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• Introdução ao Livro
História da Vida Privada, obra idealizada por Michel Winock1, que inspirou
Phillipe Ariès2 e Georges Duby3 que durante o período em que estiveram na
EHESS (École des Hautes Études en Sciences Sociales), reuniram textos de
diversos autores renomados, que resultaram em cinco volumes (volume 1: Do
império romano ao ano mil; volume 2: Da Europa feudal à renascença; volume
3: Da renascença ao século das luzes; volume 4: Da revolução francesa à
primeira guerra; volume 5: Da primeira guerra a nossos dias), lançados na
França pela Editions Du Seuil, em 1986 (dois anos após a morte de Ariés), e no
Brasil pela Cia das Letras, em 1989. E em 2009 com o Apoio do Ministério
Francês da Cultura, em virtude do ano da França no Brasil4, foi suprimido para
uma edição de bolso. Possui uma ampla análise das instituições privadas ao
longo da História Ocidental e Oriental Europeia.
Comissariado Geral Francês, pelo Ministério das Relações Exteriores e Europeias pelo
Ministério da Cultura e da Comunicação e por Culturesfrance; no Brasil, pelo Comissariado
Geral Brasileiro, pelo Ministério da Cultura e pelo Ministério das Relações Exteriores, tinha o
objetivo de aprofundar as relações entre os dois países, no âmbito cultural, acadêmico e
econômico.
5 Paul Marie Veyne (Aix-en-Provence, 13 de junho de 1930), renomado arqueólogo e
historiador.
respectivamente. “ O livro reúne ensaios que examinam a vida cotidiana de
cidadãos e escravos, senhores e servos – sua sexualidade, o casamento, a
família, as diversas formas de moradia, as atitudes religiosas e as práticas
funerárias. Acrescidos de ilustrações, os textos compõem em seu conjunto um
fascinante panorama do aparecimento e das transformações da esfera privada,
dando um quadro dos comportamentos individuais e sociais no período
abordado”.6
• Autores
Peter Brown
6Livraria Cultura. História da Vida Privada: do Império Romano ao ano Mil. Disponível em:
<www.livrariacultura.com.br/p/livr.os/historia-da-vida-privada-v1-edicao-de-bolso-2745816 >.
Acesso em 22 junho 2017
Da qual se destacam os títulos: Agostinho de Hipona: uma biografia e O culto
dos santos: a sua ascensão e a sua função no cristianismo latino.
Michel Rouche
2. CONTEXTO DO DOCUMENTO:
Vida Privada
Contudo, é-nos também evidente esse conceito por toda a extensão dos
capítulos observados neste trabalho. Cabe citar, para enfatizar as mudanças
ocorridas ao longo do tempo, o que Duby (2009, p.9) também diz no prefácio já
citado: “Traços da vida privada se transformam incessantemente”. Logo, pode-
se traçar aqui as diferenças, não entre os autores, mas dos relatos feitos por eles
nos capítulos II e IV, pois os espaçamento temporal e local descritos por eles
influenciará no modus vivendi dos homens nas épocas já mencionadas.
Logo, deixa-se inferido, com esse trecho, que o homem da Antiguidade Tardia
não prevê e não consegue abster-se do ambiente público e da influência desses
meios em sua vida. Tal afirmação anacrónica não deve ser levada em
consideração.
Entretanto, voltando o olhar para o capítulo IV, escrito por Michel Rouche, nota-
se a modificação do ambiente público pela presença dos recém-chegados que
por sua vez possuíam diferentes forma de se estabelecer na Alta Idade Média
Ocidente. Trabalhando com visigodos, burgúndios, carolíngios, merovíngios e
outros povos chamados vulgarmente de bárbaros, o autor traçará diferenças
entre eles e será visível uma diferenciação para como os dois capítulos aqui
observados. Enquanto o autor do capítulo II enfoca na Antiguidade Tardia e
estende-se do Ocidente ao Oriente, o segundo relatará a vida privada já sob
maior influência dos povos bárbaros.
RELIGIÃO
Contudo, a igreja firma-se com sua moral religiosa por meio de uma
extraordinária importância da concepção dada a três temas: o pecado, a pobreza
e a morte, cujos conceitos relacionavam-se com o homem medieval, o qual
acarreta em uma maior aceitação e adequação desses para com os
ensinamentos religiosos dados a esses temas.
