TECOMAT) caso o concreto de uma determinada usina
não se adeque às necessidades da obra para
ser utilizado nos elementos massivos, tenha a
construtora de procurar e negociar com uma
Na reunião ou logo após a reunião, a usi- baixo consumo de cimento, adição mineral e outra concreteira.
na de concreto deverá fornecer a dosagem ou uma carga maior de aditivos plastificantes e/ou A seguir serão feitas considerações
as opções dosagens para validação e avaliação superplastificantes. gerais sobre os insumos do concreto no que
por parte do laboratório responsável pelo con- O objetivo principal dessa etapa, que diz respeito ao emprego nos elementos mas-
trole tecnológico do concreto da obra. Nessa antecede a concretagem dos elementos mas- sivos das fundações.
validação deve-se, no mínimo, verificar se ele sivos, é a obtenção de uma dosagem de con-
atende ao fck de projeto, bem como checar creto com o mínimo possível de consumo
aspectos relacionados com a trabalhabili- de cimento, a partir dos materiais utilizados Cimento Portland
dade do concreto, que, no caso seriam o aba- pela usina de concreto, desde que atenda as
timento inicial e a perda dessa propriedade especificações de resistência à compressão Antes da abordagem, é importante res-
com o tempo, observando também coesão da (fck) e de durabilidade com relação à corrosão saltar que qualquer cimento Portland deve
mistura no estado fresco, para evitar, na apli- das armaduras, ataque externo de sulfatos e atender a norma específica, a NBR 1669716
cação, a segregação e exsudação do concreto. reações expansivas. (ABNT, 2018). Essa norma determina os os req-
Essa validação é importante em função de que Sabe-se que em obras de pequeno por- uisitos e critérios que os tipos e classes devem
a dosagem a ser utilizada não é uma dosagem te, sob o ponto de vista de volume de concre- possuir para serem comercializados em ter-
usual para a usina de concreto, sendo utilizado to, que inclui obras imobiliárias, o concreto é ritório brasileiro.

29
Como já foi citado, em obras imobiliá- Portanto, a princípio, os cimentos mais do de agregados com classe de reatividade R2,
rias na maioria das vezes, o fornecimento de apropriados seriam o cimento Portland de es- R3 e até mesmo R1, que são as classificações
concreto é feito através de usinas de concreto cória de alto forno (CPIII) e o cimento Portland constantes na NBR 15577 – parte 1, sendo os va-
comerciais. Nesses casos, é muito improvável pozolânico (CPIV). Ambos os tipos de cimento lores de expansão obtidos no ensaio acelerado
que a empresa fornecedora de concreto acei- possuem adições minerais que tem potencial das barras de argamassa (NBR 15577-parte 4).
te exigências de uma determinada construto- de mitigar a reação álcali-agregado e possuem Esses cimentos ainda possuem, geral-
ra em usar um determinado tipo de cimento tendência a conferir ao cimento Portland bai- mente, finura elevada, muitas vezes com Blaine
Portland mais adequado para elementos mas- xo calor de hidratação. Dentre os 02 tipos, o ci- ultrapassando 5000cm2/g. Essa finura, de um
sivos de fundações, a não ser que os volume de mento Portland CPIII com classe de resistência modo geral, leva a um aumento do consumo
concreto seja expressivo. Isso porque as cen- à compressão de 40MPa é o mais indicado para de água, quando fixado um determinado aba-
trais de concreto não conseguem armazenar esse emprego. O teor de escória deve ser igual timento, em relação a concretos que utilizam
diferentes tipos de cimento para serem usados ou superior a 60%, entretanto, infelizmente, outros tipos de cimento. Além dessa caracterís-
em aplicações distintas. Por não ter essa dispo- não é um cimento Portland disponível no mer- tica indesejada, podem ser observados maiores
nibilidade, a escolha preferencial do mercado cado pernambucano. problemas relacionados com perdas de abati-
é por cimentos com baixos teores de adições Já o cimento CPIV, que poderia ser uma mento ao longo do transporte e lançamento do
minerais, que, de um modo geral, possuem um opção existente no mercado, historicamente concreto, o que é um inconveniente na produ-
potencial de desenvolvimento de resistência tem alguns inconvenientes para seu uso em ele- ção. O consumo maior de água, aliado à baixa
mais rápido, que é o principal requisito que o mentos massivos de fundações na RMR. Primei- resistência à compressão em relação a outros
mercado valoriza. ro, esse cimento só é comercializado na classe tipos de cimento de classe 40 disponíveis no
Além do mais, em muitas regiões do 32, o que leva, de um modo geral, a um aumen- mercado, leva a um aumento do consumo de
país, as opções comerciais de tipos de cimento to muitas vezes significativo do consumo de aglomerante em relação a concretos, de mes-
Portland são restritas e as estruturas de concre- cimento, em relação a um cimento classe 40 mo fck e abatimento, que empregam outros ti-
to não vão deixar de ser construídas pura e sim- quando fixado um determinado fck e abatimen- pos de cimentos. Esse aumento no consumo
plesmente porque um determinado tipo de ci- to para o concreto. Um outro inconveniente é a de cimento, muitas vezes significativo, pode
mento, que se adeque mais a um determinado baixa reatividade das pozolanas utilizadas pelas levar os concretos contendo esses cimentos a
tipo de aplicação, não está disponível no merca- cimenteiras da região, que geralmente utilizam liberar maior quantidade de calor em relação
do. Ao contrário dessa preferência de mercado, pozolanas naturais. Os teores de pozolanas adi- a concretos de mesmo fck e abatimento, que
os cimentos Portland que se adequam melhor cionados ao cimento são relativamente baixos, empreguem cimentos que não se enquadram
aos concretos para uso em elementos massi- geralmente inferiores a 25%. Com essas duas como baixo calor de hidratação, como os CPII
vos são, em geral, os cimentos com percentuais características, pozolanas de baixa reatividade, F, CPII Z, de classe 40, ou mesmo CPV ARI, que
maiores de adições minerais ativas, isto é, esco- aliado a baixos teores, esses cimentos, na região, são os cimentos mais utilizados nas centrais de
ria de alto forno e pozolanas. têm dificuldade mitigar a reação álcali-agrega- concreto na RMR.

