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Fernand Braudel e Vidal de La Blache: Geohistória e História da Geografia

Article in Confins · January 2009


DOI: 10.4000/confins.2592 · Source: OAI

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Larissa Alves de Lira


University of São Paulo
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03/06/2019 Fernand Braudel e Vidal de La Blache : Geohistória e História da Geografia

Confins
Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia

2 | 2008 :
Número 2

Fernand Braudel e Vidal de La


Blache : Geohistória e História da
Geografia
Fernand Braudel et Vidal de La Blache : Géohistoire et Histoire
de la Géographie

L A L

Resumos
Português Français English
“Observe a história geográfica que nós ensaiamos de promover e de batizar como Geohistória”
(Braudel, 1951,p.486). De acordo com a data da citação, 1951, a obra que marca a história
geográfica de Fernand Braudel, na qual ele julga lançar sua contribuição à Geohistória, é a
primeira edição de O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Felipe II (1949).
Reconhecido pelos historiadores, é neste livro que o autor desenvolve uma nova concepção de
tempo, uma “dialética da duração” (Braudel, 1972, p. 10 e insere seu conceito que revoluciona a
epistemologia da História do século XX: a “longa duração”.

A “longa duração”, a “dialética da duração”, no estudo da História, que até então se atentava
quase exclusivamente ao “tempo breve”, surge em O Mediterrâneo com um significado preciso:
trata-se do “tempo geográfico” (Braudel, 1983, p. 26). Mesmo assim, pouca atenção se tem dado à
concepção de espaço de Fernand Braudel, bem como às suas relações com os geógrafos
fundadores da disciplina.

Este artigo visa recuperar um debate que por tanto tempo se deu no interior da Geografia: o do
determinismo. Visa ainda restabelecer e ajudar a esclarecer as relações entre Fernand Braudel,
Vidal de La Blache e Lucien Febvre, bem como a concepção de espaço do primeiro. Trata-se de
uma comparação bibliográfica, bem como o histórico de suas produções, de três obras dos
autores de referência: O Mediterrâneo, de Braudel ; Princípios de Geografia Humana, de Paul
Vidal de La Blache ; e A Terra e a Evolução Humana, de Lucien Febvre. Além disso, produziu-se
um gráfico com a sistematização das principais referências teóricas de Fernand Braudel,
perseguidas em todas as notas da primeira parte de O Mediterrâneo. O resultado é a influência
incontestável de Vidal de La Blache na obra capital do grande historiador do século XX.

“Songez à l’histoire géographique que nous avons essayé de promouvoir et de baptiser


géohistoire”(Braudel, 1951, p. 486). Selon la date de la citation, 1951, l’œuvre qui marque
l’histoire géographique de Fernand Braudel, dans laquelle il estime donner sa contribution à la

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Géohistoire, est la première édition de “La Méditerranée et le Monde Méditerranéen à l’époque
de Philippe II” (1949). Reconnu des historiens, c’est dans cet ouvrage que l’auteur développe une
nouvelle conception du temps, une “dialectique de la durée” (Braudel, 1972, p. 10) et introduit le
concept qui révolutionna l’épistémologie de l´Histoire du XXe siècle : la “longue durée”.

La longue durée, la dialectique de la durée, dans l’étude de l’histoire qui jusqu’alors se souciait
exclusivement du “temps bref”, surgit dans “La Méditerranée” doté d’un sens précis : il parle d’un
“temps géographique” (Braudel, 1983, p. 26). Malgré cela, on porta peu d’attention à la
conception de l’espace de Fernand Braudel, tout comme aux relations qu’il entretenait alors avec
les géographes fondateurs de la discipline.

Cet article a pour ambition de réhabiliter un débat qui fut longtemps très actif dans le monde de
la géographie : celui du déterminisme. Il s’agit de rétablir et de clarifier les relations entre
Fernand Braudel, Vidal de la Blache et Lucien Febvre. Il s’agit enfin de mettre en lumière la
conception de l’espace selon Fernand Braudel.

L’article s’articule autour d’une comparaison bibliographique, et de l’historique de la


bibliographie des trois auteurs de référence : “La Méditerranée” de Braudel ; “Principes de la
Géographie Humaine” de Paul Vidal de La Blache ; “La Terre et l’évolution humaine” de Lucien
Febvre. Enfin, nous présenterons un graphique qui organise les principales références théoriques
de Fernand Braudel, extraites des notes de la première partie de “La Méditerranée”. Le résultat
est l’influence incontestable de Vidal de La Blache dans l’œuvre capitale du grand historien du
XXe siècle.

Fernand Braudel and Vidal de La Blache: “geohistory” and History´s Geography. “Think about
the geographical history which we have tried to promote and have called geohistory” (Braudel,
1951). According to the quotation dated of 1951, the first edition of “The Mediterranean and the
Mediterranean Word in the Age of Philip II” is a book which is considered a landmark in Fernand
Braudel´s geographical history. That book is considered his great contribution to Geohistory.
Recognized by historians, in The Mediterranean the author develops a new time conception, the
“dialectic of the duration” and inserts his conception which revolutions the epistemology’s history
of the XXth century: “the long duration”.

The “long duration” is his History main thesis. Up to it, historians considered only the short time.
In The Mediterranean, the “long duration” has a special meaning: the ‘geography time’. However,
not much attention has been given to Fernand Braudel’s concept of space and to his relations
with the geographers who founded the Geography science.

This article wants to recuperate a debate, which for a long time was present in the Geography
science: the determinism. It also wants to restore and help clarify the relations between Fernand
Braudel, Vidal de La Blache and Lucien Febvre, besides Fernand Braudel’s conception of space.
The method adopted is a comparison of three books of those three authors: The Mediterranean,
The Principles of Human Geography andA Geographical Introduction to History. Moreover, a
graphic was made which systematizes Fernand Braudel’s main theoretical references, which
could be observed in the notes of the first part of the Mediterranean. As a result, Vidal de La
Blache’s influence in Fernand Braudel’s work is uncontestable.

Entradas no índice
Index de mots-clés : déterminisme, géohistoire, longue durée et l’espace
Index by keywords : determinism, Geohistory, long duration, space
Índice de palavras-chaves : determinismo, espaço, geohistória, longa duração

Texto integral
1 Não passou desapercebida a relação de Braudel com a Geografia. Ainda que raros,
alguns debates foram notáveis. Em 1989, Yves Lacoste organizou o livro Ler Braudel
que continha seu artigo “Braudel geógrafo”. O autor não busca entender a qualidade de
Braudel como grande historiador, mas propõe uma questão : seria Braudel também um
geógrafo ? Não se tratava de revisar a grande tese de Braudel, formalizada em 1958 no
artigo “A Longa Duração”, nove anos após a edição de sua obra maior, O Mediterrâneo,
na qual ele traça a história do mar Mediterrâneo no século XVI. Naquele texto Fernand
Braudel aponta a necessidade de uma “inversão de pensamento” pelos historiadores e
que “torna-se indispensável uma consciência nítida desta pluralidade do tempo social
para uma metodologia comum das ciências do homem”(Braudel, 1972, p. 10 e 11).