Posto isso, através desse trecho pode-se observar não só uma indiferença para
com a morte, mas um pudor para com a coabitação entre os casais que,
10Médico e filósofo romano de origem grega. Talvez o mais talentoso médico investigativo do
período romano
assegurando uma determinada moral religiosa se aproximaram da Igreja por
meio de seus ensinamentos que na verdade provêm de uma apropriação do que
era pagão ou judaico como dito anteriormente.
Doutra forma, tomando partido para o capítulo IV denominado Alta Idade Média
Ocidental, escrito por Michel Rouche, deve-se mencionar que o mesmo,
especialista em “povos bárbaros”, partirá da helenização da Alta Idade Média
para traçar aspectos relativos à vida privada neste período.
Com relação ao Monastério, esse passou a ser mais aceito “como espaço de
paz e trampolim para a eternidade” (ROUCHE, 2009, p. 422). O mesmo também
foi essencial em alguns aspectos para com o estrangeiro. Devendo ser esse local
“construído, se possível, de tal forma que todo o necessário – quer dizer, a água,
o moinho, o jardim e os vários ofícios – funcione no interior do mosteiro, de modo
que os monges não sejam obrigados a correr para todos os lados lá fora, pois
não é bom para a sua alma” (ROUCHE, 2009, p. 422), esse local passa a ser o
ponto de refúgio para os que vêm de longe. O que de certa forma é primordial
para o assentamento de uma comunidade defendida por Bento de Nursia.
Com relação aos Eremitas, Michel Rouche relata que a doutrina de Bento
permanecia crítica (2009, p. 423) “o isolamento nada tem da misantropia feroz
do homem superior que despreza a podridão moral dos seus contemporâneos”.
Esse isolamento seria perigoso, pois vivendo sozinho não seria protegido por um
espírito familiar vigente neste período.
HIERARQUIA
A sociedade medieval era bem hierarquizada como nos mostrou o livro. Seja na
questão de gênero, seja no poder econômico ou em sua nacionalidade "Seja
qual for a cidade, o fato fundamental da sociedade do Império Romano é a
convicção de que existe uma distância social intransponível entre os notáveis
"bem-nascidos" e seus inferiores." (BROWN, 2009, p.216)
O trecho na página 252, Peter Brown relata momentos em que o grupo cristão
se distancia das noções hierárquicas para alcançar seu princípio de igualdade
perante os próprios fiéis:
Às vezes a hierarquia do saeculum e a igualdade perante o
pecado se chocam, e as consequências são memoráveis: em
Cesareia, Basílio recusa as oferendas do imperador herético
Valente; em Milão, Ambrósio coloca o imperador Teodósio no
meio dos penitentes — o senhor do mundo despojado de seu
manto e do diadema — por haver ordenado o massacre da
população de Tessalônica.
MORAL
CULTURA
Uma das questões mais abordadas no livro trata-se sobre a cultura da sociedade
europeia, por volta de oito séculos (especificamente no capítulo 2 do II ao V
século e no capítulo 4 do V ao VIII século) . Em Roma a cultura e até mesmo a
religião derivaram quase inteiramente dos gregos, ou seja, Roma não era menos
helenizada que outras cidades. Os códigos de comportamento eram também
muito importantes, pois estes se referiam ao corpo, no entanto, as roupas da
época antonina não tinham tanta importância quanto nas épocas posteriores.
Porém, durante o reinado de Constantino e seus sucessores, houve uma grande
mudança nos códigos de conduta, a veste passa a ter grande importância e é
utilizada para enaltecer a importância da hierarquia; como o autor relata no
trecho a seguir:
A veste discreta e uniforme da época clássica, comum a todos
os membros das classes superiores- a toga de harmonioso
drapeado, símbolo da dominação inconteste de uma classe de
nobres intercambiáveis-, é abandonada em favor de uma roupa
concebida como uma heráldica, criada para expressar as
divisões hierárquicas no seio das classes superiores. ”
(BROWN, 2009, p. 246)
O vinho era uma das bebidas principais, pois o vinho era o único tônico que
estava à disposição de todos. A comilança não era um privilégio dos ricos, era
para todos, até mesmo os escravos participavam. Não se trata de um
comportamento comum somente a sociedade merovíngia, mas também a da
época carolíngia. Havia recomendações para a alimentação dos monges, pois
os mesmos necessitavam de uma alimentação diferenciada.