16
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16697. Cimento Portland – Requisitos. Rio de Janeiro, 2018.
30
Portanto, a escolha de um determinado cimento, produzindo o principal composto do sendo adicionado 40Kg de sílica ativa, entretan-
cimento Portland para ser utilizados em con- cimento Portland hidratado, que é o C-S-H. to, a soma do cimento e adição mineral conti-
cretos de elementos massivos de fundações de Com a fixação do hidróxido de cálcio pe- nua sendo de 400Kg. Além dessa capacidade
edifícios não é uma decisão puramente técnica, las pozolanas, essas adições são utilizadas para de mitigação da RAA, também incrementa a
mas também comercial e operacional. mitigação da reação álcali-agregado, quando resistência do concreto ao ataque externo de
adicionadas ao concreto. Como possuem uma sulfatos, que pode estar contaminando o solo
atividade pozolânica bastante elevada, diferen- ou a água do lençol freático.
Adição mineral temente de outras pozolanas, principalmente Um outro benefício, agora em relação
as de origem natural, elas podem ser eficientes à formação de etringita tardia, é a tendência
Na região nordeste e em todo o país, as para combater a RAA em percentuais relativa- das dosagens, com um determinado cimento,
duas adições minerais incorporadas ao concre- mente baixos em relação às pozolanas naturais agregados, fck e abatimento, utilizando adições
to, durante a sua mistura, são a sílica ativa ou utilizadas como adição nos cimentos Portland de sílica ativa ou metacaulim, possuírem um
o metacaulim. Essas adições minerais são clas- CPII Z e CPIV existentes na região. Percentuais consumo de cimento inferior, em relação a es-
sificadas como pozolanas de alta reatividade, na ordem de 8%, 10%, 12% ou mais, em substi- ses concretos sem essas adições minerais. Essa
tendo normas brasileiras que regem seus requi- tuição ao cimento no concreto, dependendo da redução não é apenas devido à substituição do
sitos, sendo elas a NBR 1395617 (ABNT, 2012) e reatividade do agregado, já são suficientes para cimento pela adição mineral, conforme já foi
a NBR 1589418 (ABNT, 2010), relativas, respecti- mitigação da RAA. Para os agregados de maior citado. A adição de sílica ativa ou metacaulim,
vamente, à sílica ativa e ao metacaulim. Essas potencial de reatividade da RMR, geralmente de um modo geral, eleva a resistência à com-
duas adições minerais ativas são de origem to- percentuais em torno de 10% já são suficientes pressão da pasta em relação à pasta utilizando
talmente distintas: enquanto a sílica ativa é um para mitigação da reação. um mesmo cimento e sem adição mineral, em
subproduto da fabricação do silício metálico ou Quando se adiciona sílica ativa ou meta- igualdade de relação/aglomerante. Esse au-
ligas de ferro-silício na indústria siderúrgica, o caulim ao concreto, esse percentual geralmente mento da resistência à compressão se reflete
metacaulim é obtido da calcinação de argilas é em substituição ao cimento Portland empre- na elevação da resistência do concreto, possi-
cauliníticas a uma temperatura entre 700oC e gado. Por exemplo, quando em uma dosagem bilitando o ajuste da dosagem. Esse aumento
800oC, para uso específico em concreto de ci- de concreto, com consumo de 400kg de cimen- da resistência a compressão, além do necessá-
mento Portland. Como são pozolanas, ambas to por m3 se diz que vai utilizar 10% de sílica rio para atender ao fck de projeto, permitirá se
as adições têm a capacidade de reagir na pre- ativa, esse percentual é em substituição e não fazer um ajuste na dosagem. Esse ajuste seria
sença de água, a temperatura ambiente, com o em adição. Nesse conceito, em 01 m3 de con- o emprego de uma relação água/aglomeran-
hidróxido de cálcio liberado na hidratação do creto, o consumo de cimento seria de 360Kg, te maior em relação à dosagem sem adição.

17
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13956. Sílica ativa para uso em cimento Portland, concreto, argamassa e pasta de cimento Portland
– Especificação. Rio de Janeiro, 2012.
18
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15894-1. Metacaulim para uso com cimento Portland em concreto argamassa e pasta Parte 1:
Requisitos. Rio de Janeiro, 2010.
31
Com a possibilidade do incremento da relação cimento teria sido reduzido originalmente de de escória de alto forno, recomenda-se a adição
água/aglomerante, desde que o consumo de 400Kg/m3 para 333Kg/m3, incorporando mais de sílica ativa ou metacaulim em elementos de
água se mantenha constante para o abatimen- 37kg de metacaulim. concreto armado utilizado em fundações, quer
to especificado, dará margem a uma redução A diminuição no consumo de cimento sejam massivos ou não. Esse percentual deverá
ainda maior no consumo de cimento, além da reduziria o calor gerado pelo concreto devido à ser de no mínimo 10%, adicionados aos concre-
redução devida à substituição do cimento pela hidratação do cimento, o que demandaria me- tos que utilizem qualquer um dos tipos de ci-
adição mineral. nores intervenções para baixar a temperatura mento CPIIF 40, CPIIZ 40 ou CPV ARI, indepen-
Como exemplo ilustrativo, tem-se uma do concreto, como também reduziria o per- dente dos agregados serem classificados como
dosagem com o mesmo consumo de cimento centual de álcalis no concreto, essencial para o potencialmente reativos ou não. Entretanto, a
do exemplo anterior, 400Kg/m3. Essa dosagem desenvolvimento de RAA. Por outro lado, é pro- eficácia desse percentual para mitigação deve-
atende a um fck de projeto de 35MPa, com re- vável que a demanda de água aumente para rá ser comprovada pela concreteira responsável
lação água/cimento de 0,50, abatimento de um determinado abatimento necessário para pelo fornecimento do concreto, caso os agre-
120mm e um consumo de água de 200L/m3. lançamento do concreto, em função da eleva- gados miúdo e/ou graúdo sejam classificados
Nessa dosagem foi adicionado 10% de meta- da finura das adições minerais. Essa maior de- como potencialmente reativo.
caulim em substituição ao cimento e pela me- manda de água, utilizando uma relação água/
lhoria na resistência à compressão do concre- aglomerante fixa, para atendimento do fck de
to, ele passaria a atender não mais a um fck de projeto e requisitos de durabilidade, iria elevar Agregados
35MPa, mas de 40MPa. Como o fck de projeto o consumo de cimento. Esse aumento, pelo
é de 35MPa e não de 40MPa, pode-se elevar a lado da trabalhabilidade, vai de encontro ao Os agregados miúdos e graúdos, pelo seu
relação água/aglomerante para um valor supe- que está sendo proposto, que é a redução do baixo valor agregado, são quase sempre explo-
rior 0,50, para que a resistência à compressão consumo de cimento, com o objetivo de gerar rados e comercializados próximos ao mercado
seja reduzida e, com isso, atenda estritamente menos calor de hidratação e disponibilidade consumidor, sendo os principais compradores
ao fck de projeto, sem que o concreto tenha de álcalis para a reação álcali agregado. Entre- as usinas de concreto e de asfalto. Especifica-
resistência a mais do que o especificado em tanto, esse inconveniente pode ser facilmente mente para emprego em concreto de cimento
projeto. Essa nova relação água/aglomerante ser resolvido, com o emprego de um percentu- Portland, a norma NBR 721119 (ABNT, 2009) de-
teria de ser obtida experimentalmente, entre- al maior de aditivo ou de aditivos dispersores termina os requisitos e critérios para que esse
tanto, apenas como exemplo, caso ela fosse (plastificantes e/ou superplastificantes) já utili- material deve ser utilizado.
para 0,54 e o consumo de água continuasse zados ou a substituição por outros aditivos de Independente do concreto ser utilizado
o mesmo, isto é, 200L/m3, o novo consumo de maior poder de dispersão. em elementos massivos ou não das fundações
cimento mais metacaulim iria para 370Kg/m3. Portanto, caso o cimento Portland em- ou na superestrutura, as construtoras, no míni-
Portanto, no exemplo citado, o consumo de pregado não seja CPIII 40, com no mínimo 60% mo, quando do fechamento de qualquer con-