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2 Na primeira edição de O Mediterrâneo, em 1949, Fernand Braudel propõe o debate


em linhas resplandecentes : a Geohistória. Dado curioso, este era o nome do capítulo
que concluía a primeira parte, O Ambiente, e foi retirado pelo autor na segunda edição
da obra, em 1966. Podem ser muitas as indagações sobre o motivo dessa retirada :
desde a revisão dos termos teóricos à possível necessidade de atenuar a “polêmica”
sobre a geografia:

“Colocar os problemas humanos de tal modo que uma geografia humana


inteligente os veja dispostos no espaço e, se possível, cartografados : sim, sem
dúvida, mas colocá-los não somente no presente e para o presente, colocá-los no
passado, torná-los parte do tempo ; deslocar a geografia de sua busca das
realidades atuais, à qual ela exclusivamente- ou quase- se aplica, persuadi-la a
repensar, com seus métodos e seu espírito, as realidades passadas e, nesse
caminho, o que se poderia chamar os futuros da história” (Braudel, 2005, p. 125)

3 François Dosse, historiador francês em A História em Migalhas - Dos Annales à


Nova História, defende que um dos campos principais que os Annales pretendia
sintetizar em busca da renovação da história é o da geografia vidaliana, juntamente com
a economia e a sociologia de Durkheim. Segundo o historiador, a revista, da qual
Braudel fora diretor da chamada ‘segunda geração’ (a partir de 1956), tinha como uma
das perspectivas mais importantes “fixar a escritura histórica na permanência, na longa
duração, em contato com a geografia’ [...]” (Dosse, 2003, p. 119).
4 No prefácio à segunda edição de O Mediterrâneo, Fernand Braudel declara como o
espaço é para ele de grande valor : “a problemática que é a sua articulação maior [é]
essa dialética espaço-tempo (história-geografia)” (Braudel, 1983, I, p. 28). Anos mais
tarde, 1986, continuam a pulular as referências à geografia, em outra grande obra do
autor : Civilização Material, Economia e Capitalismo. Séculos XV e XVIII, na qual ele
revisa as origens do capitalismo na economia-mundo européia. A consideração do
espaço se encontra por toda parte, inclusive na definição de outro de seus caros
conceitos, o de “economia-mundo”:

“Convém, uma vez mais, medir essas distâncias hostis, pois é no interior destas
dificuldades que se estabelecem, crescem, duram e evoluem as economias-mundo.
Precisam vencer o espaço para dominá-lo e o espaço nunca deixa de se vingar, de
impor novos esforços” (Braudel, 1998, 3v. p. 17)

5 Em Identidade da França, sua última grande obra, composta por 3 (três) volumes, o
primeiro é intitulado Espaço e História e o terceiro capítulo do mesmo : “Teoria a
Geografia inventado a França ?” (Braudel, 1989, p. 221). Em 1985, ano de sua morte,
são as seguintes palavras proferidas no “Centro de Encontros de Châteauvallon”, nas
Jornadas Fernand Braudel, num debate com o geógrafo Étienne Juillard sobre o
‘determinismo’:

“Sin embargo, voy a tener com Etienne Juillard tal querella que lê pido no
responderme. Muchos geógrafos, entre ellos Pierre Gourou, al qual queremos el
uno y otro, consideramos como vos, mi querido Etienne, que el espacio contiene
una experiencia humana muy variable. Entonces, retiran la experiencia humana y
se oldivan del espacio. Los acuso de desespacializar la historia. Poniendo las cosas
en su lugar, tengo el sentimento de devolver a la geografia sus antigos derechos, se
llame o no determinismo.” ( Braudel, 1996, p. 255).

6 Assim, buscar o aprofundamento das suas incursões no campo da geografia leva ao


questionamento: qual seria sua concepção de geografia? E, por conseguinte, qual a sua
relação com Vidal de la Blache, o fundador da Geografia Contemporânea? As
referências a La Blache existem, são numerosas e significativas. O motivo pelo qual
poucos geógrafos e historiadores não tenham dado devida importância ao
esclarecimento de tal ligação pode estar relacionado à própria interpretação que fazem
de sua disciplina no tocante à relação entre a Sociedade e a Natureza que, no início do
século XXI, surge como um debate anacrônico no bojo das ciências humanas.
7 Braudel, ao listar suas fontes em O Mediterrâneo, situa La Blache ente as obras
essenciais. Ou, em 1950, vai mais longe:

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“Há necessidade de expor longamente sua dívida em relação à geografia, ou à
economia política, ou ainda à sociologia ? [refere-se à História]. Uma das obras
mais fecundas para a história, talvez mesmo a mais fecunda de todas, terá sido a
de Vidal de La Blache, historiador de origem, geógrafo de vocação. Diriam de bom
grado que o Tableau de la geographie de la France, publicado em 1903, ao umbral
da grande história da França de Ernest Lavisse, é uma das maiores obras não
apenas da escola geográfica, mas também da escola histórica francesa.” (Braudel,
1992, p. 50).

8 Outras referências ainda constam, sendo estas já significativas o suficiente para


começar a estabelecer a ligação entre Fernand Braudel e Vidal de La Blache1. No
entanto, para compreender a influência do “geógrafo”, não basta apenas pesquisar o
que foi dito por ele próprio, mas também qual a interpretação de seus continuadores,
em especial o historiador Lucien Febvre, que, além de ser considerado um dos
principais intérpretes da geografia vidaliana, ainda mantinha contatos estreitos com
Braudel, sendo, segundo ele, seu mestre2.

Fernand Braudel, Vidal de La Blache e


Lucien Febvre
9 Para nós, um primeiro problema se coloca : é certo que existe uma concepção de
espaço em Fernand Braudel e que relaciona História e Geografia, entendendo o tempo
não mais como propriedade da história, mas do conjunto das ciências humanas. É isto
que nos indica, a priori, a construção da história de um mar. Resta saber qual o
conteúdo desta concepção, bem como suas influências.
10 Isto posto, há que se notar na leitura da primeira parte de O Mediterrâneo, ‘O
Ambiente’, que na análise das situações empíricas estudadas em seu livro, como as
montanhas e as planícies no século XVI, ou as cidades e as rotas, entre muitos outros
exemplos, o paradigma geográfico da ‘unicidade do espaço’ e do ‘homem com um ser
geográfico’, pois dotado de ‘ubiqüidade’, como teoriza Vidal de La Blache, estão
amplamente incorporados por Braudel. A história de Braudel não se centra nos
indivíduos, mas no que ele chama de “movimentos de conjunto” (Braudel, 1983, p. 397)
, observados em movimentos no espaço : das planícies às montanhas, do Mediterrâneo
ao Atlântico.
11 Além disso, após uma longa comparação qualitativa que aproximou os autores em
várias de suas concepções teóricas (ver mais adiante), realizamos um fichamento das
notas da primeira parte de O Mediterrâneo, denominado “Geografia das Fontes de
Fernand Braudel” (LIRA, 2007, 4º relatório), em que ficou demonstrado que Vidal de
La Blache é o autor mais citado da primeira parte, inclusive entre os historiadores, e em
partes mais diversas da obra (ver gráfico 1).

