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Anais Eletrônicos da
XXXVIII SEMANA DE HISTÓRIA
do INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
da UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
17 a 21 de outubro de 2022.
Organização
Eduarda Guerra Tostes
Lavínia Renata de Oliveira Turqueti
Marco Antônio Campos e Souza
ICH – UFJF
Juiz de Fora, 2022
3
Comissão Organizadora
Diretoria Cultural
Gabrielle Barra Tarocco Adriel Agostinho dos Santos
Diretora Financeira Eduarda de Oliveira Venancio
Emilly Vargas Medeiros
Diretoria Financeira Jemima Ribeiro Toledo
Analice de Aquino Vaz Maria Carolina de Aquino Henriques da
Cesar Augusto Lopes Maciel Silva
Clara Gomes De Filippo Mariana Moreira do Bem Brandão
Pedro Henrique Pompermayer de Mattos
Anais da XXXVIII Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Por uma história decolonial:
Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira Turqueti; Marco
Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022. 914 p.
ISSN:2317-0468
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Anais da XXXVIII Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Por uma
história decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia
Renata de Oliveira Turqueti; Marco Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022.
914p.
ISSN: 2317-0468
Tiragem: Eletrônica (PDF)
Texto em Português
Modo de acesso: http://ufjf.br/semanadehistoria/anais
Anais da XXXVIII Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Por uma história decolonial:
Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira Turqueti; Marco
Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022. 914 p.
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Resumo: Este artigo traz como objeto de estudo o sítio histórico de Ouro Preto e busca
compreender os desafios colocados à sua preservação entre a década de 1980 e o início
dos anos 2000, isto é, tem como ponto de partida o seu reconhecimento como Patrimônio
Mundial. Diante de um acelerado processo de descaracterização e degradação ao
patrimônio, diversas dificuldades são colocadas à preservação do conjunto. Neste
contexto, ressaltamos o incêndio no Hotel Pilão (2003) e suas repercussões a partir do
“Movimento Chama – Consciência e Prevenção contra o fogo”, considerando as
discussões levantadas em torno do risco de incêndio.
Abstract: This article presents the historical site of Ouro Preto as its object of study and
seeks to understand the challenges posed to its preservation between the 1980s and the
beginning of the 2000s, that is, its starting point is its recognition as a World Heritage
Site. Faced with an accelerated process of de-characterization and degradation of the
heritage, several difficulties are posed to the preservation of the set. In this context, we
emphasize the fire at the Hotel Pilão (2003) and its repercussions from the “Flame
428
Mestranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Anais da XXXVIII Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Por uma história
decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
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Movement – Awareness and Prevention against fire”, considering the discussions raised
around the risk of fire.
Ouro Preto foi declarada Monumento Nacional em 1933, antes mesmo da criação
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Posteriormente, em 1938, teve
seu conjunto urbano e arquitetônico devidamente tombado. Consolidando sua trajetória
enquanto espaço propulsor para o movimento preservacionista no Brasil, foi também o
primeiro bem cultural brasileiro a ser reconhecido como Monumento Mundial pela
Unesco no ano de 1980. Assim, são elencados os critérios para sua inscrição à Lista do
Patrimônio Mundial, os quais: “(I) representar uma obra-prima do gênio criativo humano;
(III) aportar um testemunho único ou excepcional de uma tradição cultural ou de uma
civilização ainda viva ou que tenha desaparecido”429.
429
UNESCO, Centro do Patrimônio Mundial da. Diretrizes Operacionais para a Implementação da
Convenção do Patrimônio Mundial, 2012.
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decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
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M`BOW, Amadou Mahtar. Discurso Del Sr Amadou Mahtar M`Bow con ocasión de La ceremonia
de inscripción de Ouro Preto en La Lista del Patrimônio mundial cultural y natural, 1981. Disponível
em: <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000044421_spa>. Acesso em: 20 nov. 2022.
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intitulado “Saudação a Ouro Preto”431 . Seu texto evoca o processo histórico de formação
da cidade desde o período colonial até a República, destacando a vitória sobre as
limitações geográficas e sociais. Valoriza a criatividade do seu povo, capaz de elaborar
originais manifestações culturais e formar ideias políticas avançadas para a época,
trazendo à luz a figura de importantes artistas e mártires. Constituída de escultores,
pintores, poetas, parlamentares, mestres e sábios, foi construída pelo trabalho dos negros
escravos que carregaram as pedras que sustentam as edificações. Por tudo isso, sua obra
coletiva consagrou-se patrimônio da humanidade, pois “a todos absorve, ilumina e
inspira”. Assim, Arinos compreende a cidade atravessando sua dimensão temporal:
“Relíquia e exemplo, saudade do passado, esperança do futuro, Ouro Preto é o que foi e
o que será” (FRANCO, 1980).
