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Anais IV Seminário LEME

#maraca70: Mídia, Memória e Patrimônio

2021
Anais IV Seminário LEME
#maraca70: Mídia, Memória e Patrimônio
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Reitor da Uerj
Ricardo Lodi Ribeiro

Vice-reitor da UERJ
Mário Sérgio Carneiro

Direção do Centro de Educação e Humanidades


Bruno Rego Deusdará Rodrigues

Direção da Faculdade de Comunicação Social/UERJ


Patrícia Sobral de Miranda

Vice-direção da Faculdade de Comunicação Social/UERJ


Ricardo Ferreira Freitas
Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte

Anais IV Seminário LEME


#maraca70: Mídia, Memória e Patrimônio

Rio de Janeiro
2021
© 2021 – IV Seminário LEME
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

IV SEMINÁRIO LEME EQUIPE TÉCNICA

Coordenação-geral Organização de conteúdo dos anais


Ronaldo George Helal Leticia de Toledo Quadros Musco
Fausto Amaro Ribeiro Picoreli Montanha
Comissão organizadora do seminário Carolina Alves Fontenelle
Alvaro Vicente Graça Truppel Pereira do Cabo
Carolina Alves Fontenelle Diagramação dos anais
Fausto Amaro Ribeiro Picoreli Montanha Leticia de Toleo Quadros Musco
Filipe Fernandes Ribeiro Mostaro Fausto Amaro Ribeiro Picoreli Montanha
Irlan Simões da Cruz Santos Carolina Alves Fontenelle
Leda Maria da Costa Emilia Sandrinelli
Leticia de Toledo Quadros Musco
Marina Perdigão Mantuano Identidade visual do evento
Eduardo Vieira da Mota Gomes

CATALOGAÇÃO NA FONTE

S471 Seminário LEME (4. : 5-7 de out. 2020 : Rio de Janeiro)


Anais IV Seminário LEME: #maraca70: Mídia, Memória e Patrimônio
/ Leticia de Toledo Quadros Musco, Fausto Amaro Ribeiro Picoreli
Montanha, Carolina Alves Fontenelle, organização. – Rio de Janeiro,
2021.
304 f.

Inclui bibliografias.

ISBN: 978-65-995193-0-7

1. Comunicação. 2. Futebol. 3. Maracanã. I. Musco, Leticia de Toledo


Quadros. II. Montanha, Fausto Amaro Ribeiro Picoreli. III. Fontenelle,
Carolina Alves. IV. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade
de Comunicação social. V. Título.

CDU 796.33

Bibliotecária Emilia Sandrinelli – CRB7: 6288


SUMÁRIO

GT1 – Esporte, cidade e identidades

Maracanã além da arquibancada: territorialidades e interações da população carioca com


o estádio depois dos megaeventos ......................................................................................... 8

Da arquibancada à avenida:práticas de sociabilidade e disputa dentro de uma torcida


organizada de futebol ........................................................................................................... 13

Instalações esportivas e (re)qualificação das cidades sedes dos jogos olímpicos de verão
– 1960 a 1976 ....................................................................................................................... 19

De colosso do Derby a New Maracanã. a promessa da cidade moderna. ............................ 25

As novas dinâmicas do processos de urbanização e o sumiço dos campos de pelada em


Nova Iguaçu (Rj).................................................................................................................. 31

Futebol, usina e identidade socioespacial: Paraíso Futebol Clube, Usina Paraíso e o


Distrito de Tócos .................................................................................................................. 36

Futebóis e carnavais em meio à cidade em transformação: algumas memórias de Luiz


Carlos da Silva ..................................................................................................................... 42

futebol no centro do campo: disputas pela construção da identidade nacional na literatura


carioca do início do século XX ............................................................................................ 47

Quando um evento representa a nação: copa do mundo de 50 e musicalidade ................... 52

Geografia, futebol e cultura: identidade e o espaço urbano no caso grenal ......................... 57

“Espanyol de Cornellà?” como a frase do zagueiro Piqué pode revelar processos


geográficos na Região Metropolitana de Barcelona ............................................................ 62

Traços da rivalidade Brasil x Argentina no futebol da Paraíba da década de 1950............. 68

Raça, futebol e identidade nacional: disputuas e atualizações da memória em torno das


narrativas biográficas de Pelé .............................................................................................. 73

