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2021
Anais IV Seminário LEME
#maraca70: Mídia, Memória e Patrimônio
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Reitor da Uerj
Ricardo Lodi Ribeiro
Vice-reitor da UERJ
Mário Sérgio Carneiro
Rio de Janeiro
2021
© 2021 – IV Seminário LEME
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Inclui bibliografias.
ISBN: 978-65-995193-0-7
CDU 796.33
Instalações esportivas e (re)qualificação das cidades sedes dos jogos olímpicos de verão
– 1960 a 1976 ....................................................................................................................... 19
Ditadura e futebol na América do Sul: o Rio da Prata entre a gloria e a opressão ............ 120
Os jogos bolivarianos de 1938 na imprensa colombiana: um olhar para a nação ............. 125
João sem Medo: a cobertura jornalística do Jornal dos Sports na contratação e demissão
do treinador da seleção brasileira ....................................................................................... 162
Do Maracanã a Sarrià: Jornal dos Sports e Revista Placar nas publicações imediatamente
após as derrotas em 1950 e 1982 ....................................................................................... 182
Os dois 16: nos seus 70 anos, Maracanã continua associado à glória e à tragédia ............ 187
Maracanã como redenção: a Copa América de 1989 na visão do Jornal dos Sports e da
Revista Placar .................................................................................................................... 192
O projeto de construção do Estádio Municipal do Rio de Janeiro nos anos 1940: para o
desporto carioca, para o progresso da cidade..................................................................... 198
“Cai ou não cai?”: a Revista do Esporte e as obras do maracanã no início dos anos 1960
............................................................................................................................................ 203
GT3 – Estádios, arena e modos de torcer
Menos democracia, mais Copa do Mundo: interações da Fifa com o Estado Brasileiro
em 1950 e 2014 .................................................................................................................. 220
Polícia para quem precisa de polícia: segurança pública e as mudanças promovidas pela
expansão do processo de elitização nos estádios ............................................................... 226
Quem é este que nega o novo? Breves considerações sobre o sujeito discursivo que nega
o futebol moderno: uma análise de dizeres ........................................................................ 233
Pode a arquibancada ser delas? reflexões sobre a presença de mulheres nos estádios ...... 243
Novo Maracanã: arenização e o embate entre novas e velhas formas de torcer ................ 269
O novo processo de empresarização dos clubes de futebol no brasil: elementos para uma
análise crítica ..................................................................................................................... 298
Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte
Seminário #Maraca70: Mídia, Memória e Patrimônio – 2020
GT2
Mídia, esporte e
representação
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GT2 - Mídia, esporte e representação
Resumo
Todo brasileiro em algum momento de sua vida já ouviu o célebre: “Acabou! Acabou!
É tetra! É tetra! É tetra!”, proferido por Galvão Bueno no estádio Rose Bowl. Goste
ou não de futebol, não se pode negar que o famoso grito é um símbolo nacional, há
quem não conheça as palavras ditas por Dom Pedro I às margens do Ipiranga ou no
“dia do Fico”, mas o “grito do Tetra” o país inteiro conhece, reconhece, faz meme e o
propaga para o mundo, pois guardadas as devidas proporções, fora tão libertador
quanto o ato da Independência. Ao analisar como as transmissões da Rede Globo
tornaram-se símbolo da memória nacional, apontaremos como a emissora se utilizou
delas durante o isolamento social para firmar sua posição em tempos de contestação
ao seu poder.
Palavras-chave: Memória Nacional. Galvão Bueno. Rede Globo. Monopólio.
Contestação.
Introdução
O Grupo Globo detém desde 1999 os direitos de transmissão da Copa do Mundo FIFA
e das outras competições organizadas pela entidade máxima do futebol, tanto na TV aberta,
quanto na TV fechada, no mesmo ano obteve o monopólio das partidas da seleção brasileira
junto à CBF. Desde então, Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno, narrador principal da
emissora desde 1985, é a voz da seleção brasileira nas transmissões televisivas, tendo em
pouquíssimas oportunidades algum concorrente ou substituto. Essa exclusividade se estende
para as competições de clubes, onde o monopólio da emissora carioca já dura décadas, criando
uma relação íntima entre o ato de torcer e as transmissões da emissora, mais ainda com a própria
figura de Galvão Bueno, pois além das partidas da seleção brasileira e das finais de Copa do
Mundo, o narrador sempre é escalado para transmitir as principais partidas dos clubes
brasileiros, geralmente finais continentais ou mundiais, mas também em jogos importantes nas
competições nacionais, assim, pode-se dizer que voz de Galvão se confunde com as conquistas
nacionais.
