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por
M aria de Lurdes Ro sa
(Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL
Membro do Centro de Estudos de História Religiosa da UCP)
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III CONGRESSO HISTÓRICO DE GUIMARÃES D. MANUEL E A SUA ÉPOCA
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1 Todo este processo é inseparável da construção de um discurso e prática régias em relação aos
«corpos pios», que tem origem nos primórdios da Dinastia de Avis, em especial com a teorização e acção
de D. Duarte e do Infante D. Pedro, e para o qual cada um dos monarcas subsequentes irá contribuir de
forma específica. Não sendo possível analisar aqui detalhadamente os meandros da sua evolução e as suas
características, remetemos para uma abordagem desenvolvida sobre o tema, na nossa tese de doutora
mento, em finalização.
2 Não possuímos o original da súplica, mas apenas o seu resumo e despacho, que é da mesma data
da respectiva bula, ou seja, 13.08.1479. Não se deve portanto dizer que o príncipe D. João fez este pedido
em 1479; de resto é também um erro frequente dizer que neste ano ele pediu anexação semelhante para
Santarém e Évora, o que se repete desde a afirmação incorrecta e sem referência documental, de F. Silva
C orreia , em Uma reforma da assistência, p. 14, Lisboa, Ed. Autor, 1942. Sobre esta medida em particular,
com edição dos documentos, ver, por todos, A. D. Sousa C osta , «Hospitais e albergarias na documentação
pontifícia da segunda metade do século XV», p. 278, p. 288 e does. 7 e 8, A pobreza e a assistência aos
pobres na Península Ibérica durante a Idade Média, vol. 1, pp. 259-327, Lisboa, I. A. C., 1973
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3 A bibliografia sobre o Hospital de Todos-os-Santos, que resultará desta concessão, é muito vasta e
de desigual qualidade (cfr. infra). Sobre esta medida em particular, com edição dos documentos, ver, por
todos, A. D. Sousa C osta, «Hospitais...», cit., p. 278, p. 288 e does. 7 e 8.
4 Nesta época seria com toda a probabilidade Fernando Eanes, designado como tal em documentos
datados de 10 de Abril de 1478 (IAN/TT, Mitra Patriarcal de Lisboa, liv. 13, fl. 210-210v) e de 8 de Maio
de 1481 (BN, Reservados, Cód. 13145, fl. 68). Agradecemos esta informação a Mário Sérgio Farelo.
5 Doc. em A. D. Sousa C osta, «Hospitais...», cit., doc. 8.
6 Bula de 1499: IAN/TT, Bulas do Arquivo, mç. 16, n.° 8; será ainda executor o bispo da Guarda, que
voltará a executar a bula de 1501. Desconhecem-se infelizmente os executores da bula de 21 de Fevereiro
de 1486, porque não resta nenhum original desta (ed. por A. D. Sousa Costa, «Hospitais...», cit., doc. 10,
a partir do registo vaticano; o exemplar de IAN/TT, Bulas do Arquivo, mç. 13, n.°17, é uma pública fornia
de 1509, onde não são indicados os executores.
7 Armindo de S ousa , As cortes medievais portuguesas (1385-1490), vol. I, p. 239, 265 e 421-24; Porto,
I.N.I.C., 1990. Estas cortes foram recentemente alvo da análise «micro» de Rita Costa G o m es , que
comprova a força das suas inovações e reformas, «As cortes de 1481-1482», in O tempo de Vasco da
Gama, dir. Diogo Ramada Curto pp. 245-264, Lisboa, Difel, 1998.
8 Armindo de S ousa , op. cit., vol. I, p. 423.
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9 Idem.
10 H á um terceiro pedido, que não abordaremos em texto porque se trata de um caso meramente
circunstancial. Pede-se ao rei um adiamento para o cumprimento dos testamentos em virtude das difi
culdades devidas à guerra recente, ao que o rei anui, não sem observar que já tinha passado tempo sufi
ciente para os cumprir desde a assinatura das tréguas (pp. 251-252, da edição dos capítulos destas cortes
em Visconde de S antarém , Alguns documentos para servirem de provas à parte 2." das Memórias pa\a a
história e Theoria das cortes geraes (...), pp. 66-272, Lisboa, Impr. Régia, 1828) (cfr. ainda A. de S ousa, As
cortes medievais.., cit., II, p. 479 e H . da Gama B arros , História da Administração Pública em Portugal nos
séculos XII a XV, 2.a ed., vol. VI, p. 550, nt.2, Lisboa, S á da Costa, 1945-1954).
11 Pedido e resposta em ed. cit., pp. 230-231.
12 «Respomde elrey que elle tem deliberado, tanto que for em a cidade de lixboa, omde esta cousa
he mais desordenada e lhe he apomtado per capitollo speçial de dar ordem e forma como os taees ofiçios
seiam redozidos aa milhor maneira que elle semtir por seu serviço e bem do povoo; e o que ally determinar
se poderá requerer em particollar pera cada logar em que tall callidade como na dita çidade ouver.» - Capí
tulo e resposta in ed. cit. nt. anterior, pp. 220-221. (cfr. ainda A. de S ousa , As cortes medievais.., cit.,
vol. II, p. 478 e H. da Gama Barros, op. cit., vol. VI, p. 550, nt. 2).
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daquela cidade, em que já teria o assunto pensado I3. Não há, infelizmente, quaisquer
vestígios documentais dos capítulos especiais de Lisboa para estas cortes 14.
Deve-se a Henrique da Gama Barros a sugestão de que esta resposta se pode
interpretar em relação com a grande reforma dos oficiais de resíduos que o cronista
régio Rui de Pina afirma ter tido lugar nestas cortes (na Crónica d’el-rei D. João II) 15.
Como anota o mesmo Autor, o cronista refere também que essa reforma é a que
vigora no tempo em que escreve (1501-1504)16- o que corresponderia, de facto, à
estrutura das provedorias das comarcas que centralizavam todos os assuntos rela
cionados com as instituições pias. Em Lisboa esta «provedoria» teve a particulari
dade de se situar junto ao Hospital de Todos-os-Santos. Esta observação quadraria
bem com a remissão régia para uma «experiência» em Lisboa, que depois teria sido
estendida a todo o reino.
Assim sendo, parece-nos certa a afirmação de antigos historiadores do Hospital
de Todos-os-Santos, como A. Silva Carvalho ou Mário Carmona, de que remontaria
ao reinado joanino a criação de um orgão destinado à administração das instituições
pias de Lisboa, reformando as estruturas anteriores 17. No entanto, ambos compreen
deram esse orgão administrativo como sendo quase exclusivamente uma parte da
máquina maior, o Hospital de Todos-os-Santos 18. As suas afirmações, além disso,
eram corroboradas com material documental que não estava acessível, pois durante
décadas esteve encerrado ao público o arquivo do Hospital de S. José, instituição que
recolheu toda a documentação das instituições anteriores que nos interessam. Agora,
estando o valiosíssimo acervo depositado no Arquivo Nacional, é possível apro
fundar-se toda a questão, tentando não-só corrigir alguns erros documentais das
obras dos historiadores referidos 19, mas ainda perpectivar de modo diverso a histó
ria da instituição em causa.
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cidade e seu termo (sem que haja referência a «capelas»). As cartas régias a eles rela
tivas, datadas de 1482 a 1491, são, na sua maioria, de nomeação de escrivães. Parece
certo que a competência destes não se limita ao registo de actos relacionados com a
construção do futuro hospital central. De facto, dado a vigência da bula de 1479,
permitindo a união das antigas instituições àquela casa assistencial, os actos com
elas relacionadas poderiam não significar nada mais do que o processo de consti
tuição do Hospital Real. No entanto, verificamos que as incumbências destes oficiais
são mencionados de forma distinta conforme se trata do Hospital em construção,
ou dos vários hospitais menores já existentes 20.