Zico ou Áustria: os impactos das fronteiras invisíveis do futebol ....................................... 78

Maratona do Rio de Janeiro: o branding da Cidade Maravilhosa mesmo no cenário de


caos ...................................................................................................................................... 84

Disputas de representação: a coexistência festa-guerra na torcida organizada raça rubro-


negra ..................................................................................................................................... 88

A importância da representação dos ídolos de futebol para jovens da Baixada


Fluminense ........................................................................................................................... 94
GT2 – Mídia, esporte e representação

Do monopólio das transmissões ao monopólio da memória: como a Rede Globo


preencheu sua grade futebolística durante a pandemia ...................................................... 100

A retomada do futebol no contexto da pandemia: a experiência das rádios cearenses na


transmissão de jogos via streaming ................................................................................... 105

MP 984: futebol e mídia nos 70 anos do “Maraca” ........................................................... 110

A pandemia de Covid-19 na televisão esportiva brasileira ................................................ 115

Ditadura e futebol na América do Sul: o Rio da Prata entre a gloria e a opressão ............ 120

Os jogos bolivarianos de 1938 na imprensa colombiana: um olhar para a nação ............. 125

A “tribo jornalística” presente na gestão de megaeventos esportivos ............................... 131

A cobertura jornalística das Copas de 2019 no globoesporte.com .................................... 137

Tifanny Abreu e a transfobia disfarçada nos meios de comunicação ................................ 145

Racismo no futebol brasileiro e mídia esportiva................................................................ 151

A falação esportiva no futebol feminino: um estudo de caso do programa Mina de Passe


............................................................................................................................................ 156

João sem Medo: a cobertura jornalística do Jornal dos Sports na contratação e demissão
do treinador da seleção brasileira ....................................................................................... 162

Gérson: o craque midiático do gramado do Maracanã às redes sociais ............................. 167

Futebol e soft power: Gabriel Jesus é made in Brazil ........................................................ 172

O árbitro de vídeo e a comodificação total do futebol ....................................................... 177

Do Maracanã a Sarrià: Jornal dos Sports e Revista Placar nas publicações imediatamente
após as derrotas em 1950 e 1982 ....................................................................................... 182

Os dois 16: nos seus 70 anos, Maracanã continua associado à glória e à tragédia ............ 187

Maracanã como redenção: a Copa América de 1989 na visão do Jornal dos Sports e da
Revista Placar .................................................................................................................... 192

O projeto de construção do Estádio Municipal do Rio de Janeiro nos anos 1940: para o
desporto carioca, para o progresso da cidade..................................................................... 198

“Cai ou não cai?”: a Revista do Esporte e as obras do maracanã no início dos anos 1960
............................................................................................................................................ 203
GT3 – Estádios, arena e modos de torcer

Torceres: pensando diferentes possibilidades de pertencimento clubístico ....................... 209

Violência verbal nos estádios de futebol ........................................................................... 215

Menos democracia, mais Copa do Mundo: interações da Fifa com o Estado Brasileiro
em 1950 e 2014 .................................................................................................................. 220

Polícia para quem precisa de polícia: segurança pública e as mudanças promovidas pela
expansão do processo de elitização nos estádios ............................................................... 226

Quem é este que nega o novo? Breves considerações sobre o sujeito discursivo que nega
o futebol moderno: uma análise de dizeres ........................................................................ 233

Ascensão das torcidas antifascistas no futebol carioca ...................................................... 238

Pode a arquibancada ser delas? reflexões sobre a presença de mulheres nos estádios ...... 243

O estádio monumental: o Maracanã enquanto patrimônio histórico cultural brasileiro


(1983-2000)........................................................................................................................ 248

Estádios de futebol no Centro-Oeste: história em quatro fases ......................................... 253

Imaginário e representação: o choque do novo Mararacanã para o torcedor .................... 259

“Domingo eu vou ao Maracanã”: pertencimento(s) e rivalidade(s) em palco neutro ........ 264

Novo Maracanã: arenização e o embate entre novas e velhas formas de torcer ................ 269

A necessidade de representação do ato torcedor no programa midiático futebol durante


o “novo normal” do esporte mercantilizado ...................................................................... 274

A influência da pandemia de COVID-19 no desempenho das equipes mandantes do


campeonato alemão de futebol........................................................................................... 278