19
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7211. Agregados para concreto - Especificação. Rio de Janeiro, 2009.
32
trato de fornecimento, deveriam solicitar certi- responsabilidade da condução desse ensaio de- com objetivo de modificar algumas proprieda-
ficados de ensaios atualizados que comprovem veria ser do fornecedor ou produtor do agrega- des do concreto, gerando benefícios técnicos e/
que esses insumos atendem a especificação do, entretanto, ainda é um procedimento longe ou econômicos ao produto em relação ao mes-
normativa. Com essa iniciativa, as construtoras, de ser alcançado. mo concreto sem aditivo. Esses aditivos, cujos
de certa forma, obrigam as usinas de concreto a Na região, através da exigência do con- tipos e requisitos são regidos pela NBR 11768-
controlar seus agregados, haja vista que os for- sumidor, cabe à empresa fornecedora do con- 120 (ABNT, 2011), podem agir quimicamente na
necedores dos agregados não realizam nenhum creto atestar que os agregados adquiridos por pasta de cimento, retardando ou acelerando a
ensaio de controle. ela são potencialmente reativos ou potencial- sua hidratação. Pode agir fisicamente, aumen-
Para o caso específico de elementos de mente inócuos. Para tal, as usinas de concreto tado a capacidade de dispersão das partículas
concreto armado em fundações de edifícios, devem fornecer os ensaios dos agregados uti- de cimento na mistura, sendo denominados es-
massivos ou não, tem-se uma particularida- lizados, regularmente, pela NBR 155779 par- ses aditivos de plastificantes, superplastifican-
de, que é o contato permanente desse mate- te 4, cujo tempo de duração é de apenas 28 tes, e sendo que a diferença de desempenho
rial com a água do solo ou do lençol freático. A dias. Caso um ou os dois agregados utilizados dessas 2 linhas de aditivos está na sua capaci-
água satura os poros do concreto, o que por um pela usina sejam classificados como poten- dade de dispersão. Além desses tipos, existem
lado é positivo, pois não torna o ambiente pro- cialmente reativos, esses agregados devem ser outros com funções distintas.
pício a corrosão das armaduras, como já discu- ensaiados pela NBR 15.57711- parte 5 e os re- Pode-se afirmar que o desenvolvimento
tido anteriormente. Por outro lado, essa satura- sultados devem ser exigidos pela construtora. do concreto de cimento Portland se deu basi-
ção favorece ao desenvolvimento de RAA, caso Nesse ensaio, que é o de mitigação da reação camente pelo desenvolvimento dos aditivos ao
os agregados, tanto o miúdo, quanto o graúdo, álcali-agregado, deve-se utilizar o cimento ou longo dos anos, pois o cimento Portland não
sejam potencialmente reativos. Portanto, sob o o cimento e a adição mineral que a usina está evoluiu muito desde o seu descobrimento e
ponto de vista tecnológico, seria interessante utilizando, na mesma proporção que são em- muito menos os agregados, que são os mesmos
que os agregados empregados nos concretos pregados no concreto, sabendo-se que o per- desde o emprego do concreto romano, na ida-
de cimento Portland fossem potencialmente centual mínimo de adição mineral é de 10% de antiga, muitos séculos atrás. Nos elementos
inócuos, quando ensaiados pela NBR 155779 em substituição ao cimento. massivos de concreto de fundações, o que se
-parte 4 ou, principalmente, pela NBR 1557710 deseja dos aditivos é a redução do consumo de
-parte 6. Dos 02 ensaios citados, o último é o de Aditivos água, fixando-se um determinado abatimento
maior acuidade em identificar agregados rea- para lançamento e adensamento, o que impli-
tivos, entretanto, a duração desse ensaio é de Os Aditivos são produtos químicos adicio- ca, por consequência, na redução do consumo
1 ano e, portanto, difícil de ser realizada pelas nados ao concreto, em pequenas quantidades, de cimento, do calor gerado e do percentual de
empresas fornecedoras de concreto usinado. A geralmente em relação à massa de cimento, álcalis do concreto.

20
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11768-1. Aditivos químicos para concreto de cimento Portland. Parte 1 - Requisitos. Rio de Janeiro, 2019.
33
Como exemplo, tem-se um determinado sante que se utilize um maior percentual de O controle deve ser feito também para o
concreto, sem aditivo dispersante, com relação aditivos plastificantes e/ou superplastificantes gelo, no caso da utilização em substituição água
água/cimento de 0,50, sendo essa relação com- para que se reduza ao máximo o consumo de de amassamento para resfriamento do concre-
patível para o atendimento do fck de projeto e água, possibilitando um menor consumo de to. O fornecedor de gelo é terceirizado e inde-
requisitos de durabilidade. A quantidade de cimento para uma determinada relação a/c e pendente da concreteira, sendo a negociação e
água utilizada na dosagem foi de 200L/m3, para abatimento. Com essa ação, juntamente com a compra, na maioria das vezes, realizada dire-
atender a um abatimento de 160mm, abati- o uso de pozolanas de alta reatividade, procu- tamente com a construtora.
mento esse necessário para transporte e ad- ra-se reduzir ao máximo o consumo de cimen-
ensamento nas condições da obra. Portanto, to, utilizando a mesma relação água/aglomer-
essa dosagem teria um consumo de cimento ante, levando o concreto a liberar menos calor
de 400Kg/m3, que seria a relação entre o con- e possuir menos álcalis, que são importantes
sumo de água, 200L e a relação água/cimento, para mitigação da RAA e DEF. 4. EXECUÇÃO E CONTROLE
0,50. Em uma outra dosagem, para essa mes-
ma aplicação, foi adicionado 0,6% de um deter-
minado aditivo plastificante e, devido ao efeito Nesse capítulo, serão abordados aspec-
dispersante do aditivo para conseguir os mes- Água de amassamento tos sobre o controle que as construtoras deve-
mos 160mm de abatimento, a quantidade de rão realizar quando na oportunidade da fabri-
água pôde ser reduzida para 185L/m3, isto é, Os requisitos para a água de amassamen- cação do concreto na central concreteira, no
teve-se uma redução de água de 15L/m3. Como to e de água para o uso em concreto são regi- recebimento, na execução da concretagem e
a relação água/cimento dessa segunda dos- dos pela NBR 1590021 (ABNT, 2009) e devem ser no pós-concretagem.
agem permaneceu a mesma, isto é 0,50, pois exigidos pela construtora às concreteiras, inde- Com relação à execução das funda-
é o parâmetro que garante as propriedades do pendente para qual a aplicação o concreto é ções de forma ampla (fôrmas, escoramento,
concreto endurecido, o consumo de cimento destinado. Essa solicitação deve ser feita quan- armaduras, condições gerais na obra, planos
não seria mais 400Kg/m3 e sim 370Kg/m3, o que do a água de amassamento não for obtida da de concretagem, adensamento etc.), deve-se
implica em uma redução de 30Kg/m3. rede de abastecimento de água, como ocorre seguir as orientações da NBR1493122 (ABNT,
Portanto, em concretos empregados em na maioria dos casos da RMR, em que água uti- 2004), que versa sobre a execução de estrutu-
elementos massivos de fundações, é interes- lizada é proveniente de poço artesiano. ras de concreto.

21
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15900-1. Água para amassamento do concreto Parte 1: Requisitos. Rio de Janeiro, 2009.
22
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 149321.Execução de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2004.
34
4.1 O CONTROLE TECNOLÓGICO 4.2 COMO REALIZAR O
para confirmação do atendimento dos mate-
DO CONCRETO E SEUS INSUMOS riais utilizados no preparo do concreto às nor- CONTROLE NA CENTRAL
mativas vigentes. CONCRETEIRA DURANTE A
O concreto, como material cimentício, Por se tratar de um processo de baixa
é o segundo material mais utilizado no mun- produtividade, a produção do concreto roda-
FABRICAÇÃO DO CONCRETO
do todo, atrás apenas da água. Historicamen- do em obra foi perdendo espaço. Atualmente,
te, desde a sua utilização em larga escala nas a maior parte do volume do concreto da obra As centrais concreteiras da RMR traba-
obras, o concreto é produzido em centrais con- é fornecida pelas centrais concreteiras, deven- lham, em sua maioria, com sistemas meca-
creteiras e nos próprios canteiros. Inicialmente, do as centrais ser responsáveis pelo controle nizados, sendo algumas com balanças indivi-
o maior volume de concreto era produzido nos tecnológico dos insumos utilizados na produ- duais dos insumos e outras apenas com duas
próprios canteiros de obra, utilizando para isso ção do concreto. balanças, uma para o cimento e outra para os
misturas manuais e betoneiras na produção do Os ensaios a serem realizados e que de- agregados, que são pesados de forma acumu-
concreto. Com sua produção nas obras, cabia vem ser exigidos pelas centrais concreteiras, lada. A Figura 18 representa um dos leitores
às construtoras a responsabilidade da realiza- foram explanados no item 3. Esse capítulo utilizados no controle dos materiais em cen-
ção do controle tecnológico dos insumos do versará sobre o controle que devemos ter so- trais de concreto.
concreto. Entende-se, assim, por controle tec- bre a fabricação do concreto em si e em to-
nológico dos insumos a realização dos ensaios das as etapas.

