Você está na página 1de 732

ORDENAÇÕES

. MANUELINAS
LIVRO I

'FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN


ORDENAÇÕES
MANUELINAS
LIVRO I
ORDENAÇÕES
MANUELINAS
LIVRO I
Nota de Apresentação
MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN


© Esta edição é uma reprodução «fac-simile» da
edição feita na Real Imprensa da Universidade
de Coimbra, no ano de 1797,;

Reservados todos os direitos de harmonia com a lei


Edição da Fundação Calouste Gulbenkian
Av . de Berna/ LISBOA
NOTA DE APRESENTAÇÃO

A Fundação Calouste Gulbenkian continua a sua inicia-


tiva benemérita de promover a edição de fontes da ·história do
direito. Depois das Ordenações Afonsinas, segue-se a cole.:tânea
legislativa que lhes sucedeu.
Unicamente se pretende, com esta rápida introdução, forne-
cer aos leitores menos familiarizados com a história do nosso
direito uma perspectiva global das Ordenações Manuelinas de
1521, agora de novo dadas à estampa. Aliás, a descrição da
reforma manuelina, posto que nem todos os aspectos ;ossam ter-
-se como pacíficos, encontra-se desenvolvida na «Prejação» ( 1) do
texto que se reproduz em fac-símile: a edição das «Ordenaçoens
do Senhor Rey D. Manuel», da Real. Imprensa da Universi-
dade, levada a efeito em Coimbra, .no ano de 1797(2). A refe-
rida prefação, que saiu sem o nome do autor, deve-se a Francisco
Xavier de Oliveira Mattos, lente da Faculdade de Leis, a quem
o encargo dessa edição havia sido confiado.
Têm os especialistas rejlectido sobre os eventuais motivos
que levaram D. Manuel I, logo em 1505, a determinar a reforma
das Ordenações Afonsinas, tanto mais que se afigura verosímil
que estas só pouco a pouco, desde 1447, foram estendendo a sua
aplicação a todo o território. Encontra-se uma primeira condicio-
nante na introdução da imprensa, pelos fins do século XV,
designadamente a partir de 1487, em diversas vilas e cidades.
Com efeito, uma vez que se impunha levar à tipografia a legisla-
(1) Ver a nossa exposição sobre as Ordenações, no Dicionário
de História de. Portugal, dirigido por Joel Serrão, vol. III, Lisboa,
1968, págs. 205 e segs., e em Temas de História do Direito, Coimbra,
1970, págs. 61 e segs. (separata do vol. XLIV do Boletim da Faculdade
de Direito da Universidade de Coimbra) . ·
(2) Integra-se esta edição na Collecção da Legislação Antiga e
Moderna do Reino de Portugal. Parte I. Da Legislação Antiga, baseada em
Resolução Régia de 2 de Setembro de 1786.
6
ção fundamental do Reino, convinha um prévio traballw de revi-
são e de actualização. .
Mas uma outra circunstância parece digna de referência..
Ao monarca «Venturoso», que em seu tempo assistiu a pontos
altos da gesta dos descobrimentos, não seria "indiferente ligar o
nome a uma codificação de vulto. Trata-se de conjectura alicer-
çada em vários testemunlws, inclusive numa confessada impor-
tância atribuída pelo rei ao direito e à realização da justiça. As
preocupações legislativas de D. Manuel I foram patentes,
traduzindo-se também na importante reforma dos forais, que se
concretizou em 1520, após tentativas frustradas dos seus
antecessores.
Certo é que no mencionado ano de 1505, D. Manuel I
encarregou Rui Botto, chanceler-mor, da reforma das Ordenações.
Apontam-se como seus auxiliares dois salientes juristas da época,
o licenciado Rui da Grã e João Cotrim, corregedor dos feitos
cíveis da Corte. Discute-se a data em que a obra ficou completa.
A questão situa-se entre 1512 e 1514. Mas não se entra.aqui no
debate ( 3), até porque não é essa a versão agora reproduzida.
De qualquer modo, considerou-se o projecto legislativo insa-
tisfatório, talvez por excessivamente preso ao texto afonsino, e os
trabalhos prosseguiram. Apenas em 1521, ano da morte do
monarca, se verificou a edição definitiva das Ordenações. Tam-
bém não constitui problema inteiramente líquido o dos seus auto-
res. Indicam-se, com segurança, os nomes de Rui Botto, Rui da
Grã e Cristóvão Esteves, a que se acrescentam, não sem dúvi-
das, os de João de Faria, João Cotrim e Pedro Jorge.
Foi este texto bastante mais reelaborado '!:'e se publicou
como lei geral do País. A fim de evitar confusões, determi-
nou-se, em Carta Régia de 15 de Março de 1521, que, dentro de

(3) Consultar, por todos, G. Braga da Cruz, O direito subsi-


diário na história do direito português, Coimbra, 1975, págs. 223 e segs.,
nota 59 (separata do tomo XIV da Revista Portuguesa de História) . Aí
se encontra uma ex tensa e minuciosa análise das várias posições e
argumentos. Posteriormente, ver Nuno J. Espinosa Gomes da
Silva, Algumas notas sobre a edição das Ordenações Manuelinas de 1512-
-1513, Braga, 1977 (separata do tomo XXVI de Scientia Ivridica).
7
três meses, se destruíssem os exemplares de anterior impressão,
sob pena de multa e degredo. No mesmo prazo, deveriam os
concelhos adquirir as novas Ordenações.
Eis recordada a pequena história das Ordenações Manueli-
nas que, em 1521, substituíram as Ordenações Afonsinas.
Acrescentaremos algumas referências de confronto entre as duas
codificações.
Do ponto de vista formal, mantém-se a divisão em cinco
livros, repartidos em títulos e parágrafos. Conserva-se basica-
mente a distribuição das matérias. Todavia, marca a obra um
assinalável progresso de técnica legislativa, sobretudo traduzido no
facto de os preceitos se apresentarem sistematicamente redigidos
em estilo decretóri,o, ou seja, como se de novas normas sempre se
tratasse. A esta vantagem corresponde a contrapartida de um
menor .interesse para a reconstituição do direito anterior.
Também a respeito do conteúdo, as Ordenações Manueli-
nas oferecem naturais diferenças, quando comparadas com as
Ordenações Afonsinas. Assinalem-se, exemplificativamente: por
um lado, a supressão dos preceitos aplicáveis aos Judeus, que,
entretanto, tinham sido expulsos do País, assim como das nor-
mas autonomizadas nas Ordenações da Fazenda; por outro lado,
a inclusão da disciplina da interpretação autêntica da lei, através
dos assentos da Casa da Suplicação (livro V, título LVIII).
Algo significativas se afiguram as inovações sobre direito subsidiá-
rio, certamente menos no plano da justificação do critério adap-
tado do que na parcial mudança deste.
Apura-se, em suma, · que não houve uma transformação
radical ou profunda do direito português. Contudo, para além de
meros ajustamentos de actualização, observam-se certas alterações
sintomáticas de novas perspectivas, ainda que o futuro, porven-
tura, viesse a desmenti-las.
Durante a sua vigência, as Ordenações Manuelinas consti-
tuíram objecto de várias edições, que levantam dificeis querelas
bibliográficas ( 4). A primeira, acabada de imprimir a 11 de Março
4
( ) Também sobre este tema, ver, por todos, Braga da
Cruz, ob. cit., págs. 236 e segs., nota 60.
8
de 1521, saiu da tipografia de Jacob Cromberger, mas existem
fundadas dúvidas sobre se os livros I e IV e os livros II, III e V
foram impressos, como se indica, respectivamente, em Évora e
Lisboa, ou todos eles na única oficina daquele editor, instalada
em Sevilha. Admite-se que tenha havido uma subsequente edi-
ção, da segunda metade de 1533 ou de 1534, impressa nessa
mesma cidade espanhola, na oficina de João Cromberger, filho e
continuador daquele primeiro tipógrafo. É de um modo geral con-
testada a existência de uma edição de 1526, saída do prelo de
Germão Galharde, em Lisboa. Ainda a João Cromberger se
atribui a crismada terceira edição (Sevilha, 1539), que parece
dever reconduzir-se à feita pelo mesmo profissional em 1533. E,
nesta ordem de ideias, a verdadeira terceira edição seria a da
oficina de Germão Galharde, em Lisboa, posterior a 1539, pre-
sumivelmente com tiragem reduzida e destinada, sobretudo, a
completar exemplares truncados de anteriores edições. Só não
se levantam dúvidas, portanto, a respeito da edição - cujo
«colophon» qualifica como quarta - acabada de imprimir, em
Lisboa, a 3 de Março de 1565, na oficina de Manuel João.
Após se verem substituídas pelas Ordenações Filipinas, no
ano de 1603, as Ordenações Manuelinas ainda conheceram a
edição universitária de 1797. Postulou-a o sabido empolgamento
setecentista pelos estudos históricos. É a que se reproduz em
fac-símile. Nela se inclui, a seguir ao valioso prefácio já aludido,
uma tabela de co"espondência, em quatro colunas, entre os precei-
tos dessas Ordenações, das Ordenações Manuelinas de 1514,
das Ordenações Afonsinas e ainda de leis extravagantes, com
indicação do lugar de consulta.
No termo de tão breves reflexões, permita-se-nos um voto:
o de que a presente reedição das Ordenações Manuelinas apro-
veite aos estudiosos. Deste modo se justifica e encoraja a inicia-
tiva em curso. É o que esperamos confiada~te.

MARIO Júuo DE ALMEIDA CosTA

Professor Catedrático da Faculdade de Direito de Coimbra


COLLECÇAÕ

-
DA

LEGISLAÇAO
ANTIGA E MODERNA
DO

REINO DE PORTUGAL.
PARTE!.
DA L E G I S LA Ç A Õ A N T I G A.

Por Re[óluçaõ de S. M.1GESTADE de 2, de


Setembro de 178 6.
ORDENAGOENS
DO

SENH OR REY
D. MAN UEL .
L I V R O I.

COIMB RA:
NA REAL IMPRENSA DA VNI//ERSJDADE .
ANNO DE MOCCLXXXXVII.
l

PR O LOGO.

DOM MANUEL, PER GRAÇA DE DEOS


Rey de Portugual, e dos Alguarues d' Aquem, e
d' Alem mar, em Afríca Senhor de Guiné, e da
Conquiíla, e Nauegaçam, e Cómercio da Ethiopia,
Arabia, Pedia , e da lndia: a todos Nolfos Subdi-
tos, e Valfallos faude &c. Confirando Nós, quam
neceífaria he em todo o tempo a Juíl:iça, affi na
paz, como na guerra , pera boa guouernança , e con-
feruaçam de toda Repubrica, e Eílado Real, a qual
como membro principal, e fobre todas as outnts vir-
tudes excellente , mais que todas aos Principes
conuem , e nella como em verdadeiro efpelho fe
deuem fempre revêr, e efmerar: porque como a Ju- -
íliça confiíle em igualeza, e com juíla balança dar
o feu a cada huü ; affi o bom Rey deue feer fem-
pre hum • e igual a todos, em retribuir a cada huu
fegundo feus merecimentos: e affi como a Jufüça he
virtude nom pera fi , mas. pera outrem , por apro-
ueitar foomente áquelles, a quem fe faz, dando-lhes
o feu, e fazendo-os bem viuer, os bons com pre-
mios • os máos com temor da pena, donde refulta
• paz,
li P R O L O G o.
paz , e afefTeguo , porque ho caíliguo dos máos he
conferuaçam dos bons ; affi deue fazer o bom Princi-
pe, pois que per Deos foi dado principalmente nom
pera fi, nem [eu particular proueito, mas pera bem
guouernar fou pouo , e aproueitar a feus fubditos •
como a proprios filhos. E como quer que eíl:e Efta.
do e Repubrica confül:a principalmente , e fe fufte ...
nha em duas coufas , em Armas , e em Leys , e hua
haja meíler a outra; porque affi como as Leys com a
força das Armas fe mantem, affi a Arte Militar com
a ajudj. das Leys he fegura, e com eíl:as duas coufas
os Romanos grande parte do mundo fujuguaram:
Por tanto , poíl:o que nas armas, e continua guerra•
affi em Africa, como em Afia fejamos occupados ,
defejando Nós conferuar, e manter Noifos Vaffallos
em perpetua paz, e .bons coílumes; Houuemos por
mais neceílario entender nefta Juftiça , que nom
menos que as armas faz vencer pela concordia e
afeífeguo que fe della fegue: Pelo qual vendo Nós,
como na.$ Ordenaçoes pelos Reys Noífos Antccef-
fores., e per N6s ategora feitas., a muitos cafos nom
era. prouido , e em algüas hauia diuerfos entendi ...
mentas ; e affi per andarem efpalhadas , dond.e aos
Julguadorcs recrefciam muitas duuidas , e aas par-
tes
P R O L O G O. III

tes grande perda : E querendo nitro prouer, De-


terminamos com os do Nofio Confelho, e Letrados,
reformar eíl:aa Ordenaçoes, e fazer noua Copilaçam,
de maneira que affi dos Letrados , como dos outros
fe poílam bem entender. A qual obra bem exami-
nada , e emendada , Reduzimos em finco Liuros , e
Mandamos imprimir, e pubricar : e Aprouamos , e
Confirmam os, e ~eremos que em todos Noffos
Reynos , e Senhorios fe guardem , e pratiquem , e
valham para fempre : Reuogando , Cancellando
quaesquer outras Ordenaçoes, que fóra deíla Copila-
çam fe acharem, e Capitolos de Cortes que até aqui
fam feitos ; faluo , as que fe acharem efcriptas no
Liurinho da Noffa Rolaçam, que hora nouamente
Mandamos fazer , que per Nós ferá affinado ; por
que poíl:o que fejam feitas antes defla impreffam 1
e nefles Liuros nom fejam encorporadas , Manda-
mos que fe guardem I como nellas hc contheudo.
TAVOADA
DO PR I ME I R O LIVRO.

T ITULO I. Do Regimento do Regedor


da Juftiça na Cafa da Sopricaçam. pag. r
TIT. II. Do Chanceler Moor. 33
TIT. Ili. Dos Defembarguadores do Paaço. 48
TIT. [V. Dos Defembarguadores do Agrauo
da Cafa da Sopricaçam. 54
TIT. V._ Do Corregedor da Corte dos feitos
crimes. 64
TIT. VI. Do Corregedor da Corte dos feitos
crne1s. 76
TIT. VII. Dos Juius dos Nolfos feitos. 80
TIT. VIII. Dos Defembarguadores das Ilhas. 83
TIT. IX. Dos Ouuidores da Cafa da Sopri-
a~m.
TIT. X. Do Ouuidor das Terras da Raynha. 96
TJT. XI. Do Procurador dos Noífos Feitos. 99
TIT. XII. Do Promecor da Juftiça da Cafa
da Sopricaçam. 102
TIT. XIII. Do Efcriuam da Chancelaria.. 10.6
TIT. XIV. Do Meirinho Moor. 1 l2
TIT. XV. Do Almotace Moor. 113
TIT. XVI. Do Meirinho que anda na Corte
em Iuguar de M.eitinho Moor. 134
TIT. XVII. Do Meirinho das Cadeas, e do
que~ feu Officio pertence. 139
TIT. XVlll. Do Efcriuam dos feitos d'ElRey. 14i
vr TA V O A D A.

TIT. XIX. Do Efcriuam das malfeitorias. 1


44
TIT. XX. Dos Eícriuaes d'ance os Defem.
barguadores do Paaço , e dos Agrauos, e
Corregedores da Corte , -e outros Def-
em barguadores. 148
TIT. XXI. Do Solicitador da Juftiça. 166
TIT. XXII. Do Porteiro da Chancelaria da
Noffa Corte. 168
TIT. XXIII. Do Porteiro da Rolaçam. 169
TIT. XXIV. Do Porteiro dos Corregedores
da Corte, e dos Noffos Ouuidores, e da
Raynha.- 170
TIT. XXV. Do Preguoeiro da Corte. 172
TlT. XXVI. Das citaçoes, preguoes, procu-
raçoés , e inquiríçoes , de que a ElRey
pertence auer dereito. 173
TIT. XXVII. Do Carcereiro da Corte, e da.
Caía do Ciuel , e do que a feus Officios
pertence. 175
TIT. XXVUI. Das carceragens da Corte, e
como fe ham de leuar. I 80
TIT. XXIX. Do Regimento do Guouerna-
dor da Juíl:iça na Caía do Ciuel. 183
TI T. XXX. Do Chanceler da Caía. do Ciuel,
e do que a feu Officio pertence. 109
TIT. XXXI. Dos Defembarguadores do Agra-
uo, e do que -a feus Officios pertence. 1.14
TIT. XXXII. Dos Sobrejuízes, e do qu.e a
fcu Offi.cio pertence. 21s
TA V o A D A. vrr
TIT. XXXIII. Dos Ou ui dores do Crime, e
do que a feus 0fficios pertence. 22 I
TIT. XXXIV. Do Prometor da Juíliça, e do
que a feu 0fficio pertence. 223
TIT. XXXV. Do Eícriuam da Chancelaria,
e do que a feu 0fficio pertence. 225
TlT. XXXVI. Do Eícriuam, que tem car-
reguo àe Solicitador da Juíliça. 227
TIT. XXXVII. Dos Efcriuaes, que efcreuem
perante os Defembarguadores , e Sobre-
juizes, e Ouuidores da dita Caía. 230
TIT. XXXVIII. Dos Procuradores, e dos
que o nom podem feer. 233
TIT. XXXIX. Dos Corregedores das Comar-
cas, e do que a feu 0fficio pertence. 24 7
TIT. XL. Dos 0uuidores, que por Nós fam
poíl:os em alguüs Luguares. 2 70
TIT.XLI. Em que modo ha de enquerer o
Corregedor nouo fobre o Corregedor da
Comarca paífado, quando acaba o tem-
po de feu 0fficio. '.l 7I
TIT. XLII. Das refidencias, que os Corre-
gedores das Comarcas , e 0uuidores ham
de fazer, acabados os tres annos de feus
0fficios. 27 5
TIT. XLIII. Da Chancelaria das Comarcas. 279
TIT. XLIIII. Dos Juizes 0rdinarios, e do
que a feus 0fficios pertence. 2 86
TIT. XLV. Em que modo fe fará a eleiçam
dos
TA V O A D A,

dos Juizes, e Vereadores, e outros Offi-


ciaes.
TIT. XLVI. Dos Vereadores das Cidades,
e Vi lias, e couías que a feus Officio5 per-
tencem. 321
TIT. XLVII. Das peffoas que podem dar li-
cença pera as fintas, e quaes fam as pef-
foas que dellas fam efcufas, e que os Con.
celhos nom ponham tença a alguem. 334
TIT. XLVIII. Da ordenança da bolfa que fe
ha de fazer pera defpefa dos dinheiros ,
e prefos que fe leuam de huü luguar pe-
ra outro, e que os J uize5 tomem os pre-
fos. 337
TIT. XUX Dos Almotacees, e coufas que a
feu Officio pertencem. 339
TIT. L. Do Procurador do Concelho, e cou-
fas que ao dito Officio pertencem. 356
TIT. LI. Do Tefoureiro do Concelho, e cou-
fas que a feu Officio pertencem. 3 51
TIT. LII. Do Efcriuam da Camara, e coufas
que a feu Officio pertencem. 3 58
TIT. LIII. Do Eícriuam da Almotaçaria, e
couías que a feu Officio pertencem. 362
TlT.LIV. Dos ~adrilheiros. 364
TIT. LV. Dos Alcaides Moores dos Caflel-
los~ 370
TIT. LVI. Do Alcaide pequeno das Cidades,
e Villas , e coufas que a feu Officio per-
tencem. 381
T A V o  D A. IX

TIT. LVII. Das Armas que fam defefas, e


quando fe deuem perder affi de dia co-
mo de noute. E dos que fam achados
defpois do fino de correr. 394
TIT. LVIII. Dos Carcereiros das Cidades,. e
Vil las, e das carceragês que ham dele-
ua~ 398
TIT. LIX. Dos Tabaliaes das Notas, e do que
a feus Officios pertence. 400
TIT. LX. Dos Tabaliaés Judiciaes, e do que
a feus Officios pertence. 419
TIT. LXI. Do que ham de leuar os Efcri-
uaês da Fazenda, e da Camara. das Car-
tas, e Defembarguos. e Aluaraes, e outras
Efcripturas que fezerem. 443
TIT. LXII. Do que ham de leuar 0& Efcri-
uaês da Corte, e das Comarcas , dos car-
retos dos feitos. 44 7
TIT. LXIII. Do que ham de leuar os Taba-
liaes , e Efcriuaes de feu Officio. 448
TIT. LXIIII. Dos Tabaliaes geeraes, eco-
mo deuem vfar de feus Officios , e das
penfoes que deuem paguar. 464
TIT. LXV. Dos Enqueredores, e do que a
feu Officio pertence• e do que ham de
leuar de feu falario. 467
TIT. LX VI. Do que ham de leuar os Por-
teiros, e Preguoeiros , das penhoras • ci-
ta.çoês, e remataçoes. 4 72
• iii
X T A V o A D A.

TIT. LXVII. Do Juiz dos orfaõs, e coufas


que a feu Officio pertencem. 475
TIT. LXVIIJ. Do Efcriuam dos Orfa5s, e
do que a feu Officio pertence. 517
TIT. LXIX. Do Curador que he dado aos
bens do abfente, e aa herança do finado,
a que nom he achado herdeiro. 524
TIT. LXX. Do Contador dos feitos, e cuftas,
e como fe ham de contar affi na Corte,
como nas _Cidades, V ilias, e Luguares de
Noífos Reynos e Senhorios. 526
TIT. LXXI. Como ham de contar o fala-
rio aos Procuradores. 543
TIT. LXXII. Do falaria que ham de leuar
os Caminheiros. 5 52
TIT. LXXIII. ~e os Officiaes fejam de ida-
de de vinte e cinco annos. 552
TlT. LXXIV. Dos que vendem feus Officios
fem licença d'ElRey, ou os renunciam
eftando doentes, ou tendo feito nelles al-
guiís erros : E que nom feruam feus Offi-
cios por outrem : E que fejam cafados. 553
TIT. LXXV. ~anto tempo duram as Car-
tas impetradas por fe aj/i he. E do que
houue perdam depois de as ditas Cartas
ferem impetradas. 556
TIT. LXXVI.. Como ElRey pôde tirar os Of-
ficios affi da Juftiça , como da Fazen-
da, fem feer por ello obriguado a fatisfa-
çam algüa. 557
TA V o A D A. XI

TIT. LXXVII. Do Regimento das Audien..


Cias. 558
TIT. LXXVIII. ~e fe façam em cada huü
anno duas Preciíloes folenes aalem das
mais ordenadas, e que os moradores do
Termo aalem de leguoa nom fejam pera
aas Precitfoés conftrangidos. 566

IN

2
PREFAÇÃO

A HISTORIA Civil de todos os Povos moílra que as


Leis , por que elles fe governaó, foraõ feitas em diverfos
tempos , crefcendo á proporc,aó dos progreffos da focieda-
de , e accommodando-fe ás particulares circunftancias da
occaúão , em que fe efiabeleceraó.
Defta maneira foi cada hum dos Soberanos augmen-
tando a Legislaçaó Nacional com providencias novas , as
quais deviaó neceífariamente fer analogas naõ fó ao obje-
élo , que as havia motivado, mas tambem ao caraél:er de
feu Auél:or, ao genio da Naçaó, e ás opinioens dominantes
da idade em que faraó ordenadas.
Com o numero e variedade das Leis crefce forçofa-
mente a difficuldade de ferem conhecidas e como muitas
das antigas fe achaó derogadas, ou emendadas por outras
poíleriores , he mui arriscado errar no Direito, ou por fal-
ta de noticia da Lei originaria, ou por ignorancia da
Ordenaçaõ nova , que alterou o que por ella eftava deter•
minado.
Para evitar» 011 ao menos diminuir, eíle inconveniente,
cntraõ peffoas particulares no projeélo de colligir as ditas
Leis em hum fó corpo, humas vezes pela ordem do tem-
po , em que faraó promulgadas ; e outras pela das mate-
a JlaS
1I

rias, que fizera6 o feu objeél:o : mas , por maior que feja a
diligencia e pericia deíles Colleél:ores , nunca fuas obras
remedêa6 inteiramente o mal , em quanto por auél:ori-
dad e publica fe na6 chega_ a ordenar huma Collecça6, a
que exclufivame nte fe dê força de obrigar.
Por mais defeituofa que ft:ja huma Collecçaó fimi-
Ihante , he fempre muito util , comparando -fe o efiado de
certeza, e facilidade, em que enta6 fica a J urisprudenci a,
com aquelle , em que efiava anteriormen te , em quanto
andavaó disperfas , e pouco conhecidas innumeravei s Leis·,
que mutuamente fe contradizia6 , limitava6 , declarava6,
ou ampliavaó. O Cidadaó tem deíla maneira prefente a
Legislaçaó, por que fe ha de governar , fem o risco de dar
obfervancia a Leis , que ja eílaó revogadas par outras ,
de que naó tem noticia.
He verdade, que hum Codigo defte gei:tero formado
de Leis feitas por differentes Auél:ores , e em ta6 diver-
fos tempos , tem neceffariame nte inconvenien tes , que fe
naó podem evitar, ainda quando a fua co·m pofiçaó he en-
carregada a homens fabios , e bem intencionado s.
Mas he igualmente certo , que affim os Romanos, a
quem tivemos por Mefires nefia fciencia , como noífos
maiores feus admiradores , e imitadores , fempre que fe
propoferaó ordenar hum fyfiema de Legislaça6 , ou foífe
por arbítrio particular, ou por auél:oridada publica, naõ
tiveraó outras viflas mais , que colligir as Leis anteceden-
tes, e referillas humas vezes pela ordem de fuas datas ,
outras pela das materias refpeétivas ; de maneira que longe
. de
III
de reinar em tais obras uniformidade de principias , e de
ellilo , fe encontraó frequentemente , a par humas das ou-
tras , Leis de mui differentes datas , e que por iffo incul-
caó maximas naó fó diverfas, mas até muitas vezes con-
trarias ; e faó efcritas em linguagem, e eflilo inteiramen-
te desfimilhantes. D~qui vem que mal fe pode compre-
hender o efpirito de cada huma das ditas Leis, fem que o
interprete fe transporte fuccellivamente ás füas differentes
epocas , e as compare com outros monumentos. coévos ,
inílruindo-fe nos princi,pios , maxirnas, ufos,, e coílu-
mes , que em cada hunia das rnefmas epócas mais domi·-
navaó; fim , que elle nunca poderá confeguir, fem faber as
fontes, de que as referidas Leis, ailim proxima , como re-
motamente , foraó derivadas.
Eíla necellidade fe torna .a inda maior, quando os Com-
piladores , fem fe abalançarem a crear huma nova Lcgisla-
çaó, ufaraó todavia da liberdade de mutilar, ou interpolar
huns lugares , e reunir , ou dilacerar outros , como coníla
que fizeraó entre nós todos os encarregados deíle genero
de trabalho defde o Reinado do Senhor Rei D. Manoel ,
e mais que todos os Compiladores do Codigo Filippino:
vindo affirn a fer humas vezes difficil, e outras impoffivel
entender certos lugares do dito Codigo, fem que fe con-
fulte a fonte, em que elles fe achaõ em toda a fua intei-
reza.
Eílas confideraçoens excitaraó o zelo da Univerfidade,
para impetrar da RAINHA No!Ia Senhora a permiffaó de dat
á luz huma Collecçaó da Legislaçaó antiga e moderna
a 2 de
IV

de Portugal ; procurando affim falvar . do eíquecimento


el\es monumentos de noffas primeiras Leis , e facilitar
aos efludiofos os meios de confultar as fontes , e de pode-
rem melhor interpretar o Direito prefente , examinando a
origem , progreífo , e mudança de cada huma de fuas de-
cisões.
Sendo pois o Codigo mandado ordenar pelo Senhor
Rei D. l\1anod de feliz e faudofa memoria , no eftado em
que fe publicou no anno de 1521 , huma das fontes prox.i-
mas mai-s abundantes do Codigo Fil ippino, elle devia por-
iffo entrar mui principalmente no numero das obras, que
a Univeríidade tem emprendido publicar; muito mais,
havendo-fe feito raro, apezar das repetidas ediçoens, que
delle em outro tempo fe fizeraó. Tais faó os motivos,
que houve para fe fazer a reimpreffaó , que agora fe offe-
rece ao publico , aos quais ferá conveniente ajuntar huma
fuccinta noticia da occafiaó, au8ores , e defignio deíla
obra, de feu merecimento, de fuas fucceffivas ediçoens,
e ultimamente do que na prefente fe praticou , para que
fahifre mais correéla , que todas as antecedentes.
Ninguem ignora que desde o Re inado do Senhor Rei
D. Joaó I. começara a fazer-fe mais_feníivel a neceffida-
de de fe ordenar , e publicar debaixo da fançaó publica,
hum fyílema de Leis gerais para o regimento do Reino ,
em ordem a facilitar o conhecimento , e obfervancia das
muitas Leis , e Ordenações , que haviaó fido publicadas ,
e que andava6 disperías ; obra , que eíle Príncipe effeéli-
vamente principiou , fem a poder levar ao fim , e que naó
fe
V

fe completando ainda no breve Reinado do Senhor D.


Duarte , fó veio a concluir-fe na minoridade do'' Senhor
D. Affonfo V. e Regencia de feu Tio o Senhor Infante
D. Pedro.
O plano , vantagens , e defeitos delle Codigo podem
ver-fe na erudita e elegante Prefaçaó , que precede á
primeira ediçaõ delle , ha poucos . annos dada por eíla mef-
ma Uni ver/idade , aonde igualmente fe mollra que pouco
depois da fua publicaça6 fe começou a fentir a neceílidade
de entender novamente na reforma deíla Compilaçaó pe-
los defeitos , que nella fe obfervavaõ.
Porquanto, aindaque entaõ fe naó conheceffem bem os
inconvenientes infeparaveis do fyílema adaptado por feus
Auélores , nem as i mperfeiçoens da execuçaó deíle fyíle-
rna ; a experiencia devia neceífariamente rnollrar que
aquella Compilaçaó fe fazia cada vez mais diminuta;
fendo certo, que desde o anno de 1446, em que fe acabou
o Codigo do Senhor D. Affonfo V. até o fim do feu Rei-
nado, fe publicaraõ muitas Leis novas , as quais fuppriaõ,
addia6 , e alterava6 a Legislaçaõ con teúda no rnefmo Co-
digo ; o que tambem acontéceo por occaíiaó das outras
Leis feitas nas Cortes , que por- varias vezes no Reinado
delle Principe fe celebraraó.
Naó foi menor o numero, e importancia das que fe
p11blicara6 no Reinado do Senhor O. Joaó II., e do mef-
mo Senhor O. Manoel , antes que elle mandaíre ordenar,
e publicaífe pela primeira vez o feu Codigo. (a)

(a) Pode ver-fe o Catalogo deftas Leis, ou ao menos da, mai, importantes ,
cm a Synop. Chronolog. Tom . 1 . defde pag. 97 até pag. 176.
VI
Era portanto abíolutamente necelTario recolher em
hum corpo a Legislaça6 difperfa ; e os graves incotrimo-
dos , que refultava6 do grande numero de Leis ex,trava-
gantes , feitas depois da publicaçaó do Codigo Affonfino,
baílariaô para fe dever entrar nefia obra, ainda quando o
dito Codigo na6 tiveffe defeitos , que foífe conveniente
reformar.
Sendo pois tal o eílado da Jurisprudencia Portugueza,
quando o Senhor D. Manoel fubio ao Trono ; e fendo
dle Principe por extremo diligente na expediçaó de to-
dos os negocios pertencentes ao bom governo de feus Rei•
nos ; com razaõ fe pode conjeéturar que logo defde o
principio meditada ordenar hum novo Codigo, e que eíle
projeéto cobraria maior força, depois que o numero de
fuas proprias Leis augmentou a neceffidade, que já ha..
via, de fimilhante Compilaça6.
Elle com effeito começou logo a dar providencias fo-
bre alguns artigos, que mais as exigiaó; porque talvez
diílrahido com os graves cuidados do governo lhe naó
era ainda poffivel entrar na vafla empreza da reformaçaó
do Codigo Nacional ; de maneira que eíla importante obra
fó vêio aprincipiar-fe, fegundo parece, no anno de 1505,
que era ja o decimo do feu Reinado.
Qie o dito anno foífe a epoca , em que ella princi-
piou , íe colhe com toda a probabilidade da combinaçaô de
dous lugares da Chronica de Damiaó de Goes (a) com
hum

(a) Chron. do Senhor O. Manoel Part, 1, Cap. 94, t: Part, 4. Cap, 86,
Vil

hum do Bifpo Jeronimci Oforio, (a) cuja auéloridade fe-


guira6 depois outros Efcriptores mais modernos. {b)
As palavras de Damia6 de Goes faõ as feguintes: EI-
Rey D. Manoe/ f oi naturalmente amador da honra, e dt'U-
jozo de deixar de fi
memoria , e boas Leys , e Foros a Jeus
Jugeitos , e Vaflallos : com,çou nejle anno ( 1505) hum ne-
gocio de muito trabalho , que foi mandar reformar as Leys,
e OrdenafÕes antigas do Reyno , e accrefcentar algumas co11-
zas , que pareuraõ necefsarias &e.
O mefmo atteíla Oforio, aindaque em termos menos
expreífos , quando referindo os faélos do anno de 1505
diz: Eodem anno Rex leges multas vetujlis legibus addidit,
antiqua injlituta correxit : lugar , que comparado com o
de Damiaõ de Goes rnofha , que deve entender-fe do pro-
jeélo de hum novo Codigo.
Mas o que prova mais deci{ivamente que a dita obra.
fora encarregada neíle anno de 1505, he a Carta Regia, que
o Senhor O. Manoel dirigio d'Almeirim, em 9 de Fe-
vereiro de 1506, ao Chanceller Mor Ruy Botto, (e) ao Li-
cen-
("a ) D, r,bus E"'. Liv. 4.
(b) Mariz: Dialog. 4, Cap. 13, e 19, Beoto Cardofo Oforio: AllegafaÓ de
Direito a favor do Morgado de Bellas , Part. 2. num. 182.
(~) Q.!!e Ruy Botro folfe na quelle anno Chant ellcr Mor do Reino, confta
da Carta Regia de e; de Fevereiro do mefmo anno, referida na Synop. Tom.
1. pag. 161 , aonde fe diz que a Junta para o, Fe itos dos Foraes era compofta
do Chanccller Mor Ruy Botto , do Vigario de Thomar , Doutor Joaó Pires , e
Ruy da Grã~. O mefino fervia o dito cat'go defde o anno de 1499 , porque por
elle fe diz que fora publicado na Chancellaria o Alvará de 20 de Abril do mef.
mo anno, dita Sy11op. pag. 148. Confta alem dilfo que o mefmo Ru y Botto fora
confervado nó emprego de Chanceller Mor até ao anno de 1520, emque falleceo;
porque no Liv. 6 dos Mifticos do Real Archivo da Torre do Tombo fe confcrva
huma Carta Regia do mcímo Senhor R ei D. Manoel com data de S de Julho do
VIII

cenciado Ruy da Grâa , e ao Bacharel Joa6 Cotrim , na


qual fe encon(raõ as palavras feguintes : Havemos por lmn
9ue nas Ord, do Regno , em IJUe ora por nofso mandado en-
tendeis &e.(«)
Serve tambem a referida Carta de nos dar a conhecer,
quais foraó os Compiladores, de quem o Senhor D. Ma-
noel ao princi.pio fez efcolha, e fuppre neíla parte a falta
da Carta, ou Alvará, por que fe ordenou a compofiçaó do
novo Codigo , da qual naõ tem !ido poffivel achar noticia.
Pode pois affirmar-fe naó fó que o Chanceller Mor
Ruy Botto, o Licenciado Ruy da Grãa, e o Bacharel Joa6
Cotrim foraó encarregados da dita Compilaçaó , mas lam-
bem, que naó tiveraõ mais focios neíle trabalho; pois que
de outra forte era natural, que a mefma Carta os nomeaf-
fe, ou que ao menos os indicaffe por huma expreífaõ geral,
Naó conlla com certeza, em que tempo _os Compila-
dores deraó conta da fua commilfaõ, porque as Ordenações
mais antigas
.
do Senhor D. Manoel, que fe achaó
.
na Torre
do Tombo, fa6 as que fe publicaraõ em 1514, com de-
claraçaõ de haverem fido corregidas neíla fegunda impreí-
faõ. Daqui fe conhece, naõ fó que houvera huma Compi-
laçaõ anterior , mas que ella fora depois reformada , e
emendada; fem que eíl:a fegunda fe poffa coníiderar , como
huma fimples reimpreffaõ da primeira,
Pode
mefmo anno de 1r20, pela qual faz mercê do Officio de Chanc.~Jlcr Mor a Ruy
da Grãa I e nella d_iz : ~"' //,, fa:,:J., ,j/11 mtrcl por far o Dtj',n1hargador mai,
a,rtigo da f11a Cau da S•f'f'rÍMf-aG, t 'I"' tuia todo, 01 privilegio, • • _. • como todo
b1111i-.Z, t dt todo u,:,av11 • Dolllor R11y Boi/o ,'l"'o dito ojficio dt Cha11,dltr Mor
tinha, t qut hor11 ft .fi,tou,
(11) Synop. Chronolog, To,n. 1, pag. 162.
VIII(

Pode porem affirmar-fe com alguma probabilidade que


feu primeiro Codigo foi publicado antes de Maio de 15121
e depois d'Agofio de 1511. Porquanto apparecem alguns
monumentos do tempo, que mediou entre o dito mez de
Maio de 1512, e a publicaçaódafegundaEdiçaó de 1514,
dos quais huns fazem mençaó da Ordenaçaó do Senhor D.
Manoel (a), e outros da Ordenaça6 nova (b) ; termos ,
que neceffariamente devem defignar o feu primeiro Codi-
go : affim como fe encontra hum Alfento , que falia em
Ordenaçaó antiga, referindo-fe ao Codigo Affonfino (e) ,
o que igualmente prova haver já entaó outra , a que fe da-
va o titulo de nova.
b Se •
(a) Confta do encerramento do Liv. 2. do citado Codigo de 1514, que omefmo
fe acabara de imprimir a 27 de Dezembro, ejá no Regimento da Fazenda, impref.
ío _a 27 de Setembro do meímo anno, Tit, 18, 26, 42 , e 48, o Legislador fe refere
a providencias conteúdas no Liv, 2 , da Ord. Tit, qut .f11ll11 d11, raufas dos rrfidos ,
e Cap. 43, que naõ podia deixar de fer Ediçaõ antecedente.
(6) O Alvará de 2, de Janeiro de 1p4, Leaõ Patt. 2. T it. S· Lei 6, deroga a
Ord. nova fobre os privilegio, dos Moedeiros para trazerem fcus contendores á Cor-
te, a qual Ord. nova naõ pode fer a de IS 14, naõ fó porque todos os livros della faõ
de pafter\or data , mas ' porque no Tit, 6. do Liv. I. já fe naõ encontra vefügio al-
gum do dito privilegio. Igualmente no Alfento do 1. deJulbode 1513 íe faz mençaõ
da dilfcrenfa que havia Mtre os privilegios do1 Defembargadores das duas Caías da
S11pprfraf116, t do Civtl, e fe diz que ella ,ra conteuJa na Ord. que o "'ifmo s,.
tthor.fn:,,ra , a qual o meímo AITento veio revogar·; e com etfeito nã Ord . de r 5 14,
Liv. 3. Tit. 111 , já fe naõ acha tal differença , e fe obfcrva o Direito novamente
cftabelecido pelo dito Affénto. Livrinho da Caía do Civel f. 25 , do Original.
(e) No Affento de 6 de Maio de 1512 fc faz mchçaõ da O rd. antiga, a qual do
contexto fe conhece fer o CoJigo d_o Senhor D. Alfonfo V, no Liv . 5. Tit. 7. ~- 5.
As palavra, do Affcnto, que fe acha no citado Liv. f. 24 v. faõ as fegu intes. A,r
V~ dt Maio dt 15u ,jlan:l_o E/ R,i Noflo Stnhcr tm Rdafa6 foi duvidado , fe
podrria o pri,r.tiro marido r,conclliar a mulher, 711•, vi.,,nJo ,lf,, fa ca z affi com
or,tr, m11rid• fam ,wtr pt1ta alguma por 11.flj, c-a:urr com dous m•ridns , 9ut partci11
outra ifpteit dt m11/tjici~ : t fai dtttrminado por Sua Altt-,,a, 9'" 'luand• tnl rafo
atontueffe , p,dind• n primtiro m,,rid• fua mulhtr , lht .fojf, tnlrrg11, aff,m rnm•
por Ordcnapõ antiga b, d•ttrmi11ado, g11111tdo a mulh,r ht 11ccrifad11 d, fim prrt
odulttrio. Ora
X

Se eíles argumentos perfuadem que a primeira Orde-


naçaó Manuelina fora anterior ao dito termo , ha tambem
outros da mefma natureza , com que fe pode mofirar que
clla fe naó havia ainda publicado em Agoílo de 1511. Por
quanto obfervamos geralmente que os Affentos feitos antes
deílc tempo , quando fe referem a algum lugar da Orde-
naçaó , fe explicaó fempre pelo termo de OrdtnofaÕ fcm
o epitheto d' antiga ou nova, e que os lugares nelles cita-
dos fe acha6 conflantemente no Codigo Affonfino ; prova
manifefla , de que ainda naó exiíl:ia outro na quelle tem-
po (a).
Deíla maneira vem a fer mui verofimil a opinia6 do
Abbade Diogo Barbofa Machado, que affirma (b) que a
Or-

Ora a Ordcnaçaó antiga naó pode fcr fenaó o Codigo Alfonlino no lugar citado,
cujo thcor h.e o feguintc : lumfamos crrto, 9ut prr ztjanra antigaft ,ucflunrou /on.
Kammtt, 9u, o marido, 9uc accufava a mul/Jtr dr adulttrio , lh, p•tÍia perdoar,
reconciliar rm todo o umpo ; t tanto '[Ut a ptdia , logo lbt rra mtr,gut , quando fó.
mente era accufada cm cafo de fimpres adulterio. Portm Mandamos , , p~mos p ar
Lry'I"' aj/y ft cumpra, e guard, daqui rm di1111tt, porqut a,h11nro1 qu, tal ufa11-
= h, yu'?.ft 'º".formt ao Dirtito c.ommum rmfa1,or do Matrimo11io . Do que igual.
mente fe prova que o Aífcnto, refcrin-do-fc á Ordmaça6 a11tiga I naó teve cm vi!b
Lei alguma anterior ao Codigo Affonfino , mas o ·mefmo Codigo, onde pela pri-
meira vez fc fez aquella dcclaraçaõ, por fer conforme naõ á Ordenaçaõ anterior,
mas á ufança, analogia do Direito Comm11111.
(a) O Aífento de 20 de Dezembro de 1499, que applica a hum cafo fimilhante
a detcrininlçaõ do Codigo Affonfino Liv. 5. Tit. 17, cxplica-fc neA:cs termos : s,.
gundo a forma da Ordrn•ça6 : Livrinho da caía do Cível f, :22. v. O de r 5 de
Março de 1502 cita a Ord, do Liv, 2, no Tit. dt como o Jud,o converjo áfl de
'),fu, Chrijlodtvt herdar ajtv Padrt, , Madr,: Tom. 3. dus Livros incditos, pu-
blicados pela Academia Real das Sciencias de Lisboa pag. 582. O de 26 de Março
de rso;, que amplia a Legislaçaó do mefmo Codigo Liv, 5, Tit. r6, exprime-fe
por eíl:as palavras : al,m das penas da Ordtnaçaõ: Livrinho, ibidem. Ultimamente o
de 29 de AgoA:o de 151 r , que declara o Tit. 67 do citado Liv. s do mefmo Codigo 1
ufa dcA:a cxprclfaó : . E 'l"' nrfla 111,mtira ft prati'l'" a Ordtnaça6 1 ibidem f, '-4•
(ó) Artigo J •aó d './lrrga s, Tom, 1., pag. 712 da Bibliot, Lufitw;i,
Xl

Ordenaçaó Manuelina fora impreífa em Lisboa por Joa6


de Kempis no anno de 1512: e por certo que a auélori-
dade de hum Efcriptor taó grave , e verfado em noífas
coufas , nunca deveria fer defprefada , fem que razões
muito fortes o exigi!fem , quais na6 podem reputar-fe as
que contra elle ordinariamente fe allega6.
He verdade que Barbofa moílra ter ideas pouco exa-
élas da Hiftoria da noffa Legislaça6, em quanto fe perfua-
dio que o Codigo ordenado por Joaó d' Aregas era o mef-
rno Codigo Affonfino , e que elle fe imprimira em aquelle
,moo de 1512 ; mas efla falta de noticia de hum faélo an-
tigo, e pouco averiguado em feu tempo, naó bafla para lhe
negarmos o credito , quando affirma pofitivamente huma
coufa , de que podia ter conhecimento, ou por haver viflo
algum Exemplar da primeira Ediçaó do dito Codigo , ou
por achar a quella memoria em algum dos livros , e mo-
numentos , de que fe fervia para a compofiçaó da fua obra,
e que teve o defcuido de naó apontar.
Tambem naó parece baflante razaó para duvidar deíl:a
auéloridade o defejo , que o Senhor D. Manoel moflrava
.de ver concluída a mefma obra ; querendo dahi concluir-
fe, que o.;; Compiladores naó confumiriaó nella todo o tem-
po, que mediou entre o anno de 1505 e o de 1512 ; por
que e!le efpaço na6 deve parecer longo a quem attender
que o Codigo Affonfino , mandado fazer pelo Senhor D.
Joaó 1., fó fe acabou no Reinado de leu Neto , e que o
methodo adaptado pelos Compiladores Manuelinos ( de
que logo fe tratará) ainda devia fazer a fua tarefa mais dif-
ficil e vagarofa. b 2 Affim
XII

Aílim como naó deve parecer dem-a!iado o tempo , que


levou a compofiça6 do primeiro Codigo , tambem he pou-
co attendivel a reflexa6 , de que tendo apenas palfado dous
annos depois da fua publicaçaó, fe de!fe á luz huma nova
imprejfaõ com algumas corruçõa, e emendas; pois que eflas
foraó provavelmente de pouca importancia, viíl:o que a obra
ficou ainda taó imperfeita , como mollraó as confideraveis
mudanças , <.om que appareceo na fua ultima Ediça6.
~anto aos Auélores della nova reformaçaó do Codigo
Manuelino, impre!fa em 1514, do principio de cada hurn
de f-eus Livros coníl:a terem fido o mefmo Chanceller Mor
Ruy Botto, e outros Letrados do Confelho , e Defembar-
go d'EI-Rei ; e parece muito natural que os focios do dito
Chanceller Mor foífem os mefmos , que a Carta Regia
acima referida diz eíl:arem empregados nefia obra no an-
no de 1506, os quais, affim como trabalharaó em fua com-
pofiçaó , trabalhariaó igualmente em fua correcçaó , e
emenda.
Reílaó hoje mui poucos Exemplares defia Ediçaó, e fó de
finco temos noticia, os quais fe ach:ió na Livraria do Prín-
cipe No!fo Senhor, no Real Archivo da Torre do Tombo,
na Li'vraria de Santa Cruz de Coimbra , na do Defem-
bargador Manoel da Cofia Ferreira, e na do lllufüiffimo
M onf. Ha!fe, celebre pelo grande numero de livros raros
e preciofos , principalmente no ramo da litteratura Portu-
gueza. A' fua generofidade e zelo pelo progreífo das Scien-
cias fe deve a communicaçaó do dito Exemplar , do qual
fe fez ufo para as noticias, que foi neceífario extrahir para
a prcfente Ediçaó. He
XIII

He o dito Exemplar impreffo em mui bom papel , ca-


ra8er redondo da quelle tempo, e muito bem confervado,
fem mais falta do que a da terceira folha das primeiras
quatro , que naõ faõ numeradas , na qua-1 eíl:ava imprelfo
o Prologo, de que, por fer differente do que he proprio do
Codigo <le 1521, fe fez tirar huma copia d' outro Exem-
plar , para tambem fe dar á luz.
Toda a obra he divididaem finco Livros, dos quais cada
hum tem numeraçaõ feparada de folhas. No encerramento
de cada Livro fe aponta a fua particular data, em que me-
rece notar-fe naõ fó que cada hum delles a tem diverfa ;
mas ainda, que a d05 dous primeiros he poíl:erior á dos ul-
times : fe iíl:o foffe fingular em hum ou outro Exemplar ,
poderia prefumir-fe , que dentro de taõ pequeno efpaço de
tempo fe teriaõ publicado diverfas Edições da mefma obra,
e que acafo fe achariaõ huns Livros pertencentes á primei-
ra unidos a outros da fe-gunda: mas comparados entre fi os
referidos Exemplares , em todos fe tem encontrado as mef-
mas datas refpeélivas ; e por ilfo nenhum lugar pode ter
huma tal conje8ura , fendo mais nat\lral que cada hum
dos Livros foffe encarregado a differente pelloa ·, e fe pu-
blicalfe naó fegundo a ordem numerica , mas fegundo a
promptida6, com qne feu Auaor o hou\'elfe apprefentado.
O objeélo em geral do cada hum deíl:es Livros he o
mefmo, que havia fado o do Codigo Affonfino , e que de-
pois fe feguio no Codigo de 1521 , e ainda no Tilippino,
de que aélnalmente ufamos. Por tanto o Liv. I. contem os
Regimentos das pelfoas empregadas na adminiíl:raçaó da
J u!li-
xrrn
Jufüça e Fazenda , affim Magiílrados, como feus Of-
ficiais e Miniílros. No II. traé\a-fe dos privilegios das
Igrejas, Moíleiros , bens , e peíloas Ecclefiafücas ; dos
Direitos , e bens da Coroa , e fua arrecadaça6 ; privile-
gios , e jurifdiçaõ dos Donatarios ; Capellas , e Reftduos.
No III. do proceífo judicial, começando pela citaçaó, e
difcorren<lo por todos os termos e autos deli e até a fen-
ten~a final. No IV. dos contraélos, e fucceífoens. No V.
dos deliélos e das penas , com a forma e o modo de in-
füu ir o proceífo criminal.
Porem, aindaquc o plano e diílribuiçaó geral ele mate-
rias fo!fe a mefma que a do Codigo Affonftno , ·a execuçaó
foi muito differente ; porque fendo a confnfaõ do dito Co-
digo hum d-0s principais motivos, que obrigaraõ o Senhor
D. Manoel a mandar fazer d\a reformaçaõ (a), naõ def-
cmpenhariaõ os Compiladores a fua commiffa6 , fe tranf-
creve!fem pela mefma ordem as Leis , que nelle eíl:avaó
colligiôas, conten'tando-fe com f upprimir as revogadas , e
introduzir. as poíl:eriores nos lugares <:ompetentes.
Por tanto, bem que fe ferviífem para a fua obra da maior
parte das Leis , que acharaõ na Ordenaçaó Affonfina , def-
viaraõ-fe comtudo do fyíl:ema ahi praticado , naõ fó
omittindo os nomes dos Auélores das ditas Leis , mas al-
terando a ordem da collocaçaó dos tit-ulos , e da difiribni-
ç~ó dos artigos, que em cada hum delles fe continhaõ; e
defia maneira vieraó a organizar tudo , como fe fo!fe hum
Corpo de Legislaçaó , e.fiabclecido pelo Soberano reinante,
e
(a) Ruy de Pina : Chron. do S:nhor D. Duarte Cap. 7.
XV

e naó huma Collecçaó de Ordenações feitas por diverfos


Príncipes, e em differentes tempos.
Porem , como a reuniaó de fragmentos colligidos de
lugares defvairados naó pode formar hum todo exempto de
deformidade , por maior difcriçaó, com que fe faça a efco-
lha dos rncfmos fragmentos ; he muito provavel que fe
conheceífe logo a neceilidade de aperfeiçoar a nova Com-
pilaçaõ, mofirando a experiencia que ella, pelo methodo
com que fora compofla , tinha augmentado a obfcuridade
e confufaó das Leis , em vez de as pôr em maior clareza
e em melhor ordem.
Naõ nos devemos pois admirar , de que a Ordenaçaó
Manuelina fahiffe já corrigida e emendada neíla fegunda
Ediçaó de 1514; muito mais, vendo que cfle novo traba-
lho do Chancellcr Mor , e de fcus Collegas , naõ bafiou
ainda para fatisfazer o defejo, que tinha o Senhor D. Ma-
noel, de deixar hum Corpo perfeito de Legislaçaó Patria ;
empenho por certo digno de hum Rei , que confiderava
a felicidade dos povos, como o monumento mais folido e
permanente de fua gloria:.
Foi tambem o reinado defie Príncipe mui fertil em no-
vas Leis, e Regimentos , que alteraraõ notavelmente a Ju-
rifprudencia Portugueza (a); e por confeguinte crcfcia a
necellidade de as inferir na Compilaçaõ , para mais facil-
mente fe confervarem e conhecerem.
Eis-aqui as confideraçoens que o moveraõ a recom-
mendar no te!lamento, que fez em 1517, que fe acabaífem
de
(.. ) S_y11op, Tom, l. Plll:· 175. e tê:g,
XVI

de corrigir os Foraes na forma que havia mandado , co-


mo tambem as Ordenaçoes (a),
Elle porem teve a fatisfaçaó de chegar a ver compridos
taó bons intentos , publicando-fe a ultima rcformaça6 das
Ordenaç6es no anno de 1521, que foi tambem o derradeiro
de fua vida.
Eíle Codigo, que he o mefmo que agora fe reimprime,
foi effeélivamente publicado todo no dito anno, fem que
poffa fazer duvida a equivocaçaó, com que nos Eílatutos
da U niverfidade fe affirma que os dous primeiros Livros fc
publicara6 em 1513, eos tres ultimos em 1521 (h); pois
que o contrario fe prova, naó fó pela auéloridade de Ca-
bedo (e}, mas porque era impoílivel que tendo o Livro Jf.
fahido á luz em 1513, nelle fe achaíl'em Leis promulgadas
na Chancellaria em Março e Dezembro de 1520 (d).
He certo que fó no fim do Liv. V. fe acha declarado o
dia, em que fe ~cabou de imprimir por eflas palavras: Foi
impr1/fo em a Cidade d1 Lisboa por Jacoho Cróherguer Ale-
maõ , llos onze dias do mez. de Marro dt mil e quinhentos e
XXI annos: e que nos outros Livros fo naó encontra data ,
referindo-fe fómente no fim de cada hum delles o lugar da
impreffaó, a faber o r. e IV. em Evora, e os de mais em
Lisboa , mas todos pelo meímo lmpreffor : o que indica,
ter o Codigo fido acabado e publicado no mefmo anno, e
fó em rafaó da commodidade do Editor imprelTo em diver-
fas Cidades, Hu-

(R) Soufa : Prov. d'a Hill:. Genealog. da Caía R. Portug. Tom. 2. pag. 333•
(h) Liv. II. Tit. 3. Cap. 9. ~- 4.
(e) P art. f. Dec. 211. n. 6.
(d] Veja.fe o Liv. 2. Tit, 37. ~- 13. ib'id. Tit. 47. pr,
XVIC

Huma das maiores difficuldades, que fe encontra6 na


Hiíl:oria deíle Codigo , he affignar os feus Auélores ; por-
que nem exiíl:e a Lei , que o mandou ordenar , ou outro
documento , em que fe faça mença6 do nome dos Compi-
ladores ; nem o mefmo Codigo contem em fi memoria
alguma , de que fe po!fa conjeélurar , quem elles fo{fem :
fó no fim do Livro V. achamos determinado , que os Li-
vros das Ordenações na6 teriaó fé e auéloridade fem fe-
rem affignados por dous dos quatro Defembargadores fe-
guintes: o Doutor Joaó Cotrim, o Doutor Joaó de Faria,
o Doutor Pedro Jorge , e o Licenciado Chriftovaó Eíl.e-
ves. Eíla fimples nomeaçaó feria certamente hum argu-
mento de muito pouco pezo para fe affümar, que foraó
aquelles os verdadeiros Auélores do Codigo.; affim como
he manifeílo , que o naó foi Mattheus Efieves. , · Juiz dos
Feitos da Fazenda, a qllem o Senhor Rei O. Sebaíliaó Jeo
femelhante aaélorldade para haver de affignar os Exem-
plares da Ediçaó de 1565. Ha porem ~utras razões mais
attendiveis , para julgar que ou todos os referid_o s quatro
Defembargadores , ou ao menos alguns delles , trabalha-
raó na dita obra.
Ja fica provado , que o Chanceller Mor Ruy Botto fo-
ra desde o anno de 1505 hum dos encarregados de ordenar
o fyílema do Direito Nacional, que o mefmo alfociado
provavelmente com Ruy da Gráa e J ozó Cotri m trabalha-
ra na correcçaó publicada em 1514, O Senhor Rei D.
Manoel, aindaque naó achaífe perfeitas as obras delles ho-
mens, e reconheceífe a neceffidade que tinhaó de ferem
e ainda
:XVIII

ainda corregidas, todavia levava muito a bem os fcus fervi-


ços • e reputava-os dignos de premio: portanto hc muito
natural que aquelles , que haviaõ fido ·encarrcgados desde
o principio , e eftiveffem capazes de trabalhar, continu..f:.
fem a occupar-fe nefla tarefa até fe dar a obra por con-
cluida ; e tais eraó as circunflancias do Doutor Joa6 Co-
trim; hum dos nomeados na Carta Regia de 1506 para a
Compilaçaó do primeiro Codigo.
Outro dos Defembargadores nomeados para fubfcrc-
ver os Exemplares he o Licenciado Chriílova.6 Eíleves :. e
que elle ·foffe tambem hum dos Compiladores fe .prova dos
apontamentos (a) , que deraó os Prelados do Reino depois
das Cortes do Senhor D. Sebaíl:iaó de 1562 • datados de
Lisboa a 17 de Fevereiro de 1563.
Apontaó os Prelados primeiramente o que dizia6 fe
nàó guardava dos quarenta Artigos acordàdos entre o Se-
nhor Rei D, Diniz e a Clerefia, e outros Capitulas que
fe fizeraó em Cortes , que o Senhor Rei D. Affonfo V.
celebrou no anno de 1455', e 1456; e. depois das queixas
relativas a cada hum ddles Arti~os continuaó dizendo :
.,. E o que agora parece aos Prelados , que vieraó a eftas
,, Cortes , que por defcargo de fuas confciencias, é por
,, obrigaçaó , que a fou. officio devem de lembrar , he o
,. feguinte. ,,
,, Por-
(•) Efta noticia nos foi communica<ta pelo Doutor Joaõ Pedro Ribeiro, Lente
de Diplomatica neíl:a Univerfidadc , que entre outras . excellentcs copias de mo-
numentos raros e preciofo, confcrva huma dos citados Apóntamentos , que aílcvera

3,
fer tirada do Original, que vira em ·cafa da. hcrddra d' Antonio Soarca de Men-
donça, no Li v, das Memorias para a Hiíloria , foi . 115; o qual com muitos ou..
tros Originais fc dizia feparado para a Livraria de Sua Magcfta..de,
XVITil

., Porque as Ordenaç6es do Reino feitas por man-


,, dado d'ElRci D. Manoel , que fanta gloria haja ,
,, por Chrijlovaõ Efleves tem muitas coufas contra o
,. Direito Canonico , e que feguido &c. (a)
Havendo pois taó fortes motivos para julgar que foraó
Auaorcs do Codigo dous dos auélorifados para fubfcre-
~cr os Exemplares, parece fe devem contar no meímo nu-
mero os mais, a quem fe fez a mcfma honra ; principal-
mente, obfervando-fe que o Senhor D. Joaó III. por feu
Alvará de 17 de Julho de -x533 nomeou para fubfcreverem
os Exemplares da nova Ediçaó, que meditava, dous d'en-
tre eftes mefmos; a faber, o Doutor Pedro Jorge , do feu
Confelho , e Chanceller da Cafa do Civel, e o Doutor
Chriftovaõ Eíleves, Defembargador do Paço e Petições.
Em quanto porem nos perfuarlimos , que todos eíles
Defembargadores tiveraõ alguma parte na compofiçaó do
Codigo, naó negamos que nelle trabalha!Te affim o Chan-
celler Mór Ruy Botto , como o fcu fuccelfor Rny da Grãa.
Os Auél:ores deíl:e Codigo feguiraó tambem o plano
dos antecedentes ; mas fizera6 nelle naó fó aquellas altera-
ci ções,

(a) Dc!h affirmaçaõ dos Prelados naõ fe deve deduzir, que elles reputavaó Chri-
llovaõ :E!kves unice Auétor da Compilaçaó ; mas que julgavaõ, que clle tinha ti-
do parte na obra, ou talvez que, fendo o Llv. 2.. das Orei, affrnto dos lugares
de que clles kaggravavaõ, nomealfe1I1 o Compilador, a quem tivelfc tocado por forte
ordenar o mcfmo Liv. Nem fe pode acreditar, que huma reformaçaõ de tanta
i1nportancia folfe cncerrcgada a ·hum fó homem , por maior que fo!fe a fua au-
8oridade, quando para a fimples correcçaõ de 1514 foraõ Dtprdados com a
Chanccllcr Mor Ruy Botto outros Ú/rados do Confclho e Defemhargo d'EIRei.
~alquer deltas conjcéturaa tem mais probabilidade do que a fuppoftçaõ , de que
homens inítruidos ignoralfcm hum falto ta6 recente , até o ponto de imaginarem
'i"C era A,;élor aqucllc, 9.11c fimplesmante fubfcrovcra os Exemplares.
XX

c;6es, que exigiaó as mudanças polleriores , por que tinha


palfado a Legislaçaó, mas ainda outras, relativas á diílri-
buiçaó das mefmas materias que confervara6 , como he
facil ver da íimples confrontaça6 dos feus Indices. Por
ella fe conhece que nas Ordenações de 1521 fe transferi-
raó varios Títulos para dilferente Livro ; que fe fupp.ri •
miraó alguns (a) , e fe accrefcentaraó outros em maior
numero (h); que huns fe dividiraó, e, outros fe ajuntaraó;
e finalmente, que nos mefmos Títulos, que os Compilado-
res transcreveraó, fe inferiraó Artigos, que naó vinhaõ no
Codigo antecedente (e), os quais foraõ humas vezes co-
piados , ou extraélados de Leis pofleriores, e outras nova-
mente formados pelos me(mos Compiladores , como logo
haverá lugar de fe moíl:rar.
Eflas mudanças faó pela maior parte feitas com difcri4
çaó e acerto; poíloque tambem haja exemplos do con-
tra-

(a) O Tit. 32 do Liv. 2., de 15 14 falta na de 1521; porque a íua materia havia
palrado para o Cap. 12.7 do Regimento da Fazenda de 1516. O Tit. 33 domcf-
mo Liv, confütuia o Cap. 190 do mcfmo Rcgimciito. O, Tit. 34 ,3Ç, e 36,
os Cap. 67, 17Ç, 106,259, 174, Do Liv. 3. faltaõ os 'Iit. 37,55, e 90,
que paífaraõ para o dilo Regimento Cap. 209, 2.10.
(li) Liv. 1. Tit. 40, 42 ,.54, 76, e feg. Liv. 2. Tit. 2, e 3, 28, 44, e feg. Liv, 4,
T it. 15 , ( ainda que de fua materia fc falle 1>0 ~- final do Tit. 17 do Codigo
de 1514) Tit. 39 até 43, e Tit. 82. Do LiY. S· faõ novos 01 Tit, 38, 39,.40,
57,58,59,70,80, 82,96, 97,109.
(e) DoTit. 3 do Liv. 1. da Ord, de 1514 fe fonnaraõ o 3 c4 na de 1521: o
Tit. 3& dade 1,:u concfponde aoTit,33 doLiv.1,, c32d0Liv.3,11ade1514,
cuja matuia fórma o~- 10 do dito Tit. 38: ao Tit. 44 o Tit, 37 do mcfmo
Liv. , e 53 do Liv. 5 : a matcria do Tit, 5& hc compofta do Tit. 45 ibidem, e
dos Tit. 66, 67 , 82.. A(! Tit. 15 do Liv. 2. Aa de 1 ç2.1 correfpond~m oa Tit.
J 5 do mefmo , e S7 do Liv. 5. Ao Tit. 12 do LiY. 3. corrcfpondc o 14, e IS
do mcfmo Liv. Ao Tit. 13 o 13, e 36. Ao 14 o 2.3, 38, 39• Ao 15 o 6, e 48.
Ao 37 o 43, e 45• Ao 50 o 69, e 2.7. Ao Tito 71 o 80, 81-t 83 1 87, 88, S~, 90•
XXI

trario , ja por terem deixado algumas coufas em lugares


pouco proprios , ja por terem tirado outras do feu verda-
deiro affento , para as collocarem com menos exaélidaó,
Em nenhum deíles dous Codigos do Senhor D. Ma-
noel que comparamos , fe encontra6 veíligios do Regí-
men.to da Guerra, nem dos 0/E-ciais Mores da Caía Real,
que formaõ os ultimos Tit. do Liv. I. do Codigo Affon-
fino. E como naõ coníl:a, que os ditos Regimentos tivef-
fem fido revogados , eíla falta faz mui provavel a conje-
él:ura , de que elles naó faziaõ parte do referido Codigo, e
que foraõ accrefcentados por algum Copilla ao MS. da
Camara do Porto , unico ex.emplar, em que tem appare-
cido. (a)
A Legislaçaó refpeéliva á tolerancia dos Judeos do
Liv. u: do mencionado Codigo do Senhor D. Affonfo V.
falta em ambos os do Senhor Rei D. Manoel : e comeftei-•
to em nenhum delles podia ter lugar a dita Legislaçaó,
porque he bem fabido, que depois de ouvidos diverfos
pareceres prevalecera em feu Confetho o de fazer expul-
far deíles Rei nos e Senhorios todos os Judeos , e Mouros
forros , que naó quizeffem converter-fe á fé Chriílãa , e
que neíla conformidade no mez de Dezembro de 1496 ,
eílando ElRei em Muja, fe lhes ordenara que ou fahiffem
do Reino , ou recebelfem a agoa do Baptismo até o fim
de Outubro do anno feguinte de 1497 (h) ; tempo, em que
ainda fe naó havia formado o projeélo de ordenar hum no-
vo

(a) Veja.fe a Pr.cfaçaõ do dito Codigo pag. 15.