Gráfico 1

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12 Todas essas questões nos levam a possibilidade de aproximar Fernand Braudel e


Vidal de La Blache. Isso também credencia a idéia de que é apenas na leitura da
disciplina geográfica contemporânea sobre a história de seu pensamento, com os
instrumentos de que dispõe, que esta discordância surge. Afinal, por que, a despeito de
suas próprias declarações, não se buscou observar a relação teórica entre um dos
maiores historiadores do século XX e o geógrafo fundador ? Seria por uma ‘falsa’ noção
quanto ao anacronismo do último?
13 Mesmo a famosa frase de Vidal de La Blache, de que a Geografia estuda o que é fixo,
deveria, na perspectiva de Braudel, ser relida sob novas determinações. De fato, esta
visão de mundo de Fernand Braudel se baseia no movimento. Mesmo a estrutura, os
espaços, para Braudel, estão em movimento. Lacoste também entende que sua
geografia é uma geografia do movimento, das ações, que leva em conta “fenômenos que
pertencem à instância do político, como o Estado, as fronteiras, a guerra” (Lacoste,
1989, p. 193). Uma geografia unicamente preocupada com o que é fixo, como se acusa
Vidal de La Blache, estaria automaticamente descredenciada a servir de referência a tal
concepção de espaço.
14 E é justamente o mestre, Lucien Febvre, quem introduz o tema ‘de uma geografia
fixa’ no debate geográfico, através da grande obra de referência, A terra e a Evolução
Humana, editada em 1921. Nesse livro, Lucien Febvre, ao responder as críticas a uma
Sociologia nascente a uma Geografia não menos nova, credencia a crítica e acaba por
pregar uma atitude ideográfica no tocante à ciência geográfica, se afastando da
concepção laclachiana e do que viria a ser uma concepção braudeliana de geografia.
15 Esta questão, de como o próprio Febvre incorpora as críticas da Sociologia, é
demonstrada na citação seguinte. Ao contrário do que se difunde, as críticas a Vidal de
La Blache, neste livro, existem, a despeito de serem raras. Isto é o que pode ter causado
uma ‘falsa’ impressão de que Lucien Febvre, apenas pela sua vontade, poderia se
colocar como um ‘teórico’ da geografia vidaliana. Na verdade, ele desvia o foco de
atenção de algumas declarações de geógrafo. Em dado momento, ele declara, “outras
objecções dos sociólogos, têm, evidentemente, mais cabimento e definem com mais
nitidez o alcance da acusação de ambição [à geografia].” (Febvre, 1954, p. 488):

“[...] e repitamos com Durkheim- desta vez sem reservas nem limitações : não há
dúvida de que as influências geográficas estão longe de ser desprovidas de
importância ; ‘mas não parece que tenham o tipo de preponderância que se lhes
atribui... Entre todos os traços constitutivos dos tipos sociais não há nenhum, que
nós saibamos, que eles possam explicar’. E acrescenta : aliás, como seria isso
possível, ‘uma vez que as condições geográficas variam de lugar para lugar,
enquanto se encontram tipos sociais idênticos (abstração feita das alterações
individuais) nos mais diversos pontos do globo ?’” (Febvre, 1954, p. 448)
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16 Assim, a concepção de fundo de Lucien Febvre, em relação à Geografia é que não


existem fatos geográficos que sirvam de explicação aos fatos sociais. Não é esta
concepção de Braudel, e menos ainda a interpretação de Braudel acerca da obra
vidaliana. E, o que é mais importante, Fernand Braudel silencia sobre a obra
geográfica do mestre em O Mediterrâneo. A Terra e A Evolução Humana não consta
em sua bibliografia, mesmo tendo sido considerada uma obra capital no debate
geográfico3.
17 Portanto, está clara uma sensibilidade de Fernand Braudel que muitos outros
geógrafos que ainda credenciam Lucien Febvre como o teórico da geografia francesa,
não tiveram. A geografia de Lucien Febvre e de Vidal de La Blache são diferentes ; de tal
forma que Fernand Braudel teve que escolher entre ambas. E isso também se explica
pelo contexto em que foram produzidas. Contexto este que Fernand Braudel pode
interpretar, ou nos indicar esta interpretação.

A década da Geografia
18 A década de 20 parece ter sido um momento muito singular para a geografia
francesa. Ambos os livros, A Terra e a Evolução Humana, de Lucien Febvre, e
Princípios de Geografia Humana, de La Blache, foram publicados muito próximos,
1921 e 19224. No entanto, Lucien Febvre não cita, não faz referência a Princípios de
Geografia Humana. Ocorre que este foi o único livro teórico de Vidal de La Blache,
inacabado pela surpresa da morte e editado por Emmanuel De Martone. A leitura de O
Mediterrâneo de Braudel, além de mostrar que Vidal de La Blache é o autor mais citado
da primeira parte, aponta que é a obra Princípios que o historiador mais valoriza
(LIRA, 2007, 4ª rel). Mas Lucien Febvre, ao redigir sua obra, não teve contato com esta
outra, tendo como principal material de consulta os artigos publicados na revista
Annalles de Geographie5. Porém, o próprio Emmanuel De Martone nos indica a
originalidade do livro frente aos escritos anteriores de Vidal de La Blache:

“A segunda e a terceira partes, inteiramente manuscritas, não constatavam, à


parte dois ou três capítulos redigidos em definitivo, senão de consideráveis
dossiers de notas e de rascunhos. Para aproveitar convenientemente esses
dossiers, foi necessário um paciente trabalho[...]. No decorrer deste delicado
trabalho, sentimo-nos amparados pelo prazer de ver desabrochar, nas páginas
manuscritas de mais difícil destrinça, as idéias mais originais e fecundas.” (De
Martone, 1921, p. 19 e 20).

19 Isso nos é bastante importante. Foi o conteúdo dos tópicos “As Formas de
Civilização” e “a Circulação” e também a Introdução, “Significado e Objeto da Geografia
Humana”, com os quais Lucien Febvre não tomou contato ao escrever a obra a Terra e
a Evolução Humana. A julgar pela obra de Braudel, cujo centro da análise histórica se
colocou na possibilidade da “Circulação” estes podem ser justamente os componentes
mais importantes da obra vidaliana, diferentemente do que se costuma a apreender de
Vidal de La Blache, cuja ‘suposta’ atenção é dado ao que é’ fixo’.
20 Assim, é neste momento, enquanto a Geografia Francesa não possui um suporte
teórico-metodológico reunido, que a disciplina começa a sofrer críticas da Sociologia,
que fundava a Morfologia Social. Críticas que são principalmente para Raztel, mas que
procedem, como Febvre bem nota, como se toda a teoria e a produção geográfica,
pudesse se resumir à escola alemã.
21 Assim, o primeiro esforço pessoal de sistematização da ciência geográfica francesa,
publicado e editado pelo próprio autor, de vem de Lucien Febvre, um historiador que
responde a um debate que não nasceu da Geografia, mas da Sociologia. Adepto de uma
escola historiográfica que prezava pela união entre a história e a geografia, que,
segundo seus escritos, tem como principal expoente Michelet, Febvre se vê obrigado a
fazer este primeiro esforço teórico, mas acaba por colocar questões que, como o livro
teórico de Vidal de La Blache esclarecerá pouco mais tarde, não fazem parte dos
fundamentos da geografia francesa, mesmo que ele entenda ser um de seus

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“representantes”. Assim, as limitações de Febvre podem se tratar, na verdade, dos


próprios textos disponíveis ao autor no momento de suas reflexões.

