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George Araújo*
Introdução
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Graduado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atualmente cur-
sando o mestrado também em História pela mesma instituição. E-mail: geoaraujo@ymail.com
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A antropologia estrutural
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Não bastasse tudo isso, para Lévi-Strauss a história tem outro pro-
blema insolúvel, já que o historiador deve escolher entre contar com grande
quantidade de dados ou se preocupar mais com a qualidade da explicação. A
questão é que quanto maior o número de dados, mais pobre é a explicação,
mais difícil é explicar tudo. Por outro lado, que validade pode ter uma “boa
explicação” baseada em um reduzido conjunto de informações? Enfim, a
história pode ser, no máximo consciência (relação consigo mesmo, subjetiva)
e nunca ciência (saber submetido a um controle externo, objetiva).
Outro ponto importante da crítica de Lévi-Strauss à história é a
afirmação de que esta trata dos processos conscientes, rápidos, instáveis.
A etnologia seria superior à história por tratar dos processos inconscientes,
lentos, estáveis, comuns a todas as sociedades. O antropólogo considera que
a história é tão somente a história dos pequenos acontecimentos singulares,
do campo empírico, os observáveis fenômenos de superfície, tendo por fun-
ção primordial relatar eventos. Esses eventos são aleatórios, casuais e, por
esse motivo, os historiadores são incapazes de criar um modelo científico.
Portanto, filosofias da história são equivalentes, para ele, a mitos (DOSSE,
2001, p.154). A história preocupa-se com diacronia, com os fenômenos de
superfície, enquanto que a etnologia destaca a sincronia, as estruturas que,
em última análise são o verdadeiro conhecimento, pois seguro, explicativo
das manifestações divergentes na aparência e que, em última instância con-
sistem em processos inconscientes que dominam os indivíduos. Por trás de
uma miríade de acontecimentos históricos, há uma estrutura e uma ordem
subjacentes e perenes, que se rearticulam, se reorganizam, se reestruturam
e se restabelecem, e que mostram a verdadeira natureza (efêmera) dos fatos
históricos.
Dosse defende que o programa de Lévi-Strauss não abole totalmente
a temporalidade por diferenciar dois ritmos históricos entre as sociedades
humanas: o “quente” (das sociedades contemporâneas, que conta com uma
história cumulativa, progressiva, onde a estatística deve ser a abordagem
privilegiada) e o “frio” (o das sociedades ditas “primitivas”, onde a sucessão
temporal se dissolve na estrutura social, e um modelo de análise de tipo me-
cânico e operacional seria o mais indicado) (DOSSE, 2001, p. 155).
Todavia, ainda que conceda à história um lugar (menor) entre as
ciências humanas, o estruturalismo de Lévi-Strauss
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divide-se em três partes, cada uma das quais pretende ser um ten-
tativa de explicação do conjunto. A primeira trata de uma his-
tória, quase imóvel, que é a do homem nas suas relações com o
meio que o rodeia, uma história lenta, de lentas transformações,
muitas vezes feitas de retrocessos, de ciclos sempre recomeçados;
[...] quase sempre fora do tempo. […] Acima desta história imó-
vel, pode distinguir-se uma outra, caracterizada por um ritmo
lento: […] a história dos grupos e agrupamentos […], as econo-
mias, os Estados, as sociedades, as civilizações. […] [F]inalmente,
a terceira parte, a história tradicional, necessária se pretendemos
uma história não à dimensão do homem mas do indivíduo, uma
história de acontecimentos […] isto é, a da agitação da superfície,
as vagas levantadas pelo poderoso movimento das marés, uma
história com oscilações breves, rápidas nervosas. Ultra-sensível
por definição, o menor movimento activa todos os instrumentos
de medida. (BRAUDEL, 1983, p.12).
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A longa duração
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Pode ser que tanto Braudel quanto Lévi-Strauss (que viveram situ-
ações terríveis com uma Europa que mergulhava no drama da Segunda
Guerra Mundial para deixar de ser o centro do mundo) quisessem escapar
daqueles anos sufocantes, daqueles eventos opressivos dos anos 1940, sair
do tempo, criar uma estrutura que pudesse sustentar aquele presente tão tur-
bulento. Pois se à época da eclosão da 1ª Guerra Mundial o mundo parecia
estar desmoronando, durante a 2ª Guerra ele realmente desmoronou. Com
todas as matanças, genocídios e destruições que ocorreram, perderam-se
muitas das antigas referências e o discurso que atribuía à história um telos,
deixou de fazer sentido. Porém, se Lévi-Strauss chega a uma solução que,
em definitiva, busca abolir a temporalidade; Braudel sabia que, como histo-
riador, não poderia nunca fazer o mesmo. Portanto,
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[q]uando os historiadores dos Annales fazem a “dialética da dura-
ção”, eles passam do tempo curto ao tempo longo e retornam ao
tempo curto reconstruindo o caminho já feito. Mas, esta operação
é “temporalizante” e não lança para fora do tempo histórico, que
Braudel descreve como “imperioso, pois irreversível, concreto, uni-
versal”. O tempo histórico é exterior aos homens, exógeno, e os
empurra, obriga, oprime. Lévi-Strauss só poderia escapar ao tempo
da história se emigrasse para uma aldeia indígena. Mas, lá também
o tempo da “grande história” chegou de forma arrasadora e não
foi possível restabelecer, reequilibrar ou reestruturar quase nada!
Em relação aos indígenas americanos e do mundo todo, a história
venceu a etnologia. As “sociedades frias” evaporaram sob o calor
causticante, nuclear, do tempo histórico. (REIS, 2007, p.17)
Considerações finais
Estruturalismo e história
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e desaparecer em uma história cada vez mais antropológica, cada vez mais
estrutural; e que termine, assim, por rejeitar a temporalidade e a... mudança
(DOSSE, 2001, p.170).
Talvez Dosse tenha razão ou quiçá seja demasiado pessimista, já que
o próprio Braudel em A longa duração afirma que para qualquer observador
do social, o principal continua a ser a mudança, a ruptura, a transformação.
Interdisciplinaridade
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Referências
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