(ó) Chron. de D~miaõ de Gocs P. 1. C. 18.
XXII

vo Codigo. Pelo que em ambos elles (a) fó fe encontra a


dita Lei , que affim impôs a.lternativa aos que profeífavaó
alguma d'aquellas feitas. (h)
Eaas obfervaçoens moflra6 que os Compiladores foraó
au8orifados para alterar a ordem das materias , fuppri-
mir a Legislaçaô revogada , e accrefcentar a nova. Mas
ellas na6 fixa6 ainda exaélamente os limites da fua com-
milfa6 , para cujo conhecimento cumpre indagar , fc
porventura , alem do dito poder, tiveraó tambem o de
emendar a Legislaça6 exiftente , e de augmentar , ou di-
minuir o que lhes parecelfe conveniente em aquellas mef-
mas Leis, que eaavaó em aél:ual vigor e obfervancia. A
queíl:a6 feria mui facil de decidir, fe exi!lilfe a Lei , por
que lhes foi dada a dita cómiífaó ; mas apezar da falta deíle
monumento pela combinaçaó de outros lugares fe pode
conjeél:urar com muita probabilidade , que os Compila-
dores Manuelinos na6 faraó meros recopiladores da Legis-
laçaó já eíl:abelecida, mas que feus poderes eraõ mais am-
plos , e chegavaô a comprehender o de a emendar , e
corrigir,
As razões, que há para affim fe preíumir, fa6 r. 0 por
que era muito natural, que a referida c6miffaó fofre ana-
loga á que fe havia dado aos que trabalhara6 por ordem
do Senhor D. Affonfo V, os quais íem duvida tiveraõ po-
deres deíl:a natureza , de que fizeraó ufo , limitando , de-
cla-
(a) Liv. z. Tit.48d0Cod. de 1514: Liv. 7., Tit, 41 node 151.r.
(~) He digno de fc notar, que fendo geral a d~terminaçaõ, de que fat: mençaõ
o Chronifta no Cod. de 1514, fomente fc falia nos Judeos, e ncfie de 151.1 fc
comprehcndcm os Mouros forros.
:XXIII

clarando , ampliando , e corrigindo as Leis que colligiaó,


e formando de novo muitos Títulos , extrahindo huns das
Collecçóes de Direito Romano, e Ecclefiafüco , ou das
doutrinas dos Gloffadores , e formando outros por feu pro-
prio arbitrio , tudo em nome do mefmo Senhor Rei D.
Affonfo V. (a)
Ora defejando o Senhor Rei D. Manoel , que o feu
Codigo naó foffe huma niera Colleçaó das Leis publicadas
até o feu tempo , mas fim hum fyllema completo e bem
ordenado da Legislaçaó ; era mui veroíimil , que conce-
deffe aos J urisconfultos , para elfe fim deputados , os mef-
mos poderes , e auéloridade , que em tempos atrazados
haviaó fido concedidos a outros em iguais circuníl:ancias.
2. 0 Pela auéloridade de Damiaó de Goes em ambos os
lugares ja citados (h). Diz elle que o Senhor D. Manoel
mandara reformar as Ordenações do Senhor D. Affonfo V.
nas , quais mandou diminuir , e a,crefuntar tudo aquillo,
IJUe pareceo necejfari() para o bom regimento d!J Regno , e or-
drm de Jufiira , no que fe trabalhou muito , e tanto tempo ,
tJUe j!Ji a rnorparlt do que e/le regnou: e no outro lugar diz,
fJUt o Senh!Jr D. 111anoel mandara reformar, as Leis e Or-
deiutfÕU antigas do Regno , e accrefcentar mi/as algumas
,oufas, qu1 lhe pareceraõ neceffarias. Daqui pois fe pro-
va , que à iniençaó do Senhor Rei D, Manoel naó era
fimplesmente reduzir a melhor ordem as Ordenações anti-
gas, e outras Leis feitas por elle mefmo , ou por feus Au-
guflos
(a) He fuperf\uo referir exemplos, qu.e fc encontraõ quafi em cada pag. .do n:-
ferido Codigo,
(6) Parte 1. Cap. 94 : Parte 4. Cap. 86,
XXIII[

gúíl:os Predeceffores, mas que tambem queria corrigir, e


emendar o que pareceffe digno de reforma , e accrefcentar
novas providencias fobre os cafos omi!fos nellas.
3. 0 Porque no Prologo, ou Lei de confirmaçaó , que
fc acha no principio de fuas Ordenações , referindo o Se-
nhor D. Manoel as razões que teve para mandar reformar
as antecedentes , diz na Ediçaó 'tle 1514: Determinamos com
os do nofso confelho, e leterados, reformar ejlas Ordenarões,
e fazer nova colTTpilaçaõ tirando todo fobejo e fuperftuo :
emaddendo no minguad~ :Juprindo os defiélos: concordando aJ
contrarietlades : decrarando o ejcuro e dijficel: de maneyra
que afsy dos /eterados como de todos fe pojsa !Jtm e perfeita-
111en/e entender. E na de 1521 diz affim : Porque nas Or-
denações pelos Riys nofsos Àntecejsores , t por Nós ali ag,ra
feitas, a muitos cazos naõ era provido , t em algumas havia
diverfos 111/endimentos. Ora como fe daria remedio a qual-
quer deíles inconvententes , fe a alçada dos Compiladores
fe limitaffe á mera ordenança das Leis exiíl:entes r Como
fe evitaria deíle modo o mal , que refulcava da falt~ de
Leis , que acautellalfem certos cafos ? Corno a perplexida-
de , que nos Juizes, Advogados, e ainda particulares, ha-
via caufar a obfcuridade , ou ambiguidade , com que eraó
concebidas algumas dellas ?
4. 0 A cíl:as provas fe podem ajuntar as que fe tiraó do
ufa, que os Compiladores effeélivamente fizera6 deíl:a li-
berdade , introduzindo alguns Títulos, e §§. novos, que
nem fe encontraó nos Codigos mais antigos, nem em Leis
poíleriores , e que, pelos termos em que faó concebidos,
fc
XXV

fe conhece claramente haverem íido artigos accreícentados


por elles á fua Collecçaó, o que parece moíl:rar-fe dos
exemplos feguintes,
1.0 Huma parte do Titulo 65 do Livro I. deíl:a
Compilaçaó, a que correfponde o Titulo 58 na de 1514 ,
he nova, efpecialmente as providencias dadas nos §§. 3 e
5 , dos quais mui particularmente o 3 fe moflra fer obra
dos mefmos Compiladores , e providencia tendente a evi-
tar o abufo praticado até o tempo da publicaça6 do Codi-
go, e fe vê das palavras: Como aU aqui praticavaõ por Jazer
muita leE/uru.
A providencia dada no §. 6 do Titulo 67
2. 0
do mefmo Livro , alem de fe na6 encontrar no lugar cor-
refpondente do Codigo de 1514, que he o Titulo 60, vê-fe
manifeílamente haver fido accrefcentada pelos ultimos
Compiladores ; porque determinando-fe no §. feguinte ,
que a obrigaçaó impoíla ao cabeça de cafal de dar a in-
ventario os bens , que ficarem por morte de hum dos con-
juges , que deixalfe filhos orpha6s , debaixo de certa pe-
na, tem lugar na6 fo a refpeito do futuro, mas tambem do
preterito , fe ajunta logo a declaraçaó feguinte : Nos caz.os
paffados damos lugar para que as Jobreditas pe.lfoas , que naõ
tiverem feito inventarios , os ditos os pojfaõ fazer da pubri-
'ªfªÕ dtjla OrdenafaÔ a quatro mez.es ; e nom os fazendo no
dito tempo , e pelo modo fohredito , encorreraõ nas dita, penas:
o que feria inepto , e fuperfluo declarar-fe , fe comeffeito
a dita difpoíiçaó e fan~aó efüveífe já eftabelecida por Lei
anterior.
d
:XXVI

3.ó O modo por que fa6 concebidos os Títulos 72


e 73 do mefmo Livro , de que fe naó encontraó veftigios
no Codigo de 1514, dá bem a entender que eltes faó in-
teiramente novos; o que igualmente parece fe deve affir-
mar do §. 4 do Titulo 74; poisque fe lhe na6 acha a
fonte no dito Codigo antigo , onde efte artigo de Legis-
laçaó tem affento no Livro IV. Titulo 5 ; e a claufula fi-
nal prova , que elle fôra aqui accrefcentado nas palavras:
E o que ja ao tempo da puhricafaÕ defla OrdtnafaÕ tiver tal
ojficio Jerá obrigado a ca-zar dentro de hum anno da puórica-
faÕ dei/a fah a dita pena.
4. 0 No§. final do Titulo 35 do Livro II. dara-
mente dizem os Compiladores , que aquella Ordenaça6
contem artigos na6 fómente novos , mas ainda contrarios
ao que fe acha determinado .no Regimento dos Contado-
res, fonte da mefma Ordenaça6, mas que todavia os ditos
utigos fe devia6 obfervar como ahi fe continhaó , e que
fó fubfidiariamente fc devia recorrer ao mefmo Regimento.
5. 0 A claufula final da rubrica do Titulo 47 do
mefmo Livro , e os §§. 1 e 2 que lhe correfpondem , pa-
recem inteiramente novos ; porquanto fe tudo foffe tira-
do da Lei , que ahi fe diz publicada na Chancellaria a
3 de Dezembro de 1520 , ou de qualquer outra , naó dei-
xaria iílo tambem de fe declarar ; alem de que a maneira •
por que a dita Legislaçaó he expofia, bem indica naõ fer
ella mais que huma declaraçaó accrefcentada pelos Com-
piladores, para decidir a duvida, a que a dita Lei compila-
da poderia dar occafiaó.
Se-
XXVII

Seria facil apontar outros exemplos do ufo que fizera1>


eRes Compiladores da faculdade, que julgamos lhes foi da-
da para alterarem a Legislaçaó eíl:abelecida, e para lhe ac-
crefccntarem novas difpofiçóos ; mas os que fica6 referi-
dos faó certamente os que baílaó , para provar que elles fe
fervira6 da dita faculdade, todas as vezes que lhes pareceo
conveniente.
Pelo que refpeita ao merecimento deíl:a obra naó fe po-
de negar, que nella ha defeitos proprios do tempo em que
foi compoíla , e da Legislaçaõ que lhe fervio de fonte , e
que ha outros nafcidos inteiramente do defcuido de feus
Auélores. Saó proprias do tempo as opiniões fundadas em
ideas pouco exaél:as de Direito Publico ; porque a igno-
rancia dos principios deíle Direito tinha introduzido ge-
ralmente as ditas opiniões , as quais fe achavaõ já ado-
ptadas nas Leis antccedentes.Tambem fe deve attribuir om
grande parte á mefma caufa a falta de ordem que ja nota4
mos ; poisque as regras do methodo naó eíl:avaó ainda na.
perfciyaó, a que ora tem chegado.
Com os fragmentos das diverfas Leis, de que eíl:e Cow
digo foi formado , paffaraó para elle frequentes vezes pa-
lavras e exprefsóes , que eraó antigas no tempo do fua pu-
blicaçaó, e que os Compiladores naó tiveraó advertencia
de corrigir.
Alem diílo , poíl:oque íeja pela maior parte efcrito
com muita pureza , e com a elegancia propria do aflum-
pto, naó deixaó de fe lhe achar huma ou outra vez alguns
defcuidos , e faltas de exaé\idaó grammatical. Finalmente
d2 j
XXVIII

à repetiça6 fuperfiua de alguns artigos he outra imperf~i-


ça6 procedida da negligencia , e que jullamente merece
cenfurar-fe (a).
Apezar deíles defeitos devem as Ordenaç6es do Senhor
D. Manoel coníiderar-fe como obra de muito valor; prin-
cipalmente, fe fe compararem com os Codigos das Na-
ç6es mais civilifadas da Europa em aquelle tempo , nos
quais fe acha6 geralmente levadas ainda a maior exce!fo as
doutrinas dominantes ; fendo alem difto o nolfo hum dos
mais bem ordenados , e do:. que melhor regulàvaó a fórma
da adminiílraça6 da jufiiça , e vendo-fe que a fua Legisla-
ça6 criminal , poíloque exceffivamente afpera , na6 era
affim mefmo taó dura e defapiedada , como a que nos ou-
tros fe havia adoptado.
Defte Codigo, acabado de imprimir pela primeira vez
a II de Março de 1521 , fe fizeraó depois mais tres Edi-
ç6es , fendo a fegunda publicada em Lisboa por Germa6
Galhardo Francez a 27 de Julho de 1526 , reinando o
Senhor D. Joaó III. Eíle mefmo Principe encarregou hu-
ma nova Impreífaó a Luiz Rodrigues, feu Livreiro, pelo
Alvará já acima referido de 17 de Julho de I 533 ; decla-
rando que, para os Exemplares merecerem fé e credito ,
deveria6 fer affignados pelo Licenciado Chriftovaó E{leves
da Efpragoza , feu Defembargador do Paço e Petiçoens ,
e

(a) A íórma do juramento para o Regedor da Cafa da Supplicafa6 ( Liv. 1,


Tit. , • ~- :i. . ) he fupcrfluamente repetida no mefmo liv. Tit. 2.9. ~. 2., para o
Governador da Cafa do Civcl ; entretanto que no ~- 6, do mefmo Tit. :i., fe pre-
fcreve a fórma do juramento , que devem dar os Corregedores , e outros Magiftra-
dot, com remilfaõ á fórma dada no ~- 4 11111111th m11tandil.
XXVIIII

e pelo Doutor Pedro Jorge , do feu Confelho , e ·Chancel-


ler da Cafa <lo Civel. Naó ·teve porem o dito Alvará fcu
pleno cffeito , pois naó apparece Ediçaó alguma por Luiz
Rodrigues ; e fó no anno de 1539 foi publicada a terceira
Ediçaó por Joaó Chrombeger , em Sevilha, antes de cujo
Prologo fe lê o Alvará mencionado.
Finalmente , durando a minoridade do Senhor Rei D.
Sebafiiaõ, no anno de 1565 fahio á luz pela quarta vez e!le
Codigo, impre{fo por Manoel Joaó em Lisboa, a que vem
junto hum Alvará do mefmo Senhor , que cõmette do
mefmo modo a affignatura dos Exemplares ao Defembar-
gador Mattheus Eíleves, Juiz dos feus Feitos da Fazenda,
Aindaque fo{fe incontefiavel , que as tres ultimas Edi-
ções naó eraõ mais doque copias da primeira , antes de fe
começar eíla houve o cuidado de averiguar a verdade do fa-
élo por meio da mais exaéla confrontaçaõ de todas as qua-
tro Edições, e fe concluio que os reimpreffores naó fizeraó
mais do que copiar a primeira Ediçaó , a qual nenhuma
das poíleriores iguala em nitidez, e correcçaó . ; e poriffo
foi ella a que fervio para eíla nova impreflaó, a qual fe pro-
curou fazer com a maior exaélidaõ poffivel , tomando fó a
liberdade de corrigir os erros manifeílos de typographia , de
. fubfütuir a pontuaçaó moderna á antiga , de fazer ufo fre.
quente de letras majufculas, e de feguir huma orthographia
menos varia , mas fempre conforme a que fc acha mais
geralmente obfervada no Original.
Para que as correções , por mais neceffarias que fof-
fcm, fe fizeífem com acerto, tivemos fempre o cuidado de
con-
XXX

confultar naó fó as outras Edições, ( em que co1t1effi:ito


achamo! con!lantemente repetidos os mefmos erros ) mas
tambem o Codigo de 1514, e o do Senhor D. AfFonfo V,
nos lugares, que eraó fontes do que fe devia emendar ;
recorrendo igualmente ao Codigo Filippino, quando o di.
to lugar fe havia trasladado para elle. (a)

(a) De!bl maneira refütuimos a palavra J11l,ador, que faltava no principio do


Tit. 1. do Liv. 3,, pela acharmos no mefmo Livro e Tit. do Codigo Filippillo,
111c he h111ni çopi.l fiel do RÍcrido lugar,

F O N-
XXXI

FONTES INTERNAS

Do Codi go Manuelino de 1 S1 1.

S ENDO o Codigo do Senhor D. Manoel, ora reimpref-


fo , hum dos mais indifpenfavcis fub!idios para a interpre-
taça6 das Ordcnaç6es conteudas na Compilaça6 Filippina,
deve contribuir muito para eífe utiliffimo fim tudo o que
facilitar a intelligencia de certos lugares da dita Compila-
ça6, que fe acha6 mais inteiros em alguma das anteriores,
ou nas Leis extravagantes , que lhe ferviraó de fonte.
He porem tarefa difficil e laboriofa o defcobrir eílas
fontes, affim porque a ordem e collocaçaó das materias he
diverfiillma em cada hum dos tres Codigos antigos , que
hoje reílaó , como porque as Leis extravagantes , de que
fora6 immediatamente derivados muitos artigos do ultimo,
ordinariamente manufcritas , fe achaó fómente em alguns
Archivos , a que naó tem facil acceífo a maior parte dos
que fe daó a eíle genero de indagações. Mas a utilidade
defte fafiidiofo e arduo trabalho fez com que alguns inve-
fügadores das antiguidades civis de Portugal o emprendef.
fem , difüuguindo-fe entre todos o Doutor Joaõ Pedro
Ribeiro, Lente de Diplomatica neíla U niverfidadc, o qual
tem vifitado e revolvido com toda a diligencia os Cartorios,
em que fe achaó depotitadas noífas Leis affim antigas co-
mo modernas ; e na6 fó tem arranjado riquiffimas Collec-
ções de humas e outras , mas em todas collocado recipro-
cas remilfoens.
Das

4
XXXII FoNT. lNTERN. DO e. MAN. DE 1521.

Das fuas memorias , por elle meímo communicadas


com a maior franqueza , nos fervimos •, principalmente
para formar o Jndice, que fe fegue; e fazer affim mais
proveitofa ao publico eíl:a reimpreíla6.
Todas as vezes que reconhecemos haver correfponden-
cia entre hum Titulo ou §§. deíl:e Codigo com outros nos
antecedentes , ou Leis extravagantes anteriores á fua pu-
blicaçaó , fizemos huma fimples remiffaó , pondo na pri-
meira colunna o lugar deíle mefmo Codigo; na fegunda
o que lhe correfponde no de 15r4; na terceira o do Se-
nhor D. Affonfo V. ; na derradeira as Leis extravagantes ,
Artigos de Cortes, ou Affentos.
Havia porem alguns lugares , que fe naó podiaó confi-
derar como fontes, ou que ao menos tinhaó !ido muito al-
terados pelos Compiladores do ultimo Codigo , os quais
todavia podem fervir de algum modo para illu~raçaó , e
poriffo os apontamos , porem marcados com aílerifco.
Q!Jando hum ou mais Titulas dos differentes Codigos
corrcfpondem entre fi , contentamo-nos de os apontar fó-
mente , aindaque a ordem dos §§. tiveffe fido alterada.
Acontecendo porem , que alguns §§. de!fes mefmos Títu-
los foffem derivados de outra fonte , tivemos tambem cui-
dado de aponta-la , por parecer que affim era nece!fario ,
para facilitar o trabalho dos eíludiofos,
Como a Synopfe Chron. he huma obra que , fendo de
muito ufo nefle genero de eíl:udos , deve andar nas maós
de todos ; para ella enviamos os Leitores, todas as vezes
que ahi fe acha compendiada alguma das Leis extravagan-
tes,
FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE I 52 I. XXXIII

tes, e que por meio della podem os mefmos Leitores achar


ai intregas das mefmas Leis.

Igualmente nos referimos ao Tom. 3. 0 dos Incd. pu-


blicados pela Academia Real das Sciencias de Lisboa , ou
a qualquer outra obra impre!fa , em que fe encontra6 al-
gumas das fobreditas Leis. Mas a noticia das que efcapa-
ra6 aos AA. deíl:es Livros deve fer bufcada nos Regiíl:os
dos A1chivos publicos, fervindo para i(fo o apontamento ,
que fazemos delles ; entretanto que a U niverlidade naó
enche o feu vaíl:o projeao de publicar toda a Legislaçaó
antiga de Portugal.
Na6 podemos aífegurar , que eíl:e lndice feja taõ per-
feito, que accufe todas as fontes , de que eíl:e Codigo foi
derivado: o que porem aífeguramos he, que puzemos todo
o cuidado em que nenhuma das remiffoens fo!fe mentiro-
fa , porque no cafo de o ferem , longe de aproveitarem a
quem dellas fe fervi!fe, lhe tornaria mais difficil e embara-
c;ado hum exame , que nós inculcamos e rec6mendamos
muito aos que fe quizerem dar ao eíl:udo analytico do Di-
reito do Reino.

LIV,
XXXIV FoNT. !NTERN. DO C. MAN. DE I f2I.

LIVRO I.

Extravag.
Tit. J. Tit. I. Tit. I. • Cart. de 23 de Julh. an.
de 1452, e 19 de Outub. de
1473, e Cart. a f. 29 v. do
livrinho da Caía da Suppf. ,
Ined. daHift, Portug. t, 3,
pag. 562.
§. 8. - * Cart. de15d'Abr.de 1519,
Synopí. Chron, t. 1. pag.
234.
- * Aff, de 26 deJan. de 1478,
do porem e outros a f. 26 v. do livri-
nho da Caía da Suppl. , e
de 21 de Novemb. de 1476;
Ined. da Hiíl. Portug. t. 3.
pag. 558 n, 12 e pen.; Sy-
nopf. t. r. pag. no.
lbid. v. E nos - Aíf. 1° , fem data , do Se-
outros nhor D. Joa6 II. na Synopf.
Chron. t. 2. pag. 305 , e o
de 12 de Janeiro de 1478.
§. 23. - Aff. fem data , no livrinho
da Caía da Suppl. f. 51 ;
Ined. t. 3, pag. 572 n, 24;
•Aff.de14deFev. de1478,
LllaóP. I. t. 5. L. 4-•
FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE. I 521. XXXV
LIV. I.
152. r. 1 S14. Aff. Extravag.
- Synopf. Chronol, t, 2, pag.
305 i lned. da Hifior. Por-
tug. t. 3. pag. 572.
§. 27. v. - Aff. doan. de1457,Jan,4,
e 'fUando livrinho da Caí. da Suppl.
f. 21 ; lned. da Hill. Port.
t. 3. pag. 551•
- O meímo, 2. duvida.
- • Aff. n.o livrinho da Caf. da
Suppl. f. 27 v. ; Synopf,
Chron. t. 2, pag. 305.
- • Ord. de 31 de Março de
15o6 ; Corp. Chron. P. 3,
M. 3· D. 9·
- • C. R. na Synopf. Chron.
t. 2. pag. 307.
§. 47• - * C. R. ihid. pag. 308.
§. 51. - • Alf. no livrinho da Caí. da
Suppl. f. 56, na Syn.Chron,
t, 2, pag.305; lned. da Hiíl,
Portug. t. 3. pag. 576.
Tit. 2. Tit. 2. Tit, 2.
- · Alv. de 10 de Dezembro
de 1518 ; Synopf. Chron,
t, I, pag, 231.
Tit. 3. Tit. 4. Tit. 4. • Alv. de 4 de Fev. de 1490,
§.7.e feg. ibid. pag, 127.
e2
XXXVI Fo:NT. l:N ·r.nN. DO e. MAN. DE I 521.
LI V. I.
152 1. 1 SI 4. .A.ff. Extravag.
- * Alv.de27 de Maio de 1517,
ibid. pag. 218.
- AIT. no livrinho da Caí. da
Suppl, f. 24 ; lned. da Hiíl-.
Portug. t. 3. pag. 555·
- • C. de 13 de Nov.de 1478,
P. H. G. t. 5. pag. 461.
Tit, 4, Tit,4.pr.
§§.1.2.3.
4-5-e6.
§. 7• - • Alv. de 4de Fev. de 1490;
Syn. Chron. t. 1. pag. 127.
§.16. -
•Alv.de26deJul,de1516
f. 39 D. N. L.
Tit. 5• Tit. 5.e Tit. 5. • AIT. de 5 de Fev. de 1488;
L.5.t.52. Syn, Chron. t. I, pag.124.
e 105.
Princ. e
T. 105.
L.5.t.52. L. 5,t,56.
e L.1 :t.5.pr.
- *Alv.de23deJul.dei5r2,
ibid. pag. I 72.
L-5-t.63.
§.4.
§.11. - Aíf. de 15 de Janeir. anno
de 1443, ibid. pag. 30.
FoNT. JNTERN. DO C. MAN, l>E 1521. XXXVII
LIV. I.
1521. 1514. Aff. Extravag.
T. 5. §. 15. • Aíf. de 5 de Fevereir. de
1488 , ibid. pag. 124.
Tit. 6. Tit.6. e Tit. 5. • Aff. de 6 de Jan. de 1486, e
L.5.t.52. de 5 de Fev. de 1488, ibid.
pag. 121.
§.5. L-5-t.52. L.5.t.5.6.
§.-6. - AIT.de 5 de Fev. de 1488 1 ib.
§.7. - Ibid.
§.8. - Ibid.
Tit.7. Tit. 7. Tit. 6.
§. I, V, e - Aff. no livrinho da Caí. da
ejlo Suppl. f. 26; lned. da Hill.
Portug. t.3. pag.557. n,II,
§. 6. - Alf.de11 de Julh. de 1474,
Synopf. Chron. t.1. p. 107.
Tit.8. - • L. de 14 deJun. de 1454s
Liv. i. do MS. Aff. d'Al-
cobaça f. 173 v.
§. 7· - Alv. de 6 d'Abril de 1517 1
Synopf. Chron. t.I. p, 217.
Tit. 9. Tit. 8. Tit. 7. • Aff. de 3 d'Abril de 1486,
ibid. pag. 121.
Tit. 10. Tit. 9. Tit. 8.
Tit. I l, Tit. 10. Tit. 9. Alv.de 28 de Març. de 1514,
ibid, pag. 176.
Tit. 12.
Tit. 13. Tit. II, Tit. IO.
XXXVIII FoNT. lNTERN. DO e. MAN, DE I 521.
LIV. J.
1521. IS 14. Ajf. Extravag.
T. 13. §. 12, - • Reg.de26deFev.de1 474;
L. r. dos Dir. R. de leítura
nova f. 52; * Cort.de Lisb. de
1498 c.54, e d'Evora de 1490
c.44, e Sent. ou Determ.R.
de 21 de Març. de 1511, Syn,
t. 1, pag. 168; L. de 19 de
Jun. de 1518; Liv.deLL.do
Senh, D. M. f.60 v; • Scnt.
de 26 de Julh. de 1453; L. '.l
do Coei. Aff. d' Alcob. f.171.

1,.
Tit. 14.. Tit. n. Tit. 60.
Tit. T.13. e T. 5.§. • Cart, de29deDezemb.do
L.5.t.77. 34.e feg. an. de 1460; L. da Ex.f.51;
L. B. do Port. f. 31.
§. 3. L.i;.t.77.
§. 4. lbid.
Tit. 16. Tit.14. T.n. • L. de2ode Jan.de 1485;
L. da Ex. f. 124.
Tit. 17 . . Tit.15. T.12.
Tit. 18. Tit.16. T.14.
Tit. 19. Tit.17. T. 15. •Cart. de9 de Julh. de 1519;
e 16. Liv. das LL. e Reg. do Se.-
nhor D. M. f. 39 v.
Tit. 20. Tit.r8. T.15. e 16.
j. '2'..l, • LL. de 4 e 20 de Març.de
1465 , Lea6 f. 40 , e f. 42.
FoNT, INTERN. DO e. MAN, DE 1521. XXXIX
LIV. 1.
I 521. 1514. Aff. Extravag.
T. 20. §. 29. - * L. de 15 deMarç. de c465,
de 20 d'Agoíl:. de 1468, ib.
f.39; e 25 de Març. de 1470,
L.da Ex. f.242 v. ib, f.95 v.
Tit. 21.
Tit. 22. Tit. 19. Tit. 17.
Tit. 23. Tit. 20. Tit. 18.
Tit. 24. Tit. li, Tit.19. e 21.
Tit. 25, Tit. 22. Tit. 20.
Tit. 26. Tit. 23. Tit. 50.
Tit. 27. Tit. 45. Tit.22. e 32.
§.9. L.5. T. 105.
Tit. 28. Tit. 48. Tit. 33.
Tit. 29. Tit. 24. - - Prov. de28 d'Abr. de 1516,
e de 23 d'Ag. de 1518, Col,
de Lea6 f. 29 e 30; • Reg.
de 28 de Abr. de 14.96.
§. 36. Dito Liv. f. 29 v.
Tit. 30. Tit. 25.
Tit. 31. Tit. 24.
Tit. 32. Tit. 25.
Tit. 33. Tit. 26. Tit.98. • Afi. de 18 de Junh.de 1518,
do L.5. L.das pofies da e.e. f.28 V,
Tit. 34 Tit. 27.
Tit. 35. Tit. 28.
§.5. - * Sent. de 26 deJ ui. de 1453;
L. 2. Aff. de Akob. f.171.
XL FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE 152r.
LIV. I.
1521. 1514. Aff. Extravag.
Tit. 36. Tit. 31.
Tit. 37. Tir. 32.
Tit. 38. Tit. 33. Tit,13. • L. de20 deMaiode 1484;
e L.3.t. L. da Ex.f.73 v.; Ord. de 4
de Julho de I 5 I 5 ; Synopf.
Chron. t. 1. pag. 200.
- Alf. de 6 de Fev, de 1512,
ibid. pag. 190.
§. 17. L-3-T.51.
§. 13. L. 3. t. 18. L. 3. t. 22.
§. 32. in - Determinaç. de 2 de Julho,
fin. an.de 1434, ib. p.27 ; e 17
deJunh.de 1502, ib.p.159-
§.33. • L. de 3. d'Abril de 1500,
ibid. pag. 156.
- Cort. de Lisboa de 1498 ,
Art. 10.
Tit. 39. Tit. 34-. Tit. 23.
§.40. - Cort.de Lisb,de 1498, Art.
18 e 28 ; e • Cort. d'Evora
de 1490, Cap. 16.
§. 45• - Ditas Cort. Cap. 2.
Tit. 4-0.
Tit. 41. Tit. 35. Tit. 24,
Tit. 42. - Tit. 24-. • Cort. de Lisb. de 1-498 c.6.
Tit. 4-3. Tit. 36. Tit. fin.
§. u. - • Cort.de Lisb.de 1498 c,37,
FoNT. lNTERN. DO e. MAN. DE r 521. XXXXI
LIV.I.
1521. 1514- A/f. Extravag.
Tit.44. Tit.37.e T. 25.e 26.
L.5.t.53.
§. 1, L.5.t.34,
Verf. efmdo AI v. de 29 de JuIh. de 1 51 6;
Synop Chr. t. I. pag. 206.
§.34. v.as Cort. de Lisboa de 1498 ,
']UOet Art. 14.
§.41.v.e - - L.3.t.38.
fendo
§. 43• v. e Ditas Cort, Art. 1 I.

pajfando
§. 45. L.5.t.53. L.5.t.59, Ditas Cort, Art.11,
§.46,47.e48, lbid.
§. 50. L. de 26 de Nov, de 1499,
Synop. t. 1. pag. 154.
Cort. de Lisboa de 1498 ,
Art. 42.
Cart. de 28 de Março de
1518; Syn. t. 1. pag, 204.
Cort. de Lisboa de 1498,
Art. 49.
lhid.
• Provimento do Correged.
de 13 de Setembro de 1486 ;
Liv. 15 das Ver, do Porto
fol. 23. v.
§. 8. L.3.t,109. L.3.t,125. f
x.rxxu FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE r 511.
I.IV. I.
152 1. 15 14. Aff. Extravag.
Tit.46. Tit.38. T.27.
§. 9· Cort. de Lisboa de 1498 ,
Cap. II,
§. 10, Cort, d'Ev. de 1460,Art.3,
Efp. d'Entre Douro e Mi-
nho, Cort, de Lisboa de
1498, §. 16.
§. 1 I, Cort. de Lisboa de I 498,
Art. 49.
§. 13. • Alv. de 20 d'Abr. de 148];
Liv. 15 das Ver. do Porto
fol. 70. V,
§, 18. Cort, de Lisboa de 1498,
Art. 50.
§. 23. * L. fem data do Senhor D.
Joa6 II. citada cm o Acord,
de 18 de N ovemb. de 1-497;
Liv. 19 das Ver. do Porto.

.
§. 25. L.4-.t.24.
§. 29. Cort. de Lisboa de 1498
Art. 16.
§.30.31. lbid.
e 32.
Tit. 47. L-4-t.49.
§.1. v.porrm - Cort. de Lisboa de 1498,
quando Art. 25.
§. 2, L.4.t.64.
FoNT. INTERN. DO C. MA1'f. DE. r r21. xxxxnr
LIV. I.
1521. 1 S14. Aff. Extravag.
Tit. 48. L.4.t.18.
Princip. - L.4.t.21.
Tit. 49. Tit, 39. Tit.28. Cort. de Lisboa de 1498,
Art. 52
§. 2. v. Pe- lbid. in medio.
ro fe
§. 33· * L. de 12 de Set. de 1474;
Liv. 4 da Ellremad. fol. 10.
Tit. 50. Tit.40. Tit.29.
Tit. 51. Tit.41.
Tit. 52. Tit.42. - LL. antig. T. 2, pag. 124.

Tit. 53. Tit.43.


Tit.54.
Tit. 55. Tit.44, Tit.62.
Tit. 56. T.45. e Tit.30.
L.5.t.64.
65. e 80.
§. 2. • Cort. d'Evora de 1481 ,
Cap. 31.
§. 19. L.5.t.64. T.31. e
L.5.t.75.
§. 20. L.5.t.80. L.5.t. 102.
§. 21. L.5.t.65. L.5.t.76 • .
§.25.e26. L,s.t.III,
Tit. 57. Tit. 46. Tit, 31.
§. 2. • L. de 22 de Outub. do an.
f .z de 1460 ; Liv. da Ex. f. 59•
XXXXIV FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE 152r.
LIV. I.
15 2 1. 1 5 1 4. Aff. Extra'Uag.
Tit. 58. Tit.49. Tit.34.
§. 4. L.5.t.106.
Tit.59. Tít.51. T.47.e48.
§. J8. Tit.37.
§. 33. Cort. de 1490, Cap. 47.
Tit. 60. Tit.52. T.47. e48.
§. 16. Cort.deLisb.de1498,C.7.
§. 32. e 33. - Tit. 49• * Cort. de 1490, Cap. 47 •
Tit. 6r. Tit.50. • Regim. da Faz. de 1516,
Cap. 58.
Tit. 62. Tit,53. Tit.40.
Tit. 63. Tit.54. Tit.35. * Regiment. do I, de Junho
e 36. de 1468.
§, 12. Tit.36.
§. 18. Tit.38.
§. 21. Tit.39.
§. 27. Tit,42.
§. 30, Tit.47.
Tit. 64. Tit.55. L.2.t.34.
Tit. 65. T. 56. e Tit.41.
L.5.t.40.
Princ.v, e L,5,t.40. L.5.t.35,
ajJim
§. 4• Tit, 41.
§. .5. Tit. 42.
Tit. 66. Tit.57. Tit~ 43.
Tit. 67. Tit.58. T.26,poíl: med,
FoNT. lNTERN. DO e. MAN. DE 1521. xxxxv
LIV. I.
1 51 1. 1 s14. Aff. Extravag.
T.67. §,4, - - L.4.t.87.
Liv. 4. L. de 3 de Junho de 1452;
t. IJ 2. Synop, t, I. pag. 96.
L.4.t. Cort, de Lisboa de 1498,
82. e 85. Art. 26,
§. 18. L.4. t.91.
§. 19. L.4.t.89.
§. 20, L-4-t.82. e 83.
§.24. L-4-t.84. e 85. in pr.
§. 25. Ib. §.5.infin.
§. 26. §. 6. e L.4.
t.85. pr. e §.1.
§. 27. §. 2,
§. 28. §. 3•
§. 29. §. 4·
§. 30. §. 5·
§, 31. L,4.t.88. e
L .3. t.124.
§. 37• L.4. t.86.pr, e §.1.
§. 38. §. 2,
§.39. §. 3·
§.40. §. 4.
§. 41. §. 5•
§. 42. §.6.
§.55. L.4.t.41.
§. 57· Cort. de Lisboa de 1498,
Art. 27.
xxxxvr FoNT. !NTERN. oo C. MAN. DE 1521.
LIV. I.
1 S 2 1. 1 Sr 4. Aff. Extravag.
T.67. §.64. L.4.t.93.
§. 70. Cort. d'Ev. de 1460, Art. 1,
e 2; Efpec. d'Entre Douro
e Minho.
Tit. 68. Tit. 58.
§.6. L.4.t.90.
Tit.69. Tit. 61. L.4.t.93.
Tit. 70. Tit. 62. Tit. 44.
§.41. C.de Lisb.de 1498, Art. 1 S·
Tit.71. Tit. fin. Tit. 45.
Tit. 72.
Tit.73.
Tit. 74. L.4.t.5. L.4.t.8.e 23.
§. I, * L. de 20 d'Agoíl:. de 1468;
L. de Ex. f. 242. v.
• L. de 9 de Nov. de 1517;
Synop, t. 1. pag. 222.
Cort. de Lisboa de 1498,
Art. 35; • Regim. da Faz.
de 1516 , Cap. 24-3.
Tit.75.
Tit. 76.
Tit. 77.
Princ.v. e • * AIT. de 7. ou 12 de Abril
o Julgador de 1494, Lea6 f. 120.
§. 5· • Alv. de 7 de Abr. de 1494,;
Synop, t, I, pag. 133.
FoNT. lN'IERN. no e. MAN. DE 152t. XXXXVII
LIV. I.
152 I. 1514. Ajf. Extravag.
T.77. §.5.v. - Alv. de 13 de Fev. de 1509;
porem L. f. 120, Syn, ib. pag.166.
Tit. 78. - L. de 23 de Maio de 1516,
ib. pag. 204; L. 1 das Prop.
da Cam. do Porto f. 46.
L. de 6 de Jun. de 1504; L.
antigo da Correiç. da Cam.
de Coimb, f. 103 ; L. 1. das
Chap. f. 289; L. r. das Prop.
da Cam. do Port. f.289. v.
LIVRO II.
Tit. r. L.2.t.1. L.3.t.15.
§. 1. * L. de 8 de Nov. do an. de
1457. Syn. t. 1. pag. 98.
Bulia de Pio II. e Scnt. de
13 de Outub. de 1461 ; L.
da Ex. f. 197. v. • L. part.
2. t. 4. f. 67. Cart. do Sen.
de Lisb. L. de Bulias n. 12.
§. 24. LL. ant.T. 2. pag. m.144.
Tit. 2. - Liv.3. Regiro. da Faz. de 1516,
t.15.§.27. Cap. 242.
Princ. Aíf.de 8 deJun. de 1470, L.
verm.; lned, t.3. pag. 399·
Tit. 3. pr. Alv. de 30 de Out.de 1516;
Syn. Chron. t. 1. pag. 216.
- L,3.t.15.
XXXXVIII FoNT. INTERN. Do e. MAN. DE 1s2r.
LIV. II.
1521. 1514. Aff. Extravag.
Tit. 4. Tit. 3. Tit. 8.
§. 8. Acord. de 20 d'Agoílo de
1515; Synopf. Chron. t. 1.
pag. 200.
Tit.5. Tit. 3. Tit. 9.
Tit.6. Tit.4. Tit. 11.
Tit. 7. Tit. 5. Tit,13. L, de 8 de Nov. de 1457,
ibid. pag. 98; Reg. da Faz.
de 1516, Cap. 229,
Tit. 8. T.6.e 7. T.14.e 15.
§, 5• Cort. de Lisb. an. de 1459,
Cap, 19; Cort. d'Evora de
1473 , Cap. 57.
§. 8. - L.4.t.48. L. de 27 de Nov. de 1499;
L. 2. do Cocl. Alf. d'Alco--
baça f, 169. v.
§.9. lbid.
Tit. 9. Tit. 8. Tit. 16,
Tit. 10, Tit, 9. Tit. 18.
Tit. II, Tit. 10, L.5.t.45. e
L.2.t.17. e 19.
Tit. l '2, Tit. II, Tit. 20,
Tit. 13, Tit, 12.
Tit, 14. Tit, 14. Tit. ~3.
Tit. 15, T. 15. e Tit. 24. Regim. da Faz, de 1516,
L5. t. 57· Cap. 'l37•
Tit. I 6, Tit. I 6. Tit. 29. e 35 •
FoHT. INTERM. DO e. MAN. DE 152 r. xxxxvnu
LIV. II.
1521. 1514. Ajf. Extravag.
T. 16. §. 18. • Aff. de 7 de Dez.de 1486,
livrinho da Caía da Suppl.
f. 34· v.
§. 19. • L. de 8 de Julho de 1461;
L. 2. Aff. d'Akob. f. 179;
dito Aff.
§. 20, • L. de 8 de Jul. de 1461.
§. 2r. T it. 35.
§. 22. * L. de 4 de ••. de 1461;
L. da Ex. f. 240. v.
§. 39· Regim. da Faz. de 1516,
Cap. 238.
Tit. 17. Tit. 17. - L. de 8 d'Abril de 1434; L.
de 30 de Jun. do meímo an.;
*Ord, de3ode Jun. de 1516.;
Syn. Chron, t. I. pag. 26.
Tit, 18. Tit, 18. - Regiro. da Faz. de 1516,
Cap, 241, §. 4 até o 7.
Tit. 19, Tit. 19. Tit. 25.
Tit. 20. Tit. 20. T.26. e Reg. da Faz. de 1516, Cap.
L.3.t.44. 241 in pr., e §. I, 2, 3, 8.
9• 10, e II.
Tit.21. Tit. 21. Tit. 30.
Tit. 22. Tic. 22. T it. 32.
Tit. 23. Tit. 23. Tit. 38.
Tit.24. Tit. 25. Tit.48.
Tit.25. Tit. 26. Tit.4s. g
L FoNT, !NTERN, DO e. MAN, DE r 521.
LIV. U.
1 S 2 1. 1 S 1 4. Aff. Extravag.
Tit. 26. Tit. 27. T. 40.63. e 64.
§. I, •Privil. de 4 de Dezemb,
de 1488, Syn. Chron. t. 1.
pag.126.
L. na Syn. Chr. t.2, p.306;
• Cort. de 1481, Cap, 27.
§. 55· Tit. 39.
Tit. 27. L,5,t.69. L.5.t.84.
Tit. 28. Tit. 28. Tit. 42. • Regim. da Faz . de 1516,
Cap. 204 , e L. de 28 de
Maio de 1507, L. do regiílo
de LL. do Senhor D. M.
f. 9· v.
Tit. 29. Tit. 29. T. u3. Regim. da Faz. de 1516,
Extr. I, Cap. 149 até 153.
Princ. Reg. Cap. 153,pr, e§. r.
§.3. Cort.de1472,e1473,C.8
dos Fidalgos; Cort. d'Ev.
de 1481, Cap. 15; • Alf. de
8 de N ov. de 1493 , Synop •
. t,I, pag.133; Reg. da Faz.
Cap. 149 in pr. e Cap. 151.
§. 3· e 5· lbid. Cap. 152.
§. 6. lbid. Cap. 149. §. 1.
§. 7· lbià.
§. 8. lbid. §. 3.
§. 9• lbid. §. 4•
FoNT. lNTER.N. DO e. MAN. DI! I5'2I, tI
LIV. II.
152.1, 1514. Ajf. Extravag.
T. 29. §. 10. Jbid.
§. I I , Jbid. Cap. 158.
Tit, 30. Tit. 30. Tit. 43. * Dito Regim. Cap. 197.
Tit.31. T.39.e T.53. e
L.3.t.85. L.3.t.103.
§. 5. "'Reg.de 26 deFev.de 1474.
§. 14. Tit.85.
do L. 3.
Tit. 32. Tit.40. Tit. 46.
Tit. 33. Tit. 41. Tit. 56.
Tit. 34. Tit. 42. Tit. 55.
§. 3• Cort, de 1490, Cap. 15.
Tit. 35. Tit. 43. T. 58. e • L. de 6 de Jan, de 1486,
L,4,t.96.Lea6 f. 18; e Regim. de27
de Setemb. de 1514.
L. 4.t.104.
L . de 9 de Jan. de 1458 ,
Synop. t. x. pag, 98.
§. 6. L. 4.t.41.
§. 12, L. de 16 de Maio de 1469;
Liv. da Ex. f. 104, v.
•Reg, de 3 deNov.de 1503,
e L. de 9 de Jan. de 1458.
§.2. L. C.
§. 41. L. de 9de Janeir. de 1458,
§. 2, in medio.
§. 47• - Reg. dos Prov ed. t, I, §. I.
g~
LII FoNT. !NTERN. DO e. MAN. DE J 521.
LIV. II.
1511 . 15 1 4. Aff. Extravag.
T. 35. §. 51. Reg. de 27 de Sct. de 1514-.
Tit. 36. T.44.e45.T.61.62. e 63.
Princip. T.60. Cort.d'Ev.de1460, Art.4,
Efp. d'Entr. Douro e Min.
§. 3. Tit. 45. Tit. 61.
Tit. 37. Tit. 24.
§. 9. e feg. L de 31 de Març. dt: 1520.
Tit. 38. • Cort.de Lisb.era de 1409,
Art. 32. 45. 91. 26. e 94;
Cort. da era de 1399, Art,
18; Cort, de Portal. do an,
de 1410, Art. 12; Cort. de
1473, Cap. 12 daNobrefa;
Cort. de 1535, Cap. 151;
L.de 4 de Maio an. de 1343.
Tit. 39. Tit. 46. Tit. 64.
Tit. 40, Tit.47. T.65.L-3-t.50.
L.5.t.50.
Tit. 41. Tit.48.
Tit. 42. Tit. fin. Tit.79,
§. 5· Afr. de15de Març.de 1502,
Syn. Chron. t. I, pag,158.
Tit.43. L.3. t. fio. Alv. de I de Jul. de 1513;
L. da C. do C. ou P. f. 25
do Orig.

- • Aíf. na Syn, Chron, t, 2.


pag. 309.
FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE J fH, LIII
LI V. II.
1 52 1 • 1 5 14. Aff. Extravag.
T. 43• §. II, v. e - Aír. de 24 de Jul. de 1487 •
dos ditos Syn. Chron. t. 1. pag. 123.
• L. na Syn. Chron. t. 2.
pag. 307.
Tit. 44.
Tit. 45. * Cart. de 15 de Dez. de
1481, e de 22 de Nov. de
1497 ; L. 19 das Ver. do
Porto f. 20 ; Cart. de 5 de
Fev. e de 9 do mefmo de
1506, Syn. Chr. t. I, pag.
1-61; de 18 de Out, de 1510,
ib. pag. 167; de 6 deJul,
de 1517, 31 deJan. e 15 de
Fev. de 1520, ib. pag.219;
Parec. de Çaragoc, de Abr.
de 1497 ; do 27 de Fev, de
1520, ibid. pag. 245.
Tit. ,f-6.
Tit. 47. • Reg. da Faz. Cap. 138.
§. 1, * LL. antigas pag. m. I 34;
L.de14dejul . de 1499,
Synop. t. J, pag.150.
§. 2. • LL. antig. t. 2, p, m. 7I.
Tit. 48.
Tit. 49.
Tit. 50.
LIHI FoNT. INTERN. DO C. MAN. DE I 52I.
L. IV R O III.
1 S 2 r. 1S14. Aff. Extravag.
Tit, 1. Tit. 1. Tit. 1. * Aíf. de 31 de Dezemb. de
1502,Syn, Chr. t.1.p.159.
Tit. 2. Tit. 2. Tit. z.
Tit. 3. Tit. 3. Tit. 3.
Tit. 4. Tit.4. T.4. t.43.
§. 4-. v. e Aff. de 26 de Jan. de1478,
tl)do ibid. pag. 110 ; livrinho da
Caí. da Sup. f. 27.
Tit. 5. Tit. 5. Tit. 5.
Tit. 6. Tit. 6. Tit. 7.
Tit. 7. Tit. 7. Tit. 8.
Tit. 8. Tit. 8. Tit. 9.
Tit. 9. Tit. 9. Tit. 13
Tit. 10, Tit. 10. Tit. 14.
§.4. Tit. 101. Tit. u6.
Tit. 11. Tit. I I , Tit. 16.
Tit. 12. T.13.e 14.T.18.e 19.
Tit. 13. Tit. 12. Tit. 17. * L. de 5 de Fev. de 1473,
e 35• e 42. Synop. t. 1. pag. 105.
Tit. 14. T.22.e38.Tit.27. • Ibidem.
e* 37. e 48.
Princip. T.47. pr.
Tit. 15. T.15.e 47.Tit. 20.
§. 1. • * Cort. de 14.h , Cap. 44,
eOrd.de20 de Jan. de 1519,
Syn. Chron. t. x. pa p, 231.
efeg,
FoNT. lNTERbl. DO e. MAN. DE 1521. LV
LIV. III.
1 S2 1. 1s14. Ajf. Extravag.
T. 15. §. 16.
ibid. pag. 200.
§. 17. Ord. de 3 d'Abril de 1500,
ibid. pag. 156.
§. 20. Tit. 47. Tit. 59.
Tit. 16. T.15.§.22. Ord.de 12 d'Agoftode1499,
e feg. ibid. pag. 151.
Tit.17. Tit. 16. Tit. 21.

Tit. 18. Tit. 18. Tit. 23.