Uma carta de 1491 refere um único oficial diverso dos escrivães, o «procurador
dos hospitais» 21, que tinha a incumbência de proceder aos aspectos legais da admi
nistração do património dos hospitais. É já um funcionário com formação, pois a
carta diz respeito a um bacharel em leis, Fernão Machado. Quanto ao cargo de
«provedor», que teria funções de chefia, sabemos que já no reinado de D. Afonso V
existia algo de semelhante, pois temos nomeações de 1464 e 1466 para «juiz e
provedor dos hospitais, albergarias e confrarias de Lisboa e termo» 22. D. João II
manifestara a intenção de proceder à sua reforma, como vimos. São porém escassos
os sinais concretos de como procedeu. Há a importante referência do cronista Rui de
Pina, que fala do desempenho do cargo de «provedor das capelas de Lisboa» por um
certo João Garcês, no ano de 1488 23. Não foi porém possível encontrarmos qualquer
outra comprovação documental desta afirmação24. A primeira referência compro-
20 A primeira data de 4 de Junho de 1482: carta de escrivão dos hospitais, albergarias e confrarias
de Lisboa e termo a um tal Manso Rodrigues (IAN/TT, Chancelaria de D. João II, lv.° 2, fl. 117). É de
salientar que esta carta se encontra mal referenciada nos índices oitocentistas, induzindo em erro: «carta
de escrivão da provedoria das capelas de Lisboa» (o que de modo algum é mencionado no documento).
Em 10 de Maio de 1484, o mesmo personagem recebe outra carta, na qual, além do cargo que já detinha,
lhe é conferido o de «escrivão da receita e despesa do Hospital Grande que temos por vontade de fazer em
Lisboa» (idem, lv.° 23, fl. 98v). Mário Carmona conhece apenas esta, pelo que depreende não só que a
nomeação anterior foi igual (o que é errado), como ainda que as atribuições de Manso Rodrigues em
relação aos outros hospitais de Lisboa eram as de converter os rendimentos destes na futura fundação (o
que é extrapolação). Aliás, posteriormente há várias outras cartas, mencionando o cargo de apenas
«escrivão dos hospitais de Lisboa» (a Rui Vaz, sucessor de Manso Rodrigues, em 11 de Novembro de 1484
- IAN/TT, Chancelaria de D. João II, lv.° 22, fl. 116; a Afonso de Freitas, sucessor de Rui Vaz, em 7 de Feve
reiro de 1490 - idem, Iv.° 17, fl. 91v (Mário C armona , op. cit., p. 54, refere um outro documento relativo
a este oficial, em IAN/TT, Chancelaria de D. João II, lv.° 26, fl. 22, mas não se encontra neste local).
21 16 de Novembro de 1491, nomeação de Fernão Machado neste cargo (IAN/TT, Chancelaria de
D. João II, lv.° 11, fl. 122).
22 Maria José F erro , «Nótulas para o estudo da assistência hospitalar em Lisboa», p. 384, in
A pobreza e a assistência, cit., vol. I, p. 371-400) [como já refere esta Autora, A. Silva Carvalho, Crónica,
p. 12, dá a data de 1460 para a carta; e além disso também lhe dá cota diferente, e errada: IAN/TT, Chan
celaria de D. Afonso V, lv.° 28, fl. 51vj.
23 Crónica d’el-rei D. João II, cap. 31, (ed. cit., p. 944), cit. por H. da Gama Barros, HAP, vol. VI,
p. 551, nt.2.
24 Não se encontra a nomeação na chancelaria de D. João II, que contudo regista várias cartas
passadas a João Garcês, fidalgo do círculo próximo do monarca. É até possível que o cronista lhe tenha
atribuído aquele cargo por confusão com o único que sabemos ter ele realmente desempenhado nesta
área, o de «provedor» das capelas de D. Afonso IV na Sé de Lisboa (IAN/TT, Chancelaria de D. João II,
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vada a este oficial, no reinado de D. João II, envolve uma personagem fundamental
em todo o processo, em torno da qual, porém, se têm tecido numerosos enganos.
Falamos de Estêvão Martins, clérigo que protagonizou uma brilhante carreira junto
dos reis D.João II e D. Manuel. O estudo da personagem e do seu percurso é muito
útil para conhecermos melhor como se organizou a acção régia sobre as instituições
pias, a partir de finais do século XV.
As primeiras referências seguras sobre ele datam de 1490, ano em que é
nomeado deão da capela do príncipe herdeiro. A carta de nomeação comprova
porém que ele servira já Afonso V (não indicando cargos) e o próprio D. João II, de
cuja capela também era deão 25. O epitáfio da sua sepultura, na Igreja do Hospital
de Todos-os-Santos referia-o como capelão-mor do príncipe, mas não há dados
certos de ta l26. Com a devida prudência quanto a problemas de homonímia difíceis
de deslindar, é possível conjecturar que esta grande proximidade ao rei, institucional
e pessoal, viesse já, de facto, de tempos de D.Afonso V. Segundo Rui de Pina, quando
em 1477 o monarca, desiludido com a sua «aventura francesa», decide abandonar
tudo e fugir, para se dedicar à vida religiosa em Jerusalém, um dos companheiros
é «Estevam Martynz seu capelão» 27. Vemos assim perfeitamente comprovada a
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lv.° 8, fl. 19). Refira-se que os índices (antigo e actual), contêm um erro que pode introduzir dúvida a este
respeito, pois mencionam a atribuição do cargo de «protonotário apostólico» a João Garcês, o que provoca
suspeita de homonímia com um clérigo, que deteria este cargo, fundamental para a direcção da prove
doria das capelas manuelina, como veremos adiante. Mas o documento é na verdade apenas a nomeação
do mesmo fidalgo, leigo, para notário público, com amplos privilégios) (IAN/TT, Chancelaria de D. João II,
lv.° 6, fl. 139v). Seria de resto bastante estranho que o rei nomeasse um protonotário apostólico. Por fim,
deve referir que os editores do Chartularium JJniversitatis Portucalensis, dir. A. Moreira de Sá [doravante
CUP], vol. IX, doc. 3008, Lisboa, IAC/ INIC, 1966-2000, leram o nome do beneficiário da carta de
nomeação de tesoureiro dos resíduos de Lisboa, de 2-4-1484, como «João de Garcês»; mas comprovámos
a leitura no original, onde nos parece estar, sem equívoco, «João de Guimarães».
25 IAN/TT, Chancelaria de D. João II, lv.° 16, fl. 106v (já cit. em Mário Carmona, op. cit., p. 60).
Há ainda uma segunda carta deste ano, que nada acrescenta em termos de carreira eclesiástica (IAN/TT,
Chancelaria de D. João II, lv.° 13, fl. 49v: licença para compar bens de raiz, a 8 de Maio).
26 A. Silva C arvalho, Crónica, p. 290; Mário Carmona , op. cit., p. 58. Nesta lápide há de resto outros
elementos que estes Autores não conseguiram comprovar, como uma embaixada à Alemanha. A. Silva
C arvalho, Crónica, p. 73, sem citar fonte, refere ainda que ele fora capelão-mor de D. Afonso V enquanto
príncipe (o que nos parece manifestamente impossível, pois implicaria uma grande longevidade). Este
autor refere ainda que encontrou Estêvão Martins designado por «Preto», o que é apenas uma má leitura
de «proto»[notário].