Estádios x Covid-19: uma nova forma de torcer ............................................................... 283

Modelos de segmentação de consumidores de esporte: revisão de literatura e estudos de


caso de torcedores de futebol ............................................................................................. 288

Raiz e nutela no gramado da ciberculta ............................................................................. 293

O novo processo de empresarização dos clubes de futebol no brasil: elementos para uma
análise crítica ..................................................................................................................... 298
Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte
Seminário #Maraca70: Mídia, Memória e Patrimônio – 2020

GT2
Mídia, esporte e
representação

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GT2 - Mídia, esporte e representação

DO MONOPÓLIO DAS TRANSMISSÕES AO MONOPÓLIO DA


MEMÓRIA: COMO A REDE GLOBO PREENCHEU SUA GRADE
FUTEBOLÍSTICA DURANTE A PANDEMIA
Alexandre Vinicius Nicolino Maciel1

Resumo
Todo brasileiro em algum momento de sua vida já ouviu o célebre: “Acabou! Acabou!
É tetra! É tetra! É tetra!”, proferido por Galvão Bueno no estádio Rose Bowl. Goste
ou não de futebol, não se pode negar que o famoso grito é um símbolo nacional, há
quem não conheça as palavras ditas por Dom Pedro I às margens do Ipiranga ou no
“dia do Fico”, mas o “grito do Tetra” o país inteiro conhece, reconhece, faz meme e o
propaga para o mundo, pois guardadas as devidas proporções, fora tão libertador
quanto o ato da Independência. Ao analisar como as transmissões da Rede Globo
tornaram-se símbolo da memória nacional, apontaremos como a emissora se utilizou
delas durante o isolamento social para firmar sua posição em tempos de contestação
ao seu poder.
Palavras-chave: Memória Nacional. Galvão Bueno. Rede Globo. Monopólio.
Contestação.

Introdução
O Grupo Globo detém desde 1999 os direitos de transmissão da Copa do Mundo FIFA
e das outras competições organizadas pela entidade máxima do futebol, tanto na TV aberta,
quanto na TV fechada, no mesmo ano obteve o monopólio das partidas da seleção brasileira
junto à CBF. Desde então, Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno, narrador principal da
emissora desde 1985, é a voz da seleção brasileira nas transmissões televisivas, tendo em
pouquíssimas oportunidades algum concorrente ou substituto. Essa exclusividade se estende
para as competições de clubes, onde o monopólio da emissora carioca já dura décadas, criando
uma relação íntima entre o ato de torcer e as transmissões da emissora, mais ainda com a própria
figura de Galvão Bueno, pois além das partidas da seleção brasileira e das finais de Copa do
Mundo, o narrador sempre é escalado para transmitir as principais partidas dos clubes
brasileiros, geralmente finais continentais ou mundiais, mas também em jogos importantes nas
competições nacionais, assim, pode-se dizer que voz de Galvão se confunde com as conquistas
nacionais.

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Alexandre Vinicius Nicolino Maciel, graduando em História (UFRRJ), alexandrevinicius1996@gmail.com .

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Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte
Seminário #Maraca70: Mídia, Memória e Patrimônio – 2020