Tit. 19. Tit. 19. Tit. 24,
Tit. 20. Tit.20. Tit. 25.
Tit. 21. Tit. 21.
Tit. 22. Tit, 23. Tit, 28. • Alv. de 15 de Out, do an,
dt: 1448, e Acord. f. 58 do
livrinho da Sup., e Ord, de
31 de Jul. de 1506; Ioed.
da Hill, Port. t.3. pag.578,
n. 30,
§. 3. v. nom Ord. de 2 .2 de Jim. de 1518,
lhe dando Syn. Chr. t. 1, pag. 228.
§.6. - L. de 31 de Jul. de 1506,
Syn. Chr. t. 1. pag. 163.
§, 8. Ord.dc22deJun, de 1518,
já citada,
Tit. 23. Tit. 25. Tit. 30.
Tit, 24. Tit. 24. Tit. 29.
Tit. 25. Tit. 27, Tit. 32.
LV[ FoNT. INTERN. DO e. MAN. DS 1521.
LIV. Ili.
1 51. r. 1 Sr4. .Ajf. Extravag.
Tit. 26. Tit. 28. Tit. 33.
Tit. 27. Tit. 29. Tit. 34.
Tit. 28. Tit. 30. Tit. 36:
Tit. 29. Tit. 32. Tit. 39.
Tít, 30. Tit. 33. Tit. 40.
Tit. 31. Tit. 34. T.41.eL. 4.t.59.
Tit.32. Tit. 36. Tit. 45.
Tit. 33. Tit. 39. Tit. 49.
Tit. 34. Tit. 40. Tit, 51.
e 102, e I 17.
§. 2. Tit. 102, T.117. Alv. de30 de Out. de 1516,
Syn. t. 1. pag. 216.
Tit. 35• Determ. de 2 de Jui. do an.
de 1434, Syn. t.1. pag.27;
e 17 de Jul. de 1502, ibid.
pag. 159.
Tit. 36. Tit, 41. Tit. 52. e 53. e
L. 5. t. 36. e 69,
Tit. 37. Tit, 42. Tit. 54.
§. 2. e 3. Tit. 56.
Tit. 38. T.43.e44 .Tit. 55.
§. 3. Tit. 44. Tit, 56.
Tit. 39. Tit. 45. Tit. 57,
Tit, 40. Tit. 46. Tit, 58.
Tit. 41. Tit. 48. Tit. 60.
§. 8, e 9, Ord. de 16de Jun.de t518,
Syn, Chr. t. I, pag. 227.
FoNT. INTERN. DO e. MAN. Dt r 521. LVII
LIV. UI.
1521. 151+ Ajf. Extravag.
Tit. 42. Tit. 49. Tit. 6r.
§. 6. Tit.61. §.8.
§. I 1, §. 9·
Tit. 43. Tit. 50.
Tit. 62.
Tit.44. Tit. 51.
Tit. 63.
§. 5· L. 2. t. -89.
Tit. 45. Tit. 52. Tit. 64.
Tit.46. Tit. 53. Tit. 65.
Tit. 47. Tit. 54. Tit. 66.
Tit. 48. Tit. 56. Tit. 67.
Tit.-49. Tit. 57. Tit. 68.
Tit. 50. T.58.e26.Tit. 69.
§.5.v.pero Tit. 79 infin.
§. 6. Ord.de24d'Agoílode1518,
Syn. Chron. t. 1. pag. 230,
Tit. 51. Tit. S9· Tit. 70.
Tit. 52. Tit. 60, Tit. 71.
Tit. 53. Tit. 61. Tit. 72.
§.7.e8. L. de 14 de Nov. de 1517.
ibid. pag. 222.
Tit. 54. Tit. 62. Tit. 73.
§. 4· Cort. de Lisboa de 1498,
Art. 7.
Tit. 55. Tit. 63. Tit. 74.
Tit. 5ó. Tit. 64. Tit. 90.
Tit. 57. Tit.65. Tit. 75.
Tit, 58. Tit. 66. Tit. 76. h
LVIII FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE 152r.
LIV.IIJ.
15 2 1. 1 SI 4. Aff. Extravag.
Tit. 59. Tit. 67. Tit, 77,
Tit. 60. Tit. 68·. Tit. 78,
Tit. 61. Tit. 69. Tit. 79.
Tit. ·62, Tit. 70. Tit. 80.
Tit. 63. Tit. 71. Tit. 81.
Tit. 64. Tit. 72. Tit. 82.
Tit. 65. Tit. 73. Tit. 83.
Tit. 66. Tit. 74. Tit. 84.
Tit. 67. Tit. 75. Tit, 85.
Tit. 68, Tit. 76. Tit. 86.
Tit. 69. Tit. 77. Tit. 87.
Tit, 70. Tit. 78. Tit. 88.
Tit. 71. Tit. 79. Tit. 89, * Alf. de 19 d'Abr-. de 1476,
·e 82, e 104. Syn. t. 1. pag. 108.
§. I • T.95.§,1._ T. 110. C. de Lisb. de 1498, Art,8.
§.4. Tit. 82. Tít. 93.
§. 8. Ibid.
§. 9· Tit. 87 • . Tít. ibid.
§. 10, Tit. 88, Tit, 100.
§. li, Tit. 86. Tit. 98.
§. 12,, T. 106. Ord. de 12 de Agofto de
1499, Syn. t. I, pag •. 151.
§. 15. Tit. 89. Tit. 102.
§. 17. Tit, 105,
§. 22. Cort. de Lisboa de 1498 ,
Art . 8; e Ord. de 12 d'Ag. ·
de 1499, Syn. t, 1. p. 151.
FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE. I 521. LVIII[
LI V. III.
15 2 1. 1514. A.ff. Extravag.
T.71. §.23.24.e 25. Drtas Cort.
§.28.e 29. Ord, de 22de Jun.de 1518,
e de 19 de Jan. de 1519,
Synop. Chr. t, 1. pag. 228.
e 231.
§. 30. Tit. 80. Tit. 91.
Tit. 72. Tit, 81. Tit. 92. e
L. 5. t, 63.
Tit. 73. T.94.96. e 104.
§. 2. Tit. 96.
Tit. 74. Tit. 85. Tit. 97.
Tit. 75. Tit.91. T.105.§.1.e2.
Tit. 76. Tit. 92. Tit. 107.
Tit.77. T,94.e95.T. 109. * L.de14 deNov. der5r7,
Syn. Chr. t. 1. pag. 222.
* L. de 3 de Set. de 1517,
ibid. pag. 220.
Tit. 78. Tit. 93. Tit. 108.
§. 2. • L. cit. no L. das polfes
da C. do C. f. 23; Cart. de
3 de Març. de 1515 , Syn.
Chr. t. 1. pag. 197.
Verf. t • Alf. de 5 de Fev. de 1473,
achando ibid. pag. 105.
Tit. 79· Tit. 96. Tit. 11 I.
Tit. 80. Tit. 97. T.112.e L.2.t.37.
Tit. 81. Tit. 98. Tit. 113.
h 2
LX FoNT. lNTElU{. DO e. MA?f. DE I s~a.
LIV. III.
151 r. 15 r 4. Ajf. Extravag.
Tit. 82, Tit. 99. T. 114. • Cort, de 1481, Cap.44;
e L. de2odeJan, de 1519,
ibid. pag. 231 e fcg.
Tit. 83. Tit. 100. Tit. IIS,
Tit. 84. Tit. 103. Tit. 118.
Tit. 85. Tit. 104. Tit. 119.
Tit. 86. Tit. 109. Tit. 126.
§. 3• • Alf. de '20 d' Abr. de 1486,
ibid. pag. 122.
Tit. 87. Tit. 105. Tit. 120. e
L.4. t.93.
Tit,88.
Tit. 89. Tit. 106. Tit. 12I,
Princ.v. 11u L. de 24 de Jul, de 1516;
fe o dilo Synop. t. I. pag. 206.
Tit. 90. Tit. 110, T.26.e n7.
LIVRO IV.
Tit. I, Tit. 1, T.1.e 109.
§. 13. Tit. 2.
§.14.15,e 16. • L. de 12 de Jun. de 1499;
LL. antig. doPort. f. 120.v.
Li v.grande f. 3, antes do Ind.
Tit. 2. Tit. '2. Tit. 4.
Tit. 3. Tit. 3. Tit. 6.
Tit. 4. Tit. 4. Tit. 7.
Tit. 5. Tit. 6. Tit. 9.
Tit. 6. Tit. 8. Tit, lJo
FoNT. INTEP.N. DO e. MAN. DE 1521. LXI
LIV. IV.
1 5 ,. 1 • 1 5 1 4· Aff. Extravag.
T.6. §. l, - L.2.t.11,§.6.
i• 2, L.3.t.46.
Tit. 7. Tit. 9. Tit. u. Cort. de Santarem anno de
1468, e.
3•
Tit. 8. Tit. 10. Tit. 13.
Tit,9. Tit. 11. Tit, 14,
§. 4. Cort.d'Ev. de 1490,Art,11.
Tit. 10. Tit. 12. Tit. 15.
Tit.11. Tit. 13. Tit. 17.
Tit. 12. Tit. 14. Tit. 18.
Tit. 13. Tit. 15. Tit. 16. • Reg. da Faz. Cap. 170.
Tit. 14. Tit. 16. Tit, I 9. * Cart. de 20 de Jun. de
1507 ; Parec. de 23 de Jan.
de 1512, Syn. t. 1. p, 170.
Tit. 15. • T.17.§,s.
Tit. 16. Tit. 19. Tit. 22.
Tit. 17. Tit. 20. T.25.e 29.
Tit. 18. Tit. 21. Tit. 26.
Tit. 19. Tit. 23. T.28.e 29.
Tit.20. Tit. 22. Tit. 27.
Tit. 21. Tit. 24. Tit. 32.
Tit. 22. Tit. 25. Tit. 33.
Tit. 23. Tit. 27. Tit. 35.
Tit. 24. Tit. 28. Tit. 36.
§. 2. •Reg.do 1. de Dez.de 1513.
Tit. 25. Tit. 29. Tit, 37. Synop, Chronol, t. 2, pag,
e 38. 3º+·
LXII FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE 1521.
LIV. IV.
15z 1. 1514. Aff. Extravag
Tit. 26. Tit. 30. Tit. 39.
Tit. 27. Tit. 31. Tit. 40.
Tit, 27. Tit. 32. Tit, 42.
Tit. 29. Tit. 33. Tit, 43.
Tit. 30. Tit. 34. Tit. 45.
Tit.3r. Tit. 35. Tit. 46.
Tit. 32. Tit. 36. Ti~ 47•
§, I, • L. de 5 de Jul. de 1519,
Liv. de LL. e Regimentos
do Senhor D. Man. f.101 ;
Alv.de r9de Maiode 1518,
Syn. Chron. t. 1, pag. 227.
Tit. 33. Tit. 37. Tit. 49.
Tit. 34. Tit. 38. Tit. 52.
Tit. 35. Tit.39. Tit. 53.
Tit. 36. Tit.43. Tit. 57.
Tit, 37. Tit. 4-5, Tit. 60.
Tit. 38. Tit. 46: Tit. 61.
Tit. 39. lbid. • Regim. da Faz. de 1516,
Cap. 193.
Tit. 40. lbid. Cap. 2r9 ; e • Alv.
de 17 d'Agoílo de 1499,
Syn. Chron. t, 1. pag. I 52.
Tit. 41. Regim. da Faz, de 1516 •
Cap. 217.
Tit.42.
Tit, 43. Cort. de Lisboa de 1498,
Art. 32.
FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE Ifll. LXIII
LIV. IV.
151. 1. 1514. Aff. Extravag.
Tit. 44. Tit. 47. Tit, 62. * Parec. de 23 de Jan. de
J 512, Syn. Chr. t,1, p, 170,
Tit. 45. Tit. 48. Tit. 7[.
Tit.46. Tit. 40. Tit. 54.
Tit. 47. Tir. 41. Tit. 55.
Tit.48. Tit.42. Tit. 56.
Tit. 49· Tit.44. Tit. 58.
Tit. 50. Tit. 50. Tit. 65.
Tit. 51. Tit.51. Tit. 66.
Tit. 52. Tit.52. T.67,e L.5.t.108.
Tit. 53. Tit, 53. Tit. 69.
§.l.V, tpoj/o T.20.e 109.
Tit. 54. Tit.54. Tit. 68.
Tit. 55. Tit. 55. Tit. 70.
Tit. 56. Tit. 56. Tit. 72.
Tit. 57. Tit. 57. Tit. 73.
Tit. 58. Tit. 58. Tit. 74.
Tit. 59. Tit. 59; Tit. 75.
Tit.60. Tit. 60. Tit. 76;
Tit.61.
Tit. 62. Tit. 61. Tit. 77.
Tit. 63. Tit. 62. Tit. 78.
Tit. 64. Tit. 63. Tit. 79.
Tit. 65. Tit. 64. Tit. 80.
§, 3• * Alv. de 20 de Maio de
1504; Corp. Chr. Part. 2.
Maço 2. de LL, n. 8.
LXIII[ FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE 1511.
LIV. IV.
1521. 1514. Aff. Extravag.
Tit. 66.
Tit. 67. Tit. 65, Tit. 81. * L. Cobre fefmarias nas
Cort. d'Ev. de 1472, e 73,
Cap. 67 até 77 dos Milli-
cos, e refpofta depois do
Cap. 73·
Tit. 68. Tit. 66. Tit. 92.
Tit. 69. Tit.67. Tit. 95.
Tit. 70. Tit. 68. Tit. 97.
Tit. 71. Tit. 69. Tit. 98.
Tit. 72. Tit. 70. Tit. 99,
Tit.73. Tit, 71. Tit. 100.
Tit. 74. Tit. 72. Tit. 1or.
Tit. 75, Tit.73. T. 102. • L. de 3ode Març.de 1512,
Syn. Chron. t. I, pag. 171.
§.3. • Alv.de 8 de Maio de 1512,
e 20 de Julho de 1517, ib.
pag. 198.
§. 6, L. de 30 de Març. de 1512,
Syn.Chr.t.I. p.171,e219;
• Alv.de8 de Maio de 1512,
e 20 de Julho de 1517.
Tit. 76. Tit. 74. Tit. 103.
§. 5. T.103. §.5.
Tit. 77. L.1.t.57. Tit. 1c7.
Tit. 78. Tit. 75. Tit. 105.
Tit. 79. Ti.t, 76. Tit. 106.
FoNT. lNTERN. DO e. MAN. DE J 521. LXV
LIV. IV.
152 1. 15 14. A/f. Extravag.
Tit. 80. Tit. 77. Tit. 108.
Tit.81. Tit.fin. - Alf. no livrinho da Cafa da
Supp. f. 23. v. , na Synop.
t. 2, pag. 34 ; Ined. da Hiíl:.
Port. t. 3. pag. 554-.
Tit. 82.
LIVRO V.
Tit. r. T.4.e 71. Tit. 4.
Princip. v. e C:art. Regia de II d'Agoflo
pronunciand~ de 1520, Syn. t. 1. p. 247
e feg.
§.2. Tit.71. Tit. 88.
§.13.e14. Cort, de Lisboa de 1498 ,
Art. 41.
Tit. 2. Tít. 2. T.1 .e L.2.1.54.
Princip, L.2.t.94.e 120.
§. I, L. 2. t,96.e I 22,
Tit. 3. Tit, 3. Tit. 2.
§. 9· L.2. t.53.
Tit. 4. Tit. 3. Tit. 3.
T.5. pr.v.e Cort. de Lisboa de 1498,
nom pajfaraõ Art. 12.
Tit. 6. Tit. 6. T.5.39. * L. de 7 d'Abr. de 15o6,
e 82. Corp. Chr. de 1 L. do Se-
nhor D. Man. P. 1. Maço
2, de LL. n. 16.
Tit, 7. Tit. 5. Tit. 38, i
LXVI FoNT. INTERN. oo e. MAN. DE :r 52t.
LIV. V.
1 Si 1. 1 S 14. Aff. Extravag.
Tit. 8. Tit. 7. T.37.e3S.
Tit. 9. Tit. 8. Tit. 38.
Tit. 10. Tit. 9. T s2,e33.
§. 7• L. de 25 de Julho de 1514,
Syn. Chron. t. 1. pag. 176.
§, IO, Alv. de27dcJul.de1519;
* Aíf•• de 23 de Março de
1501, ib. pag. 157, e 235.
Tit. II. Tit. 9. Tit. 33.
§. 2, Alv. de27<leJul. de 1519.
Verf. ef, * Refoluçaó de 23de Març.
eom ti/a de 1501 , ibid. pag. 157.
Tit.12. Tit. 10. Tit. 17. * L. de 17 de Abr. de 1506,
Corp, Chr. P. 3. Maço 2,
de LL. n. 17.
• Aíf. de 20 de Dez. de 1499,
livrinho daCaf. do C. f.22;
Alf. de 2 de Abril de 1501 ,
ibid. f. 23,
Tit. 13.
Tit. 14. Tit. II, Tit. 6.
Tit. 15. Tit. 1:2. Tit. 7.
§. 1, Tit. 12. • Aff. de3od Agoft.de'r473,
L. verm.; lned. t. 3. p,470.
§. 2,
- - . Aíf. de 6 de Maio de 1512,
livrin. daCaf. do C. f.24.v.;
Aíf. de :2 d'Abr. de 1501 •
ibid, f, 23. v.
FoNT. !NTEUr. DO e. MAN. DE 151t. LXVU
LIV. V.
1 S1 1. 1s14. Aff. Extravag.
T.15.§.6. - - Alf. de 16 d'Abril de 1518,
ibid. f. 28.
Tit. 16. Tit. 13. Tit. 18.
Tit. 17. Tit. 14. Tit~ 23.
Tit. 18. Tit. 15. T. 11.e r4.
Tit. 19. Tit. 16. Tit. I4. • Alf. de6 de Maio de 15u,
dito livrinho f.24. v.
. lbid •
Tit. 20. Tit. 17. Tit. 15.
Tit. 21. Tit. 18. Tit. 25.
Tit. 22.
Tit. 23. Tit. 19. Tit. 9.
Tit, 24. Tit. 20. Tit. 8. * L. de 20 de Jun. de 1517,
Corp.Chr. P-. 1. Maço 22,
Documento 15.
§.1. • •Cart.de 28deJul. de 1519,
Syn. Chr. t. I, pag. 235.
§, 2. Alv. de 26 de Nov. de 1499,
ibid. pag. 153.
Tit. 25. Tit. 21. Tit. 20. * Aff. de 6 de Jan. de 1486,
ibid. pag. 121.
Princ. e§. 2. L. do Senhor D. Affonfo V.
que vem n·o fim do Liv. 5.
no Cod. de Santarem.
• Cart.de 28 de J ul. de 15r9,
Synop. t. I, pag.235.
Alv. de 26 de Nov, de 1,499,
ibid. pag. I 53•
LXVIII FoNT. INTERN. Do e. MAN. DE 15u.
LIV. V.
152 1 • 1 5 r 4. Aff. Extravag.
Alv. de 10 de Jun. de 1515,
ibid. pag. 129.
Tit. 26. Tit. 22. Tít. 19. e 121.
eL. 2. t. 22.
Princip, Alv. de1ode Jun. de 15r5;
Corr. de Lisboa de 1498,
Art. 44.
§. 2, Liv. 5• L. de 27 de Maio de 1454,
t. 121. Synop. t. I, pag. 97.
§, 4, Alv. de26 de Nov. de 1499,
ibid. pag. 153.
Tit. 27. Tit. 25. Tit. 21.
Tit, 28. Tit,23. Tit. 24.
Tit. 29. Tit. ~4. Tit. 16.
§. 5. Aff. de 27 de Març.de 1504,
livrin. da Caf, do C. f. 23. v.
Tit.30, Tit. 26. Tit. 22. • Syn. Chr. t, ,.z, pag. 304.
Tit, 31.
Tit. 32. Tit, 27. Tit. 13. • L. de 14 de Jul. de 1499,
i bid, t. J. pag. 150.
Tit. 33· Tit. 28. Tit. 42.
Princ. §.1. e 2, Ord. de 22 de Março de
1499, ibid. pag. 147.
Verf. e Alv. de 9 de Agoft. de 1516,
qualquer ibid. pag. 207.
§.3. Ord. cit.
Tit, 34. Tit • .29. Tit, 99.
FoNT. !NTERN. DO e. MAN. DE 152r. 1XVIIII
LIV. V.
J 52 1, 1514. Aff. Extravag.
Tit. 35. Tit. 30. Tit. 90.
Tit. 36. Tit. 31. Tit. 63. • Ord, de 12 de Janeiro de
1490 ; Corp. Chron. P. 2.
Maço 2. Documento 67 ;
Ord. de 2 de Nov. de 1517,
Syn. Chr. t. 1. pag. 222.
Tit. 37. Tit. 32. Tit. 65.
Princip. Aff. de 8 de Maio de 1515,
eo feguinte ho livrinho da
Cafa do e. f. 26. e V,
§, I, V. e • Alv. de 12 de Outub. de
pojlo 1515,Syn. Chr. t.r. p.200.
§. 2. v. Per, • Alv. na Sy11. Chron. t. 2.
pag. 308,
Aff. de 8 de Maio de 1515,
no dilo livrinho f. 26 ; • L.
d.e 22 de Fev. de 150:2, Sy-
nop. t. t. pag. 158.
Alv. de 22 de Fev. referido
no Alf, de 8 de Maio cita-
do, e • o Aíf, feguinte.
Aíf. de 27 de Jun. de 1516,
f. 26. v., e Alv. de 23 de
Out. de 1515, S_vn. Chron.
t, l, pag, 200.
Tit. 38. Tit. 27. e
L+ t.9.
LXK FoNT. IMTERN'. DO e. MAN'. :OE I 521.
LIV. V.
1 S2 1. 1S14. Aff. Extravag.
Tit. 38. Tit. 27. e
L. 4. t. 9.
Tit. 39.
Tit. 40.
Tit. 41. Tit. 33. Tit. 54.
§. 1. • •T.114. L: de 2 de Março do anno
de 14-59; L. 2. do Cod. Aff.
d'Alcob, f. 176.
Tit. 42. T.34.e83.Tit. 58.
§. 4• • Cort. de 1490, Cap. 8.
§. 10. Tit. 107.
§. 14. Tit, 30.
§. 19. C. de Lisb. de 1498, Art,44.
§. 28. . . Alv. de 26 d'Abr. de 1515.
Syn. Chron. t. 1. pag. 198.
Tit, 43. Tit. 39• Tit. 29.
Tit. 44. Tit. 35.
§. 8. • All'.de 30 d' AgoR:.de 1473,
·L. verm.; lned. t.3. p.470:
Tit. 45• Tit. 36.
Tit. 46. Tit. 37. Tit. 27.
Tit. 47. Tit. 38. Tit. 28.
Tit.48. Tit. 41. Tit. 40. • Alv. de 27 de Novemb. de
e 41. 1513, Syn. Chr. t.1. p.175.
§. 4• Tit. 40.
Tit.49. Tit. 4:z. T.44.c 57· e
L, 3• t, I'..23.
FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE 152r. I.XXI
LIV. V.
1521. 1s14. Aff: Extr11v11g.
T. 49. §. 4. Aff. de 15 de Janeiro anno
de 1443, ibid, pag. 30.
Tit. 50. Liv. 3. Liv. 3. * Cart. de 25 de Fev. de
t, 107, t, u2. 1450; Liv. da Ex. f. 88.v.,
ede15deMaiocrade 1394;
L. ant. do Port, f. 157. v.
e f. 158.
Tit. 51. Tit. 43. Tit. 45•
Tit. 52. Tit. 55. T, 61 .e 118.
Tit. 53.
Tit. 54. T. 56, e 82.
§. I, Tit. 105.
§. 3. Tit. 93.
§. 5. Tit. 106.
§. 6. Tit. 62.
§. 9. Tit. 77.
Tit. 55. Tit. 57. Tit. 64.
Tit.56. Tit.58.c T.31.e *Regim.daFaz.de1510,
L.2.t.31.L.3.t.128.Cap.194, 191, 192, e 234;
e Alv. de 30 de Outub. de
1516, Syn. Chr. t,L p.216;
L. do 1. de Març. de 1466;
lned. t, 3. pag.483.
f. 6. Tit. 31.
§. 7. L.2.t.31, • L. de21 d'Agoíl:.de 1517,
L. do regill. das LL. do Se-
nhor D. Manoel f, 17, v,
lXXIX FoNT. INTERN. DO e. MAN. Dt r 52r.
LIV. V.
1521. 1s14. A.lf. Extravag.
Tit.57.
Tit. 58. C. de Lisb. de 14-98, Art.34.
§.1.e3. Alv. de 10 de Dezembro de
1518, Synop. Chron. t. 1.
pag. 23r.
Tit. 59.
Tit.60. Tit. 6r. Tit. 70.
Tit. 61 . Tit. 62. Tit. 71.
Tit. 62. Tit. 64-. Tit. 75.
Tit.63. Tit. 66. Tit. 78.
Tit. 64-. Tit. 70. Tit. 87.
Tit. 65. Tit. 72. Tit. 89.
Tit. 66. Tit. 73. T.91. e L.3.
t,30. e§. 2.
Tit. 67. Tit. 74-. Tit. 94.
Tit. 68. Tit. 75. Tit. 92.
Tit. 69. Tit. 76. Tit. 95.
Tit. 70.
Tit. 71. Tit. 78. Tit. IOO.
Tit. 72. L.4-.t,26. L.4.t.34.
Tit. 73. Tit. 79. Tit. 101.
Tit. 74.
Tit. 75. Tit. 81.
Tit. 104.
§, I. Ord. det4. de Out. der5i4,,
Synop. t. I. pag. 196.
Tit. 76. Tit. 85. T.6.e110.
Tit. 77. Tit. 87. Tit. 113.
FoNT. lNTERN. Do e. MAN. DE 1521. Ll'.Xl(J
LIV. V.
1521. 1514. Ajf. Extravag.
Tít. 78. Tit. 88. Tit. I 16.
Tit.79. Tit. 89. Tit. 117.
Tit.80. Tit. 90. Liv. 2. L. de 5 de Março de 1450,
t. fin. ibid. pag. 94•
Tít. 81. Tít. 92. Liv.4. Cort. de 1477, Cap. 2. cio
e 46. t.63.e111.Algarve, e Cort. de 1481 ,
Cap. 146; * Alv. de 18 de
Jun. de 1504, Corp. Chr.
P. 2. Maço 2. de LL. n. 9.
§. 4· * Aprefent. de 19 de Fev.
de 1 48 5 , L. 1 3 das Ver. do
Port. f. 3.3·
§. 5· Tit. 46. Liv. 4. L. de 26 de Fev. de 1452, ·
t. 111. Synop. t.1. pag.95.
§. 6. • L. de Setembro ele 1473 ,
lned. t. 3. pag. 470.
Tit. 82. • Alv. de 21 de Abril de
1499, Syn. t. J. pag. 148.
Tit. 83. Tit. 93.
Tit. 84. Tit. 94. • L. de 31 de Out. de 1468,
ibid. pag. 104.
§. 2. • Alv.de 15 deFcv.de 1515.
Tit. 85.
Tit. 86. Tit. 95. • Ord. de 16 de Nov. de 1499,
Syn, Chron. t, 1. pag. 155.
Tit. 87. Tit, 96.
1c
LXXltII FoNT. INTERN. DO e. MAN. DE I 521.
LIV. V.
J 52 r. 1514. Aff. Extravag.
Tit. 88. Tit. 45, Tit. 47. • Alv. de 19 de Mar~o de
e48. 1485, L. 13 das Ver. do
Port. f. 39 ; e L. fem data
do Senhor D. Joa6 II, e L,
de 24 de Março de 1503, e
21 de Fev. de 1519, Syn.
t. 1. pag. 233 ; Acord. de
4 de Març.o de 1489, L. l 7
das Ver. do Port. f, 34:.
§. r. L.2.t.36.
§. 8. C. d'Ev. de 1490, Art. 12.
Tit.89. rit. 47• - C. d'.Ev. de 1490, Cap. 40,
Tit, 90. Tit.48. Tit, 50.
§. 1, Ditas Cort. Art. 22 , ditas
de Coimbra, e Ev.de 1472,
e 1473, Art, 24 da Juíliça.
Tit. 91. Tit. 49.
Tit. 92. Alv. de 8 d'Agoíl. de 1516,
Syn, Chr. t.1. p.206, e 2Ó7.
Tit. 93. Tit. 50. Tit. 53.
Tit.94. Tit. 51. Tit. 55.
Tit, 9S• Tit. 54. Tit. 60.
Tit. 96. LL. antigas pag. m. 203.
Tit. 97.
Tit. 98, Tit. 97.
§. 2. L. fem data na Syn. Chr.
t, l• pag, 306.
FONT. !NTERN, DO C. MAN, DE I 52I. LXXV
LIV. V.
151. 1. 1 5 I 4. ./1.ff. Extravag.
* Aif.de 30 de Nov.de 1478,
L. verm.; Ined. t.3. p.511.
Tit. 99. Tit.98.
Tit. 100. Tit. 99.
Tit. ror. Tit. 91. - *C.d'Ev.der490, Cap.34,
Tit. 102. L. de 27 de Junho de 1504,
Corp. Chr. P, 2. Maço 2.
de L L. n. 1 o ; e L. de r 7
de Out. de 1499, Synop.
Chron. , 1. psg. 153•
Tit. 103.
Tit. 104. Tit. 100.
Tit. 105. Tit. 101,
Tit. 106. Tit. 103. Tit. 96.
Tit. 107. Tit. 106, Tit. 67. Aff. fem data no livrinho
e 59· da Cafa do C. f. 22. v.
Princip. A!f. de 29 d'Agoíl. de 1511,
ibid. f, 24.
Tit. 108. Tit. 107.
Tit. 109.
Tit. 110. Tit, 108. - - L. da Ex. f. 185, e Liv. x.
do Goad. f, 217. v.
Tit.111. Tit. 44. Tit. 46. * Ord. de 2 d'Ag. de 1502,
Syn. t.1. pag.104, ibid.
pag.108.
Tit.112. Tit.109. - - •L,de19deOut.de1470,
e 31 de Agofio de 1474 ,
k 2 Corp,
LXXVI FoNT. lNTERN. DO C. MAN. DE I 521.
LIV. V.
1 S 2 1. IS 1 4. Aff. Extravag.
Corp. Chr. P. 2. Maço 2.
de LL. n. I 2, e de 3 de
Nov.de 1504, e 12 deJu.n.
de 1515, 16deDez.de1517;
L. dos Regimentos, e LL.
do Senhor D. Man. f. 35 ;
L. de Jan. de 1518, 15 de
Fev. do mefwo anno , ibid.
f,44.
§. 24. L. de 19 de Out. de 1470,
Synop. t. 1. pag. 104.
§. 25. * Alv.de4deOut.de1512.
Tit. 113. Tit, uo. - - • L. de 1504, Corp. Chr..
Maço 2. de LL. n. 14.
§, 4. L. de 13 de Set. de 1497 •
Extr. de Lea6 f, 210. v,

TA-
LXXVII

TAVOADAS, OU INDICES

Do Codigo Manuelino de 1514.

PARA fe dar huma noticia mais circunílanciada do Co-


digo impreffo em 1514, pareceo conveniente publicar as
Tavoadas, ou Indices de cada hum dos Livros, com os
breves fummarios, ou introducções, que precedem cada
hum delles , e os encerramentos por que acabaó.
Comparando-fe as Tavoadas com as rubricas dos Tí-
tulos obferva-fe haver entre ellas variedade , em quanto
nas ditas Tavoadas as rubricas d'alguns Titulas faó dimi-
nutas , e em geral menos correétas ; pelo que em regra fe
preferiraó as rubricas, as quais fe copiaraó fem alteraçaó,
á excepçaó de cafo de erro manifeílo.
A numeraçaõ eílá errada em dous Titulas do Livro I ,
e em hum do Livro III. Porquanto no I. fe encontraó
dous Títulos com o numero vij , e o Titulo ,, do Gover-
,, nador da Cafa do Cível ,, fem numero algum; e poriffo
o Livro , que verdadeiramente coníla de LXI 11 Títulos , [e
diz no exemplar que tem LXI.

Pelo contrario no Livro III. do Titulo V II II fe paffa


ao xr; donde nafce que, tehdo fomente CXI , fe diz que
coníla de cxu Títulos , erros, que nefta Ediçaó fe achaó
corregidos.
Os fummarios do I. III. e V. Livros faó exaétos , e
indicaó em mui poucas palavras os objeétos da Legislaçaó,
que
LXXVII[ INorcEs oo Coorco MAN. DE r5r4.
que fe éomprehende em cada hum delles. Porem o do
II. he diminuto , como fe pode ver naõ fó por meio da
mefma Tavoada, mas pelo que ja acima fica dito. (a)
Tambem naó he exaélo o fummario do Livro IV. em
quanto affirma, que nellc fe trata dos quafi contraélos, pois
no decurfo de todo o Livro naó apparece Titulo, em que
fe trate dcíla materia em geral , ou de algüa de f uas
efpecíes em particular; e fó incidentemente fe falia de
quafi contraélos no Livro III. Titulo V.§. 3, nos mef-
mos termos que fe obfervaõ no Cod. de 1521 , Livro lll.
Titulo V. §. 4. (b)
As coufas que pareceraó dignas de obfervaçaó faó as
que fe feguem.
L I V R O P R I M E I R O.
N A primeira folha huma Eílampa, que occupa tres
partes da imprelTaó, e tem ao lado efquerdo as Armas
Reaes com Elmo, Coroa aberta, e Timbre , e á direita a
Esfera fobre hum pé alto, e enrolada nelle huma faxa
com a feguinte infcripçaó em letras roaiufculas : Spera in
Deo, é1 fac bonita/em: e na Eclíptica com eíl:as letras :
C. A. O. A. T. G.
Por baixo o titulo do Livro, que começa, como L pre-
to , e fegue-fe até o fim com tinta encarnada na fórma
feguinte . ., Liuro primeiro das ordenaçoés có fua ta-
,, uoa-
(a) pag, XIIII.
(b) Daqui fe infere rnanifdl;amente, que todas as noffas Compilações fuppoem
as doutrinas dos quaíi contraltos, mas que (eus Auélores deixaraõ de tratar dccta
m ateria , por fe perfuadirem ., que as determinações do Dirci\o Rom~no eraõ fuf~
fic icntes, e cm tudo conforme~ iÍ júfüç~ 1 e equidade,
1No1cts Do Coorco MAN. DE 1514. lXXIX

,, uoada , que afigna os títulos: & folhas: & traélafe nelle


,. dos officios de noffâ corte : & da cafa da fuplicaçã : &
,. do ciuel: & daquelles que per Nos teê carrego de mi.
,, niílrar dereyto: & juíliça. Nouamente corregido na fe.
,, güda épre!fam. Per efpecial mâdado do muy alto &
,. muy poderofo Senhor Rey D6 Manuel noffo Senhor :
,, Foy emprimido: Com priuilegio de fua Alteza,, ( com
tinta preta. )
No verfo da folha tem o feguinte:
,. Segue-fe a tauoada, pera fe por ella acharê os ti-
,, tu los deíl:e I. liuro das ordenações deíl:es Regnos,

Titulo primeiro do regimento do regedor da juíliça


na cafa da fuplicaçam. fo. j.
Juramento do regedor. fo. j. v.
Juramento do defcmbargador que nouamet/
entrar na caía da fupl icaçam. fo. ij. 'li.

Tit. ij. Do chanceler moor. fo. viij.


Tit. iij. Dos veedores da fazenda. fo. x. v.
Dos veedores da fazenda: as pelToas que de-
uem feer os veedores.
Juramento dos veedores : como ·mâdarâo ar-
recadar os dereytos , & aforar , & arrendar ,
& correger o que comprir. fo. xij.
Como nó receberá láços fem os fazeré faber
a E!Rey.
Como conhecerá dos feito& , & como os def.
embargará.
Como

7
LXXX lNorcEs 00Con1co MAN, DE r5r4.
Como c6nhccera cada vecdor dos feitos , que
lhe v ierê per deílribuiçã, e fara audiencia. fo. xij ,'li,
Como as fentenças e cartas outras ferá affi-
nadas per dous veedores.
Como pelas manhãas defembargarã as partes,
& aa tarde o feruiço de EIRey.
Sobre quaes pcffoas , e officios hão de proueer
os veedores da fazenda.
Como cõnhecerã per auçã noua na corte & a
cinco legoas: & a conthia em que fará fim
nos contadores ,ejuizes das cifas. fo. xiij.
O que ha de fazer o contador moor de lisboa,
Como cõnhccerã os veedores das demandas
mouiclas pelos rendeiros ou almoxarifes, po-
ílo que fejam fob.re dereytos reaes. fo, xiij. 'ti,
C6nhecerã de todollos feitos mouidos contra
os officiaes da fazeRda fobre perdimento de
feus officios por erros , mas o crime remet-
terá.
Qye cónheçã dos feitos de uns officiaes com
outros, ou com quaefquer outras pe{foas fo-
bre coufas tocantes aa fazenda d'E!Rey,
Como c6nhecerá fobre os clefcontos & en-
câpaç6cs,
Cónhecerã dos conluyos. · fo. xi.v.
Cartas & dcfpachos , que pertencem a noífa
fazenda, e a nella liurarem & fazerem, fom
eftes feguintes.
De
hrorcES DO CoDIGO MAN, DE J 514. I,XXXI

De como hâ de proueer fobre as lifiras , val-


ias , & paaffos &c. fo. xiv .. '11,
Como defpachará as petiç6es. fo. x.iv. 'CJ.
~e nom mollre o porteiro nem moços li-
uro alguü da fazenda, fo. xv,
~e fe faça huü liuro de tombo de todallas
rendas & dereytos, que pertencem aa coroa
do regno. fo. xv. v.
~1e faibá das coufas que pertencé a EIRey
e as façâ arrecadar.
Q.ue faybá como os cótadores & officiaes fer-
uem feus officios. fo. xvj.
Tit. iiij. Dos defembargadores do paaço , que
cõnhecê das petições & agrauos em no!fa
cafa da foplicaçá. fo. xvj. 'V,

Tit. v, Do corregedor da corte dos feitos crimes. fo, xx.


Tit. vj. Do corregedor da corte dos feitos ciuijs. fo. xxiij,
Tit. vij. Do juiz dos no!fos feitos, fo. xxiv. v.
Tit. viij. Dos ouuidores. fo. xxv~ 'V.
Tit. viiij. Do ouuidor das terras da Raynha. fo. xxviij.
Tit. x. Do procurador dos no!frn1 feitos, fo.xxviij.v.
Tit. xj. Do fcriuá da chan~elaria. fo. xx.ix. v.
Tit, xij. Do meirinho moor. fo. xxx. v.
Tit, xiij. Do almotacee moor. fo. xxxj.
Tit, xiiij. Do meirinho , que anda na corte em
lugar de meirinho moor. fo. xuvj.v,
Tit, xv. Do rneirinho das cadeas: & do que a
feu officio pertence. fo. xxxviij,
l
Lxxxu 1Norc11s oo CooIGo MAN. DE 15r4.

Tit, xvj. Do fcriuam dos feitos delRey. fo. xxxviij. v.


Tit. xvij. Do fcriuam das malfeitorias. fo. xxxix.
Tit. xviij. Dos fcriuaens dante os defembarga-
dores do paaço: & dos agrauos : & cor-
regedores da corte: & outros defembar-
gadores da rolaçam. fo. xxxix v.
Tit, xviiij. Do porteiro da châcelaria de nofTa
corte. fo. xxxxiij.
Tit. xx. Do porteiro da rolapm, fo. xxxxiij. v.
Tit. xxj. Do porteiro dos corregedores da cor-
te : & dos noífos ouuidores : & da Ray-
nha. fo. xxxxiij. v.
Tit. xxij. Do pregoeyro da corte. fo. xxxxiv, v.
Tit. xxiij. Das citações: pregoés : procurações: &
inquirições de que a elRey pertence
auer dereyto, fo. xxxxiv. v-,
(a) Tit. xxiv. Regimento do go,1ernador dajuíliça
na caía do ciuil. fo. xxxxv.
Tit. xxv. Do chãceler da caía do ciuil : & do
que a feu officio pertence. fo. lij.
Tit. xxvj, Dos defembargadores dos agrauos : &
do que a feus officios pertence. fo. liij.
Tit. xxvij. Dos fobrejuizes: & do que a feu offi-
cio pertence. fo. liij .v.
(h) Tit. xxviij. Dos ouuidores do crime: & do que
a feus officios pertence. fo. lv.
(a) Eftc Tí1. naõ tem numcr•f•Õ no Exemplar imprcffo ,' e faz ahcur a or-
dem.
(h) Ella rubrica vem dcminuta na T avoada , affiro como algumas das 4uc se
feguem,
lNorcEs DO Coorno MAN. DE 1514. LXXXIII

Tit. xxviiij. Do prometor da jufliça: & do que a


feu officio pertence. fo. lv. u.
Tit. xxx. Do fcriuam da chancelaria: & do que a.
feu officio pertence. fo. lvj.v.
Tit. xxxj. Do fcriuam que tee carrego de foli-
c;itador da jufüça. fo. lvij.
'Iit. xxxij. Dos fcriuaães que efcreuem perante
os defembargadores, & fobrejuizes, &
ouuidores da dita caía. fo. lvij.v.
Tit. xxxiij. Dos procuradores; & dos que nó po-
dem feer:&dos que os nó podem fazer. fo. lviij.v.
Tit. xxxiv. Dos corregedores das comarcas: & as
coufas que a feus officios pertence. fo. lxj.
Tit. xxxv. Em que modo hã de enquerer fobre o
corregedor da comarca, quando acaba o
tempo de feu officio. fo. lxvj. v.
Tit. xxxvj. Da chancelaria das comarcas. fo. lxviij.
Tit. xxxvij. Dos juizes ordenairos: & do que a
feu officio pertence. fo. lxviiij.
Tit. xxxviij. Dos vereadores das cidades & vil-
las : & do que a feu officio pertence. fo . lxxiv.
Tit. xxxix. Dos almotacees_: & do que a feu officio
pertence. fo. lxxviij.
Tit. xxxx. Do procurador do concelho : & coufas
que ao dito officio pertence. fo. lxxx.
Tit. xxxxj. Do thefoureyro do concelho: & cou-
fas que a fcu officio pertencê. fo. lxxx.v.
Tit. xxxxij. Do fcriuam da camara: & coufas
que a feu officio pertencE. fo. lxxxj.
12
LXXXIV IN01cis Do Coorno MAN. DE 1514 •.
Tit. xxxxiij. Do fctinam da almotaçaria: &
coufas que a feu officio pertence, fo.lxxxj.v.
Tit, :x.xxxiv. Dos alcaides moores dos cal\c!-
los. fo. lxxxij.
Tit. xxxxv. Do akayde pequeno <las cidades &
vi lias : & coufas que a feu officio per-
teence. fo. lxxxiv.v.
Tit. xxxxvj. Das armas, que cm todo tempo fom
defefas: & como fe deuem filhar: & affi
quando geralmente ou em algum lugar
fore defefas, fo.lxxxvij.ti.
Tit. xxxxvij. Do carcereiro da corte: & da caía
do ciuil: & do que a feu officio perten-
ce. fo.lxxxviij. "·
Tit. xxxxviij, Das carcerages da corte: & como
fe ham de leuar. fo. lxxxx.
Tit. xxxxviiij. Dos carcereiros das cidades & vil-
las : & das carcerages que ham dele-
uar. fo. lxxxx.
Tit, 1. Do que ham de leuar os fcriuaés da fa-
z<;nda, & da c:amara, das cartas & def-
embargos , & aluaraaes , & outras fcsi-
pturas que fezeré. fo. lxxxxj. v.
Tit, lj. Dos taballiâes das notas: & do que a feus
officios pertence. fo. lxxxxij. v.
Tit. Iij. Dos taballiaens judiciaes : & do que a
feus officios pertence. fo. lxxxxvj. v.
Tit. liij. Do que ham de leuar os fcriuâes da
corte & das comarcas dos carretos dos
feilos. fo, e.
JNDICES DO CoDJGO MAN. DE I 514, LXXXV

Tit. liiij. Do que ham de leuar os taballiáes &


fcriuáes de feu falairo, fo, e.
Tit. lv. Dos taballiáes geeraaes: & como dcuem
vfar de feus officios : & das penfoóes
que deuem pagar, fo. civ.
Tit. lvj. Dos enqucredores: & do que a feu officio
pertence : & do que ham de leuar de
feu falairo. fo. cv.
Tit, lvij. Do que ham de leuar os porteiros &
pregoeiros das penhoras: citações &
arrematações. fo. cvj.
Tit. lviij. Do juiz dos orfaaós: & coufas que a
feu officio pertence. fo. cvj. v.
Tit. lviiij. De como fe ham de fazer as par ti-
çoóes antre os irmaáos. fo.cxvij.'V.
Tit, lx. Do fcrinam dos orfaáos : & do que a
feu officio pertence, fo. cxxij.
Tit. lxj. Do curador que he dado aos bees do ab-
fente: & aa herança do finado a que nó
he achado herdeiros. fo, cxxiij.
Tit. lxij. Do contador dos feitos & cu!las : & co-
mo fc ham de contar: affi na corte co-
mo nas cidades villas & lugares de nof. _
fos regnos & fenhorios. fo.cxxiij.v.
Tit. lxiij. Como ham de contar o falairo aos
procuradores. fo. cxx.vij.
Fim da Tauoada.

PR O-
LXXXVI INorcts oo Coo roo MAN, DE r 514.
PR O L E G U O.
,, DOM Manuel pe~ graça de Deos Rey de Portugal: &
,, dos Algarucs daquem & dalem maar :. é a Africa fenhor
,, de Guinee: & da conqui.íla & nauegaçam & comer-
" cio d'Etiopia: Arabia :· Perita: & da lndia: a todos ·
, , noffos fubditos & vaffallos faude &c. Cõftrádo nos
,, quâ necefaria em todo tempo he a juíliça , alfy na paz
, , como na guerra , pera boa gouernâça & conferuaçá de
,, toda Reepublica & eílado real : a qual como membro
,, principal, e mais que as outras virtudes excellente, affy
,. mais que todas aos principes conué , & nella como em
, , verdadeiro efpelho de confciene-ia fc deuem fempre re-
" uer & efmerar: porque como a juíliça confiíle em ygua-
', leza, & com j uíla balláça dar o feu a cada hii; alfy o bõ
,, Rey deue fer fempre huü & ygual a todos em retribuir
., a cada huü fegundo feus merecimentos, E affy como
,, a juíliça he virtude nõ pera fy mas pera outrem , por
., aproueitar foomente a aquelles a que fe faz , dandolhes
,, o feu: & fazendoos be viuer : os boõs com premios, os
,. maos com temor da pena : donde refulta paz & afefegno,
., porque o caíl:igo dos maaos he conferuaçam dos boós :
,. alfy deue fazer o bó príncipe , pois per Deos foy dado
,, principalmente nó pera fy nem feu particular prouei-
" to , mas pera beé gouernar feu pouo, & aproueitar a
,, feus fubditos como a proprios filhos : a exemplo &
,, ymitaçam daquelle verdadeiro pelicano, cujo feptro
,, tem na terra, que por a geraçam humana, & por faluar
,, feu pouo & filhos, nó foomente o proprio & preciofo
., fan-
INDICEs oo Coorno MAN. DE I 514. LXXXVII

,. fanguc derramou , mas na aruore da vera cruz quis pa-


,. decer. E como quer que eíle eílado & Reepublica con-
., fiíla principalmente & fe fo!lenha em duas coufas ,
,, em armas , & em leys : & hüa aja meíler da outra ;
,. porque alfy como as leys com a força das armas fe
,, mantê, afry a arte militar com ajuda das leys he fegura:
,. & cõ eílas duas coufas os Romãos quafy o mundo fub-
,, jugaraõ. Portanto poílo que nas armas & continua &
,, defuairada guerra , affy em affrica , como em afta, tâ.
., díuerías partes do mündo , & tá longe apartadas , feja•
,. mos taõ ocupado, depois de jaa termos ordenado , &
,. acabado a nolTa torre do tombo , obra m uy diflicil &
,, necefaria pera perpetua memoria , guarda , e fieldade
,, de todas as fcripturas e antiguidades de nolfos regnos
,, & fenhorios: & aífy o regimento & foraaes de todas
,, nolfas cidades vi lias & lugares, coufa certo a todo pouo
,, bem ?roueitofa: defejando confernar & manter nolfos
,. valfallos em perpetua paz & bo6s coílumes , ouue-
,, mos por mny nccefario entender neíla juíliça , que no
,, menos que as armas faz vencer pela E:oncordia & aíe-
,. feguo que fe de\la fegue. E daqui naceo o prouerbio
., que os Romãos venciã afentados .f. com a boa goucr-
" nança & regimento em que viniã, & confelho com
,, que faziá fuas guerras, o q•lll fe nõ pode bem tomar
•• fem repouf.o & paz intrinftca, & ygualeza de bo6s jui-
., zos, & temperança tle viuer, o q•1e tudo eíla virtude nos
,. enfina & obriga; pois feus preceptos sã viuer honella-
., mente: a outré nõ empecer: dar o feu a cada hum.
Pollo
LXXXVUI lNDICES DO CoDIGO MAN, DE 1514-

,, Pollo qual vendo nos a confusa & repugnãcias dai-


,, gumas ordenàçóes per os Reys no(fos antecelfores fei-
,, tas , alfy das que efiauá encorporadas , como das eK-
,. trauagantes, donde recrefciâ aos julgadores muytas du-
•, uidas & debates , & aas partes feguia grande perda :
., querendo a ylfo prouer polia obriguaçaó que temos por
,, nos nolfo Senhor teer pollo neíl:e eíl:ado : Determinamos
., com os do noffo confelho & leterados reformar eíl:as
,. ordenações , & fazer noua compillaçâ: tirando todo
,, fobejo & fuperfiuo: e addendo no minguado: fuprin-
,, do os defeélos : concordando as contrariedades: doera-
,, rando o eícuro & difficel : de maneira que alfy dos le-
,. terados como de todos fe po!Ta bem & perfeitamente
,. eotender. A qual obra & compillaçã bem euminada
,. & émendada reduzimos como dantes em cinquo liuros,
,. & mandamos imprimir, & publicar, & aprouamos, &.
., confirmamos . _Reuogando & anullando quaeíquer outras
., ordenaç6es, que fora defta compillaçã fe acharem : fal-
., uo fe depois forem feitas per nos , ou per os Reys nof-
,. fos fubcelfores, mouidos da mudança dos tempos, ou no-
,, uidades dos cafos que podem fobreuir: & efta quere-
" mos que em todos os noffos regnos & fenhorios fe
,. guarde, pratique , & valha pera fempre. Fim

Na qua-r ta folha huma E(bmpa grande , que occupa


toda a imprelfaó, e reprefenta ElRcy no trono com o fce-
ptro na direita , & a efquerda fobre hum liuro, em que
pega hum homem de joelhos , veítido com roupa talar ,
barre-
INorcEs oo Coo roo MAN. DE 1 5r4. LXXXIX

barrete aos pés , parecendo indicar o Chanceller mor Rui


Botto ; Archeiros da mefma parte , á direita concurfo de
Doutores , ou Defembargadores , cobertos com feus barre-
tes. No alto da cadeira hüa fa,ca com a infcripçaõ : Deo ;n
calo, tibi autem in mundo, No canto direito da Eflampa as
Armas Reaes em pequeno, com Coroa aberta , que toca
a orla da Eílampa, fem Elmo , nem Timbre, e á efquerda
a Esfera da mefma grandeza que as armas , e fem letras,
Segue-fe a quinta folha , e aprimeira numerada,
,, Do Regimento do Regedor da Jufliça.
,, Aqui fe começa os cinco liuros das ordenaç6es corre-
,, gidas & emendadas pelo Doélor Ruy Boto do eófelho
,, de ElRey & chanceller moor deíle5 regnos & fenhorios
,, com outros letcra<los do feu confelho & defembargo
,, para ello deputados. Per mãdado do inuÍétiílimo & muy
,, poderozo Senhor EIRey D. Emanuel noffo Senhor,
,, & per elle viíl:as & examinadas~
,, Segue-fe o liuro primeiro, (a) e acaba efle liuro no
,, verfo da folha cxxviiij. ,,
E na feguinte, que naó eílá numerada , fe acha o que
fe fegue.
,, Acabou-fede emprimir ho primeiro liuro das or-
" denaçóes , corregido & emendado per o Doélor Ruy
,, Boto do confelho d'EIRey noffo Senhor & chanceller
, , moor defles regnos & fenhorios per autoridade & pre-
•• uilegio de Sua Alteza. Em Lyxboa per Joham Pedro
,, de bonhomini aos xxx dias de Oélobro de mil e qui-
" nhentos e quatorze annos,
m E
(a) Em letra preta , porque o mais para cima hc de tinta encarn;ida.
Lxxxx INoicts oo Coowo MAN. DE I 514.
E no fim eílá hum Cu de lampe , reprefentando hu-
ma cobra enrofcada ao redor de hum circulo com hum
nó por biixo, e cabeça coroada , mordendo em huma li-
nha perpendicular , que fahe de dentro , e quafi do meio
do circulo.
No fim do Liuro II. no meio de hurna folha em branco,
que fe fegue a foi. lxj, e no verf. da fel. lx.xiv do Liv. V.
ha outra fimilhante. Os Livros III. e IV, naó a tem.

L I V R O SE G U N D O.
E Stampa igual a primeira.
,, Liuro fegundo das ordenações cô fua tauoada,
,, que affigna os títulos & folhas : & traéla-fe nelle das
,, leys & ordenações tocantes aas ygrejas & moeíleiros
,, & peffoas religiofas & eclefiallicas & outras peffoas.
,, N ouamente corregido na fegunda ernpreffam : Per efpe-
" cial mandado do muy alto & muy poderozo Senhor
,, Rey dom Manuel noffo Senhor: Foi empremido Com
., preuilegio de fua Alteza. ,,
., Segue-fe a tauoada pera fe por ella acharé os titulas. ,,

Tit. primeiro em que cafos os clerigos & religio-


fos deuem refponder perante as juíliças
feculares . fo, j.
Tit, ij. Dos que fe coutam aa ygreja em que ca-
íos ·gouuirã da ymunidade della: & em
quaes nom. fo. iiij. 11.

Tit. llJ• ~ando a ley contradiz aa decretai


qual deltas (e deue guardar. fo. v.
INDICES DO CooIGO M AN. DE l 514. LXXXXI

Tit. iv. Q.te fa~am penhora nos beés dos cle-


rigos condenados per os juízes del-
Rey. fo. v. •11.

Tit. v. Q.te os creligos & ordeés & outras quaes-


quer peífoas eclefiaílicas nom poíl"am
auer nem gançar bés afguüs nos re-
guégos de!Rey. fo. vj.
Tit. vj. Qye as ygrejas & ordeés num comprem
beés de raiz fem licença <lelRey. fo. vij.
Tit. vij. Q.te as ordeés & moeíleiros nó ajam he-
rança de beés de raiz per morte de feus
profelfos. fo, · viij. "•
Tit. viij. Q.tc os leigos n6 tomem po!le dos be-
neficios quando vagarem. fo. viiij.
Tit. viiij. Q.te os fcriuâes dos vigairos guardem
a taxa das fcripturas , que he dada aos
fcriuáes da corte: e nó faça elles , nem
outros alguüs fcriuâes dos prelados •
ou dos moeíleiros, & nota rios apoíloli-
cos fcripturas, em que algum leigo
feja parte. fo. viiij. "·
Tit. x. Que os fidalguos ou feus moordomos nom
poufem nas ygrejas & moeíleiros: nem
lhe tomem o feu contra fua vontade. fo. x.
Tit.xj. Q.te os fidalguos n6 ponha defefa em fuas
terras per que fa1am hermar as herda-
des das ygrejas • ou moeíleiros. · fo. x. 'li,

Tit. xij. ~e nó poffam vender, nem empe-


m2 nhar
LXXXXII INDICES DO CoDIGO MAN. DE 15 r+
nhar prata alguüa das ygrejas ou moe-
fieiros fem licéça dei Rey. fo, x.
Tit. xiij. Q!ie as ygrejas & moeíleiros & clcri-
gos de ordcés facras , ou beneficiados
& frades nó paguem dizema , porta-
gem, nem fifa. fo. xj.
Tit. xiiij . De como fe ham de entender os pre-
uilegios per elRey dados aas ygrejas
& moeíleiros pera feus lauradores & ca-
feiros. fo. .xij.
Tit. xv. Dos dereitos reaes, que aos Reys perten-
ce auer em feus regnos per dereito
comuü, fo. xij. "•
Tit. xvj. Das jugadas, & como fe deuem àrre--
caclar nas terras jugadeiras. fo. xv.
Tit. xvij. Da maneira que fc d«ue teer na fo-
celfam das terras &:-beês da coroa do
regno. fo. xx..
Tit, xviij. Em que tempo as cartas das doaçoés
&: mereces deuem feer affcladas & paf-
fadas pela chancellaria. fo. xxvij.
Tit. xvii-ij. Que n6 feja criida portaria algila
de!Rey, faluo per feu aluará , ou carta
afellada do feu feello. fo. xxviij,
Tit. xx. Qye nó façam obra por carta ou aluará
dclRey , nem algum feu oficial , fem
primeiro palfar pela chancellaria: &
que as coufas que hã de durar mais de
hü anno nó paffem por aluaraes. fo. xxviij.
lNoICES DO CoDIGO MAN. DE I 514. LXXXXIII

Tit. xxj. Em que modo & em que tempo fe fa7,


alguü vefinho pera gouuir do preuile-
gio da:do aos vefinhos. fo. xxviiij. 'li,
Tit. xxij. Q.ue os almoxarifes delRey ou outro
alguü nõ leuem coufa algüa do nauio
que fe perder. fo. XXX,
Tit. xxiij. Das cartas impetradas delRey per
falfa informaçã, ou callada a verdade,
ou dadas per petiçam da parte. fo. xxx.
Tit. xxiüj. Como fe ham de trazer as armas da
nobreza, e os que as nam podem nem
deuem trazer. fo. xxxj.
Regras da maneira que fe podem e deuem
trazer as armas. fo. xxxj. v.
Tit. xxv. De como a elRey foom~te ,pertEce
apoufentar alguem por auer ydade de
fetenla anno-s. fo. xxxij.
Tit. xxvj. Qye o preuilegio da exemçâ {a) dado
ao morador da terra nó faça prej uifo
ao fenhor dclla. fo. xxxij,'lf,
Tit. xxvij. De como as raynhas & vnfantes &
outros fonhores deuem vfar das jurisdi-
ções que por elRey fom dadas. fo. xxxiij.
Tit, xxviij. Dos o::Jiciaes delRey que lhe fortaõ
ou enganofamente leixá perder o que
por elle recebem. fo. xxxxj.v.
Tit. xxviiij, Em que cafos deuem os rendeiros
delRey
(") Na 1ubriça {ele ,;cta1fam , erro manifcllo. e que porilfo !e llilÓ tranfcrcrco,
Lxxxxrv lNotcEs oo Coorno MAN. DE r5r4.
delRey gouuir do feu preuilcgio & {e.
rem remetidos a feus juízes. fo.. xxxij.
Tit. xxx. ~e os thefoureiros , almoxarifes , ou
recebedores delRey nom deé os di-
nheiros do dito fenhor a vfura, ne em-
prefrem fem feu mandado. fo. xxxxij. 'li,
Tit. xxx.j. Da pena que hauerá os thefoureiros,
almoxarifes , & outros officiaes da fa-
zéda , que leuam peyta dos tendeiros,
ou por pagar os defembargos aas par-
tes : ou dam em cõta os defembargos
que nom teem pagos, fo. xxxxiij.
Tit. xxxij. Q,e os thefoureiros , almoxarifes, &
recebedores arrec-adem, & executem as
diuidas dos rendeiros atee quatro me-
fes depois do âno de feus arrendamê-
tos, fo. xxxxiij.
Tit. xxxiij. Q9e os thefoureiros, almoxarifes , &
recebedores acabado ho tempo do feu
recebimento entregué logo todo o que
ficarê deuédo ao que foceder feu offi-
cio , poílo que lhe fua conta n6 feja to-
mada, fo. xxxxiv. 11.
Tit. xxxiiij. Qye os fcriuâes dos thefoureiros &
almoxarifados façam eílromentos pu-
blicos dos arredamentos & vendas pe-
los ditos thefoureiros & almoxarifes
feitas. fo. xxxxvj.
IN01çrs oo Coorco MAN. DE 1514. LXXXXV

Tit. xxx.v. Q!ie os dizimeiros, & almoxarifos 1 &


outros officiaes das alfandegas n6 cõ-
prem mercadorias em ellas , nem con•
fintam hy eílar em quanto dizimarem
fenõ os fenhores das mercadorias, fo. xxxxvj.
Tit, xxxvj. Qye os mercadores, que trazem mer-
cadorias Je fora do reino ou leuá para
fora delle , n6 paguem fenó huma dizi-
ma. fo. XXXX'fj.
Tit. xxxvij. De como fe ham de vender os beês
per diuida delRey: & quanto tempo
deuem andar em pregam. fo. xxxxvij.
Tit. xxxviíj. De como os almoxarifes & arren-
dadores delRey deué ao têpo das ven-
das & arredamentos fazer apregoar ,
fe eífes que querem comprar ou arren-
dar teem alguüs credores a que pri.
meiro (a) fejam obrigados. fo. xxxxviij. v.
Tit. xxxviiij. Da ordenaçâ • que deuem teer os
facadores delRey, & os dos que per
efpecial graça podé rematar por fuas
diuidas como polas deIRey. fo. xxxxviíij.
Tit. xxxx. Q.ue as herdades nouamente gança•
das por e!Rey nom fejam auirlas por
reguengos• nem gouuã dos preuilegios
aos reguengos dados. fo. lj.
Tit. xxxxj. Qye os que tem herdades nos reguen-
gos
(a) Na Tauoada fc lêja11t.

8
txxxxvr INorcrs no -Coorqo_ MAN. DE r 514.
gós nó gouuá do priuilegio de reguen-
guciros fe n6 .morarem em ellas. (a) fo. lj.
Tit, xxxxij. Dos relegas, & como fe deuem ven-
der os vinhos delRey durando o tem;.
po delles. fo, lj. ,:,,,
Tit. xxxxiij . . Dos relidos , & a quem pertéce
ho conhecimento delles, & em que ma-
neira fe hã de arrecadar. fo. lij.
Tit. xxxx.iv. Q!ie os fenhores & fidalgos n6 to-
mé mátimentos fem autoridade da
juíl:iça contra vontade de feus donos. fo. lvj. 'li,
J'it. xxxxv. Que peífoa algüa n6 tome beftas ,
nem carretas pera feu feruiço. fo. lvij. v.
Tit, xxxx.vj. Dos lauradores, moordomos , cafei-
ros & criados dos fidalgos & vaffallos ,
que ham de feer efcufados dos encarre-
gas dos c6celhos per os preuilegios que
de nos teuerem. fo. lviij.
Tit. xxxxvij. <l!ie os prelados & fidalgos n6 fa-
ça nouaméte coutos , nem honrras em
feus herdamentos. fo. lviiij.
Tit. xxxxviij. <l!ie os judeus fe fayam deíles re-
gnos, & nom morem , nem eíleem em
elles. fo. lx.
Tit. xxxxviiij. De como o xpâao que foi Judeu
deue de herdar a feu pay & a fua may
& a outros parentes. fo. lx.
Fim da Tauoada.
(a) Na rubrica fe lê ,m t/1<1,
INDICES DO CooIGo MAN. DE 1514. LXXXXVII

Na folha terceira outra Eílampa grande d'ElRey no


trono pegando no liuro , em que elle tem á efquerda
hum Bispo de joelhos com o feu chapeo , ornado de bor-
las , aos pés: tem as mefrnas infcripçóes , armas , e esfe-
ra: á direita frades, bifpos , e clerigos: á efquerda rio,
navios, montes, arvores &c. , e por baixo lavrador com
arado ., caçador , cães , coelhos, e outros ornatos rufücos.
A quarta folha , e primeira numerada, principia em le-
tra encarnada. ,, No primeiro liuro falamos dos officiaes
,, de no!fa corte , que por nos teem cargo de miniílrar de-
,, reyto & jufü-ça , & dalguüs outros que aa gouernãça
,, do regno pertence, Agora no fegundo liuro & nos ou-
" tros d'hi em diante entendemos falar & traélar das leys
,, & ordenaçôes, per que os no{fos regnos .fe gouf.'rnem ,
,, & os ditos officiaes fe ajam de reger pera bóa execu-
" çam dellas. E primeiramente entendemos em eíle fe-
,, gundo liuro traétar das tey,;, & ordenações tocantes
, , aas ygrejas & moeneiros & peffoas religiofas & ecle!t-
,, aílicas. E porque antre .os reys no{fos predece{fores &
,, os prelados & clerezia deftes regnos foram feitas muy-
,, tas detemiinaçóes & artigos & capitulos de cortes , os
,, quaes fe fempre guardarom & vfarom & praticarom •
., Dos quaes alguns que pera booa gouernança & regi-
,, mento da terra mais nece!farios parecem, mandamos
,, aqui poer as determinações & decisões delks em o ti-
., tulo feguinte. ,,
O verfo da folha LXI acaba com o feguinte :
,, Acabou-fe de empremir ho fegundo liuro das ordena-
n ,, çoens:
Lxxxxv1 u INDICEs oo Coorno MAN. DE 15r4.
,. çoens : corrcgid<? & em~ndado per ho doé\or Ruy Bo-
" to do confelho delRey . no{To Senhor, & feu chanceller
., moot deíles regnos & fenhorios : Per mandado, aut-0ri-
" dade, & preuilegio delRey d6 Manuel noffo Senhor:
. ,, em Li,cb6a per Joha pedra bomhomin i a quinze dias
,; de decébro de mil & quinhentos & q~1atorze annos • .,
Tem na folha immediata hum Cu de lampe como a
do liuro primeiro. (a)

L I V R O T E R C E I R O.
"L I uro terceiro das ordenações com lua tauoada ,
,, que ~ligna os títulos & folhas & traéh fe ne\le do au-
,, to judicial, nouamete corregido na fegunda empref-
,, fam : Per efpecial mâdado do muy alto & muy pode-
" rozo Senhor Rey dõ Manuel: empremid o Com pre-
', uilegio de fua Alteza. , ,
,, Segue-fe a tauoada pera fe por ella acharem os titu-
,., los. d.eíle terceiro liuro das ordenações defies Regnos.

Tit. j. Das citaçóe,s como há de fer feitas. fo. j.


Tit. ij. Em que cafos fe pode citar o procurado r
do reo no começo da demanda, fo. ij.
Tit. iij. Dos que nó podem feer citados na corte
ainda que fejam achados em e!là. fo. iij .v.
Tit. iv. Dos que podem trazer feus contendor es
aa corte per razam de feus preuilegio s. fo. iv,
Tit. v. Dos que podem feer citados & trazidos aa
(a) Tudo até o fim h~ cfcrito com tió~ encarnada; e no alto tem as armas
reaes·á direita, e i efqu~rda hua Esfera com. a ÍQÍcripçaõ pofta fupcriormcntc, 411e
diz : Sfn-4 in D,o.
lNoicBs Do Coorco MAN. DE 15r4. Lxxxx1:ic

aa corte, aindaque n6 fejam achados


em ella. fo. v. "•
Tit, vj. Que cõcelho, corregedor. ou juiz nom
fejam citados fem mandado efpecial
delRey. · fo. vj. "•
Tit. vij. Dos que podem & deuem feer citados
que parepm peffoalmente em juizo. fo. vij.
Tit, viij. Dos que nõ podem f.eer citados por
caufa de fc:us officios , ou per algüa
caufa legitima. fo. viij.
Tit. viiij. Do que he citado pera refponder em
huum tempo em desuayrados juyzos. fo. v111J,
Tit. x. Dos que podem feer citados perante o5
juizes ordinairos , aindaque nom fe-
jam achados em feu territorio.(a) fo. X,'/J,

Tit. xj. Dos preuilegiados a que per noffos pre-


uilegios fom dados certos juizes peran-
te que ajam de refponder. fo. x. v.
Tit. xij. Do autor que nom pareceo ao termo
pera que citou feu conrenclor. fo. xj.
Tit. xiij. Se o <lia em que he affygnado termo a
alguü fuá contado no dito termo; fo. xj.
Tit. xiv. Se o dia em que fe acaba alguü ter-
mo fe encludirá em e\lc. fo. xj. 'l/,
Tit. xv. Da orde do juizo, fo. xj. v.
Tit. xvj. Em que cafos o fenhor do feit'o poderá
n '2 reno-
(a) Efie titulo he com cfirito o dccjmo, irias no Codigo hc o undrcimo,
o que deu occafiaó á diltercnte numerafaÕ I pois fcgue até o fim o mefmo erro,
e INDicES Do Coo.mo MAN. DE 1 514,
rcuogar o procurador que em elle fei-
to teuer, fo. xvj.
Tit. xvij. Se po~erá o procurador que n6 pode
procurar fobftabelecer outro procura-
dor. fo. xvj. v.
Tit. xviij. Qyando o fenhor do preito morre an-
te da lide contellada cfpira logo o offi-
cio de procurador. fo. xvj. 'U.
Tit. xviiij. Qyando ferá o autor obrigado for-
mar feu libello per efcripto. fo. xvij.
Tit. xx. Do reo que he obrigado a fatifdar em
juiio por nom poffuir beés de raiz. fo. xvij.
Tit. xxj. Em que cafos poderá o juiz cõstráger
cada hü.a das partes que refponda aas
preguntas que lhe fezer em juizo: & da
pena que hauerá o reo que negar pof-
fuir a coufa, que lhe em.juízo he de-
mandado. fo, xviij.
Tit. xxij. Em que modo fe procederá c6tra o
reo que for reuel, & n6 parecer a.o ter-
mo pera que foi citado. fo. x.viij. ,u.
Tit. XJ'iij. Como procederá o juiz no feito
quando for recufado por fofpeito. fo. xix. v.
Tit. xxjv. Das auç6es & rec6uenç6es. fo. xxj.
Tit; xxv. Qye nom julgue o juiz em feu feito ,
nem dos officiaes, que perante elle
efcreuem. fo. xxij.
Tit, xxvj. ~e o julgador deue julgar fegüdo
achar
JNDICES DO CoDIGO. MAN, DE 1514, CI

achar allega4o & prouado no feitç per


,as partes, fo. xxiij.
Tit. xxvij. Dos . que demandâ em juizo mais
daquello que lhe he dcuido. fo. xxiij.
Tit. xxviij. Do que demanda feu deuedor ante
do te_m po a qu~ lhe he obrigado. fo. xxiij. v.
Tit, xxix. Do que demanda o que ja em fy
tem. • fo. xxiiij,
Tit, xxx. Das fereaJI. fo. xxiiij.
Tit, xxxj. Qye maneira fe terá quando o procu-
rador de cada hüa das partes fôr en-
fermo ou em outra manejra epedi-
do. fo. xxv.
Tit. xxxij. Do juraméto de calumnia. fo. xxvj,
Tit. xxxiij. Do que he demãdado por alguma
couía, & nomea outro por autor que
ho venha defender. fo. xxvij.
Tit. xxxiv. Em que cafos auerâ luguar as au-
-
torias-. fo. xxviij. v.
Tit, xx,çv. Do autor que fe aufenta do juízo an-
te!I da lide conteflada . ou depois. fo, xxix. v.
'.fit. xxxvj. Que o marido n6 pofa litigar em juí-
zo fobre bées de raiz fem outorga de
fua molher. fo. xxx.
Tit, xxx-vij, Do _autor . que he metido ê po!fe
de alguüs bées de raiz a3 reuelia do .reo
como he theudo de os aproueitar. fo. xxxj.
Tit, xxxviij. Do reo que fe aufentou do juízo an,..
te da lide contefiada ou depois. fo. xxxj. v.
CII JNDICES DO CODIGO MAN. DE J 514.