São Columbano – que recomendava a seus monges comer
“raízes [nabos, rabanetes etc.], legumes secos, farinha cozida
com um pequeno biscoito, para que o estômago não pesasse e
o espírito não se asfixiasse [...] Em média cada monge consome
por dia 1,7 quilos de pão (mas cada monja, 1,4 quilos),1,5 litros
de vinho ou cerveja, de setenta a cem gramas de queijo e um
purê de lentilhas ou grão-de-bico de 230 gramas (133 para as
monjas).
A alimentação dos homens e mulheres desta época era o dobro do que hoje
consideramos necessário a uma pessoa de atividade média e um terço a mais
do que trabalhadores braçais precisam. Eles entendiam que somente pratos
pesados e muito exagerados poderiam alimentar de uma forma mais resistente.
No total, as rações chegavam a 9 mil calorias.
Tratava-se de um regime normal, e os camponeses,
trabalhadores braçais, também o praticavam. Pois quando havia
festa, todos se excediam. [...] demandavam longas digestões
acompanhadas de sestas, arrotos e flatulências expressas de
maneira mais sonora possível, pois constituíam prova de boa
saúde e de deferência ao anfitrião. ” (ROUCHE, 2009, p. 435)
Esses banquetes não tinham nada de luxuosos, eles não eram nada mais do
que uma grande comilança, uma luta contra a sensação de fome sempre
presente por causa da falta de bons hábitos alimentares. Alguns deles tinham
uma espécie de raiva dos médicos, já que os mesmos lhe proibiam de comer as
carnes assadas, pelo fato de que estavam com algum tipo de doença sanguínea.
A causa inevitável dessas comilanças pantagruélicas era
um pressuposto religioso pagão reforçado pelo
cristianismo. [...] ademais, comer muito garantia a força
genética e geradora. Destinadas a assegurar a salvação
física e espiritual da família carolíngia, essas fabulosas
comezainas, acompanhadas de orações obrigatórias,
consolidavam a estabilidade dos reis e perenizavam a
sucessão. (ROUCHE, 2009, p. 436)
Na época, suas mentalidades não permitiam diferenciar a mente do corpo,
portanto, pensavam que a barriga estufada dos monges correspondia ao ventre
cheio da rainha.
Esse verdadeiro culto do excesso alimentar próprio de homens
e mulheres que só sabem experimentar sensações fortes
desaparece ao longo do século X nas refeições diárias, porém
os banquetes que duravam dois ou três dias continuaram
existindo. (ROUCHE, 2009, p. 436)
SEXUALIDADE
11 VEYNE, Paul. O Império Romano. In: ARIÈS, Philippe; Duby, Georges (Orgs). História da
Vida Privada – Do Império Romano ao ano mil. São Paulo: Schwarcz, 2009. p. 43-44;
12 Evangelho de Lucas, capitulo 5, versículos de 9 ao 11;
sobre o celibato sacerdotal é publicada, sob a rubrica Sobre os bispos e ministros
(do altar) que devem ter continentes com suas esposas:
Se está de acordo sobre a proibição total, válida para bispos,
sacerdotes e diáconos, ou seja, para todos os clérigos dedicados
ao serviço do altar, que devem se abster de suas esposas e não
gerar filhos; quem fizer isso deve ser excluído do estado
clerical.13 (Cânon 33)
MULHER
A obra apresenta como eram vistas, como suas atitudes eram julgadas e qual
era sua importância no âmbito social.