Desenvolvimento
O poder da Rede Globo é longo dentro da história brasileira e nuca se limitou à
comunicação, sendo uma das mídias que apoiou o golpe em 1964, foi a principal emissora a se
beneficiar do regime empresarial-militar. Seu poder já fora questionado inúmeras vezes por
emissoras concorrentes, políticos ou pela própria sociedade, independente do viés ideológico,
e sempre a TV dos Marinhos se manteve de pé. Todavia, o movimento contemporâneo de
ascensão da extrema direita brasileira tem sido marcado pela contestação, perseguição e
tentativas de boicote à emissora, o próprio presidente da República por inúmeras vezes destilou
ofensas e ameaças ao grupo. Unido a esse ambiente, a emissora vê movimentações externas
para romper seu monopólio, além de emissoras concorrentes, clubes abraçaram esse
movimento visando maiores valores nas vendas dos direitos de transmissão, o CR Flamengo
foi o principal deles ao não assinar o contrato de transmissão para o Campeonato Carioca de
2020.
Em março, quando os estados brasileiros passaram a adotar o isolamento social, o
futebol parou e os tradicionais horários de quarta após a novela das 21h e domingo às 16h se
viram vagos, inicialmente foram ocupados por filmes. Porém, no dia 12 de abril, domingo de
Páscoa, seguindo o exemplo do que já fazia no seu canal esportivo privado, o grupo Globo
decidiu transmitir jogos marcantes da história do futebol brasileiro. Mas diferente do que
ocorria no SporTV, que adotou dois modelos de transmissão das reprises, o primeiro nomeado
por SporTV Retrô que reexibia partidas com suas transmissões originais durante grande parte
do dia, o segundo, no horário nobre, recebeu o nome Faixa Especial e reunia narradores e
comentarista da casa para dar uma nova roupagem a jogos marcantes do futebol, em sua maioria
partidas da seleção brasileira em Copas do Mundo ou competições que resultaram em títulos
da seleção canarinho. A emissora do Jardim Botânico decidiu unir os dois modelos, do estúdio
uma dupla composta por um narrador e um comentarista conduzia o programa, Galvão Bueno
participava de casa, assim como personagens da partida participavam por meio de chamadas
de vídeo ou por depoimentos gravados, quando a bola rolava, a transmissão era original, o que
transportava o telespectador para o dia do jogo.
A partida escolhida para o primeiro domingo foi a final da Copa do Mundo de 2002, a
vitória contra a Alemanha em Yokohama deu à camisa brasileira a quinta estrela e ficou
marcada pelo sonoro “RRRRRRRonaldinho” proferido por Galvão a cada gol do Fenômeno.
Nesse mundial, somente o grupo Globo transmitiu os jogos para o Brasil e a emissora obteve
o recorde de telespectadores em uma transmissão televisiva com a partida semifinal contra a

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GT2 - Mídia, esporte e representação

Turquia. As reprises da seleção se seguiram por mais quatro semanas, os jogos recordados eram
das mais variadas competições, a dupla de apresentadores sofreu alterações, mas Galvão Bueno
se mantinha como voz única a vender emoções. Além do penta, foram retransmitidas as finais
da Copa das Confederações de 2005 com a goleada sobre a Argentina e de 2013 contra a
Espanha, a partida do Tetra contra a Itália em 1994 e a final feminina dos Jogos Pan-americanos
de 2007. As reprises mantiveram a liderança da emissora no IBOPE, mesmo que alguns jogos
tenham sido aquém das expectativas, as partidas da seleção masculina registraram uma média
maior do que a alcançada na última partida da seleção nacional, o amistoso contra a Coréia do
Sul em novembro de 2019.
Após transmitir os jogos da seleção nacional, a Rede Globo preparou para os quatro
domingos seguintes, transmissões históricas dos clubes brasileiros, obedecendo a regionalidade
partidas marcantes das principais equipes de Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio
Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Ceará e Paraná foram transmitidas para o público local, os
Estados que não receberam partidas locais acompanharam reprises do Eixo Rio-SP. Num total
de vinte e sete partidas transmitidas, doze foram narradas originalmente por Galvão Bueno,
esse número seria de treze caso uma arritmia não o impossibilitasse de narrar a final da
Libertadores de 2019. O narrador que teve mais transmissões reprisadas depois de Galvão foi
Cleber Machado com quatro transmissões.

Resultados esperados ou conclusão


Ao reprisar partidas que marcam glórias do futebol brasileiro a Rede Globo buscou se
utilizar dessas vitórias para ligar a sua imagem aos êxitos nacionais, em tempos de contestação
ao se utilizar da voz do seu principal narrador, a emissora tentou captar as memórias causadas
por sua voz e seus tradicionais bordões em torno de sua imagem como principal comunicadora
do país. A campanha se faz ainda mais necessária após a MP que altera os direitos de
transmissão no Brasil assinada por Bolsonaro durante a pandemia. Mais do que nunca, a
emissora precisa (re)captar seu telespectador em torno de um consenso em si mesma e nada
melhor do que relacionar momentos de alegria às suas transmissões. Nas comemorações aos
setenta anos de Galvão Bueno, a emissora evidenciou que sua voz embalou as mais variadas
conquistas do esporte nacional nas últimas décadas. Do futebol ao vôlei, do automobilismo ao
atletismo, se Galvão esteve lá a Globo também estava, e ao monopolizar as emoções,
monopoliza também as memórias.

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