Tit. xxxviiij. Do que requere depois do feito


conclufo que lhe dem termo pera viir
com razam de nouo, ou pera fazer no-
uo procurador. fo. xxxij.
Tit. xxx.x. Em que cafos os fidalgos & caualei-
ros & clerigos & religiofos poderaõ per
outrem procurar em juizo. fo. xxxij.
Tit. xxxxj. Q!ie em feito de força noua fe pro-
ceda fumariamete fem outra ordem
de juizo. fo. xxxij.v.
Tit. xxxxij. Das excepções dilatorias. fo. xxxiij.
Tit. xxxxiij. Das excepçóes perentorias. fo.xxxiij.v.
Tit . xxxxiv, Das excepçóes anormalas. fo .xxxiv.v.
Tit. xxxxv. Da conteílaçam da lide. fo. xxxv.
Tit. xxxxvj. Em que modo fe deuem fazer os
artiigos, & quando a parte contra quem
fe derem ferá thcuda refponder a
elles. fo. xxxv.i,,
Tit. xxxxvij. Da contrariedade que o reo faz
contra a auçam principal. fo. x xxvij,
Tit. xxxxviij. Das dilaçóes que fe dam aas
partes pera fazerem fuas prouas. fo .xxxvij ,ti,
Tit. xxxxviiij. Das teílemunh.as que deué feer
preguntadas. fo. xxxviij.
Tit. 1. Da pena que aue.rã as partes que falam
com as teílemunhas depois que fam
coutadas. fo. xxxx.
Tit. lj. Das cótraditas & rep,rouas. fo, xxxxj,
Tit.
!NDICES DO CoDIGO MAN. DE I 514. Clll

Tit. lij. Das prouas que fe deuem fazer per efcri-


turas pruuicas . fo. xxxxj. v.
Tit. liij. Da fee que fe deue dar aos eílormét os
pubricos , & aas outras efcritura s. fo.xxxxi v-.v.
Tit. liv. Dos embargo s que fe allegam aas inqui-
riçoês ferem abertas & pubricad as. fo. xxxxvj.
Tit. lv. Das razoeés que fe allegam a embarga r
a difinetiu a fo. xxxxvij ,
Tit. lvj. Das fentença s interloc utorias como po-
dem feer reuogaclas. fo.xxxx vij v.
Tit. lvij. Qye os juízes julgue pola verdade là-
bida fem embargo do erro do pro-
ceifo. fo. xxxxvii j.
Tit. lviij. Das fentença s difinetiu as. fo .xxxxvi iij.
Tit. lviiij. Da condêna çã das cuílas. fo. l.
Tit. lx. Da ordem que fe deue teer nas apella-
çoés affy das fentença s interloc utorias ,
como difinetiu as. fo. l. v.
Tit. 1xj. Das apellaçó es das fentença s interloc u-
torias , & q uãdo fe pode dellas apel-
lar. fo. lij.
Tit. lxij. Das apellaçó es, das fentença s difineti-
uas fo. liij.
Tit. Ixiij. Das apellaç6 es que fahem das terras
das ordées, & das terras dos fidalgos. fo. liiij,
Tit. lxiiij. Q.ue todalas apellaçõ es dos feitos ci-
ues venham aa cafa do ciuel , & as
dos crimes aa corte. fo. liiij. v.
Tit.
cnn INDICES oo Coorno MAN. DE 1514.
Tit. lxv. ~ando os juízes da alçada acharem
que ho apellado he agrauado , <leuéno
<lefagrauar poílo que nó apelle. fo. lv:
Tit. lxvj. Se poderá o juiz de que foy apellado
emnouar algüua coufa pédédo a apel-
laçam. fo. lv.
Tit. lxvij. Da maneira que fe deue teer quando
o juiz nó recebe a apellaçam da fen-
têça interlocutoria , & manda daar
e!lormento aa parte, fo. lv. v,
Tit. lxviij. Q_ue da f~ntença que per dereito he 1
nenhuüa fe nom requere feer apellado&
em todo tempo pode feer reuogada. fo. lvj.
Tit. lxviiij. Qyando poderá apellar da · execu-
'çam da fentença e da di::craraçã feita
nella. · fo. lvij.
Tit. lxx. Q!tando poderá apellar dos àutos que
..fe fazem fora do juizo·. fo, lvij. v.
Tit. lxxj • . JD.os que nó deuem feer recebidos a ·
apellar. · , · fo. Ix.
T,it. lxxij. Q.uando muytos fom condénados em.
büa fenfcnça ·& huü ' foo·apella della .' fo ,': 1x:ti~
1,"'it. lxxiij. Se pédédo a apellaçã morrer cada
hüa, das partes ·, qu perecer- a- coúf.á de,. ' ·
. manfiada. · fo. lxj.
Tit, lxxiv. Q!Je os litigantes polfã allegar &·
, prouar .na ·caufa da apellaçã o que nom
. • teueré alegado na caufa pri-néipal. · 'lo. b :ij.
IN01cEs Do Coo mo MAK, DE 1514. cv

Tit, lxxv. Dos que podem apellar das fentenças


dadas antre as outras partes, fo. lxij.
Tit. Ixxvj. Q!Jádo deuê apellar da fentença con-
dicional. fo. lxij. 'U,
Tit. lxxvij. Como fe fará execuçá nos bées do
fiador que prometteo é juizo pagar
por o reo todo o em que folfe có-
denado. fo, lxiij.
Tit, lxxviij. Do que prometteo aprcfentar em
juyzo a tempo certo algüu de.mandado
fob certa pena quando fe executará
nelle a dita pena. fo. lxiv.
Tit. lxxviiij. Das execuções que fe fazem ge-
ralmetc per as fentenças , & embar-
gos que fe aleguá a nom fe fazerem. fo. lxiv.
Tit. lxxx. Se citará a parte condenada ao tempo
da execuçá. fo. lxv. v.
Tit. Ixxxj . Da execuçá que fe faz per o por-
teiro, & do que lhe tolhe o penhor. fo, lxvj.
Tit. lxxxij. Q!Je fe faça primeiro execuçá nos
bées mouees que nos de raiz. fo. lxvj. v.
Tit. lxxxiij. Q!Je nó aja porteiros efpeciaes
pera fazer as execuçoés nos lugares
onde ouuer moordomos. fo. lxvij.
Tit. lxxxiv. Da maneira que ham de teer nas ex-
. ecuçoés que fezerem os moordomos
que dermos a algüas- peíloas per efpe-
cial graça. fo. lxvij. v.
o Tit,
cvr IN01cEs oo Cooroo MAN. DE 1514-

Tit. lxxxv. OEc o creedor que primeiro ouuer


fentença & fci.er execuc,am pr'(!ceda to-
dollas outros, poíloque fejá primei,.
ros em tempo. fo, lxi:x:. 'ti.
Tit. lxxxvj. OEe n6 façá penhora nem exccuçá
nos cauallas & armas dos vaffallos &
acontiados. fo. lxx.
Tit, lxxxvij. OEe nom étrem os parteiros nas ca-
ías dos condenados a fazer execuçá fe
acharem penhores fora dcllas. fo, Ixx,
Tit. lxxxviij. Como fe hade fazer a execuçaó nas
cafas dos fidalgos. fo. lxx.. o.
Tit. lxxxviiij. Do deuedor que emalhea os beés
mouees depois que he condenado por
n_ó fe fazer exccuçaó nelles. fo. l:u. '-'•
Tit, .lxxxx. Em que tempo fc podcraó demandar
as diuidas delRey : & atee quando fe
demandará as que elle deuer. fo. lx.xj.
'Tit, lxx.xxj. Como fe há darrematar os bées
dos morgados ou capellas em que for
feita penhora. fo, lx.xj. ~.
Tit. lxxxxij. Como fe ham de arrecadar & arre,.
matar as coufas achadas de vento, fo. lxxij.
Tit. lxxxxiij. Dos que pedem que lhe reuejâ
os feitos deíembargados per os juizes
da fupricaçam. fo. lxxij. '-'•
Tit. lxx.xxiv, Dos agrauos das fentêças defi-
nitiuas , que fahê dáte o corregedor
da
ltrnrcts oo Coorno MAN. DE 15 r+ cvn
da corte, & ouuidores , & fobrejuifes,
como & quãdo ham de feer recebidos
e atempados. fo. luiv.
Tit. lxxxxv. Como fe deué executar as fenten-
ças do corregedor da corte , ouuidores,
& fobrejuizes, quando della5 for fopri-
cado em forma diuida. fo. lxxiv. v.
Tit, lxxxxvj. Que os deuedores a que EIRey daa
efpaço deue dar fiança a pagar as di-
uidas. fo. lxxv.
Tit. lxxxxvij. Do que impetrou graça delRey
que nó poffa feer demâdado a tee cer-
to tépo como deue vfar della con-
tra fy. fo. lxxvi.
Tit. lx:x.xxviij. Dos juízes aluidros. fo. lxxvij.'U,
Tit. lxxxxviiij. Dos aluidradores que quer tanto
dizer como aualiadores ou eílimado-
res. fo. lxxviij .u.
Tit. c. Q!ic nom dem cartas dereitas per enfor-
maç6es : faluo per e!lormentos dagra-
uo : ou cartas teíl:emunhauees com re-
po!la dos juizes , ou corregedores. fo. lxxjx. 'fl.
Tit. cj. Do que he demandado por algüa coufa
ante do anno e dia , onde refponderá
por ella. fo. lxu.
Tit, cij. ~e o poderofo por razaó dalgü officio
n6 procure por nenhuü em pubrico
nem efcondido. fo. lxx x.
Tit.
CVIU INorcEs Do CoDIGo MAN. DE 1514.
Tit. ciij. Do que trasmuda a coufa ou dereito
que em ella tem em algüu podero(o. fo. lxxx,'11.
Tit. ciiij. Do juramento que fe dá pelo julgua-
dor a praziméto das partes , ou em
ajuda de fua proua. fo. 1xxxj.
Tit, cv. Do orfaaõ menor de vinte e cinco annos,
que empetrou graça delrey por que fof-
fe auido por maior. fo. lxxxij,
Tit. cvj. Dos quedam lugar aos bées. fo. lxxxiij.
Tit. cviJ, Das feguranças reaaes como & por que
deuem feer dadas. fo. lxxxiv.
Tit. cviij, ~1e o que for juiz em algüa cidade
ou villa ho nom feja dy a tres annos.fo. lxxxv.
Tit. cviiij. Do menor de vinte cinco annos c6-
tra quem foi dada injuílamente algüa
fentença , & pede reílituiçá cótra
ella. fo. lxxxv.
Tit. ex. Do que he demâdado por coufa per elle
polTuyda , & elle nega eíl:ar em poíle
della. fo. lxxxvj.
Tit, cxj. Dos preuilegios & liberdades concedi-
das ao regedor , & gouernador , & def-
em bargadores da caía da fopricaça6,
& do cyuil, fo. lxxxvj .11.
Fim da tauoada do terceyro liuro.

No verfa da folha quarta Efiampa, mais pequena que


as grandes , delRey aífentado no trono 1 tendo na efquerda
o
INDICES oo Coorao MAN. DE 15 r4. crx
o fceptro dependurado , da dereita a esfera , cuja ecli-
ptica tem na esfera: Deo in Cfrlo , tibi aultm in mundo,
Na folha feguinte e\Rey no trono em audiencia com a
mefma infcripção, armas, e esfera dos outros liuros,
tendo na mão direita hum papel enrolado, e na mão
efquerda o fceptro lcuantado , Alabardeiros e Doutores
de hum , e ou_tro lado , aos pés dous Efcriuaes affentados
com penna e papel,
Primeira folha numerada: ,, Das citaçoes. ,,
, , Porque toda a virtude das leys eílaà na pratica, e
,, execuçã, que dellas fe faz em juyzo, Portanto em eíle
, , terceiro liuro trautaremos do auto judicial & ordem
,, delle & primeiro das citaçoes , em as quaes toda ordem
,, judicial fe começa. (a)
Acaba o verfo da folha 88 com o feguinte:
,, Acaboufe de emprimir o terceiro liuro das ordena-
" ç6es ; corregido & emeendado per o doélor Ruy Boto
,. do concelho de!Rey noffo Senhor, & chanceller moor
., deíles regnos & fenhorios , per autoridade & preuilegio
,, de Sua Alteza em Lyxb6a per Johã Pedro de banho-
., rniny aos XI dias de Março de mil e quinhentos e qua-
., torze annos.

L 1-
(o) Dcfd~ a palavra P°"l'" atéft ,omrfa tlldQ hc cícrito com unta encarnada,
ex lNDICES DO Coorno MAN, D! 1 sr+
L I V R O Q U A R TO.

D Epois da Eílampa , que he igual á primeira do liuro


terceiro, eílá o titulo.
,. Liuro quarto das ordenações com fua tauoada,
,. que aligna os títulos & folhas: & trata-fe nelle dos con-
,. trautos & dos quafi contrautos, & dos teílamentos , no-
,. uamente corregido na fegunda empreífaó : Per efpecial
,, mandado do muy alto, & muy poderozo Senhor Rey
,. dom Manuel ; emprimido: Com preuilegio de fua AI-
,. teza.
,. Segue-fe a tauoada pera fe por ella acharem os ti-
,. tulos deíl:e IV liuro das ordenações delles regnos.

Tit. j. Da dedaraçam da valia das liuras & dou-


tras moedas. fo. j.
Tit. ij. Como os mercadores eíl:rangeiros ham de
cóprar & vender fuas mercadorias. fo. iiij. v.
Tit. iij. Dos contrall:os firmados per juramento
ou a b0a fee. fo. v.
Tit. iiij, Dos comtraétos defaforados, fo. v. 'IJ,
Tit. v. Do Taballiá ou Efcriuá que vendeo o
officio ou ho renüciou ao tempo que
nom deuia, fo. v. 'IJ,

Tit. vj. Qye n6 penhore algue feu deuedor: nem


filhe a poffe de fua coufa fem auétori-
dade da julliça. fo. vj,
Tit. vij. Qye n6 cóíl:rágâ algué que cazc con-
tra fua .v6tade. fo. vj.
lN01c.ss DO Coorno MAN. DE I Sl4· CXI

Tit, viij. Qye o marido n6 poffa vender beês de


raiz fem outorguamento de fua mo-
lher. fo. vj.
Tit. viiij. Como a molher fica em poffe & cabe-
ça de cafal per morte de feu ma-
rido. .fo. vij. v.
Tit. x. Do homé cafado que daa ou vende al-
güa coufa aa fua barreguã. fo. viiij. v,
Tit. xj. Da doaçã feita pelo marido aa molher ,
ou pela molher ao marido. fo. viij.
Tit, xij. Das veuuas que emalhe.á & desbaratá
feus beês como nó deué. fo. x.
Tit. xiij. Das veuuas q.ue fe cafá ante de huü
anno & dia. fo. x.
Tit. xiiij. Do beneficio de Veliano outorguado
aas molheres que fiá outrem, ou fe
obriguá por elle. fo. x.
Tit. xv. Do homé cafado que fia alguem fem
outorguamento de fua molher. fo. xj. v.
Tit. xvj. Das vfuras como f6 defefas & cm que
maneira fe podem leuar. fo. xij.
Tit. xvij. Qpe nenhüa pelfoa cõpre nem venda
nenhüas nouidades , nê mantimentos
dante máo; nem a tempo certo: nem
emprefle , nem receba empreílado di-
nheiro , nem coufa algüa das fobredi-
tas no regno do algarue & ylbas da
madeira. & dos açores. fo. xiij. 'l/ .
Tit.

9
cxn 1No1cEs Do Coorno MAN. DE 1514.
Tit, xviij. Da orclenáça da bolfa que fe ha de
fazer pera defpeza dos dinheiros , &
prefos que fe leuá de hü lugar pera
outro, fo, xiiij.v.
Tit. xviiij. ~•e as beílas vendidas em euora fe
nom polfam engey.tar depois que a ven-
da for acabada , & a beíla entregue ao
comprador. fo. xv. 'li.

Tit. xx. ~e todo homê po!Ta viuer com quem


lhe aprouuer. fo, xvj,
Tit. xxj. Do que viue có fenhor a bê fazer &
fe parte delle fem fua vontade. fo. x vj. v.
Tit, xxij, Q_ue nom poíla6 demandar foldada fe-
nam atee tres ânos. fo. xvij,
Tit. xxiij. Dos mancebos & feruiçaaes que viuem
a bé fazer & depois demandá fatis-
façã do feruiço que fezeram. fo, xvij. v.
Tit, xxiiij. Do fenhor que lança fora de caza o
mancebo de foldada , & do mancebo
que foge della. ro: xviij,
Tit. xxv. Do amo que demanda o mâcebo que
lhe pede a foldada o dâno que lhe
fez viuédo com elle. fo. xviij.
Tit, xxvj. Dos que anda6 vadios, & nó querem
filhar mefier nem viuer com outrê, fo. xviij.
Tit., xxvij. Das compras & vendas como fe de-
uetn fazer por certo preço, fo. xviij, v.
Tit. xxviij. Das cópras & vendas feitas per fynal
dado ao védedor fimprefmente, ou em
parte de pagua, fo, xviiij.
lNDICES Do Cot>IGO MAN, DE 1514. CXI li

Tit. xxjx. Qye cada hüa peffoa poffa vender feu


herdamento & coufas que tiuer, & nom
feja conílrangido de as vender. contra
fua vontade. fo. xviiij.v.
Tit. xxx. Dos que apenham feus bées c6 con-
diçá que nó paguando a certo dia fi-
que o penhor arrematado ao credor. fo. xx.
T it. xxx.j. Do que vendeo algüa raiz fob condi-
çam que tornando ataa dia certo o pre-
ço que por ella recebeo feja a venda
desfeita. fo. xx. v.
Tit. xxxij. Do que vende algüa coufa duas ·vezes
a peffoas defuairadas.· fo. xxj.
Tit. xxxiij. Do que vendeo a coufa de raiz ao
tempo que aja tinha arrendada , ou
alugada a outrem por tempo certo. fo. xxj. v.
Tit. xxxiiij. Do que quer desfazer algüa venda ,
por foer enguanado aalem da metade do
j.uílo preço. fo. xxij.
Tit. xxxv. Da coufa 'vendida que fe perdeo por
algü cafo ante que folTe entregue ao
comprador. fo. xxiij.
Tit. xxxvj. Do fidalguo ou cleriguo que compra
pera regatar. fo. xxjv.
Tit. xxxvij. Q!iando a coufa obrigada he vendi-
da ou emalheada , paífa fempre com
feu encarrego. fo. xxjv.
Tit. xxxviij. Do que compra algüa coufaobrjga<la
p a
cx1v IN01cEs no CooIGo MAN. DE J 5 I 4.

a outrem & cófyna ho preço della em


juizo por nom ficar obrigado aos cre-
dores. fo. xxjv. v.
Tit. xxxviiij. Do valfalo de!Rey que obriga ho
caualo & armas ou a conthia que do
dito fenhor teem. fo. XXVJ,

Tit. xxxx. Da fiadoria d' muytos. fo. xxvj. v.


Tit. xxxxj. Do que confeífou auer recebida algüa
coufa , & depois diz que a nom rece-
beo. fo. xxvij.
Tit. xxxxij. Que o carniceiro, paadeira, & tauer-
neira fejam creudos por feu juraméto
no que lhes deuerem de feus meíle-
res. fo. xx viij.
Tit. xxxxiij. Do que prometeo fazer eílromen-
to de contrauto, & depois fe arrepen-
deo, & ho nó quer fazer. fo. xxviij.v.
Tit. xxxxjv. Se valerá a obrigaçam ou contrau-
to feito polo prefo na prifam. fo. xxjx,
Tit. xxxxv. Do comprador que recufa pagar o
preço da coufa comprada porque foi
enformado que nó era do vendedor. fo. xxjx.v.
Tit, xxxxvj. Que os corregedores das comarcas
& juízes ordenarios nó polfam comprar
beés de raiz nos lugares onde forem
officiaes. fo. xxx,
Tit. xxxxvij. Das penas conuécionaes & judi-
c1aes. fo. XXX, 11,

Tit.
INDIC'ES no Coo1co MAN. DE 1514. cxv
Tit. xxxxviij. Das vendas&: emalheamentos que
fe fazem em as coufas litigiofas.fo. xxxj
Tit, xxxxviiij. Que os concelhos das cidades &
villas n6 ponham preílimo a alguem
fem autoridade de!Rey. fo. xxKiij,
Tit. 1. Dos que tomam forçofamente a poffe da
coufa que outrem poffue. fo. xx.xiij.
Tit. lj. Da mudança que fe fez da era de Cefar
aa do nacimento de noffo Senhor Je[u
Chriílo. fo. xxxiiij.
Tit. lij. Dos que podem feer prefos por diuidas
ciuijs , ou criminaes, fo. xxxiiij.v.
Tit. liij. Do que engeita a moeda de!Rey. fo. XXXV,

Tit. lii ij. Das doaçooés que ham de feer infinua-


das & confirmadas por e\Rey. fo. xxxv.v.
Tit. lv. Das doaçooés que fe podem reuogar por
caufa da ingratidom. fo. xxxv.j,
Tit. lvj. Das compenfaçoés como & quando fe
podem fazer de hüa diuida a outra. fo, xxxvij.
Tit. lvij. Dos alugueres das cafas &: da maneira
que fe deue teer acerca delles. fo. xxx viij.
Tit. lviij. Em que cafos poderá o fenhor da ca.
fa laçar o aluguador fora della du-
rando o tempo do aluguer. fo, xxxjx,
Tit. lviiij. Dos aluguadores que acabado o tempo
do aluguer nó querem deixar as ca-
fas a feus donos. fo.xxxjx.v.
Tit. lx, Do que deu herdade a parceyro de meias,
ou a terço, ou a quarto, fo. XXXX,'U,

p Tit.
CXVI hiDICIS DO CooIGO MAN. DE 1514•
Tit._l~j. Do que filhou algüu foro pera fy & cer-
tas peffoas , & nom nomeou algué a
elle ante de' fua morte. fo. xxxxj.
Tit. lxij. Do foreiro que nomeou algué ao foro,
& depois rcuogou a nomeaçam & fez
outra. fo. xxxxij.
Tit. lx.iij. Do foreiro que vendeo o foro per au-
toridade do fenhorio, ou fem feu con-
fentimento . fo. xxxxij.'11,
Tit. lxiiij. Do foreiro que nom pagou o foro por
tres annos , & depois quer purguar a
mora oferecendo o foro devido. fo. xxxxi ij. 'V.
Tit. lxv. Das fcsmarias. fo. xxxxiiij.
Tit. lxvj. Em que cafo a madre repitirá as def-
pefas que com feu filho fez. fo. xxxxvj.
Tit. lxvij. Quando morre algüu homem abinte-
ílado & fem parentes , fua mulher her-
dará feus bées, & afli ho marido aa
mulher. fo. xxxxvij.
Tit. lxviij. ~ando o padre no teflamcnto nom
faz mençã do filho, & dispoê foomente
da terça de feus bees. fo. xxxxviij.
Tit. lxviiij. Como o filho do piam herda a heran-
ça de feu padre. fo. xxxxviij. v,
Tit. lxx. Da filha que fe caía fem autoridade de
feu padre ante que aja vinte e cinco
annos. fo. xxxxjx.
Tit. lxxj. Em que cafo poderá ho filho ou filha
deferdar ho padre ou madre. fo. 1. 11.
JNDIC"Es DO Coo1Go MAN. DE I 514. cxvn

Tit. luij. Em que cafo poderá o hirmaó quere-


lar ho teílamen to de feu hirmaó. fo. lj.
Tit. \xxiij. Como ho padre & madre herdaó ao
filho, & nó o hirmaó. fo. lj. v.
Tit. lxxiiij. Do teíl:ame nto, que nó tem mais que
cinco teílemun has. fo. lij,
Tit. lxxv. Se trazerá o filho aa colaçâ ho que ga-
nhou em vida de feu padre. fo. lij. v.
Tit. lxxvj. Da doaçá que o auoo faz ao neto,
como deue feer trazida aa colaçâ. fo. liij.
Tit. lxxvij. Das preícrip çoés antre os irmáaos :
& quaefqu er outras pelfoas. fo. liij v.
Tit. lxxviij. Como os irmãos naçid0s de danado
coito podé foceder huüs aos outros,

Fim da tauoada do quarto liuro.

No verfo da quarta folha EIRey no trono em audi-


encia da mefma forte, & Jó com alabarde iros com va-
rias figuras , denotan do caminho , & contraél os.
, , No terceiro liuro auemos trautado dos juizos , &
,. autos judiciae s. E porque a mayor parte dos juizos na.
,, ce dos contrau tos feitos entre as partes : & dos quafi
,, contrau tos: & teílamen tos : por tanto entende mos em
., eíle quarto liuro trautar delles.
Acaba o verfo da folha liiij com o feguinte .
,, Acabouf e de emprim ir o quarto liuro das ordena-
" çóes: corregid o & emenda do per o douBor Ruy Boto
,, do confelho de!Rey nolfo Senhor : & chancell er moor
,. deíl:es regnos & fcnhorio s : por autorida de & preuilcg io
,, de
CXVIII IN01cEs DO Coowo MAN. DE 15r4.
,, de Sua Alteza: em Lixboa por Joham pedro bonhomi-
" ni, a~ xiiij dias de Março de mil q~inhentos & xiiij
,, annos.
L I V R O Q_ U I N T O.

,, L Iuro quinto das ordenações com fua tauoada, que


,, affina. os titulos & folhas: & traélafe nelle das caufas
,, crimes & penas daquelles que os cometerem, noua-
" mente corrigido na fegunda empreífam per efpecial
,, mandado do muy alto & muy poderozo Senhor Rey
,, dom Manuel: emprimido: Com preuilegio de. S. Alteza.
,, Seguefe a tauoada para fe por e\la acharem os ti-
,, tulos deíl:e 5. liuro das ordenações dcftes regnos.

Tit. j. Dos hereges. fo. j.


Tit. ij. Da lefa mageíl:ade, & dos que cometem
treyçam contra ho Rey , ou feu real
e fiado. fo. j.
Tit. iij. Dos que dizem mal do Rey. fo. i i ij.
Tit. iiij. Da ordem que ho julgador deue teer no
feito crime do prefo ou acuzado. fo. IIIJ,

Tit. v. Da pena que auerá ho que falfar final ou


felo do Rey : ou outro final ou feio
autentico, ou fezer fcripturas falfas. fo. vj.
Tit. vj. Dos que fazem moeda falfa, ou a defpen-
dé , ou a cerceâ. fo. vj.
Tit. vij. Do que differ te!lemunho falfo, & do
que lho fezer dizer. fo. vij. "'
Tit.
JN01cEs Do Coo1Go MAN, DE 1514. cxIx

Tit, viij. Do que uía de efcripturas , ou teílimu-


nhas falfas. fo, viij.
Tit, viiij. Da pena que auerá o que matar outro
na corte, ou cm qualquer·parte do re-
gno : & do que ferir ou tirar arma na
corte. fo. viij. v.
Tit. x. Dos que cometem pecado de fodomia. fo. viiij. v.
Tit, xj. Do que dorme por força com mulher
cafada, ou religiofa , ou virgem , ou
vJUua. fo. x. v.
Tit, xij. Do que dorme com mulher cafada per
foa vontade. fo. xj.
Tit. xiij. Do que matou fua mulher pola achar
em adulterio. fo. xj.v.
Tit, xiv. Do que dorme com mulher cazada de
feito & nõ de direito per caufa de algüu
deuido ou cunhadio ou de outro impe-
dimento , ou que eílaa em voz & fama
de cazada. fo. xij.
Tit. xv. Do que cafa ou dorme com parenta ou
criada daquelle com que viue. fo. xiij.
Tit. xvj. Do que cafa com duas mulheres, & da
que cafa com dois maridos. fo. xiij. v,
Tit. xvij. Do oficial de!Rey que dorme com mu ..
lher que perante elle requere. fo. x1v.
Tit. xviij. Do judeu ou mouro que dorme com
algüa criílãa, & do crifiaó que dorme
com moura ou judia. fo. xiv. v.
Tit.
cxx: INDICP!S no Coorao MAN'. DI:'. r 514.
Tit. xix. Do que dorme com moça virgem 011
viuua hone!la por fua vontade. fo. x1v. v.
Tit. xx. Q.ue n6 traga nenhüu homé barregâa
na corte. fo, xv.
Tit. xxj. Dos barregueiros cafados , & de fuas
barregãas. fo. xvj.
Tit. -xxij. Das barregãas dos creligos & dos ou~
tros religiofos. fo. xvij.
Tit. xxiij. Das barregaãs que fogem aaquelles
com qu·e viué. fo. xviij.
Tit. xxiv. Das alcoui_teiras & alcayotes. fo. xviij.
Tit. xxv. Do frade que he achado com algüua
mulher que logo feja entregue a feu
major. (a) fo. xviij. 'ti,
Tit. xxvj. Dos refiaés que tem mancebas na man-
~ebia pubrica _por as defenderem &
auerem dellas o que ganhã do pecado
~a mancebia. fo. xviij. ~.
Tit. xxvij. Q.ue n6 façã cafamentos efcondidos,
nem cafe alguü com mulher virgé
ou viuua , que efleuer em poder de feu
pai ou mâi ou auo fem fua vontade. fo, xix.
Tit. vxviij. Dos feiticeiros, fo. xx.
Tit. xxix. Dos que arrenegâ & blasfemã de
Deos & dos feus Santos, fo. xxi.
Tit. xxx. Dos que tirá os prefos do poder daju-
fiiça ou da5 prifooés em que jafem. fo. xxij.
Tit.
(•) Os tit, u, 23 1 ~4, 25 , achaõ-fe 110 Original inferidos entre os tit, 13 e 14.
lNDICEs Do CooJGo MAN. DE 1514. cxx1

Tit. xxxj. Dos que tolhem o penhor aos portei-


ros, ou torna6 mão aa juíliça. fo. xxij.
Tit. xxxij. Dos furtos , & por quaes deue o la-
dra6 morrer. • fo. xxiij. V,
Tit. xxxiij. Da pena que aueram os que achá
aues & efcrauos ou quaefquer outras
coufas & as n6 entregam a feus donos
nem as apregoã. fo, xxiv.
Tit. xxxjv. Em que cafos deué prender os mal-
feitores & poer contra e\les o feito
por parte da jufüça, & a cuja cuíla fe
fará a acufaçam. fo. xxv.
Tit. xxxv. Em que cafos fe procederá por editos
contra os malfeitores que fe aufenta-
rem ou acolherem aas caías dos pode-
rofos por nõ ferem prefos nem citados
em peffoa. fo. xxvij.v.
Tit. xxxvj. Q.!1e nó faça voda~ nem baptismos
de fogaça. fo. xxix. v.
Tit. xxxvij. Dos excomungados & forçadores. fo. xxx,
Tit. xxxviij. Dos excomungados apellados, fo. xxx. v.
Tit. xxxix. Dos que querelã maliciofamente ou
nõ proua6 fuas querelas. fo. xxx. v.
Tit. xxxx. Qye n-'s inquiriçoés deuaças & ju-
diciaes fe pergüte pollo coflume. fo. xxxj.
Tit, xxxxj. Dos jogos defefos & da pena que
auerã os que jogaré c6 cartas ou dados
falfos ou feferem ou venderem da-
dos, q fo. xxxj.
cxxrr lNDICES DO Coorao MAN. DE 15r4.
Tít. xuxij. Que nó dem carta de fegurança em
cafo de feridas abertas ata pa{fare trin-
ta dias , & em cafo de morte ata tres
mezes. fo. xxxj. t1.
Tit. xxxxiij. De como fam defefas as alfuadas
no regno. fo. xxxij.
Tit, xxxxjv. ~e nó faça outrem coutada fen6
elRey. fo. xxxij. t1.
Tit. xxxxv. ~e nó leui: para fora do regno pam,
nem farinha , ·n em gados , nem ouro ,
nem prata , nem caualos , nem armas ,
nem vam fazer nem vender carauelas
fora do regno. fo. xxxiij,
Tit. xxx.xvj. ~e nó comprem caualos aos mou-
ros , nem tirem catiuos per prata nem
per ouro, & os mouros catiuos n6 fe
forrem có ho dinheiro do regno, fo. xxxv.
Tit. x.xxxvij. Do regimento dos alcaides das fa-
cas fobre a paífagem dos gados & ou-
tras coufas defefas pera fora do re-
gno, fo. XXXV,
Tir. xxxxviij. Q!ie os prelados & fidalgos n6
acoute os malfeitores em feus coutos
& honras & bairros né caías. fo. xxxix,11.
Tit._xxxxjx. ~e nó feja dado fobre fiança pre-
fo por feito crime. fo. xxxxij.
Tit. 1. ~e nó faça algüu defafiança nem acoi-
mamcnto por deshonra que lhe feja
feita. fo, xxxxij,-v.
IN01cES no Coo1Go MAN. DE 1514. cxx111
Tit. lj. Em que cafos ho condenado aa morte
poderá fazer teflamento. fo. xxxxiij.
Tit. lij. Dos feitos & prefos que deuem fer tra-
zidos aa corte. fo. xxxxiij.
Tit. liij. Das injurias que ham de fer defem-
bargadas polos juízes da terra & verea-
dores. fo. xxxxiij. v,
Tit. liv. Dos que arrancam marcos fem autori-
dade da jufüça ou confentimento das
partes. fo. xxxxiv.
Tit, lv. Dos coutos ordenados pera fe acoutarem
os homeziados , & dos cafos em que
nelles deué fer defefos. fo. xxxxiv.
Tit. lvj. Do alcaide ou carcereiro que folta o pre-
fo fcm mandado da jufliça , ou o traz
folto, ou lhe foge por fua culpa & maa
guarda : ou fas cadea onde a nunca
ouue. fo. xxxxvj.
Tit. lvij. Dos aduogados & procuradores que
vfam d'aduogar por ambalas partes. fo. xxxxvij.
Tit. lviij. Dos officiaes delRey que recebé ferui-
ços ou peytas , & das partes que lhas
dam ou prometem , & dos que delles
defamam. fo. xxx.x.vij.
Tit. lix, Do que foi degradado por elRey & nó
manteue ho degredo. fo. xxxxviij. 'U,
Tit. lx. Dos almoxarifes que prendem os meflei-
racs por 06 irem aas obras delRey. fo. xxxxix.
qi Tit,
cxxrv IN01c1s oo CooIGo MAN. DE 1514.
Tit. lxj. ~e quando for dada fentença de morte
feja perlongada a execuçam della atee
vinte dias. fo. xxxxix.
Tit, lxij. ~e nos arroidos n6 chamem outro
apelido fe n6 ho de!Rey. fo. xxxxix,f/.
Tit. lxiij. ~e nom leuem pena nem coima do
que tirar arma em defendimento de
feu corpo. fo. xxxxix.
Tit. lxiv. Dos alcaides que deixaó trazer as ar-
mas defefas , & dos almoxarifes & ren-
deiros que fazem auenças, fo. xxxxix. v.
Tit. lxv. Dos alcaides que entrá nas caías dos
bõos mo(hando que bufcam hy algüus
malfeitores, fo.
Tit. lxvj. Q.ue os corregedores & juízes nó con-
füangá homés do concelho pera guar-
dar os prefos faluo quando forem de
caminho, fo, I.
Tit. lxvij Do que fe emforca ou cabe da aruore
& morre. fo. lj.
Tit. lxviij, Q.ue o fidalgo ou valfallo 06 feja en-
famado por erro que faça , ainda que
por elle feja condenado. fo. lj.
Tit,. lxviiij. Da jurdiçá que foi dada ao capitã
de Cepta , e a maneira que hado teer
com os homiziados. fo, Ij.
Tit. lxx. Dos tormentos , e em que cafos feram
(a) dados a os fidalgos & caualeiros. fo, lj. "•
(a) Na r11briça át'lltmftr 1:$,,
IN01c1s DO CooIGo MAN. DE 1514. cxxv

Tit. Jxxj. Q!Je n6 meta a tormento a algüu fem


apclaçá. fo. lij. 'V.

Tit. Jxxij. Dos bulroés , & emliçadores. fo. lij. 'V,

Tit. lxxiij. Dos que fazem ou dizem enjurias aos


julgadores fobre feus officios. fo. liij.
Tit. lxxiiij. Em que cafos os caualeiros & fi-
dalgos & femelhantes peffoas deuem
feer prezos. fo. liij. v.
Tit. lx.xv. Dos que fazem carcere priuado per fy
fem autoridade delRey. fo. Iiiij.
Tit. lxxvj. Q!ie os prelados & fidalgos n6 lan-
ce pedidos · nem emprefiidos em fuas
terras , nem leué íeruentias dos mora-
dores de lias. fo. liiij.
Tit. lxxvij. (a) Q.ue os moradores delRey n6
filhé palha atee duas legoas fen6 por
dinheiro. fo, lv. v.
Tit. Jxxviij. Dos que encobrem os malfeito-
res. fo. lv.
Tit. lxxviiij. Q!ie o que foi acufado por alguu
crime & liure por fentenc;a delRey n6
feja mais acufado por elle, fo. lvj.
Tit. lxxx. ~e os alcaides pequenos façam fegu-
ranc;a quádo pera cllo forem requeri-
dos. fo. lvj.
Tit.
(a) A materia do principio dcll:c tit. corrcíp0ndc a ,11:a rubrica, como a que
ti: acha no tit. f)._11, n6 tome p,j[aa •lg11111a palha na corte fam A/11ará do Al.-
#lof•ue moor: mas a matcria do §. 1, que paffou para os§§. 3. e 4. do Lir. 1.
tit. 15, DO Cod, de 15u, naó comíponde a nenhuma dcll.u,.
cxxvI INDICEs oo Coorno MAN. DE 1514-

Tit. lxxxj. Do que aleuanta volta em concelho


ou perante a juíliça. fo. lvj.
Tit. lxxxij. ~e o alcaide ou carcereiro nó haja
a roupa do prezo que fogir. fo. lvj.
Tit. lxxxiij. Q.ue nõ recebam ao clerigo querella
fem dar fiador leigo. fo. lvj.
Tit. lxxx.iiij. Dos leigos que vaó fazer força em
ajuda dos clerigos. fo. lvij.
Tit. lxx.xv. Do que he ferido ou roubado de noi-
te e as deshoras. fo. lvij.
Tit. lxxxvj. Dos que ham jurdiçam por graça
delRey que nó dem cartas de fegu-
rança em cafo algum. fo. lvij.
Tit. lxxxvij. Dos que ajudam a fogir ou encobrê
os catiuos que fogem. fo. lvij. 'V,

Tit. lxxxviij. Q.!.1e nõ confentam aos morado-


res de Cafiella que venhã em affuadas
aeíles regnos pera malfazer. fo. lviij.
Tit. lxx.x.viiij. Das cartas defamatorias que fe
lançam por maldizer. fo. lviij.
Tit. lxx.xx. Dos que abrê as cartas mandadeiras
delRey ou da Raynha ou doutros fe-
nhores. fo. lviij. v.
Tit. lxuxj. ~e nom haja hy alfeloeyros. fo. lviiij.
Tit. lxxxxij. Das coufas que fam defefas que nó
leuê aa terra de Mouros. fo. lviiij.
Tit, lxx.xxiij. Da pena que auerá os que poem
fogos. fo. lviHj.
Tit.
lNDICES DO CoDIGO MAN. DE r5r4. CXXVII

Tit. lxxxxjv. ~e n6 cacem perdizes nem lebres


nê coelhos com boy • redes, nem fio. fo. lxj.
Tit. lxxxxv. Das pedras falfas & contrafeitas que
.as n6 encaíloem em joya algüa. fo. lxj.
Tit. lxxxxvj. Da pena que auerá os barqueiros
& almoc.reues & carreteiros que mo-
lham o pam que trazem: ou lhe lanc,ã
terra. fo. lxj.
Tit. lxxxxvij. Da. pena que auerá os que fogem
das armadas. fo. lxij.
Tit. lxxxx.viij. Q_ue todos os que teuer cfcra.
uos de guinee os baptizem, fo. lxij. v,
Tit. lxxxxviiij. ~e tanto que o gado fe dece-
par para fe cortar logo fe degole mate
& esfole naquella hora. fo. lxiij.
Tit. c. ~e nenhüa peífoa peça pera inuocaçam
algüa fem moílrar carta delRey pera
ello. fo. lxiij.
Tit. cj. De como os efcriuaês & meirinhos & ou-
tros officiaes ham de teer armas. fo. lxiij.
Tit. cij. Da pena que auerá os aconteadores & fa-
cadores dos pedidos , quando aleuanta-
rê ou abaixarê as contias por pcita. fo. lxjv.
Tit. ciij. Qye nenhila peffoa tragua comfygo ho-
mens efcudados. fo. lxjv, 'U,

Tit. cjv. Dos officiaes culpados em alguns male-


ficios que fe liuram por perdam, fo. lxv.
Tit. cv. Em que cafo o corregedor da corte to-
mará
cxxvnI INDICES Do CooIGo MAN. DE 1514.

mará conhecimento dos maleficios co-


metidos na corte. fo. lxv.
Tit, cvj. Em que lugares nó entrará os degrada-
dos da corte ou de certo lugar. fo. lxvj.
Tit. cvij. ~e ao tempo da prifam fe faça auto
do habito & tonfura do prezo. fo. lxvj
Tit. cviij. Da maneira que fe teerá com os pre-
zos que nó poderem pagar aas partes
as contias em que forem condena-
dos. fo. lxvj . v,
Tit, cviiij Das penas que auerã os que fem li-
cença delRey forem ou mandarem aa
myna, ou qualquer parte de guinee , ou
hindo per fua licença nom guardarem
feu regimento. fo. lxvij .
Tit. cx. ~e pelfoa algüa n6 tenha conchas , é-o-
reis , contas pardas , nem outras per-
tencentes ·ao trauto da myna, nem trau-
te nellas , nem traga da I ndia efpecia~
ria , nem dr~garia fem licença de!Rey,
nem mais da pera que tiuer licença ,
nem a tire no caminho , nem em ella
cidade fem defpacho dos officiaes, & as
penas que hauerã os que ho contrario.
fezerem. fo, lxxij. ti ,
Fim da Tauoada do liuro quinto.

No verfo da quarta folha a mofma Eíbmpa d'EIRey


em
INDICES DO CoDIGO MAN. DE J 514, CXXIX

em audiencia com a eípada defembainhada , & levantada


na mão direita , varios prezos com cadeas de joelhos : á
efquerda por detraz deíles hum homem em pé com hum
papel na mão , que parece fentença,
A folha feguinte, que he a primeira que devia fer nu-
merada , principia :
,, Dos hereges. .,
., No quarto liuro hauemos traél:ado dos contraél:os
11 e tcílamentos. Agora em eíle quinto tratemos dos cri-
,. mcs, & penas d'aquelles, que os cometerem. E por que
,, fobre todos os deliél:os he maior & mais graue a here-
•, fia por fcer cometida contra noífo · fenhor Deus , a
,, que por lei Diuina & Natural todos geeralmente deue-
" mos fee & verdadeira crccnça , portanto entendemos
,. primeiro fallar della.
No verfo da folha LXXIV, ., Acaboufe de empri-
,, mir ho liuro quinto das ordenaçoes, corregido & emcn-
,, dado per o doél:or Ruy Boto chanceler moor deílcs re-
,, gnos & fenhorios, per mandado autoridade & priui-
,, legio deIRey noffo Senhor: em Lixboa per Johã pedro
,, bomhomini aos XXVIII dias .de Junho de mil e qui-
,. nhentos e catorze annos.
No fim della folha huma vinheta como a ultima das
do Liv. I. e II.

PRO-
IN NOMINE DNI NOSTRI JESV XPI.

O PRIMEIRO LIVRO
DA s
-
ORDENA COES. j

T I T U l-, O P R I M E I. R O.
Do Regimento do Regedor da Jujliça na Cefa
da Sopricaçam.

p ORQYE O MAIOR, E MAIS PRINCIPAL


Officio da Juftiça de No1Tos Reynos, e Senhorios, he
o Regimento da Cafa da Sopricaçam , que pola
maior parte do tempo aa Noífa Pe1Toa Real he fem-
pre conjunél:a, por tanto por Nós, e Noífos Socef-
fores fe deue fempre procurar , que o Regedor della
com aprouadas 1 e mui vertuofas qualidades de fua
p~ífoa feja fernpre pera e.fie Officio efcolhido ; pelo
qual elle deue feer homem Fidalguo de limpo fan-
gue , bom , vertuofo , e de muita auétoridade, e pera
mais perfeiçam Letrado, fe for poffiuel , temente a
Deos, e de faã vontade, e boa conciencia, juílo, e
em bondades experimentado, inteiro, e confiante
pera fem alguü peruertimento, nem paixam guar..
dar, e fazer, que a todos igualmente o Dereito, e
Juíl:iça fe guarde; e affi abaíl:ado dos bens tempo-
raes , e do animo principalmente, que fua particu..
l.iv. L A lar
2 Ô PRIMEIRO LIVRO DAS ÔRDEN. TtT. I.

lar neceffidade nom dee caufa a algüa corrupçam


de Nolfa Juíliça; e affi deue de feer de graciofo, def-
pejado , e facil acolhimento aas partes, pera fem al...
güa difficuldade o verem , e fem pejo lhe poderem
requerer fua juftiça , e fobre iffo caridofo, e de pie-
dofa condiçam , com que fempre tenha cuidado, e
grande lembrança de prouer, e efguardar polo bom_.
e breue defpacho das partes, efpecialrnente das pef-
foas de baixa condiçam , e miferaveis , por tal que
fua caufa e ju.ftiça por defemparo , ou minguoa de
requerimento , ou por outros femelhantes defeél:os
( quanto em elle for ) nom aja razarn de fe perder.
Iffo mefmo o Regedor deue feer Noffo natural, que
como bom, e leal Nos defeje feruir , e ame perfei-
tamente Nolfa Peffoa, Eíl:ado , e Seruiço ; porque
affi como a Juíl:iça he a caufa mais principal , por-
que com a graça de Deos por ella Reynamos , e a
ella fobre todalas coufas deíle mundo Tenhamos
por iffo maior obriguaçam, pera com equidade fem-
pre a Guardarmos a todos , affi a razam , e ella mef-
rna Juíl:iça Nos aconfelha, que o Regedor que por
Nós. na dita Caía ouuer de reger feja tal , de que
Noffo Senhor feja feruido, e em que Nolfo cuidado
defcanfe, e Noffa conciencia quanto a itfo ande fem-
pre defcarreguada. E pera o Regedor que ora he, e
qualquer outro que polo tempo for, milhor , e mais
inteiramente cumprir em todo o que a Noffo Serui-
ço , e a feu Officio pertence , Encomendamos-lhe
muito que efte Regimento a miude veja, e paífe po-
la
Do REGIMENTO Do REGEDOR DA JusTIÇA. 3

la memoria efta tam grande confiança , e tam efti-


mado carreguo , que nelle Poemos , por tal , que a
lembrança, e certidam diffo·lhe acrecente por Nof-
fo refpeéro tal vontade, que fobre o prouimento da
Jufiiça , e dependencias della o faça affi deligente •
atento , e folicito, como fobre coufa que Deos mais
ama , e a que Nós fobre os terreaes Somos mais
obriguado , de que fe feguirá, fazendo-o affi bem , e
dereitamente como Efperamos, que por feus traba-
lhos , e tam dignos feruiços , e merecimentos , elle
netle Mundo auerá de Nós, e Nofios Soceffores hon-
ras , merces , e accrecentamento , e de Deos Noffo
Senhor, que fobre todos he juíl:o e mifericordiofo •
no outro fua gloria por maior gualardam pera fem-
pre.
1 E TANTO que o Regedor for affi prouido do
tal Officio, antes que comece feruir, nem faça cou-
fa algüa que ao dito Officio pertença, lhe ferá dado
juramento polo Chanceler Moor em Noífa prefença
na Cafa da Rolaçam em pubrico, e prefente os Def-
embarguadores da dita Cafa na fórma feguinte.

Juramento do Regedor.

2 EU Foam Regedor da Caía da Sopricaçam


,,
,,juro aos Sanél:os Auangelhos , em que ponho as
,, maõs, que nom dei a ninhüa pelfoa, nem darei,
,, nem prometi de dar, nem mandar , nem manda-
,. rei coufa algüa a algüa peífoa por caufa de me
A 2 ,. feer
4 0 PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDIN. TIT. I.
» feer dado o dito Officio , e Carreguo , nem pera o
,, diante o teer; e affi juro que quanto a mi, e aas mi..
u nhas forças, e juizo for poffiuel, eu feruirei o Offi-
,, cio do Regimento da dita Caía , de que Sua Alte-
;, za me fez merce , bem e fielmente como a fervi-
,, ço de Deos , e defcarreguo da conciencia do dito
,, Senhor, e minha comprir, e trabalharei que o De-
,, reito , e Jufüça , inteira e igualmente fe guarde
,, aas partes fem algüa differença, nem refpeéco que
,, aja de grandes , e pequenos , nem de ricos , e po-
,, bres , nem de eíl:rangeiros , e naturaes , por que
,, quanto em mi for fempre procurarei, que a todos
,, fe faça e guarde por inteiro , e em efpecial terei
,, cuidado dos prefos, e orfaõs, e viuuas, e pobres,
,, e peíloas mifera'ueis; e trabalharei quanto em mi
,, for, e o Regimento de meu Offi.cio me der poder,
•• que todos os feitos, e neguocios dos fobreditos fe
,, defpachem bem ,juíla, e breuemente fem algüa
,, paixam de odio, amor, afeiçam , parentefco , nem
,, d'outro fernelhante refpeéco. E iffo mefmo juro, e
,, prometo, que por mi , nem por antrepoíla peffoa
,, nom receberei dadiua, prefente , nem feruiço al-
,, guü de qualquer peffoa que na dita Caía tragua ,
,,, ou aa minha noticia vier , que hade trazer alguu.
,, feito ou demanda , faluo daquelles , com que eu
,. tenha tal diuido e parentefco, ou razam, a que por
» Dereito deua feer fufpeito : e pola dita maneira
,, quando o fouber, nom o leixarei leuar a alguü Def-
,, embarguador , nem Official da Jufti~a da dita Ca-
., fa.
Do REGIMENTO DO REGEDOR DA JusTJÇA. s
,, fa. E affi com deligencia trabalharei, que os Def-
,, embarguadores , Efcriuaés , Procuradores , Mei-
,, rinhos , Carcereiros , e todolos outros Officiaes , e
,, Miniftros da Juíl:iça , que de baixo de meu man- ·
,, dado, e jurifdiçam efteuerem bem, e dereitamente
,, fegundo feus Regimentos feruam feus Officios , e
,, fem efcandalo , cautela , nem delongua guardem ,
,, e façam aas panes em todo Dereito , e J uftiça, aos
,, quaes inteiramente, e fem minguoa algüa farei
,, guardar todalas Leys , e Ordenaçoés do dito Se-
,, nhor, e guardarei as ditas Ordenaçoés; e achando
,, que elles , e cada huu delles affi o nom fazem ,
,, prouerei a i{fo com aquelle remedia , e emenda,
,, como Sua Alteza por fuas Ordenaçoês, e meu Re-
,, gimento me Manda ; e o que por elle nom poder
,, emendar, que a feu feruiço , e bem de Juíl:iça
,, comprir , eu lho farei loguo faber pera o dito Se-
,, nhor o prouer como for Sua Merce. E affi juro,
,, e prometo de em todo guardar fempre o meu Re-
,, gimento , e a fabendas o nom paífar; faluo quan-
,, do , e na maneira que polo dito Senhor me for
,, mandado ; e affi prometo teer fegredo naquellas
,, coufas , que defcobrindo-fe feria perjuizo a ferui-
,, ço do dito Senhor, e a bem de Juftiça das partes,
,, ou contra meu Regimento ; e qualquer coufa que
,, cu fouber, que a bem de Juíl:iça cumpra affi na di,.
,, ta Cafa da Sopricaçam , como em qualquer outra
,, parte de feus Reynos, e Senhorios, que toquem aos
,, Officiaes de Juftiça J e affi peífoas que jurdiçoês de
,. Ter-
6 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. I.
,, Terras tenham do dito Senhor, que n·eceflario fej<\
,, de Sua Alteza o faber,e a que eu por mi, fegundo
,, meu Regimento, e poder, nom poífa prouer, o fa ..
,, rei loguo faber ao dito Senhor, pera o prouer co-
,, mo Sua Merce for : as quaes coufas todas como
,, aqui fam declaradas outra vez juro aos Sanél:os
,, Auangelhos , e prometo e dou minha fee de intei-
,, ramente as guardar e comprir quanto em mi for • .,
O qual juramentu fe efcreuerá no liurinho da Mefa
da Rolaçam , e ao pce delle o Regedor affinará , e
abaixo de feu final todos os Defembarguadores, que
forem prcfentes , affinaram iílo mefmo corno teíl:e-
rnunhas do tal auto.
3 ÜUTRo s1 quando Nós Tomarmos alguü Le..
trado pera a Noffa Cafa <la Sopricaçam , ante que
feito alguü defembargue, o Chanceler Moor lhe to-
mará juramento na Mefa grande prefente todos os
Defembarguadores, e o dito Letrado o fará na forma
que fe fegue, o qual ferá iffo mefmo efcripto no di.
to liurinho da Rolaçam.

Juramento do Defembarguador, que nouamenle entrar


na Cefa da Sopricafam.

4 ,, EU Fuamjuro aos Santos Auangelhos, em


•• que ponho as ma6s , que nom dei a rtinhüa pef..
,. foa , nem darei , nem prometi de dar , nem man ..
,, dar• nem mandarei coufa algüa a algüa pefl"oa por
,, caufa de me íeer dado o dito Officio, e Carreguo,.
,,nem
Do REGIMENTO DO REGEDOR DA Jus,:1çA. 7
,, nem para o diante o teer. E affi juro, e prometo
,, que eíl:e Officio do Defembarguo , ou tal Officio
,, deíla Cafa da Sopricaçam, de que ora ElRey Nof-
,, fo Senhor me fez merce, quanto aas minhas forças,
,, propio entendimento , e verdadeiro juizo for pof-
,, fiuel, eu o feruirei bem , dereita , e fielmente , e
,, guardarei inteiramente o feruiço de Deos, e do di-
,, to Senhor, e o Dereito e Jufüça igualmente aas
,, partes de qualquer natureza, forte , eftado , e pre-
,, minencia, e condiçam que fejam , fem fazer fa_
,, uor, nem agrauo alguü em muito, nem em pou-
" co, e fem adio ·, nem afeiçam , nem algüa injuíla
,, acepçam de peffoas. E affi juro , .e prometo que as
,, Leys, e Ordenaçoes do dito Senhor inteira , e fã ..
., mente guardarei , e as comprirci corno néllas he
,, contheudo fegundo meu verdadeiro juiw. E affi
,, juro, e prometo que por mim , nem antrepoíl:a
,, pe!Ioa nom receberei dadiua , prefente , nem fer-
,, uiço alguü de qualquer peífoa , que tragua, ou a
,, minha noricia vier , que hade trazer feito alguü
,, ou demanda perante mim, ou pender no Juízo, e
,, Mefa em que eu poffa defembarguar , e dar voz ;
,, faluo daquelles, a que eu por dereito deua feer fuf-
,, peito. E iflo mefmo que em qµanto em mim for•
,, e meu juízo alcançar , comprirei em todo o que
u ao dito . meu Carreguo , e Officio pertencer fem
,, minguoa algüa. E affi prometo teer fegredo na..
,., quc;llas coufas , que defcobrindo-fe feria perjuizo
,, ao ferui~o do dito Senhor, e a bem da Juftiça das
., par-
8 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. I.
,, partes. E affi nom requererei por peffoa algüa na
,, dita Caía , faluo por aquellas, pera que me a Or-
,, denaçam daa luguar que o poífa fazer. ,,
5 E .TANTO que o dito juramento affi for torna-
do, e efcripto, o dito Defembarguador abaixo delle
poerá feu final , e auerá no fobredito liurinho tanto
efpaço em branco, que abaixo dos ditos juramentos,
fem fe fazerem outros de nouo , pofi'am affinar os
outros Regedores, e Defembarguadores, que polo
tempo affi jurarem, fendo nouamente por Nós dos
taees Officios prouidos.

Juramento dos Corregedores, e Ouuidores,


e Jui'ze.s de Fúra.

6 OuTRo sI os Corregedores das Comarcas, e


Juizes de Fóra, e Ouuidores que Enuiamos a algGas
Cidades, ou Villas .de Noffos Reynos, e Senhorios>
tanto que por Nós forem prouidos ante de em algüa
coufa vfarem de feus Officios, façam o fobredito ju-
ramento dos ditos !Jeíembarguadores , ( mulatis mu..
tandis) a qual forma de juramento f<:rá apartadamen-
. te efcripta no dito liurinho da Rolaçàm, ao pee do
qual iffo meímo affinaram fegundo forem prouidos,
e enuiados , por tal, que por efta maneira fe efcufe
efcreuerem-fe muitos juramentos particulares: e em
quanto os fobreditos Corregedores, e Juizes de Fó-
ra , e Ouuidores, ou alguü delles. nom teuerem fei ..
to , e affinado o dito juramento, todo o que fezerem
em
Do REGIMENTO Do REGEDOR DA JusnçA. 9

em feus Officio$ por qualquer maneira que feja ferá


ninhuü , e de ninhuü valor como de nom Juízes, e
de nom Officiaes , pofto que Noflas Cartas tenham ;
e elles feram obriguados aas partes a toda perda e
dãno que fe lhe por cllo caufar.
7 E PORQ.YE a primeira , e principal coufa que
em todos os Autos e Officios temporaes fe deue fa-
zer , he encomendarem-fe os homens a Deos , para
que fuas obra'S aderence bem , e a feu fanél:o ferui..
ço , affi por fua infinda bondade os alumie , e esfor-
ce pera confeguir todo bem , e ·efta vertude nas cou-
fas da Jufüça em efpecial deue guardar, pois de to-
das as temporaes ella he a principal , por tanto o
Regedor ordenará, e efcolherá huú Sacerdote, que
em todos os dias pola manham digua Mitra na Rola-
çam á entrada cÍel!a naquelle luguar e cafa , que pa-
ra iílo mais honefta e conueniente lhe parecer , o
qual Sacerdote ferá paguo por affinado do dito Re-
gedor dos dinheiros apropriados pera as defpefas da
dita Rolaçam. E o mefmo Sacerdote pera as ditas
Mitras ordenado terá obriguaçam , e carreguo de
confcffar os homens que forem aa morte condena-
dos, e de hir com elles atee o luguar pera tal jufiiça
deputado, dando-lhes confortos, enfinos, e esforços
taees com que moiram bons chriílaõs, e recebam fua
morte em paciencia com as milhares palauras que
poder, e viir que pera fua faluaçam podem apro-
ueitar.
8 OurRo s1 antre as coufas principacs do Offi-
Li71. 1. B cio
IO Q PR(MEIRO LIVRC DAS ÜRDEN. T1T. J.
cio do Regedor he , que elle com grande cuidado•
e vigilancia deue eícodrinh ar, e faber como os Nof-
fos Deíembarguadores , e Officiaes , que pera admi-
niftraçam da Juíliça fam df'putado s, viuem e vfam
em íeus Officios e Carreguos : conucm a faber , fe
faro negrigent es, e rcmiífos em fcus defembar guos,
ou de efcandalo aas partes, ou fe fam viílos e acha-
dos nelles outros defeéco.s taees , porque feus Officios
affi acerca de Noífo Senhor Deos , como de Nós
nom fejam affi bem feruidos como o deuem feer;
porque quando affi foffe por enformaç am, que deílo
ouueíle, ou por fama, Mandamo s ao dito Regedor,
que chame aquelle tal Noífo Deíembar guador , ou
Official, que nos ditos feitos, ou cada huü delles fof-
fe com prendido , ou infamado , e apartadam ente an-
tre fi o amoeíle, e lhe digua que fe emende, e apar-
te daquello em que affi for infamado , e que confire
como por rcfpeito de Noífo Officio que tem he hon-
rado , conhecido , e eft.imado antrc os bons, e rece-
be de Nós merce, e fe foíl:em ; e affi com quaefquer
outras mais palauras d'amoeíl:açam fegundo a qua-
lidade da. peffoa , e fcus feitos requererem , e a elle
bem parecer. E nom fe querendo cafiiguar, e emen-
dar por aquella primeira vez, dir-lho-h a a fegunda
em prefença d'outros Officiaes de femelhante Offi-
cio , pera que a vergonha , que de feus feitos, e min-
guoas perante elles recebe , o prouoque e obrigue a
emenda e bom corregime nto. E quando de hi em
diante fe nom achaíle emendado , e continuaffe em
feu
Do REGIMENTO DO REGEDOR DA JusTIÇA, 1t

feu máo coílume , nefte cafo o dito Regedor o dirá


a Nós pera com feu bom confelho lhe Darmos aquel-
Je caíligo, que por fua culpa merecer. E porem fen-
do o dito Regedor por certa enformaçam enforma-
do , ou por fama pubrica , que o Defembarguador,
ou Official recebeu algüa dadiua , ou fez falfidade
em feu Officio , elle No-lo dirá loguo fem outra
amoeíl:açam lhe fazer , pera fabida a verdade lhe
Darmos aquella pena , que portam graues caíos fe
merece. E aquelles que achar , que viuem bem , e
vfam de feus Officios como deuem , louua-los-ha, e
honrará entre os outros, e Nos fará faber fua boa fa-
ma e vertude , pera receber de Nós a honra, fauor,
e merce que merece , por tal que a rnerce , e auan-
tagem que aos taees Fezermos por íuas vertudes e
bo:1dades , e o caíl:iguo que Dermos ao que tal nom
for por fuas culpas, feja exemplo aos outros pera
bem viuerem , e fe guardarem de rnáos cuíl:umes.
9 ·AcABADA a dita Mitra que em cada huü dia
fc hade dizer, o dito Regedor ordenará todos os Nof-
fos Defernbarguadores , os quaes em cada huií dia
fará viir mui cedo aa Rolaçam , e os repartirá por
todas as Mefas dos Officios ordenados , dando a cada
húa das ditas Mefas os Defembarguadores que lhe
bem parecer, fegundo a qualidade, e quantidade
dos feitos. Dando porem nos feitos crimes, em que
algúa pelfoa feja acufado por cafo, que prouado me...
receffe morte, ao menos quatro Defernbarguadore s,
pera com o Juiz do feito ferem cinco; e o que pola
B2 maior
12. 0 PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. I.
maior parte for acordado fe dee a execuçam ; e fen ..
do em tal defoairo que nom íejam tres em huü acor-
do , entam dará outro Deíembarguador, ou Defem ..
barguadores em modo, que fempre fiquem tres con-
cordes a condenar, ou a abfoluer , ou remeter aas
ordens, ou em qualquer outro cafo em que fe ouuer
de poer no dito feito fentença definitiua, ou interlu-
cutoria ; e como os ditos tres forem concordes, !a-
guo fe poerá defembarguo, e fe ailinará. E nos ou ..
tros feitos crimes onde nom mereceria morte polo
dito cafo fe prouado foffe , dará ao menos dous Dc:f..
embarguadores , pera com o Juiz do feito feerem
tres ; e o que por dous for acordado fe affinará lo-
guo; e fe dos tres cada huú for em defuairada ten-
çam , fe dará huü terceiro , e concordando-fe com
cada huü dos tres, affi fe ponha o defembarguo ; e
fe o terc~u-o for em outra noua tençam , dará outro
atee que dous fejam concordes em huü defembar-
guo, e eíl:o fe fará affi nas interlucutorias, como nas
definitiuas.
1o E orsPois que forem affentados os ditos Def-
embarguadores, nom confentirá que fe aleuantem das
Mefas onde efteuerem pera algüa outra parte; faluo
com tal neceffidade, ou impedimento,. por que fe
nom polfa efcufar; e paffando a tal neceffidade os
fará Ioguo tornar a feus afTentos , e defembarguos,
de maneira que fe nom polfa perder tempo alguú.
1I TERA' ilfo mefmo grande refguardo, que o
tempo fe nom guafte c:m falas ,.e praélicas nom ne-
cef-
Do R1crMENTo no RtcEDOR DA JusTTÇA. 13
ceffarias , nem em outras femelhantes occupaçoés ,
em que fe guafie o tempo como nom deue.
12 E o tempo que durar o defembarguo na Ro ..
laçam ferá ao menos por efpaço de qua-tro horas in-
teiras paffadas por relogio d'area, que na Mefa onde
o Regedor eíleuer ferá pofto, nas quaes o mais acu-
rada mente que for poffiuel , e com maior cuidado
defernbarguaram os feitos, que neffe dia ouuerem de
defpachar.
13 ITEM no tempo que affi o defembarguo du-
rar , o Regedor nom confentirá que os Fidalguos,,
nem outras peffoas venham aa Rola~am, faluo quan-
do forem chamados; e fe d'outra maneira lá quife-
rem entrar, nom o confenta , e feja-lhe dito que
nom podem por entam lá hir , e que mandem por
efcripto todo o que lhes comprir a quem quiferem.
E os Porteiros que eíl:euerem aa porta teram carre-
guo de leuar os taees efcripros, e trazer as repoíl:as,,
porque d'outra maneira fe impediria o tempo do
defembarguo ; e os ditos Porteiros feram niífo mui
deligentes, fem por iffo leuarem coufa algüa.
14 ITEM quando algüa parte fe agrauar por en-
formaçam d'alguü Official da Juíl:iça da dita Cafa,
e no dito agrauo apontar algúa coura, que tragua
infamia ao dito Official , o dito Regedor em Rola ..
çam com acordo dos ditos Defembarguadores co-
nheça delle , e fe acharem que tal infamia que affi
foi poíl:a ao dito Official nom he verdadeira , faram
emendar, e correger aaquelle, que a dita infamia
pos