Fernand Braudel e Vidal de La Blache :


aproximações teóricas.
22 Um estudo comparativo da primeira parte de O Mediterrâneo, na qual Fernand
Braudel desenvolve sua concepção de “estrutura da história” e de “longa duração”, à
obra Princípios, de Vidal de La Blache, surpreende o pesquisador atento. Esta
concepção, como entende o próprio Braudel, trata-se, antes de mais nada, de uma
“filosofia de história” (Braudel, 1983, p. 22). Quais são as mais importantes referências
dessa filosofia?
23 Através das declarações e utilização das concepções de Vidal de La Blache,
perseguidas durante toda a primeira parte do livro, é que podemos inferir que esta
filosofia da história teve contribuições de idéias centrais do geógrafo.
24 É justamente em relação às montanhas que Fernand Braudel retira de Vidal de La
Blache as informações mais valiosas – e são as mesmas montanhas que, em O
Mediterrâneo, são analisadas com surpreendente originalidade : focado não só na
grande história, das belas e já grandes cidades mediterrânicas, mas também nos seus
cantões. A primeira parte de seu texto que tem como fonte Vidal de La Blache é a
seguinte : “Que a montanha é um refúgio contra os soldados ou os piratas, é um lugar
comum referido por todos os documentos, a começar pela Bíblia. Por vezes, esse refúgio
se torna definitivo” (Braudel, 1983, p. 41). Em nota, o autor declara : “é o ponto de vista
de Paul Vidal de La Blache” (Braudel, 1983, p. 41). Também se referindo às montanhas,
ele cita outro geógrafo, ao longo do texto:

“Para o geógrafo J. Cvijic a montanha do centro balcânico (compete-nos a nós


alargar ou não a outras zonas as suas observações) é o domínio por excelência do
habitat disperso, do lugarejo, enquanto as planícies são, pelo contrário, o domínio
do povoamento tipo aldeia”. (Braudel, 1983, p. 42)

Em nota, faz os seguintes comentários : “sobre esta questão, duas brilhantes


páginas de Paul Vidal de La Blache, Principes de Géographie Humaine” (Braudel,
1983, p. 42) . E também : “Paul V. de La Blache salienta: ‘É destes povos que
Constantino Porfirogeneta escrevia : não podem suportar que duas cabanas
estejam próximas uma da outra’” (La in Braudel, 1983, p. 42).

A partir destas informações podemos pensar que esta é uma citação em que se
busca o geógrafo essencialmente como fonte de dados. De fato, mas além disso, é
preciso lembrar que nesta altura do texto de Fernand Braudel, ele engendra uma
discussão sobre qual a verdadeira característica da montanha mediterrânica, se
seriam elas pobres ou pouco povoadas. Neste aspecto, o autor concorda com Vidal
de La Blache: são essencialmente lugares dispersos. Essa abordagem conduz a um
questionamento de extrema importância: qual o valor da geografia na análise da
realidade? As unidades geográficas teriam como principal diferença entre si a
variedade dos fenômenos humanos que comportam ou a expressão de um
fenômeno geográfico permanente? Fernand Braudel aposta na última resposta,
como dá a entender no diálogo acima citado com Etienne Juliard, e entende que a
principal interferência da geografia na análise da realidade é quanto à
permanência e à possibilidade de circulação.

Ainda sobre as montanhas, a citação seguinte revela outra noção bastante


importante que Braudel retirou do livro Princípios de Vidal de La Blache. Trata-se
da noção de que no Mediterrâneo não há montanhas fechadas e os espaços estão
em comunicação:

“Não há no Mediterrâneo as montanhas fechadas a sete chaves tão vulgares no


extremo Oriente (China, Japão, Indochina, Índia e, até, na península de Malaca),
montanhas que, sem quaisquer comunicações com a planície, são forçadas a
constituir-se em mundos autônomos”. (Braudel, 1983, p. 51)

https://journals.openedition.org/confins/2592 7/15
03/06/2019 Fernand Braudel e Vidal de La Blache : Geohistória e História da Geografia

25 Quase toda esta citação ele retira do livro do geógrafo. Este, ao comparar as
montanhas do Mediterrâneo às montanhas do Oriente, entende que, apesar do relativo
isolamento das montanhas do Mediterrâneo em relação à planície, elas permanecem
em relação, ao contrário do que ocorre no Oriente, onde essas unidades existem
separadamente (La Blache, s/d, p. 232).
26 Esta é outra idéia bastante cara a Braudel que se encontra também em Vidal de La
Blache : a noção de que espaços que divergem entre si também se complementam. Num
raciocínio bastante geográfico, tanto Braudel como La Blache não concebem o espaço
unicamente por suas características diferenciadas, mas também do ponto de vista das
comunicações.
27 Assim, “a totalidade das vantagens não ocorre em cada cantão” (Braudel, 1983, p. 53)
e segundo Braudel, é isso que está na base da circulação ser entendida como motor da
história. O pão de castanhas, “pão de árvore”, segundo La Blache, é um alimento
precioso em Cevenas e na Córsega, por exemplo : “Há montanhas de castanheiros
(Cevenas, Córsega) onde o precioso pão de castanhas, ‘pão de árvore’ [referência a La
Blache] (Braudel, 1983, p. 53), de amendoeiras, como as que Montaigne viu à volta de
Lucques em 1581, e as das zonas altas de Granada” (Braudel, 1983, p. 53). Ainda que o
historiador não tenha citado o geógrafo relacionando-o diretamente a esta noção
fundamental das trocas, não é de pouca importância que tenha inserido uma citação de
La Blache neste ponto.
28 No livro Princípios de Geografia Humana, esta concepção aflora justamente quando
La Blache discute a formação de núcleos segundo o tipo agrícola que predomina, ao
dizer que os estabelecimentos humanos cristalizam-se obedecendo à atração de certas
condições propícias, onde encontram garantia de segurança. Ou seja, os homens, para
se manterem vivos, precisam se especializar em determinadas culturas, pois nenhum
meio pode lhes oferecer todas. Neste ponto, no entanto, não há referência ao comércio,
mas “as linhas de contato”, “que são o comentário flagrante da força de atracção que os
mantém unidos” (La Blache, s/d, ed. Port., p. 238). Ou seja, é pela troca, para satisfação
das necessidades, que se formam linhas de contato que os mantém agregados. Esta é
uma força que, assim com entende Braudel, está acima do domínio dos homens.
29 E da mesma forma que versa sobre as montanhas, as planícies também é tema de
Vidal de La Blache. Esta é uma oportunidade para notar, que, de fato, a oposição
montanha e planície, tanto para La Blache como para Braudel, se assenta na diferença
de circulações que as duas estruturas geográficas permitem.

“A Apúlia, vasto planalto de calcário de baixa altitude e virado a Leste, na


direcção da Albânia, da Grécia, do Oriente, está igualmente aberta à circulação,
sendo atravessada por duas extensas linhas paralelas de povoações : uma na costa,
de Barletta a Bari e a Lecce, e outra, desviada 10 km para o interior, ligando
Andria a Bitonto e Putignano*”. (Braudel, 1983, p. 65).