Desta forma, uma vez que a responsabilidade


pela realização do controle tecnológico dos
insumos do concreto passa a ser da concreteira,
é de competência da construtora a solicitação
da comprovação da execução dos ensaios pelas
centrais, bem como seu devido armazenamento
no databook da obra.
Figura 18 - Leitor digital utilizado em centrais concretei-
ras para pesagem dos materiais (Fonte: TECOMAT).

35
A norma NBR 7212 23 (ABNT, 2012) trata realização do ensaio de determinação do aba- • Pesagem correta dos insumos,
da execução de concreto dosado em central, timento por meio do tronco de cone, preconi- incluindo o gelo;
regula o funcionamento das centrais concre- zado na NBR NM 6724 (ABNT, 1998). • Abatimento do concreto conforme
teiras, desde o preparo do concreto ao for- Vale lembrar que, para os casos no qual contratado;
necimento à obra. Dentre os itens apresen- os concretos são produzidos com a substituição • Verificação da temperatura de saída
tados pela norma, um dos mais importantes da água do amassamento por gelo em esca- do concreto. (Figura 19)
para o acompanhamento da dosagem em mas, caso de concreto massa, deve-se controlar
central é o 4.3, que disserta sobre a dosagem a quantidade de gelo a ser adicionada e seguir
dos materiais e os valores permissíveis dos as orientações determinadas pela empresa de
desvios dos insumos. tecnologia do concreto contratada pela cons-
Apesar de se tratar de sistemas na sua trutora. Nesses casos, o concreto só deve ser li-
maioria automatizados, é fundamental o acom- berado para a obra após 3 checagens:
4.3 COMO REALIZAR O
panhamento da produção nas centrais por um
laboratorista capacitado, evitando, assim, fa- CONTROLE DO CONCRETO
lhas ou disparidades que possam existir entre
NO RECEBIMENTO NA OBRA?
o concreto solicitado pela construtora com o
concreto fornecido pela central. Como os tra-
ços utilizados pelas centrais são em massa por A NBR 1265515 (ABNT, 2015) destaca que
m3, os valores pesados são sempre múltiplos o recebimento do concreto se fará pelo profis-
do traço em função do volume solicitado pela sional responsável pela execução da obra, que
obra e comportados pelo caminhão betoneira. deverá primeiramente verificar a documenta-
Desta forma, cabe ao laboratorista checar os ção correspondente ao pedido do concreto. O
valores registrados nas balanças, com o traço documento, ou romaneio do pedido, costuma
contratado pela construtora. O apêndice A traz ser portado pelo motorista do caminhão beto-
um modelo de planilha orientativo que pode neira, que o entrega durante a chegada à obra.
ser utilizado por profissional devidamente trei- Assim sendo, o primeiro passo para a aceitação
nado para acompanhamento da pesagem do do concreto na obra se dá pela conferência das
concreto na concreteira. informações contidas no romaneio fornecido
Além dos pesos, o laboratorista deverá Figura 19 - Aferição da temperatura no caminhão pela concreteira, cujas principais informações a
checar a consistência do concreto por meio da betoneira com termômetro a laser (Fonte: TECOMAT). serem verificadas durante a conferência:

23
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7212. Execução de concreto dosado em central — Procedimento. Rio de Janeiro, 2012.
24
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NM 67. Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone Rio de Janeiro, 1998.
36
• Horário de saída do caminhão: O concreto for- Estando todos os itens da nota em Caso o concreto esteja fora do intervalo de pro-
necido deverá estar dentro do período progra- conformidade com o solicitado, deve-se efe- jeto, para menos ou para mais, sua aceitação
mado para sua utilização, sem que haja perda tuar a verificação da conformidade do con- passará pelo crivo do responsável pela obra.
de suas características durante o descarrego. creto às propriedades especificadas para Antes de ser liberado para uso, para os
• Volume do caminhão: O volume fornecido de- seu estado fresco. casos do concreto em que foi utilizado gelo
verá ser igual ao solicitado, sobre pena de, em A NBR NM:6724 (ABNT, 1998) informa o em sua produção, deve-se verificar a tempera-
caso de divergências, faltar ou sobrar concreto procedimento para a verificação do abatimento tura do concreto antes do lançamento. A verifi-
para a confecção das peças projetadas. do concreto por meio do tronco de cone, se- cação poderá ser feita com termômetro de es-
• Traço utilizado, com os insumos descrimina- guindo o seguinte procedimento: peto ou a laser e deverá estar dentro do limite
dos: A central deverá fornecer concreto confor- • Umedecer a placa e o molde sobre a placa; preconizado pelo tecnologista do concreto. A
me acordo comercial firmado entre construtora • Preencher 1/3 da altura do molde com concre- Figura 20 representa a verificação da tempera-
e concreteira, devendo os insumos ser checa- to e realizar 25 golpes até metade da camada; tura do concreto na obra, por meio de termô-
dos durante o recebimento. • Preencher o molde até 2/3 de sua altura e metro de espeto.
• Resistência solicitada: A resistência do con- aplicar mais 25 golpes com haste. Os golpes Estando todos os itens checados e em
creto fornecido deverá ser igual ao solicitado deverão ser dados até a metade da altura da conformidade com o determinado em projeto
pela obra, conforme consta no projeto execu- segunda camada; estrutural e pelo tecnologista do concreto da
tivo estrutural. • Em seguida, completar de concreto até preen- obra, o concreto está automaticamente libera-
• Abatimento: Assim como a resistência, o cher todo o cone e realizar mais 25 golpes até a do para o uso.
abatimento do concreto solicitado deverá es- metade da altura da terceira camada;
tar em conformidade com o projeto executi- • Deve-se, em seguida, remover o excesso de
vo da estrutura. concreto acima do topo do tronco de cone o
• Número do lacre: O número do lacre existente nivelando com a sua borda superior;
no caminhão deverá ser idêntico ao colocado • Remover o molde com movimento constante
em nota, possibilitando o rastreamento dele para cima em intervalo de 5s a 10s;
pela concreteira. • Medir o abatimento do concreto determinan-
Importante destacar que, caso um des- do a diferença entre a altura do molde e a altu-
tes itens esteja em divergência com o solici- ra média do corpo de prova desmoldado.
tado, o concreto poderá ser rejeitado antes do O abatimento verificado deverá estar de
seu lançamento na peça. acordo com o solicitado em projeto estrutural.