li
14 0 PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. J.
pos por prifam , e pena do corpo, ou de dinheiro,
ou por reprenfam de palauras , fegundo for a quali-
dade do feito , e condiçam das peffoas ; e achando o
dito Regedor, e Defembarguadores, que o dito Of-
ficial foi difamado com razam , em tal cafo deue o
dito Regedor reprehendelo de praça perante os ou-
tros Officiaes da Rolaçarn ; e fe o erro for tal , que o
dito Official por ello mereça moor pena que repren-
fam , o dito Regedor em Rolaçarn com acordo dos
Defembarguadores , lhe faça todo correger, e emen-
dar , e caftiguar com aquella pena , que virem que
merece fegundo a culpa for.
1 5 E AO dito Regedor pertence procurar merce ,
e honra aos Defembarguadores , e Officiaes outros
da Juíliça da dita Cafa fobre que tem o Regimento,
fazendo-lhes guardar , e comprir com efeél:o todos
os priuilegios que de Nós , ou dos Reys, que ante
Nós foram , ceuerem por Nós confirmados, e fe me-
fter for o efcreua a Nós pera o affi Mandarmos com-
prir , pois os ditos Officiaes continuadamente eftam
em No1To feruiço.
16 ACABADAS as quatro horas fobreditas do def-
embarguo das Mefas, aquelles Defembarguadores,
que ordenados forem pera fazer as Audiencias na
Rolaçatn , as hiram fazer , conuem a faber, Chan-
celer Moor, e o Juiz dos Noffos feitos; e os Defem-
barguadores das Ilhas faram fuas Audiencias aa fe-
gunda feira , e aa quarta , e aa fefta , conuem a fa-
ber , o Chanceler Moor fará primeiro, e apos elle o
Juiz
Do REcJ MENTO no REc.EDOR DA JusnçA. t 5
Juiz dos Noífos feitos, e por derradeiro delles os
Deíembarguadores das Ilhas.
17 E os Deíembarguadores do Agrauo, e os
Noífos Ouuidores ,e Ouuidor das Terras da Raynha
faram íuas Audiencias aa terça feira , e aa quinta. e
ao fabado, conuem a íaber, primeiro os do Agra-
uo , e depois os Noffos Ouuidores , e defpos elles o
Ouuidor das Terras da Raynha.
18 E Q.!TANDO pola ventura pareceífe ao Rege-
dor , que eílo fe deuia em algüa via outra mudar
por algüas neceffidades , ou caías taees que fobre-
vieífem pera affim fe deuer fazer, ordenalo-ha como
mais Noffo feruiço for , e proueitofo ao bom defpa-
cho dos feitos , e das partes , em maneira que nom
retardem feus defpachos , antes fejam com mais
breuidade deípachados ; porque effe he o mais prin-
cipal fundamento que fe deue teer.
19 E AO Regedor pertence prouer , e conferuar
os Eftilos, e bons Cuflumes acerca da ordenança dos
feitos , que fempre fe cuílumaram , e guardaram na
dita Cafa. E nom confentirá que ninhuü Defembar-
guador entre , nem eílee na Rolaçam com efpada ,
nem punhal.
20 ln:M o Regedor hade mandar paguar das
defpefas da Rolaçam as teftemunhas, que por bem
de Juftiça forem mandadas viir aa Corte a dar feus
teíl:emunhos ; as quaes nunca mandaram viir pera
fe paguarem das defpefas da Rolaçam; faluo por
mandado do Regedor , que o mandará com acordo
da
16 o PitI~EIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. 1.
da Mefa grande, ou quando forem cinco Defembar-
guadores Juizes da caufa fobre que mandam viir as
teftemunhas concordes , fegundo mais comprida-
mente he contheudo nefie Liuro no Titulo Dos Ou-
uidores da Gafa da Sopricaçam.
2r ITEM o Regedor fe enformará cada mes fe as
Audiencias da Corte fam bem feitas , e fe os Efcri-
uaês de cada hüa Audiencia vam continuadamente
primeiro que o Defembarguador, e fe tomam os ter-
mos nas Audiencias , e os efcreuern loguo nellas em
feus protocolos. E aíli fe o Meirinho das Cadeas vai
aas ditas Audiencias como he obriguado , ou quan-
do for ocupado fe manda lá os homen$ que fam or-
denados. E achando que os Defembarguadore8 que
as Audiencias fazem nom oulham por itfo,os amoe-
fte que o façam comprir , cafüguando os que affi
achar_negrigentes como for dereito, do que Man-
damos ao dito Regedor, que tenha muito cuidado;
porque Somos enformados , que por os Efcriuaês
nom hirem cedo aas Audiencias , e nom efcreuerem
loguo os termos como fam obriguados , fe retardam
os defpachos dos feitos.
22 ÜuTRO s.1 os feitos ciueis I que ao Correge-
dor., ou Ouuidores pertencerem, nom fe defembar-
guaram em Rolaçam, faluo por Noífo efpecial Man-
dado , por fe nom tolher o Agrauo delles pera os
Defembarguadores dos Agrauos. ·
23 ITEM Mandamos que os feitos ciueis , que
em Rolaçam forem defembarguados , fejam rela~-
dos
Do REGIMENTO DO REGEDOR DA JusTIÇA, 17
dos perante as partes, ou feus Procuradores, e bem
affi leudas todas as inquiriçoes, efcripturas, e razoés,
que aos ditos feitos pertencerem, perante os Defem-
barguadores do feito, e aas partes , ou a feus Pro-
curadores parecer que algúas das ditas efcripturas,
e inquiriçoes , e aleguaçoes faro efcufadas, e fe nom
deuem de leer; porque em tal cafo fe lerá foornente
o que por todos elles for acordado. E acabado de
Jeer o dito feito , as partes e feus Procuradores fe
fairam pera fóra, e o Juiz do feito dará nelle fua voz
primeiro , e di por diante os outros Defembargua-
dores , que ao feito efi.euerem , e o que pola maior
parte dos ditos Defernbarguadores for concordado
fe comprirá , e dará aa execufam , fendo em os di.
tos feitos ao menos concordados tres Defernbargua-
dores. E em todos os feitos fobreditos que em Ro-
Jaçam fe defpacharem polas mais vozes, como dito
he, fempre a fentença ferá pofta, e efcripta polo
Juiz do feito, poíl:o que elle feja em defuairada ten-
çam, e ferá aílinada polos que no dito acordo fo-
rem; e quando fe a fentença tirar do proceífo ferá
affinada polo mefmo Juiz do feito, pofto que nom
aílinaífe no feito , e foífe em outra tençam. E fe o
Juiz do feito ao tirar da fentença for abfente , paífa-
rá por outro Defembarguador. E fe a fentença for
de qualidade, que quando fe tirar do procefTo haja
de feer aílinada por dous, ou tres Defembarguado-
res , e huü delles, ou dous forem abfentes , paffará
polo que prefente for , e o Efcriuam poerá ao pee
Liv. L C da
18 0 PRIMEIRO LJVRO DAS ÜRDEN. TIT. J.
da fentença como nom paífou polos outros por fe ..
rem abfentes.
24 ITEM pera bom defpacho, e breuidade dos
feitos, Mandamos, que quando alguü feito for final-
mente conclufo , e vifto em Rolaçam, e fe pofer em
elle algüa interlocutoria pera fe ainda auer de fazer
algüa deligencia , o Juiz principal do feito ponha
em lembrança affinada polos Defembarguadores ,
que fe hi acordarem , o que fe fará tanto que a dita
interlocutoria fe comprir, e deligencia vier feita, affi
de nom , como de fi, pera fe cntam loguo affentar a
fentença no feito., e fe affinar fegundo a dita lem-
brança , vendo-fe foomente o que nouamente crecer
fem mais fe tornar a leer todo o feito , a qual lem ..
brança ficará em poder do dito Juiz do feito J e par..
tindo-fe o Juiz fique a quem o Regedor ordenar.
25 OuTRO sr quando algua das partes teuer íuf..
peiçam a alguü dos Defembarguadores, ao tempo
que os ditos feitos · fe ouuerem de defembarguar na
Rolaçam , fará dello enformaçam por palaura ao di..
to Regedor, e elle com acordo dos ditos Defembar..
guadores, que fe hi acharem, a defembarguará ,co..
mo virem que he Dereito ; e fegundo por elle .com
a maior parte dos Defembarguadores for acordado•
affi o mandará comprir ; e o dito Regedor cometerá
o tal feito a outro Defembarguador, que fufpeito
nom feja, e em quanto efteuerem aas vozes febre a
dita fufpeiçam, .o Defembarguador a que foi pofta
fe apartará pera outra parte atee fe fobre ella tornar
con..
Do REGIMENTO DO REGEDOR DA JusTIÇA, 19

conclufam. E por femelhante modo fará o dito Re-


gedor quando alguü fe agrauar do Chanceler Moor
d'alguu defembarguo, que por fi foo der, affi fobre
a fufpeiçam , como qualquer outro cafo que por elle
foo for defembarguado , o qual Chanceler Moor ao
tempo que derem as vozes fobrc o dito agrauo fe.
apartará pera outra parte, como dito he.
26 ITEM quando fe ouuer de cometer alguü fei-
to de nouo a alguü Defembarguador , no cafo on-
de nom ouue fufpeiçam procedida polo Chanceler
Moor , em tal cafo o Regedor ~eue cometer taees
feitos a quem lhe bem parecer, que fufpeito nom
feja.
27 AcoNTECENDO-SE que os Oeíembarguadores
d'algüas das ditas Mefas fejam affi em vozes defuai-
radas, que fe nom poífa poer deíembarguo, em tal
cafo o dito Regedor fará ajuntar com elles outros
Defembarguadores, que vejam o feito fobre que for
o defuairo , e o que a maior parte delles todos affi
juntos acordar fe cumpra. E fendo cafo que em al-
guü feito viíl:o por todos os Defembarguadores , que
ptefentes forem , as vozes forem iguaes em conto,
em tal caio o Regedor dará fua voz, e aquella parte
a que elle fe acoftar preualecerá , e fegundo ella fe
poerá a fentença. E quando o Regedor nom for pre..
fentc, e os Defembarguadm·es forem difcordes quan-
to aas cuftas , fendo em vozes iguaes , ponha-fe na
fentença que feja fem cuftas , e os Defembarguado-
res poderam poer fob feus finaes eram ~m/umptibus,
Cl ou
20 O PRIMl!IRO L1vRo DAS ORoEN. TrT. I.
ou fine famptibus, pera fe poder fabcr a tençam em
que cada huü era. E efto nom auerá luguar quando
o Reo for condenado; porque fempre fegundo Noffa
Ordenaçam ao menos deue feer condenado nas cu-
fias do proceffo.
28 E SE o Regedor viir alguus feitos arduos, affi
ciueis , como crimes, e fentir que ha nelles algüas
taees duuidas , que lhe pareçà feer bem ajuntar al-
guüs Defembarguadores , mais que os ordenados ao
defpacho dos taees feitos , fará ajuntar aquelles que
fufpeitos nom fejam , e neceffarios lhe parecerem, e
com elles defembargue os ditos feitos, e eíl:o faça
cada vez que lhe neceffario parecer. Porem fe o def-
pacho do feito pender fobre embarguos d'alguü def.
embarguo, ou fentença, nom meterá outros Defem-
barguadores ao defpacho, fe nom os que foram no
primeiro dcfembarguo, ou fentença; faluo fe lhe pa-
recer que alguüs dos ditos Defembarguadores fam
fufpeitos de tal fufpeiçam , que a parte nom poífa
prouar, ou outra razam que o moua a No-lo fazer
faber; porque entam mandará fobreftar no defpacho_.
e Nos fará fabcr a caufa que o moue a querer meter
mais Defembarguadores no defpacho dos ditos em-
bargues, pera Nós nitro Prouermos como Nos bem
parecer.
29 E MANDA Mos que em todos os feitos, que affi
em Rolaçam fe ouuerem de defpachar , fempre o
Regedor faça por dar os Dcfembarguadores pera el..
les , fegundo cmcima Düremos , em numero que
nom
Do RtGIMENTO oo REGEDOR DA JusTIÇA. 21

nom fejam pares , affi como tres , cinco , fete.


30 E sE alguü Defembarguador for abfente , ou
em tal maneira impedido, que nom poífa defembar-
guar os feitos , que a feu Officio pertencem, ou que
lhe forem cometidos , o dito Regedor poerá outro
em feu luguar , que os defembargue , e faça as Au-
diencias affi na Rolaçam , como fóra , fegundo per-
tencia fazer ao tal Defembarguador , que affi for im-
pedido, em tal maneira, que por minguoa dos Def-
embarguadores principaes os defembarguos dos fei.
tos nom fejam retardados: e tanto que ceílar o dito
impedimento, ou abfencia, recolherá feus feitos no
ponto, e eíl:ado que os achar, fem lhe ficar feito al-
guü aaquelle a quem o dito Officio for cometido.
Porem vindo algüa das partes com embarguos a al-
güa fentença interlucutoria , ou definitiua dada por
aquelle a quem o dito Officio foi cometido, elle co-
nhecerá dos ditos embarguos , fe na Corte eíl:euer 11
e nom eílando na Corte, cntonce conhecerá dos di-
tos embarguos o proprio Juiz do Officio. E Man-
damos que no cafo onde foífem certos Defembar-
guadores Juízes d':dgüas caufas , affi como os do
Agrauo , ou das Ilhas , e em algüa interlucutoria •
ou incidente defuairaíTem , ou foífem em diuerfas
tençoés por onde o feito foífe a outro Defembargua-
dor, a quem ouueffe de hir, ou a quem o Regedor
o cometeff'e defpois que for poíl:a a dita interlucuto4
ria, o feito tornará a aquelle que foi em defuairo ,e
conhecerá delle com os outros em todo o mais, que
fe
~2 O PRIMEIRO L1vRo nAs ÜRDEN. T1T. I.
fe no feito ouuer de proceífar , affi como conhecera
fe dos outros nom -defuairara, e ferá obriguado a fe-
guir o defembarguo , que polos outros foi acordado,
poíl:o que elle foífe em outra opiniam.
31 E isso mefmo Mandamos, que fe guarde
nos feitos que fe de[pacharem nas Mefas polos Def-
embarguadores , que o Regedor cada dia ordena,
onde fe acontece as mais das vezes cada interlucu-
toria dos ditos feitos feer defpachada por diuerfos
Defembarguadore s; porque feram obriguados os que
derradeiramente vierem aos defpa<:hos dos ditos fei-
tos , affi pera as interlucutorias, como pera dar fen-
tença definitiua , feguirem as interlucutorias polos
outros poílas, ou poílo que já outra vez eíleueífe ao
defpacho da dita interlucutoria , e foífe em contrai-
ra opiniam. E todo eílo que dito he, que os Defem-
barguadores figuam as interlucutorias, pofto que fof-
fem em defuairada tençam • e que fiquem Juízes
como que nom foram em tal defuairo • Mandamos
que iífo rnefrno aja luguar , pofto que o defuairo
foffe em nom receber o libelo , e o libelo foífe rece-
bido.
32 E POSTO Q!TE o Defembarguador feja muda-
do , o feito nom fahirá da maõ do Efcriuam orde-
nado , faluo por fufpeiçam, ou por outro fernelhan-
te impedimento.
33 ITEM nom confentirá , que ninhuu feito dos
que Mandamos defembarguar em Rolaçam feja ·
def pachado, ou vifto polas Cafas dos Defcmbargua-
do-
Do REGIMENTO DO REGEDOR DA JusTIÇA. 23

dores, ou fóra da Rolaçam, foomente polo Juiz que


for do feito, o qual defpois de o tcer vifio o leuará aa
Rolaçam pera ahi o defpachar, fegundo feu Regi-
mento ; e prouando-fe que foi defpachado, ou viílo
palas caías , ou fora da Rolaçam I poílo que o defpa-
cho feja poílo cm Rolaçarn , a tal fentença, ou def...
pacho feja ninhuü , e aalern diffo o Regedor lho
eílranhará, fegundo a qualidade do cafo requerer.
34 Ao Officio do Regedor pertence mandar fa-
zer os paguamcntos aos Defernbarguadores , e ao
Efcriuam dos Noífos feitos , aos quarteis por rol por
clle affinado. E no mantimento dos Defembarguado...
res nom fc fará ninhuü ernbarguo por ninhuü Offi-
cial da Juíl:iça a requerimento de ninhuü creedor,.
foomente por mandado do dito Regedor , e o Pa-
guador que ouuer de paguar norn guardará ninhuü
outro ernbarguo feito no dito mantimento , o qual
lhe nom mandará ernbarguar o dito Regedor por ni-
nhüa diuida; faluo quando achar que o dito Defem-
barguador fez algüa couía em feu Officio por onde
lho deueífe embarguar.
35 E BEM ASSI mandará paguar por feus Alua-
raes em cada huü rnes ao Carcereiro , e Guardas da
Cadea, e Porteiros , e Caminheiros da Rolaçam , e
Miniílros da Juíliça , e a quaefquer outros Officiaes
da dita Caía , que mantimento de Nós teuerem or-
denado. Porem norn mandará paguar a ninhuú Def...
ernbarguador, nem Official do tempo , que nom fer..
uio ; faluo eftando doente na Corte , ou hindo por
:Noífa licença , ou fua, fóra. 36 ÜR ..
24 0 PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. 1.

36 ORDENARA' huü Recebedor, e Efcriuam que


tenha carreguo de receber os dinheiros apropriados
pera as defpefas da Rolaçam , e por Aluaraes por el-
le affinados fe faram as defpefas da Rolaçarn, e fe le-
uaram em conta ao dito Recebedor ; e as contas das
defpefas tornará elle dito Regedor~ ou quem elle or-
denar , e mandará fazer a quitaçam da dita conta, e
com fua viíla ferá affinada por Nós.
37 !TEM o Regedor poderá dar os Officios dos
Caminheiros , e dos Preguoeiros da Cafa da Sopri-
caçarn aas peffoas, que pera ello lhe parecerem per-
tencentes, e lhe paífará fuas Cartas.
38 SE alguüs Noff'os Defembarguadores ,ou Of..
ficiaes teuerem algüas taees neceffidades , por que
Jhes conuenha leixarem de feruir em No!fa Rola-
çam , em tal cafo o Regedor lhe poderá dar luguar ,
e licença pera a ello acodirem por alguus dias, com
tanto que nom paífem de vinte dias em partes , ou
juntamente por todo o anno.
39 Ao Regedor pertence mandar em cada huü
anno efpaçar a Cafa no derradeiro dia d 'Agofio , e
mandará·poer na porta da Rolaçam Aluará, por que
notifica aos Defembarguadores como a Cafa he ef-
paçada por dous mefes feguintes, e que venham
continuar feus Officios , e de_(embarguos ao terceiro
dia de Nouembro, onde Nós Eíteuermos, ou em
qualquer outro Luguar que por Nós for ordenado ; e
mandará aos Efcriuaes , e aos outros Officiaes da di-
ta Caía, que ao dito termo fejam todos no dito Iu-
guar··
Do Rl!CtMENTO Do REGEDOR DA JusTJÇA, 25
gua,r prefentes , e naquelle meio tempo do efpaço
auerá por aleuantadas a_s refidencias aos que andam
por Carta de feguro, e os que andarem prefos fobre
fuas menagens ficaram em Noífa Corte onde quer
que eíleuer , e affi a huns corno a outros mandará
que pareçam ao dito termo onde a Rolaçam efte-
uer.
40 ITEM o Regedor fará executar as penas fobre
os Corregedores das Comarcas, que paffado huü an-
no, des que houuerem poífe de fuas Correiçoês, lhe
nom mandarem a inquiriçam que fam obriguados
tirar fobre o Corregedor que foi ante elle , fegundo
diremos no Titulo Em que modo hade enquerer &r:.
E bem affi quando lhe a dita inquiriçam for enuia-
da , a verá com os Defembarguadores que lhe bem
parecer , e achando o dito Corregedor fobre que foi
tirada fem culpa, No-lo fará faber, dizendo-Nos fe
em todo comprio feu Regimento, e o que nella achar;
e achando que merece feer condenado , procederam
contra elle como for Dereito, e antes que fe pubri-
que a fentença que fobre ello derem , No-lo faram
faber.
41 E coM grande cuidado, e deligencia o dito
Regedor fe trabalhará de faber como o Meirinho da
Noffa Corte , e affi o das cadeas feruem feus Offi-
cios , e fe nelles fatisfazem com as coufas que fam
obriguados , e affi fielmente, corno deuem fazer por
(
Noílo feruiço, e bem de Juíl:iça ; e fe trazem os ho-
mens que lhe fam ordenados, e fc fam taees como
Liv. I. D pe-
26 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. I.
pera as coufas da Juíliça cumpre ; e achando que o
Meirinho da Corte faz o que nom deue em feu Of-
ficio, amoeftalo-ha , e fendo fuas culpas caees por
onde com juíliça fe contra elle deua proceder, man-
da-lo-ha fazer fcgundo fuas culpas merecerem. Peró
quanto aos homens que ouuer de teer , fe achar que
nom fam taees como deuem , aguelles que taees nom
forem , e de que boa enformaçam nom ouuer, lhos
mandará lançar fóra , e tomarâ outros que bem pof-
fam feruir. E quanto ao Meirinho das cadeas , fe
achar que faz o que nom deue , e for comprendido
em alguns erros taees , por que lhe pareça razam
fuípendelo do Officio, podelo-ha fazer, e meter ou-
tro em feu luguar, e mais aalem diílo mandará pro-
ceder contra elle como lhe parecer Juftiça , e No-lo
fará faber pera Mandarmos acerca dello o que Ou-
uermos por bem , e for mais Noffo feruiço. E acer-
ca dos homens guardará o que dito he nos homens
do Meirinho da Corte.
42 E PROVERA' o dito Regedor fobre os Efcri.
uaés da dita Noffa Cafa da Sopricaçam na maneira
feguinte : conuem a faber , fe fazem fieldade em
feus Officios , e fam affi deligentes no feruiço delles
como deuem, e fam obriguados por feus Regimen-
tos, e fe no deípacho das partes fam efcandalofos, e
d.e maas repoftas , ou lhes leuám de fuas efcripcuras
mais do que lhes he ordenado, tirando em cada huü
anno inquiriçam deuaffa fobre elles do que dito he.
E iffo mefmo lhe Damos poder, que quando fe ai.
gua
Do REGIMENTO DO REGEDOR DA JusTIÇA. 27
gua parte queixar d'alguü Efctiuam , que potra fo-
bre ello tirar as teílemunhas que lhe bem parecer,
e aquello que achar que mal fazem emendalo-ha ,
e fará correger como feja razam , e elles fatisfaçam
com o que deuem: e achando alguús comprendidos
em erros taecs, porque mereçam cafüguo nas pef-
foas , ou nos Officios , mandará proceder contra os
taees como com dereito deua , cometendo fuas cul-
pas ao Chanceler Moor a quem o conhecimento
pertence. E Damos-lhe poder que os poífa fufpen-
der , quando em tal culpa os achaffe pola dica de-
uafla , ou inquiriçam , porque com razam affi o de-
ue.fTe fazer, e fufpendidos No-lo fará faber, pera
Mandarmos a maneira que com os taees tenha. Nom
tolhendo porem de o Chanceler Moor poder enten-
der em os ditos Efcriuaés, fegundo a feu Officio
pertence.
43 ITEM prouerá mui a miude fobre o Carcerei-
ro da Corte , fabendo fe ferue bem fcu Officio, ou
nelle faz o que nom deue, mandando tirar fobre ello
inquiriçoes, e trabalhará como acerca do dito Car.
cereiro fempre feja prouido, de maneira que por
minguoa de bom cuidado e deligencia norn po!Ta
elle fazer coufa que nom deua.
44 PoRQ.U E pala ventura alguns Senhores de Ter-
ras, e peífoas que tem jurifdiçam , fe entremeteram
de vfar de mais jurifdiçam , que ;\quella que por as
doaçoes das ditas Terras lhe he dada, de que fe fe-
gue muito Noifo deferuiço , Mandamos ao dito Nof-
D2 fo
28 O PRIMEIRO LrvRo DAS ÜRDEN. Tn. I.
fo Regedor fob carreguo do juramento que tem to..
mado de feu Officio , que fempre fe trabalhe de fa ..
ber fe alguü Senhor de Terra, ou Fidalguo, ou pef-
foa que jurifdiçam tenha, em qualquer modo que
della a jurífdiçam lhe feja dada, vfa de mais jurifdi-
çam que aquella que por fua doaçam lhe foi outor-
guada, e achando que alguü vfa em mais do que de-
ue , nom lho confenta, e procederá contra elles co-
rno com dereito em tal cafo deue fazer: e Manda-
mos ao dito Regedor, que nifto como por coufa mais
principal oulhe , pera feer prouido com todo Noffo
feruiço , e o mais amiude que lhe feja poffiuel ; e
quando pola ventura as peífoas que ifto fezeffem fof-
fem de tal qualidade , que elle No-lo deueífe fazer
faber, o falará a Nós, ou enuiará dizer por fua Car-
ta, fe a Cafa nom eíleuer com Nofco,pera o Prouer-
mos como foffe Noffo feruiço , e muito em efpecial
efta coufa lhe Encomendamos , e Mandamos que
nella proueja.
45 O REGEDOR no cabo de cada huü anno man-
dará fazer huü rol a cada huü Efcriuam de todos os
feitos que na dita Cafa o dito anno fe defpacharem
finalmente, e affi quantos lhe ficam por defpachar,
pera por elle Sabermos os feitos que cada huü Def-
embarguador defpachou, e os que ficam por defpa-
char, pera com deligencia os mandar defpachar no
anno feguinte. ·
46 E BEM ASSI cada mes mandará huü Efcriuam
aa cadea , pera que faça rol de todos os prefos que
na
Do REGIMENTO no REGEDOR. DA JusTIÇA. 29

na cadea efieuerem , no qual rol declarará o dito


Efcriuam os nomes dos ditos preíos , e donde fam
naturaes, e os cafos por que fam prefos , e quem he
feu Juiz, e Efcriuam, e em que termos efiá o feito
de cada huü , pera que fe achar que alguü he retar-
dado, o fazer defpachar com breu idade. E os Efcri-
uaes todos da Noffa Corte faram os ditos roes por
deíl:rebuiçam cada huü fua vez em cada mez.
47 AvEMOS por bem, que daqui em diante ni-
nhuü Deíembarguador tome petiçam algua, em que
fe requeira mandar hir os Autos aa Rolaçam , e as
partes, que taees petiçoes quiíerem dar, as dem ao
Regedor, ou aos Porteiros da Rolaçam, pera que as
dem ao dito Regedor na Mefa, pera as elle veer com
os Defembarguadores do Agrauo ; e Mandamos aos
ditos Porteiros quando lhe as ditas petiçoés forem
dadas , as tomem, e com toda deligencia as apre-
fentem ao dito Regedor, fem por iffo leuarem coufa
algüa. E as petiçoes que fe defpacharem , por que
mandem leuar os Autos aa Rolaçam , que forem fem
final do dito Regedor , Aucmos por bem , que nom
valham , nem fe faça obra algüa polo defembarguo
nellas pofio ; e o Efcriuam que a tal petiçam com
defembarguo, fem nella feer aílinado o Regedor ,
ajuntar ao feito por onde os Autos venham aa Ro-
laçam , feja fufpenfo de feu Officio por íeis rnefes.
E o dito Regedor, pofro que feja em opiniam que
os Autos nom venham aa Rolaçam , fe os Defem-
barguadores do Agrauo forem em mais vozes que
ve-

12
30 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. T.
venham , o Regedor poerá feu final na dita peti-
çam.
48 E o Regedor terá cuidado, que todos os fei-
tos que teuer em Rolaçam, que por petiçam os man-
daffe viir , os fazer defpachar nos derradeiros dias
antes que o efpaço venha, em modo que ninhuú dos
ditos feitos fique no efpaço na Rolaçam.
49 E PERA o Regedor teer milhor ordem no
defpacho das petiçoes, Mandamos , que fempre na
Rolaçam mande eílar huü faco de dous repartimen.
tos, e em huü delles mandará meter as petiçoes que
ainda nom forem defpachadas , e em outro reparti-
mento fe meteram as defpachadas., em modo que
quando fe acabar a Rolaçam cada huü dia • nom fi-
que ninhüa petiçam na Mefa • e fiquem todas reco-
lhidas no dito fac o. E as defpachadas feram tiradas
do faco polo Porteiro , e leuadas a Audiencia dos
Agrauos em cada hi:ia Audiencia, pera o Juiz que
a dita Audiencia fezer as entreguar aas partes, ou
feus Procuradores, e nom efiando prefentes as tor..
ne a recolher , e meter no dito faco donde as tirou.
50 E POR quanto fe mouem algüas vezes duui-
àas antre os Defembarguadores da Cafa da Soprica..
çam , e os da Caía do Ciuel , íobre alguús feitos fe
pertencem a hüa Cafa, fe aa outra, Auemos por bem.,
que quando tal cafo acontecer , .que os Noffos Def..
embarguadores do Paaço fejarn diífo Juízes, os quaes
auida a enformaçam necefiaria , Nos faram de todo
relaçam, e com Noífa Auétoridade determinaram
em
Do REGIMENTO oo REGEDOR DA JusTIÇA. 31

em qual das Caías fe deuem os taees feitos trautar,


e o que por elles acerca deílo for determinado, Man-
damos ao Regedor da Cafa da Sopricaçam , e ao
Guouernador da Cafa do Ciuel , que o façam em to-
do comprir e guardar.
51 O REGEDOR terá carreguo de mandar apou-
fenrar todos os Defembarguadores, Procuradores, e
Efcriuaés , e outros Officiaes da dita Caía , em qual-
quer luguar pera onde a dita Cafa ouuer de hir , e
mandará huü Efcriuam diante por Apoufentador
com huü feu Aluará, e rol das poufadas, que ouue-
rem de feer apoufentadas, o qual dará as poufadas
e camas pera o apoufentamento necefTario , e que
d'apoufentadoria fe cuíl:umam dar a cada huü fe-
gundo feu Officio e merecimento , e fegundo a Caía
que trouxer , apoufentando primeiro os Defembar..
guadores , e defpois os outros Officiaes fobredicos.
E porque alguas vezes acontece , que e!le apoufen..
tamento fe nom faz por ordem, e alguus Defembar-
guadores e Officiaes mandam ao Luguar pera onde a
Cafa ha de hir pedir poufadas a feus amiguos, ou
alugualas, de que fe feguia muitas vezes nom ferem
os Defembarguadores apoufentados fegundo o que a
elles pertence , e as boas poufadas muitas vezes fe
nom dauam a aquelles a que deuiam de feer dadas ,
Mandamos , que daqui em diante ninhuü Defem ..
barguador, nem outro alguü Official ,nem pelfoa que
por qualquer maneira na dita Caía andar, vaa, nem
mande requerer poufadas que fe podem dar d'apou-
fen..
32 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. I.
fentadoria a feus donos das caías, nem as tome del-
les por aluguer, nem por outra algua maneira , foo-
mente as peçam, ou mandem requerer ao Apoufen-
tador, que polo dito Regedor for ordenado, e tome
as caías , eftrebarias , e roupas, que lhe polo Apou-
fentador forem dadas. E fe o Apoufentador achar
alguas caías prometidas por feus donos , ou outrem,
ou já tomadas , as tomará , e dará a outrem , pera
que mais conuenientes lhe parecerem. E o Apou-
fentador , que affi polo dito Regedor for ordenado ,
terá aquelles poderes que ao tal carreguo pert-encem,
e que tem o Noífo Apoufentador. E fe algüas peí:.
foas fe delles fentirem agrauados , conheça o Rege-
dor dos agrauos , e determine o que lhe por Dereito
parecer, e o que por elle for determinado fe cumpra
em todo. E quando a Cafa da Sopricaçam ouuer de
hir pera o Luguar onde Nós Efteuermos, ou pera o
Luguar onde Nós Ajamos de hir, o Noffo Apoufen-
tador apoufentará a dita Caía, e lhes dará o apou-
fentamento neceffario ., e conueniente , fegundo aci-
ma dito he.
52 E Ql1 ANDO o Regedor for abfente·, ficará em
feu luguar o Chanceler Moor fe hi for, e nom fendo
hi , o dito Regedor leixará em feu luguar huü dos
Defembarguadores das petiçoes que for mais anti..
guo , e quando hi nom efteuer , ficará o mais anti..
guo dos Agrauos , ou No-lo fará faber pera niffo
Prouermos o que for mais Noffo feruiço.

TI-
Do C H AN e E L ER Mo o R. 33

TITULO U.

o
Do Chanceler Moor-.

CHANCELER Moor he o fegundo Officio


da Cafa da Sopricaçam , e apos o Regedor della , e
de grande confiança, e em que muita parte da Juíl:i-
ça pende , por tanto pola dignidade de feu Officio
Deuemos efcolher pera elle tal homem, que feja de
boa linhagem , e bom fifo, difcreto, e letrado, e ver-
tuofo, de sã vontade , boa conciencia , e juíl:o , e de
graciofo e bom acolhimento aas panes, pera que os
que com elle teuerem que neguociar fem algüa dif-
ficuldade o virem requerer ; e de tal entendimento,
e memoria , que faiba conhecer os erros e minguoas
das efcripturas, que por elle ham de palfar, e que fe
lembre que nom fejam contrairas hüas das outras ;
e que inteiramente guarde os fegredos da Juftiça ; e
de tam bons cufturnes e auél:oridade , que honre o
luguar em que he por Nós pofto, e deue amar a
Nós, e a NoíTo Eílado , por tal que elle po(fa e faiba
feruir feu Officio affi inteiramente como a ello he
obriguado, e como compre a Nolfo feruiço , e a bem
de Noffos Vaffalos e Pouo.
1 E TANTO que do dito Officio for prouido, an-
te de o feruir, nem delle coufa algüa vfar, o Rege-
dor da dita Cafa lhe tomará juramento na Mefa gran-
de perante todos os Defembarguadores , que entam
forem prefentes, neíl:a forma e maneira feguinte:
Liv. l. E 2 EU
34 O PRIMEIR0 .L1n.o DAS ÜRDEN. TIT. li.
2 u EU Foam Chanceler Moor juro aos San-
,, étos Auangelhos , em que ponho as maõs , que
,, nom dei a ninhüa peífoa , nem darei , nem pro-
,, meti de dar, nem mandar, nem mandarei coufa
,, algüa a algüa peífoa por caufa de me feer dado o
,, dito Officio e Carreguo, nem pera o diante o ceer.
,, E affi juro e prometo, que [egundo meu enten-
.,, der, e verdadeiro juízo ferua bem, e dereitamen-
,, te eíle Officio de que me ora EIRey Nolfo Senhor
,, fez Merce. e guarde inteiramente feu Regimento
,. a feruiço de Deos, e de Sua Alteza, nom encarre-
,, guando minha conciencia , mas antes fielmente
,, com muita deligencia e cuidado faça e guarde
a, juíliça, e dereito igual aas partes de qualquer na.

,, tureza, forte, eíl:ado, e condiçam que fejam, fem


u odio, amizade, ira , nem outra afeiçam ou refpe-
" éto de caufas , ou peífoas , dando a cada huu feu
,, dereito, grande, pequeno, rico , pobre , natural ,
,, eíl:rangeiro , fem me mouer roguo, medo, peira,
,, ou intereífe. E affi juro de nom tomar por mim
., nem por outrem prefentes, dadiuas, ou feruiços
,, de qualquer peífoa que tragua, ou a minha noticia
,, vier, que ha de trazer perante mim demanda, fal-
,, uo daquellas a que eu por Dereito deua feer fuf.
,, peito. E affi prometo teer fegredo naquellas cou-
" fas , que defcobrindo-fe feria perjuizo ao feruiço
,, do dito Senhor, e a bem da juíl:iça das partes , ou
,, contra meu Regimento. Outro fi verei todas as
., Cartas q.eligentemente ante que as aillne, e nom
,, as
Do C H AN e E LER M o o R. 35
11 as paffarei , nem affelarei íe nom forem como de-
,, uem, e affi nom requererei por peífoa algüa na di-
,, ta Cafa, faluo por aquellas, pera que me a Orde-
,, naçam dá luguar que o poffa fazer, e todo efto ju-
" ro, e dou minha fee guardar, e manter, íegundo
,, meu entendimento comprehender. ,,
3 Ao Chanceler Moor pertence veer com boa
deligencia todas as couías , que por qualquer manei-
ra por Nós, ou por Noffos Deíembarguadores , e Of-
ficiaes pera effo ordenados, forem por Cartas defpa-
chadas , atee que fe affelem , e vendo pala decifam
da dita Carta, ou Sentença , que vai expreffamente
contra Noffas Ordenaçoes , ou Dereito, fendo o erro
expreílo na dita Cart<} , ou Sentença , por onde con-
ftaífe pala meíma Cana , ou Sentença íeer em fi ni-
nhüa , em tal cafo nom as alfele , e ponha-lhe fua
glofa , e eílo quando as Cartas forem affinadas por
os Deíembarguadores , porque fendo affinadas por
Nós, nom as deue glofar , nem chancelar , mas de-
ue-as trazer a Nós pera Nos dizer as duuidas que
nellas tem ; e as que affi gloíar mande-as polo Por-
teiro aa Rolaçam, e fale com o Defembarguador, ou
Defembarguadores , por que a Carta , ou Sentença
palrou; e fe antre o Chanceler Moor, e o Deíembar-
guador , ou Deíembarguadores que o defembarguo
affinaram , for differença fobre a dita glofa , deter-
m inar-fe-ha a dita differença perante o Regedor com
os Defembarguadores , que pera iffo lhe parecerem
necefiarios, e pa {fará como hi for determinado po-
E2 la
36 O PRIMElRo LrvRo DAS ÜRDEN. Tn. II.
la maior parte. E eíl:o auerá luguar affi nas Cartas,
e Sentenças que forem dadas , e defembarguadas em
Rolaçam , como em as que por huü , ou dous , ou
mais Defembarguadores paírarem.
4 E SE achar algüas de Graça contra Noíros De-
reitos , ou contra o Pouo , ou Clerezia , ou algüa ou-
tra pefToa que lhe tolha , ou faça perder feu de rei to,
nom a affinará , nem mandará aílelar atee que fale
com Nofco, ou com aquelles que Nós Ordenarmos
pera femelhantes duuidas determinar quando For-
mos abfente. E as Cartas por que Nós Damos do
Noffo nom as affelará, faluo fe primeiramente fo-
rem regiíl:adas na Fazenda polo Efcriuam, que pera
ello for ordenado, e as Nós Defembarguarmos por
Noffa Ementa, fendo taees , e de tal qualidade, que
por Noffa Ementa deuam de paffar ;- e quando paffar
as Cartas que por a dita Ementa forem paíradas ,
nom as affinará atee primeiro veer a dita Ementa , a
qual o Efcriuam da Chancelaria lhe leuará, ou man-
dará leuar.
5 O Chanceler Moor mandará aos Efcriuaes ,
que façam as Sent~nças ,e Cartas dos defembarguos,
que em feus Officios ouuerem de fazer, em maneira
que fejam bem feitas, e efcriptas ,e por fua minguoa
nom fejam glofadas , nem as partes por ello detheu-
das ; e fendo algüa Sentença , ou Carta glofada j u-
.ftamente, de modo que fe deua faz.er outra de no-
uo, fe o tal erro for por culpa do Efcriuam, o Chan-
celer Moor lhe faça loguo tornar aa parte todo o dí.;.
nhei-
Do C H A N c ELE R Mo o R. 37

nheiro que por ella recebeo , ou fazer outra de gra-


ça; e fe for por culpa do Oefembarguador, ou Oef-
embarguadores que a paffaram , elles a paguem ao
Efcriuam que a fezer , e o Chanceler Moor deter-
minará por cuja culpa fe glofou.
6 T ANTo que as Cartas forem viflas polo Chan-
celer Moor, e achar que nellas nom ha duuida pera
leixarem de paffar , poerá nellas feu final acuftuma-
do, fegundo os feios forem, e as mandará prefente fi
affelar ao Porteiro da Chancelaria , e poer em huü
faco, que elle çarrará, e affelará, e affi bem çarrado,
e affelado o leue loguo fem detença algua dereita-
mente aa Cafa da Chancelaria, pera fe auerem de
dar as ditas Cartas perante o Recebedor, e Efcriuam
della.
7 ITEM o Chanceler Moor conhecerá de todas
as fufpeiçoés poftas aos Veedores da Fazenda, e Oef-
embarguadores, e a todolos outros Officiaes da Cor-
te, e cometerá os feitos em que elle os ditos Oef-
embarguadores , e Officiaes ouuer por fufpeitos , ou
fe ellcs lançarem por fufpeitos defpois de fecr a fuf-
peiçam procedida por elle. E mandará fazer as co-
miffoes a taees peffoas ,.que fejam fem fufpeita , fa,.
J.:>endo primeiro das partes fe forem prefentes , ou de
feus Procuradores, fe tem fufpeiçam a aquelles a que
os feitos por elle forem cometidos , fazendo-o fem-
pre o mais a prazer das partes que bem poder; e dlo
fará affi quando fe ouuer de fazer comiffam por bem
de fufpeiçam pofta a alguú Defembarguador , ou
qual-
38 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. JT.
qualquer outro Official da Corte; faluo nas fuípei-
çoes que julguar dos Veedores da Fazenda , defpois
de julguados por fufpeitos nom cometerá os feitos
a outrem em feu luguar, mas as partes ,ou feus Pro-
curadores fe louuaram , fegundo he contheudo no
Regimento da Fazenda no Titulo Dos f7eedores da
Fazenda. Peró onde for poíla fufpeiçam em prefen-
ça do Regedor a alguü Defembarguador, que ao def-
pacho do feito eíleuer em Rolaçam , ou no cafo em
que fe o Defembarguador der por fufpeito antes de
a fufpeiçam feer procedida polo Chanceler Moor,
nom conhecerá entam o Chanceler Moor diffo ,nem
cometerá; por quanto ao Regedor pertence, fegundo
que he declarado em feu Regimento..
8 ITEM ao Chanceler Moor pertence faber, fe
alguus Efcriuaés , ou Tabaliaés leuam mais de fuas
eícriptµras, ou bufcas , que aquillo que he contheu ..
do em feus Regimentos , e Noffas Ordenaçoes , as
quaes fará em todo comprir e guardar'.
9 ITEM ao Chanceler Moor pertence pubricar
as Leys , e Ordenaçoés por Nós feitas , na fua Au-
diencia, e affi as mandar pubricar na Chancelaria ,
que com Nofco anda., ou com a Caía da Soprica-
çam • e mandar os treslados dellas fob feu final , e
Noílo feio, aos Çorregedores das Comarcas. forem
como qualquer NofTa Ordenaçani for pubricada em
cada hua das ditas Chanceladas, e paffarem tres me-
fes defpois da dita pubricaçam , Mandamos que ]o..
guo ajam efeéco , é vigor, e fe guardem em todó,
• pofto
Do C H A N e EL ER M o o R. 39

pofto que nom fejam pubricadas nas Comarcas, nem


em outra algüa parte , ainda que nas dicas Ordena-
çoes digua , que Mandamos que fe pubriquem nas
Comarcas , por quanto as dicas palauras fam poíl:as
pera fe milhor faberem, mas nom pera feer neceffa-
rio, e leixarem de teer força como fam pubricadas
na No{fa Chancelaria paffados · os ditos tres mefes. ·
Porem em Noífa Corte aueram efedo , e vigor , co-
mo paffarem oito dias defpois da dita pubricaçam.
10 hEM o Chanceler Moor dará eílas Cartas, e
defembarguos que fe eguem, affinadas por elle, e
em Noífo Nome : conuem a faber , as Cartas das
Aprefenraçoês das Igrejas a aquelles, que por Nós
a ellas forem aprefentadas.
11 ITEM as Cartas dos Tabaliaes affi geraees co-
mo efpeciaes de todas as Cidades , e Villas , e Lu-
guares de Noffos Reynos , que por Nós forem da-
dos.
12 ITEM todas as Cartas dos Officios dos Efcri-
uaes affi na Corre , como na Cafa do Ciuel , e de to-
dos os Chancereis , e Efcriuaes ,. e Prometores das
Correiçoés. E fe alguús dos taees ham mantimento
com os ditos Officios, dar-lhe-ham os Veedores da
Fazenda as Cartas dos mantimentos de cada huü
anno , e as dos Officios dará o Chanceler Moor.
13 ITEM as Cartas dos Efcriuaês que fam dados
aos Tabaliaes por Merce que lhes Fazemos pera por
elles feruirem ; e bem affi as Cartas, porque fe dam
Efcriuaes aos Chancereis , e Efcriuaes das Correi ..
çoes,
40 0 PRIMErRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. II.
çoes , por Merce que lhes Fezermos pera por elles
feruirem.
14 ITEM ha de dar todas as Cartas d'Efcreuani-
nhas da Juftiça de todo o Reyno.
15 ITEM dará Cartas de Procuradores da Noílà
Corte, e Cafa da Sopricaçam, e affi da Cafa do Ci-
uel , os quaes feram examinados , fegundo Diremos
nefie Liuro no Titulo Dos Promradores.
16 ITEM dará as Cartas dos Porteiros affi da
Chancelaria , como da Rolaçam , e dante os Corre-
gedores da Corte, e das Comarcas, e das Audiencias
das Alfandeguas.
1 7 ITEM dará Cartas que pertencerem ao Efiu-
do, e Lentes.
1 8 ITEM dará as Cartas dos Contadores das cu-
fias, e Deílrebuidores, e Enqueredores em quaefquer
Luguares de Nofios Reynos.
19 I T-EM dará Cartas dos Officios dos Caminhe·i-
ros das Comarcas.
20 ITEM quando Nós Ouuerrnos por bem fazer
MePCe a alguüs Efcriuáes , que nas coufas que per-
tencerem a feus Officios polfam fazer finaes pubri-
cos , e dar fee como Tabaliaês pubricos 1 paflaram
as Cartas por o Chanceler Moor.
21 ÜUTRO s1 dará as Cartas pera pedirem efmo-
las , e tirarem Confrarias , a aquellas peffoas que fo-
rem enlegidas, e aprefentadas polos Conuentos, ou
Officiaes das Confrarias, que pera ello teuerem Nof-
fa licença. Dos quaes Officios todos fobreditos , que
Dif-
D o C H A N e E L E R M O O R. 41

Diffemos que as Cartas paffaram polo Chanceler


Moor , a dada ferá Noflã , e norn do dito Chanceler
Moor , ora paffem por os ditos Officios vaguarem
por qualquer modo , ou por erros de fa aj/i he. As
quaes Cartas nom paffará fem veer Aluará por Nós
affinado , o qual hirá em ellas encorporado.
22 ITEM o Chanceler Moor dará os Officios dos
Tabaliados , e Enqueredores , e Deftrebuidores , e
Contadores, quando lhe forem pedidos por fa ajfi he,
em todos os Luguares , e Villas de Noffos Reynos ,
que nom forem Cidades , nem Villas notaueis , as
quaes Villas notaueis fam Santarem , Leria, e Oli-
uença , e Guimaraes. E fe em alguü dos Luguarcs , e
Villas cm que elle por fi póde dar os ditos Officios
por ft ajfi be , Nós primeiro Dermos cada huü dos
ditos Officios a algüa peífoa , eile lhe mandará fazer
fuas Cartas por os Aluaraes que lhe diífo Pafrarmos.
E concorrendo a Noífa dada por Aluará , e affi a do
Chanceler Moor por fua Cafta paífada por Noífa
Chancelaria , auerá efeéto aqueUe Aluará , ou Carta
que primeiro for feita, com tanto que aqudle que o
Noífo Aluará ouue o aprefente na Noífa Chancela-
ria dentro de oito dias da feitura delle.
23 E NAS Cartas de Tabaliados que o Chanceler
Moor paffar mandará poer como cada huü dos Ta-
baliaes, que affi leuar a dita Carta, leua o Regimen-
to de feu Offi.cio da Noífa Chancelaria, e que as Nof:.
fas Juftiças lho façam pubricar no Concelho, e na
Camara do Luguar donde forem Tabaliaês.
Liv. 1. F 24 1TEM
42 0 PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. II.
24 ITEM dará as Cartas com treslado d'Ordena-
çoes , e artiguos, ou d'outras quaefquer coufas que
fejam regiíladas, quando fe fob Noffo relo pedirem.
25 ITEM dará Cartas, por que os Tabaliaês dem
os eílromentos por as notas prefente as partes , e
com falua.
26 OuTRo s1 paffará Cartas de execuçoés das di-
zemas das fentenças , que fe derem na Corte , e co-
nhecerá dos feitos que fobre ello fe ordenarem , os
quaes defembarguará em Rolaçam.
27 ITEM o Chanceler Moor defembarguará em
Rolaçam quaefquer duuidas que fobreuierem , fobre
o que deuem paguar de Chancelaria de quaefquer
Cartas que por elle paffarem , fegundo Diremos no
Titulo Do Ejcriuam da Chancelaria.
2 8 ITEM dará os Officios , e Cartas de Procura-
dores nas Correiçoes de Noffo Reyno , e dante os
Juizes da Terra, aas peffoas que graduados riom fo.
rem , e aquelles a que affi ouuer de dar os ditos Offi.
cios feram examinados por çlle, fe fam autos pera os
ditos Officios ; e os que fem fuas Cartas , e Prouifoes
procurarem , poíto que por auétoridade d'alguü Se.
nhor de Noffos Reynos o façam, Mandamos que fe.
jam prefos , e da cadea paguem vinte cruzados,
a.metade pera a Noffa Camara , e a outra metade pe..
ra quem os acufar, e fejam degradados huü anno fo.
ra da Villa e .Termo onde procurauam , e nunca
mais ajam Officio de Procurador ; faluo fe os taees
Senhores teuerem Notfo efpedal Priuilegio pera iflo.
E
Do C H A N e ! t :E R Mo o R. 43
E quanto aos Graduados de Gráo de Bacharel• e di
pera cima cm Dereito Ciuel, ou Canonico, procura-
ram. e auogaram em todo Nolfo Reyno fem pera
ilfo auerem Carta do Chanceler Moor, faluo na Cor-
te e Cafa do Ciuel, (por que neítes fe comprirá o que
Diremos no Titulo Dos Procuradores ) ou nas Correi-
çoés, ou Alçadas que Enuiarmos polo Reyno, onde
ouuer numero certo de Procuradores por Nós orde-
nado, por que eíles nom poderam hir procurar per-
ante e1les fem Nolfa licença.
29 ITEM dará Cartas de feguro aos Tabaliaes, e
Efcriuaês I e aos outros. Officiaes • cujas Cártas de
feus Officios Temos order1ado por elle auerem de
paffar • quando as quiferem tomar de erros. ou fal-
fidades que fe diguam terem cometidos nos Offi-
cios , ou cafos que aos ditos Officios tocarem , por
que d'outros c_afos que ao~ ditos Officios nom toca ..
rem nom dará Cartas de feguro. As quaes Cartas
de feguro que affi der hiram dirigidas pera os J ui..
zes das Cidades, e Villas, e Luguares onde fe diífe..
rem os erros , e falfidades contheudos nas ditas Car..
tas ferem cometidos , pera perante elles fe liurarem,
dando apellaçam e agrauo pera o Chanceler Moor,
nos cafos em que fe deue dar; faluo nos cafos que fe
diíferem feer cometidos dentro de cinco leguoas ,
donde a Noíla Cafa da Sopricaçam, ou o Chanceler
Moor fe com Nofco andar apartado da dita Caía, ao
tal tempo eíleuer ; por que entonce paffaram dirigi-
das pera o Chanceler Moor , pera perante elle fe li-
F2 ura ..
44 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDIN. TIT. II.

urarem. E por efie modo Declaramos, que potra co-


nhecer por auçam noua nos fobreditos cafos no Lu-
guar onde por o dito modo eíleuer , e a cinco le-
guoas derredor. E fora das ditas leguoas conhecerá
de todo o Reyno nos ditos cafos por apellaçam e
agrauo. E todos os ditos feitos e eíl:ormentos, affi os
d 'auçam noua , como d'apellaçarn e agrauo, defpa-
chará em Rolaçam. Porem nos fobreditos cafos d'Of-
:ficiaes da Cafa do Ciuel , e affi da Cidade de Lisboa,
ou d'outro qualquer Luguar onde a dita Cafa do Ci-
uel eíleuer, conhecerá o Chanceler da dita Cafa, fe-
gundo fe contem em eíl:e Liuro em feu Titulo.
30 ITEM todos os Tabaliaes, e Efcriuaes a que
elle ouuer de paílar Cartas dos Officios por qualquer
modo que feja, ham de feer examinados polo Chan-
celer Moor, fazendo-os leer, e efcreuer perante {i ,
e fe viir que bem efcreuem , e bem leem, e fam per-
tencentes pera os Officios, dar-lhes-ha fuas Cartas,
e ficará o final pubrico do Ta.baliam na Chancela-
ria , e affi affinará com elle húa teíl:emunha como
elle he o proprio que pede o Officio.
31 E DECLARAMOS, que todo o que Diífemos
nos Officios fobrediros , affi nos da Nofia dada, co-
mo do Chanceler Moor, nom auerá luguar nos Of-
ficios , que por Noílas Doa~oes , ou dos Reys paíla-
dos por Nós confirmadas, alguüs Senhores de Ter-
ras, ou Fidalguos· de Noffos Reynos tenham poder
de os dar; porque em taees cafos fe compriram fuas
Doaçoês, na forma que Diremos no fegundo Liuro
no Titulo De como as Raynhas e Infantes. 32
Do CHANCELER MooR. 45
32 ITEM acontecendo que alguü Tabaliam, ou
Efcriuam feja enfermo, ou em tal maneira impedi-
do, que peffoalmente nom poífa feruir feu Officio ,
o Chanceler Moor poderá encarreguar outro, que
ferua o dito Officio, e faça pubrico, e eíl:o foomen-
te nos Luguares onde a dada pertencer a elle; peró
a Prouifam diffo nom paííará fem primeiro No-lo
fazer faber, e dello auer Noífo Aluará.
33 ITEM conhecerá dos agrauos , que vierem
dante os Contadores das cuílas, e tambem conhece..
rá dos falarias dos Procuradores , e Efcriuaês , e Ta-
baliaes , e Porteiros , e Enqueredores.
34 E MANDAMOS, que em todos os cafos que o
conhecimento pertence ao Chanceler Moor, elle def-
pache por fi foo, e do que defpachar cada húa das
partes fe poderá agrauar aa Rolaçam por petiçam ,
fem paguar dinheiro d'agrauo , faluo nos cafos que
neíl:e Titulo Diífemos ex:preffamente, que conheça
em Rolaçam ; porque eífes defpachará com os Def-
embarguadores, que lhe o Regedor der.
35 ÜuTRO sr quando o Chanceler Moor for im-
pedido , ou abfente do Luguar onde a Cafa eíl:euer,
leixará os feios a cada huü dos outros Defembargua-
dores, que feja das Petiçoês, ou Agrauos, com pa-
recer do Regedor; o qual os terá, e defembarguará
todos os feitos , que ao Chanceler Moor pertence-
rem. Porem quando por alguüs dias ouuer de feer
fua abfencia , o fará faber a Nós, pera Vermos fe
aquella pefioa , a que os ditos felos leixa , he tal que
del-

\J
46 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. II.
delles deua feer encarreguado. E eíl:a mefrna manei-
ra fe terá quando de Nós a Caía ouuer de eíl:ar apar-
tada, e os ditos feios fe ouuerem de dar a alguü,
que com Nofco aja de andar.
36 ITEM todas as Canas que paffarern polosDef-
embarguadores do Paaço , que ouuerem de leuar
Noffo PalJe, e affi por quaefquer outros Noffos Offi-
ciaes, que ouuerem de hir aa Ementa, nom as paf-
fará fem as veer na Ementa , ou Noffo Paf!e.
37 ÜuTRO se o Chanceler Moor dará juramento
a todos os Officiaes , e peíloas abaixo declaradas ,
quando nouamente lhes Dermos os Officios ,e efpe-
direm fuas Cartas pala Chancelaria : conuem a fa_
ber , ao Condeíl:abre , Regedor da Caía da Soprica-
çarn, Guouernador da Caía do Ciuel , Veedores da
F'azenda , Efcriuam da Puridade , Almirantes, Ma-
richal, Capitaés dos Luguares d'Alem, e das Ilhas,
e a todos os Officiaes Moores da Noffa Caía , e do
Reyno , e Fronteiros Moores , e affi a todos os Def...
embarguadores da Caía da Sopricaçam , e do Ciuel ,
e aos Corregedores das Comarcas, e Juízes de Fora.
E quanto hc ao Regedor , e Guouernador , e Veedo...
res da Fazenda, lhes dará o juramento na forma que
em os Títulos de feus Officios he declarado. E aos
Defembarguadores , e Corregedores das Comarcas ,
e Juízes de Fora, dará o dito juramento na forma
que no Titulo precedente he contheudo. E ao Con ..
deíl:abre , e a todos os outros Officiaes acima nornea..
dos, ferá por o dito Chanceler Moor dado juramen..
to 1
Do C H AN e E L E R Mo o R. 47

to , que bem e fielmente feruarn em todo feus Of-


ficios , fegundo per feus Regimentos lhes he orde-
nado, e guardaram inteiramente Noíl'o feruiço, e De-
reito , e Juíliça aas partes. E dará iífo mefmo o di-
to Chanceler Moor juramento a todos os que Fezer..
mos do No{fo Confelho , o qual lhe ferá dado ao
tempo que tirarem fuas Cartas da Chancelaria, os
quaes juraram em eíl:a forma, que bem e fielmen-
te Nos dem feu confelho , quando por Nós lhe for
requerido , e que inteiramente guardem Noffos fe-
gredos fem os defcobrirem em tempo alguü, fe nom
quando lhe por Nós for mandado, ou elle"s forem
pubricados , e affi qualquer coufa de Noílo feruiço ,
que toque a Noífa Peífoa , e Efiado, elles No.lo fa ..
ram faber o mais preltes que poderem.
38 E MANDAMOS ao Chanceler Moor, que tan.
to que a cada húa das fobreditas peífoas der o dito
juramento ponha nas cofias da Carta fua fee por
feu final , como lhe deu o dito juramento ; e a Car-
ta que paífar fem leuar a dita fee, Mandamos que
feja ninhüa, e fe nom cumpra , e ficará a Nós pro.
uer do tal Officio , como for Noífa Merce.

TI.
48 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. III.

TI TU LO III.

Dos Dejembarguadores do Paaço.

A OS Defembarguadores do Paaço pertence def-


embarguar as petiçoês de Graça, que alguú Nos pe-
~, em caufa que aa Juíl:iça poffa tocar. E os def-
pachos que nas fobreditas coufas ouuerem de paf-
far, feram com No{fo Pajfe.
1 A ELLES pertence defembarguar com Nofco
as Cartas dos perdoes, que fedam aos homiziados t
os quaes iífo mefmo fempre paífaram com Noífo
PajJe.
2 E No receber das petiçoes dos ditos perdoés
teram a maneira abaixo declarada. ,
3 ITEM em todo cafo onde ouuer parte nom
tomaram petiçam algüa fem trazer perdam de todas
as partes a que tocar , ou fe forem dos cafos con-
theudos no Titula Daquelles que dam aa prifam os
malfeitores , e poflo que diguam que nom querem
acufar, ou que leíxam o feito aa Juftiça, e dello tra-
guam certidam , nom lhe feram recebidas as peti-
çoes , nem as taees certidoés lhe feram auidas por
perdam , faluo trazendo expreílo perdam das par-
tes.
4 E st alguü pedir perdam de morte em rixa
paff"ados doze annos, em tal cafo façam viir as de-
uaílas , e tendo perdam das partes , prouando-fe as
mortes em rixa noua, feja-lhe dado perdam, com
tan-
Dos DESEMBARGUADORES no PAAÇo. 49

tanto que vaa feruir a Cepta, ou a cada huú dos Lu-


guares Noffos d' Africa, cinco annos compridos con-
tinuadamente , fem lhe feer dada licença pera di fa-
hi r pera outras partes , e nom lhe feja mudado eíle
degredo pera outros Coutos, nem minguoado o dito
tempo. E fe as mortes forem por cajam, mandem
trazer as inquiriçoes que fobre ellas forem tiradas, e
tendo perdoes das partes fejam vi fias· e examinadas,
e fegundo as prouas dellas , e culpas dos matado-
res , affi lhes fejam dados os perdoes ou de todo li-
uremente , ou com algüa pena, fegundo o cafo me-
recer.
5 E PORQ!JE nas inquiriçoes deuaifas que affi
fam tiradas aas vezes nom fe proua claramente a
culpa , porem moíl:ram-fe por ellas alguiís indicias 1
e prefumpçoês fufficientes pera tormento I fe prefos
folfem os que affi fam culpados , que os ditos per-
does pedem , ou alguüs outros indícios , que nom
fam fufficientes pera tormento , Auemos por bem >
que em taees cafos polfam os homiziados feer perdoa-
dos com alguas penas de deg,redos de certos annos
pera os Noffos Luguares d' Africa , ou pera outros
Coutos, fegundo as culpas em que fe moíl:rarem •
com tanto que as ditas mortes fejam em rixa, e os
doze annos fejam patfados , e que tenham perdoés
das partes.
Deferidas.
6 ITEM fe a petiçam for de feridas , ou panca.
das , preguntem aa parte que a der, quantas feridas
Liv. I. G fo-
so o PRIMtzao L1vRo oAs ORoEN. T1T. nr.
foram , e porque luguares , e fe as partes fam fem
aleijam dellas , ou com que aleijam , e affi o declare
na petiçam.
Dos furtos.
7 SE for de furtos faça nella declarar os furtos •
quaes, e quantos fam , e a valia delles, ·e o luguar
em que foram, affi como he eíl:rada , ou Igreja, ou
outro tal que altere a culpa do que tal furto fez , e
quanto tempo ha.
Defoguo.
8 SE for petiçarn de foguo , que fez dãno alguü,
faça declarar nella as peífoas a que o dãno foi feito,
e a quantidade do dito dãno.
De adulterio.
9 SE for d'adulterio faça declarar {e foi leuando
rnolher cafada, ou por força , ou fe leuou com ella
algüas coufas do marido.
De virgindade.
10 SE for petiçam de virgindade, declare fc foi
o corrompimento por força , ou por vontade , ou fe
leuou a molher corrompida, e fe nom trouxer eíl:or-
mento de perdam da parte, e de feu pay, e mãy >
fe os teuer, ou de feu Tutor, ou daquelle com que
viuia ao tempo que foi corrompida, nom a tome..
De fogida da cadea.
J1 ~ANDO alguü pedir perdam de fogida da.
cadea, faça-lhe declarar fe fogio foo , fe com outros,,
e a maneira per que fogio. E fe fogio com outros
faça viir a inquiriçam deuatra da dita fogida , e fe
por
Dos DEsEM'BARGUADORES oo PAAço. 51
por ella fe moílrar , que foi feita ofenfa peffoal ao
Alc-aide , ou Carcereiro , ou Guarda , faça-lhe trazer
perdam dos ofendidos. E no defembarguo lhe feja
poíl:o , que fe liure dos cafos , porque era prefo , to-
mando Carta de fegurança do dia que a Carta de
perdam lhe for dada a quinze dias, ou moftre como
ja dello he liure por fentença final.
De Carrereiro , ou d'outra pejfoa a que fogem prefos.
12 SE for d'alguü a que fogio alguü prefo, ou
prefos , faça-lhe declarar quantos eram , e por que
maleficios cada huü jazia , e por que modo lhe fogi-
ram, e fe tinham partes que os acufaífern , ou eram
acufados por parte da Jufüça; e declare fe eram Car.
cerciros , fe Meirinhos, ou Guardas , ou homens que
os leuauam pera alguüs Luguares, ou fe os guarda-
uam por conílrangimento , fazendo fempre viir as
inquiriçoés deuaffas por razam das ditas fogidas ti-
radas, e dos que tinham partes façam trazer perdam
dellas , e dos que eram acufados pola Juíl:iça certi-
dam por e[criptura pubrica , de como as partes fo-
ram citadas , e nom quiferam acufar.
De aleuanlamento de degredos.
13 SE forem d'alçamento de degredos decla-
rem por que maleficio foi degradado, e quanto ha
que mantem o degredo; e fe o degredo foi pera Lu ..
guar certo , faça-lhe mofrrar certidam por e[criptu-
ra pubrica com o treslado da verba do liuro , em
que fe aífentou quando começou a feruir o dito de-
gredo• e proua de tefiemunhas que por juramento
G2 di-
52 O PuMEIRo L1vao DAs ÜRDIN. Tn. III.
diguam , que faberri elle teer feruido o dito degredo
na maneira em fua petiçam declarada. E em todo
cafo de releuamento de degredo , aquelle que o pe-
dir ferá obriguado moílrar fentença do Iiuramento
que ouue , quando lhe o dito degredo foi pofto, e
delle fe fará rnençam na Carta do perdarn. ·
De manceba de Creliguo.
14 SE for manceba de Creliguo, ou de Frade, ou
de homem cafado, digua fe ouue ja do dito cafo ou-
tro perdam , ou foi por ello degradada , e fe mante.
ue o degredo que lhe foi pofto.
Dos cefos em que nom ha de receber peliyam.
15 hEM de morte de prepofito. Item de moeda
falfa, cerceamento della. Item de falfidade de efcri-
pturas , ou de finaes , e de teíl:ernunho falfo. Item do
Carcereiro, ou Guarda, que foltar os prefos por pei-
ta. E de falteadores de caminhos. E de quebranta..
mento de carcere. Item dos que ferem, ou fazem
out_ro q1.1alquer mal, ou dãno por dinheiro. Item de
paíladores de gaados. Item de feiticeiros. Item do
que der peçonha a alguem, poíl:o que morte fe nom
figua.
E aalem das Cartas dos perdoes paflaram com No.ffa
Pajfe as abaixo contheudas.
1 6 ITEM Cartas de priuilegios e liberdades., que
forem d'ordenançà aas peffoas, que por Noffas Or..
denaçoês forem outorguados , que nom fejam , nem
toquem Dereitos, Rendas , e Tributos Noffos.
1 7 ITEM Cartas de legitimaçoês , confirmaçoês
de
Dos DEsEMB.ARGUADORES no P A Aço. 53
de perfilhamentos , e de doaçoes que alguüs fazem
a outros.
1 8 ITEM Cartas de reíl:ituiçam de fama, e qual-
quer outra habilitaçam.
19 hEM Cartas de finta.
20 ITEM Cartas d'Officios de fefmarias naquelles
Luguares que a Nós pertence a dada, e nom perten-
cer a outros Noífos Officiaes por feus Regimentos.
E as Carias que podem paflar /em Nojfo Pafle
Jam as feguintes.
21 ITEM Cartas de confirmaçoes das eleiçoes dos
Juizes Ordinarios,ou dos Orfaõs, quando a elles vie-
rem.
22 ITEM daram Cartas d'emizade em aquellcs
caías, em que por Dereito e Eíl:ilo de noífa Corte fe
deuem dar. As quaes Cartas nom daram contra Nof..
fos Corregedores, Ouuidores, Juizes, nem alguus
outros Julguadores.
23 ITEM Cartas tuitiuas.
24 ITEM Cartas de manterem em poífe os apel ..
lantes , ou tornarem a ella , fe defpois da apellaçam
forem esbulhados. lílo mefmo refütutorias de quaef-
quer poífuintes, e esbulhados, pofto que apellantes
nom fejam.
2 5 ITEM Cartas de emancipaçam, as quaes nom
paffaram por ninhuüs Qutros Defembarguadores ,
nem Officiaes de Juíliça, nem per quaefquer pef..
foas de qualquer qualidade que fejam , que qualquer
jurifdi~am teuerem , nem por fe.us Ouuidores ; e
paf-
54 O PRIMEIRO LrvRo oAs 0RotN. Tn. IV.

paffando-a , a dita Carta feja ninhüa , e de ninhuü


efeéto , e o que a palfar perca o Officio que teuer, e
nunca o mais aja, e mais pague cincoenta cruzados ,
ametade pera quem acufar , e a outra metade pera
os catiuos ; e fe for Senhor de Terra , perca a jurif~
diçarn que teuer.