27 Crónica do senhor rey D. Affonso V, cap. CCII (ed. de M. Lopes de Almeida, Crónicas de Rui de
Pina, cit., p.862). Será provavelmente o mesmo que em 1452 e 1453 recebe, respectivamente, privilégio
para um seu criado, e a igreja de S. Mamede, em Lisboa (IAN/TT, Chancelaria de D. Afonso V, lv.° 12,
fls. 71 r/v e lv.° 4, fl. 58; este último doc. já é citado por Mário Carmona, op. cit., p. 60); e o agraciado em
1484 com o chantrado da Igreja de Santa Maria da Alcáçova de Santarém, que era de padroado régio - aí
é referido como «nosso capelão» (IAN/TT, Chancelaria de D. João II, lv.° 22, fl. 2). Em 1472 surge porém
um Estêvão Martins que, embora seja referido como «capelão régio», já temos mais dificuldade em equi
parar com o nosso, pois as referências é em duas cartas de legitimação de outros tantos filhos (IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V, lv.° 29, fls. 101). Ora, no primeiro testamento de Estêvão Martins, de 1505,
nunca são referidos quaisquer filhos, nem vivos nem mortos (e são instituídos sufrágios por alma de
vários familiares. No segundo, de 1506, os parentes referido são sobrinhos, de filiação claramente refe-
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importância do capelão régio - neste caso, um que parece ter merecido confiança de
vários monarcas e príncipes enquanto braço direito do rei, na reforma dos campos
«sagrados» a que a monarquia tardo-medieval estende decisivamente a sua alçada.
É a partir de 1493 que vemos Estêvão Martins envolvido a fundo numa activi-
dade nova 28. Assim, em Janeiro desse ano, o clérigo preside ao primeiro de uma série
de aforamentos de bens de variadas instituições pias da capital, que se estenderá até
ao final do reinado joanino29. Embora saibamos que poucos meses antes, a 15 de
Maio de 1492, D. João II lançara a primeira pedra do grande «Hospital Novo»,
parece-nos claro que a actividade de Estêvão Martins a que nos referimos não
surge ligada directamente a esta ocorrência. De facto, embora todos os aforamentos
digam respeito a bens de instituições hospitalares posteriormente incorporadas no
Hospital-de-Todos-os- Santos30, neste momento elas surgem perfeitamente autó
nomas, e Estêvão Martins trabalha em colaboração com os seus dirigentes. O que
mais significativo, porém, são os títulos que ostenta. No aforamento mais antigo
registado (15 de Janeiro de 1493), ele é referido com os seu títulos eclesiásticos de
«mestre-escola» e «cónego da sé de Lisboa»; o cargo que se lhe indica é o de
«provedor e juiz dos hospitais, albergarias e capelas de Lisboa e termo, por especial
mandado e comissão del rei»31. Assim, torna-se claro que Estêvão Martins exerce
neste momento funções directivas da «Provedoria» das instituições pias de Lisboa e
termo, sem que haja menção a outro cargo no âmbito hospitalar. Tudo indica,
portanto, que D. João II consegue criar, ou reformar a fundo, na capital do reino, o
orgão administrativo que há tanto preconizava; e coloca-lhe à frente um clérigo do
seu círculo mais próximo. Para além dos títulos que acima referimos, numa escritura
também de 1495, aparece com o cargo de «protonotário da Sé Apostólica» 32. O facto
rida, cujos nomes não coincidem com os filhos legitimados de Estêvão Martins; os sufrágios por alma
continuam a não incluir descendência (sobre os testamentos, cfr. infra). Por outro lado, no doc. de 1472,
ele é referido ainda como «cónego da Sé de Coimbra», cargo que nunca surge mencionado a propósito
do Estêvão Martins «certo», que era de resto cónego da Sé de Lisboa (cfr. infra). Para outras homonímias,
cfr. a nossa dissertação de doutoramento, em finalização.
28 A. Silva Carvalho, Crónica, apresenta o ano de 1492 como o início das actividades de Estêvão
Martins, mas as provas documentais que apresenta estão completamente erradas. O documento referido
na p. 74 como sendo de 1492 é, na realidade, de 1497 (aforamento de bens, em IAN/TT, Leitura Nova,
Estremadura, lv.° I, fl. 125); o da p. 73, que seria do mesmo ano, é de 1498 (e o seu teor completamente
diverso do que é apresentado, como vermos, pois contem informações relevantes) (carta do rei à Câmara
de Lisboa, ed. em E. Freire de Oliveira, Elementos para a história do município de Lisboa, t. I, pp. 380-81
Lisboa, Typ. Universal, 1901). Mário Carmona , op. cit., pp. 55, 58 e 60, repete os mesmos erros.
29 Ver Quadro I.
30 Hospital de S. Vicente dos Romeiros, H. de Sta. Maria dos Sapateiros, H. dos Tanoeiros, H. dos
Carniceiros, H. de Santa M.a da Mercê, H. de Sta. M.a de Rocamador. Para a lista das incorporações
em Todos-os-Santos, E. Freire de Oliveira, Elementos para a história do município de Lisboa, cit., t. XII,
pp. 476-478.
31 Cfr. Quadro I. Este documento já é referido por Mário Carmona, porém a partir da cópia oito
centista do livro de escrituras originais que consultámos (op. cit., pp. 54-55).
32 Cfr. Quadro I. Este título não é referido nas escrituras seguintes, voltando a aparecer, esporadi
camente, em 1494 e 1495. A. Silva C arvalho, Crónica, p. 73, afirma que Estêvão Martins foi «designado
protonotário apostólico» a 11 de Dez.° de 1501, cit. o lv.° VI da Estremadura, fl. 91, onde nada se encontra
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a este respeito (é apenas a confirmação de um aforamento feito por Estêvão Martins em 1503). O erro é
repetido por M. Carmona , op. cit., p. 60).
33 CUP, IX, doc. 3584: sentença relativa a contenda envolvendo aquele mosteiro, onde se menciona
essa qualidade de Estêvão Martins, «mestre-escola e cónego da Sé de Lisboa» (que aliás delegara num
outro eclesiástico o trabalho jurídico em questão, por ele começado - o que pode indicar da necessidade
de dedicação maior à tarefa régia).
34 Para D. Manuel, temos também testemunhos em relação às capelas (cfr. infra).
35 Cfr. Quadro I.
36 Por exemplo em 3/3/1494; em 16/12/1494: cfr. Quadro I.
37 Cfr. infra.
38 Por exemplo nos aforamentos de 18/08, de 23/10, de 24/10 (ambos), todos do ano de 1494:
cfr. Quadro I.
39 Cfr. infra.
40 «20 dias»: sentenças de 23 e 24 de Outubro de 1494; «dois meses e mais»: sentença de 18-08-1494
(cfr. Quadro I).
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veis, fora um «porteiro do Concelho» de Lisboa, e que o escrivão do acto age «por
especial mandato do rei» 41. No acto seguinte que nos aparece em versão documental
completa, e que é cerca de ano e meio posterior ao primeiro, vemos já presente
um «porteiro dos hospitais», pelo que já não é necessário recorrer ao porteiro conce
lhio para os pregões42. Por outro lado, neste documento encontramos também a
menção de um «solicitador dos hospitais», importante não só porque é o único cargo
mais diferenciado, além do provedor, mas também porque o desempenha um capelão
do rei», Afonso Nogueira43. Vemos portanto de novo presentes os clérigos do
círculo régio, como activos participantes na reforma das instituições pias lisboetas.
Um último funcionário presente é o escrivão, que deixa também se ser referido como
«de mandato especial» nos documentos de 1494. Vemos mesmo que o cargo foi neste
ano desempenhado por Afonso de Freitas, que em 1490 encontráramos como apenas
«escrivão dos hospitais de Lisboa» 44, e que surge então como «escrivão dos ditos
espitaaes albergarias e comfrarias da dieta cidade e termos» 45, o que pode indicar
uma continuidade entre as duas instituições. Está presente a seu lado, a partir de
1494, o escudeiro régio Martim de Castro, que se manterá no cargo durante mais de
quarenta anos46. Em 1495 existia ainda um terceiro escrivão, este com habilitações
jurídicas: o bacharel Gomes Borges 47. Este facto reforça a nossa tese da existência
de um núcleo forte de oficiais especializados neste campo, que na sua grande
maioria transitam para o reinado de D. Manuel, e que, dirigidos por eclesiásticos
da confiança do rei (eles próprios legistas com formação e prática específica), são
instrumento decisivo para a implantação da reforma em apreço.
