Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Fernand Braudel
Grupo 1
Alessandra Campos - Ariel Soares - Bárbara Rodrigues - Bruno Neves
Reflexões sobre Fernand Braudel
Fernand Paul Achille Braudel, nascido em
Luméville-en-Ornois, no dia 24 de agosto de 1902,
e falecido em Cluses no dia 27 de novembro de
1985. Historiador francês, se destacou como
importante membro da chamada Escola dos
Annales introduzindo significativas mudanças nos
métodos historiográficos tradicionais.
Seus estudos se concentraram em três projetos
principais:
O Mediterrâneo
Civilização e capitalismo
e a inacabada identidade da França
A importância de Braudel
● A concepção braudeliana sobre o tempo
● Dialética das durações
● Importância do espaço geográfico para a
historiografia
● Projeto de História Total
“Minha formação de historiador”
Fernand BRAUDEL. “Minha Formação de
Historiador” In: idem. Reflexões sobre a
história. Tradução São Paulo: Martin Fontes,
1992. 3 -31
Primeira Fase Braudeliana - Vocação (1902 - 1927)
Fernand Braudel se formou em História pela Ainda um “aprendiz”, ensinando uma “história
importante Universidade de Sorbonne. Sua factual”:
carreira profissional teve início no continente
“(...) chego aos vinte e um anos como
africano, quando se mudou para Argélia e por
professor de história (...) sou então um
lá residiu durante dez anos.
aprendiz de historiador (...) ensino como
“(...) tinha a impressão de haver vendido milhares de outros, uma história factual (...)”
barato minha vida, de haver escolhido a (pg. 6, 2º§) Repito: sou, então, um historiador
facilidade. A vocação de historiador só mais do acontecimento, da política, das biografias
tarde surgirá em mim.” (pg. 5-6) ilustres.” (pg. 6, 2º§)
O Aprendiz e sua primeira influência
“(...) meu relógio está acertado com a hora de
todo mundo (...)” apegado aos fatos (...) Minha
tese prova essa fidelidade (...) em 1928 (...) ou
minha comunicação, em Argel, 1930, ao
Congresso De Ciências Históricas (...) (...) o
que me deu a oportunidade de rever meus
mestres e conhecer Henri Berr, (...) (pg. 7)
Henri Berr - O Mestre
Nascido em 31 de janeiro de 1863 em
Luneville (Meurthe-et-Moselle), morto em 19
de novembro 1954 em Paris, é um filósofo
francês, fundador do Jornal de síntese
histórica (1900),
Segunda Fase Braudeliana - Nova História (1927 - 1937)
“(...) DE 1940 A 1945, sou prisioneiro na (...) Foi no cativeiro que escrevi essa enorme
Alemanha (...) a prisão pode ser uma excelente obra (...) sim, contemplei, cara a cara, durante
escola. Ela ensina a paciência e a tolerância. anos, longe de mim no espaço e no tempo, o
Mas o que de fato me fez companhia durante Mediterrâneo (...) e minha visão da história
esses longos anos, o que me “distraiu”, no tomou, então, sua forma definitiva (...)” (pg.
sentido etimológico da palavra, foi o 12)
Mediterrâneo.
Longue Durée, a Longa Duração
“(...) Abaixo o acontecimento, sobretudo o (...) Foi assim que me pus conscientemente em
acontecimento contrariante. Eu precisava busca da linguagem histórica mais profunda
acreditar que a história e o destino se que eu podia aprender ou inventar: o tempo
escreviam em muito maior profundidade. imóvel, ou pelo menos de lentíssimo
Escolher o observatório do tempo longo, era desenrolar, obstinado em repetir-se. (...) várias
escolher como refúgio, a própria posição de linhas temporais diferentes, indo do imóvel á
Deus Pai (...)” brevidade do acontecimento. (...) (pg. 12)
Assim, nasce a grande obra!
Esquema Tripartido do Tempo Braudeliano
1 - O primeiro nível de tempo, o tempo A mudança nesse nível é muito mais rápida do
geográfico, é o do meio ambiente, com sua que no meio ambiente; Braudel analisa dois ou
mudança lenta, quase imperceptível, sua três séculos para localizar um padrão
repetição e seus ciclos. Essa mudança pode ser específico, como a ascensão e queda de várias
lenta, mas é irresistível. aristocracias.