30 No entanto, La Blache ressalta que a vasta planície é lugar primordial de


povoamentos densos, devido à alta fertilidade de seu solo. E para ele, assim como para
Braudel, a ocupação densa cria pontos de apoio ao comércio, às migrações, etc.
31 Assim, podemos perceber que, tal como segue na citação, que também Vidal de La
Blache serve a Braudel como fonte sobre o tema da circulação, uma das principais
inovações do pensamento braudeliano introduzidas na historiografia. Isso nos indica,
ao mesmo tempo, que a certeza de que La Blache trate essencialmente de um
“Mediterrâneo estreito”, não significa que muitas das noções braudelianas já não
possam se encontrar materializadas neste Mediterrâneo menor, entre montanhas e
planícies. Há uma dinâmica geográfica que se reproduz em outras escalas no
pensamento braudeliano, mas que é ao mesmo tempo de grande feito que esta
dinâmica possa já ser vista no pensamento lablachiano.

“estes pequenos meios, todavia, não poderiam bastar para tudo. Se Cartago,
isolada no ‘mar da Sicília’ ; se Marselha, na extremidade do mar Tirreno ; se,
muito mais tarde, Génova conseguiram desempenhar um tão grande papel, foi por
terem sabido resolver, como observou Vidal de La Blache, o grande problema das
navegações para o Oeste, submetidas ao vento de Leste, o perigoso Levante, e ao
mistral” (Braudel, 1983, p. 143).

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03/06/2019 Fernand Braudel e Vidal de La Blache : Geohistória e História da Geografia

32 Sabemos, portanto, que a ligação entre os espaços é vista em La Blache. Braudel


comenta que La Blache atentou a este fato, ao falar do “vaivém de burros entre as
aldeias” (Braudel, 1983, p. 167), entre a riviera genovesa e as velhas aldeias de
montanha. Da mesma forma, ao falar das ilhas, que no Mediterrâneo são autênticas
montanhas, e são exportadoras de homens : “ainda hoje assim é. Atente-se nos naturais
de Djerba espalhados pela África do Norte e um pouco por todo o mundo, ou nos
horticultores de Malta e de Mahon” (Braudel, 1983, p. 181).
33 Também há citações de outros livros de Vidal de La Blache que não são dos
Princípios de Geografia Humana. Questões políticas também são evocadas (Braudel,
1983, p. 66), assim como, novamente, o tema das ilhas (Braudel, 1983, p. 175). Há
também um tema muito importante que se refere aos ‘bicontinentes’, onde Braudel
evoca a noção de que meios diferentes são também complementares, e que as
penínsulas, por tal força geográfica, vivem por isso em pares (Braudel, 1983, p. 188).
Por fim, há informações das técnicas da geografia (Braudel, 1983, p. 189).

A concepção de espaço de Fernand


Braudel : montanhas e planícies unidas
pela transumância.
34 Aqui, optou-se por desenvolver uma das ‘dicotomias espaciais’ expressas no
Mediterrâneo como exemplo da concepção de espaço do autor : a oposição entre as
montanhas e as planícies. Fernand Braudel enxerga o espaço numa relação de
dicotomia e unidade, e em escala. A unidade é dada pela circulação, e neste sentido,
aceita os contrastes. De acordo com o desenvolvimento das técnicas, muda-se a escala,
pois falamos de circuitos cada vez mais amplos.
35 Montanhas e planícies que se unem pela transumância ; o deserto e o Mar, na escala
do Mediterrâneo, que se unem pelas caravanas ; O Mediterrâneo do Ocidente e do
Oriente, que se tocam pela navegação de cabotagem de pequenos barcos ; o
Mediterrâneo e o Atlântico, na escala do mundo, unidos pelos grandes veleiros. São
diferentes unidades de que se fala, construídas ao longo da história.
36 “O Mediterrâneo é um mar encerrado entre terras” (Braudel, 1983, p. 35). Na escala
das penínsulas do Mediterrâneo, a montanha e a planície são muito contrastantes.
Dessa diferença entre as regiões surge um conjunto de homens com necessidades
diversas, montanheses e cidadãos, de acordo com a unidade do meio em que foram
criados, e tudo isto o pré-requisito para que se estabeleça a circulação como uma
estrutura desses lugares.
37 Nada nas montanhas “recorda o Mediterrâneo em que floresce a laranjeira” (Braudel,
1983, p. 38) . Nestes lugares, o rigor dos invernos é surpreendente, e também nos
verões, a neve ainda está em seus cumes. As montanhas são os núcleos mais isolados,
com características específicas, de desenvolvimento lento, de um arcaísmo marcante,
contrastando com as planícies. Assim, a montanha continua a ser, segundo Braudel,
uma zona de dissidência religiosa, de permanência mulçumana.
38 As montanhas, portanto, impõem-se às planícies. Impõem-se porque a planície
carece de um grande recurso que a montanha possui : o homem que trabalha. É que a
população das montanhas é móvel, e suas próprias características físicas não permitem
o desenvolvimento de populações abundantes, mas que não cessam de crescer. Assim,
no pensamento braudeliano, a pobreza da montanha é secundária perto do
“movimento” que ela permite (Braudel, 1983, p. 43).
39 Já a planície é o lugar dos grandes desenvolvimentos, das grandes circulações.
Assentada num espaço que facilita a circulação, a construção de estradas, de rotas ágeis,
as planícies ainda assim dependeram de grande esforço humano. Pois no século XVI,
um ambiente disperso nessas zonas baixas muitas vezes continuava predominando.
40 Assim, antes da aceleração do trabalho humano, da construção de estradas e cidades,
eis a grande característica física das planícies: “servem normalmente de coletores para
as águas” (Braudel, 1983, p. 73). Todas essas zonas baixas conhecem a estagnação das
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águas e suas conseqüências : a água estagnada é sinônimo de morte, conservando


perigosa umidade, são causadoras das febres palúdicas. “Trata-se, para resumir, de uma
verdadeira doença do meio geográfico” (Braudel, 1983, p. 78).
41 Desde a antiguidade sabe-se do esforço de beneficiação das planícies, mas no século
XVI se inicia, portanto, um processo mais intenso de dominação desses novos terrenos.
Inúmeras drenagens são feitas com os escassos meios e tecnologias disponíveis. Trata-
se de uma conjuntura específica : o desenvolvimento do capitalismo. Até então, num
movimento de longa duração, a deficiência técnica obrigava a iniciativas limitadas,
atacando o pântano, setor por setor, resultando em inúmeras vitórias, mas ainda em
fracassos.
42 Pois não se pode dizer que todos os cantos do Mediterrâneo foram afetados por tais
mudanças. Assim, muitas das relações entre montanha e planície subsistem. Ocorre que
à parte das grandes mudanças, há também permanências. Mesmo as revoluções não
conseguem abolir antiqüíssimas tradições.
43 A existência da transumância se explica portanto, pois, se a montanha mantém-se
sob um isolamento relativo, é porque a vida da montanha e das planícies se
diferenciam, mas também se complementam. Assentada na estrutura desses espaços, é
um movimento repetitivo, e de longa duração.
44 E, de modo geral, pode-se dizer que no Mediterrâneo a transumância é “uma
deslocação”, um movimento vertical “das pastagens de inverno, situadas nas planícies,
para as pastagens de verão, localizadas nas zonas elevadas”. “Trata-se de uma vida
balizada por estes dois níveis”. E de fato, as transumâncias são movimentos repetidos,
pois são os relevos e a estação do ano os “dados essenciais para a percepção de tudo, ou
pelo menos, do fundamental, que pode e deve acontecer” (Braudel, 1983, pp. 101-102 ).
45 A principal característica do meio, portanto, para a história, é que ele é criador de
ritmos diferenciados, ‘bases da história’, que se unem pelas trocas de seus diferentes
produtos, técnicas, homens e costumes : é preciso trocar. Isso só ocorre pois o meio é
criador de permanecias. Sendo um espaço natural ou um espaço construído, ele é
sempre criador de diferenciações nos movimentos dos homens, das idéias, das
mercadorias. A diferença na circulação é a própria diferença dos ritmos históricos.
Circuitos mais velozes, como na conexão entre as planícies, são os espaços privilegiados
dos grandes acontecimentos. E tudo isso ainda envolve a técnica, hierarquia e divisão
do trabalho, no espaço.