Uma pergunta final se impõem. Como pensaria o «Príncipe Perfeito» a relação
entre a provedoria das instituições pias e o Hospital Real? No reinado de D. Manuel,
como veremos, os cargos são por vezes acumulados, o que acarreta sempre grandes
conflitos. Não poderemos, neste momento, afirmar nada mais - até porque, à data da
morte do monarca, o grande hospital planeado por D. João II não se encontrava em
41 Aforamento de 15/01/1493, ed. CUP, IX, doc. 3504 (na cópia de IAN/TT, Hospital de São José,
«Série Preta», lv.° 1334, fls. 172v-173, o escatocolo está abreviado, não contendo todas as informações.
42 Emprazamento de 18.08.1494, ed. CUP, IX, doc. 3552. O porteiro é Lourenço de Évora, que estará
ao serviço da provedoria também no reinado de D. Manuel (cfr. infra).
43 Em idem, entre as testemunhas. Não encontrámos vestígios da sua actividade na chancelaria
joanina; com D. Manuel, sabemos que continua a desempenhar o cargo de «capelão régio», pelo menos
até 1501 (IAN/TT, Chancelaria de D. Manuel, lv.° 17, fl. 66v). Embora não tenhamos conseguido estabe
lecer a ligação genealógica, ele pertencerá provavelmente a uma família de legistas e ecleiásticos cuja
ascensão se deveu à ligação directa aos reis, com importante currículo nas actividades de reforma
eclesiástica (cfr. infra, sobre formação dos Lóios).
44 Cfr. supra, nt. ***
45 Emprazamento de 18.08.1494, ed. CUP, IX, doc. 3552.
46 A primeira carta por ele lavrada data de 23-10-1494 (cfr. Quadro I); a última carta conhecida
data de 1537: Registos dos reinados de D. João II e de D. Manuel I (ed. fac-similada), p. 449, Lisboa, s.n.,
1996 [doravante Registos]. No reinado de D. Manuel, parece ter passado a ser o único detentor do cargo
(cfr. infra).
47 Emprazamento de 11/08/1495, ed. em CUP, IX, doc. 3590.
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pleno funcionamento. Teremos de aguardar pelo reinado seguinte para, então sim,
ver como se põe a operar em pleno estas duas importantes instituições.
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48 Registos, p. 407.
49 Referimo-nos à carta já citada, de 15-10-1498, em que o rei manda Estêvão Martins, Diogo Lopes
de Carvalho e Diogo Pinheiro juntarem ao seu «regimento» a resolução de algumas dúvida levantadas pelo
desembargador com alçada João Vaz (Registos, pp. 379-380).
50 A única referência anterior data de 1494, quando, já «doutor», acompanha D. Rodrigo de Castro,
do conselho do rei, numa alçada crime em terras a sul do reino (IAN/TT, Leitura Nova - Odiana, lv.° 4, fls.
176v-178). Até Maio de 1505 desempenha vários cargos no Juízo das Capelas (última referência em Maio
desse ano, da chancelaria régia (ed. CUP, X, d. 3936); em Agosto desse ano é testemunha do primeiro
testamento de Estêvão Martins (IAN/TT, Hospital de S. José, «Série Preta», lv.° 1116, fls. 5v-7). Depois da
morte do provedor não voltamos a encontrá-lo no Juízo das Capelas, havendo também um grande hiato
com outra actividade burocrática: apenas em 1517 reaparece na chancelaria régia, e não mais no campo
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das instituições pias (como autor de um alvará num caso de mancebia: IAN/TT, Chancelaria de D. Manuel,
lv.° 39, fl. 113); a última menção é de 1521 (Maio 28: IAN/TT, Chancelaria de D. Manuel, lv.° 46, fl. 159v).
51 Sobre o seu trabalho com instituições pias anteriormente, cfr. a nossa dissertação de doutora
mento, em finalização. Para os restantes cargos: oriundo de uma família de altos-funcionários, forma-se
em utroque lure em Siena durante os anos 70 do século XV; ligado à casa de Bragança, seiá advogado
do Duque, seu senhor, no célebre processo régio que levará aquele à morte, em 1483; não obstante,
D. João II nomeia-o, no ano seguinte, membro do desembargo régio. Com o novo rei, obterá o importante
benefício do vicariato tomarense, um dos vários que acumula ao longo da sua carreira, sempre entre a
igreja e o Estado. Em 1515, por fim, é nomeado bispo do Funchal, cargo que conservará até à sua morte,
dez anos depois (linhas essenciais da sua biografia em Charles-Martial D e W itte , Les lettres papales
concemant VExpansion portugaise au XVIesiècle, pp. 87-93, Immensee, Nouvelle Revue de Science Missio-
naire, 1986. O essencial do seu trabalho no Juízo das Capelas situa-se entre também durante a provedoria
de Estêvão Martins (até 1504).
52 O Dr. Brás Neto tem um perfil semelhante a D. Diogo Pinheiro, embora a sua carreira tenha sido
mais discreta. Chantre da sé de Lisboa, pertenceu ao desembargo régio e à Casa da Suplicação, foi docente
de Direito na Universidade de Lisboa, embaixador do rei ao Papa, e, por fim primeiro bispo de Cabo Verde
(A.D. Sousa Costa, nt. 1 ao doc. 4043 do CUP, X). No Juízo das Capelas temos testemunhos da sua activi-
dade entre 1502 e 1504, mas depois desta data e pelo menos até 1511 continua a trabalhar no âmbito
das instituições pias, na Casa da Suplicação (recebendo em Fevereiro desse ano o cargo de juiz dos
feitos das capelas, albergarias, etc., naquele tribunal, por renúncia do Lic. Rui da Grã: IAN/TT, Chance
laria de D. Manuel, lv.° 8, fl. 19v)
53 Mercê do ofício de provedor, a 1 de Junho: IAN/TT, Chancelaria de D. Manuel, lv.° 35, fls. 33v-35
(cfr. Silva Carvalho, Crónica, pp. 74-76, e Mário Carmona, op. cit., p. 57 e p. 168)
54 Cfr. supra, nt. *********.
55 Carta de D. Manuel de 1499, Abril 21, em IAN/TT, Leitura Nova, Estremadura, lv.°2, fl. 199 (Silva
Carvalho, Crónica, p. 29 e p. 115 (com erro em relação à segunda fonte apontada, que contem antes
uma carta de 1500).
MARIA DE LURDES ROSA
530
pelos seus termos partissem com a mesma cidade») 5Ó. O Hospital ficava porém
obrigado a cumprir os encargos pios destas instituições «comutadas», o que já impli
cava uma certa gestão57. Adicionalmente, poucos anos depois (1503), também os
administradores de fundações pias «vivas» se viram obrigados a pagar multas em
favor do Hospital, no caso de incumprimento da apresentação dos capelães 58. Assim,
por interesse do próprio hospital, o seu provedor detinha competências claras sobre
o vasto mundo das instituições pias. Mas também vemos Estêvão Martins actuar
com frequência apenas como «provedor e juiz das capelas (etc.)», presidindo ao
aforamento dos seus bens, mandando tombá-los, obrigando ao cumprimento dos
encargos, assegurando-se da nomeação de capelães. O Regimento de 1504 estatui
longamente sobre as estas suas competências, e algumas falhas vão sendo colma
tadas com alvarás e cartas várias, que o rei dirige ao detentor do cargo - como expli
cámos anterior mente.