2 - O segundo nível de tempo incluiu história 3 - O terceiro nível de tempo é o dos eventos.
social, econômica e cultural de longo prazo, Esta é a história de indivíduos com nomes.
onde Braudel discute a economia Este, para Braudel, é o tempo das superfícies e
mediterrânea, agrupamentos sociais, impérios dos efeitos enganosos. É o tempo do "curto
e civilizações. prazo" propriamente dito
Quarta Fase Braudeliana - Annales (1949-1968)
Os Annales surgiram de encontros
organizados por Henri Berr entre filósofos,
sociólogos, historiadores, geógrafos, juristas e
matemáticos docentes da Universidade de
Estrasburgo, cidade a nordeste da França,
região da Alsácia, que buscavam refletir sobre
temas de filosofia e orientalismo, história das
religiões e história social. (SANTOS; FOCHI;
SILVA, 2012, p. 91).
A Criação da Revista
Os Annales começaram como uma revista de Os colaboradores dos Annales assumiram o
seita herética. ‘É necessário ser herético’, esforço de ampliar as fontes e os métodos, ir
declarou Febvre em sua aula inaugural, além dos textos; incluir estatísticas,
Oportet haereses esse (Febvre, 1953, p.16). referências da linguística, da psicologia, da
Depois da guerra, contudo, a revista numismática, da arqueologia, demonstrar
transformou-se no órgão oficial de uma “igreja interesse pela natureza, pela paisagem, pela
ortodoxa”. Sob a liderança de Febvre os população, demografia, pelas relações de
revolucionários intelectuais souberam troca, pelos costumes, rejeitar o factual em
conquistar o establishment histórico francês. O benefício da abordagem e compreensão da
herdeiro desse poder seria Fernand Braudel. longa duração (SANTOS; FOCHI; SILVA.
(BURKE, 1991, p. 30.) 2012. p. 92).
Os Annales e a História na Época de Braudel
Braudel dirige os Annales entre 1946 e 1968 e Foi o momento em que os estudiosos lançam mão
este período é marcado pelo tema das de conceitos, abordagens e métodos oriundos da
civilizações e temas demográficos. Constitui- demografia, etnologia, história regional,
se como escola, ao aportar conceitos (estrutura geografia, relações sociais, ciência política;
e conjuntura) e métodos (história serial das visavam recuperar a globalidade dos fenômenos
humanos, numa perspectiva de movimento rumo
mudanças na longa duração) definidos.
à totalidade do social. consolidava-se assim o
(PORTO, 2010, p. 133).
método comparativo, que versou sobre o tempo
mais longo e maiores extensões de espaço, ou
seja, preconizavam a longa duração. (SANTOS;
FOCHI; SILVA. 2012. p. 97).
O “Império Braudeliano”
Braudel tornou-se o líder da “segunda geração” Em 1962 ele e Gaston Berger usaram a
de historiadores dos Annales após 1945. Em garantia da Fundação Ford e fundos do
1947, com Febvre e Charles Morazé, obteve governo para criar uma nova fundação
financiamento da Fundação Rockefeller, em independente, a "Fondation Maison des
Nova York e fundou a prestigiosa Sixième Sciences de l'Homme" (FMSH), e que Braudel
Section, para "Economia e Ciências Sociais" na dirigiu a partir de 1970 até à sua morte. A
"École pratique des hautes études".
FMSH focou as suas atividades em disseminar
Em 1949, Braudel foi eleito para o "Collège de a abordagem dos Annales à Europa e ao
France" diante da aposentadoria de Febvre. Co- mundo. Aposentou-se em 1968.
fundou o jornal acadêmico "Revue économique"
em 1950.