Vidal de La Blache e Fernand Braudel :


uma filosofia da história.
46 Não é uma incorporação simples a que Braudel fez de La Blache. Julgamos que o
Princípio da Unidade Terrestre, pilar desta geografia, e o homem como ator geográfico,
princípios desenvolvidos por La Blache, são o germe da visão de espaço elaborada por
Fernand Braudel cujo centro é a Circulação. Afastando os anacronismos, é esta a visão
diferenciada para sua época, a originalidade de La Blache, a grande inovação6.
47 O que Vidal de La Blache está propondo, portanto, é uma síntese “das leis físicas”
com as “relações” humanas. Proposição que pretende uma síntese mas enxerga esses
dois planos como dimensões, ordens da realidade, diferentes. O meio é um meio físico,
aparentemente, natural. Já para Braudel, o meio é uma dimensão da história e tem
valor de obstáculo, podendo ser físico, biológico, humano, dependendo do grau de
evolução material atingido pelos homens. Porém, entendemos que isso não se trata de
uma divergência porque, em primeiro lugar, o meio de Braudel abarca o de La Balche.
Em segundo lugar, porque o que os autores atribuem como sendo o Meio, não significa
só o conteúdo, mas a forma-conteúdo, o significado que é dado a ele do ponto de vista
da história do homem.
48 Assim, indo mais a fundo na análise do conceito, percebemos que se ambos estão
assentados sobre a mesma visão de espaço, que o enxergam em conexão, como um todo
contínuo, de acordo com o Princípio da Unidade Terrestre, o valor dado ao meio
termina por ser bastante similar, significando para La Blache, da mesma forma que
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para Braudel, o valor de um obstáculo. Aliás, dado curioso, o geógrafo também


relativiza o conteúdo do meio como sendo exclusivamente natural:

“Em suma, na história das sociedades humanas os factos gerais nunca se


produzem de uma só vez. É necessário triunfar previamente dos obstáculos
acumulados em volta de cada grupo, pelas distâncias, pela natureza dos lugares,
pelas hostilidades recíprocas” (La Blache, s/d, ed. Port. p. 274)

“Assim, na evolução das comunicações, obstáculo material não mais que relativo.
Este cede perante a necessidade de ligar grandes mercados produtores, de
aperfeiçoar a aparelhagem econômica de um estado. Quer isto dizer que estejam
suprimidos os obstáculos físicos ? De forma alguma. É mesmo significativo que as
aberturas das montanhas por longos túneis nos tenham posto diante de um perigo
que as estradas de antanho desconheciam- o da erupção das águas interiores.” (La
Blache, s/d, ed. Port. p. 303)

49 Podemos perceber também uma referência dada à circulação, assim como uma noção
de extrema importância que o aproxima muito de Fernand Braudel : que a geografia é a
responsável por essa diferença de “fusos históricos”, para usar a expressão do
historiador, a diferença entre os progressos diferenciados das civilizações. Podemos
antever, por isso, uma concepção de história próxima entre os autores, pois nos indica
que Vidal de La Blache pode ser, mais do que uma referência do ponto de vista da
geografia mas também de uma “filosofia de história”, como indicou Fernand Braudel já
na citação sobre o Tableau de Géographie.
50 Esta filosofia da história seria, portanto, é aquela em que há uma propriedade
geográfica considerada sistematicamente na observação do mundo, com a qualidade
que lhe é própria, sendo a circulação o centro da observação, causadora de fusos
históricos diferenciados pelas permanências que engendra. No fundo, trata-se de
reconhecer a verdadeira contribuição de Vidal de La Blache para sua época e para as
ciências humanas de ontem de hoje:

“A idéia que domina todo o progresso da Geografia é a da unidade terrestre. A


concepção da Terra como um todo, cujas partes estão coordenadas e no qual os
fenômenos se encadeiam e obedecem às leis gerais de que derivam os casos
particulares [...]”. (La Blache, s/d, ed. Port. p. 25).

51 Assim, a história tradicional, segundo Braudel, estuda nacionalidades fechadas, mas


apenas a história global, ou seja, o olhar horizontal sobre a história em um dado
momento, conectado à evolução dos fenômenos, pode ver os seus verdadeiros rumos.
Pois são várias as histórias que se desenvolvem ao mesmo tempo, com o criar e recriar
de estruturas diferenciadas, em diferentes lugares e circuitos, e são favorecidas ora unas
ora outras. Cada conjuntura determina o avanço ou recuo das técnicas de um país ou
cidade, que determina o alcance que eles incidem sobre o espaço- e este é o indício de
seu poder. É preciso observar a geografia para ser preciso na caracterização do valor
dos acontecimentos históricos.
52 Assim, o que é importante deixar evidente é que o que consiste em eminentemente
novo no início do século XX é, de fato, a aceitação de que existe um “certo gênero de
determinismo” na História do homem ; uma relação mais profunda entre o homem e a
natureza. Vidal de La Blache não abandona a perspectiva histórica, sendo esta, de fato,
uma lição não apenas à geografia:

“Ritter inspira-se também nestas idéias no seu Erdkund, mas fá-lo mais como
geógrafo. Se, por uns restos de prevenção histórica, atribui uma acção especial a
cada grande individualidade continental, a interpretação da natureza continua a
ser para Ritter o tema primordial. Pelo contrário, à maioria dos historiadores e
dos sociólogos a Geografia não interessa senão a título consultivo. Parte-se do
homem para chegar ao homem ; representa-se a Terra como a ‘cena em que se
desenrola a actividade do homem’, sem refletir que a própria cena tem vida. O
problema consiste em dosear as influências sofridas pelo homem, em aceitar que
um certo gênero de determinismo actuou no decurso dos acontecimentos da
História. Assuntos sem dúvida sérios e interessantes, mas que para serem
resolvidos exigem um conhecimento simultaneamente geral e profundo do mundo
terrestre, conhecimento que não foi possível obter senão recentemente” (La
Blache, s/d, ed. Port. p. 25).