Numa segunda direcção, a legislação régia alarga a área de excepção do Juízo
em relação a outras instituições da Coroa, declarando aquele o único competente em
matéria de bens das almas, no que aos bens sob sua jurisdição dizia respeito. Em
1499 e 1500, dois diplomas afirmam lateralmente as competências de Estêvão
Martins, Diogo Lopes de Carvalho e Diogo Pinheiro quanto ao julgamento dos feitos
de instituições pias de Lisboa e term o59. No ano seguinte, numa carta dirigida ao
Regedor da Casa da Suplicação, veda-se-lhe expressamente o conhecimento das
«coisas que pertencem ao Hospital e capelas e confrarias de Lisboa e termo», porque
o rei entendera que tal pertencia em exclusivo aos juízes das capelas 60. Tanto quanto
a documentação nos permite concluir, estes juízes - Estêvão Martins, Diogo Pinheiro
e Diogo Lopes de Carvalho, estes dois destacados do Desembargo régio para o Juízo
das Capelas 61 - detiveram, até à morte do primeiro, jurisdição final sobre quaisquer
feitos relativos a instituições pias de Lisboa e termo. Em Dezembro de 1506, numa
carta régia ao Dr. Rui Lopes, substituto de Estêvão Martins, na parte relativa ao Juízo
das Capelas, refere-se que terá de se suspender por algum tempo o poder de julgar
56 Carta de D. Manuel de 1500, Julho 15, em IAN/TT, Chancelaria de D. Manuel, lv.°16, fl. 62v e
Leitura Nova, Estremadura, lv.°2, fl. 285v (cit. Silva Carvalho, Crónica, p. 116, nt. 1, com cota errada).
57 Tal obrigação foi consignada através da bula Regis pacificis, de 24.01.1505 (J. Santos A bran-
c h e s , Fontes do direito ecclesiástico portuguez. I. Summa do bullario portuguez, p.56, Coimbra, F. França
Amado, 1895; Silva Carvalho, Crónica, p. 128, com erro na cota da bula, que é, de facto, IAN/TT, Bulas,
mç. 6, n.° 23).
58 Carta régia de 1 de Agosto, in IAN/TT, Chancelaria de D. Manuel, lv.° 21, fl. 20 (segundo Nuno
Daupias d'A lcochete , Cartas de privilégio, padrões, doações e mercês régias ao Hospital de Todos-os-Santos
(1492-1755): subsídios para a sua história, p. 23, Lisboa, s.n., 1959; citado, com erro de data e de fonte,
em A. Silva Carvalho, Crónica, p. 115).
59 Em 1499, ao excluir os juízes e desembargadores das Casas da Suplicação e do Cível dos feitos
que dissessem respeito a algum deles, afirma que quem os julga são os três funcionários do Juízo, acima
citados (Registos, p. 382); em 1500, uma carta a Diogo Pinheiro e Estêvão Martins manda-os julgar com
Diogo Lopes de Carvalho um feito relativo a capelas de Sintra (idem).
60 Registos, p. 387.
61 Como se afirma nas duas cartas régias de sentença relativas a bens da capela do Dr. Mangancha,
em 1499 e 1500, ed. CUP, IX, does. 3829 e 3955.
III CONGRESSO HISTÓRICO DE GUIMARÃES D. MANUEL E A SUA ÉPOCA
B
531
«sem apelo nem agravo». O novo juiz deverá despachar os feitos e dar apelo e agravo
para os desembargadores da Casa da Suplicação, encarregues dos assuntos das
capelas e hospitais. O rei deverá entretanto decidir se se continua assim, ou se
regressa aos «desembargadores deputados» 62. Como veremos, houve alguma osci
lação na solução adoptada, o que nos parece possível explicar pelo jogo de forças
entre os tribunais mais antigos e a novel instituição, que se tentava configurar como
juridicamente independente. Por detrás deste reforço institucional cremos estar a
profunda convicção régia da especificidade da matéria com que se encontrava a
lidar. Tal como os desembargadores com alçada que realizavam com plenos poderes
a fiscalização das instituições pias pelo resto do reino, os juízes das capelas de Lisboa
tinham independência em relação aos tribunais centrais. A sua função de «procura
dores dos defuntos» podiam ser assim cumprida de forma mais expedita e correcta
- não esqueçamos a especialização que os principais funcionários detinham, bem
como a sua proximidade ao rei.
É-nos possível conhecer alguns dos funcionários de Estêvão Martins no cargo de
provedor e juiz dos Hospitais e Capelas. O seu número e variedade, bem como a
formação jurídica que alguns cargos exigiam, demonstra claramente como fora
completa a institucionalização deste organismo, operada por D. Manuel sobre a
muito mais elementar estrutura joanina. O Regimento de 1504 menciona explicita-
mente alguns: por um lado, um recebedor, encarregue de todas as relações correntes
com os administradores das capelas (auxiliado por um escrivão próprio63); por
outro, três «deputados», com o encargo específico de auxiliar o provedor nas ques
tões relativos aos aforamentos dos bens das instituições pias 64. Nos tombos reali
zados no Juízo, entre 1502 a 1521, é quase sempre um «procurador dos Hospitais,
capelas, etc.» que se encontra à frente da parte inicial do processo, embora ele seja
sempre aberto e fechado, em termos solenes, pelo «provedor-mor» (ou pelo «juiz dos
feitos dos hospitais e capelas», em períodos onde parece ter havido uma separação
dos cargos, como veremos abaixo)65. São ainda referidos «solicitadores», como
sejam Afonso do Casal (1499-1500) 66 e Diogo de Barros (de 1499 a 1503) 67. Estes
funcionários deveriam deter alguma formação jurídica, e, no caso do primeiro, per
tencia, ao que tudo indica, a uma família da burguesia letrada lisboeta com prática
de administração de instituições pias, os «do Casal» 68.
Existia ainda um conjunto alargado de funcionários médios e menores, que
provêm quase todos do reinado de D. João II, demonstrando a continuidade permi
tida por D. Manuel. Desde logo, os escrivães, em quantidade necessária à grande
actividade burocrática do Juízo-vários escrivães do «provedor e juiz»: Afonso de
Freitas (de 1492 a 1498) 69; Gaspar de Castro, «escrivão público dos hospitais» (1494-
-1499) 70; Martim de Castro, que desempenhará o cargo durante mais de quarenta
anos (1493-1537) 71; Álvaro Lopes (nomeação em 1507) 72. Depois, o porteiro, funcio
nário indispensável ao procedimento, consignado pelos vários regimentos, de pregão
público dos bens disponíveis das instituições pias 73.
533
Poucos anos depois do seu primeiro regimento, a orgânica do Juízo vai sofrer
modificações num sentido que aponta já para a solução drástica adoptada em 1564,
durante a regência do Cardeal D. Henrique: a separação do Hospital de Todos-os-
Santos e a equiparação do Juízo das Capelas às restantes provedorias do reino 74.
Inicia-se então, por razões várias que passaremos a analisar, o fim do ciclo de
excepcionalidade que D. João II e D. Manuel tinham querido conferir às instituições
pias de Lisboa.