Figura 20 - Aferição da temperatura do concreto


em obra por imersão de termômetro de espeto
(Fonte: TECOMAT).
37
4.4 RASTREABILIDADE DO CONCRETO 4.5 MEDIÇÃO DA TEMPERATURA
NA OBRA
A rastreabilidade é a capacidade de loca- mudança de insumos ou concreteira durante a
lizar o histórico e a execução/aplicação de itens execução das fundações. Após todos os cuidados tomados com do-
através de um conjunto de ações que vão ge- É importante registrar todos os dados já sagem, especificação e controle dos materiais,
rar registros. Deve-se realizar o rastreamento citados, de concreteira, dosagem e caminhão conforme citado anteriormente, é fundamental
da concretagem dos elementos de fundação betoneira e onde foram aplicados (Figura 21), que seja realizada a medição da temperatura,
de forma análoga ao que se costuma fazer nas visando facilitar o controle de qualidade da exe- em campo, do concreto do referido elemento
concretagens de lajes e pilares, registrando os cução, bem como a correção de problemas du- de fundação em estudo. Essa coleta de infor-
dados do caminhão betoneira (número do ca- rante a fase de execução e ainda possíveis inves- mações deve contemplar o comportamento
minhão, de lacre e até nota fiscal) e o volume tigações futuras. durante o aquecimento, o pico de temperatura
aplicado em cada bloco, sobretudo se houve e a taxa de resfriamento. Com isso, é possível
confirmar se os cuidados tomados na fase de
planejamento e estudo foram eficazes e eficien-
tes. Sendo assim, caso não se tenha o resultado
esperado, pode-se ajustar a dosagem e outros
parâmetros para a concretagem dos próximos
elementos de fundação. Para coletar essas in-
formações de temperatura, recomenda-se a
utilização de termômetro (Figura 22) com ar-
mazenador de dados, capaz de gravar as tem-
peraturas a cada intervalo de tempo pré-defini-
do, a cada 5 minutos, por exemplo.
O termômetro específico da Figura 22
possui 3 canais que permitem a medição de
temperatura simultânea em locais distintos, o
que permite medir pontos diferentes do mesmo
bloco de fundação ou usar um mesmo termô-
metro para dois ou mais blocos. Já para coletar
a informação da temperatura nos pontos espe-
Figura 21 - Exemplo de mapa de concretagem de bloco de fundação cíficos do bloco de fundação, utiliza-se sensores
(FONTE: GB GABRIEL BACELAR CONSTRUÇÕES S.A).
(cabos) que são conectados aos termômetros.
38
Figura 22 - Termômetro utilizado para registrar as Figura 23– Exemplo de termopar tipo “K”, mostrando o detalhe do sensor
temperaturas do concreto (Fonte: TECOMAT). de coleta de informações e o conector ao termômetro (Fonte: TECOMAT).

No caso, para essa utilização, recomenda-se o rer durante a concretagem e perda de dados,
uso de sensores (termopares) do tipo K, que é caso seja instalado muito depois. No caso das
de uso genérico e cobre temperatura de -200°C fundações usuais dos prédios do mercado imo-
a 1.200°C, conforme a Figura 23. biliário, recomenda-se que esse monitoramen-
A instalação dos sensores é feita antes da to seja feito por, no mínimo, 72 horas. Com isso,
concretagem, sempre buscando o centro ge- é possível registar o crescimento e pico (que
ométrico da peça (Figura 24), onde, em tese, acorre entre 24 e 28h) e a tendência de resfria-
será atingida a maior temperatura, ou em ou- mento. É importante lembrar que os termôme-
tro lugar pré-determinado de acordo com os tros e fios utilizados devem estar em dia com
estudos térmicos, dimensões e especificidades sua calibração, que deve ser realizada em labo-
geométricas da peça. ratórios acreditados à Rede Brasileira de Cali-
O termômetro é instalado, preferencial- bração (RBC), visando garantir a confiabilidade
mente, logo após a finalização da concreta- dos resultados coletados.
Figura 24 - Termopares instalados dentro do bloco,
gem, buscando evitar danos que possam ocor- ligado ao termômetro que se encontra protegido
dentro da caixa amarrada aos aços do pilar
(Fonte: TECOMAT)

39
4.6 PÓS CONCRETAGEM

Logo após o término da concretagem, o ração de água na superfície se torna maior do a conclusão da concretagem e acabamento
cuidado que se deve ter é com a superfície de que a taxa de abastecimento das camadas in- da superfície. Em algumas situações, a coloca-
topo do bloco, que está exposta. Esta região está ternas, os vazios gerados tendem a retrair, e, um ção de lâmina d ́água sobre o bloco (Figura 26)
susceptível à retração plástica e consequente vez que o concreto ainda está no estado fresco, pode não ser tão efetiva para esse fenômeno,
surgimento de fissuras (Figura 25). sem resistência suficiente, ocorre o surgimento pois geralmente é realizada no outro dia com
A retração plástica ocorre ainda nas pri- das fissuras por retração plástica. Vale salientar o concreto já endurecido, mas pode ser efetiva
meiras horas do concreto após ser assentado e que vários fatores condicionantes para o surgi- contra as fissuras mapeadas que podem surgir
adensado, ou seja, ainda no seu estado plástico mento das fissuras por retração plástica estão por gradiente de umidade. O ideal é a realiza-
(não endurecido). A superfície recém acabada envolvidos nesse processo, como por exemplo, ção de cura úmida com aspersão de água so-
que está exposta tem sua água evaporada para o sol, incidência e velocidade do vento, área de bre a superfície de concreto, evitando o déficit
o ambiente ao mesmo tempo em que ocorre o exposição entre outros. de água e o surgimento das fissuras. Pode-se
fenômeno de exsudação da água da camada de Medidas de controle podem ser tomadas também usar agentes de cura química para fa-
concreto mais interna até a superfície. Quando para evitar o surgimento dessas fissuras, de- zer esse papel.
esse equilíbrio é quebrado e a taxa de evapo- vendo ser tomadas o mais cedo possível após

Figura 25 – Caso mais grave de fissuras ocasionadas por retração plástica Figura 26 - Lâmina d ́água sobre o bloco
na face superior do elemento de fundação (Fonte: TECOMAT). (Fonte: TECOMAT).
40
Contudo, algumas dessas ações não são
tão fáceis de se executar por questões de cus- 5. MANUTENÇÃO E MANUTENIBILIDADE
to. No caso da cura química, disponibilidade
de equipamentos e até mesmo de tempo da Historicamente, no Brasil, a manutenção cimento natural das edificações, que expôs ma-
equipe para ficar aspergindo e alimentando sempre foi entendida como sendo uma ativi- nifestações patológicas/problemas, resultando
essa água após a concretagem, que por vezes dade intensamente realizada na área industrial, em alguns casos de incidentes e acidentes.
finaliza de noite. porém na construção civil, sua intensidade e ti- Com o advento da norma de desempenho
Com isso, outra solução mais prática e pos variaram bastante ao longo dos anos. NBR 1557526 (ABNT, 2013), a manutenção pre-
que pode ser bastante efetiva é utilizar areia Em 1999, a ABNT publicou a primeira ver- dial deixou de ser entendida por muitos como
disponível na obra para polvilhar cerca de 1 são da norma NBR 567425 (ABNT, 2012) - Ma- a etapa “desastrosa” da construção, ou até mes-
cm de espessura sobre a superfície do bloco. nutenção de edificações — procedimento cujo mo como uma fase a ser encarada durante o
Pode umedecê-la, caso a superfície do bloco objetivo foi trazer orientações para a organiza- uso da edificação, para se tornar o capítulo final
não a faça. Um aspecto a ser levado em con- ção de um sistema de gestão da manutenção de uma etapa que deve ser pensada já nos es-
sideração é que o aspecto superficial do con- das edificações. Desde então, esse conceito tem tudos iniciais de projeto. Daí surgiu o conceito
creto ficará áspero, mas isso não implica em sido bastante discutido e praticado no meio de manutenibilidade, que se traduz no grau de
qualquer tipo de problema. profissional, principalmente devido ao envelhe- facilidade ou dificuldade da realização da ma-

Não é recomendável a utilização de fôrmas de alvenaria


para a execução de blocos de coroamento e/ou sapatas
isoladas de quaisquer geometrias, tendo em vista que
essa técnica e material favorecerem o confinamento do
calor gerado pela hidratação do cimento.

