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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Professora: Fabiula Sevilha

A longa duração: História, conceito e contexto

Discente: João Batista Sabino Neto

Natal – RN

2022
O presente trabalho busca responder questões sobre o tópico Longa Duração, neste
conceito, responderemos: O que é? Quais principais ideias? O que dizem os/as autores/as
como leitura complementar ou que são indicados ao longo do verbete?

A longa duração é criada pelo francês Fernand Braudel que, em sua tese de
doutoramento O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II, responde à
uma indagação proferida pelo etnólogo Claude Lévi-strauss, este, em 1949 define a
antropologia social, atribui vocação hegemônica e estende seu território até o próprio coração
das ciências naturais, na fronteira entre natureza e cultura.1

Para Claude Lévi-Strauss, o historiador permanece em sua caverna, a menos que utilize
a luz do etnólogo, pois os modelos conscientes se interpõem como obstáculos entre o
observador e seu objeto (DOSSE, 2003. p. 160-161).

No conjunto de ideias epistemológicas que o Braudel constrói, no que diz respeito à sua
obra de doutoramento, ele tenta apresentar uma imagem de conjunto com base nas ideias do
Marcel Mauss, pois foi ele quem definiu as transferências culturais2. Para ser mais claro, foi
ele quem deu mais visibilidade àquilo que não víamos, Braudel salienta: uma civilização se
caracteriza muito mais pelo que desdenha, pelo que não quer, do que pelo que aceita3

Fazendo uma breve contextualização sobre o verbete Longa duração, é importante


salientar o que contexto em que foi criado, para melhor disseca-lo no tempo. É em 1958 que
Braudel procura fazer-se útil às ciências sociais, e elabora uma tese para respaldar essa
afirmação, é no seu famigerado texto sobre história e ciências sociais, em que aborda os
tempos da história, sobretudo a longa duração que Braudel faz suas ponderações teórico-
metodológicas sobre a longa duração. Braudel inicia o texto versando sobre a crise que se
encontrava as ciências do homem na década de 40 e 50, e sobre esse ponto mostra a
mecanização dos acontecimentos imerso numa sociedade sempre em busca de progresso,
devido à rápida produção de novos acontecimentos (CRACCO, 2009). Em sua aula no
Collége de France, Braudel versa sobre civilizações e suas estruturas particulares, o que
1
Parte do capítulo 3, do livro do Dosse (2003), em que Claude Lévi-Strauss provoca os historiadores salientando
à permanência desses ao plano empírico e do observável, incapazes, portanto, de se aprofundarem nas
estruturas profundas da sociedade.
2
São ideias basicamente retomadas por Braudel à conferência de Mauss: “Les civilisations, Eléments et
formes”, proferida durante a semana de síntese organizada por Henri Berr em maio de 1929
3
Trecho retirado da biografia do Braudel, por Pierre Daix (1995).
coaduna-se com sua obra o Mediterrâneo, sobre as civilizações e estruturas recalcadas
Braudel escreve: Acredito na realidade de uma história particularmente lenta das civilizações,
em suas profundezas abissais, em seus traços estruturais e geográficos (DAIX, 1999).

A geografia, com efeito, teve papel particular e exponencial na tese de doutoramento


do Braudel, ela é um meio para se chegar as camadas mais lentas das realidades estruturais, e
a organizar uma perspectivação segundo uma linha do mais longo prazo.

Nesse primeiro escalão da <<geo-história>> é como uma história quase que imóvel,
lenta de se passar e de se transformar, feitas muitas vezes de regressos insistentes, de ciclos
sempre recomeçados. É explicitado na principalmente obra do Braudel, que descreve as
montanhas – o Atlas, o Apenino, o Taurus, etc. (BOURDÉ, 2018).

O objetivo principal tinha o intuito se aprofundar nas estruturas sociais, por


exemplo, na primeira parte do seu livro Mediterrâneo, Braudel discute a cultura e a sociedade
das regiões montanhosas, o conservadorismo dos montanheses, bem como as barreiras que
separaram o homem da montanha e o da planície (BURKE, 2010). Em busca de uma “história
total” – O que era a busca incessante dos Annales, Braudel sofre críticas por deixar lacunas a
serem preenchidas, como por exemplo, as mentalidades coletivas, valores, atitudes, o
processo e prejuízo “da paisagem mediterrânea” na longa duração (Ibidem, p. 58, 2010).

Para uma maior clareza do termo “estruturas na longa duração” é importante


enfatizar que o próprio Braudel pouco se utilizou do termo “estrutura” em sua tese; o que
podemos chamar de seções estruturais são “a parte do meio” e “destinos coletivos”. Segundo
Burke (2010) Chaunu foi quem o introduziu claramente, definindo-o como “tudo o que numa
sociedade, ou numa economia, tem uma duração suficientemente longa em sua modificação
para escapar ao observador comum”.

Como a história caminha mais ou menos depressa, segundo os pioneiros da longa


duração, todavia as camadas profundas da história só atuam e se deixam aprender no tempo
longo. Um sistema econômico e social só muda lentamente, ou também, podemos defini-los
de outras maneiras, através dos costumes ou mentalidades (LE GOFF, 1998). A história das
mentalidades, abordadas sempre na longa duração, foi despertada por Braudel, quando
presidia a VI seção da École des Hautes Études em Sciences Sociales, é com essa influência
que Philippe Ariès elabora estudos sobre a família durante o Antigo Regime, sofre várias
críticas por haver várias generalizações em sua obra, e por concentrar-se apenas à França os
seus estudos, evidencia-se, portanto, a “fraqueza”, ou ineficácia da longa duração em
determinadas obras, seja por sempre fazer generalizações, ou por sempre deixar a desejar
quando se tratando das estruturas mais profundas da sociedade.

O estruturalismo ainda visa produzir uma inteligibilidade ampliada da história. O


mundo imediato é visto como ilusório e falso. Sua verdade é oculta. Mas, teoria da suspeita, é
ainda um esforço de buscar “verdade histórica”, o que coloca uma manifestação de
“ingenuidade iluminista” (GUAZZELLI, 2000). Marx/Lévi-straus, influenciam nos Annales,
sobretudo pelas leis gerais, sociedades imóveis.

Os avanços proporcionados pela difusão dos três tempos (longa, média e curta
duração) em contraponto de uma história linear, único. E o enfoque no tempo longo, além de
uma aproximação com a antropologia, a possibilidade de construir uma cronologia científica
por estabelecer uma “dialética de duração”. Exemplo disso, são as afirmações de autores da
chamada “terceira geração” como Michel Vovelle, que vê na longa duração o veículo pelo
qual a história cultural teve mais avanços (CRACCO, 2009).
BIBLIOGRAFIA

CRACO, Rodrigo Bianchini. A longa duração e as estruturas temporais em Fernand


Braudel: da sua tese O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II até o
artigo História e Ciências Sociais. Assis: 2009.

BOURDÉ, Guy. As escolas históricas. São Paulo: autêntica, 2018.

BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II.


São Paulo: Edusp, 2016.

BURKE, Peter. A escola dos Annales (1929-1989): a revolução francesa da historiografia.


São Paulo: Editora da Unesp, 2010.

DAIX, Pierre. Fernand Braudel: uma biografia. Rio de janeiro: Record, 1999.

DOSSE, François. A história em migalhas: dos Annales à Nova História. Bauru, SP:
EDUSC, 2003.

GUAZZELLI, Cesar augusto Barcellos et al. (Org.). Questões de teoria e metodologia da


história. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000.

LE GOFF, Jacques. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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