Na origem do problema parecem estar, em primeiro lugar, os conflitos de inte
resses entre as duas instituições «geminadas»- o Juízo das Capelas e o Hospital. No
final do ano de 1506, após a morte de Estêvão Martins, é nomeado um novo juiz dos
feitos dos bens do Hospital e capelas, o Dr. Rui Lopes, o qual contudo terá poderes
mais restritos que o seu antecessor. De facto, logo na nomeação estabelece-se que o
despacho das decisões já não será feito pelos desembargadores «deputados» que até
aí tinham existido junto de Estêvão Martins, e que haverá apelo e agravo das suas
decisões para os «desembargadores da Casa da Suplicação juízes das cousas das
ditas capelas e espritaes» 75. Depois, cessa a acumulação de funções com a Prove
doria do Hospital, passando a deter este cargo, desde pelo menos Julho desse ano,
Gonçalo de Miranda 76. Deve salientar-se que tanto ele como Rui Lopes eram cape
lães régios, tal como o fora Estêvão Martins 77. Apesar da modificação institucional,
que terá a ver com o aumento dos encargos do provedor hospitalar, continua
presente a importância daquela função, que, salvo em substituições ocasionais, será
acumulada por todos os provedores manuelinos. Por outro lado, Rui Lopes detinha
uma qualidade decerto indispensável à sua nova função, que para Gonçalo de
74 As modificações deste ano passam também pela entrega da administração do Hospital à Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa, que se terá recusado a continuar a administrara as capelas e morgados
de Lisboa, juntando ao seu Juízo privativo, que tinha por privilégio, apenas o Juízo do Hospital (cfr. o
alvará de 4-12-1564 a seguir citado; e, sobre o processo de entrega à Misericórdia, Mário Carmona, op. cit.,
pp.28-29 e p. 195). A legislação que determina a mudança é a seguinte: alvará de 4 de Dezembro de 1564,
extinguindo o Juízo das Capelas junto ao Hospital de Todos-os-Santos (IAN/TT, Hospital de São José,
«Série preta», lv.° 1116, fls. 322v-324v [= «Livro de Registo geral do Hospital de Todos-os-Santos. Cópia dos
diplomas registados no lv.1 (1501-1606) do Registo Geral. Reforma do séc.XVIIl»]; 6 de Dezembro de 1564:
regimento do provedor das capelas e resíduos de Lisboa (Duarte Nunes de L eão , Leis Extravagantes, p. 1,
tít. 15, lei I (ed fac-similada da ed. de 1569, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1987, fls. 38v-40);
alvará de 18 de Dezembro de 1565: regimento do juiz dos feitos das Misericórdia e Hospital de Todos-
-os-Santos (confirma a exclusão dos feitos das capelas de Lisboa) (idem, ed. cit., fls. 37r/v); 15 de Março
de 1566: alvará que derroga em parte o Regimento do provedor das capelas e resíduos de Lisboa (idem,
ed. cit., fl. 140v); 15 de Dezembro de 1566: alvará que acrescenta elementos ao mesmo (idem, ed. cit.,
fls. 40v-41v)
75 Registos, pp. 396-397; Silva Carvalho, Crónica, p. 135.
76 Miguel Costa S antos, Catálogo dos provedores e enfemieiros-mores do Hospital Real de Todos-
-os-Santos e do Hospital de S. José, p. 7, Porto, tip. da «Enciclopédia Portugueza», 1918; esta é a data da
primeira carta transcrita nos Registos que lhe é dirigida, precisamente a propósito das competências
do Dr. Rui Lopes (pp. 517-17).
77 Sobre Gonçalo de Miranda, Miguel Costa S a n t o s , op. cit.; sobre Rui Lopes: intitulação como tal
em IAN/TT, Hospital de São José, «Série Preta», lv.° 1117, fl. 16v (em aforamento de bens de capela a que
preside, em 13-4-1508).
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dicial; por outro lado, confirma-se o perfil «espiritual» do provedor, uma vez que
tanto Pedro de Lemos como João Subtil são capelães régios 87.
As oscilações institucionais não terminam porém aqui. A partir de 1511, pelo
menos, o Provedor D. João Subtil acumula de novo os dois cargos, pois sabemo-lo
provedor-mor do Hospital e é como «provedor-mor das capelas etc.», que preside à
elaboração de capelas que não estão directamente nas mãos do Hospital, o que fará
até ao final do período por nós estudado 88. É no entanto possível que se tenha man
tido alguma divisão de competências, dado que, pelo menos a partir de 1517, encon
tramos de novo um «Juiz dos feitos do Hospital e capelas», ineterruptamente, até
1521. Em 1517 o cargo é desempenhado pelo Dr. Estêvão Dias, da Casa do Cível 89;
entre esta data e 1521, ele é substituído interinamente por vários colegas, oriundos
daquele mesmo tribunal90; em 1521, por seu falecimento, é nomeado para o cargo o
Dr. João Mendes 91, que, saliente-se, possuía formação em direito canónico 92.
Um segundo factor de instabilidade terão sido as relações com os tribunais supe
riores, que não veriam de bom grado a excessiva autonomia do Juízo das Capelas.
Como vimos, dos «desembargadores deputados», com amplos poderes, passa-se em
1506 para a existência de apelo e agravo os Desembargadores da Casa da Suplicação 93.
87 Pedro de Lemos: a primeira carta em que é referido como tal é de 1496, Março 21 (IAN/TT, Chan
celaria de D. Manuel, lv.° 26, fls. 67 r/v), e a última, de 1507, Dezembro 14 (IAN/TT, Chancelaria de
D. Manuel, lv.° 38, fl. 42). D. João Subtil: biografia em A. D. Sousa C osta, O mosteiro de S. Salvador da Vila
de Grijó, pp. 87-90, Grijó, edição da Fábrica Paroquial de Grijó, 1993.
88 D. João Subtil é referido como «capelão do rei, do seu desembargo nas coisas que pertencem aos
hospitais e capelas de Lisboa e termo, juiz e provedor delas», num aforamento de bens do Hospital
de Todos-os-Santos, a que preside, em 24.05.1511- IAN/TT, Hospital de São José, «Série Preta», lv.° 1117,
fl. 120v); por outro lado, preside à elaboração de tombos entre 1513 e o final do seu mandato, sendo
o último conhecido de 1521 (IAN/TT, Feitos Findos - Junta das Capelas, resíduos e legados pios, lv.° 1190,
fl. 15 e fl. 186v).
89 Registos, p. 431: carta régia de 23.12.1517, ao bispo provedor, informando-o de que o Lic. António
Lopes, sobrejuiz da Casa do Cível, servirá de juiz dos feitos do Hospital enquanto durar a indisponibili-
dade do titular do cargo, o Dr. Estêvão Dias.
90 Cfr. nt. anterior; em 12 de Julho de 1520, por falecimento do Lic. António Lopes, o Dr. Fernão
Martins é nomeado em 1520 substituto do Dr. Estêvão Dias (Registos, p. 433); a pertença à Casa do Cível
está atestada entre 1517 (12 de Janeiro: carta de nomeação de desembargador, em IAN/TT, Chancelaria
de D. Manuel, lv.° 25, fl. 163v-165) e 1521 (23 de Maio: mercê do ofício de segundo dos agravos, em idem,
lv.° 39, fl. 7v)
91 15 de Agosto de 1521: carta de nomeação do Dr. João Mendes como desembargador dos feitos do
Hospital e capelas, em substituição de Estêvão Dias, que faleceu. Ordena-se ao bispo de Safim, provedor
do Hospital e capelas, que o emposse do cargo (IAN/TT, Chancelaria de D. Manuel, lv.° 18, fl. 6; parcial
mente transcrita em A. Silva C arvalho, Crónica, p. 103). Não conseguimos encontrar outros documentos
relativos à sua carreira na administração régia, de modo a apurar se pertencia também à Casa do Cível.
92 Referido em carta de 1501 (IAN/TT, Chancelaria de D. Manuel, lv.° 37, fl. 39); em 1509 adquirira
já formação em direito civil, pelo que pede para ser examinado com «doutor in utroque iure>> (suplica
papal, ed. em CUP, X, doc. 4228).