25
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5674 Manutenção de edificações — Requisitos para o sistema de gestão de manutenção. Rio de Janeiro, 2012.
26
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575 Edificações habitacionais — Desempenho. Rio de Janeiro, 2013.
41
nutenção de um sistema, elemento ou compo-
nente, desde que ele mantenha seu comporta- 5.2 MANUTENÇÃO PREVENTIVA 5.3 MANUTENÇÃO CORRETIVA
mento em uso.
Por definição, as atividades de manuten- A Manutenção preventiva se caracteriza Segundo a NBR 547625 ( ABNT, 2012), a
ção predial são um conjunto de ações que de- por serviços que são efetuados em intervalos manutenção corretiva é aquela a qual os ser-
vem ser realizadas para conservar ou recupe- de tempo predeterminados, segundo critérios viços são realizados imediatamente, ou seja, a
rar a capacidade funcional da edificação e/ou preestabelecidos, dependendo das necessida- atividade é realizada de forma imediata, assim
seus constituintes, a fim de atender às neces- des do usuário, estimativa da durabilidade dos que constatado e diagnosticado o problema, a
sidades, segurança, uso e ocupação dos seus sistemas, gravidade e urgência, a fim de redu- fim de permitir a continuidade de uso dos siste-
usuários (NBR 1557526). Assim, segundo a NBR zir a probabilidade de falha ou a degradação mas, elementos e/ou componentes das edifica-
567425 (ABNT, 2012), os tipos de manutenção do sistema, elementos ou componentes de ções, ou evitar acidentes, incidentes e prejuízos
existentes são: uma edificação em uso. Simplificando: é toda patrimoniais aos seus usuários e proprietários.
• Manutenção Rotineira e qualquer ação de manutenção realizada de
• Manutenção Preventiva forma prévia, cujo objetivo seja evitar que de-
• Manutenção Corretiva terminado problema e/ou falha desencadeie e
comprometa ainda mais o desempenho de de-
terminado sistema.
O objetivo principal da manutenção
preventiva é elevar e garantir que o compor-
tamento em uso de determinado sistema
atenda às necessidades dos usuários. A ma-
5.1 MANUTENÇÃO ROTINEIRA nutenção preventiva é realizada sistematica-
mente e a frequência das atividades podem
Se caracteriza por um fluxo de serviços, ser ocasionadas por:
padronizados e cíclicos, normalmente usuais, • Tempo: o sistema e/ou material passar por
OBS: Existem casos em que a
como por exemplo, a limpeza geral e lavagem manutenção periodicamente quando atingir o
de áreas comuns. tempo de uso determinado em manual. manutenção corretiva pode ser
• Condição: A manutenção atrelada à condição/ programada. Isso vai depender
constatação determinada. A preventiva condi- do grau de gravidade e o
cional pode ocorrer devido ao surgimento de comprometimento que o problema
sinais mínimos de denotem que um problema
imponha ao sistema.
maior no futuro está por vir.

42
Ou seja, é uma ação de manutenção rea- tos executivos. Partindo desse pensamento, Etapa de projeto
lizada com a finalidade de corrigir algo no ma- questiona-se:
terial ou sistema, para que ele possa cumprir o • Como aplicar os conceitos de manutenção É importante que a construtora pense na
seu papel dentro do uso da edificação, confor- nos elementos massivos de fundação facilidade da realização das futuras inspeções
me foi previsto em projeto. em concreto armado? visuais, por parte dos proprietários da edifica-
Para o caso das edificações de múltiplos • Como incorporar a ideia de manutenibilidade ção. Nesse caso, facilitar o acesso e/ou visualiza-
pavimentos, dependendo da gravidade do pro- a essas estruturas? ção aos elementos massivos de concreto arma-
blema, a manutenção corretiva pode ser emer- Nesse contexto, entende-se que a ins- do é algo crucial para a realização da atividade.
gencial ou programada: peção visual é a atividade estratégica a ser Pensando nisso, durante a discussão do
• Emergencial: É a manutenção realizada após pensada inicialmente na manutenção e ma- projeto de arquitetura é importante cogitar a
a falha da fundação do material ou sistema e nutenibilidade dos elementos massivos de possibilidade do uso de materiais de fácil re-
coloca em risco a segurança dos usuários; fundação em concreto armado, afinal inspe- moção no pavimento de garagem que se en-
• Programada: É a manutenção corretiva que cionar é fazer manutenção. Ela deve ser pen- contra em contato direto com solo, em detri-
é realizada de forma planejada (programada). sada em etapas, conforme a estratégia apre- mento ao uso de sistemas rígidos de piso em
Essa programação é o espaço de tempo neces- sentada na Figura 27. concreto armado ou não armado. A exemplo,
sário que o condomínio precisa ter para capi-
talizar seu caixa e realizar em um período pos-
terior a correção dos materiais e/ou sistema.
Nesses casos, a falha foi detectada, porém não
Manutenção e
traz riscos iminentes de incidentes e acidentes. manutenibilidade

Etapa de projeto Etapa de execução Durante o uso


(manutenibilidade) (manutenção) (manutenção)
5.4 MANUTENÇÃO ESTRUTURAL

Independe das definições sobre manute- Manutenção preventiva


Manutenção preventiva
(Inspeção preventiva
nibilidade, manutenção e como elas se aplicam inicial)
(Inspeções periódicas)

antes, durante e após a entrega de uma obra, Manutenções


Inspeções condicionadas
é prudente frisar que essa matéria deve ser tra- corretivas

tada com muito cuidado, assim como também Manutenções


corretivas
são tratadas as demais atividades relacionadas
à construção de uma edificação vertical, sem-
Figura 27 - Entendimento de onde se aplica a manutenção e manutenibilidade aos elementos
pre preconcebidas por projetos e procedimen- massivos de fundação em concreto armado (FONTE: TECOMAT).
43
temos o uso dos pavimentos denominados
de intertravados.
O pavimento intertravado, NBR 978127
(ABNT, 2013) é um tipo de pavimento flexí-
vel cuja estrutura é composta por uma ca-
mada de base (ou base e sub-base), seguida
por camada de revestimento constituída por Figura 28 – Componentes do pavimento intertravado (FONTE: Adaptado SINAPI 201728)

peças de concreto, assentadas sobre camada


de areia ou pó de pedra, e travadas entre si
por contenção lateral. As juntas entre as pe-
ças são preenchidas por material de rejunte
(areia). A Figura 28 apresenta os componen-
tes do pavimento intertravado.
As geometrias e caracterizas estético-vi-
suais disponíveis no mercado são as mais di-
versas. Alguns exemplos são os blocos do tipo
retangular (Figura 29), sextavado (Figura 30) , 16 Figura 29 – Figura 30 –
faces (Figura 31) e blocos pisograma (Figura 32). Bloco retangular Bloco sextavado
(FONTE: SINAP 2017 ) 28
(FONTE: SINAP 201728)

Figura 31 – Bloco 16 faces Figura 32 - Bloco


(FONTE: SINAP 201728) tipo pisograma
27
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9781 Peças de concreto para (FONTE: SINAP 201728)
pavimentação — Especificação e métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2013.
28
SISTEMA NACIONAL DE PESQUISA DE CUSTOS E ÍNDICES DA CONSTRUÇÃO CIVIL –
SINAPI. Cadernos técnicos de composições para pavimento intertravado, 2017.
44
Figura 33 Figura 34

Figura 35 Figura 36

A Figura 33, Figura 34, Figura 35 e Figura 36 mostram obras de cunho residencial e comercial que fazem uso do sis-
tema de piso intertravado no térreo ou subsolo.
É importante frisar que não é necessário que todo o piso seja executado com o sistema intertravado (Figura 37). Pode-
-se, para fins de inspeções futuras, deixar a área de intertravado extrapolando a área limítrofe dos blocos e/ou sapatas, em
60 centímetros. Em casos em que não for possível adotar a cobertura de 100% da projeção da face superior dos elementos
da fundação no piso, pode-se optar por realizar a cobertura de uma área parcial, ou até mesmo a adoção de outra forma
de facilitação do acessos, como o uso de caixas de inspeção.