Por outro lado, esse momento também trouxe uma série de expectativas quanto às
431
FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Saudação a Ouro Preto. Jornal do Brasil. 29 jul. 1980. Opinião,
p. 11.
432
ANDRADE, Carlos Drummond de. O título e a realidade. Jornal do Brasil, 4 set. 1980. Caderno B,
p.7.
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novas possibilidades que poderiam surgir para ajudar a impulsionar ações de preservação,
haja vista o papel de destaque em que foi colocada a cidade. Desse modo, a notícia foi
recebida com entusiasmo e esperança na perspectiva de que a partir de agora obras de
infraestrutura que exigiam maiores recursos poderiam enfim ser executadas com outros
investimentos e parcerias. Sob esse aspecto espera-se que a Unesco passe a atuar de forma
mais presente, fazendo pressão nas autoridades brasileiras e compartilhando sua
capacidade técnica (TORRES, 1980). Logo, gestores locais e regionais trataram de
expressar algumas das dificuldades vivenciadas e as medidas que precisavam ser
tomadas:
Desde que um país aceite que um dos seus bens culturais seja declarado
de interesse universal, ele implicitamente estará se comprometendo,
perante a comunidade mundial, a zelar por todos os meios por esse
bem”, explica o Diretor Regional do Sphan, Sr. Roberto Lacerda. De
acordo com ele, tendo declarado Ouro Preto Cidade Monumento
Mundial, a UNESCO poderá cobrar e pressionar as autoridades
brasileiras para que os complexos problemas que ameaçam Ouro Preto
- das ameaças dos fenômenos geológicos à desfiguração paisagística
e arquitetônica, passando por ameaças, como incêndios e
depredações de toda ordem - sejam atacados e resolvidos. (...)
Problemas de infraestrutura são também invocados pelo Secretário
Municipal de Obras Sr. Sérgio Queirós, que vê a próxima elevação da
Cidade a Monumento Mundial como a possibilidade de evitar uma das
maiores causas da desfiguração arquitetônica da ex-Vila Rica: a falta
de recursos. A restauração de um casarão em Ouro Preto sai
caríssima, pois são construções sofisticadas, com estruturas de
madeira. O resultado é que a maior parte dos proprietários prefere
demolir as casas e refazê-las em concreto armado, do que decorre a
verdadeira falsificação do barroco por que o conjunto da cidade vem
passando.
De acordo com o Secretário de Obras, agora que a cidade iniciará obras
de restauração de sua rede de esgotos, o recebimento desse título -
que ocorre pela primeira vez na história do país - facilitará a ele os
meios de conseguir recursos federais para outras obras urgentes de
infraestrutura urbana, como a construção de um novo sistema de
captação e de distribuição de água.
E quem sabe que isso incentivará o Governo a construir também a
estrada perimetral, que resultará, por sua vez, na construção de uma
nova rodoviária e na definitiva retirada do trânsito pesado da zona
do núcleo histórico, cujo conjunto arquitetônico e monumentos têm
sofrido tantos danos por causa dele?”, pergunta o Secretário. (...)
(TORRES, 1980, grifos nossos)
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decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
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Turqueti; Marco Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022. 914 p.
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UNESCO. State of conservation reports (SOC) - Ouro Preto. Disponível em:
<http://whc.unesco.org/en/list/124/documents>. Acesso em: 20 nov. 2022.
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decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
Turqueti; Marco Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022. 914 p.
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UNESCO. State of conservation report of Ouro Preto (2003). Disponível em:
<https://whc.unesco.org/en/soc/2779>. Acesso em: 20 nov. de 2022.
435
UNESCO. State of conservation report of Ouro Preto (2004). Disponível em:
<https://whc.unesco.org/en/soc/1504/> . Acesso em: 20 nov. 2022
Anais da XXXVIII Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Por uma história
decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
Turqueti; Marco Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022. 914 p.