------- ------- ·---


TITULO IV.

Dos Defimbarguadores do Agrauo da Gafa


da Sopricaçam.

A OS Defembarguador~s do Agrauo da Cafa da


Sopricaçam pertence conhecer dos fe.itos , que por
agrauo a elles vierem , fegundo he contheudo no
terceiro Liuro no Titulo Dos agrauos das fentenças
definitiuas , e a maneira que teram no defpacho de) ..
les ferá a (çguinte. Se o feito for fentenciado por os
Sobrejuizes da Çafa do Ciuel , ou Ouuidores , ou
Corregedor da Noífa Corte , ou por qualquer ou-
tro Julguador de que fe potra agrauar pera a Noffa
Corte , fe dous Defembarguadore s do Agrauo fe
acordarem com a fentença dada polos fobreditos , e
a confirmarem , Ioguo effe feito por effes dous affi
concordantes feja findo , e determinado, e fe ponha
fentença.
1 E sE os ditos dous Defembarguadores fe acor..
darem ambos em reuoguar tal fenten5a , veja effe
fei-
Dos DEsEMB. DO AcRAVO DA CASA DA SoPRiç. 55
feito outro Defembarguador do Agrauo por tercei-
ro , e fe acordar com os outros dous dem loguo to-
dos cres no feito final liuramenco, e ponham a fen-
tença ; e fe effe terceiro for em defuairo dos outros
dous ,_em cal cafo vaa o dito feito a quarto ;e fe con-
cordar com os primeiros dous a reuoguar, ponha-fe
a fentença por dles tres ; e fe e!fe quarto concordar
com o terceiro, ou for em outra defuairada tençam ,
vaa a quinto ; e fe o quinto concordar com alguas
das duas tençoés, ou a reuoguar, ou confirmar, po-
nha-fe fentença fegundo o que por os ditos tres for
concordado ; e fe for em outra defuairada tençam ,
em maneira que nom fejam conformes tres em húa
tençarn, corra os mais do Agrauo fe os hi ouuer atee
a rnoor parte fe acordar em hüa tençam. E tanto
que a maior parte for acordada em hua tençam lo-
guo fe ponha fentença. E fendo corridos todos os do
Agrauo fem a maior parte fe acordar em hüa ten-
çam , e nom ouuer mais do Agrauo , affi por alguu
feer fufpeito, como por qualquer outra maneira , em
tal cafo ferá trazido aa Mefa principal perante C? Re-
gedor , o qual verá fe pode concertar os ditos Def-
embarguadores do Agrauo , que fuas tençoes tem
pofias pera fe poer fentença , e nom os podendo con-
certar , entonce meterá na dita Mefa os mais Def-
embarguadores que lhe bem parecer, e tornadas as
vozes dos do Agrauo, que ja viram o feito com os
mais que na Mefa e!leuerem , o determinaram fe-
gundo forem as mais vozes • e affi fe poerá a fen-
tença. 2 E
56 O PRIMEIRO L1vn.o DAS ÜRDEN. TrT. IV.
2 E EM caío que os primeiros Defembarguado-
res fejam defuairados em fuas tençoês, e huü for em
reuoguar a fentença , e outro em a confirmar, feja
o dito feito dado a terceiro ; e acordando-fe com o
que for a confirmar, poerá loguo a fentença fegun-
do acordo d'ambos; e fe o terceiro fe acordar com
o que he a reuoguar , .ou for em outra noua tençam,
entonce hirá a quarto , e fe terá a propria fórma que
Ditfemos no parrafo precedente.
3 E o que dito he, que tres abaíl:aram concor.;.
des pera reuoguar, nom auerá luguar nos feitos que
por agrauo vierem dante os Ouuidores das Ilhas ,
porque por as fentenças dos ditos Ouuidores paífa-
rem por tres, nom abaftará pera ferem reuoguadas
outros tres , mas feram ao menos quatro co~cordes
a reúoguar. Porem pera confirmar abaftaram dous
concordes , e no mais modo do defpacho fe terá a
fórma , que em cima Diífemos.
4 E PORQ.YE muitas vezes acontece,que nas ten..
çoés farn concordes em parte, e defuairados em ou ..
tra parte, ou concordes no principal , e defuairados
nas cuílas , e por bem do dito defuairo vai a outros
mais Defembarguadores, fegundo emcima Diffe-
mos , Mandamos que em tal cáfo aquelle Defem-
barguador a que affi for por terceiro, ou quarto , ou
quinto , ponha fua tençam foornente na parte em
que for o dito defuairo; porque quanto na parte em
que já os outros Defembarguadores ficam cóncor-
des, he já aquirido dereito a aquelle por quem fam
con..
Dos DESEMB. Do AGRAVO DA CAS.A DA SoPRtc. 57

concordes , e fegundo as ditas tençoes fe ha de poer


a fentença por aquelles que concordaram , poíl:o
que na outra parte, ou nas cuftas em que era o def-
uairo , fe aja de poer por os mais Defembarguado-
res , que fobre o dito defuairo poferam as mais ten-
çoes , a fentença em aquello que acordarem fobre o
defuairo, fobre que foi a elles.
5 ITEM os ditos Defembarguadores do Agrauo
defpacharam por tençoes os Eílorrnentos d'agrauo 1
ou Cartas teíl:emunhaueis , que de qualquer Luguar
de Noífo Reyno a elles vierem , que a feitos crimes
nom pertençam, ou que a outros Julguadores efpe-
cialmente nom pertencerem por Noffas Ordenaçoes,
e como forem dous concordes , ora a. confirmar ,
ora a reuoguar, poeram o defembarguo fegundo fuas
tençoés ; e fe forem em dcfuairo hirá a terceiro , ou
quarto, e di por diante atee ferem dous em con-
cordia.
6 E Q!lANoo ouuerem de defpachar Eftormen-
tos, ou Cartas teflemunhaueis, em que alguu Con.
celho feja parte, o defembarguaram em Rolaçam •
e teram a forma de defpachar em Rolaçam, fegun-
do Difiemos no Titulo Do Regedor que fe auiam de
defpachar os feitos e-iueis em Rolaçam.
7 !TEM daram ajuda de braço fegral em Rola ..
çam , citadas as partes , e vifto o proceífo, e achan...
do que foi ordenadamente feito, a qual ajuda de bra-
ço fegral nom fe dará na Caía do Ciue[, nem em
Liv, L H ou-
58 O PRIME(RO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. IV.

outra algüa parte , fe nom em a Noffa Caía da So..


pncaçam.
8 E MANDAMOS, que fe alguü Defembarguador
deípois que teuer poíla íua tençam fc finar , ou for
abfente do Reyno, tal cençam feja auida por ninhüa,
e hirá o feito a outro Defembarguador do Agrauo.
E efla maneira fe terá em todos os outros feitos, que
por quaefquer outros Defembarguadores fe ouuerem
de defpachar por tençoês.
9 ITEM os Defembarguadores do Agrauo conhe-
ceram das petiçoês d'agrauo, que forem dadas ao
Regedor , fegundo em feu Titulo he contheudo , e
affi dos feitos que por defembarguo poílo nas dicas
petiçoês vierem aa Rolaçam. E os agrauos de que
por petiçam podem conhecer a elles fe podem agra-
uar , fam osfeguintes.
10 !TEM de todas as interlucutorias, e manda-
dos de quaefquer . J uizes , ou J uftiças da Cidade ,
Villa, ou Luguar onde Nós efteuermos, ou a Cafa
da Sopricaçam > nom fendo fobre coufa de Notfa Fa-
2.enda, nem de Noífos Dereitos, nom tolhendo po-
rem aas partes poderem agrauar das ditas Juftiças
por periçam pera o Corregedor da Corte , fegundo
em feu Regimento he contheudo, e do que elle nos
d.itos agrauos mandar poderam agrauar tambem
pera os ditos Defembarguadores do Agrauo.
li ITEM . de todos os termos e mandados, que
quaefquer Defembarguadores da Cafa da Soprica-
çam
Dos DEsEMB, Do AcnAvo D.A CASA DA SorRrc. 59
çam mandarem cada huü por fi foo nas Audien-
cias , ou fora dellas em qualquer feito ciuel , ou cri-
me, que fe ha de deípachar em Rolaçam ., e de que
nom ha d'auer agrauo da fentença definitiua. E bem
affi de qualquer interlucutoria , que cada huü dos
fobreditos Defembarguadores , que pôr feu Regi-
mento por fi foo pode poer interlucutoria em feito
crime, poíl:o que aja de deípachar cm Rolaçam , e
pofer a dita interlucutoria por fi foo, poderam agra-
uar por petiçam pera os ditos Defembarguadores.
12 E Q1J AN To aas imerlucutorias e mandados ,
que o Corregedor da Corte dos feitos ciueis pofer,
ou mandar nos feitos • que elle conhecer por auçam
noua , e affi o Ouuidor das Terras da Raynha nos
feitos ciueis, ou outro Defembarguador femelhante,
ou outro Defembarguador a que cometermos alguü
feito, que por fi foo defembargue, de que aja d'auer
agrauo na fentença final , poferem , ou mandarem •
nom auerá agrauo por petiçam aa Rolaçam ; por
quanto no agrauo da fentença final fe pode prouer
aos femelhantes agrauos ; faluo quando tal agrauo
for de interlucutoria, cm que fe nom receba por ca-
da huü dos fobreditos algüa contrariedade , ou de-
fefa, ou reprica , ou treprica , ou parte de cada hüa
dellas , nom tendo ja outro termo pera poder corre-
ger, ou fazer outra , ou de interlucutoria, ou man-
dado fobre dilaçam grande , ou pequena , que fe der
pera fora do Reyno , ou de incompetencia do Juizo;
por que neftes cafos , ou cada huü delles, poderam
H 2 por
60 o P1HMEIRO LIVRO DAS Üil.DEN. TJT. IV.
por petiçam agrauar; e quando o agrauo affi por pe-
tiçam for aa Rolaçam fobre a dita contrar-iedade, ou
reprica ; ou treprica. pofio que achem que a derra-
deira de que fe agraua nom he de receber, fe lhe pa.
recer que a primeira, ou fegunda foi de receber , re-
ceber-lha~ham os ditos Defembarguadores do Agra-
uo.
IJ E BEM ASSI poderam agrauar dos mandados
das Audiencias , que cada huü dos Ouuidores dos
feitos crimes da dita Cafa da Sopricaçam , ou quem
por elles a Audiencia feztr, mandar em os feitos ci-
ueis de que conhecerem como Sobrejuizes.
14 E POR quanto aas vezes os Defembarguado-
res que as Audiencias fazem , e affi os que por feu
Regimento cada huu por fi foo ha de defpachar,
por as partes nom poderem agrauar dos termos , e
mandados que na Audiencia fe auiam de mandar, f1
affi das intetlucutorias qu.e por elle foo auiam de paf..
far , de que podiam agrauar • nom querem mandar
fobre o que lhe requerem na Audiencia, nem que..
rem defpachar cada huü por fi foo, fegundo feu Re-.
gimento , mas mandam fazer os feitos conclufos (o ..
bre os taees termos, e os defpacham em Rolaçam •
e affi defpacham em Rolaçam o que por cada huü
íoomente auia de feer defpachado por tolherem o
agrauo, ~erendo euítar que fe nom faça Manda-
mos, que fe cada huü dos Defembarguadores que
as Audiendas fazem nos termos, que fe nas Audien-
cias foem rnandar J affi como dila~oes aas partes , e
ou-
Dos DtsEMB. DO AcRAvo DA CASA DA SoPRJC. 61

outros fernelhantes , e bem affi nas coufas que por


feu Regimento ham de defpachar cada huü por fi ,
e de que podem agrauar , e defp.icharem os ditos
termos·, ou mandados, ou fentenças em Rolaçam,
que em taees cafos fem embarguo de ferem defpa-
chados em Rolaçam , que as partes poífam agrauar
dos taees defpachos affi poíl:os em Rolaçam, affi co-
mo poderam agrauar fe por fi foo defembarguara a
tal interlucutoria, ou termo na Audiencia.
1 5 E AS petiçoes , porque fe am ílgrauarem de
cada huü dos fobreditos Defembarguadores con-
theudos nefle Titulo, fer.am affinadas polo Procura..
dor do feito, e achando-fe que he contraira aos Au-
tos, e nom he feita na verdade do que jaz no feito -,
ou he feita manifeíl:amente contra Dereito , paguará
o tal Procurador por cada enformaçam que affi fe-
zer mil reaes pera as defpefas da Rolaçarn.
16 E Q.YERENDO dar fórma que aos Defembar-
guadores do Agrauo fejam deíl:rebuidos-tantos feitos
a huü como a outro , Mandamos , que daqui por
diante aja huü foo liuro de deílrebuiçarn , pera fe
deílrebuirem os feitos, e Efiormentos d'agrauo antre
os Defembarguadores do dito Agrauo por igual, tan-
tos a huü como a outro,. o qual liuro de deílrebui-
çam terá aquelle, que for Defirebuidor dos ditos fei-
tos do Agrauo antre os Efcriuaes delle. E ao tempo
que deflrebuir os feitos antre os Efcriuaês, deíl:re-
buirá loguo a qual Defembarguador vai o dito feito,
e lho carreguará na dita deftrebuiçam , e poerá loguo
por

1-1
62 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. IV.
por fua letra no dito feito a que Defembarguador
vai. E nos feitos que vem da Caía do Ciuel, que
va m a alguüs Efcriuaes fem fe deftrebuirem antre
os outros Efcriuaes , Mandamos , que tanto que fo-
rem trazidos ao Agrauo antes de as partes razoarem,
o mefmo Defüebuidor os deílrebua antre os Defem-
barguadores , e lhe ponha a que Defembarguador
vai. E pera os auer de deftrebuir, fará o dito Defire-
buidor no Iiuro da deíl:rebuiçam dos Defembargua-
dores Titulo Dos feitos grandes, e outro Dos pequenos,
e affi dos Eftormentos d'agrauo, ou Cartas teftemu-
nhaueis, em modo que fejam a huú Defembargua-
dor deílrebuidos tantos grandes , e pequenos , e affi
tantos eftormentos como a outro. E aquelles feitos
que deftrebuir por grandes, ou pequenos aos Efcri-
uacs, affi os deíl:rebuirá por grandes, ou pequenos
aos Defembarguadores.
17 E PORQ.UE Somos enformado, que os Eíl:or-
mentos d'agrauo, que vem de quaefquer Juftiças de
Noffos Reynos, fe nom deílrebuem polos Efcriuaés
antes que os Defembarguadores os defpachem, foo-
mente qualquer Efcriuam dos Agrauos que quer
lhe poem hüa aprefentaçam • e com ella o daa aa
parte na maõ, que o Ieue ao Defembarguador a que
elle quer, do que fe feguem muitos inconuenientes,
por os euitar Ordenamos , e Mandamos , que daqui
por diante todos os Eftormentos d'agrauo,ou Cartas
teftemonhauei~ que vierem , fejam deílrebuidos po-
lo dito Deftrebuidor , que os feitos dos agrauos def-
tre ..
Dos DEsEMB. Do AGRAVO DA CAsA DA Sonuc. 63
trebue , e o Eícriuam a que for defüebuido )he po-
nha a aprefentaçam , e o faça concluío ; e em quan-
to nom for deíl:rebuido , ninhuü Eícriuam lbe nom
ponha apreíentaçam , fob pena de perdimento do
Officio; e ao tempo que o dito Deíl:rebuidor o defire-
buir ao Eícriuam, os deíl:rebuirá ao Defembargua-
dor, como em cima dito he. Dos quaes Eflormen-
tos os ~itos Eferiuaés nom daram a viíla aa parte
que os trouxer ; faluo fe a outra parte contraira da-
quelle que agrauou for prefente, e confentir , e qui-
fer , que elle, e a fua parte ajam . a vifta do dito
Eftorrnento. Porem fe o que agrauou ajuntar aoEftor-
mento d'agrauo ante que o aprefente algüa peti-
çarn , porque declare feu agrauo, nom lhe ferá tira-
da, e por a tal petiçarn affi junta nom ferá contado
ao Efcriuam vifta. E vindo a outra parte contraira
do que agrauou, antes que o Eftorrnento feja defpa-
chado finalmente , e aéhando que o dito Agrauante
ajuntou algüa petiçam ao dito Eílormento , feja-lhe
dada a vifta do dito Eílormento fe a quifer, pera re-
fponder aa dita petiçam, e alcguar de feu dereito ; e
nefte cafo fe contará ao Efc.riuam vifta deíl:a foo par-
te que a pedio. E fe defpois de o Julguador veer o
dito Eftormento, mandar que a parte agrauante, ou
outra contraira declare qualquer coufa, neíle cafo
fe contará tambem ao Efcriuam vifta daquella par-
te• ou partes que a ouuerern. E ferá auifado o Efcri-
uam do Eílormento, ou Carta teftemunhauel, que
defpois que o dito Eftormento for pubricado , e for
dado
64 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TTT. V.
dado a elle dito Efcriuam , o nom entregue mais aa
parte, e o guarde como he obriguado de guardar
todos os feitos, faluo fe o defpacho for, que perten-
ce a outros Juízes, porque entam fe dará aa parte
pera o leuar a quem pertence.

TITULO V.

Do Corregedor da Cor/e do-s feitos crimes.

AO Corregedor da Corte pertence o conheci-


mento por noua auçam de todos os maleficios co-
metidos no Luguar onde Nós efteuermos, e derre-
dor cinco leguoas, com tal declaraçam, que fe alguü
Cortefam cometer alguü maleficio no Luguar onde a
Noífa Corte efteuer contra outro Cortefam , ou con-
tra alguü morador no Luguar onde a Corte eíl:euer ,
e a cinco leguoas derredor , ou contra alguü de fora
do dito Luguar onde eíl:euer a Corte , e eíl:e Corte-
fam for acufado por tal crime perante o Corr~ge-
dor, hu quer que a Corte entam eíl:ee, que elle
nom poffa recufar feu Juízo, e pedir I que o reme-
tam aos Juízes do Luguar onde o deliéto for come-
tido.
1 E sE a parte ,ou Juftiça o quifer acufar peran-
te os fobreditos J uizes do Luguar onde o deliél:o for
cometido, e elle requerer que o remetam ao Corre-
gedor da Corte J Mandamos , que lhe feja remetido,
ora
Do CoRREG. DA CORTE DOS FEITOS CRIMES. 6$
ora feja acufado prefo , ora foi to, pofio que a outra
parte nom confenta. Porein quando a ambalas par-
tes aprouuer que o feito fe traute perante os J uizes
do dito Luguar, Mandamos que poífam dello co-
nhecer.
2 E SE por ventura tal delinquente quifer to-
mar Carta de fegurança , que a poífa tomar perante
o Corregedor da Corte , e querendo-a tomar peran-
te os Juízes do Luguar. onde o crime eíl:ando hi a
Corte foi cometido, que o Corregedor lha poífa dar
com claufula , que fe a parte o ante quifer acufar
perante elle Corregedor , que o venha hi acufar a
certo tempo , que lhe na dita Carta ferá affinado. E
fe parte algiía nom acufar tal delinquente, ou por hi
a nom auer , ou por nom querer acufar, e for tal
cafo em que aja luguar a Juíl:iça , ~erernos que fe
nom liure fe nom perante o Corregedor da Corte.
3 E sE efte, que o crime cometer no luguar on-
de affi eíl:euer a Corte, nom for Cortefam , quer feja
morador no luguar do maleficio , quer em outra
parte, poderá feer acufado na Corte , ou no luguar
do maleficio, como o Acufador ante quifer , quer o
tal acufador feja cortefam , quer morador no Luguar
onde a Corte eíl:euer, ou fora della em qualquer ou-
tra parte.
4 E sE o tal delinquente quifer tomar Carta de
fegurança , e o ofenfo for morador no luguar do
rnaleficio , ou em feu termo , dee-lha o Corregedor
pera os Juizes do dito luguar do maleficio com a
Liv. I. 1 fo.
66 O P.RIMEIRO LIVRO DAS ÜR.OEN. TIT. V.
fobredita claufula, que fe o ante quifer acufar per-
ante elle Corregedor, que o venha hi acufar a certo
tempo, que lhe na Carta feja affinado. E fe o ofenfo
for morador fóra do luguar onde for feito o malefi-
cio, e o delinquente qu1fer Carta de fegurança , de-
lha o Corregedor pera fi; e fe defpois que perante
clle o ofenfo vier aa cicaçam , differ que ante quer
acufar o delinquente no luguar do maleficio, reme-
ta-os laa o Corregedor , aITTnando-lhe certo tempo
a que laa pareçam. E fe hi parte nom ouuer, ~ere-
mos que o tal malfeitor poffa feer acufado perante
as Juíl:iças do luguar onde o crime for cometido•
ou perante o Corregedor da Corte , como elle ante
quifer.
5 E NOM Tolhemos porem, que em todos os ca.
fos fobredicos elle Corregedor com parecer do Re-
gedor em Rolaçam poffam mandar viir aa Corte os
ditos feitos , quando entenderem que por alguu bom
refpeito, e bem de Juíl:iça he bem de fe affi fazer,
ora os delinquentes fejam prefos, ora foltos, man.
dando iffo mefmo viir as peffoas dos acufados aa.
Corte , foltos , ou prefos , como lhes bem e razam
parecer.
6 ITEM mandará prender , e trazer aa cadea da
Corte todos aquelles de que lhe for querelado de ma-
leficios cometidos na Corte , e a cinco leguoas der-
redor , fendo as querelas de cafos , porque deuam
feer prefos ; fendo certo primeiro que na Corte fo-
ram cometidos ostaees maleficios, e conhecerá del-
les no modo que ,em cima DHfemos. 7 E
Do CoRREG. DA CoRTE oos FEITos CRIMES. 67

7 E rsso mefmo mandará prender, e trazer aa


cadea da Corte os de que lhe for querelado, ou fo-
rem culpados em cafo de traiçam , ou moeda falfa,
ou pecado de fodomia , ou tirada de prefos da ca-
dea, ainda que na Corte nom ajam cometidos os
taees maleficios. E deftes cafos nom dará Carta de
feguro fenom o Corregedor da Corte, as quaes paf-
fará dirigidas pera elle mefmo. E nos outros malefi-
cios fóra da Corte de que lhe for dada querela , ou
elle teuer cu! pas obriguatorias pera poderem feer
prefos , mandará que fejam prefos, e deípachados
nas Terras, e Luguares onde fe di!Ter auerem co-
metido os maleficios ; os quaes mandará prender por
feus Aluaraes , fegundo Diremos no Titulo Dos Cor-
regedores das Comarcas, no parrafo E os ditos Correge-
dores. Peró fe elle ouuer enforrnaçam , que os ditos
malfeitores fam taees peffoas, ou acoílados a taees,
que razoadamente osJuizes dos ditos Luguares nom
po!Tam delles fazer comprimento de Dereito, em tal
cafo cometelos-ha aos Corregedores das Comarcas,
qqe façam delles Dereito) em tal guiía que a Juíliça
nom pereça. E eíla mefma maneira terá nos rnalcfi-
cios de que lhe forem requeridas Cartas de feguran-
ça.
8 ITEM dará Cartas de feguro em cafo de mor-
tes d'hornens, e outro alguü Julguador a nom paf-
fará em Nofios Reynos , · e hirá derigida pera elle
rnefmo, e no pafiar della terá a fórma que Diremos
no Titulo Jtue nom dem Cartas de figuranra em cefo de
feridas abertas. I 2 9
68 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. V.
9 ITEM dará i{fo mefmo Cartas de feguro de re-
fiftencia , ou ofenfa que fe digua feer feita contra
alguu Official da Juftiça, e outro alguu Julguador
a nom paffará em Noffos Reynos , e hirá derigida
pera elle mefmo , na qual Carta. fe poerá claufula ,
que fe o dito Official da Juítiça o ante quifer acufar
no luguar onde foi feito o dito maleficio , que o
poífa fazer , e acufar no dito luguar do maleficio.
E nom querendo o dito Official acufar, ou acufan-
do na Terra defiftir da acufaçam , Mandamos que o
tal feito feja loguo remetido ao dito Corregedor da
Corte , pera nelle proceder , e o determinar em Ro-
laçam como for Dereito.
10 E DE todos os outros rnaleficios cometidos
no Reyno fóra da Corte dará iffo mefmo Cartas de
feguro dirigidas pera os Juízes Ordinarios dos Iu-
guares onde fe differem os maleficios ferem cometi-
dos , com tanto que nom fejam dos rnaleficios aci..
ma ditos , de que ·as Cartas de feguro ha de paffar
pera fi.
II E Q!!ALQYER peffoa que reuer defembarguo
pera auer Carta de feguro , poderá com elle andar
feguro tres dias , contados do dia que ouuer o def.
embarguo , os quaes lhe fam dados pera tirar fua
Carta, fendo a petiçam conforme aa querela, e paf-
fados os tres dias lho nom guardem fem mofirar
Carta palrada pola Chancelaria ; faluo fe por culpa,
ou impedimento do Efcriuam a nom podeffe auer ,
o qual Efcriuam neíl:o ferá crido por feu juramento.
12
Do CoRREG. DA CoRTE DOS FEITOS CRIMES. 69

12 ITEM o dito Corregedor defembarguará to-


dos os feitos, e proceífos crimes, que perante elle
fe trautarem, e ali os Eftormentos, e Cartas teíl:e-
munhaueis fobre feitos crimes, que vierem por agra-
uo de qualquer pane de Noffos Reynos, e quaefquer
outros feitos crimes, que por remiífam dante quaef-
quer Juízes aa Corte vierem; os quaes defembargua-
rá em Rolaçam com os Defembarguadores que lhe
por o Regedor forem em cada huü dia ordenados.
E as inrerlucutorias dos ditos feitos, e proceílos que
perante elle fe trautarem , poderá o Corregedor por
fi foo poer, e quando as por fi foo pofer , poderá
cada hüa das partes agrauar por petiçam aa Rola-
çam.
13 ITEM conhecerá o dito Corregedor de quaef-
quer agrauos, que a elle por petiçam vierem ,de fei-
tos crimes dante quaefquer Julguadores, que de ca-
fos crimes conhecerem , no Luguar onde a Corte
efteuer, e atee cinco leguoas derredor, tirando aquel-
les que por efpecial priuilegio teuerem de nom re-
fponderem por petiçam ao dito Corregedor , o qual
Corregedor por fi foo poderá mandar que refpon-
dam , e defembarguará os ditos agrauos em Rola..
çam.
14 E sE alguü malfeitor de graue feito vier per-
ante o dito Corregedor, de que el1e aja tal enforma-
çam por euidentes indícios , porque lhe pareça que
deue loguo feer metido a tormento , e que fendo
efpaçado fe poderá perceber o dito prefo, em tal
guifa,
70 O PRIMEIRO LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. V.

guiía, que defpois a verdade nom poderia feer tam-


bern fabida, em tal cafo fe o quifer meter a tormen-
to, fale primeiro com o Regedor, e com alguüs
Defembarguadores , que o dito Regedor pera iífo
fará apartar loguo, e com acordo dos fobreditos o
poderá fazer, e d'outra guifa nom.
15 ITEM tomará conhecimento, e defpachará
por fi foo por auçam noua na Corte , e a cinco le-
guoas darredor as penas do fangue , affi de feridas ,
como de mortes de homens, e penas d'armas, e affi
das armas perdidas , e de excomunguados , que por
Noífos Meirinhos forem prefos , e de todas outras
penas que por Nolfas Ordenaçoés , ou Mandados
forem poíl:as por alguüs cafos , em que nom feja
poíla outra pena de degredo , ou corporal , foomen-
te a pecuniaria. E das outras penas pecuniarias, que
com pena de degredo , ou corporal forem poílas ,
·conhecerá em Rolaçam. E das que por fi foo ha de
conhecer, nom fará longuos proce!Tos ; e do que fo-
bre iífo determinar poderam as partes agrauar por
petiçam aa Rolaçam, e aquello que por acordo da
Rolaçam for determinado, ferá o dito Corregedor
obriguado de comprir, e mandar dar aa execuçam.
16 lTEM paffará as Cartas, porque Damos Offi-
cios a Corregedores , e Meirinhos das Comarcas , e
Meirinhos das Cadeas , e Carcereiros que Nós Der-
mos.
17 ITEM dará Cartas de fegurança real, as quaes
dará na forma que Diremos no Titulo Das feguran-
ças reaes. I 8
Do CoRREG. DA CoRTE DOS FEITOS CRIMES. 7r

18 ITEM enquererá nos Luguares onde Nós Efte-


uermos, e onde a Cafa da Sopricaçam fem Nós eíle-
uer, fobre todos os Officiaes da J uíl:íça polos capita-
los, e na fórma contheuda no Titulo Dos Juizes Or-
dinarios. E fe já fobre elles as inquiriçoes forem ti-
radas naquelle anno por os Corregedores das Co-
marcas, ou por os Juízes, proueja as ditas inquiri-
çoes , e achando que nom foram eiradas como de-
uiam , tire outras , e proceda contra os culpados ,
em maneira que ajam caíliguo de feus erros, e cul-
pas.
19 ÜuTRO sJ Mandamos ao dito Corregedor,
que em todas as Cartas que paffar pera fe auerem de
fazer algüas execuçoés , ou deligencias , feja pofto
termo razoado aos Corregedores das Comarcas , Ou-
uidores dos Mefirados, ou Juízes Ordinarios , que
as ditas execuçoes , ou deligencias ouuerem de fa-
zer , que as façam no dito termo , e as enuiem polo
Caminheiro que lhe a Carta aprefentar, fob algüa
razoada pena que lhe por elle Corregedor feja pofia,
fegundo a qualidade do neguocio, ou cafo ; a qual
pena ferá pera o dito Caminheiro , fe a elle acufar,
e nom a acufando elle , feja pera quem a dita pena
demandar. Aas quaes Jufiiças Nós Mandamos que
cumpram em todo o que lhe por o diro Corregedor
for mandado , dentro no termo que lhe for affinado
fob as penas por o dito Corregedor pofias.
'.20 !TEM o dito Corregedor fará duas Audien-
cias pubricas em cada fomana , conuem a faber , aa.
terça , e aa fefia feira a tarde. 21
'72 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. V.
2r ITEM quando alguü Noílo morador que an-
dar em Noffos liuros, e for Creliguo d 'Ordens Sa-
cras, ou Beneficiado, cometer alguü crime em qual-
quer Luguar de NoíTos Reynos , e Senhorios, re-
f ponderá perante o Corregedor da Corte , quanto ao
Ciuel que deícender d'alguns dãnos, ou crimes por
elle cometidos , pera fatisfaçam da parte ; e nom
querendo refponder, ou fatisfazer ao que polo dito
Corregedor fobre os ditos caías for mandado, Nós
nom como Juiz, mas como Rey, e feu Senhor, por
os caíl:iguar , e correger , e euitar que taees coufas
nom cometam, lhes tiraremos as moradias, e quaef-
quer outras coufas que de Nós teuerem.
22 ITEM o dito Corregedor quando Noffa Corte
fe ouuer de mudar de qualquer Cidade, ou Villa ,
mande apreguoar por quinze dias antes, que qual-
quer peffoa , a que teuerem tomadas caías pera a
apoufentadoria , que alguü dãno teuer recebido dos
que nellas poufaram, fe vam ao Recebedor, e Efcri-
uam das malfeitorias , que pera iffo Ordenaremos,
que lhe vam veer os dãnos das ditas caías, aos quaes
Mandamos , que tanto que lhes requerido for , vam
a iffo, e fendo-lhe moílrado o dãno que lhe fezeram,
e jurando por juramento, que lhe ferá dado polo di-
to Recebedor, e Efcriuam , lho façam eíl:imar , e
~ualiar por dous Officiaes ajuramentados, que polo
dito juramento diguam o efiimo do dito dãno, pera
lhe feer paguo.
23 !TEM tanto que affi for eíl:imado ,fe fará dif-
fo
Do CoRREG, DA CoRTE DOS FEITOS CRIMES, 73

fo aílento em huü liuro, que fe polo dito Efcriuam


fará , o qual Eícriuam , e Recebedor requereram os
moradores que nas ditas cafas poufarem , que lho
paguem , e nom o querendo elles faier , Mandamos
ao Trautador, ou Paguador das Noílas moradias, que
entam for, que de fuas moradias entregue outro tan-
to em tresdobro ao dito Recebedor , que ~eremos
que paguem por iffo ; o qual Trautador, ou Pagua-
dor o daram em conta aos ditos moradores, e Man-
damos que lhe feja leuado em conta com o treslado
deíle capitolo, e conhecimento do dito Recebedor
das malfeitorias, feito polo Efcriuam dellas , em que
declare como os taees dinheiros recebeo do dito
Trautador, e lhe fam carreguados em recepta , pera
que da maõ do mefmo Recebedor fejam as ditas
partes paguas das dicas malfeitorias.
24 E NOM auendo ainda d'auer ao tal tempo al.
guns dos ditos moradores · fuas moradias , affi por
nom feer vindo o quartel , como por lhe feer já pa-
guo , de maneira que fe nom poffa loguo recadar do
dito Trautador o dinheiro, que affi fe ha de paguar
em tresdobro , Mandamos ao Noffo Efmoler , que
do dinheiro da Arca da Piedade lhe entregue em-
preíl:ado outro tanto dinheiro, quanto quer que for,
pera fe com elle auerem loguo de paguar as ditas
partes , e cobre conhecimento do dito Recebedor
feito por feu Efcriuam , com declaraçam de como
o delle recebeo , e lhe fica carreguado em recepra ,
pera lho tornar a paguar como o receber das mora-
Liv. L K dias
74 O PRIMEIR.O LIVRO DAS ÜRDEN. TtT. V.
dias dos fobreditos. Ao qual Recebedor i{fo mefmo
Mandamos, que como o dito dinheiro arrecadar das
ditas moradias, o torne loguo a entreguar ao dito
Efmoler, e cobre delle o conhecimento que lhe lei-
xou, de como o delle recebeo, pera o romper; por-
que lhe nom ha de feer leuado em conta por feer
empreftido que lhe torna a paguar, e o dito Efmo ler
terá cuidado de tirar por elle , e arrecadar, e quan-
do fe !aguo nom recadar palas ditas moradias que
teuerem, fará o dito Corregedor fazer execuçam por
fuas fazendas , onde quer que as teuerem , de ma ..
neira que o dito tresdobro fe arrecade de hãa ma-
neira , ou d'outra.
'.2 5 ITEM Mandamos ao dito Recebedor , e Efcri-
uam, que tanto que as ditas malfeitorias forem vif.
tas, e aualiadas ; e teuerem diífo feitos os aífentos
no dito liuro, tenham bom cuidado de as requererem
affi em tresdobro ao dito Paguador, ou Traurador
das moradias. E nom podendo auer o dinheiro diffa
delles , como emcima faz mençam , o requeiram ao
dito Efmoler pera de huü ou d'outro o receberem,
e fe carreguar em recepta fobre o dito Recebedor ,
como dito he.
26 OuTRO s1 Ordenamos, que os paguamentos
que o dito Recebedor fezer aas partes das ditas mal..
feitorias, fejam por mandado do dito Corregedor
perante o dito Efcriuam , o qual Recebedor cobrará
os ditos mandados, e conhecimentos das ditas par-
tes , que feram feitos polo dito Efcriuam , e aalem
diffo
Do CORREG. DA CoRTE DOS FEITOS CRIMES. 75
diflo o dito Efcriuam poerá as paguas no liuro na
margem dos ditos affentos, pera fe faber como as
partes fam paguas, e ferem os ditos dinheiros leua-
dos em conta ao dito Recebedor.
27 ITEM quanto aas cafas que forem dadas a a} ..
guas peffoas que nom ceuerem de Nós moradias ,
nem as ouuerem d'auer, feram requeridos que pa-
guem as dicas malfeitorias, affi_como forem efrima-
das , como ja dito he ; e nom o fazendo, fe fará dif-
fo affento, e o dito Recebedor , e Efcriuam o faram
faber em Noffa Fazenda , pera de fuas . tenças , ou
aflentamentos que de Nós teuerem , as paguarem
affi em tresdobro: e Mandamos aos Veedores da
Noffa Fazenda , que façam entreguar ao dito Rece-
bedor o que niífo montar, o qual fe carreguará iílo
mefmo fobre elle.
28 E POR quanto alguns dos No{fos moradores,
e peffoas , eílando Noíla Corte d'aretreguo, fe mu-
dam de hüas cafas pera outras, ou fe varn da Noffa
Corte , e leixam as cafas em que poufam danifica-
das , fem paguarem as ditas malfeitorias, mandará
loguo o dito Corregedor apreguoar canto que Noffa
Corte for affentada em cada huü luguar, em que
Ajamos d'eilar d'affento, que qualquer peífoa que
caías teuer d'apoufentadoria, e fe quifer hir de Nof-
fa Corte, ou mudar pera outras cafas, que oito dias
antes que fe vaa , ou mude, o notefique a elle dito
Corregedor, pera mandar veer polo dito Recebedor,
e Efcriuam , as cafas em que affi poufarem , como
K2 fi~
76 O PRIMEIRO LIVRO DAS 0RDEN. Tn. vr.
ficam , e fe dãno hi ouuer nellas , e as nom entre.
guarem como as receberam, feer aualiado na forma
acima contheuda; e que nom o fazendo affi, que fe
fará a dica aualiaçam fem elle , e que fe paguará da
fórma fobredita ; e aíli os donos das dicas cafas o
vam fazer faber ao dito Corregedor dentro d'ou-
tros oito dias do dia que fe o morador della partir ,
pera fe loguo veer feu dãno, e fe fatisfazer como em-
cima dito he, e que nom o fazendo faber dentro do
dito tempo , nom ferá mais acerca dello ouuido. O
qual preguam que aíli ha de mandar lançar, o dito
Corregedor comprirá em todo como nelle he con-
theudo. E quando fe ouuerem de fazer as aualiaçoes
fobreditas, fe verá primeiramente o liuro da apou-
fencadoria , pem fe veer a maneira em que as cafas
foram entregues aa tal pelfoa.

TI TU LO VI.

o
Do Corregedor da Cor/e dos feitos ciueis.

CORREGEDOR da Corte dos feitos ciueis


onde Nós Efteuermos, ou a Noffa Caía da Soprica-
çam , vfará inteiramente de todo o Regimento que
Temos ordenado aos Corregedores das Comarcas,
em quanto nom contradiffer ao que em eíle Regi ..
mento efpecialmente a elle dado he contheudo •
nom tocando em feitos crimes. E fará o dito Corre..
ge-
Do CoRREG, DA CoRTE nos FEITOS crvns. 77
gedor em cada hua fomana dous dias audiencias pu ..
bricas, conuem a faber, aa fegunda feira, e aa quin-
ta a tarde.
I ITEM tornará conhecimento geeralmente no
Luguar onde Nós efteuermos, ou a Cafa da Soprica-
çam fem Nós, e a cinco leguoas derredor, por au-
çam noua de todos os feitos ciueis. E quando Nós
Partirmos do Luguar faça delles ementa , pera o Re-
gedor com alguns Defembarguadores, fendo prefen-
te o dito Corregedor, ordenar em Rolaçam quaes
ham de ficar na cerra ,e quaes leuará comfiguo o di-
to Corregedor; o que ferá examinado fegundo a qua-
lidade dos feitos, e das peffoas antre que forem , e
o ponto em que os ditos feitos efieuerem.
2 Os feitos ciueis que a feu Officio pertencem,
defembargualos-ha fóra da Rolaçam; e da fentença
definitiua que elle por fi der , a parte que fe agra-
uada fentir poderá agrauar , e fej.a-lhe recebido o
agrauo fe nom couber em fua alçada , na maneira
que he declarado no terceiro Liuro no Titulo Dos
agrauos dasfintenfaS definiliuas &e. E das interlucu-
torias, ou mandados que nos ditos feitos pofer, ou
der, nom poderam agrauar por petiçam aa Rolaçam,
faluo nos cafos que Diffemos no Titulo Dos De_fw...
l,arguadores do Agrauo. E nos outros cafos poderam
poer por agrauo no auto do proceílo.
3 ITEM tomará conhecimento de todos os feitos
ciueis por noua auçam dos Prelados ifentos ,. · que
neftes Reynos nom tem Superior Ecclefiafüco Or.
di-

15
78 O PRIMEIRO LrvR.o DAs ÔRDEN. TrT. VI.

dinario, que de feus feitos po!fa conhecer , fegundo


no fegundo Liuro no Titulo primeiro he contheu-
do. .
4 ITEM dará Cartas pera citar: quaefquer peffoas
que teuercm Jurdiçam, ou Luguar de Senhorio, quan-
do os Autores os qui!erem perante elle demandar ,
nom fendo coufas que pertençam ao Juiz dos Noffos
feitos, ou aa Fazenda.
5 ITEM conhecerá de todos os feitos ciueis, que
por remiff'am vierem aa Corte ,ante da fentença de-
finitiua, dante quaefquer Juízes, Ouuidores , e Cor-
regedores.
6 ITEM terá carreguo das coufas que ao Almota-
ce Moor pertencem , onde a Cafa da Sopricaçam
fem Nós eíl:euer.
7 ITEM tomará conhecimento dos feitos ciueis
das viuuas, e orfaõs, e peff'oas miferaueis, que o efco-
lherem por Juiz ; porque tem priuilegio de perante
elle detnandarem~ ou fe defenderem, quando perante
elle quiferem liriguar, fegundo he contheudo no ter-
ceiro Liuro no Titulo Dos que podem trazer Jeus con-
tendores aa Corte.
8 E sE por ventura outra algüa peff'oa priuile-
giada • que tenha priuilegio pera trazer feu conten-
tor aa Corte , quifer citar algíia peífoa , ou peífoas
moradores nas Terras da Raynha , podelas-ha de-
mandar perante o Ouuidor da Raynha, que na Cor-
te andar, ou perante os Juízes Ord.inarios onde elle
he morador, e elles lhe deuem mandar dar as Car-
tas
Do CoRREG. DA CoRTE oos FEITOS CIVEIS. 79

tas citatorias. E eílo fe nom entenda nos Defernbar-


guadores, Ouuidores, Juizes, e Procurador dos Nof-
fos feitos, que na Corte andam , que a eíles o Cor-
regedor dará Carta pera citar os feus contentores
perante elle, onde quer que fejam moradores.
9 ÜuTRo SI o dito Corregedor dará tal Carta aa
viuua , ou orfaõ, ou rniferauel peífoa, ou outra qual-
quer, que femelhante priuilegio teuer, poílo que nas
Terras da Raynha, ou dos Infantes feja morador,
quando quer que demandar outras pdfoas, que nom
fejam moradores nas Terras dos fobreditos Raynha,
e Infantes, e efcolherem a elle Corregedor por feu
Juiz.
10 ÜUTRO s1 conhecerá de quaefquer agrauos
que a elle vierem de feitos ciueis por petiçam dante
os J ulguadores, onde Nós, ou a Noffa Cafa da Sopri-
caçam eíleuer, e darredor atee cinco leguoas , pofto
que feja na Cidade de Lixboa. E dos agrauos dos fei-
tos ciueis que vierem por Eíl:ormentos , ou Cartas
teíl:emunhaueis de qualquer Luguar, poíl:o que feja
dentro das ditas cinco leguoas, conheceram os Def-
embarguadores do Agrauo, e nom o dito Corregedor.
11 ÜuTRO s1 Mandamos ao dito Corregedor,
que em todas as Cartas que paffar, pera fe auerem
de fazer algúas execuçoes , ou deligencias , as paíle
na fórma, e com aquellas claufulas que Diffemos no
Titulo Do Corregedor da Corte dos feitos crimes, no par-
rafo Outroji Mandamos ao dilo Corregedor.

T 1-
80 O PRIMEIRO L1vRo DAS ORDEM. Tn. VII.
T l TU LO VII.

Dos Juizes dos No.fios feitos.

MANDAMOS que os Juízes dos Noffos feitos


façam audiencias tres dias na fomana , conuem a
faber, aa fegunda feira , e aa quarta, e feíla , e ou-
çam os feitos , e defpois que forem conclufos os deí-
pachem em Rolaçam na Meía Grande com os Def-
embarguadores, que lhe por o Regedor forem orde-
nados, e poeram em elles as fentenças, e defembar-
guos , fegundo por todos, ou a maior parte delles
for acordado • fem hi auer outro agrauo pera outra
1
ninhua parte.
1 ITEM conhecerá em Rolaçam por auçam no-
ua, e por petiçam d'agrauo no Luguar onde Nós
Efteuermos, ou a Cafa da Sopricaçam fem Nós, e a
cinco leguoas derredor. E de fóra da Corte , de todo
o Reyno, por apelaçam , e por Eílormento d'agra-
uo, ou Cartas teíl.emunhaueis de todos os feitos , e
demandas , que pertencerem aa Coroa dos Noffos
Reynos, aíii por razam de Reguengu os, como de Ju-
guadas , e todos outros bens que a Nós pertencem ,
e aíii fobre dizemas , portagens , e outros quaefquer
Dereitos Reaes, poílo que dos fobreditos bens, e De-
reitos Tenhamos feita merce a algüa peífoa ; e efto
ainda que fejam demandados com nome , e qualida.
de de força, ou por qualquer outra maneira ; faluo
nos feitos das fiías, e feitos das rendas , e foros, e
tri-
Dos Ju1zrs oos Nossos FEITOS. 8r

tributos que fe pera Nós arrecadam ; porque em eíles


cafos quando fe nom trautar fobre a propriedade
delles , mas foomente fobre as rendas , conheceram
os Veedores da Fazenda, e nom os Juizes dos Nof-
fos Feitos. E em todos os cafos fobreditos os ditos
Juizes dos Nolfos Feitos conheceram> ainda que fe-
jam antre partes , fe dereitamente a effe tempo , ou
ao defpois tocarem Notfos Dereitos, e a elles poffam
trazer alguú proueito , ou dãno ao diante ; porque
fe a demanda foffe antre partes, que nom neguaffem
Noffos Dereitos, entam norn pertencerá ao Juiz dos
Noffos Feitos.
2 E POLO fobredito modo conheceram de todos
os feitos, pofio que fejam antre partes, que fe orde-
narem por raz.am de doaçoês por Nós feitas, affi de
bens que a Nós pertençam de alguü que morreo
abinteíl:ado , ou outros quaefquer vaguos , ou outras
coufas a Nós deuolutas por quaefquer caufas de que
Fezeffemos merce, ou doa-çam a algüas peffoas.
3 PERÓ nom Tolhemos fe os Autores antes quife-
rern demandar as partes perante os J u izes a que per-
tencia o conhecimento, nom eíl:ando hi a Corte, ou
Cafa da Sopricaçam, que as potfam perante elles de-
mandar, e a apellaçam e agrauo virá aos Juizes dos
NoíTos Feitos, como dito he.
4 ITEM conhecerá em Rolaçam de todos os fei-
tos de paffadores, fegundo fe contem no quinto Li-
uro no Titulo Do regimento do Alcaide das facas.
5 E NOM mandará viir citadas aa Corte ninhüas
Liv. I. L par"'
82 0 PRIME[RO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. VII.

partes de fõra da Corte , e de cinco leguoas derre ..


dor, atee primeiramente ferem vifias em Rolaçam
as enformaçoes, ou inquiriç.oes > por que enter:idam
que deuam feer citadas ; e quando affi for acordado
por todos, ou a maior parte, entam dee cartas, por-
que citem fegundo for acordado, e paffado por def-
ernbarguo ; faluo fe taees citaçoes fe ouuerem de fa-
zer pera as partes virem falar a feitos , que já fejam
trautados perante elle , porque as taees ciraçoês po-
derá por fi foo mandar paffar fem acordo da Rola..
çam.
6 ÜuTRo SI o Juiz dos Noífos FeitQS tomará co..
nhecimento de todas as apellaçoês d>armas, e penas
dellas , e affi dos agrauos das ditas armas , e penas
dellas , affi da Corte, como de fóra della ; faluo dos
agrauos que das ditas armas, e penas vierem dante
o Corregedor da Corte dos feitos crimes , porque
deíl:es pertence o conhecimento dos taees agrauos
aos Defembarguadores do Agrauo , fegundo Diffe-
mos no Titulo Do Corregedor da Corte dos feitos cri..
mes.
7 OuTRO SI dará Cartas que pertençam aas aber..
tas, e valadores Noffos , e conhecerá dos feitos que
aas ditas abertas , e valas pertencerem.
8 OuTRO s1 conhecerá das coufas que pertence-
rem aas Jurifdiçoés, e de quaefquer feitos, e conten-
das, que a ellas pertençam.
9 OuTRO si Mandamos ao dito Juiz, que em
todas as Cartas que paífar, pera fe auerem de fazer
ai-
Dos 0ESlMBARGUADORES DAS ILHAS. 83
algüas execuçoês , ou deligencias, as paífe na fórma,
e com aquellas clauíulas que Diífemos no Titulo Do
Corregedor da Cttrle dos feitos crimes, no parrafo Outro
ji Mandamos ao dito Corregedor.

------------------
T I T U L O VIII.

Dos Defembarguadores das Ilhas.

O S Defembarguadores dos feitos das Ilhas ham


de feer tres, os quaes ham de teer cafa, e rnefa fo-
bre fi, na qual ham de defembarguar ern ,Rolaçam
todos os feitos ciueis , que por apellaçam , e agrauo
vierem de cada hüa das Ilhas de qualquer qualidade
que fejam , poíl:o que fejam de Dereitos Reaes , ou
de Capelas, ou d'orfaõs, ou outros femelhantes , e
dante quaefquer Juftiças das ditas Ilhas , os quaes
feitos , e Eftormentos d'agrauo , que affi a elles vie-
rem , o Efcriuam dante elles os deíl-ribuirá igual-
mente aos ditos Oefembarguadores , em modo que
tantos veja huü como outro; e corno o feito for def-
ttibuido, aquelle a que aíli for deílribuido o verá
em cafa , e o cotará , e leuará aa Relaçam , pera hi
o defpachar com os outros dous feus parceiros.
I E NAS fentenças definitiuas dos feitos ciueis,
em que todos tres forem concordes , as affinaram, e
pubricaram ; e nom fendo concordes o Regedor lhe
dará outro Defernbarguador , ou Defembarguado-
L2 res,
84 O PRIMEIRO LrvRo DAS OaDEN.. TrT. VIII.
re~, açee que fejam tres concordes pera poerem a di..
. fa fentença.
·2 E Ql1 ANTO aas interlucu.torias, em que dous fo-
rem concordes, fo.aílinaram, e pubricaram.
3 E DAS fentenças definitiuas , ou interlucuto-
rias , que força de definitiua teuerem , cuja contia
paífar de cem mil reaes fem as cuftas, poderam as
partes agrauar pera os Defembarguadores do Agra-
uo da dita Cafa no qual agrauo fe terá a Ordenan-
ça acerca da pagua, e profeguirnento delle, que he
contheudo no terceiro Liuro no Titulo Dos agrauos
dasfentenças de.finitiuas quefaem &é.
4 ITEM conheceram em Rolaçam de todos os
feitos crimes, que por apellaçam , e agrauo vierem
das ditas Ilhas dante quaefquer Juíliças, nom fendo
cafo que fe proua<lo fo(fe mereceria o acufado mor-
te natural , ou talhamento de membro ; porque nef-
tes dous cafos pertence o conhecimento por apella-
çam , e agrauo aos Ouuidores da Cafa do Ciuel. E
nos defpachos dos ditos feitos crimes , affi das fen-
tenças definitiuas , como de interlucutorias , eftaram
todos tres , e fendo dous concordes fe poerá a fen ..
tença, e fe pubricará.
5 ITEM conheceram por auça.m noua de todos
os feitos , em que os moradores das Ilhas que forem
achados em Noffa Corte forem demandados, pofto
que os contraél:os , ou crimes porque forem deman..
dados , ou acufados , foífem cometidos , ou contra-
él:ados nas Ilhas; faluo fe dos crimes teuercm toma-
do
Dos DEsEMBARGUADOREs DAS ILHAS. 85
do Carta de feguro , porque entonce , pofto que fe-
jam achados na Corte , feram remetidos a quem as
Cartas forem derigidas. E affi quando forem deman-
dados em alguü Luguar dos Noífos Reynos por al-
guns contraél:os , que nos ditos Luguares tenham
feitos, ou por razam de coufas ficuadas nós ditos Lu-
guares de NoíTos Reynos , ou crimes que em cada
huú delles ajam cometidos , pofto que os ditos con-
traétos, ou crimes em Noífa Corte fejam celebra-
dos , ou cometidos ; porque tanto que forem citados
_perante quaefquer Juíl:iças, loguo deuem feer reme-
tidos aos ditos Defembarguadores das Ilhas, e elles
conheceram delles, e os defpacharam finalmente•
como emcima dito he.
6 PERÓ em todos os cafos acima ditos nefte Ti-
tulo , que forem fobre Noífos Dereitos, que pera Nós
fe arrecadarem, os ditos Defembarguadores das Ilhas
nom conheceram, antes os remeteram aos Veedores
de Noffa Fazenda.
7 E sE for contenda antre Nós , e os Capitaes
de cada hüa das ditas Ilhas fobre cafo de Jurifdi.
çam, o conhecimento ferá do Juiz dos Noifos Fei-
tos , e nom dos ditos Defembarguadores.
8 ITEM cada huü dos ditos Defembarguadores
fará cada fomana as audiencias das ditas Ilhas aa fe-
gunda feira, e aa quarta,. e aa fcfta pola menhã aa
faida da Rolaçam , defpois da audicncia dos Noifos
Feitos acabada. E do que o que fezer a audiencia.
mandar, poderam as partes agrauar por petiçam
pera
86 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. VIU.
pera os Defembarguadores do Agrauo, e norn pera
os feus parceiros,e eílo, poílo que o feito feja deva-
lia de cem mil reaes, e di pera baixo. Porem do que
os ditos Defembarguadores das Ilhas na Mefa man-
darem, pofio que feja em cafo que paífe de cem mil
reaes , nom agrauaram por petiçam , faluo quando
a duuida for fobre incompetencia ; porque entonce
poíl:o que feja fobre contia, que nom achegue a cem
mil reaes , e feja em Rolaçam por elles defembar-
guado, poderam por petiçam agrauar dante elles pe-
ra os Defembarguadores do Agrauo.
9 ITEM daram Cartas de fegurança real, e de fe-
guro fobre maleficios, aos moradores , e eílantes das
Ilhas, em todos os cafos, e naquella fórma que o
Noífo Corregedor da Corte as póde dar em Noílos
Reynos. E as Cartas de feguro dos cafos cometidos
nas Ilhas, poíl:o que fejam de morte, hiram derigi-
das pera os Juízes das ditas Ilhas, onde os maleficios
forem cometidos, e delles viram por apellaçam a
,q uem ouuer de viir, fegundo emcima Diífemos. E
dos cafos cometidos em Noífos Reynos polos mora-
dores das Ilhas hiram derigidas pera elles mefmos
Defembarguadores , e elks conheceram , e daram
niífo final fentença, poílo que feja de morte. Porem
quando affi conhecerem em o dito cafo de morte ,
lhes dará o Regedor os mais Defembarguadores, que
pera defpacho de feito de morte fam neceífarios, fe-
gundo he contheudo no Titulo Do Regedor.
10 ITEM dos agrauos que vierem do Chanceler
do
Dos DESEMBARGUADORES DAS JuJAs. 87

do Meftrado, e Ilhas, conheceram os Defembargua-


dores do Agrauo naquella fórma, e maneira que co-
nhecem dos agrauos do Chanceler Moor.
Ir ITEM poderam tomar querelas dos crimes, e
maleficios cometidos nas Ilhas , e dos que os mora-
dores das ditas Ilhas cometerem em NolTos Reynos •
e por as taees querelas mandaram prender , fegundo
fórma de Noílas Ordenaçoes. E porem nom Tolhe-
mos aas outras Nolfas Jufiiças , qu~ poder tenham
de as tomar , o auerem de fazer quando pera ello fo-
rem requeridos.
12 ITEM feram obriguados nos dous mefes do
efpaço de defpachar em Rolaçam todos os feitos , em
que ambas as partes nom quiferem gouuir do eípa-
ço, e affi o diíferem expreffamente. E bem affi def-
pacharam no dito efpaço os feitos crimes da Juíli-
ça , fe as partes acufadas o requererem.
13 ITEM Mandamos ao NolTo Regedor, que em
quanto os ditos Defembarguadores das Ilhas teue..
rem alguns dos fobreditos feitos que defpachar, nom
tire os ditos Defembarguadores do defpacho delles J
pera os ocupar , e meter em defpacho d'outros fei-
tos.
14 E POR quanto nas Noílas Ilhas falecem al-
güas peffoas abinteíl:ado, e as Noffas Jufiiças man-
dam poer em focreílo , e guarda as fazendas que fi ..
cam por fuas mortes , e alguas vezes ficam em po..
der de alguas peíloas fem as Noffas Juíl:iças fobre el ..
lo prouerem , e quando vam feus herdeiros, ou fua
mo-
88 O PRIMEIRO LTVRO DAS ÜRDEN. TIT. VIII.
molher requerer, que lhes entreguem as ditas fazen-
das e bens, as Noílas Juíliças lhes mandam que fa-
çam primeiro cerro de como fam herdeiros • ou mo-
lher , e lhes pertencem os taees bens , e fazendas ,
por bem do qual lhe he neceílàrio tornarem a Nof-
fos Reynos tirar inquiriçoês pera fazerem dello cer-
to , no que fe paífa muito tempo, e guaíl:am , e fa-
zem fobre ello muitas defpefas , e ~erendo a efto
prouer, Determinamos, e Mandamos a todos os Juí-
zes, e Juftiças dos Luguares onde os ditos herdeiros
forem moradores, que paílem, e mandem dar Eíl:or-
rnentos aos ditos herdeiros , ou molher , de como el-
les fam herdeiros, ou molher dos ditos defuntos, e
nom ha hi outros; tirando primeiro teftemunhas,
porque fe proue elles ferem herdeiros, e outros nam,
declarando o parentefco quejando he nos ditos
Eftormentos, e fe fam filhos , ou irmaõs , ou filhos
de irmaõs, ou qualquer outro gráo; e com a dita de-
ligencia , e declaraçam lhes paffem , e dem os ditos
Eíl:ormentos , os quaes feram leuados aos ditos Def-
embarguadores das Ilhas ; os quaes faram qualquer
exame que lhes parecer, que fe deue fazer de Derei-
to pera juftificaçam dos taees Eíl:ormentos, e achan-
do que vem como deuem , e que por os taees Eíl:or-
rnentos , e as mais deligencias que fezerem, lhe de-
uem feer entregues as taees fazendas , lhes paffaram
fua Carta pera as J uíl:iças das ditas Ilhas , de como
faro herdeiros , ou molher , e nom ha hi outros , e
lhes fejam entregues as ditas fazendas , e heranças ,
aas
Dos OuvIDORES DA CASA DA SoPRICAÇAM, 89

aas quaes Jufiiças Mandamos que cumpram as di-


tas Cartas por elles pafTadas , e affinadas por Nós.

TITULO IX.

Dos Ouuidores da Gaja da Sopricaçam.