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53 Em suma, para Vidal de La Blache, é o princípio da unidade terrestre que justifica a


união entre o meio e os homens. De fato, os homens, ao contrário do que a ciência
costumava encarar, também estão ligados ao meio. Porém, os meios não são unidades
estáticas, que quando erguidas em suas bases humanas, não se modificam mais. A força
do meio é ainda mais evidente se constatado que “a população humana é um fenômeno
em marcha” (La Blache, s/d, ed. Port. p. 33), ou seja, há uma movimentação horizontal
no globo, migrações ao longo do tempo, que ajudam a definir essas unidades com
significação humana:

“Há regiões que a população ocupa poderosamente e onde parece ter utilizado,
mesmo com excesso, todas as possibilidades de espaço. E outras há onde é
diminuta e disseminada, sem que, aliás, razões de solo ou de clima justifiquem tal
anomalia. Como explicar estas desigualdades senão por correntes de imigração,
originadas em tempos anteriores à História e cujos rastos só a Geografia pode
ajudar-nos a encontrar ?” (La Blache, s/d, ed. Port.p.33).

54 Isso porque, se hoje vimos, apesar das tantas movimentações ocorridas ao longo da
história, que as sociedades e civilizações estão associadas segundo distintivos comuns,
“tal é a força moldadora que prevaleceu sobre as diferenças originais e as combina
numa adaptação comum” (La Blache, s/d, ed. Port. p. 35), e isso não significa que o
homem não tenha uma ação sobre os meios. Assim, Vidal de La Blache introduz o
homem como um “fator geográfico” e este é o segundo fundamento de sua geografia.
55 Percebemos, portanto, que os fundamentos da geografia lablachiana são os mesmos
fundamentos da geohistória. Nesta fase da geografia, liderada por La Blache, muita
coisa está sendo inovada. Nesta mudança, a necessidade de incluir a natureza, através
da chave do ‘meio”, e desenvolver seu conceito, é o que está em jogo para os geógrafos
em geral. A lição que Fernand Braudel aceita não é nada mais do que a importância do
Meio à história dos homens, um meio com uma forma-conteúdo específico, de
obstáculo, de segregação, de diferenciação e unidade, regiões, e que a geografia deve
passar a desenvolver esta relação, sob uma ótica específica, a da Unidade da Terra,
onde o homem está integrado profundamente e não pode livrar-se dela.

O Possibilismo
56 De fato, o princípio da “Unicidade da Terra” busca definir que tudo aquilo que é
geográfico estará preocupado com relações. Isso é um ponto importante. Porém Febvre
inverte o foco das regiões para o seu interior e não para as relações entre elas, como o
objetivo final da Geografia. O “possibilismo”, ao cobrar maior rigor histórico dos
geógrafos, para que não atentem contra as várias possibilidades históricas através de
um determinismo estreito, ao se transpor para o espaço, torna-se uma compilação das
possibilidades presentes de uma determinada região, tendo em vista manter aberta às
possibilidades do futuro histórico (Febvre, 1954, p. 564).
57 Para exemplificar, ao falar sobre as montanhas, Braudel e La Blache se colocam a
questão, se a verdadeira característica da montanha mediterrânica seria a pobreza ou o
escasso povoamento. Neste aspecto, eles respondem da mesma forma : são
essencialmente lugares dispersos, de forma a se concluir que as unidades geográficas
têm uma propriedade permanente : a possibilidade de circulação entre elas.
58 Lucien Febvre não chega à mesma conclusão. Na verdade, diz o contrário.
Exatamente no tópico em que discute o valor das montanhas, planaltos e planícies,
entendendo-os como ponto de apoio aos homens, encontra um critério de riqueza e
pobreza “geográficos” e de possibilidade de instalação dos agrupamentos humanos. O
primeiro deles é que “haja um suporte zoológico suficiente sobre o qual possa
fundamentar-se convenientemente uma existência fixa e garantida[...]” (Febvre, 1954,
p. 572) ; o outro é que “seja possível tirar facilmente partido dos recursos naturais
assim postos à disposição das sociedades humanas[...]” (Febvre, 1954, p. 572).
59 E conclui simplesmente que é preciso levar em conta os dois fatores juntos, mas
principalmente o segundo, ou seja, a possibilidade do homem intervir e “que as
sociedades vegetais e animais possam ser modificadas pelo homem em seu benefício e
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livremente, de modo que se despojem de uma fecundidade excessiva, opressiva e, por


assim dizer, cega” (Fevre, 1954, p. 572).
60 Assim, ao fazer a crítica ao método geográfico, no estudo das relações entre o Homem
e a Terra, defende que primeiro se tracem as regiões do globo, que para ele são regiões
‘climatobotânicas’, e que, depois, se incluam os homens, ‘grupos humanos’. Assim, para
Lucien Febre as regiões são essencialmente naturais, o que para Vidal de La Blache isso
só se apresenta como aparência e não como essência. Esta divergência entre ambos
denota que seus princípios estão invertidos.
61 É exatamente aí que entra o “possibilismo”. Para justificar a união de duas dimensões
que, para Febvre, não estão unidas numa perspectiva comum (homem e meio) , é
preciso estabelecer um princípio que os una, mas que vá contra a idéia determinista.
Mas a crítica essencial de Febvre ao determinismo é quanto a sua falta de rigor
histórico, como se as asserções dos geógrafos deterministas não respeitassem as
possibilidades dos acontecimentos históricos. Assim, ele diz que as condições
geográficas não são uma lei histórica, mas apenas possibilidades, condições. Mas acaba
por retirar o valor histórico da geografia e ao mesmo tempo desloca o estudo geográfico
para um estudo do presente, ou de uma situação, sem história . Não é esta a concepção
de Vidal de La Balche que, na 3ª parte de seu livro, “As formas de Civilzação”, justo a
que Lucien Febvre não tomou contato, traça a história das técnicas, povos e espaços,
sempre em largo período de tempo e chega a falar de revoluções geográficas (La Blache,
s/d, p. 301).
62 De tudo isso, o que podemos depreender é que, para La Blache, a natureza não
oferece possibilidades aos homens. Ela é um obstáculo e serve como estímulo. Um
raciocínio que se pretende geográfico não busca a abundância de recursos, mas deve
estar atento aos fundamentos sistematizados por este geógrafo no início do século XX :
o espaço geográfico é contínuo e com obstáculos, e o homem como um fator geográfico
é ubíquo. Não existe um olhar geográfico que não seja para as interações e para as
permanências. A teoria de Braudel se encontra, no tocante à geografia, dentro desta
linha de raciocínio e não na do “possibilismo”.

Conclusão : a longa duração : a


primazia da história lenta. O espaço e a
teoria da história
63 À luz do que foi apresentado neste artigo, desde a análise quantitativa à qualitativa,
parece não restar dúvida sobre a primazia das concepções lablachianas na concepção de
espaço de Fernand Braudel. Cabe, agora, testar seus “avanços” e entender de que forma
essa concepção nele inspirada se insere em uma nova teoria da história.
64 Características físicas e humanas, ou seja, tanto um espaço “natural” como um espaço
produzido, são os dois lados da mesma moeda quando colocadas na perspectiva da
criação de condições para a circulação rápida ou à lenta circulação, de homens, de
idéias, de mercadorias. Braudel ressalva, no entanto, que no século XVI, a dependência
do meio físico era mais acentuada. Esta percepção mostra que a concepção do meio
como uma dimensão caminha junto com a necessidade de traçar uma evolução da
história.
65 Os homens, assim, estão constantemente em busca de romper estes limites (as
cidades do século XVI, por exemplo, buscam constantemente libertar-se de um
entorno, um campo, extremamente lento). Mais cedo ou mais tarde conseguirão. O
meio retarda os objetivos, de forma que, por muito tempo, criam-se movimentos
repetitivos. A história seria preenchida por movimentos repetitivos, como a
transumância do Mediterrâneo, ou o nomadismo do deserto, que exprimiriam esta
relação permanente do homem com o meio.
66 A concepção histórica tradicional, que prescinde da natureza, impede de dar uma
explicação coerente dos grandes acontecimentos : pois além do movimento repetido,
também estes grandes saltos estão interligados com a dinâmica espacial. Afinal, o que
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dá sentido aos grandes acontecimentos são as permanências que o espaço engendra.