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Ouro Preto tem atingido níveis inaceitáveis, não apenas para uma
cidade de excepcional valor cultural, mas se considerados os requisitos
de qualidade de vida urbana a que toda cidade tem direito. Dentre esses
problemas se destacam:
a ocupação desordenada das encostas, áreas de instabilidade
geológica, áreas verdes, sítios arqueológicos e espaços públicos,
ameaçando comprometer irreversivelmente a imagem urbana e
oferecendo riscos à população;
a infraestrutura de serviços urbanos precária, destacando as
condições saneamento e de circulação de tráfego, ambos causadores de
sérios danos ao sítio tombado, à conservação das edificações e à
qualidade de vida da população;
o grande número de obras irregulares e mais de uma centena de
processos judiciais sem resultado efetivo.
Este quadro reflete, primordialmente, a incapacidade do poder público
de garantir a preservação da cidade, de buscar soluções, adesão de
parceiros e da própria comunidade para reverter uma situação tão
complexa e continuamente agravada. De um lado, pela inexistência de
aparelhamento municipal para o controle urbano e a preservação, pela
ausência e até mesmo pela falta de aplicação das poucas normas
legais disponíveis no âmbito municipal, pelo retrocesso das
iniciativas de uma ação compartilhada com o IPHAN e pela falta de
participação da comunidade local na gestão urbana. De outro, é
preocupante a precariedade das condições de trabalho do IPHAN,
incompatíveis com a dimensão das suas atribuições em Ouro Preto.
(MOÇÃO, 2002, grifos nossos)
436
MOÇÃO por providências urgentes para a preservação de Ouro Preto. Olinda, 02 de agosto de 2002.
Anexo disponível em: SILVA, Patrícia Reis da. A Postura da Municipalidade na Preservação do Patrimônio
Cultural Urbano. 20 1 p. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo - Área de Concentração em
Teoria e História) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, 2006.
Anais da XXXVIII Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Por uma história
decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
Turqueti; Marco Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022. 914 p.
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OLIVEIRA, Benedito Tadeu de. Ouro Preto, a destruição pelas bordas. Jornal do Brasil, 29 abr. 2003.
Outras opiniões, p. A14.
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decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
Turqueti; Marco Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022. 914 p.
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Apesar de ser conhecido como Hotel Pilão, a edificação já não funcionava mais
como hospedaria, mas sim abrigava uma farmácia, joalheria, loja de móveis e cyber-café.
Conforme reportagem de Leandro Mazzini439, o Ministério Público em Minas Gerais
(MPMG) solicitou abertura de inquérito para averiguar as causas do incêndio. A princípio
acreditou-se que o sinistro estaria relacionado a um curto-circuito, porém surgiram fortes
indícios de que o incêndio poderia ter sido criminoso. Por isso, foram iniciadas
investigações sobre a compra do casarão com um seguro de R$ 1 milhão de reais por um
empresário no ano anterior, e também foram apuradas as responsabilidades dos governos
estadual e municipal nesse acontecimento (MAZZINI, 2003).
438
INCÊNDIO atinge construções dos séculos 17 e 18 em Ouro Preto. Folha de São Paulo, 14 abr. 2003.
FOGO destrói prédio secular: Casarão de 300 anos desaba em Ouro Preto. Jornal do Brasil, 15 abr. 2003.
O país/política, p. A4.
439
MAZZINI, Leandro. Ministério Público investiga incêndio em Ouro Preto: Polícia Federal vai apurar
se fogo que destruiu casarão secular foi criminoso. Jornal do Brasil, 16 abr. 2003. O país/política, p. A4.
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decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
Turqueti; Marco Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022. 914 p.
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Fonte: MARTIN, Marcela Menezes Silva. Hotel Pilão, Ouro Preto - Entre o falso histórico e a
contemporaneidade. Anais do III Seminário Projetar, Porto Alegre, p. 5, 2007.
440
GAGLIARDI, Ignacio. FIEMG, Ouro Preto (MG) – Parte II: Reconstrução do antigo Hotel Pilão no
conjunto arquitetônico da Praça Tiradentes. Ilumine o Projeto, 11 de março de 2021. Disponível em\;
<http://ilumineoprojeto.com/fiemg-ouro-preto-mg-parte-ii-reconstrucao-do-antigo-hotel-pilao-no-
conjunto-arquitetonico-da-praca-tiradentes/>. Acesso em: 20 nov. 2022.
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decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
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paisagístico.