Braudel e seus inimigos
Braudel desempenha agora um papel de Enquanto os conservadores, liderados por
coordenação, porque as ciências humanas estão, Labrousse, o consideram um marxista, o que,
depois da guerra, divididas entre o de certo ponto de vista, não é falso, no sentido
conservadorismo e o comunismo. Situa-se, junto de que Marx faz parte de sua bagagem
com os Annales, em meio a essas correntes intelectual, e que em alguns Braudel se
intelectuais. utilizou do marxismo, em particular para
Para os comunistas, liderados por Althusser os enfrentar alguns dos problemas de longo prazo
Annales são considerados social-democratas (o que requerem a união das diferentes ciências
que na época equivalia a um insulto). Eles humanas.
reprovam Braudel por sua visão muito
permanente da História;
Formando o seu Exército
Em resposta, Braudel se esforça para lançar Agora equipado com influência internacional
toda uma geração de pesquisadores que (ele foi, por exemplo, o primeiro acadêmico
garantirá a continuidade dos Annales. Eles são não comunista a viajar para a URSS), Braudel
Jean-Pierre Vernant, Emmanuel Leroy- testemunhou a efervescência estruturalista da
Ladurie, Georges Duby, Jacques Le Goff, década de 1960. Embora pautados nos
Robert Philippe, François Furet. Mas ele Annales, estruturalistas como Jacques Derrida
também vê além da história e também integra e Claude Lévi-Strauss, gradualmente se
Roland Barthes e Jacques Lacan, entre outros, distinguiram da influência braudeliana. Paul
na 6ª seção. Ricoeur, por exemplo, censura Braudel por
ainda obedecer demais, no Mediterrâneo ..., às
regras de contar histórias (Ricoeur 1991).
O Império começa a ruir...
De todos os estruturalistas, em busca de onde
reside a liberdade humana em relação às
estruturas, quem mais se distancia de Braudel
é Michel Foucault. Em seus dois livros, Les
mots et les choses (1966) e Archéologie du
savoir (1969), ele ataca os longos períodos de
Braudel. Segundo ele, não apresentam
movimentos suficientes, não apresentam
revoluções suficientes.
As Duas Facções
Michel Foucault quer, ao contrário da Gradualmente, duas correntes emergem. Uma
abordagem de Braudel, insistir em rupturas e delas vai para uma história das mentalidades
rupturas. Ele teve, de fato, uma influência (encarnada por Jacques Le Goff e Georges
muito grande entre os alunos da Sorbonne, e Duby), enquanto a outra, por reação, tende a
os problemas de Braudel são, portanto, cada uma abordagem antropológica nos estudos de
vez menos praticados nas ciências humanas. História ( Chartier, Bourdier e Certeau). Essas
Essa corrente estruturalista começa a ganhar duas tendências são, portanto, muito diferentes
influenciar até mesmo entre as fileiras do das perspectivas de Braudel, que na época
exército braudeliano. trabalhava nas estruturas econômicas.
O Golpe Final - Maio de 1968
A ruptura final da década de 1960 são os Por fim, percebendo que estava entrando em
protestos de maio de 68. Embora Braudel contradição com a nova geração de
tenha percebido o bloqueio institucional da historiadores que caminhavam para problemas
universidade, ele está profundamente mais restritos e menos globalizantes, em 1969
"incomodado" com os acontecimentos, e ele “abdica” do comando dos Annales,
apesar do movimento ter começado na entregando o controle (mas permanecendo no
Sorbonne, a VI seção da EPHE não é poupada comitê de gestão) a um conselho de
pelo movimento de protesto. administração composto por André Burguière,
Emmanuel Leroy Ladurie, Jacques Le Goff,
Marc Ferro e Jacques Revel.
Quinta Fase Braudeliana - Civilização (1963 - 1979)
Civilização Material, Economia e Capitalismo
Séculos XV - XVIII
« Les Espagnols et l’Afrique du Nord de 1492 à 1577 », in Revue africaine, 1928, p. 184-233 et p. 351-462
« Les Espagnols en Algérie 1492-1792 », chapitre IX de Histoire et historiens de l’Algérie, Paris, 1931, p. 231-265
La Méditerranée et le monde méditerranéen à l'époque de Philippe II, Paris, Armand Colin, 1949 ; deuxième
édition révisée, 1966
Navires et marchandises à l’entrée du port de Livourne (1547-1611), en collaboration avec Ruggiero Romano,
Armand Colin, 1951, 127 p.