Quando conseguem se libertar de um movimento lento, expressam modificações na
estrutura, rupturas que marcam a história. Assim, a longa duração não é apenas uma
ampliação regressiva do campo de visão a partir de um acontecimento ; ela é, antes de
mais nada, uma dimensão da história que dá sentido e seleciona os acontecimentos
significativos.
67 Considerando que, para Braudel, movimentos repetitivos é que configuram as
permanências, e que estes movimentos são conseqüência da lenta conquista que o
homem engendra no espaço, a longa duração é, pois, o movimento que envolve e
enquadra os demais ritmos da história : as conjunturas e os acontecimentos. A longa
duração é, portanto, o ritmo lento de produção do espaço e sua formulação teve
influência das idéias centrais do geógrafo fundador7.

Bibliografia
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Martins Fontes, 1983.
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B Fernand, A Identidade da França, São Paulo, Globo, 1989
B Fernand, “A Longa duração”, In Escritos sobre a história, São Paulo, Perspectiva, 1992.
B Fernand, Uma Leción de Historia, México, Fondo de Cultura, 1996.
B Fernand, A Geohistória, In Revista de História Contemporánea, n.1, São Paulo Xamã,
2002.
B Fernand, “La Géographie face aux sciences humaines”, In Débats et combats. Annales
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DOI : 10.3406/ahess.1951.2000
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São Paulo : Unesp, 1997.
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DOI : 10.3406/geo.1988.20686
C Paul, “The historical dimension of French Geography”, In Journal of Historical
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DOI : 10.1016/0305-7488(84)90274-3
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F Lucien, A Terra e a Evolução Humana, Lisboa : Cosmo, 1954.
L B Paul Vidal de, Principios de Geografia Humana, Lisboa : Cosmo, s/d.
L Yves, “Braudel Geógrafo”, In Ler Braudel, São Paulo : 1989.
L Larissa Alves de [aut], SECCO, Lincoln [orient.]. Relatório de pesquisa: A Concepção de
Espaço de Fernand Braudel na Primeira Parte de O Mediterrâneo, São Paulo, FAPESP, 2005-
2007
M Bertrand, Bibliographie des travaux de Lucien Febvre, Paris, Armand Colin, 1990.

Notas
1 Segundo Paul Claval, foram os historiadores da Escola dos Annales, em especial Fernand
Braudel, quem fez a melhor recuperação e inovação do pensamento lablachiano. Em O
Mediterrâneo Fernand Braudel “rediscovered Vidal de la Blache’s most valuable intuitions and
he gave a most searching geographical introduction to Mediterranean civilization”. (CLAVAL,
1984, 236)
2 Na dedicatória de O Mediterrâneo Braudel escreve: “A Lucien Febvre, sempre presente, em
testemunho de reconhecimento e filial afeição” (Braudel, 1966).
3 Yves Lacoste também notou a ausência de Lucien Febre nos trabalhos de Braudel, e declara, ao
seu estilo: “Sem dúvida, não querendo fazer polêmica com o ‘patrão’, ele fingiu ignorar esse livro
maior, mas perigoso, que, ao contrário dos outros livros de Lucien Febvre, realmente não figura
na bibliografia do Mediterranée.” (LACOSTE, 1989. P.194).

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4 Pode-se ser conferida em MÜLLER, Bertrand. Bibliograohie des travaux de Lucien Febvre.
Paris: Armand Colin, 1990.
5 A biblioagrafia utilizada por Febvre é: “VIDAL DE LA BLACHE, P. Atlas general, historique et
géographique, última edição refundida, Paris, 1921; VIDAL DE LA BLACHE, P. ‘Le principe de la
géographie générale’ (Ann. De géographie, IV, 1895-1896); VIDAL DE LA BLACHE, P. Des
divisions fondamentales du sol français (La France, 1 vol. Do ‘Cours de géographie’ de Vidal de
La Blache e C. D’Almeida, Paris, 1897); VIDAL DE LA BLACHE, P. Les conditions géographiques
des faits sociaux (Ann. De Geogr.. XI, 1902); VIDAL DE LA BLACHE, P. “La géographie
humaine, ses rapports avec la géographie de la vie”, (Rev. Synthèse, 1903, t. VII); VIDAL DE LA
BLACHE, P. “Les caracteres distinctifs de la géographie”, (Ann. De Geogr.. XXII, 1913).; VIDAL
DE LA BLACHE, P. “La Géographie politique d’après les écrits de M. Fr. Ratzel”, (ann. De
Geogr.., VII, 1898); VIDAL DE LA BLACHE, P. “Les genres de vie dans la géographie humaine”
(Ann. De Geogr.., XX, 1991); VIDAL DE LA BLACHE, P. “La répartions des hommes sur le globe”
Ann. De Geogr.., XXVI, 1917); VIDAL DE LA BLACHE, P. Tableau de la géographie de la France
(t. I de Lavisse, Histoire de France), Paris, 3ª ed., 1908.”
6 Há certamente diferenças de abordagens no tratamento do mar Mediterrâneo. No artigo “Les
géographes et le monde méditerranéen” Paul Claval demonstra como o Mediterrâneo foi um
tema permanente entre os geógrafos do início do sécuilo XX à década de 70 e chega também há
estabelecer comparações entre o Mediterrâneo de Fernand Braudel e dos geógrafos franceses.
(CLAVAL, 1988)
7 Agradeço aos leitores deste artigo: Profº Drº Lincoln Secco, Profº Drº titular Antônio Carlos
Robert de Moraes, Maria Auxiliadora Alves da Silva, a geógrafa Emilie Launay, Mariah Salgado,
Helena Wakim e Bruno Boito Turra.

Índice das ilustrações


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Referência eletrónica
Larissa Alves de Lira, « Fernand Braudel e Vidal de La Blache : Geohistória e História da
Geografia », Confins [Online], 2 | 2008, posto online no dia 28 março 2009, consultado o 04
junho 2019. URL : http://journals.openedition.org/confins/2592 ; DOI : 10.4000/confins.2592

Autor
Larissa Alves de Lira
Estudante de graduação da Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Departamento de Geografia. Pesquisadora FAPESP, 2005-2007.
lara_lira@hotmail.com

Artigos do mesmo autor


A Concepção de Tempo Geográfico do Mediterrâneo de Vidal de la Blache [Texto integral]
Publicado em Confins, 22 | 2014
Vidal de la Blache historiador [Texto integral]
Publicado em Confins, 21 | 2014

Direitos de autor

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