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Carlos Prado
RESUMO
Na década de 1950, Lévi-Strauss se tornou um dos mais eminentes
cientistas sociais e o estruturalismo antropológico lançado por ele,
abalou não apenas a antropologia funcionalista, mas também outras
ciências, inclusive a História. A proposta estruturalista trouxe aos
historiadores velhas questões, reascendendo o debate entre evento e
estrutura. O objetivo do presente artigo é discutir como Braudel
responde ao avançar do estruturalismo lévi-straussiano, a partir da
longa duração e de uma abordagem do plural do tempo, buscando
superar a oposição entre o estrutural e o factual. Primeiramente,
vamos apresentar o estruturalismo antropológico, ressaltando suas
características e considerações diante do pensamento histórico. Num
segundo momento, evidencia-se como Braudel se apropria do
estruturalismo de Lévi-Strauss ao mesmo tempo em que o nega e
apresenta a História como a ciência capaz de permanecer
hegemônica entre as Ciências humanas. Posteriormente, trataremos
do conceito de longa duração e da pluralidade temporal. Por fim, na
última parte, traçamos algumas considerações sobre a ampliação da
história estrutural, destacando sua diversidade e seus riscos,
especialmente, o de produzir uma história imóvel.
ABSTRACT
In the 1950s, Levi-Strauss became one of the most eminent social
scientists, and his anthropological structuralism shook not only
functionalist anthropology but also other sciences, including history.
The structuralist proposal has brought historians old questions,
rekindling the debate between event and structure. The aim of this
paper is to discuss how Braudel responds and advance Lévi-
Straussian structuralism, based on its long duration and a plural
approach to time, seeking to overcome an opposition between
Professor do curso de História da Faculdade de Ciências Humanas (FACH) da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Possui graduação em História pela
Universidade Católica Dom Bosco (2005), Mestrado em Filosofia pela Universidade
Estadual do Oeste do Paraná (2010) e Doutorado em História pela Universidade
Federal Fluminense (2019). E-mail: carlosprado1985@hotmail.com
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Em 1903, François Simiand publicou,na Revue de synthèse hlstorique de Henri Berr,
o polêmico artigo; “Método histórico e Ciências Sociais”, no qual apontou os três
ídolos dos historiadores – político, individual e cronológico. O texto lançou uma feroz
crítica a história dos acontecimentos políticos e convidou os historiadores a passar do
fenômeno singular para o regular, para a investigação das relações estáveis e
permanentes, ou seja, para se deslocar o olhar do factual para o geral.
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Posteriormente o artigo de Braudel foi publicado em diversas outras revistas
importantes, sendo traduzido para diversas línguas. No Brasil, ele foi publicado na
Revista de História, número 62, em 1965, com tradução de Ana Maria de Almeida
Camargo.
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Braudel e Lévi-Strauss foram professores da Universidade de São Paulo na década
de 1930. Neste período, a recém-criada USP buscava se firmar como instituição e
convidou professores estrangeiros para auxiliar neste processo. Assim, em 1935 a
convite de Júlio Mesquita Filho, ambos chegaram ao Brasil para ocupar cadeiras na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. O antropólogo ficou com a cadeira de
Sociologia e Braudel ocupou a de História Moderna. Em sua estada no Brasil, o
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A UNESCO funda em 1949, as Associações Internacionais de Sociologia e de
Direito Comparado, assim como a Associação Francesa de Ciência Política.
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“Voltarei, uma vez mais, a C. Lévi-Strauss, porque sua tentativa, nestes domínios,
me parece a mais inteligente, nestes domínios, me parece a mais inteligente, a mais
clara, a melhor enraizada, também, na experiência social, da qual tudo deve partir,
para onde tudo deve voltar” (BRAUDEL, 1965, p. 286).
(...) são movimentos que não têm nem a mesma duração, nem a mesma
direção, que se integram, uns no tempo dos homens, o de nossa vida
breve e fugidia, outros nesse tempo das sociedades para as quais uma
jornada, um ano não significam grande coisa, para as quais, por vezes,
um século inteiro não é mais que um instante de duração.
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Sobre esse aspecto, Fevbre teve uma influência decisiva na elaboração da obra de
Braudel. Os dois se conheceram em 1934, no “Centro de Síntese Histórica” dirigido
por Henri Berr. Posteriormente, em 1937, retornaram no mesmo navio da América
Latina, foi quando o diálogo se consolidou e nunca mais foi interrompido. A tese de
Febvre também abordava o reinado de Filipe II e já destacava o papel de um sujeito
geográfico. A Geo-história que já havia sido decisiva na primeira geração dos Annales
se transformou em um elemento ainda mais central pelas mãos de Braudel.
Recebido em 30/09/2019
Aprovado em 22/02/2021