15O batismo por imersão seguia o modelo utilizado por João Batista, descrito nos evangelhos,
esse se dava através do mergulho total do batizado na água;
"As 'criaturinhas' podiam fazer o que quisessem desde que não interferissem no
jogo sério da política masculina." (BROWN, 2009, p. 223)
Um objeto de análise que traduz bem essa questão que está no capítulo 4 que
é a pergunta que Michel Rouche faz na página 442; "O corpo feminino, portanto,
constituiu um tabu? Por quê?" Podemos responder com os fatos apresentados
na obra, como faremos a seguir;
Abordando temas como o corpo feminino, que era um tabu ente os francos, e
como a mulher "corrompida" não valia mais nada na sociedade e como cada
povo tinha uma punição específica para o estupro, o incesto e a mulher adúltera:
• 2.2. Argumentação das hipóteses (pelo autor): de que forma sustenta sua
argumentação.
Os autores sustentam suas afirmações baseados numa vasta fonte
historiográfica relatada no livro, compostas de fontes primárias e grandes obras
especializadas. Cabe ressaltar que os autores, ao abordarem de maneira
superficial uma vasta gama de assuntos, não transparecem sua opinião sobre
os mesmos, deixando a critério do leitor esse juízo.
Os argumentos são concisos e de fácil entendimento do leitor especializado ou
até mesmo leigo. O que de certa forma facilitou a divulgação e sucesso da obra
junto ao público.
Com relação ao primeiro autor pode-se dizer que suas fontes são deveras
religiosas, pois, sendo esse especialista em Agostinho, traçará suas análises a
partir do seu conhecimento. Entretanto, não se limitará a este, mas ampliará com
aspectos de outros escritos, tal como a Bíblia Cristã e a arqueologia. Podendo
ser encontrados trechos como a seguir:
Observador das comunidades cristãs do fim do século II, o
médico Galeno se surpreende com sua austeridade sexual: "Seu
desprezo pela morte a cada dia nos é evidente, assim como sua
moderação em matéria de coabitação. Pois elas se constituem
não só de homens como também de mulheres que durante toda
a vida se abstêm de coabitar; contam-se entre eles igualmente
indivíduos que, pela autodisciplina e pelo autocontrole, se
elevam à altura de autênticos filósofos (p. 238).
França 18
Mais l’histoire de la vie privée est aussi celle d’un conflit permanent avec la
sphère publique, que la montée en puissance de l’Etat moderne depuis le Moyen
Âge a rendue de plus em plus agressive à son egard: perspectives três neuves,
qui invitent le lecteur à une réflexion d’actualité sur les menaces que les
techniques nouvelles font peser sur as propre vie privée. Thomas Ferrier
<https://www.amazon.fr/Histoire-vie-priv%C3%A9e-LEmpire-
romain/dp/2020364174/ref=sr_1_15?s=books&ie=UTF8&qid=1498057297&sr=1-
15&keywords=histoire+de+la+vie/ > Acesso em 21 junho 2017
perspectivas muito novas que convidam o leitor a uma reflexão da atualidade
sobres as ameaças que as técnicas novas fazem pesar sobre sua própria vida
privada.
Reino Unido19
This is a long, demanding and very rewarding book. If the remaining four volumes
are of this quality, the series will indeed, as the editors claim, be “a milestone in
historical research”. Jane F. Gardner “ Times Higher Education Supplement”
Estados Unidos20
The first volume is one of the most arresting, original, and rewarding historical
surveys to be published in many years, and its value is enhanced by the hundreds
of illustrations, which presente almost every conceivable detail of private life as it
was lived in the centuries. Bernand Knox – The Atlantic
19 Amazon. History of pivate life: from pagan Rome to Byzantium. Disponível em:
<https://www.amazon.co.uk/d/Books/History-Private-Life-Pagan-Rome-Byzantium-
Veyne/0674399757/ref=sr_1_8?s=books&ie=UTF8&qid=1498057797&sr=1-
8&keywords=history+of+private+life > Acesso em 21 junho 2017
20Amazon. History of pivate life: from pagan Rome to Byzantium. Disponível em: <
https://www.amazon.com/History-Private-Life-Pagan-
Byzantium/dp/0674399749/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1498058070&sr=1-
1&keywords=history+of+private+life > Acesso em 21 junho 2017
Together these five compact volumes cover much of the history of the classical
world, and do so with both ease and authority. Washington Post Book World
A Book winch makes the reader thnk, teasing and encouraging with spicy details,
long views, a capacity for the unexpected insight. Now for something completely
different. Jasper Griffin – London Review of Books
CONCLUSÃO