93 Registos, pp. 396-397. Tal é reiterado em várias cartas: 27 de Janeiro de 1507 (idem, pp. 397-398);
5 de Julho do mesmo ano (idem, p. 399); 30 de Agosto de 1509, já dirigida ao Lic. Álvaro Eanes (idem,
pp. 410-11).
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94 Registos, 414.
95 Registos, p. 400: carta régia de 22 de Julho, respondendo ao Dr. Rui Lopes e assegurando-lhe
os seus direitos. Infelizmente não se indica qual a instituição a que pertenciam aqueles oficiais.
96 Carta de 22 de Julho, in Registos, p. 400.
97 Os três desembargadores indicados são Estêvão Dias, António Dias e Fernão Álvares de Almeida.
Os dados que conseguimos coligir relativos às respectivas carreiras comprovam a sua proveniência
daquele tribunal. Assim, Estêvão Dias é nomeado a 27 de Junho de 1504 ano sobrejuiz da Casa do Cível
(IAN/TT, Chancelaria D. Manuel, lv.° 23, fl. 57v); entre esta data e 1521, ano em que morreu, é referido na
documentação régia, em 1508, no mesmo cargo (idem, lv.° 19, fl. 43v) e em 1521 a sua viúva recebe a tença
correspondente ao cargo de «desembargador do Cível» (idem, lv.° 18, fls. 2 r/v). O Dr. António Dias é
nomeado sobrejuiz e corregedor daquele tribunal em 8 de Outubro de 1500 (idem, ed. em CUP, X,
doc. 3875); a partir de data desconhecida desempenhou nele o cargo de «segundo dos agravos» (IAN/TT,
Chancelaria de D. Manuel, lv.° 39, fl. 7v) e em 1521 recebe o de chanceler da mesma casa (idem, l.°v. 39,
fls. 75v-76). Por fim, Fernão Álvares de Almeida, que tem uma carreira mais tardia que os outros, surge
na documentação régia apenas em 1520, como «desembargador régio» e ouvidor na casa do Cível
{CUP, XI, doc. 4936).
98 A mais antiga, de 1552, é da autoria de João Brandão, e não refere a origem dos desembar
gadores. O facto de deter juízo privativo é contado entre as «grandezas da Casa» {Tratado da Majestade,
grandeza e abastança da cidade de Lisboa, na 2.a metade do século XVI, pp. 119-120, ed. A.Braamcamp
Freire e Gomes de Brito, Lisboa, Livr. Ferin, 1923); Cristóvão Rodrigues de Oliveira, que escreveu entre
1551 e 1555, menciona expressamente que os desembargadores vêm da Casa do Cível, duas vezes
por semana, e que tudo foi ordenado por D. Manuel {Sumário em que brevemente se contem algumas
cousas (assim eclesiásticas como seculares) que ha na cidade de Lisboa, pp. 49-50, ed. A. Vieira da Silva,
Lisboa, Ed. Biblion, 1938).
III CONGRESSO HISTÓRICO DE GUIMARÃES D. MANUEL E A SUA ÉPOCA
537
revelava fundamental não só para a Coroa, que assim controlava melhor as institui
ções particulares, mas também para os detentores das mesmas, que adquiriam delas
um conhecimento aprofundado 99. De facto, a parte mais significativa do arquivo que
subsiste corresponde aos procedimentos para elaboração de tombos, a cargo do
provedor ou juiz (ou do seu procurador) 10°.
Os tombos que subsistem, num total de 62, permitem-nos conhecer bem os
procedimentos 101. Entre 1502 e 1521, mantêm-se essencialmente na mesma. O pro
vedor manda abrir o «processo», dirigindo-se ao administrador em funções e
pedindo-lhe os documentos comprovativos da instituição, da sua posse e do cumpri
mento dos encargos. Estes são transcritos no início do tombo (o que nos possibilita
portanto conhecer reunir documentação mais antiga, como o testamentos e institui
ções, que de outro modo estariam irremediavelmente perdidos). Ao contrário de
tombos e «autos de conta» posteriores, que só transcrevem as verbas que mais
interessam ao procedimento administrativo em curso, os tombos manuelinos deste
juízo das capelas lisboeta transcrevem a totalidade dos testamentos e instituições.
O «provedor do Hospital» ou, mais frequentemente, o seu «procurador» examinam
estes documentos e fazem aos administradores as interrogações e petições que consi
deram necessárias; estes respondem. Trata-se da «alegação entre as partes» (infeliz
mente só mencionada) que é em seguida examinada pelos Desembargadores
próprios. A sentença é depois proferida, mandando-se invariavelmente fazer tombo
dos bens e, caso seja necessário, cumprir encargos em atraso (ou operar algumas
modificações nos encargos, de futuro). O provedor-mor vê toda a documentação
resultante, incluindo o tombo, e profere as ordens e advertências finais - por norma,
pôr um letreiro de pedra no túmulo e por vezes letreiros nos bens, e saber que contra
venções implicam sanções. Um tombo idêntico é entregue ao administrador 0 .
É bem claro que a primeira época do Juízo regstou uma actividade significativa,
o que está de acordo com a nossa hipótese de uma «crise institucional» após a morte
de Estêvão Martins. O pico registado em 1503 poderá explicar-se tanto com o élan
inicial, como a maior atenção dada ao procedimento de actualização dos foros dos
bens, a partir do Regimento de 1504. É ainda possível que a crescente importância e
dimensões do Hospital de Todos-os-Santos desviasse os esforços de cadastro das
capelas. A evolução subsequente aponta para um claro abrandamento, mas apesar de
tudo, os sucessivos juízes vão realizando vários tombos: cinco com o Dr. Rui Lopes,
sete com Álvaro Eanes (ambos ocupam o cargo por pouco tempo), quatorze com
D. João Subtil. Com este dirigente, a tombação adquire um ritmo mais certo, mas vai
diminuindo em quantidade. Podemos por fim supor que o número de capelas em
condições de elaborar cadastro tivesse sido atingido, ou, talvez mais provavelmente,
dada a grande quantidade que fica de fora, que a série arquivística não esteja
completa.