45
Figura 37 - Planta da paginação da calçada e estacionamento. Nota-se que uma parcela do
estacionamento, a que fica sob a lâmina do edifício, será executada com pavimento intertravado
(FONTE: GB GABRIEL BACELAR CONSTRUÇÕES S.A)
46
Para qualquer uma das soluções adota- Na primeira inspeção visual, recomenda- sistemas, conforme manual de uso, operação
das, deve-se tomar o cuidado com o nível do -se que sejam avaliadas as necessidades de ma- e manutenção entregue. Tratando do sistema
lençol freático, principalmente em período in- nutenções corretivas. Os problemas apresen- estrutural, fundações em concreto massa e de-
vernoso, pois em muitos casos o sistema tradi- tados devem ser mapeados e registrados em mais estruturas, as primeiras atividades de ma-
cional de piso de concreto também contribui ficha de verificação visual do serviço (Apêndice nutenção que deverão ser realizadas pelo con-
para a contenção da água. B), e posteriormente anexado ao databook da domínio são as inspeções visuais.
obra. O registro e documentação são importan- A recém lançada NBR 1674729 (ABNT,
tes. Em alguns casos de quadro fissuratório em 2020) trata sobre o assunto da inspeção predial
Etapa de execução estruturas de concreto, a diferença no diagnós- e deixa claro que essa atividade terá sua perio-
tico preliminar entre uma fissura causada por dicidade de acordo com às leis e regulamentos
Normalmente, a sequência executiva RAA ou por retração plástica é justamente o vigentes, bem como à eventual recomendação
após a concretagem e período de cura dos ele- histórico de quando ela surgiu e sua evolução do profissional da inspeção. No caso de não
mentos de fundação é a desfôrma, realização ao longo do tempo. existir situações excepcionais no edifício (ma-
da impermeabilização e posterior reaterro do Com relação às manutenções corretivas, nifestações que denotem algum problema de
local. Dito isso, e analisando o fluxograma apre- cada caso deve ser analisado pela equipe da cunho estrutural), a periodicidade da realização
sentado da Figura 27, após a desfôrma deve-se obra, em conjunto com o calculista e consultor das inspeções deve seguir o recomendado pela
aproveitar a oportunidade para a realização da da área de materiais e patologias. lei estadual No 13.341, DE 27 DE NOVEMBRO
primeira inspeção preventiva visual (manuten- DE 2007:
ção preventiva). Essa manutenção, estratégica, • I - 5 (cinco) anos para edificações residenciais
visa identificar possíveis problemas como: Etapa de uso com até 20 anos de construção;
• “Bicheiras”; • II - 3 (três) anos para edificações residenciais
• Armaduras expostas por falha Oficialmente, o uso da edificação se inicia com mais de 20 anos de construção;
no cobrimento e quando existe a emissão do habite-se e, a partir • III – 3 (três) anos para edificações públicas e
• Fissuras de então, o condomínio começa a ser ocupado comerciais.
As fissuras podem ser observadas nas primei- pelos seus moradores. O ano zero é formaliza- Porém os documentos em vigor (normas
ras horas e/ou dias após a concretagem do do com a entrega desse documento e salvo al- e leis) não apresentam orientações quanto à
elemento de fundação. Nesses casos, normal- gumas intervenções, que a construtora realiza amostragem e procedimento de inspeção. Nes-
mente ocorrem devido a retração plástica e/ou na edificação, o condomínio deverá primar por te caso, recomenda-se o plano de ação confor-
retração por secagem. realizar as manutenções previstas dos vários me o Quadro 3 e Quadro 4.

29
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16747. Inspeção predial - Diretrizes, conceitos, terminologia e procedimento. Rio de Janeiro, 2020.
47
IDADE AMOSTRAGEM ÁREA ESCAVADA IDADE AMOSTRAGEM ÁREA ESCAVADA

5 anos Entre 3 e 4 elementos 3 anos Entre 3 e 4 elementos


Dependendo do tamanho do elemento de
Dependendo do tamanho do elemento de
10 anos Mais 3 elementos fundação, recomenda-se que seja escavada 6 anos Mais 3 elementos fundação, recomenda-se que seja escavada
toda a projeção da área da face superior dos
toda a projeção da área da face superior dos
bloco ou sapata e umas das faces laterais até a
15 anos Mais 3 elementos 9 anos Mais 3 elementos blocos ou sapatas e umas das faces laterais até
profundidade de 70 cm da face do topo (blo-
a profundidade de 70 cm da face do topo (blo-
cos) conforme apresentado na Figura 38. No
20 anos Mais 3 elementos 12 anos Mais 3 elementos cos). No caso das sapatas a escavação deve ser
caso das sapatas a escavação deve ser restrita
restrita ao tronco de cone (cuscuz).
ao tronco de cone (cuscuz).
23 anos Mais 3 elementos 15 anos Mais 3 elementos

Quadro 3 – Plano de inspeção para as edificações residenciais Quadro 4 - Plano de inspeção para as edificações públicas e comerciais
condicionadas a sua idade (FONTE: TECOMAT) condicionadas com sua idade (FONTE: TECOMAT)

A ideia por traz do plano de amostragem,


que está apresentado nos quadros 3 e 4, é que
dentro de um certo período de tempo, a edifi-
cação tenha realizado a inspeção de boa par-
te dos elementos de fundação, tendo em vista
que realizar essa atividade na sua totalidade
de uma vez só é, tecnicamente e economica-
mente, inviável para o condomínio.
Cabe salientar que em algumas situações
não é possível a escavação de toda a área da
projeção da face superior dos blocos e sapatas,
tendo em vista que em alguns casos isso ocu-
pa uma grande área do pavimento e sua es-
cavação gera certo transtorno aos moradores.
Nesse caso, pode-se optar por realizar uma es-
cavação parcial, cerca de 50% da área de pro-
jeção do topo, conforme pode ser observado na
Figura 40. Se na oportunidade for verificada a
existência de problemas, deve-se ampliar a in-
Figura 38 – Exemplo de escavação de bloco Figura 39 - Exemplo de escavação parcial de sapata
vestigação ou seguir as recomendações do en-
genheiro responsável pela inspeção. de coroamento (Fonte: TECOMAT). ( Fonte: TECOMAT)

48
6. CAPÍTULO DE ESTUDOS
DE CASO NA RMR

Nesse capítulo será abordado um estudo No Quadro 5 é possível ver as caracte- Ao todo, a lâmina principal da torre da
de caso real realizado pela Tecomat Engenha- rísticas dos blocos que compõem a lâmina da edificação é composta por 63 estacas, 17 blo-
ria, no qual serão mostradas as características torre da edificação: cos de coroamento, com formatos retangula-
do empreendimento, as etapas desenvolvidas res, quadrados e triangulares, totalizando um
no trabalho e os resultados obtidos. Bloco No de estacas Altura (m) Volume (m3) volume aproximadamente de de 165m3 de
B13 2 1,7 4,1 concreto. Não foram contabilizados os blocos
B6 2 1,7 4,1 de periferia com 1 estaca que possuem me-
nos de 0,5m3 de volume cada, nem cintas e
B19 2 1 1,3
vigas de equilíbrio.
B18 2 1,7 3,6
6.1 CARACTERIZAÇÃO DO B5 2 1 1,3