Obras de Fernand Braudel
« La longue durée », in Annales, 1958, p. 725-753
« Histoire et sociologie », in Traité de sociologie, publié sous la direction de Georges Gurvitch, PUF, 1958
« Le déclin de Venise au xviie siècle », en collaboration avec Pierre Jeannin, Jean Meuvret et Ruggiero Romano, in
(it) Aspetti e cause della decadenza economica veneziana nel secolo XVII. Atti del convegno : 27 giugno-2 luglio
1957, Venise-Rome, 1961, p. 23-86
(en) « European Expansion and Capitalism : 1450-1650 », in Chapters in Western Civilization, New York, 1961, p.
245-288
Le Monde actuel - Histoire et civilisation, en collaboration avec Suzanne Baille et Robert Philippe, Belin, 1963.
Réédité en 1987 sous le titre Grammaire des civilisations
Écrits sur l’histoire, Paris, Flammarion, collection Science, 1969, 315 p. (ISBN 2080810235)
(dir.) Histoire économique et sociale de la France, Paris, PUF, 1977 (dir. avec Ernest Labrousse)
(dir.) La Méditerranée
Obras de Fernand Braudel
L’Espace et l'Histoire, Paris, Arts et métiers graphiques, 1977 ; rééd. en poche, Champs, Flammarion, 1985
Les Hommes et l’Héritage, Paris, Arts et métiers graphiques, 1978 ; rééd. en poche, Champs, Flammarion,
1986
Civilisation matérielle, économie et capitalisme, xve et xviiie siècles 1. Les Structures du quotidien - 2. Les
Jeux de l'échange - 3. Le Temps du monde, Paris, Armand Colin, 1979
Tome 1 : La Part du milieu, Le Livre de Poche, coll. « Références (9e édition) », 1993 (janvier) (ISBN
978-2-253-06168-7)
Tome 2 : Destins collectifs et mouvements d'ensemble, Le Livre de Poche, coll. « Références (9e
édition) », 1993 (janvier) (ISBN 978-2-253-06169-4)
Tome 3 : Les événements, la politique et les hommes, Le Livre de Poche, coll. « Références (9e
édition) », 1993 (janvier), 662 p. (ISBN 978-2-253-06170-0)
Obras de Fernand Braudel
Les Écrits de Fernand Braudel
BURKE. Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929-1989 /tradução Nilo Odália. – São
Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1991.
CRACCO. Rodrigo Bianchini. A longa duração e as estruturas temporais em Fernand Braudel: de sua tese O
Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Felipe II até o artigo História e Ciências Sociais: a longa duração
(1949-1958). Assis: 2009. 115 f. Disponível em:
http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/93349/cracco_rb_me_assis.pdf?sequence=1/>.
FLORES, Elio Chaves. Lições do professor Braudel: o Mediterrâneo, a África e o Atlântico. Revista Afro-Ásia, n. 38,
2008, p. 9-38
Referências
JUNIOR, Antônio Gasparetto. Fernand Braudel. 2006. Disponível em:
http://www.infoescola.com/biografias/fernand-braudel/>.
________________. A Escola dos Annales. 2006. Disponível em: http://www.infoescola.com/historia/escola-dos-
annales/>.
OLIVEIRA. Edileusa Santos; CASIMIRO. Ana Palmira Bittencout. A Escola dos Annales, de Peter Burke. 2007.
PORTO, Maria Emília Monteiro. Cultura Histórica pós anos 70: entre dois paradigmas. In: CURY, Cláudia
Engler; FLORES, Elio Chaves; CORDEIRO JR, Raimundo Barroso. Cultura histórica e historiografia: legados e
contribuições do século 20, João Pessoa, editora universitária/UFPB, 2010. p. 131-146.
SANTOS. Paulo Cesar dos; FOCHI. Graciela Márcia; SILVA. Thiago Rodrigo da. Teoria e historiografia. Indaial,
SC: UNIASSELVI, 2016. p. 209. ISBN 978-85-7830-952-7