A segunda observação tem a ver com a grande vitalidade das administrações
particulares que estes tombos revelam. Todas as instituições estão na mão de admi
nistradores leigos, as mais das vezes descendentes do fundador. Todos eles se dirigem
ao funcionário régio, exibindo documentação vária que comprove os seus direitos à
posse dos bens, e os deveres consequentes. No conjunto dos sessenta e dois tombos,
as obrigações pias são cumpridas de forma generalizada; quando se registam preva
ricações, os funcionários régios optam pela via negociai, reduzindo ou espaçando as
III CONGRESSO HISTÓRICO DE GUIMARÃES l l í D. MANUEL E A SUA ÉPOCA
540
D ata S u m á rio
T ítu lo s d e E s tê v ão M a rtin s_________I________________________ R e fe r. d o c u m e n ta is '_______________________
1493, Janeiro 15 Em prazam ento feito por EM de bens do
Provedor e juiz dos h.. c..a. econf. de Lisboa I Lv" 1134, 0. 172v-173; inserto em carta de confirm ação de 1498
hospital de Santa Maria dos Sapateiros, a
e termo por especial m andato e comissão do Março 22 (IAN/ TT, Chanc. D.Mamiel, lv" 31. fls. 79v-80, ed. CUP,’
Catarina Alvares, viúva, am a do Dr. Pero de
rei ' vol. X, doc. 3504)
Sousa, tesoureiro, cónego na sé de Lisboa
1493, Novembro 8 Carta régia a EM, ordenando que fiscalize a
Registos, p. 407
entrega ao recebedor Hospital da cidade de
Lisboa dos bens das sinagogas locais
1494, Março 3 Sentença sobre bens do h. dos tanoeiros Protonotário da Santa Sé Apostólica, mestre- [Inserta em acla da audiência de 1502, na qual há apelo da sentença
-escola e cón e- go de Lisboa, provedor-m or íefeiida, que é sum ariada. A audiência decorre perante EM e os
dos h. e c. em Lisboa e term o
"desembargadores do hospital" Diogo Lopes de Carvalho, Pedro Vaz
da Veiga e Gonçalo Figueira] Lv° 1134, fl. 67
1494, Agosto 18 EM empraza a Lourenço Eanes Soqueiro Mestre escola e cónego da Sé, provedor-m or Inserto em confirmação régia do acto, em 1498, Março 8, ao mesmo
um as casas que eram do h. de S.Vte. dos e juiz dos h., a, conf. e c. de Lisboa e termo,
Romeiros. Lourenço Eanes Soqueiro, in IAN/ TT, Chancelaria de D. Manuel,
por especial m andato e comissão do rei lv° 32, fls. 17 r/v ; ed . CUP, IX, doc. 3552; inserto ainda em nova
confirmação, de 1502 - IAN/ TT, Chanc. D. Manuel, lv° 6 fl 41 v ■
ed. CUP, IX, doc. 3552
1494, Outubro 23 EM afora a Ana Correia, viúva de Luís Mestre escola e cónego da Sé, provedor-m or Lv" 1134, fl. 4v-5
Eanes Colaço, escudeiro do rei, bens do h. e juiz dos h., a, conf. e c. de Lisboa e termo,
de Santa Maria da Mercê por especial m andato e comissão do rei
1494, Outubro 24 EM afora a Diogo Dias, curtidor, e sua Mestre escola e cónego da Sé, provedor-m or | Lv° 1134, fl. 8v
m ulher Isabel Mendes, bens do h. de S anta e juíz dos h., a, conf. e c de Lisboa e term os
Maria de R ocam ador
1494, Outubro 24 EM em praza bens do hospital de S anta Mestre escola e cónego da Sé, provedor-m or [ Lv° 1134, fl. 13 lv
Maria de Rocamador, a Afonso Fem andes, e juíz dos h., a, conf. e c. de Lisboa e termo,
carpinteiro, e m ulher por especial m andato e comissão del rei e
primçipc nosso senhor
1494, Dezembro 16 EM profere sentença contra M argarida
Protonotário da Sé Apostólica, mestre escola I [Referida em sentença final de 1502, Abril 14, dada por EM D" Lopes
Eanes, m ulher de João Martins Barbeiro,
e conego da Sé provedor-mor e juíz dos h„ de C a ra lh o , e Pero Vaz da Veiga, depois da reclamação dos reus]
que eram dem andados pelo h. de S.Vte. dos a, conl. e c. de Lisboa e term os I Lvw 1134, fl. 144v
romeiros.
il
1495, Janeiro 20 EM afora a Constança Vicente. Coiaça, viúva, Mestre escola e cónego da Sé, provedor-mor e Lv° 1134, fl. 26; inserto em carta de confirmação de 1501, Dezembro 9,
bens do h. de Santa Maria de Rocamador juiz dos h., a, conf. e c. de Lisboa e termo IAN/ TT, Chancelaria de D. Manuel, lv° 6, fl. 33 (parcialm ente ed. in
CUP, IX, p, 154)
1495, Agosto 11 EM em p raza a B ernardim Gonçalves e Protonotário da Sé Apostólica, mestre escola e [Inserta em carta de outorgação do mesmo em prazam ento de 1503,
Juliana Dias, sua mulher, bens do h. de Santa cónego da Sé, provedor-mor e juíz dos h., a, Setembro 21] - Lv° 1134, fl. 117v
Maria de Rocamador conf. e c. de Lisboa e termo
1495, Outubro 8 EM afora a S ancha M artins, m ulher de Mestre escola e cónego da Sé, provedor-mor e [Inserto em docum ento de outorgam ento do aforam ento, de 1499,
Fernão Velho, cerieiro, bens do h. de Santa juíz dos h., a, conf. e c. de Lisboa e termo Dezembro 6] - Lv° 1134, fl. 26v
Maria de Rocamador.
1495, Outubro 27 EM profere sentença sobre bens do h. dos Protonotário da Santa Sé Apostólica, mestre [SuM aria da em carta testem unhável de audiência de apelo da
tanoeiros escola e cónego da Sé, provedor-m or e juíz sentença, de 1501] - Lv° 1134, fl. 103
dos h., a, conf. e c. de Lisboa e termo, por
especial m andato e comissão do rei
Ol
S ^lít
QUADRO II
TOMBOS REALIZADOS PELA PROVEDORIA DAS CAPELAS DE LISBOA (1502-1521)
Catarina de Vitória Ig. Sto. Estêvão de Alfama 1468 1503/10/16 EM/ MC 1188, fl. 154; 135, fl. 120
Catarina Gil Ig. Sto. Estêvão de Alfama 1491 1503/10/16 EM/ MC 1188, fl. 156; 135, fl. 140
Maria Esteves M.° S. Vicente de Fora 1469 1503/10/16 EM/ MC 1188, fl. 154; 135, fl. 384
H Todos os volum es indicados pertencem a IAN/ TT, Casa da Suplicação, «Juízo das capelas, resíduos e legados pios». Indica-se apenas o fólio inicial da docum entação
Data de 1455 o testam ento de L ourenço Eanes, m arido de Leonor F em an d es (verba, em 12, fl. 77); de 1472, o segundo testam ento desta (12, fl. 133) (o prim eiro, de 1465’
pode ver-se em IAN/ TT, SDL, 48, 210v); de 1474, aditam entos vários ao m esm o (12, fl. 146) (aditam entos de 1473 em IAN/ TT, SDL, 50, fl. 102v); e de 1475 um a doação dá
m esm a (1188, fl. 80v). '
E sta docum entação (até fl. 289v) diz respeito a vários arran jo s fam iliares que conduzem à fundação de um a segunda capela.
QUADRO II 0continuação)
iPS
Clara Pires
C. Trindade
z 1507 1513/10/07 J/MC 1190, fl. 98
Ig. S. Mamede
z 1510 1514/09/13 J/MC 1190, fl. 105v
Catarina Gonçalves
Isabel Martins
C. Trindade
C. Trindade
z 1463 1514/09/23 J/MC 1190, fl. 121v
T 1492 1514/09/23 J/MC 1190, fl. 131
Álvaro Gonçalves e Isabel Femandes SFL 1515/10/26 J/MC 1190, 113v; 237, fl. 54
Gonçalo Eanes Ig. São Tiago 1515/10/27 J/MC 1190, fl. 151 v; 125, fl. 2
Beatriz Lopes C. Carmo 1511 1515/11/02 J/MC 1190, fl. 160v; 78, fl. 387
João Esteves «privado» C. Salvador 1372 1517/06/22 J/MC 1190, fl. 168; 45, fl. 176v
Álvaro Gonçalves e Isabel Femandes
Pedro Afonso Leitão
SFL
Ig. São Julião
z 1493 1518/10/26 J/MC 1190, 178v; 237, fl. 54
T 1500 1521/10/01 J/ MC 1190, fl. 186v; 106, fl. 293
Martim Pires de Gaia e M.a Femandes M.° S. Vicente de Fora T 1320 S.d.xii J/MC 1190, f l . 136;141, fl.368v
S iglas. AE Álvaro Eanes; c — convento; D - doação; E M - Estêvão M artins; ig.= igreja; J= João, bispo de Safim; m. = m osteiro; MC= M artim de Castro; RL= Rui Lopes- SDB
convento de São D om ingos de Benfica; SDL= convento de São Dom ingos de Lisboa; SFL= convento de S. Francisco de Lisboa; T= testam ento; v= verba
D ata: ano, m ês, dia