A OS Ouuidores da Cafa da Sopricaçam perten-


ce o conhecimento de todas as apellaçoés de feitos
crimes de todolos Luguares de Noífos Reynos , fal-
uo dos Luguares da Comarca da Eílremadura, que
nom forem Terras da Raynha, ou dos Mefirados ,
ou de Senhores de Terras, em que por bem de feus
priuilegios nom entrem No!Tos Corregedores da Co-
marca ; porque as apellaçoes que vierem dos ditos
Luguares, fendo Terras da Raynha, ou dos Meíl:ra-
dos, ou dos ditos Senhores , viram aos ditos Ouui-
dores que andam em a Cafa da Sopricaçam ; con-
uem a faber, das Terras da Raynha ao feu Ouuidor,
e as dos Meíl:rados, e Senhores, aos ditos Ouuidores
da Caía da Sopricaçam, e as apellaçoes dos outros
Luguares da Efiremadura hiram aos Ouuidores que
eíl:am na Cafa do Ciuel ; faluo fe a Cafa da Soprica-
çam efieuer em cada huú dos ditos Luguares da di-
ta Comarca da Eíl:remadura; por que entam as apel-
laçoés do dito Luguar em que affi eíl:euer , e dos
Luguares que darredor delle eíleuerem , que nom
forem afilílados mais de cinco leguoas, pofto que
Li'll, I. M fe ..
90 o PR[M![RO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT •. IX.
fejam da dita Comarca da Eftremadura , hiram aos
ditos Ouuidores da dita Cafa da Sopricaçam. E eíl:o
fe nom entenderá nas apellaçoés da Cidade de Lix-
boa, e de feu Termo, porque eíl:as todas hiram aos
Ouuidores da dita Cafa do Ciuel , poíl:o que a Cafa
da Sopricaçam eíl:ee na dita Cidade , ou dentro das
cinco leguoas della ; porque em efte cafo quando
ambas as Cafas eíl:euerem na Cidade de Lixboa, ou
em qualquer Luguar da Eftremadura , os Ouuido-
res da Caía do Ciuel conheceram das apellaçoés cri-
mes, affi do dito Luguar , como a cinco leguoas
dcrredor.
1 OuTRO s1 tomaram conhecimento das apella-
çoes dos feitos ciueis , que vierem do Luguar onde
eíl:euer a dita Cafa da Sopricaçam ,e darredor cinco
leguoas ; faluo eíl:ando a dita Cafa da Sopricaçam
em a Cidade de Lixboa, ou em qualquer outro Lu-
guar onde . a Caía do Ciuel efteuer , porque em tal
cafo conheceram os Sobrejuiz.es , fegundo Diremos
no Titulo Dos Sobrejuizes.
2 Os ditos Ouuidores repartam as audiencias, e
cada huü ouça os feitos por fomanas, a qual audien-
cia façam defpois que fahirem da Rolaçam. Os quaes
Ouuidores veram os feitos cada huü como lhe fo_
rem deftrebuidos , em maneira que tantos veja huü
como outro.
3 E Nos feitos ciueis de que elles conhecerem ,
veja-os huü primeiro, e defpois o outro, e fe am-
bos concordarem J dem liuramento como acharem
por
Dos OuvJDORES DA CASA DA SoPRICAÇAM. 9t

por Dereito , e fe forem em defuairo , veja-os outro


Ouuidor por terceiro , e com o que acordar fe dee
liuramento.
4 E DESPois que o feito for viflo polo primeiro,
efcreua fua tençam larguamente no feito , affoman-
do , e decidindo fegundo feu entender , e em outro
dia elle de fua maõ o dee a outro Ouuidor, que o ha
de veer prefente o Efcriuam , e nom lho enuie por
outrem , e o Efcriuam o tire de fobre elle loguo do
liuro, e ponha-o fobre o outro, o qual affinará no
dito liuro do Efcriuam, como fez o primeiro, e affi
todos os que taees feitos receberem.
5 Os ditos Ouuidores teram eíla maneira no vecr
dos feitos, pera milhar, e mais breue deípacho del-
les : o primeiro Ouuidor que o fei.to viir comece o
feito , e defde o começo delle atee fim nom leixe
termo, nem coufa que nom veja, e em o vendo vaa
cotando cada huü ponto que de fubfiancia fcja , pera
defpois quando o a{fomar, ou fezer relaçam , poder
hir mais de ligeiro ao amo(har, e achar; affi como,
onde foi dada a querela, ponha na margem em de-.
rei to do começo della querela , e fe he jurada , poer
em dereito deffe luguar jurada, e íe forem nomeadas
teíl:emunhas , poer em dereito deltas tejlemunhas, e
em fim poer no cotamento della perfeita.
6 E sE for denunciaçam fem juramento , e fem
teftemunhas, ou com teílemunhas, e fem juramen-
to, affi o ponha na cota falece tal coefa , fegundo o
feito for , e di hirá cotando polo libelo , e concl u-
M2 fam,
92 o PRIMElR.O LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. IX..
fa:m , e conteílaçam , fegundo for , e artiguos fe da-
dos forem , poendo a cada huu primeiro , fegundo >
ttrc.eiro, e quarto &e. E fe hi ouuer artiguos contrai-
ras, ou de repricaçam , affi o poerá; e auendo con ..
füfoés ou depoimento da parte, affi o poerá , e verá
a confiífam , ou depofiçam com o artiguo, e poelo-
hâ de fóra quando viir o feito , poendo em hüa fo-
lha de papel tal artiguoft proua por confijfam; e fobre
os que neguados forem , veja a inquiriçam , e em a
vendo vaa cotando as teílemunhas , conuem a faber li
büa, duas, Ires &e., e onde a reílemunha differ, po-
nha-lhe final, por que quando fezer relaçam poffa lo-
guo hir a ella , e em a folha de fóra ponha tal arti-
guo fe proua por tal tejlemunha &e. E quando virem o
feito, e inquiriçam , vejam os nomes das tefternu...
nhas que foram nomeadas na querela , ou no feito li
fe o feito he crime, e vejam fe fam todas pregunta-
das, e quantas foram nomeadas; e fe algüas min-
guoarem fale com outro feu companheiro , e veja fe
fazem minguoa aa proua, e fe minguoa fezerem
mandem-nas pregumar , ou fe polas teílemunhas
viirem que foram pregumadas como nom deuiam,
ou em luguar que nom deuiam por o feito tal fcer,
ou antre taees peífoas , mande Carta que fe pregun-
tem outra vez em outro Luguar mais conuinhauel ,
e onde poílam dizer a verdade. E fe o feito for no
Luguar onde Nós formos, ou atee cinco leguoas li
preguntem-nas elles , ou cada huu delles , e fe mais
alonguadas forem ,. e elles entenderem que cumpre
de
Dos OuvIDORliS DA CASA DA SoPRICAÇAM. 93

de viir dar feus tefiemunhos aa Corte, mandem viir


aquellas que lhe parecer necdfario por bem de Juf-
tiça, fe todos os Defembarguadores, que ao defem ...
barguar do feito forem , niffo forem concordes, com
tanto que nom fejam menos de cinco, todos con...
cordes. E nom fendo todos concordes, ou nom fen-
do ao defpacho cinco Defembarguadores , moílrem
eílo na Mefa Grande ao Regedor , e com feu acor-
do , e dos da dita Mefa , façam o que entenderem
feer Dereito. E vindo as ditas tefiemunhas por cada.
huü dos ditos acordos por bem de Juíl:iça, feram
paguas das defpefas da Rolaçam ; e mandando-as
viir d'outra maneira, fe paguará aa cuíl:a daquelles
Defembarguadores, que as mandarem viir. e o Re ...
gedor lho mandará defcontar de feu mantimento.
E o que dito he acerca do mandar viir das tefiemu-
nhas nos Ouuidores auerá luguar no Corregedor da
Corte, e em todos os outros Defembarguadores. E
quando affi o dito Ouuidor viir as teílemunhas , e
inquiriçam , como dito he, fe por ella achar que al-
güa coufa proua do feito , veja loguo íe tem contra-
ditas, e fe procedem , ou nam, ou pofto que proce-
da, fe he prouada, e fegundo o que achar affi o po-
nha na margem • e de fóra na folha onde poem tal
teftemunba diz tal coufa em tal artiguo-, ponha tem con-
tradita que procede , ou n<mz , ou que procede , e he pro-
uada , fegundo for, affi vaa cotando polo proceffo, e
affomando de fóra. E fe achar que a teftemunha
nom diz. cou(a que ao feito toque, ponha no come-
ço

11'>
94 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDE!'l.. T1T. lX.
ço della nibi!~ E acabado affi o feito de veer , e co-
tado • guarde a folha que tem em memorial de fóra.
E fe o feitp for crime • leve-o aa Rolaçam , e hi feja
defembarguado; e fe for ciuel , ponha em foma o
feito , e fua tençam no proceffo , e dee o feito com
fua tençam a feu parceiro.
7 E ESTES Ouuidores no defembarguar das apef-
laçoês tenham efta maneira que fe fegue ; conuem a
faber • defembarguem primeiro as que aa Corte pri-
meiro vierem. o que polos termos das aprefentaçoês
poderam veer ; e eílo fe nom entenda nos feitos
d'ambas as Mefas , porque eftes tanto que forem
conclufos, e por cada huü dos Ouuidores viílos ,
~eremos que fejam loguo defembarguados por el-
les ditos ,Ouuidores , e affi por outros mais Defem-
barguadores que o No(fo Regedor ordenar, fegundo
por Nós he mandado.
8 E ESTA regra tenham em o veer, e cotar dos
feitos todos os outros Defembarguadores, que feitos
crimes ouuerem de veer.
9 E BEM ASSI em todas as Cartas que paífarem
pera fe auerem de fazer algüas execuçoes , ou deli-
gencias nos feitos dos prefos, as paílem na fórma ,
e com aquellas claufulas que Diífemos no Titulo Do
Corregedor da Corte dos feitos crimes , no parrafo Outro.
ji Mandamos ao ditfJ Corregedor.
10 !.TEM Mandamos ,que das fentenças que por
elles Ouuidores foram dadas . em feito ciuel de que
conhecerem, fe a parte quifer agrauar , e paguar o
agra..
Dos OuvIOoRES DA CASA DA SoPRICAÇAM. 95
agrauo, recebam-lho, fe a condenaçam, ou abfolui-
çam paffar a contia de quatro marcos de prata , nom
contando as cufias ; e affinem-lhe termo a que o fi-
gua, fegundo lhe por Nós he ordenado no terceiro
Liuro no Titulo Dos agrauos dasjentenças definiliuas •
o qual agrauo hirá pera os Defembarguadores do
Agrauo da Caía da Sopricaçam.
11 . Os Ouuidores faram liuros , em que ponham
cada huü quando viir os feitos , e inquiriçoês , os
malfeitores que acharem culpados, e dalos-ham em
efcripto ao Corregedor da Corte, pera os mandar
prender , e trazer , fe taees peffoas , e feitos forem,
que fe ajam de liurar na Corte, ou os mandará ou-
uir nas terras onde os maleficios forem feitos.
12. TENHAM os Ouuidores fuas audiencias bem,
e honeftamente ordenadas, e façam que fejam bem
ou~idas, e faibam fe os Efcriuaês, que ante elles efcre-
uem , guardam as Ordenaçoês que lhe fam dadas,
ou fe dam liuramento , e defpacho aas partes fem
delongua , ou fe lhos dam tarde, e com maas repo-
ftas, ou fe leuam mais do que deuem. E fe acharem
alguüs culpados, procedam contra elles, ou o diguam
ao Noffo Regedor , pera em Relaçam lhe feer dada
aquella pena que merecerem.

TI-
96 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRD'EN. T1T. X.
TI T U LO X.

Do Ouuidor das Terras da Raynba.

O Q_UE for Ouuidor das Terras da Ra ynha de-


ue andar continuadamente em Noffa Corre , e def-
em barguar na Rolaçam os feitos crimes que a ella
vierem das ditas Terras por apellaçam, aíli como ca-
da huii dos Noffos Ouuidores. E defembarguará os
feitos ciueis por fi , e das fentenças definitiuas que
nelles der poderam agrauar as partes , que fe dellas
fentirem agrauados, daquella contia de que he orde-
nado que poffam agrauar das fentenças do Correge-
dor de Noffa Corte. E das interlucutorias, e manda-
dos que mandar, e pofer nos feitos ciueis, fe terá a
fórma no agrauo dellas, que Diílemos neíle Liuro no
Titulo Dos Defimbarguadores do Agrauo.
1 ITEM fará continuadamente fuas audiencias aa
faida da Rolaçam , como he contheudo no Titulo
Do Regedor. ·
2 CONHECERA de todos os agrauos, aíli ciueis,
como crimes, que fahirem dante os Juizes das Ter-
ras da Raynha , ou dante o Corregedor da Comar-
ca , que por fua auétoridade faz correiçam em ellas.
Peró fe os taees agrauos pertencerem a feitos cri-
mes , defernbargualos-ha em Rolaçam com os Def-
embarguadores que o Regedor pera iffo ordenar. E
os agrauos dos feitos ciueis defembarguará por fi,
como dito he nos feitos que vierem a elle por apel-
la-
Do OuvmoR DAS TERRAS DA RAYNHA. 97

laçam. E quando fe acertar que elle paff'e, ou atra-


ueíle per cada hüa das dicas Terras • poderá fazer
Correiçam.., e conhecer dos feitos ciueis por auçam
noua, ou por agrauo dos ditos Juizes, ou do dito
Corregedor da Comarca, e poderá fazer todas as ou-
tras coufas que pertencerem fazer ao Corregedor da
Noífa Corte: com tanto que o dito Ouuidor nom
eftee em cada huü Luguar mais de quinze dias, e
querendo hi mais eílar nom vfe .mais do dito Officio
por ninhüa guifa. E viuendo o dito Ouuidor em ca-
da hüa das Terras da Raynha, poderá no tempo do
efpaço conhecer de todas as coufas, que elle por fi
poder fazer, e defembarguar fem Rolaçam.
3 ITEM nom paílará ninhuü defembarguo por
Aluará, foomente por Carta alTelada com Noílo Se-
lo, ou da Raynha, e fazendo-o d'outra guifa. Man-
damos aas Juíl:iças da Terra que o nom cumpram>
nem façam obra por ninhuüs feus Aluaraes , faluo
Mandados pera prender os que o deuem feer pode-
rá paífar por Aluaraes.
4 ITEM nom ·conhecerá por auçam noua em ni-
nhuü cafo , faluo nos contheudos neíle Titulo.
5 ITEM o dito Ouuidor dará Cartas de feguran-
ça em todo tempo e luguar , que por eíle Regimen-
to póde vfar de fua jurifdiçam.
6 ITEM nom tomará conhecimento de ninhúa
coufa que pertença aos Dereitos Reaes , conuem a
faber, Portagem, Juguada ,ou qualquer outra coufa
que pertença ao auer Noífo, ou da Raynha; porque
Liv. 1. N tal
98 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TJT. X.
tal conhecimento pertence aos Veedores da Fazen-
da, ou ao Juiz dos Noífos Feitos, fegundo a quali-
dade da couía fobre que for a contenda , como em
os Regimentos de feus 0fficios do que a cada huü
pertence Temos determinado.
7 E Q!IANDO acontecer que a Raynha eftee em
cada huü Luguar de fuas Terras fem Nós , e o feu
Ouuidor hi efteuer com ella , poderá tomar conhe-
cimento por auçam noua , e por agrauo de quaef-
quer contendas dos ditos Luguares, em que affi efie-
uer, antre quaefquer peíloas, e fobre quaefquer con-
tendas, como dito he. E das outras coufas que a elle
vierem , que eUe por Í1 foo fem Rolaçam póde de-
terminar , conhecerá de todas as Terras da RaY:nha.
E fendo Nós hi nom tomará conhecimento por au-
çam noua, nem por agrauo de ninhuü feito ; porque
onde Nós Eílamos o conhecimento dos taees feitos
pertence ao Corregedor da Notra Corte , que prin-
cipalmente · reprefenta Noffa Peffoa , e quando elle
he fufpeito, o Chanceler Moor dará hi outro Juiz
fem fufpeita, que ouça as partes , e faça Dereito e
Juíliça em Noffo Nome; ca onde o dito Corregedor
eíl:aa nom póde outra ninhúa Juftiça fazer Correi-
çam, nem conhecer dos feitos que ao dito Correge-
dor pertencem. Peró por efto , que affi geeralmente
Ordenamos, nam he NoíTa Tençam deroguar em al-
güa parte os priuilegios outorguados aas Raynhas
polos Reys NolTos Anteceffores , e por Nós confir-
mados, ante Mandamos , que em todo lhe fejam
guardados I como em elles for contheudo. TI..
Do PROCURADOR oos Nossos FEITOS. 99

TI TU LO XI.

Do Procurador dos Noflos Feitos.

O PROCURADOR dos Noífos Feitos deue feer


Letrado, e bem entendido, pera faber efpertar , e
aleguar as coufas , e razoes que aos Noífos Dereitos
pertencem, porque fejam por íeu bom auifo os Nof-
fos Defembarguadores bem enformados , e Nolfos
Dereitos Reaes acrecentados. Ao qual Mandamos ,
que com grande deligencia ,e muito a miude requei-
ra os Veedores da Fazenda , Contadores , e Juizes ,
que lhe dem as enformaçoes, que ouuerem dos Nof-
fos Dereitos, nos feitos que fe trautam , ou trauta-
rem perante o Noffo Juiz ,c,u que comprir de fe or-
denarem por razam de Noífos Bens e Dereitos , fe-
gundo a enformaçam que lhe dada for. E razoe em
os feitos como milhar entender por Noífo Seruiço, e
fem malícia , affi perante o Juiz dos Nolfos Feitos,
como perante os Veedores da Fazenda, e outros
quaefquer Juizes que delles deuam conhecer. E re-
queira os Efcriuaes de Noffos Feitos , que lhe dem
em rol todos os feitos que tem, e que andam peran-
te o Juiz de Noífos Feitos, aili fobre Jurifdiçoes, co-
mo dos Nofios Reguenguos, e das Juguadas , e de
todos outros Dereitos Noffos. E faberá o tempo em
que foram começados, e porque nom dam nelles li ..
uramento, e dilo-ha a Nós, ou ao Regedor ,pera fe
dar ordem corno em breue fejam defembarguados.
N2 E
100 0 PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. XI.
E feja bem deligente em feu Officio a fazer tirar as
inquiriçoes que por Noffa parte ouuer de dar I e fa-
ber dos Veedores da Fazenda , e Juizes I e Contado-
res, e Almoxarifes a milhar enformaçam que poder
pera os Noífos Feitos I e artiguos delles. E affi faiba
por elles, e por onde milhor poder os nomes das te-
flemunhas I por que fe potra prouar o Dereito que a
Nós pertence, e affi pera as contraditas, ou repro-
uas aas prouas dadas contra Nós.
1 E POR euitar muitos inconuenientes , Manda-
mos que o Noffo Procurador nom refponda a cita..
çam algüa I que lhe em Noffo Nome feja feita I pera
começar nouamente feito contra elle, nem menos
elle mande citar em Noífo Nome outra peffoa algüa,
nem fe oponha, nem affifta a ninhuü feito fem Nof-
fo efpecial Mandado; e quando fouber que alguíi
feito fe trauta, ou lhe parecer que deue citar alguem
por algüa coufa que Nos pertença , elle No-lo fari
{aber, pera Nós niífo Mandarmos o que ouuermos
por Noífo Seruiço.
2 PoREM nom lhe Embarguamos que potra pro.
curar , ou voguar nos feitos dos Fidalguos , que tra.
zem Noffas Terras, Rendas I ou Dereitos I e d•outras
pefibas , que traguam algüas coufas Noílas, e da Co-
roa de Notlos Reynos , ajudando-os contra outras
pcfi"oas priuadas que lhe queiram embarguar, ou
menos paguar de No.ffos Dereitos, ou fazer alguü
dano, ou minguoamento em elles, o que poderá fa,.
zer fem Noifo Mandado. E quando affiprocurar em
al-
Do PROCURADOR. Dos Nossos FE1Tos. 101

alguü -feito dos ditos Fidalguos, poderá delles rece-


ber , e auer feu falario corno os outros Procurado-
res. E quando fe taees feitos ouuerem de defembar-
guar em Rolaçam , razoe, ou alegue qualquer ra-
zam , ou Dereito, que por parte dos ditos Fidalguos,
ou peffoas fobreditas rnilhor entender. E ao tempo
que os Defembarguadores ouuerem de dar fuas vo-
zes fe aleuante da Mefa , e nom efiee aas vozes , e
os leixe defembarguar como por Dereito entende-
rem , pera mais fem pejo poderem dar fuas vozes.
E nos taees feitos , poílo que o Noffo Procurador
affiíla , fe os ditos Fidalguos forem merecedores de
feer condenados em cuílas , nom feram dellas efcu-
fos por lhe o dito Noffo Procurador aílifür, ou aju-
dar.
3 E Nos feitos que Nós auemos contra outras
peffoas, ou ellas contra Nós, ferá o dito Procurador
prefente ao dar das vozes, e defembarguar delles.
4 ITEM o dito Noffo Procurador fe enformarás
fe fe trautam alguüs feitos perante os Prelados , ou
feus Viguairos , que fejam contra os Nolfos Derei ..
tos, e Jurifdiçam, pera o por Nós defender, affi por
Oereito Comum , e Ordenaçoes, e Artiguos acorda-
dos, e aprouados polos Reys que ante Nós foram •
como por outro qualquer modo Jurídico. E fe viir
que vfurpam a Noílã J urifdiçam, ou alguü outro De-
reito Noffo, fale primeiramente com o Regedor , o
qual o verá com alguüs Defembarguadores que lhe
bein parecer: e acordando-fe que pertence a Nós:,
man..
102 O PRIMEIRO LrvRo DAS ÜROEN. Tn. XII.
mandaram chamar o Viguairo aa Rolaçam , e o dito
Noffo Procurador ·c om o dito Viguairo falem, e dif-
purem fobre o cafo, e fe o dito Viguairo nom qui-
fer reconhecer que tal Jurifdiçam , e Dereicos per-
tencem a Nós , os Defembarguadores lhe moílrem
por Dereito como o conhecimento do tal neguocio
pertence a Nós , e nom a elle ; e quando nom quife-
rem conceder, daram Cartas a aquelles contra quem
os Viguairos, ou Viguairo proceder, porque os nom
eu item , nem prendam por fuas cenfuras -, nem le-
uem delles penas de efcomunguados, nem guardem,
nem executem fuas fentenças, nem mandados , co-
mo fempre fe cuílumou em femelhanres cafos.

TI T U LO XII.
Do Prometor da Jajlrça da Cefa da Sopricaçam.

O PROMETOR da Jufüça deue feer Letrado, e


bem entendido pera faber efpertar, e aleguar as cau-
fas, e razo€s que pera lu[Jle, e clareza da Juftiça , e
pera inteira conferuaçam della conuem , . ao qual
Mandamos que com grande cuidado, e deligencia
requeira todas as coufas que pertencem aa Jufiiça,
em tal guifa que por fua culpa, e negrigencia nom
pereça, porque fazendo o contraira, Nós lho eílra..
nharemos fegundo a culpa que nello teuer.
I Ao Prometor da Juíl:iça pertence ( quando no
Lu.
Do PRoMET. DA JusT. DA CASA DA SoPRic. 103

Luguar onde Nós Efteuermos, ou a Cafa da Sopri-


caçam fem Nós , e as Juíl:iças Ecclefiaílicas proce-
derem por fuas cenfuras contra os NoíTos Deíembar-
guadores, e Juíl:iças , por tirarem, ou mandarem ti-
rar alguü prefo da lgreja ) de falar com o Regedor ,
pera que veja o dito cafo com alguüs Defembargua-
dores, que lhe bem parecer, e acordando-fe que he
bem tirado, mandaram chamar o Prometor Eccle-
fiaílico aa Rolaçam , e o dito Noffo Prometor com
o dito Prometor da Igreja falem , e difputem fobre
o cafo ; e fe o dito Prometor da Igreja nom quifer
reconhecer que he bem tirado , os Defembarguado-
res lhe moftrem por Dereito como he bem tirado ;
e quando as Juftiças Ecclefiafticas o nom quiferem
conceder , poeram defembarguo , por que os norn
euitem por fuas cenfuras , nem guardem , nem exe-
cutem fuas fentenças , nem mandados , como fem-
pre fe cuílumou em femelhantes caías.
2 ITEM ferá obriguado veer todas as inquiriçoês
que vierem aa arca das malfeitorias, as quaes o Efcri-
uam das malfeitorias ferá obriguado lhe entreguar,
do dia que as receber a oito dias, fob a pena no Re-
gimento de feu Officio contheuda. E tanto que o di-
to Prometor viir qualquer das ditas inquiríçoes, ti-
rará a rol todas as peffoas que por ellas achar culpa-
das , o qual rol moftrará ao Corregedor da Corte
dos feitos crimes, e lhe requererá que os mande
prender , e proceder contra elles fegundo fórma de
Noífas Ordena.~oes.
ro4 O PRIMErno LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. XII.

3 ITEM ao Prometor da Juíliça da dica Caía per...


cence formar li belos contra os feguros , ou prefos,
que por parte da Juíliça ham de feer acufados na
Corte por Acordo da Rolaçam , faluo onde ouuer
querela perfeita, ou quando o Seguro confeffar o ma-
leficio na Carta de feguro ; porque em cada huü dos
ditos cafos o fará por mandado do dito Corregedor,
ou de qualquer outro Defembarguador, que do feito
conhecer. E porem nos cafos onde nom ouuer que-
rela , nem confiffam da parte, poerá fua tençam na
deuaffa , pera com elle dito Prometer fe veer em
Rolaçam , fe deue feer acufado , ou prefo , ou abfo-
luto. E affi fará nos ditos feitos quaefquer outros ar-
tiguos , e deligencias, que forem neceffarias por bem
de J ufüça. Porem nom curará de razoar nos ditos
feitos fobre final , faluo em alguü feito de impor-
tancia , onde lhe for mandado por Acordo da Rola-
çam.
4 ITEM o dito Prometor entreguará as Cartas
que fahirem dos feitos da Juftiça, e dos outros fei-
tos que o Noffo Procurador ouuer em Noffa Corte 1
que lhe por o Noffo Procurador , ou Solicitador fo-
rem entregues, e affi as dos prefos pobres , e defem-
parados , e todas outras que a bem de Juftiça , ou
aos Noffos Feitos pertençam, aos Caminheiros da di-
ta Cafa, que as leuem a aquelles Luguares pera onde
forem derigidas , e traguam loguo cercidam da obra,
e deligencia que fe por ellas fezer. E o Solicitador
da Juftiça poerá em lembrança perante o Prometor
o dia,
Do PROMET. DA JusT. DA CASA DA SoPRtc. 105

o dia,em que as ditas Cartas foram dadas aos Cami-


nheiros, e o tempo em que com as repoíl:as dellas
tornaram , pera fe veer fe poferam em elló a deli-
gencia que deuiam. E os que forem negrigentes
apontalos-ha o dito. Solicitador, e dilo-ha ao Rege-
dor, o qual lhes defcontará de feus mantimentos
aquel!o, que por foas negrigencias nom mereceram.
5 TERA iffo mefmo cuidado de veer nas repo-
fias que os Caminheiros trouuerem , fe os Correge-
dores, ou Juízes, ou quaefquer outras peífoas a que
as ditas Cartas hiam derigidas , foram negrigentes
em comprir o que lhes por ellas era mandado, e re-
querer aos Julguadores, por que taees Cartas patfa-
ram , que procedam contra elles, e todauia mandem
comprir todo o que das ditas Cartas ficou por fàzer.
6 ITEM o Prometor ha de dar certidam aos Ca-
minheiros • como tem feruido como deuiam , pera
por fuas certidoes o Regedor lhe mandar paguar os
manti mentas.
7 E DEFENDEMOS, e Mandamos que em ninhua
Cidéíde, Villa, ou Luguar de Noffos Reynos, e Se-
nhorios, nom aja Prornecor da J uíliça , faluo nas
Noffas Caías da Sopricaçarn e do Ciuel , e affi nas
Correiçoes em cada hüa auerá huü Prometor • que
por Nós ferá dado; porque nas outras Cidades, ViJ-
las , ou Luguares de Noffos Reynos , o mefrno Ta-
baliam, ou Efcriuam que for do feito fará o libelo,
e dará as teftemunhas íegundo Diremos no quinto
Liuro no Titulo Da ordem que ft terá nosftitos cri-
Liv. L O mes
106 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XIII.
mes &e. E do que o Tabaliam , ou Efcriuam fezer
como Prometor , nom lhe ferá contado falario de
prometoria, foomente lho contaram aas regras co-
rno outra efcriptura do feito, que corno Tabaliam
efcreue.

---·------
T I T U L O XIII.

Do Eftriuam da Chancelaria.

TANTO que o Efcriuam da Chancelaria for pro-


uido do Offi.cio, ante de o feruir jurará que bem e
verdadeiramente o ferua , guardando inteiramente
feu Regimento a feruiço de Deos , e Nolfo , e bem
das partes.
1 !TEM o dito Efcriuam nos dias das dadas das
Càrtas , que com elle defpois de viíl:as , e paffadas
polo Chanceler Moor, fe ham de dar e defpachar
aas partes naquellas que forem de Officios , em que
fe deua de fazer juramento na Chancelaria , e nom
forem de qualidade a que o Chanceler Moor fegun-
do feu Regimento por fi o aja de dar , tomará os di-
tos juramentos por fi aos que de taees Officios forem
prouidos , · na maneira feguinte : Eu Foam juro aor
Sanflos Auangelhos em que ponho as maõs, que bem,fiel.
e verdadeiramente ferva efie OiJicio , de que me E!Rey
No.ffo Senhor fez merce , g11ardando inteiramente o Regi'-
mento que delle me he dado a ftrviro de Deos , e de Sua
.Ili-
Do EscR.IVAM DA CHANCELARIA. 107

Alteza , e bem , e jujliça das partes. E nom leuarei fala-


rio, nem percalço a!guü fóra do que me daa o meu Regi-
mento , e Ordenaçoés do dito Senhor. ·
2 E TOMADO affi por elle o dito juramento, af-
fentará por fua maó , e fob feu final nas cofias da
Carta do tal_Officio : Eu Foam tomei por mim juramen-
to a Foam, e dou dijfofee: e fem eílo nom paílará Car-
ta de ninhuü Officio. E fe nom leuar a fee do dito
Efcriuam nas coíl-as, de como lhe o dito juramento
deu na maneira que dito he, nom lhe ferá tal Carta
guardada , nem poderá feruir o dito Officio , e fer-
uindo-o lhe poderá feer pedido, como fe nelle fe-
zeffe taees erros , porque o por bem de Noffas Or-
denaçoes deuefie perder.
3 ITEM dará as Cartas como forem afretadas per-
ante o Recebedor, e nom fem elle, e ponha em ellas
pagua por fua maõ, fegundo fórma do Regimento
da taixa da Chancelaria ; e como pofer a pagua na
Carta , efcreua-a no liuro , porque effe Recebedor
ha de dar conta do que receber> e guarde bem o li-
uro ; porque afóra effa arrecadaçam fe podem mui.
tos liuramentos dar por elle. E fe e11e duuidar, ou a
parte fe agrauar delle, leue-a ao Chanceler Moor ; e
fc a parte, ou o Rendeiro, ou o Recebedor nom qui-
ferem eílar pola determinaçam do Chanceler Moor,
o dito Efcriuam leue a Carta fobre que for a duuida
aa Rolaçam, pera com o dito Chanceler Moor hi
feer vi.fia , e determinada.
4 ITEM regifte todas as Cartas que pera regiflar
0 l fo..
108 0 PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XIII.

forem, conuem a faber, todas as que paITarem com


feio pendente, excepto fentenças, Cartas de Va{fal-
los , Seguranças Reaes, Cartas de merces de couías
moueis, e regifte-as em tres liuros de bons purgua.
minhos, que pera efto tenham ordenados de boa le-
tra , e bem ordenadamente efcripta ; conuem a fa_
ber, em huü liuro regiftará DoaçoEs, Padroes, Offi-
cios , e aforamentos ; e em outro todas as Cartas que
paffam polos Defembarguadores do Paaço; e em ou-
tro priuilegios , liberdades, aprefentaçoes de Igrejas,
e todas as outras de quaefquer qualidades.
s E NOM confentirá que parte algua regifte fua
Carta , nem outra peffoa , mas todalas Cartas que fo-
rem pera regifiar, regi fie-as elle, ou outro feu Efcri-
uam , que pera dlo tenha Noffo Aluará, e que feja
ajuramentado. E qualquer peffoa que fem Noffo Al-
uará no dito Officio efcreuer , auerá a pena de falfa-
rio; e porem o dito Efcriuam da Chancelaria nom
ferá defobriguado das penas que os ditos Efcriuaes,
que por elle efcreuem merecerem, por quaefquer er-
ros que nos ditos Officios fezerem: e des que a Carta
por elle , ou por o dito Efcriuam for regiftada , a
concertará o dito Efcriuam da Chancelaria, e affine
por fua maõ em fim do regifto de cada hüa Carta.
E fe no regifto ouuer algüa interlinha , ou refpança-
mento , ou borradura , referue-a affi o dito Efcriuam
em fim do dito regiíl:o , e affinc por fua maõ , cm
guifa que fc nom polfa em ello fazer falfidadc, e fe
fe fez.er , que loguo pareça ; e todo efto comprirá affi
o di.
Do EscRIVAM DA CHANCELARIA. 109

o dito Efcriuam principal , fob pena de priuaçam


do Officio.
6 E TODA LAS Cartas que forem de Graça , que
por Nós nom forem affinadas , e o forem por aquel ..
les Noífos Officiaes , que por bem de feus Officios e
Regimentos as taees Cartas deuem patrar, ponha
cm húa ementa, e tragua a Nós ao menos duas ve-
zes na fomana , · e ponha em effa ementa todas as
forças das Cartas, e por quem paffam , e as que Nós
Mandarmos que paífem , ou nom, fegundo o que
Nós Mandarmos affi o efcreuerá loguo na ementa ,
a qual ementa Nós affinaremos, e o dito Efcriuam a
guardará muito bem. E a dita ementa defpois que
por Nós for affinada , leuará o dito Efcriuam , ou
mandará ao Chanceler Moor, pera ao tempo do af..
felar das Cartas as concertar com ella , e loguo fe
tornará ao dito Efcriuam.
7 E PORQ!lE a ementa he a maior confiança que
no dito Officio ha , fe o dito Eferiuam for doente ,
ou ocupado em outras coufas , que por fi nom po..
der defembarguar com Nofco a dita ementa, nom
dará carreguo a ninhuü que a Nós tragua ; faluo fe
for homem a Nós bem conhecido , e por Noffo Al-
uará aprouado. E aquelle que com Nofco defembar-
guar a dita ementa , dará as Cartas del1a • e lhe poe..
rá as paguas.
8 E Q!lANDO acontecer, que na dada das Cartas
algüa das partes nom vier requerer fuas Cartas, e fi..
carem por dar, Mandamos a eife Efcriuam , que as
Car.

17
I 10 0 PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. XIII.
Cartas que ficarem ponha todas em hüa arca , de
que elle tenha hüa chaue, e o Recebedor outra.
9 E Q.UANDO em outro dia ouuer de dar as Car-
tas, que nouamente affelarem • entam dem as outras
que ficaram, e as que ficarem por dar fempre fiquem
em fua guarda fechadas na dita arca , em cal guifa,
que fe nom poílam furtar, nem fazer em ellas outra
ma Idade algúa.
10 ITEM o dito Efcriuam ha de fazer todas as
Cartas dos defembarguos, que pertencem ao Chan ..
celer Moor • e efcreuer os proceffos que forem orde-
nados perante o Chanceler Moor , que a fru Officio
pertencerem.
II E FAÇA em tal guifa, que feja bem deligente
nas coufas que a feu Officio pertencerem , e requei- ·
ra ao Chanceler Moor por feus defembarguos, e fale
com elle cada vez que comprir fobre as duuidas que
teuer, ou quando as partes fe agrauarem das paguas,
como dito he.
I 2 E PERA o Efcriuam da Chancelaria Caber
como fe ham d'arrecadar as dizemas das fentenças,
aalem do que na taixa da Chancelaria he contheudo,
e affi pera a todos feer notorio, Ordenamos , e Man-
damos por fazer merce ao Noff'o pouo , poll:o que
atee aqui as dizemas das fcntenças fe arrecadalTem
d'outra maneira, que daqui em diante as dizemas, e
vintenas, ou quarentenas de todas as fentenças fe
arrecadem por eA:a maneira. Se a fcntença condena-
toria nom paífar de contia de trinta mil reaes , o ven-
ce-
Do EscRIVAM DA CHANCELARJA. JJI

cedor pague loguo ao tirar da fentença da Chancela..


ria toda a dizema que nella montar ; faluo fe o ven-
cedor loguo hi amoílrar , e fezer certo, como o con-
denado nom tem bens • nem fazenda. por que fe pof-
fa auer o que lhe he julguado , e mais a dizema, fe
a polo dito condenado paguaffe; porque em tal cafo
ferá entregue a fentença ao vencedor fem paguar a
dita dizema, e ficará refguardado ao Noífo Recebe-
dor , ou Rendeiro poder arrecadar a tal dizema po-
lo condenado, fe ao defpois teuer bens, por que a
poffa paguar. E fendo a condenaçam de maior con-
tia nom ferá theudo o vencedor paguar dizema •
nem vintena , ou quarentena da tal condcnaçam •
mas tirar-fe-ha a verba da dita condenaçam , pera
por ella fe fazer Carta de execuçam, e fe arrecadará
a dizema , vintena, ou quarentena , que em tal cafo
couber , polos bens do condenado , e nom fe tirará ,
nem desfalcará coufa algüa do que ao vencedor for
julguado. E nom fe achando tantos bens, por que fe
todo poífa auer , ferá primeiro paguo o vencedor do
que lhe for julguado, e pola mais fazenda do con..
denado • fe a teuer , fe arrecadará pera Nós , ou pera
o Rendeiro que neffe tempo for, a dita dizema, vin-
tena , ou quarentena, fem por ello o condenado po-
der feer prefo, ficando refguardado ao Noffo Rece-
bedor, ou Rendeiro ( fe ao tempo que fe deuem ar-
recadar as dizemas fe nom acharem bens do conde-
nado) fazer execuçam polos bens, que lhe ao defpois
forem achados em qualquer tempo que feja.
T J..
n1 O PRIMURO LtvRo DAS ÜRDEN. Tr'l'. XIV.

TI TU LO XIV.

Do Meirinho Moor.

O MEIRINHO Moor deue feer homem de gran-


de fangue, e mui principal , que as coufas de muita
irnportancia , quando lhe por Nós forem mandadas ,
ou por Noffas Jufiiças requeridas, poíla bem fazer.
1 ITEM a feu Officio pertence prender peffoas
d'Eftado, quando lhe por Nós for mandado, e affi
grandes Fidalguos , e taees, que as outras Juíl:iças os
nom poffam bem prender. E iffo rnefmo aleuantar
forças , que por homens de femelhante maneira ,
conuem a faber, Senhores de Terras • e grandes Fi-
dalguos , fejam feitas quando por Nós lhe for Man-
dado.
2 ITEM ao que for Meirinho Moor pertence de
poer de fua maó huü Meirinho, que ande continua-
damente na Corte , pera aleuantar as forças , e fem-
razo~s que em ella forem feitas , e prender os mal-
feitores, e fazer outras coufas, que fam contheudas
em o Regimento de feu Officio. E efte tal ferá Ef-
cudeiro de boa linhagem , e conhecido por bom • e
pofio por auél:oridade Noffa, e que delle Ajamos co-
nhecimento pera o aprouar por pertencente pera fer-
uir no dito Officio ; o qual auerá em quanto feruir
todos os proes , e dereitos contheudos em fcu Regi-
mento.

TI-
Do A L M o T A e E M oo R. 1 13

TITULO XV.

Do Almotace Moor.

O ALMOTACE Moor ha de andar continuada-


mente em Noffa Corte , e deue feer peffoa que com
boa conciencia e faber ferua o dito Officio, guar.
danho o que cumpre a Noffo feruiço, e bem do Nof-
fo pouÓ. E terá cuidado de bufcar tantos e taees re-
guataes , com que Noíla Corte fempre feja bem
abaílada de todos os mantimentos , e que fe obri-
guem a feruir com as mais azemalas, e melhores
que poderem , e lhes dará Cartas de feus priuilegios
per elle affinadas, as quaes Cartas paffaram em Nof-
fo Nome , e hiram aa Ementa , os quaes priuilegio3
fará inteiramente guardar; e aos ditos reguataes fe
nom guardaram os ditos priuilegios atee nom terem
as Cartas delles paffadas pela Noffa Chancellaria, os
quaes reguataes elle mandará aílentar em huü liuro
que pera ello terá, pera faber quantos fam, e pera fe
auer de prouer acerca de feus feruiços , fegundo a
neceffidade que dello ouuer. E bem affi conílrangerá
os ditos reguataes que cllmpram em todo aquello
que fam obriguados , affi pelas Cartas de feus priui-
legios , como per eíl:e Noffo Regimento ; conuem a
faber , que traguam aa Noífa Corte , em qualquer
Luguar que Nós Eíl:euermos , paro , vinho, carne,
e pefcado , e todolos outros mantimentos abaílada-
mente que neccífarios forem. Os quaes mantimentos
P nom
n4 O PJlIMEIRO Liv. DAS ÜRDEN. Tn. XV.
nom traguam dentro de cinco 1eguoas donde Eíl:e-
uermos , e achando-fe que os trouxeram de dentro
de cinco leguoas , Mandamos que fejam perdidos ,
e ametade leue o Almotace Moor, e a outra meta..
de o Meirinho de Noffa Corte quando elle acufar;
e quando nom acufar > nom leue mais que a quar-
ta parte , e quem acufar a outra quarta parte.
E efta defefa, conuem a faber, que nom traguam
os mantimentos de dentro de cinco leguoas , nom
aja luguar , quando Nós Andarmos caminho ; por-
que entam poderam trazer os ditos mantimentos
a hua leguoa derredor. E outro fi nom auerá luguar
nos peícados, os quaes os ditos reguataés poderam
comprar em quaesquer Portos de Mar, ou Rios; po-
flo que Nós em elles ou acerca delles Eftemos. E os
ditos reguataês venderam os mantimentos que affi
trouxerem d'alem do dito !emite por Almotaçaria
que o Almotace Moor lhe poerá, fegundo lhe juíl:o
parecer. E Defendemos que os ditos reguataés fe
nom partam de Noffa Corte fem licença do Almota ..
ce Moor , o qual lha dará fe lhe parecer neceflario •
leixando porem fc:u mancebo , e beíl:as que feruam
em Noffa Corte , em quanto elle for abfente.
1 E A todos outros reguataês e vendeiros dos
Luguares onde Formos , o Almotace Moor fará
vender os mantimentos pelo regimento e eftado da.
Terra , em que dlauam ante de Noffa cheguada.
E fobreuindo algua moor carefüa , fale com Nofco,
pera Nós Prouermos acerca do crccimemÓ dos pre..
ços~ 2
Do ALMOTACE MOOR.. 115

2 SERA' auiíado o Noffo Almotace Moor de fa ..


ber de Nós os Luguares per onde, e pera onde Aue ...
mos de hir, pera mandar recado a cada huü dos di-
tos Luguares , que façam preíl:es mantimento , em
tal guifa, que quando Cheguarmos Achemos aba-
fiança daquello que neceffario for. E tanto que Che..
guarmos ao Luguar, faça ajuntar os Juizes, Verea-
dores, e Procurador, e Almocaces, e faiba delles co ..
mo eílá o Luguar prouido de carniceiros , almocre..
ues, padeiras, cauerneiras, e d'outras coufas que ne..
ceífarias fam pera mantimento de Noffa Corte , e
prouerá onde achar desfalecimento, e coíl:rangua a
cada huü dos fobreditos, que ferua com aquello que
a feu Officio pertença , e bem aíli prouerá que o Nof-
fo carniceiro corte cada dia a carne que for obri-
guado.
3 E EM cada Luguar onde Formos, auerá loguo
do Efcriuam da Camara os nomes das Vintenas , ou
dos Luguares, e Cafaes, fe hi vintenas nom ouuer; e
faberá parte de todos os palheiros , e per feus Alua-
raes mandará dar palha aos de Noffa Corte, e feu
Efcriuam leuará de cada huu Aluará dous reaes.
E no dar da dita palha auerá refpeito aa eíl:ada que
hi Ouuermos d'eflar, fegundo a que na Comarca
ouuer, dando a cada befla pera vinte dias hüa re-
de, e paguar-fe-ha ao dono da palha cinco reaes
por rede. E o azemel que tomar a palha fem o Al-
uará , ou fem a paguar , feja prefo , e da cadea pa-
p 2 gue
n6 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. Tn. XV.
gue quinhentos reaes, a metade pera quem o acufar,
e a outra metade pera feu dono da palha.
4 OuTRo s1 ~eremos, que cada laurador que
laurar com hüa charrua, ou com huü arado, e dahi
pera cima, faça palheiro da palha que ouuer, de que
fe nam ha de aproueitar ; e qualquer que o dito pa-
lheiro nom fezer , e leixar perder a palha , pague de
pena quatrocentos reaes. E os outros lauradores que
laurarem com trilhoada , ou fingel , e nom fezerem
os ditos palheiras , e leixarem perder a palha como
dito he, paguem duzentos reaes, ametade pera quem
os acufar , e a outra metade pera a piedade. E eíl:o
fe entenda em termo de Lixboa, Sintra, Alanquer,
Obidos, Torres Vedras, Santarem, Torres Nouas,
Coruche , Saluaterra , Benauente , Montemor o No.
uo, Euora, Arraiolos, Eftremoz, Euora Monte, Ve-
mieiro, e Beja, Coimbra, e Montemor o Velho,
Tentugal, Pereira, Villa noua d' Anços, e affi em
quaesquer outros Luguares a que for mandado dizer
pelo Almotace Moor que Nós Auemos de hir inuer.
nar.
5 O ALMOTACE Moor mandará poer hüa balan..
ça pubrica com pefos aa porta do açougue onde o
Noffo carniceiro cortar a carne, com a qual eftará o
porteiro d• Almotaçaria , ou huü homem do Meiri-
nho, pera veer fe o dito carniceiro pefa beem, e como
deue, a carne que corta;· e achando que nam pefa
bem, e como deue a carne como dito he, aja as pe-
nas
Do A L M o T A e E M o o R. 117

nas que forem poíl:as pelo Regimento da Cidade, ou


Villa onde acontecer, aos que faro comprendidos
em affi nom pefar bem; e da pena do dinheiro aue-
rá ametade o que teuer a balança, e a outra metade
ferá pera a Piedade. E efta mefma maneira teram
com os carniceiros das Villas, e Luguares onde Eíl:e-
uermos, quando a balança do Concelho hi nom efie.
uer.
·6 E NOM confentirá, que no Luguar onde For-
mos fe faça o pam mais pequeno d~ que he con-
theudo no Regimento aqui pofto ; e fe o mais pe-
queno fezerem, mande ao Meirinho que o tome,
e o dee aos prefos , e mande aas padeiras que dem
pam em abaftança, fegundo a Ordenaçam que lhe
por elle ferá dada ; e nom fazendo ellas affi , paguem
as penas em que achar que cairam , as quaes feram
pera o Almotace Moor, ou. pera o Meirinho ,. qual
delles as primeiro comprender; e fendo achado po..
los Almotaces do Luguar fejam pera o Concelho.
Per tjle Regimento Jeram as padeiras cojlrangidas
dar o pam que venderem.
7 ITEM valendo o triguo a quatro reaes o alquei-
re, fazendo delle quatro paens , vem a cada huú
pam de real feílenta e cinco onças.
8 1TEM valendo a oito reaes , e fazendo delle oi-
to paens, vem a cada huü pam de real trinta e duas
onças.
9 1TIM valendo o triguo a doze reaes , e fazen-
do
118 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TrT. XV.

do delle doze paens , vem a cada huü pam de real


vinte e húa onças e dous terços d'onça.
10 ITEM valendo o triguo a dezafeis reaes , fa-
zendo delle dezaíeis paens , vem a cada pam deza-
feis onças e quarto d'onça.
11 ITEM valendo o triguo a vinte reaes o alquei-
re , fazendo delle vinte paens, vem em cada huu
pam de real treze onças.
12 1T EM valendo o triguo a vinte e quatro re..
aes, fazendo delle vinte e quatro paens , vem a ca-
da huü pam de real dez onças e cinco fextos d'onça.
13 ITEM valendo o triguo a vinte e oito reaes o
alqueire , fazendo em elle vinte e oito paens , vem a
cada huü pam de real noue onças e duas oitauas e
terço d'onça.
14 ITEM valendo o triguo a trinta e dois reaes
o alqueire, fazendo em elle trinta e dois paens, vem
a cada huü pam de real oito onças e duas oitauas.
15 ITEM valendo o triguo a trinta e íeis reaes o
alqueire , fazendo em elle trinta e íeis paens , vem
a cada pam de real fete onças e pouco menos de
quarta d'oitaua.
16 ITEM valendo o triguo a quarenta reaes, fa-
zendo em elle quarenta paens, vem a cada pam de
real feis onças e meia.
17 ITEM valendo o triguo a quarenta e cinco
reaes o alqueire, fazendo em elle quarenta e cinco
paens, vem a cada. huíí pam de real cinco onças e
feis oitauas e quarto d ' oitaua.
18
Do ALMOTACE MOOR, 119
18 ITEM valendo o rriguo a cincoenta reaes o al-
queire , fazendo em elle cincoenta paens , vem a ca-
da huü pam de real cinco onças e quarta d'onça.
1 9 1TEM valendo o triguo a cincoenta e cinco
reaes o alqueire, fazendo em elle cincoenta e cinco
paens , vem a cada huc paro de real quatro onças
e cinco oitauas, e tres quartos d'oitaua.
20 ITEM valendo o triguo a feffenta reaes o al-
queire, fazendo em elle feffenta paens, vem a cada
huü pam de real quatro onças e terço d'onça.
21 ITEM valendo o triguo a ferenra reaes o al-
queire, fazendo em elle fetcnta paens, vem a cada
huü pam de real tres onças e cinco oitauas e tres
quartos d'oiraua.
'.2 2 ITEM valendo o triguo a fetenta e. cinco rea-
es o alqueire , fazendo em elle fetenra e cinco paens,
vem a cada huü pam de real tres onças e tres oita-
uas e dous quartos d'oitaua.
23 lNEM valendo o triguo a oitenta reaes o al-
queire , fazendo em elle oitenta paens , vem a cada
huü pam de real tres onças e quarto d'onça.
24 E MANO.AMOS que todas as medidas, e pefos,
e varas, e couados fejam tamanhas como as da Nof-
fa Cidade de Lixboa, e nom fejam maiores nem
menores. E o Almotace Moor trazerá comfiguo os
padroés de todos os pefos , e medidas, e em cada
huü anno duas vezes no dito anno ( conuem a faber
hüa em Janeiro, e outra em o mes de Julho) no Lu ..
guar onde Eftcuerrnos fará affinar > e igualar aquel-
les
120 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TrT. XV.
les que per neceffidade de feus Officios ham de teer
pcfos, ou medidas, per que compram e vendem,
affi da Corte , como do dito Luguar ; e qualquer
que for compreendido prefente duas teílemunhas ,
ou per fua confiffam, com medida, ou pefo nom
marcado, e nom concertado, e concordante com o
padram , ou pofto que feja juílo e concertado com
o padram, fe marcado nom for, pague aquelle em
cujo poder for achado duzentos e oitenta reaes , e
mais feja prefo, e punido por Dereito, fegundo a fal-
fidade, ou malicia em que for achado. Porem no ca-
fo onde for achado o dito pefo , ou medida· marca-
da, e nom concordante com o padram , fe fc moílrar
que foi por culpa do afinador, ferá releuado da dita
pena, e o afinador a paguará. E leuará o Almotace
Moor d~afinar os ditos pefos e medidas , o que fe
acuílumar de leuar nos Luguares onde Eíleuermos.
2 5 E os carniceiros e pefcadeiras, affi da Corte ,
como do dito Luguar, feram obriguados a afinar os
pefos cada dous mefes hua ve~
26 E SE os ditos pefos ou medidas forem marca-
das com as marcas do Concelho , ou com a marca
que traz o Almotace Moor, e nom forem juíl:os e
concertados com os padroes., em eíl:c cafo fc tenha
a maneira feguintc.
27 ITEM o almude de vinho, em que for achado
erro de canada, pague aquelle em cujo poder for
achado duzentos e oitenta reaes. E por erro de mea
canada cento e quarenta reaes. E por erro de quarti-
lho
Do A L M oT A e E M o o R. r2r
lho no almude fetenta reaes. E da hi pera fundo
nom pague coufa algüa. E na arroba em que for
achado erro de huü arratel , pague de pena duzentos
e oitenta reaes. E por erro de meio anatei na arro..
ba , pague cento e quarenta reaes , e di pera fundo
foldo a Iiura.
28 E sE na vara ou couado for achado erro de
dous dedos, pague aquelle em cujo poder for acha..
da duzentos e oitenta reaes. E por erro de huü de..
do cento e quarenta reaes. E por erro de meio de ..
do fetenta reaes.
19 E No marco de prata, em que for achado er..
ro de meia onça , pague aquelle em cujo poder for
achado quinhentos e feílenta reaes. E por erro de
quarto d'onça pague duzentos e oitenta reaes. E por
erro d'oitaua d'onça pague cento e quarenta reaes.
E por erro de meia oitaua d'onça pague fetenta re-
aes, e di pera fundo a eífe refpeito, e nos pefos d'ou ..
ro , fe for pefo de cruzado , ou nobre , e for em elle
achado erro de huü graõ , pague aquelle em cujo
poder for achado cento e quarenta reaes , e por er-
ro de dous graõs pague duzentos e oitenta reaes, e
di pera cima a eífe refpeito. E fe for pefo de juílo,
ou dóbra , ou coroa , ou efcudo , ou qualquer outra
peça d'ouro , e for erro de huü graõ , pague fetenta
reaes > e por erro de dous graõs cento e quarenta
reaes , e di pera cima a eífe refpeito, e de graõ pera
fundo nom deue auer pena nos pefos d'ouro. E quan..
to aas outras medidas e pefos meudos que aqui nom
Liv. 1. Q_ fam
122 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. XV.

fam declarados, que forem marcados e nom concer-


tados com o padram , guarde-fe acerca dello a Or-
denaçam , ou vfança de qualquer Cidade, Villa, ou
Luguar em que Nós Formos, e nom fe leuem ou-
tras moores penas do que pelas ditas Ordenaçoés ou
vfanças fe foem leuar ; e ellas penas fejam pera o
Almotace Moor, ou pera o Meirinho, qual delles
primeiro os ditos erros achar : e fendo achados pelos
Almotaces das Cidades, Villas , ou Luguares, fejam
as ditas penas pera os Concelhos , e aalem deílo as
peífoas em cujo poder as ditas medidas, ou pefos •
forem achados , fejam prefos , e punidos per Derei-
to, fegundo a falfidade ou malícia em que forem
achados.
30 E POR(UJB os Officiaes dos Concelhos fai-
bam quaes e quantos padroés , e medidas, e pe-
fos fam obriguados tur , e iílo mefmo as peíloas
que per razam de feus Officios fam obriguados teer
pcfos , e medidas, o Declaramos na maneira feguin-
te. Em as Cidades , e Vil las de Noffos Reynos , e
Senhorios, que forem de quatro centos vezinhos e di
pera cima teram os padrões de metal feguintes , con ..
uem a faber, huu quintal que pefa cento e vinte oito
arratês de dezafeis onças o arracei, e tem em fi dez-
afeis peças, conuem a faber, a maior peça que he
a caixa com fua cobertura do mefmo metal, que pe-
fa meio quintal. Item tem outra peça d'arroba. Item
tem outra peça de meia arroba. Item tem outra pe..
ça de quarta, que pefa oito.arratés. Item tem outra
pe-
0 O A L MOTA CE MO O R. 12J

peça d'oitaua, que pefa quatro arrates. Item tem


outra peça , que pefa dous arrates. Item tem outra
peça, que pefa huü arratel. Item tem outra peça,
que pefa meio arratel, que he huú marco, que fam
oito onças. Irem tem outra peça, que pefa quarto
d'arracel , que he meio marco, que fam quatro on-
ças. leem tem outra peça que pefa duas onças, que
he oitaua d'arratel. Item tem outra peça, que pefa
hüa onça. Item tem outra que pefa meia onça. Item
tem outra peça, que pefa duas oitauas. Item tem ou-
tra peça , que pefa hüa oitaua , que he hu.ú cruzado.
Item tem duas peças de meia oitaua cada hüa.
31 E os Concelhos que forem de duzentos vezi-
nhos atee quatrocentos teram foomente meio quin-
tal , e di pera baixo todos os pefos acima conthc:u-
dos. E os Concelhos que forem de duzentos vezi-
nhos , e di pera baixo teram foomente hua arroba, e
todos os outros peíos de hüa arroba pera baixo aci ..
ma contheudos, fem os taees Concelhos de duzentos
vezinhos pera baixo ferem obriguados terem ni-
nhuüs pefos d'ouro.
32 ITEM todas as Cidades e Villas de Noífos Rey..
nos, e Senhorios , de qualquer numero de vezinhos
que fejam , teram padram de vara e couado , e me-
didas de pam , conuem a faber, alqueire, e meio
alqueire, e quarta d'alqueire; e medidas de vinho•
conuem a Caber , almude, e meio almude , canada •
e meia canada , quartilho, e meio quartilho. E me-
didas de azeite • conl.lem a fabcr • alqueire• e meio
Q_2 al-
124 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. Tn. XV.
alqueire, e quarta d'alqueire, e affi as outras medi-
das meudas, fegundo fe cufiumam nos Luguares.
33 E ESTES padrões de pefos, e medidas eftaram
em húa arca, ou almario do Concelho com duas fe-
chaduras, a qual arca ou almario eíl:ará na Camara, e
o Procurador do Concelho terá hüa chaue, e o Efcri-
uam da Cam<1,ra terá outra , e per dfes padroes fe
concertaram quaesquer pefos e medidas outras , que
fe derem pera o dito Concelho, ou pera fóra delle , e
feram marcadas da marca do Concelho affi eftes
como outras quaesquer medidas, ou pefos que por
elles fezerem , as quaes marcas dos ditos pefos e me-
didas eíl:aram com os ditos padroés bem guardadas
na dita arca ou almario; e feram auifados que os di ..
tos padroés nom fairam fóra da dica arca ou alma..
rio , foomente pera a caía da Camara quando forem
neceífarios. E nom os empreíl:aram a ninhua peffoa,
nem pera por elles afinarem outros fóra da dita Ca..
mara , nem pera por elles pefarem , foomente na di..
ta Camara como dito he; e por cada vez que o con..
trairo fezerem , paguaram mil reaes os Officiaes, que
nello forem culpados , a qual pena ferá pera o Al-
motace Moor, ou pera o Meirinho da Nofla Corte,
qual delles os ditos Officiaes na dita culpa primeiro
com prender, ou pera o Concelho , fe o Procurador
do Concelho o primeiro requerer. Porem os afinad~
res terarn outros taees pefos , e medidas concordan-
tes com os fobreditos , pera por elles afinarem ao
Concelho, tirando meia arroba, e di pera cima , por-
que
Do A L Mo T A e E Mo o R. 125

que eíles nom terá o afinador, antes quando alguü


quifer afinar meia arroba , e di pera cima, hirá afi ...
nar aa Camara.
34 E MANDAMOS que daqui em diante peffoa al-
güa de qualquer eftado , e condiçam que feja , nom
feja oufado de teer outros defuairados pefos, nem
por elles vender , comprar, receber , nem entreguar
coufa algüa, e todos comprem , vendam , e entre..
guem por arratel de dezafeis onças, e a efte refpei-
to o quintal, em que ha hi cento e vinte oito arratês
das ditas dezafeis onças , e pelos outros fobreditos
pefos. E qualquer que for achado teer os ditos pe-
fos defordenados , e nom afinados pelos ditos pa-
droés, ou com outros pefar qualquer coufa, porca-
da vez que em ello for comprendido , ou lhe for
prouado por verdadeira proua , Mandamos que feja
condenado nas penas , que por Noffas Ordenaçoés
fam poftas aos que pefam por pefos falfos, como
emcima dito he.
35 E AS peífoas particulares, que fam obrigua...
dos a teer pefos e medidas , fam as feguintes.
36 Os Ouriuezes teram hüa pilha de quatro mar.
cos , conuem a faber, dous marcos na pilha , e dous
nos outros pefos miudos.
37 Os Reguataés da Corte, que vendem pefca-
do , teram oito arraces , e quatro arratês , e dois
arratês, e hum arracei, e meio arracel , e duas quar-
tas d•arracel, pelo padram da Corte. E os das Cida-
des, Villas, e Luguares teram eftes pefos afinados
pelos padroês dos Concelhos. 38

18
126 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. TIT. XV.
3 8 ITEM os Carniceiros teram arroba, e meia ar..
roba, e quarto d'arroba, e quatro arrates, e dois
arraces , e arracei , e meio arratel , e duas quartas
d'arratel.
39 Os Cerieiros teram arroba, e meia arroba•
e quarto d'arroba, e quatro arrates , e dous arra..
tes, e huü arratel , e meio arratel , e duas quartas
d'arratel , e dezafeis onças pelo meudo, que fam
huü amuel.
40 Os que faz.em candeas de feuo teram eíles
pefos, conuem a faber, dous arrates, e huú arratel •
e meio arratel.
41 Os Caldeireiros teram arroba, e meia arro-
ba, e quarto d'arroba, e quatro arratês, e dous ar-
rates I e huü arratel I e meio arratel, e hüa quarta,
e duas oitauas d'arratel.
42 Os que faz.em beeftas d'aço teram quatro
arratês, e dous arraces, e huú arratel, e meio ar-
ratel , e duas quartas d'arratel.
43 Os Boricairos teram dous arratê's , e meio
arratel , e duas quartas d'arratel , e dezafeis onças
polo meudo, que fam arratel, e oito oitauas polo
meudo , que fam hüa onça , pera pefarem as me.
únhas.
4+ As Fruteiras, que vendem frui ta a pefo; te-
ram dous arraces, huü arratel, e meio arratel, e
duas quartas d'arratel.
45 Os que vendem íabam a pero, teram arra-
tel • e meio arr.1tel, e quarto d'arratel.
Do A L M oT Ae I M o o R. 12 7

46 Os Marceiros, e Efpecieiros teram arrate],


e meio arracei , e duas quartas d'arratel , e huü ar-
ratei pelo meudo de onças e oitauas.
4 7 Os Moleiros , e Atafoneiros , e Acenheiros
feram obriguados teer meio alqueire , e maquia , e
feram afinados duas vezes no anno como dito he,
fob a dita pena.
48 E ESTAS peífoas fufo efcritas feram obrigua.
das teer caha huü os pefos emcima declarados , e
nom os teram dobrados, e os hiram afinar duas ve-
zes no anno como dito he pelos padroés dos Con-
celhos onde forem moradores ; e os que andam em
Noffa Corte, pelos padroês do Almotace Moor.
Porem os Reguataes que venderem pefcado , e os
Carniceiros feram obriguados afinar cada dous mefes
hüa vez como em cima dito he. E qualquer das ditas
peífoas, que os ditos pefos nom teuer , ou teuer do-
brados , ou os nom afinar no dito tempo como dito
he , pague por cada vez duzentos e oitenta reaes.
49 !TEM os Tecelaes de pano de linho teram
meia arroba, e quarto d'arroba, e quatro arraces ,
e dous arraces , e huü arracei , e meio arratel , e
duas quartas d'arratel.
50 ITEM os Tecelaês de pano de laã teram arro.
ba, e meia arroba, e quarta d'arroba, e quatro ar-
races , e dous arraces , huú arratel ., e dous pefos de
meio arratel cada huü.
51 ITEM os Tintureiros teram hüa arroba , e
meia arroba, quarto d'arroba, quatro arratês, e
dous
128 O PRIMErRo L1v. DAS ÜRDEN. TrT. XV.
dous arrates , e huü arratel, e dous meios arrates,
e outro arratel feito em onças e oitauas.
52 ITEM as Tecedeiras de veos teram oito on-
ças, e quatro onças , e duas onças , e húa onça, e
meia onça.
53 PoREM os ditos Tecelaês, e Tintureiros , e
Tecedeiras nom frram obriguados a hir afinar
fcus pefos mais que hüa vez em cada huü anno,
conuem a faber, no mez de Janeiro. Peró fe nom
teuerem os ditos pefos todos, por qualquer que lhe
falecer paguaram a dita pena , e affi fe os nom afi.
narem em cada huü anno ao dito tempo.
54 OuTRO s1 os Mercadores de pano de cor te.
ram vara e couado. E os Trapeiros , que cuftumam
vender pano de linho, ou burel , ou almafrgua , ou
outra qualquer mercadoria que fe cuftuma vender
per varas , teram varas , e as ditas varas feram duas
vezes no anno afiladas, conuem a faber, hüa em Ja-
neiro , e outra em Julho , polos padroes dos Con.
celhos corno dito he , fob a dita pena.
55 E os que cuflumam comprar, ou vender vi-
nhos em groílo , teram almudes , e meios almudes.
E os que venderem vinhos atauernados, teram ca-
nadas , e meias canadas , e quartilhos, e meios quar-
tilhos.
56 E os que cuftumarem de comprar e vender
azeite em groílo, ·reram alque.ire , e meio alqueire,
e quarta d'alqueire. E os que venderem azeite pe..
lo meudo teram aquellas medidas pequenas, que
nas
Do A LM o T A eE M o o a. 119
nas Cidades , Villas , e Luguare.s onde venderem fe
cuflumam teer.
57 E TODAS as ditas medidas feram afinada!
duas vezes no anno, como dito he, e quem as nom
teuer, ou as nom afinar aos ditos tempos , pague a
dita pena. Porem todas as fobreditas peffoas parti..
culares,que por efte Regimento fam obriguadas teer
os fobreditos pefos ou medidas fe viuerem fóra das
Cidades, ou Villas, e viuerem nos Termos, nom fe ..
ram obriguados a afinar mais que hüa vez no an..
no, f. no mez de Janeiro; e nom as afinando ao di-
to tempo encorreram nas fobreditas penas.
58 E A ALEM das peffoas emcima declaradas ,
que cuílumam comprar, e vender, e por razam de
feus officios fam obriguados teer os pefos e medidas
a cada huú deputadas , nom feram outras pdfoas
conílrangidas que ajam de teer pefos ou medidas; e
aquclles que alguns pefos ou medidas quiferem teer
per fuas vontades , nom feram obriguados as afinar ,
nem marcar fe nom hüa foo vez quando as ouuerem,
e poderam dellas vfar em quanto boas e verdadeiras
forem, defpois que affi marcãdas forem , e afinadas.
Peró fendo-lhe achadas nom marcadas, ou nom ju..
fias e verdadeiras com os padroés , encorreram nas
penas que emcima fam declaradas.
59 E AS fobreditas penas feram pera o Almo-
tace Moor , ou Meirinho de Notra Corre , qual del-
les primeiro os erros achar. E efto fe entenderá on-
de a Noífa Corte efteuer , e nom em outra parte , e
Liv. l R fen...
IJ0 O PRIMEIRO LIVRO DAS ORDEN. TtT. XV.
fendo achadas pelos Almotaces das Cidades , Villas,
e Luguares, fejam pera o Concelho, como dito he.
60 E MANDAMOS que eítes padroês, pefos, e
medidas que o Almotace Moor ha de trazer comfi-
guo, fejam feitos aa cuíla da Nolfa Chancellaria , e
de hi fe pague hüa befta pera os leuar do Luguar
donde Partirmos ao Luguar onde Ouuermos de
hir.
61 O MEIRTNHO de Noífa Corte poderá trazer
outro fi padro~s de peíos e medidas , pera veer
mais a miude fe os Reguataês de Noífa Corte pefam
e medem verdadeiramente , e achando-os em erro
leue-lhes o dito Meirinho toda a pena. Porem o Al-
motace Moor proueja cada mez os padroes do dito
Meirinho, e outro fi fe o fez bem ; e fe o Almotace
Moor achar que o Meirinho o nom fez como deue •
leue pera fias penas de quem o mal fezer, e digua-o
êl Nós pera o Cafüguarmos como merecer.
62 ~ANDO o Almotace Moor viir que he ne-
ceffario , fará viir os mantimentos per feus Aluaraes
dos Termos dos Luguares onde Efteuermos , e aíli
das Comarcas derredor , nom paffando de oito le-
guoas, e a cada vintena dará Aluará de conhecimen..
to do que trouuerem , e de cada Aluará nom leuará
mais que dous reaes ; e fe algüa peffoa em particu ..
lar quífer Aluará de conhecimento do que trouxe,
nom leuará mais que huü real do dito conhecimen ..
to. E fe alguüs tomarem por força alguüs manti..
mentos , ou beftas nos Luguares , e Comarcas onde
affi
Do ALMOTACE MOOR. IJI

affi Eíleuermos , paguaram as penas que Diremos


no fegundo Liuro no Titulo !zy,e os Senhores , e Fi-
dalguos nom tomem mantimentos• e das ditas penas fe-
ram quinhentos reaes , fe a tantos cheguarem as pe-
nas , ametade pera o Almotace Moor, e a outra pe-
ra o Meirinho da Corte, e o que mais for de qui-
nhentos reaes nas ditas penas , ferá apricado pera as
partes, ou Luguares ahi ditos.
63 MANDAMOS que todos os que d'alem de cin-
co leguoas, do Luguar onde Nós Efteuermos, trou-
uerem mantimentos aa Corte , nom paguem , faluo
meia fifa, com tanto que nom fejam moradores den-
tro das ditas cinco leguoas. Peró fe os que morarem
dentro das ditas cinco leguoas forem pelos manti-
mentos aalem de cinco leguoas per conftrangimen-
to , paguaram foomente a dita meia fifa , com tanto
que os nom traguam dos Termos dos Luguares on-
de viuerem, pofto que os Termos fejam aalem das
cinco leguoas, e vendelos-ham em luguar apartado,
nos luguares onde bem fe pode fazer, em maneira
que fe nom meíl:urcm com os da Villa, os quaes ven-
deram pelo miudo aas pefioas que os ouuerem me-
fier , e nom a Regataés , nem a outras peífoas pera
reuender ; e fe as venderem em groffo paguem toda
a fifa. E Defendemos aos das Villas, e Luguares on-
de affi Eíleuermos , e bem affi aos Reguataês , que
nom comprem pera reuender coufa algüa dos ditos
mantimentos, e os que o contrairo fezerem percam
o que affi comprarem, ametade pera quem os acu-
R2 far,
132 o PRJMIIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XV.
far, e a metade pera a Piedade, e eflo aalem das pe-
nas que por Noffas Ordmaçoés forem poílas aos que
compram pera reuender. E quando o Almotace
Moor viir que os ditos mantimentos fam poucos ,
mande-os repartir.
64 E ESTO que dito Auemos do paguar da meia
fifa, nom fe entenda quando Nós Efieuermos na Ci-
dade de Lixboa.
6 5 Ao Almotace Moor pertence mandar com-
prir as Pofturas feitas fobre as efterqueiras , canos•
fontes, chafarizes , e poços , e mandar penhorar os
Almotaces que achar negrigentes, cada huü por tre-
zentos reaes por cada vez, a qual pena ferá a metade
pera fi , e a outra metade pera o Meirinho. E nom
achando fobre ello feiras Po!luras , Mandamos que
clle com os Officiacs deffe Luguar em Camara façam
Poftura, e ponham aquellas penas que razoadamen-
te lhes parecer, as quaes loguo fará apreguoar, e
comprir , como dito he.
66 E BEM ASSI mandará apreguoar tanto que a
alguü Luguar Cheguarmos, que tenham os Vezinhos
as praças , e ruas limpas, e que ninhuü nom lance
çugidade algüa nos ditos Luguares , fob a pena que .
lhe bem parecer, nom paffando de quinhentos reaes,
e mais ferem theudos a paguar o que cuftar a alim-
par a dita çugidade.
67 OuTRo s1 ao Almotace Moor pertence man-
dar alimpar , e refazer os caminhos , e calçadas• e
pontes nos Luguares onde Efteuermos, e derredor
atee
Do A L M o T A e E M o o R. 133

atee cinco leguoas, coníl:rangendo pera ello os Offi-


ciaes dos Concelhos.
68 E PERA o Almotace Moor comprir inteira-
mente o que pertence a feu Officio, Mandamos aos
Meirinhos de Noffa Corte , e aos Corregedores das
Comarcas , Ouuidores dos Meftrados , e a todolos
Juízes, e Juíl:iças, Alcaides, e Meirinhos das Cida-
des, Vi lias, e Luguares de Noff'os Reynos, que cum-
pram feus mandados acerca do que pertence a feu
Officio, como , e pela maneira que cumprem os
mandados do Corregedor de Noíla Corte. E da con-
denaçam d;lS penas em que elle nom teuer parte ,
nom aja delle apellaçam , nem agrauo, atee contia
de mil reaes. E nas penas em que elle teuer parte,
Damos-lhe luguar que elle poffa mandar penhorar,
porem Jeixalas-ha julguar ao dito Corregedor da
Corte.
69 MANDA Mos que todas outras penas de dinhei-
ro que elle pofer nas coufas que a feu Officio per-
tence, ametade feja pera o Meirinho de Noffa Cor-
te , e a outra metade pera fi , ou quem dle quifer.
E pera eflo que dito he , lhe Damos Jurifdiçam , e
Alçada atee a dita contia. E quanto ao julguar das
ditas penas ter-fe-ha a maneira fobredita.
70 O DITO Almotace Moor nom póde fazer Cor-
reiçam das coufas fobreditas , que a íeu Officio per-
tence, fe nom no Luguar onde Nós Efieuermos, ou
Noffa Corte , atee cinco leguoas derredor.
71 E DEVE teer huú Porteiro pera fazer as cou..
fas,
134 O PRIMEIRO LrvRo DAS ÜRDEN. TIT. XVI.
fas , que lhe elle Almotace Moor mandar , no que a
feu Officio pertencer , o qual auerá mantimento, e
vefür, affi como o ha o Porteiro d'ante o Correge-
dor da Corte.