A polêmica decisão não restituiu a Ouro Preto o casarão perdido, nem
tampouco aliviou a situação de descrédito junto à UNESCO, mas
amenizou o sentimento de perda e satisfez os olhares que buscam na
referida paisagem uma identificação com o lugar e suas origens
(pessoais ou coletivas), ou simplesmente uma fugaz – e nem por isso
desmerecida – satisfação estética.” (MADUREIRA, 2010: 36-37)
Anais da XXXVIII Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Por uma história
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O incêndio no Hotel Pilão aconteceu dois dias após a visita do técnico do Icomos,
Esteban Prieto à cidade, gerando assim certa apreensão quanto à análise do estado de
conservação que seria enviado à Unesco. Por outro lado, esse momento traumático para
o patrimônio de Ouro Preto também serviu como uma espécie de choque de realidade,
levando a repensar a gestão e a salvaguarda do conjunto histórico. Partindo deste cenário,
então foi colocada a necessidade de construção de um movimento de prevenção a
incêndios e também de diversas outras ações em prol da preservação dos bens culturais.
Tais questões podem ser percebidas através da fala do Prof. Octávio Elísio Alves de Brito
durante a audiência pública da Câmara Municipal de Ouro Preto, que ocorreu um mês
após o sinistro do Hotel Pilão442:
441
LOPES, Myriam Bahia. Incêndio em Ouro Preto: O presente se consome como a chama. Vitruvius, 3
de maio de 2003. Disponível em: <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/03.034/2042>.
Acesso em: 20 nov. 2022
442
AUDIÊNCIA PÚBLICA n°: 523/2003 Data: 15/5/2003. Câmara Municipal de Ouro Preto: Audiência
pública da Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior destinada discutir a preservação do patrimônio
histórico do País a partir da preservação do patrimônio histórico da cidade de Ouro Preto.
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incêndios. Nesta ocasião foi relembrado a importância do Movimento Chama, como uma
iniciativa fundamental que buscava soluções a fim de evitar tragédias similares ou
maiores que a do Pilão. Assim, foi destacado que o projeto realizou a vistoria de
aproximadamente 1700 imóveis situados no centro histórico, realizando a medição da
respectiva carga de incêndio desta área. Além disso, foram mobilizadas ações de
conscientização através da orientação dada aos trabalhadores locais sobre como agir no
caso de início de um incêndio.Contudo e infelizmente, o projeto enfrentou dificuldades
para continuar devido ao pouco envolvimento do poder executivo, de forma que o
programa não pode ser concluído diante da falta de apoio da Prefeitura443.
Referências
ANDRADE, Carlos Drummond de. O título e a realidade. Jornal do Brasil, 4 set. 1980.
Caderno B, p.7.
FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Saudação a Ouro Preto. Jornal do Brasil. 29 jul.
1980. Opinião, p. 11.
GAGLIARDI, Ignacio. FIEMG, Ouro Preto (MG) – Parte II: Reconstrução do antigo
Hotel Pilão no conjunto arquitetônico da Praça Tiradentes. Ilumine o Projeto, 11 de março
443
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO. Audiência discute medidas de prevenção e combate a incêndio.
Câmara Municipal de Ouro Preto, 20. abr. 2006. Disponível em:
<<http://www.cmop.mg.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=290:audiencia-discute-
medidas-de-prevencao-e-combate-a-incendio&catid=61:reunioes>. Acesso em 2 set. 2021
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decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
Turqueti; Marco Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022. 914 p.
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OLIVEIRA, Benedito Tadeu de. Ouro Preto, a destruição pelas bordas. Jornal do
Brasil, 29 abr. 2003. Outras opiniões, p. A14.
MARTIN, Marcela Menezes Silva. Hotel Pilão, Ouro Preto - Entre o falso histórico e a
contemporaneidade. Anais do III Seminário Projetar, Porto Alegre, p. 1-33, 2007.
Anais da XXXVIII Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Por uma história
decolonial: Gênero, raça e classe na América Latina. Eduarda Guerra Tostes; Lavínia Renata de Oliveira
Turqueti; Marco Antônio Campos e Souza (Org.). Juiz de Fora, 2022. 914 p.
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M`BOW, Amadou Mahtar. Discurso Del Sr Amadou Mahtar M`Bow con ocasión de
La ceremonia de inscripción de Ouro Preto en La Lista del Patrimônio mundial
cultural y natural, 1981. Disponível em:
<https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000044421_spa> . Acesso em: 20 nov. 2022.
TORRES, Maurílio. Como monumento mundial Ouro Preto pode ser salva das ruínas.
Jornal do Brasil, 19 mar. 1980 Caderno B, p.10
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