EMPREENDIMENTO B14 3 1,7 8,0

B15 3 1,7 8,0


6.2 MATERIAIS UTILIZADOS
O empreendimento em questão é o edi- B17 3 1,7 8,0
E DOSAGEM DE CONCRETO
fício Unique Hall, da construtora Fama, e se tra- B4 3 1,4 3,5
ta de um residencial multifamiliar com 16 an-
B1 3 1,4 3,5
dares de apartamentos, sendo 4 unidades por Inicialmente, o primeiro passo do traba-
B7 3 1,7 8,0
andar, situado na cidade de Recife-PE. lho foi a checagem da quantidade de blocos,
B16 4 1,4 10,2
A fundação é do tipo profunda com uti- bem como suas dimensões e características.
B11 4 1,4 10,2
lização de estacas de concreto pré- fabricadas Após isso, o segundo passo fundamental foi
de secção circular e blocos de coroamento B(10+12) 5 1,9 23,3 a análise da carta de dosagem, que precisou
em concreto armado, cujos fcK são de 30 Mpa, B(2+3) 6 1,7 16,1 ser otimizada na tentativa de diminuir o total
produzidos com fôrma de madeira. A execu- B8 8 1,9 18,7 de calor gerado. Um fato importante foi a an-
ção do estaqueamento e concretagem dos tecedência com que a construtora iniciou esse
B9 8 1,9 18,7
blocos de coroamento se deu entre fevereiro planejamento/estudo, o que permitiu fazer os
a junho de 2019. Quadro 5: características dos blocos que compõem ajustes necessários na dosagem, inclusive na
a lâmina da torre da edificação

49
redução do fcK de 40 para 30 Mpa, com a anuên- Bloco
Consumo Temp. Temp. pico Tempo para
gelo/m3 lançamento(c°) (c°) atingir o pico (h)
cia e aprovação do calculista, visando diminuir 6.3 RESULTADOS B4 0 34,2 71,6 16
o consumo de cimento, e, consequentemente,
DAS MEDIÇÕES B11 100 27,6 63,4 21
o calor total gerado. Assim, o projeto estrutural
B18 100 26,7 63,4 25
ficou com características e dosagens separadas
para elementos de fundação e superestrutura, O quadro 7 agrupa as informações cole- B19 100 26,2 52,0 18

cujo fck permaneceu de 40Mpa. tadas no monitoramento de 14 blocos de co- B8 100 24,8 66,4 27

A seguir, no Quadro 6, estão as informa- roamento. A quantidade é menor do que a in- B9 100 25,2 66,7 25

ções da carta de dosagem que foi otimizada formada anteriormente pois alguns desses são B15 100 24,7 60,2 26
e utilizada na obra. Como pode-se ver, o fck foi gêmeos e foram concretados no mesmo dia.
B16 100 22,9 62,0 25
reduzido e o consumo de cimento otimizado Inicialmente, foi feita uma análise de concre-
B13 100 21,5 54,5 28
ao máximo, sendo isso possível graças à partici- tagem piloto junto com a construtora para
B14 100 21,5 58,2 35
pação da sílica ativa. Importante pontuar que a mostrar a capacidade de elevação da tempe-
dosagem otimizada foi testada em laboratório ratura, mesmo em blocos pequenos, como o B(10+12) 100 22,5 56,8 32

e atingiu-se resistências da ordem de 34 MPa caso do B4 com volume de apenas 3,5m3, mas B17 100 18,5 56,4 38

com 7 dias de idade. uma altura de 1,4m, o que tem uma forte con- B1 100 21 54,3 25

tribuição. Esse estudo inicial foi realizado para


B(2+3) 100 21,7 59,9 30
verificar a necessidade do tratamento térmico
mesmo em blocos de menor volume. Quadro 7: Resumo dos blocos e das temperaturas
fck 30 MPa de lançamento e pico
Devido ao alto custo do concreto com
Abatimento 100+-20mm
adição de gelo, a empresa fez a análise para
A/C 0,617 se certificar de que, realmente, se os blocos de
Bombeável sim menores volumes já ultrapassassem o limite de to substituindo parte da água de amassamento

D máximo agregado 19 mm
temperatura, os demais também iriam precisar por gelo em escamas, em um consumo de 100
de adição de gelo. Kg/m3. Com isso, dos outros 13 blocos, apenas
Cimento CPV ARI
Como pode-se ver na Quadro 7, mesmo o B8 e B9 passaram um pouco acima do lim-
Consumo de cimento 259 kg/m3
com o consumo otimizado ao máximo, mas ite preconizado de 65°C (Figura 41). Vale infor-
Adições Sílica ativa 23 kg/m3
sem resfriamento, o concreto do B04 foi lan- mar que o procedimento de carregamento do
Aditivos Plastificante e estabilizador de hidratação çado a 34,2 graus e atingiu um pico de 71,6°C, caminhão betoneira, tempo até o descarrega-
conforme Figura 40. mento e temperatura dos insumos, vai influen-
Quadro 6 - informações da carta de dosagem
Entretanto, esse valor não era o almejado ciar na eficiência desse gelo, bem como seu
e para os próximos blocos resfriou-se o concre- consumo, na temperatura final de lançamento.

50
Figura 40 - Gráfico de variação de temperatura sem a adição de gelo. Figura 41 - Gráfico de variação de temperatura com a adição de gelo.
(volume do bloco de 3,5m )3
(volume do bloco de 10,2m3)

6.4 CUSTOS

Com os dados fornecidos pela construtora, é possível fazer uma


análise básica de custos envolvendo o uso do gelo em relação apenas
ao insumo concreto. Ao todo foram consumidos 311m3 de concreto nos
blocos de coroamento e cintas, somando tanto a lâmina do prédio como
os elementos de periferia, e ainda o reservatório inferior. Desses, apenas
em 190m3 de concreto foram necessários utilizar gelo. Dito isso, segue
um resumo dos custos totais com concreto em relação ao uso de gelo,
mostrado na Figura 42.
Com o uso de gelo em 190 m3 do total de concreto, apenas na-
queles elementos julgados necessários, o custo total com concreto au-
mentou R$13.300,00 (17,82%) em relação ao gasto total que seria sem Figura 42 – Dados custo do concreto orçado sem gelo e o efetivamente
o uso do resfriamento por gelo. gasto com adição de gelo

51
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os mecanismos de expansão interna, RAA e DEF, já são tratados


com bastante relevância, no Brasil, há décadas, especificamente, no setor
de construção civil de obras hidráulicas de grande porte, como barragens
e hidroelétricas, onde o cuidado para prevenção desses mecanismos já
são concebidos na fase de projeto.
Infelizmente, com a dificuldade de se transferir conhecimento
entre os diversos setores da engenharia brasileira, levaram a esse “gap”
na informação de que, tanto a RAA, quanto a DEF, podem afetar quais-
quer estruturas de concretos armado e não apenas obras hidráulicas
de grande porte.
Esse e-book procurou, de uma forma simples e didática, transmitir
à cadeia construtiva de edificações de múltiplos pavimentos o conheci-
mento adquirido nesses últimos 15 anos no tocante a esses mecanismos,
que ocorreram em elementos massivos de fundações na RMR.
Nele, foram descritos casos relevantes para despertar o leitor sobre
a existência do problema e as ações tomadas pela engenharia pernam-
bucana para enfrentar o problema. Essas ações podem servir de referên-
cia para outros centros urbanos, caso venha a se deparar com a mesma
situação enfrentada pela nossa engenharia, pois, com certeza, esses ca-
sos não se ressumem a uma única região ou cidade, podendo existir em
maior ou menor intensidade em diversas partes do nosso país. Além des-
ses casos, foi dada ênfase nas diversas fases da execução da obra; diretri-
zes de projeto, escolha dos materiais, execução, controle para mitigação
desses mecanismos e manutenção.
Esperamos que esse e-book tenha atendido a expectativa do meio
técnico e venha a contribuir para melhoria da qualidade das obras em
concreto armado e em particular as de edificações residências e comer-
ciais de múltiplos pavimentos.

52
APÊNDICES A – PLANILHA DE PESAGEM DO CONCRETO NA CENTRAL CONCRETEIRA

53
APÊNDICE B – FICHA DE VERIFICAÇÃO VISUAL DA FUNDAÇÃO
(BLOCO DE COROAMENTO OU SAPATA ISOLADA)

54
55

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