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Alexandre Vinicius Nicolino Maciel, graduando em História (UFRRJ), alexandrevinicius1996@gmail.com .
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Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte
Seminário #Maraca70: Mídia, Memória e Patrimônio – 2020
Desenvolvimento
O poder da Rede Globo é longo dentro da história brasileira e nuca se limitou à
comunicação, sendo uma das mídias que apoiou o golpe em 1964, foi a principal emissora a se
beneficiar do regime empresarial-militar. Seu poder já fora questionado inúmeras vezes por
emissoras concorrentes, políticos ou pela própria sociedade, independente do viés ideológico,
e sempre a TV dos Marinhos se manteve de pé. Todavia, o movimento contemporâneo de
ascensão da extrema direita brasileira tem sido marcado pela contestação, perseguição e
tentativas de boicote à emissora, o próprio presidente da República por inúmeras vezes destilou
ofensas e ameaças ao grupo. Unido a esse ambiente, a emissora vê movimentações externas
para romper seu monopólio, além de emissoras concorrentes, clubes abraçaram esse
movimento visando maiores valores nas vendas dos direitos de transmissão, o CR Flamengo
foi o principal deles ao não assinar o contrato de transmissão para o Campeonato Carioca de
2020.
Em março, quando os estados brasileiros passaram a adotar o isolamento social, o
futebol parou e os tradicionais horários de quarta após a novela das 21h e domingo às 16h se
viram vagos, inicialmente foram ocupados por filmes. Porém, no dia 12 de abril, domingo de
Páscoa, seguindo o exemplo do que já fazia no seu canal esportivo privado, o grupo Globo
decidiu transmitir jogos marcantes da história do futebol brasileiro. Mas diferente do que
ocorria no SporTV, que adotou dois modelos de transmissão das reprises, o primeiro nomeado
por SporTV Retrô que reexibia partidas com suas transmissões originais durante grande parte
do dia, o segundo, no horário nobre, recebeu o nome Faixa Especial e reunia narradores e
comentarista da casa para dar uma nova roupagem a jogos marcantes do futebol, em sua maioria
partidas da seleção brasileira em Copas do Mundo ou competições que resultaram em títulos
da seleção canarinho. A emissora do Jardim Botânico decidiu unir os dois modelos, do estúdio
uma dupla composta por um narrador e um comentarista conduzia o programa, Galvão Bueno
participava de casa, assim como personagens da partida participavam por meio de chamadas
de vídeo ou por depoimentos gravados, quando a bola rolava, a transmissão era original, o que
transportava o telespectador para o dia do jogo.
A partida escolhida para o primeiro domingo foi a final da Copa do Mundo de 2002, a
vitória contra a Alemanha em Yokohama deu à camisa brasileira a quinta estrela e ficou
marcada pelo sonoro “RRRRRRRonaldinho” proferido por Galvão a cada gol do Fenômeno.
Nesse mundial, somente o grupo Globo transmitiu os jogos para o Brasil e a emissora obteve
o recorde de telespectadores em uma transmissão televisiva com a partida semifinal contra a
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GT2 - Mídia, esporte e representação
Turquia. As reprises da seleção se seguiram por mais quatro semanas, os jogos recordados eram
das mais variadas competições, a dupla de apresentadores sofreu alterações, mas Galvão Bueno
se mantinha como voz única a vender emoções. Além do penta, foram retransmitidas as finais
da Copa das Confederações de 2005 com a goleada sobre a Argentina e de 2013 contra a
Espanha, a partida do Tetra contra a Itália em 1994 e a final feminina dos Jogos Pan-americanos
de 2007. As reprises mantiveram a liderança da emissora no IBOPE, mesmo que alguns jogos
tenham sido aquém das expectativas, as partidas da seleção masculina registraram uma média
maior do que a alcançada na última partida da seleção nacional, o amistoso contra a Coréia do
Sul em novembro de 2019.
Após transmitir os jogos da seleção nacional, a Rede Globo preparou para os quatro
domingos seguintes, transmissões históricas dos clubes brasileiros, obedecendo a regionalidade
partidas marcantes das principais equipes de Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio
Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Ceará e Paraná foram transmitidas para o público local, os
Estados que não receberam partidas locais acompanharam reprises do Eixo Rio-SP. Num total
de vinte e sete partidas transmitidas, doze foram narradas originalmente por Galvão Bueno,
esse número seria de treze caso uma arritmia não o impossibilitasse de narrar a final da
Libertadores de 2019. O narrador que teve mais transmissões reprisadas depois de Galvão foi
Cleber Machado com quatro transmissões.
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