-----------------
T I TU LO XVI.

Do M eirinho que anda na Corte em luguar


de Meirinho Moor.

O QUE for Meirinho Moor ha de poer de fua


maõ huü Meirinho, que ande continuadamente na
Corte, pera aleuancar as forças, e femrazoes que em
ella forem feitas , e prender os malfeitores, e fazer
outras coufas que fam contheudas neíl:e Regimento
das coufas que a íeu Officio pertence. E eíle deue de
feer Efcudeiro de boa linhagem , e conhecido por
bom , e poílo por auéloridade Noíla, e que delle
Ajamos conhecimento pera o aprouar que em tal
Officio aja de íeruir, o qual leuará os de rei tos em eíl:e
Regimento contheudos, que fam os que a elle per-
tencem.
1 hEM o Meirinho Moor, ou aquelle que na
Corte andar por elle , leuará de todos os Reguataés •
que na Corte andarem , das pefcadas que aa Corte
trouuerem a vender, de cada carregua que cada huü
trouuer hüa pefcada atee quatro carreguas ; e fe
mais carreguas trouxer de peícadas, ou d'outro pef-
cado , por effa vez nom leuará mais. 2.
Do MEIRINHO QYE ANDA NA CORTE ET e. 135

2 ITEM de carreguas de congros, e toninhas , e


d'outro pefcado grande, aíli como euós, chernes, e
outro femelhante ,leuará hüa poíla do lombo de huü
palmo de cada carregua atee quatro carreguas , e
mais nom. E fe nom for carregua affi como d'huü,
dous , atee tres peixes , nom leuará ninhüa coufa, e
mais leuará feu dereito do outro pefcado rniudo, fe
com elle o trouuerem , atee quatro carreguas, como
dito he.
3 1TEM de cada carregua de faueis leuará huü
atee quatro carreguas , como d ito he.
-+ ITEM de carregua de vefuguos, ou de muges,
ou d'outro qualquer pefcado miudo , fe for pequeno
leuará atee quatro carreguas hüa duzia de cada car-
regua , e fe for grande meia duzia.
5 ITEM fe trouxer hüa carregua de canejas , ou
arraias , ou caçoes pequenos , Jeuará de cada carre-
gua huü peixe , e de cada carregua dos caçoes , ou
arraias grandes leuará hüa poíla atee quatro carre-
guas, affi como dito he dos congros , e toninhas.
6 ITEM fe trouuerern huü folho, e o venderem
a poílas , hüa poíla; e fe o leuarem junto pera Nós,
ou pera algüa peífoa , nom leuará ninhüa coufa ; e
pofto que traguam mais folhas , norn leuará mais de
hüa pofta de carregua atee quatro, como dito he.
7 hEM de linguados, e falmonetcs, e peixe
efcolar, e Jampreas, nom leue ninhüa coufa.
8 ITEM de hüa carregua de vinho lcue hüa ca-
nada atee quatro carreguas.
9
136 O PRIMEIRO L1vRo DAS ÜRDEN. TcT. XVI.

9 ITEM de carregua de ceuada hüa quarta atee


quatro carreguas.
10 !TEM de panos, calçado, triguo, fruitas I ou
d'outros quaeíquer mantimentos · que trouxerem ,
nom leuará ninhiía coufa.
1I ITEM dos que vierem de fóra da Cidade, Vil-
la ou Luguar, e Termo donde Nós Eíl:euermos, e
for por conflrangimento, e trouxerem ceuada, leua ..
rá de cada carregua hüa quarta atee quatro carre..
guas , como dito he. E dos outros mantimentos nom
Ieue coufa algüa. E i!fo mefmo nom leuará ninhiía
coufa dos que vierem de fóra por fua vontade. E dos
que vierem da Cidade, Villa , ou Termo a dentro,
pofio que venham por coníl:rangimento, nom leuará
nada.
12 ITEM dos Reguataes , e Carniceiros que na
Corte andarem , ( afóra o Noffo Carniceiro, e o da
Raynha minha muito amada e prezada Molher, ou
do Príncipe , e o dos Infantes } leuará de cada boi
huü lombo, e de cada vaca huú lombo, e de cada
porco huü lombo dos pequenos, e de cada carneiro
as tuuaras.
13 ITEM faça em tal guifa o dito Meirinho, que
os dereitos que ha d'auet dos Carniceiros, e d'outras
peffoas , que os requeira no dito dia , ou atee outro
dia a mais tardar; e nom o fazendo, Mandamos que
os nom poffa mais demandar, e fc os demandar nom
fcrá ouuido em Juizo.
r + ITEM dos da Villa, e Termo onde Nós For-
mos,
Do MEIRINHO Q.lJE ANDA NA CoRTE ET e. r37

mos, e affi de todos os que aa -Corte trouxerem de


fuas vontades a vender pam , vinho , carnes , e pef.
cado, e outros quaesquer mantimentos, nom leua-
rá ninhüa coufa.
1 5 ITEM em quanto Nós Eíleuermos em a Ci-
dade de Lixboa, ou feu Termo, o Meirinho nom le-
uará ninhüa coufa , porque atee agora nom o leua-
ram, faluo dos Reguataes da Corte, fe hi quiferem
eílar e vender.
16 ITEM o Meirinho da Corte leuará penas de
efcomunguados, e dos barregueiros cafados, e de
fuas barreguans, e mancebas dos Creliguos, Fra-
des , e Religiofos que prender, e acufar, e as coimas
das beílas que achar, e das mulas, e findeiros meno..
res de marca quando forem defefos , e todas as ou-
tras penas que ham de leuar fegundo as Ordena..
çoés , que expreílamente mandam que fejam pera o
Meirinho , e affi as armas que o Meirinho da Corte
to[l)ar na Corte. As quaes armas, e mulas, e coimas
fufo dicas, fe partiram por eíla guifa : leuará o Mei-
rinho a metade, e feus homens que com elle forem,
ou as acharem , a outra metade.
17 ITE.M prenderá os que achar nos maleficios,
e arroidos , ou lhe for requerido por qualquer pefToa
nos ditos arroidos , e antes que os leue aa cadea le-
ua-los-ha perante o Corregedor. E geeralmente
prenderá todos aquelles , que por o Corregedor lhe
for mandado por Aluará. por elle affinado, ou por
quaesquer Officiaes Noffós por Aluaraes por elles af-
Liv. J. S fina-
138 o PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. xvr.
finados, no que a feus Officios pertencer , e poder
teuerem pera mandar prender.
18 ITEM onde quer que Nós Formos, fejam da ..
das poufadas ao Meirinho pera elle e feus homens ,
e pera os ditos Reguataes, e Carniceiros que na Cor-
te andarem , e elle lhes dee as poufadas como viir
que cumpre.
19 1TEM o Meirinho he theudo de defender os
Reguataês , e affi todos aquelles que aa Corte trou..
uerem os mantimentos, que lhe nom façam força
em tomarem o feu contra fuas vontades ; e fazen-
do-lha alguüs, acodirá a íffo como for Juíl:iça , e
nom o fazendo affi, paga-lo-ha por fua fazenda;
faluo fe a pefloa, que affi forçofamente o fobredito
fezer , for tal que elle por fi o nom poffa remedear,
entam elle o fará faber ao Corregedor do Crime de
Nofla Corte pera niffo prouer.
20 ITEM . ferá obriguado correr de noute o Iu-
guar em que Nós Eíleuermos aquellas oras que por
o Corregedor dos feitos crimes lhe for ordenado , e
com elle hirá fem pre huü Efcriuam que pera ello
teuer Noffa Prouifam. E Defendemos, e Mandamos
ao dito Meirinho, que nom leue mais dereitos , do
que aqui neíl:e feu Regimento he contheudo , e faça
as coufas como lhe he mandado , fob pena de per-
der o Officio, e mais auerá a pena que por Noífa
Ordenaçam he poíla a aquelles que leuam mais do
contheudo em feu Regimento.
21 ITEM o Meirinho hirá fazer execuçoés de
pe-
Do MErRINHo DAS CADEAS ET e. 139

penhoras, quando lhe for mandado polo Correge-


dor, com o Porteiro e Efcriuam, e leuará o Meiri-
nho de cada penhora , e execuçam vinte reaes aa
cuíla do condenado.
22 ÜuTRo s, Mandamos, que ninhuü homem
de qualquer dos Meirinhos de Noífa Cone, nem das
Correiçoés , e Ouuidorias , poffa encoimar fem huü
homem bom ajuramentado pera iífo elegido polos
Juizes , e Ofliciaes do Concelho , e fazendo-o fem o
dito homem bom, nom lhe ferá dado fee a coufa
que fezer.

T I T U L O X VII.
Do M eirinho das Cadeas, e do q11e afau Officio
pertence.

O MEIRINHO das Cadeas hade eíl:ar na Rola.


çam, todos os dias em que fe fezer, preíl:es com feu
Officio , pera fazer o que lhe mandarem , de pren-
der, e trazer prefos , e qualquer outra coufa que a
bem de J uíliça cumpra.
1 E QYANDO acontecer que o dito Meirinho for
ocupado em algüa couía que cumpra a bem de Ju-
füça, em modo que por Noílo Mandado, ou do Noffo
Regedor, ou Corregedor da Corte leixaíle de viir aa
Rolaçam , em tal cafo o dito Meirinho leixará ca.
da dia dous feus homens na Rolaçam, os quaes eíla-
S2 ram
140 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XVII.

ram nella atee fc acabarem as Audien_cias todas,


que fe fazem aa faida da Rolaçam. E o Meirinho
·que fem o fobredito mandado leixar de efiar na Ro-
laçam como dito he , ou quando nella nom eíleuer
por teer a fobredita licença nom leixar os ditos ho-
mens, ou poílo que os elle leixaffe, os ditos homens,
ou cada huü delles, fe foffem antes das ditas Audi-
encias ferem acabadas, perderá dous to!toes por ca-
da vez, os quaes lhe feram defcontados de feu man-
timento. Porem no cafo·que elle leixar os homens ,
e elles, ou cada huü delles fe forem, o dito Meiri-
nho fará diffo certo ao Regedor, o qual mandará
defrontar do mantimento dos ditos. homens , ou de
cada huü dellcs, os ditos duzentos reaes. E Manda-
damos a todos os Defembarguadores, que as Audi-
encias fezerem, que cada vez que na Audiencia
nom acharem o dito Meirinho ,ou os ditos dous feus
homens, o façam loguo faber ao dito Regedor, pera
os punir , como dito he.
2 E TEru' cuidado em cada huü dia leuar por
fi, ou feus homens, todos os prefos da cadea da Cor-
te a fazer fuas neceffidades , aos luguares que pera
iffo forem affinados, quando outro remedia nom
ouuer pera fua hida fóra fc poder efcufar. E elle e
feus homens ham de leuar os prcfos aas. Audiencias
do Corregedor, e affi dos Ouuidores, ou quando lhe
for P?r cada huú delles mandado.. E ha de requerer
o Carcereiro que ponha boa guarda nos prefos , e fe
o fazer nom quizer requerer ao Corregedor, que o
con-
Do MEIRINHO DAS CADEAS IT e. 141

conftrangua , e ponha hi tal prouifam como fejam


bem guardados, e d'outra guifa Tornar-nos-hemos
a aquelle, por cuja negrigencia fe feguir alguü dãno
aa Juíliça. E ha de prender quando lhe for manda-
do por o Corregedor da Corte, ou por quem ceuer
poder de mandar prender por Aluaraes por elles af-
ftnados, ou achando as pdfoas em taees maleficios
por que com razam deuam feer prefos; e em tal ca-
fo os leuará loguo ao Corregedor fem os leuar aa ca-
dea. E ha de feer Juiz das mancebas folteiras, que
andam na Corte , conuem a faber, de arroidos que
ajam hüas com outras, que foomente fejam de pa-
lauras.
3 ITEM ha de leuar de cada hüa deilas quatro
reaes em cada huü fabado, porque elle ha de mandar
varrer as Audiencias do Corregedor da Corte , que
dias auiam de varrer fegundo cuílume anriguo.
4 ITEM ha d'auer dos homens que mandam de-
guolar, e enforcar, ou morrer por J ufiiça, do mon-
te moor hüa carceragem por cada huü que affi for
jufüçado, e elle ha d'auer mantimento pera fi, e oi-
to homens que com elle andaram , pera fazer o que
comprir a feu Officio.
5 ITEM todas as carceragens de No.Ira Corte fe
partiram em duas partes iguaes, e o Meirinho Moor
ha de leuar hüa dellas , e da outra fe faram treze
quinhoês, dos quaes o Meirinho das cadeas ha de
leuar dez , e o Meirinho da Corte dous , e o Carce-
teiro huu.
6

19
141 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XVIII.

6 ITEM o dito Meirinho hirá fempre com a ca-


dea da Corte, quando for de huü Luguar pera outro,
pera fazer receber, e aprifoar os preíos nos Lugua-
res onde cheguar. E nom confentirá que os ditos
prefos fejam mal trautados , nem lhes feja feita ni-
nhüa femrazam por ninhüa p eíToa.
7 E Q.YANDO a cadea da Corte ouuer de partir
daram tanta gente ao Meirinho das cadeas, que
abafle, poíl:o que aja bolfa, e pofto que tenham pri-
uilegio pera nom receberem prefos; por quanto os
taees priuilegios fe nom entendem , quando a cadea
da Corte vai por a dita Terra afli priuilegiada.

T I T U L O XVIII.
Do Eftrivam dos feitos d' E!Rey.

O ESCR[VAM dos Noffos feitos poerá boa de-


ligencia em guardar os Noífos feitos, e faça delles
rol , e da-lo-ha ao Noífo Procurador , e fe viir que
o Juiz, ou Procurador norn fam bem deligentes ao
deíembarguar e requerer , faça outro rol delles , po-
endo o dia em que forem começados , fe por apel-
laçam vierem, e o dia que aa Corte cheguarern, e
da-lo-ha a Nós, ou ao Noílo Regedor pera o veer,,
e fazer deíernbarguar a aquelles que entender que
cumpre , e reprender aquelles por cuja negrigencia
fam detheudos.
Do EscRIVAM nos FEITOS o'ELREY. 143

1 ITEM o dito Efcriuam com muita delígencia


fará loguo todas as Cartas de quaesquer defembar-
guos que fahirem pera fe fazerem quaesquer deli-
gencias, ou pera fe tirarem quaesquer inquiriçoês
em Noffos feitos, e as dará a affinar ao Juiz, ou Juí-
zes dos Noffos feitos, por que ouuerem de feer affina-
das , e tanto que for affinada a entreguará ao Nolfo
Solicitador pera a fazer affellar ; e como lhe for da-
da o dito Solicitador, e bem affi o Noffo Procura-
dor faram fazer a dita deligencia como nella for
contheudo.
2 E coMo o feito for defembarguado por fenten-
ça definitiua, o dito Efcriuam fará loguo a dita fen-
tença , e fe for dada por Nol1a parte a fará ailinar, e
affelar; e tanto que for feita , e ailinada, e affelada,
ferá loguo trcsladada em huü liuro de purguaminho
em boa letra, e defpois que for tresladada, e concer-
tada, de-a ao Noífo Procurador, ou aos Noífos Vee-
dores da Fazenda, aos quaes Nós Mandamos que
façam fazer execuçam, e defpois que for feita torne-
fe a fentença ao Efcriuam. E pera fe milhar guar-
darem as Efcripturas, e feitos, e fentenças, Manda ..
mos a eíle Efcriuam , que defpois de os feitos ferem
defembarguados por fentenças , ou as fentenças exe-
cutadas , que os guarde bem. E quando for em Lix-
boa dê-as a aquelle que teuer a chaue da Torre do
Tombo, pera nella fe auerem de lançar com as ou-
tras Noffas Efcripturas, ao qual Mandamos que lhe
tome os ditos feitos , e fentenças , e os ponha em
huü
144 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. XIX.

huü almairo apartado pera eílo , e deípois que o ]j.


uro em que as Efcripturas e fentenças forem regiíla-
das, como dito he , for acabado, ponha-o em adi-
ta Torre no dito almairo. E as fentenças que deípois
forem dadas, tresladem-n as em outro liuro de pur-
guaminho de tamanha marca como o outro, e def-
pois que for acabado, façam-no enquaderna r , e
ajuntar com o outro , e ponham-no na dita Torre;
e affi fe faça fempre defpois que o liuro que o Efcri-
uam trouxer dos ditos regiíl:os for acabado, o qual
liuro e fentenças em elle contheudas Mandamos que
façam fre. E Mandamos ao dito Efcriuam que feja
bem deligente em todas eíl:as coufas , em tal guifa
que por fua culpa fe nom percam ninhuús feitos,
ou Efcriptura s, e que fejam os ditos regiíl:os feitos,
e boa guarda em elles poíla como dito he, fob pe-
na de priuaçam do Officio, e de lho N ós Eíl:ranhar-
mos grauement e como for Noffa Merce.

--- --
TITU LO XIX.

Do Ejcriuam das malfeitorias.

O ESCRIVAM das malfeitorias fará huü liuro,


em o qual efcreuerá todas as fentenças que o Corre-
gedor der, que fejam de quinhentos e quarenta reaes
pera cima , e poendo o dia em que he dada, e onde
moram as partes, e a caufa ou quantidade que he
jul-
Do EsCRIVAM DAS MALFEITORIAS. 14S
julguada • e onde he dada • fazendo tal declaraçam
dos nomes das partes• que em cerro fe poffa faber
quem fam • e onde moram.
I E ESSE Liuro leuará em fim de cada huü mez
aa Chancelaria • pera por elle • e polo Efcriuam da
Chancelaria fe faber fe fam tiradas todas as ditas
Sentenças • e a Dizema • e a Chancelaria pera Nós
arrecadadas • e as que nom forem tiradas• o dito
Efcriuam da Chancelaria faça affentar as verbas no
Liuro, e faça as Cartas da execuçam, per que as Di-
zemas das taees condenaçoés fe arrecadem.
2 Ao Efcriuam das malfeitorias pertence efcre-
uer todas as malfeitorias , que fe fezerem , e danifi-
camento de camas, e cafas das apoufentadorias da
No!fa Corte, tirando aquella roupa que parecer que
fe guafta em feu feruiço. E o Corregedor dos feitos
crimes ha d'ordenar como fejam paguas da Arca da
Piedade, fegundo eílá declarado em feu Regimen-
to, e defpois que forem paguas cntam o Efcriuam
as ha de hir tirar em rol, o qual ha de dar ao Por-
teiro d'ance o Corregedor• que vaa fazer as execuçoes
por mandado do dito Corregedor nos bens daquel-
les, que as ditas malfeitorias fezeram, as quaes mal-
feitorias fe ham d'arrecadar em tresdobro pera adi-
ta Arca da Piedade. por pena daquelles que as di-
tas malfeitorias fezercm.
3 ITEM oEfcriuam das malfeitorias ha de efcre-
uer, e poer cm recadaçam todas as citaçoês ,- pre-
guoes , procuraçoés, inquiriçoes, e dizemas d• Alua-
Liv. L T raes ,
146 o PRIMEIRO LIV. DAS ÜRD'EN. TIT. XIX.
raes, que fe perante o Corregedor palram , pera Nós
Auermos boa arrecadaçam do Noílo.
4 ITEM ha de efcreuer, e poer em recadaçam to-
dolos dinheiros , que fam julguados pera a Arca da
Piedade.
5 ITEM tirará as deuaffas que o Corregedor na
Corte mandar tirar fobre mortes , e arrancamentos
das armas , ou ferimentos que fe na Corte fezerem.
E dos cafos que deuaifar poderá receber querelas
com o dito Corregedor, e fará todos os liuramentos
que fe fobre as ditas deuaffas derem , em quanto fe
por ellas nom receber libelo ; porque como o libelo
for recebido , ora hi aja parte, ora fe dee o libelo por
parte da Juftiça, loguo pertence aos Efcriuaê's dan-
te o Corregedor , e fe deue deílrebuir antre elles.
6 ITEM ha de efcreuer todas as penas das ar..
mas , e do fangue, que na Corte fe tirarem , que por
Noífa parte, ou do Noífo Rendeiro forem demanda-
das, e tirará fobre ello as inquiriçoês judiciaes. E
nom leuará dinheiro das que affi tirar por Noffa par..
te , ou do Rendeiro , por bem do mantimento que
por eílo ha.
7 I 1'EM ha de trazer todos os Reguataes , e as
Mancebas do mundo cortefaãs em huú Liuro, e aos
Reguataês ha de fazer feus privilegios, affi como
fempre foi.
8 ITEM todas as inquiriçoes, capitolos, e coufas
de malfeitorias de qualidade , que algüa parte poffa
pretender fatisfaçam d'alguma perda, ou dãno, ou
1n.
Do EsCRIVAM DAS MALFEITORIAS. 147

intereíle, poílo que a nom demande, que do Reyno


vem aa Corte, ora venham por Noílo Mandado, ora
fem elle , pofio que defpois de ferem na Corte fe or-
dene proceífo, ou com a Juíliça, ou com a parte,
ham de feer dados ao Efcriuam das malfeitorias ; e
clle as ha de teer, e fazer dello os liuramentos que
o Corregedor, ou outro qualquer Julguador a que os
Nós cometermos, fobre iílo der. Porem fe o feiro vier
já proceífado da Terra , fendo já dado libelo, ora ve-
nha por Noffo Mandado , ou fem elle, nom perten-
cerá ao dito Efcriuam das malfeitorias.
9 1TEM todas as inquiriço~s deuaífas de mortes ,
que os Juízes ham de mandar aa Corte, fegundo he
ordenado, ham de hir ao Efcriuam das malfeitorias,
e elle as ha de trazer , e outro Efcriuam ninhuü as
nom tomará. E as ditas deuaífas lhe feram entregue~
perante o Deíhebuidor na Audiencia, ou em outro
luguar onde fe concertarem , o qual as carreguará
em recepta fobre elle em huü Liuro que pera ello fa-
rá. E os conhecimentos que federem aos que as di-
tas inquiriçoês entreguarem , feram feitos pelo dito
Efr.riuam, e affinados pelo dito Defirebuidor, e pe-
lo dito Efcriuam, e eílo comprirá fob pena de pri-
uaçam do Officio ; do qual conhecimento Ieuaram
foomente fete reaes , conuem a faber , cada huü tres
reaes e meio, os quaes fete reaes arrecadará o dito
Efcriuam d'aquelle, que primeiramente fe vier li-
urar, e dará amctade ao dito Deftrebuidor. E do dia
que o dito Efcriuam qualquer inqumçam deuaífa.
T2 ou-
148 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜROEN. T1T. XX.
ouuer a oito dias, ferá obriguado a entreguar ao Pro-
mecor da Juftiça, pera della tirar a rol todos os cu}..
pados, e requerer ao Corregedor que os mande pren-
der , e efto comprirá fob pena de priuaçam do Offi-
cio. Peró fe as taees deuaílas vem aa Corte per Car-
ta, pera alguús omiziados auerem liuramento per via
de perdam , deuem viir aos Defembarguadores do
Paaço, e os Efcriuaes do defembarguo efcreueram os
liuramentos que fe em ellcs derem.

TITULO XX.
Dos E[cr,uaés d'ante os Defembarguadorts do PaafO, t
dos Agrauos, e Corregedores da Corte, e outros Def-
tmbarguadores.

f IEIS , e entendidos deuem reer os Efcriuaês da


Noff'à Corte, e que Caibam bem e[creuer e notar , de
maneira que as Cartas e Notas que elles fezerem ,
que de Noífa Corte faem, moíl:rem ferem feitas por
homens de bom fifo, e entendimento.
1 PoER Efcriuam pertence a Nós , e nom a ou-
tra pe ífoa algüa , porque em elles he pofta guarda ,
t lealdade das Cartàs , e Autos que fe fazem em Nof..
fa Corte, e por tanto o luguar de tam grande guar-
da, e fieldade como eíl:a, nom he conueniente que ni..
nhuü aja poderio pera o outorguar fc nom Nós.
2 E
Dos EscR. n ANTE os DEsEMB. Do PAAÇO n e. 149

2 E os ditos Efcriuaês antes de efcreuerem em


feus Officios juraram na Chancelaria , que o façam
bem e fielmente, e fem perlongua , e nom fe mouam
por amor, nem defamor, nem medo, nem roguo,
nem dom que lhes prometam , nem dem , e fobre to-
do guardem fegredo , e todas as outras coufas que a
Noífo feruiço pertencem, naquello que elles ham de
fazer em feus Officios.
3 Os Efcriuaês da Corte ham de feer examina-
dos polo Chanceler Moor, tanto que ouuerem Noffo
Mandado , porque lhe Fazemos Merce do Officio,
ante que ajam as Cartas delle , fe fabern efcreuer, e
notar em tal maneira , que fejam pera os ditos Offi-
cios pertencentes , ou fe fam enfamados de tal infa-
rnia, ou fufpeiçam, que honefiamente nom caibam em
elles ; e fegundo o que achar polo exame , afü deue
mandar-lhes fazer as Cartas dos Officios, ou notifi-
car a Nós feus defetl:os , pera Fazermos como for
Noffa Merce.
4 E SEJA cada huü Efcriuam bem auifado, que
foomente efcreua as coufas que a feu Officio perten-
cem , e nom vfurpe o Officio alheo por ninhüa gui.
fa ,faluo fendo-lhe efpecialmente mandado polo Def-
embarguador principal a que o defembarguo perten-
ce , e do feito conhece , aa minguoa e abfencia do
Efcriuam , cujo principalmente for o dilo Officio ,
porque em outra guifa nom o deue mandar fazer;
com tanto que a abfencia nom paffe de oito dias , e
bem affi que o Efcriuam , a que por o abfente man-
dar
150 O PRIMElRo LIV. DAS ÜRDEN. Tn. XX.
dar efcreuer, feja Efcriuam dante o mefmo Julgua-
dor; porque a outro Efcriuam alguü o nom poderá
cometer; e quando fe em outra guifa fezer, o Rege-
dor, ou Chanceler Moor proueja h1 com dereito , e
juftiça; e fazendo alguü Efcriuam o contrairo do que
dito he , pola primeira vez pague a aquelle cujo Of-
ficio vfurpar, em dobro todo aquello que affi ouuer,
e pola fegunda pague em tresdobro , e pola terceira
aalem de o paguar cm tresdobro feja fufpenfo do
Officio por huu anno.
5 Os Efcriuaes d'ante os Defembarguadores do
Paaço, e dos Agrauos teram huü Deílrebuidor , affi
como tem os Efcriuaes d'ante os Corregedores da
Noffa Corte , e bem affi os Efcriuaês d'ante os Nof-
fos Ouuidores , o qual defirebuirá todos os feitos ,
cartas , e defembarguos que fahirem d'ante os ditos
Julguadores,em tal guifa,que todos os Efcriuaes,em
as Audiencias em que efcreuerem , fejam igualados
nos feitos , e em as efcripturas que fezerem. E nom
ferá oufado ninhuü Eícriuam filhar alguu feito , ou
fazer carta, ou qualquer outro defembarguo , faluo
o que lhe for deíl:rebuido polo dito Deftrebuidor ; e
fazendo alguü delles o contrai ro, pague o irttereffe a
outro Efcnuam a que auia de hir por deftrebuiçam ,
e mais pague pola primeira vez quinhentos reaes pe-
ra a Piedade, e pala fegunda feja fufpenfo por íeis
mefes , e pola terceira priuado do Officio.
6 ÜtJTRO n Mandamos·, que todos os fobreditos
Efcriuaês ponham as paguas por fuas maõs, affi nas
Car-
Dos EscR. o' A NTR os DEsEMB. no PAAÇO ET c. r 5 r

Cartas , como nos Proceífos, e Aluaraes , e ern todas


as outras efcripturas de que deuem leuar dinheiro ; e
nas Cartas de que nom deuem leuar dinheiro , ou
poílo que o ajam de leuar, fe o nom leuarem ponham
nihil. E na Carta nom ponham pagua de pubrica-
çam, nem de procetTo , mas foomente do que leua..
rem pola efcriptura da Carta. E fe o contraira dello
fezerem, nom poendo pagua, como dito he, pola
primeira vez torne todo o que leuar aa parte , e pa-
gue pera os prefos outro tanto, e pola fegunda aja a
dita pena , e feja fufpenfo do Officio íeis mefes, e
pola terceira priuado do Officio.
7 E MANDAMOS que os ditos Efcriuaés ponham
em todas as Cartas, e Sentenças , e Termos que
efcreuerem, o dia, e mez , e anno em que faz a dita
Sentença , Carta, ou T('rmo , e affi o nome delle mef-
rno Efcriuam , fob pena de perdimento do Officio,
nom efcteuendo cada hiía das ditas coufas ; e mais
paguar aa parte que por ello for danificada todo in-
tetefJe , e perda, e dãno que por ello receber.
8 E BEM ASSI Mandamos, que qt1ando alguüs
prefos forem remetidos aas Ordens , e feus feitos fe
trautarem, e começarem na Corte, ou o proprio ori-
ginal vier aa Corte , affi como fe faz onde eílá a Ca-
fa da Sopricaçam , ou em Lixboa, ou quando por
Noffo efpedal Mandado o proprio feito for trazido
ia Corte, os ditos feitos fe tresladem , e os treslados
concertados com os proprios fejam enuiados, cerra-
dos , e afielados , aos Juizes Ecclefia.fücos. E quando
os
I 52 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN, TrT. XX.
os feitos vierem aa Corte por apellaçam com o tres-
lado dos Autos proceílados na Terra , Mandamos
que o proprio trc:slado, que da Terra vier, feja enuia-
do aos J uizes , e Viguairos Ecclefiaílicos, a que os
prefos forem remetidos, quer na moor alçada, e cau-
fa da apellaçam creceffem nouos autos , quer nom.
Ernperó ao Julguador da rnoor alçada fique , fe viir
que os nouos autos, que em a caufa da apellaçam cre-
ceram, fam compridoiros por bem de juíliça, os
mandar tresladar primeiro aa cufta da parte remeti-
da, pera ferem leuados aa terra, e ajuntados com o
proprio original da apellaçam , e com elles , e côm
o proprio original da Terra teer a Juíliça Secular o
theor de todo, a ili como vai nos autos.
9 ITEM os Efcriuaés em todos os termos dos
procetros efcreuam os dias, que peffoalmente as. par-
tes em Juizo parecerem foltos, ou prefos , ou forem
veer jurar as teíl-emunhas , poíl:o que Procuradores
tenham ; e fe o affi nom fezerem paguem em dobro
aa parte todo o dãno, e perda que por ello receber.
10 E MANDAMOS aos d.itos Efcriuaes, que as
Cartas que aquelles Julguadores , cujo he o defem-
barguo , lhes mandarem fazer , as façam loguo em
effe dia , ou atee o outro pola menhã , fe as nom po-
derem fazer em effe dia. Peró fe elfe Julguador, cu-
jo o defembarguo he, viir que fe nom pode fazer no
fobredito tempo,ailine tempo a que o effe Efcriuam
poffa fazer, e fem malícia.
11 !Tu1 feram obriguados continuar todos os
fei-
Dos Esca. o'ANTE os DEsEMB. Do P.uço ETC. 153
feitos no dia que forem offerecidos, e os ellcs rece-
berem nas Audiencias, e no dito dia, ou a mais tar-
dar no outro • os dem aos Defembarguadores , ou
Procuradores , que os ouuercm d'auer. Peró fe nos
ditos feitos forem offerecidas tantas, e taees eícriptu-
ras que tam em breue fe nom poffam tresladar , o
JuJguador, que de taees feitos conhecer , lhe affine
termo conueniente em que as poffam tresladar. As
quaes efcripturas tanto que forem tresladadas con-
certaram com outro Efcriuam , e effe com que affi
concertar, lhe poerá concerto ao pee , e affinará de
feu final. E nom dando os ditos feitos , ou nom fa-
zendo as ditas Cartas no dito dia , ou ao termo que
lhe for affinado, paguará dez cruzados, a metade pe-
ra a parte, e a outra metade pera as defpezas da Ro-
laçam ; e deíla metade da Rolaçam auerá quem o
acuíar , ainda que íeja a propria parte , ametade. E
pera nom feer duuida quando deram os feitos, poe-
ram fempre nos feitos em que dia os deram aos Def-
embarguadores, ou Procuradores. E o Eícriuam que
nom concertar as efcrípturas, que no feito tresladar,
com outro Efcriuam, e lhe nom fezer poer ao outro,
com que affi concertou , o final ao pee, como dito
he , paguará aas partes , ou cada hüa dellas toda per-
da , e dãno , e cuftas que por ello receberem , ou fe
caufarem.
12 E ASSI polo dito modo faram concertar todos
os autos que derem em Carta teftemunhauel , e affi
nas Cartas que fezerem pera fe tirarem inquiriçoes
Li'll. I. V por
154 O PRIMEIRO L1v. DAS llioEN. Tn. XX.
por artiguos ; e nom o poendo como dito he , per-
deram os Officios , e paguaram aas partes toda per-
da , e dãno , e cuílas que por ello receberem , ou fe
caufarem. E os Julguadores feram auifados, que nom
affinem caces cartas , nem autos, fem o dito concer-
to, nem o Chanceler Maor as nom paíla,á pola
Chancelaria , o que todo auerá luguar em todos os
Eícriuaês d'ante os Corregedores das Comarcas, e dos
Ouuidores, e de todos outros Efcriuaes de Noífos
Reynos.
13 E PORQ.!JE muitas vezes acontece por negri-
gencia de cada huü dos Julguadores , ou de feus
Efcriuaés fe perderem alguüs feitos, de que aas par-
tes fe fegue muito dãno, e perda a íua juíliça, Man-
damos, que o Eícriuam que teuer o feito, defpois de
feer conclufo, o leue ao Julguador que o ha de veer
por primeiro, e o nom entregue a outrem , faluo a
elle; e quando lho entreguar mollre-lhe o feito, fe
he em elle feito algüa antrelinha, ou borradura, ou
alguü outro vicio, e fe for , loguo fe efcreua em huü
liuro, que o Efcriuam pera iffo tenha, e quantas fo.
lhas fam , poendo-lhe a conta por cima de cada fo_
lha, e como o entregua ao Julguador a tantos dia~
do mez, e o Julguador affine eíl-e liuro; e nom o
querendo affinar, nom lhe dee o feito, e vaa em ou-
tro dia aa Rolaçam onde eíl:euer effe Julguador, e
digua-o ao Regedor pera o reprender, e lhe fazer pa-
guar as cuíl:as aas partes, as quaes lhe loguo feram
paguas.
Dos Esca. D' ANTE os DESEMB. Do PAAÇO ET e. 1H

14 E o Efcriuam que feito alguu entreguar fem


lhe ficar o tal conhecimento, perdendo-fe o dito fei-
to, nom lhe ferá recebida proua algüa a dizer que o
tem entregue, mas loguo fe faça nelle execuçam da
emenda, que aa parte , ou partes fe deue fazer, affi
das defpezas que no tal feito tinham feitas de fuas
peffoas , e proceffo, como pola dilaçam , e perda de
fua juíliça , e mais auerá qualquer outra pena cri-
me, ou no Officio, fe parecer que polo tal cafo a me-
rece. E efra mefma execuçam fe fará no Julguador,
em cujo poder o tal feito for perdido , tendo recebi-
do, e affinado no liuro, como dito he. A qual pena
ciuel , e crime determinará o Regedor com algllús
Defembarguadores que lhe bem parecer.
15 E sE for duuida antre o Efcriuarn , e o Pro-
curador fobre o perdimento do feito, nom ferá cri-
do o Efcriuam , faluo fe o prouar como lho entre-
gou.
16 Os Efcriuaê's feram auifados , que requeiram
aos Juizes que affinem as fentenças, affi definitiuas,
como interlucurorias , que por elles verbalmente fo-
rem dadas nas Audiencias, e nom as affinando o dia
que as der , ou atee outro dia , paguará aas partes to-
da perda, que por norn eíl:arem affinadas fe lhe cau-
far. E affi façam affinar aas partes as confiffoes, e re-
poíl:as que as partes derem a algüas preguntas, que
lhe forem feitas, que em Juizo, ou fóra do Juizo
perante elles Efcriuaés ,em alguü auto que forem fa-
-zer por mandado do Julguador , as ditas partes feze-
V2 rem
156 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XX.
rem em feitos , ou caufas ciueis , o que todo affi fará
afinar neífe dia ; e nom o querendo a parte aílinar,
o notifique ao Juiz do cafo, como a parte o nom
quer affinar , e o porque diz que o nom quer afinar,
e o dito Juiz preguntará dua, , ou tres tdlemunhas
por o dito termo efcripro polo Efcriuam, que a par-
te nom quis affinar, e dizendo as teítemunhas que
he verdade que a parte confeffou , ou diffe o con-
theudo no dito termo , em tal cafo ferá dado tanto
credito ao dito termo, como que foffe pola parte af..
finado, e nom o dizendo affi as dilas teílemunhas, o
tal termo ferá de ninhüa fee.
17 E SENDO a dita confilfam , ou repofla feita
em algüa caufa crime, Mandamos, que o Efcriuam
lhe requeira neffe dia que affine , e nom a querendo
affinar, o digua ao Julguador como a parte nom
quer affinar , o que todo aíl'enrará por termo , e o
que differ porque o nom quer affinar ; e o dito Jul-
guador affinará o dito termo da dita confiffam , e o
mefmo Eícriuam que a efcreueo, e o outro Efcriuam
que prefente eíleuer aas ditas preguntas , ou confif-
fam ; e nom auendo hi outro Efcriuam , ferá afina-
do por hüa teíl:emunha , que hi prefente eftará ao fa-
zer das preguntas, e confilfoês , e feita a dita deli-
gencia, ferá dada tanta fee ao dito termo de confif-
fam , ou repoíl:a , como que foffe affinada pola parte.
1 8 E os termos das confilfo~s , ou repoíl:as , affi
na caufa ciuel , como crime , que na fobredita ma-
neira nom forem , os Auemos por ninhuüs • e de ni.
nhuü effeélo. 19 E
Dos EscR. o' ANTE os DEsEMB. no PAAÇO ET e. r 57
19 E QY A N TO ·aos outros termos prejudiciaes 1
affi corno renunciaçoes , fianças , , cauçoes , louua-
mentos, paél:os , conuenças , que em Juizo fe feze-
rem , procuraçoês apud 11lla , Mandamos ao Efcri-
uam, que requeira as partes dentro no dia que as fe-
zerem que as affinem , e nom as querendo affinar,
feram de ninhuü effeél:o. E os outros termos todos
que nom forem dos fobreditos , Mandamos que lhe
kja dada tanta fee , como que rorern affinados polas
partes, poíl:o que por ellas nom fejarn affinados. E o
Efcriuam que efcreuer os ditos termos , e nom fezer
affinar aa parte no dito dia, ou,nom declarar ao Jul-
guador atee o outro dia como a parte nom quis, nem
foi affinar, fendo-lhe por elle? requerido, fe for em
feito ciuel paguará aa parte toda _perda, ou dãno que
por fua negrigencia , ou culpa fe caufar, e fe for em
feito crime ferá fufpenfo do Officio hu~ anno, e
mais paguará toda perda , ou dano aa parte fe a hi
ouuer, que por fua culpa receber.
20 OuTRO SI Defende·mos aos fobreditos Efcri-
uaes fob pena dos Officios, que nom peçam aas par-
tes papel , nem purguaminho, nem lho façam pa-
guar em ninhüa guifa , porque da Chancelaria ham
d'auer papel , e purguaminho pera as Cartas , que
por ella paífam ; e quanto he ao papel pera os pro-
ceífos deuem-no elles de comprar , e nom as partes.
e fe o contrairo fezerem , fejam fufpenfos do Officio
por huü anno, e effes Eferiuaês nom façam Carta
ninhüa fem mandado d'aquelks , cujo for o defem-
barguo. 21
158 O PRrME1Ro Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. XX.

2r ITEM nom voguem• nem procurem em ni-


nhuüs feitos, nem poffam fobílabelecer, pofio que
procuraçoes pera iffo tenham ; faluo fe for por Noffo
Mandado , ou por feus feitos , ou daquelles que vi-
uerem continuadamente com elles em fuas cafas ,
fob pena de perdimento dos Officios. E dem defpa-
cho aas partes benignamente fem ninhüa detença ,
nom lhes dando rnaas repoftas ; e fe o contraira fe-
zerem , e for prouado foornente por hüa teílemu-
nha fem fufpeita , fejam fuf penfos dos Officios por
huü mez, ou mais , fegundo o exceffo das palauras ,
e feja loguo feito o corregimento fem outra figura de
Juiw a aquelles que affi injuriarem , ou derem maa
repofta , em tresdobro do que feria julguado • fe lho
outra pefioa diffeíle ; e fe a parte nom quifer a dita
emenda , Mandamos que fe anecade pera a Arca da
Piedade; porem auendo hi Acufador, elle aja o ter-
ço, e a: dita Piedade as duas partes , e o conheci-
mento deílo pertença ao Juiz do feito, ou ao Corre-
gedor do crime, qual a parte injuriada mais quifer.
22 ÜuTRO sr Mandamos, que ninhuü Efcriuam
nom fe parta de Noffa Corte fem licença , e manda-
do d'aquelles perante quem efcreuer, e do Noffo Re-
gedor; é fazendo o contrairo do que dito he, ferá
fufpenfo do Officio por huü anno, e partindo-fe com
licença dos fobreditos ( a qual lhe nom poderam dar
pera mais que pera tres mefes em cada huü anno )
leixará todos feus feitos a cada huü dos outros Efcri-
criuaes do Juizo , em que affi c:fcreuer • e lhe dará
en-
Dos EscR, o' ANTI: os DiSEMB. DO PAAÇO .ET e. r 59

enformaçam delles ·, em tal guifa que nom fejam as


partes detheudas por efta razam. E o que fe partir
fem leixar os feitos na maneira fobredita, pague to-
das as cuílas, perdas , e dãnos que pola dita razam
as dicas partes fezerem ; e fe fe partir, pofio que feja
com licença dos fobreditos, e andar laa mais de tres
mefes , perca o dito Officio. E fe no dito Auditoria
nom ouuer mais que effe Efcriuam, nom lhe pode-
ram dar licença pera fe hir, nem poer outro em feu
luguar.
23 E os Efcriuaes nom deteram em maneira al-
güa os feitos , por dizerem que as partes lhe nom
paguam , mas faram todo o que em elles deuem fa-
zer, e requereram aos Julguadores que lhe façàm
paguar o que ham d'auer das partes, os quaes lhes
·mandem loguo paguar; e os que paguar nom quife-
rem fejam loguo penhorados , ou prefos , fe taees
peffoas forem que o deuam feer , e da cadea lhe fa ..
çam paguar. ,
24 ÜuTRO s1 todolos Eícriuaes d'ante o Corre-
gedor, e Ouuidores ,ou quaefquer outros Defembar-
guadores, que efcreuerem em feitos crimes , com
muita deligencia efcreuam em os ditos feitos, e fa_
çam loguo todas as Cartas que fahirem pera fe faze-
rem deligencias, ou execuço(!s , e as dem a affinar
a aqut"lles Defembarguadores por quem ouuerem de
feer affinadas; e tanto que forem affinadas as entre..
guem ao Solicitador da Jufüça, pera as Joguo fazer
atrelar, e enuiar polos Caminheiros aos luguares pera
on-
160 o PRIMEIRO LIV. DAS ÜRDEN. TIT. XX.
onde vam derigidas : e efto Mandamos que fe faça
affi nos ditos feitos crimes, por mais em breue ferem
defembarguados, quer delles na Corte aja partes, ou
requeredor, quer nam.
25 E PORQYE aas vezes acontece, que as partes
fe vam da Corte tanto que feus feitos fam finados,
fem paguarem aos Efcriuaés o que tem merecido
nos ditos feitos , e fe os ditos Efcriuaés ouudfem de
mandar requerer os paguamentos aos Luguares onde
as ditas partes fam moradores, lhe feria fadigua , e
defpeza, e nom he razam, pois tam deligentes ~e-
remos que fejam em feus Officios, que ajam d'an-
dar em demandas polo que tem merecido , Manda-
mos que a parte que for vencedor, fc tirar fentença,
quer feja Autor quer Reo, aíli em feito ciuel como
crime , pague na dita Corte aos ditos Efcriuaés del-
la todo o que lhe for no feito contado de fua efcri-
ptura , affi da parte do vencedor, como do vencido,
e poer-fe-ha na fentença que o dito vencedor tirar,
hüa claufula que digua: E /Jem q/fl fareis execuçam em
tantos dos hens do dito condenado, porque o dito vencedor
aja mais tanto, que paguou por elk ao EJcriuam defle fii • ·
to em Nqffa Cor/e, que ao dito vencido pertencia paguar.
e nom paguou. Peró cllo nom auerá luguar, quando a
fcntença for d'abfoluiçam , e fem cuftas ; faluo fe as
partes ambas, affi vencedor, como vencido, forem
moradores em huü Luguar; porque fe forem mora-
dores em defuairados Luguares , nom ferá aquelle
que ouue a fentença d'abfoluiçam, e fem cuftas, obri-
gua-
Dos EscR. D'.ANTE os DESEMB. no PAAÇO ET e. 161
guado a paguar ao Efcriuam o que lhe a outra par-
te deuer ; cá pois elle nom ha de fazer execuçam
pola dita fentença pera auer pera fi coufa algüa •
nom deue feer coníl:rangido auer de hir fóra de fua
cafa arrecadar o que ao dito Efcriuam he deuido ,
mas em tal cafo eífe Efcriuam mande fazer execu-
çarn nos bens daquelle que lho nom paguou , como
fe faz po1as dizemas das fentenças, que fe pera Nós
recadam.
26 E QYANTO he aos feitos dos prefos pobres,
que em No{fa Cafa da Sopricaçam por noua auçam
fe trautarem, ou por appellaçam ou aggraúo a ella
vierem , fe defpois de finalmente ferem defembar-
guados , os ditos prefos , ou outrem por elles nom
tirarem fuas fentenças atee dous mefes, contados do
dia da pubricaçam das fentenças, por dizerem que
fam tam pobres que nom tem por onde paguar os
falarios aos Efcriuaés de feus feitos, Mandamos ao
No{fo Chanceler Moor, que fazendo certo de fua
pobreza mande contar os ditos feitos, e todo o que
fe achar por conta que os ditos prefos fam obrigua-
dos aos ditos Efcriuaês de feu falaria, e affi ao Pro-
curador dos pobres fe por elles procurou, lhes man-
de paguar ametade de .feus falarias do dinheiro da
Arca da Piedade. E por feus mandados fará o Nof-
fo Efmoler, ou quem feu carreguo teuer , os pagua-
mentos perante o Efcriuam de feu carreguo , pera
lhe feerem leuados em conta. E pera a outra metade
lhe ficará feu dereito refguardado pera o auer dos
Liv.1. X di-
162 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. XX.

ditos pobres, defpois que teuerem por onde paguar.


27 E TODO o que dito he acerca do paguamen-
to dos feitos dos prefos pobres , nom auerá luguar
nos prefos que forem remetidos aas Ordens, ou tor-
nados aa lmmunidade da Igreja, ou a alguü Couto
de Noífos Reynos onde eílauam acoutados.
28 ITEM fe algüa parte offerecer em Juízo al-
güa Efcriptura em ajuda de feu feito, e defpois de
feer em poder do Efcriuam, a parte que a affi deu a
tornar a pedir , nom lha dará fern confentimento
da outra parte , ou fem mandado do Juiz ,. o qual
ouuirá primeiro a parte, ou feu Procurador.
29 E POR nom feer duuida no numero dos Efcri-
uaes quantos deuem feer, Mandamos que no Offi-
cio dos Defembarguadores do Paaço, e dos Agrauos
da Nofla Cafa da Sopricaçam aja hi quatro Efcri-
uaes. E no Officio do Juiz dos NoíTos Feitos huü
Efcriuam. E no dos Corregedores da Corte íeis
Efcriuaes. ·E no Officio dos Noffos Ouuidores tres
Efcriuaes. E no do Ouuidor da Raynha huü Efcr.i-
uam.
30 ITEM em cada biia das Correiçoês de Noffos
Reynos auerá quatro Efcriuaés. E em todos os fo_
breditos Officios nom auerá mais numero de Efcri-
uaês do que dito he.
31 Ourno s1 Mandamos , que ninhuü dos ditos
Efcriuaês nom leue mais das Efcripturas, e procef-
fos que efcreuer , d'aquello que lhe dereitamente
montar • e por Noffàs Ordenaçoes he taixado • e fa-
zen-
Dos EscR. D' .ANTE os DESEMB. oo P.AAÇO ET e. 163
zendo o contra-iro , aueram as penas que Diremos
no Titulo Da pena que aueram os Ojficiaes que leuam
mais do contheudo et e. E bem affi os ditos Efcriuaês
nom tomem pam , nem vinho, nem carne , nem
outras coufas de qualque r qualidad e que fejam , de
peffoa algüa no modo e maneira que Diremos no
Q!into Liuro , no Titulo Dos Oificiaes d' EIRey que
recebem Jeruiços ou peitas , e fob as penas nelle con-
theudas. E nom fe poderá efcufar quando algua cou-
fa receber da parte que perante elle feíto tragua,
por dizer que lho defcontou , ou defconcará de feu
falaria. E feram auifados os Efcriuaes que tanto que
o feito for findo , loguo dali a huü mez, poíl:o que
por ninhüa das partes nom feja requerid o , mandem
o dito feito ao Contado r das cuíl:as pera o contar,
por tal que fe faiba fe leuou mais d'algüa das partes,
que o que de Dereito lhe cabia; e nom o mandan do
ao dito tempo encorrer am em pena de perdime n-
to do Officio. O que todo dito neíl:e parrafo auerá
luguar em todos os Efcriuaes affi das Audiencias >
como dos Efcriuaes de quaesqu er Noffos Officios ,
e bem affi nos Tabalia és, e Efcriuaé s dos Conce-
lhos , e outros de qualque r qualidad e que feja.
32 Tooos os Efcriuaé s da Corte e de cada huü
Officio feram preíente s, e deligentes em cada huü dia
aas Audienc ias dos Defemb arguado res, e Officiaes
perante quem efcreuerem , em tal guifa que nom
errem as ditas Audienc ias; e nom o fazendo affi,
os ditos Defemb arguado res , e Officiaes cometam
X 2 feus
164 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. Tn. XX.
feus feitos e defembarguos, em que affi forem negri..
gentes, a alguü outro Efcriuam, dos que perante el-
le efcreuem ; e aquelles que affi forem negrigentes
nom ajam mais proueito d'aquelle feito ou deíem-
barguo, em que affi cometerem a dita negrigencia,
como dito he , e mais aueram aquellas penas que
ao Julguador bem parecer, nom paffando de mil
reaes.
33 MANDAMOS que todos os Efcriuaês da Corte
ekreuam continuadamente por fi mefmos perante
aquelles Defembarguadores, e Officiaes a que fam
ordenados , e nom poffam por fi poer outros Efcri..
uaés em feu luguar por ninhuu caío ; e fe Nós Fe-
zermos graça a alguu Efcriuam que potra poer ou-
trem pera feruir em feu Officio, o dito Efcriuam
poerá em feu luguar tal peffoa , que poífa e faiba
bem feruir como elle mefmo ; ou quando Nós Der-
mos luguar a alguem que ferua polo dito Efcriuam
a feu requerimento, deue o fubroguado feer viílo e
examinado polo dito Defembarguador. ou OfficiaI
perante quem efcreuer , e fendo por elle aprouado •
poderá bem efcreuer em loguo do dito Efcriuam
aquelle tempo pera que ouuer licença e graça Noffa
como dito he, e d'outra guifa nom. E quando eíl:es
Officiaes ouuerem de poer a dita peffoa , pera por
elles feruirem pola dita Noffa licença , feram auifa-
dos que a bufquem tal , que nom poffa fazer erro no
dito Officio , tal por que o perca ; porque fazendo-o,
elle perderá o dito Officio , como fe por fi fezelfe o
dito
Dos EscR. n' ANTE os DEsEMB. no PAAÇO ET e. 16 5

dito erro , fem auer outra mais pena ; e a peffoa que


o dito erro fezer, paguará o preço em que o tal Of.
ficio for eíl:imado pera quem Nós Mandarmos , e
mais auerá qualquer outra pena que por Dereito
merecer , fegundo a qualidade do cafo for. E eílas
mefmas penas aueram i(fo mefmo luguar , poflo que
os ditos fubroguados fejam por Nós efcolhidos , e
pofios nos ditos Officios a requerimento do dito
Efcriuam. E eílo mefmo fe guardará em quaesquer
outros Officiaes de Notfos Reynos de qualquer qua ..
!idade que fejam , a que Nós as ditas licenças Der-
mos.
34 OuTRo sr Mandamos a todos os Nofros Efcri..
uaês que por No{fa parte, ou por os Rendeiros, e Fei-
tor de Notfa Chancelaria forem requeridos , que
dem e moílrem por feus affinados as condenaçoês
das fentenças , que elles as dem loguo fob pena de
priuaçam de feus Officios.
3 5 ITEM os Efcriuaês faram , e tiraram as fen..
tenças dos procetfos, na fórma que Diremos no
Terceiro Liuro, no Titulo Dasftntenças definitiuas.
36 ITEM os Efcriuaes teram a fórma de poer
aprefentaçam, e dar a vifta dos Eílormentos ou Car-
tas teílemunhaueis , e de os guardar , que Diffemos
nefte Liuro, no Titulo Dos Dejembarguadores do
Agrauo.

TI.
166 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TrT. XXI.
TITULO XXI.

o
Do Solicitador da Ju/Jiça.

SOLICITADOR da Juftiça da Cafa da So-


pricaçam ferá bem deligente, em maneira que por
fua minguoa , e negrigencia nom fe alonguem os
feitos da J ulliça, e dos prefos , e comprirá o Regi-
mento feguinte.
1 PRIMEIRAMENTE poerá em rol todos os pre-
fos que ouuer na cadea, poendo declaradamente feus
nomes e alcunhas , e os caíos por que fam prefos, e
quem he Juiz de feu feito, e affi o Efcriuam, e
quem he o Procurador do prefo. E ferá prefente a
todas as Audiencias que fezer o Corregedor da Nof-
fa Corte dos feitos crimes, e affi os Ouuidores da
Noffa Cafa da Sopricaçam ; e nas ditas Audiencias
poerá em lembrança os termos em que cada feito de
prefo ficar, e acufará a negrigencia do Procurador
que tal feito auia de trazer, fe o nom trouuer ao ter-
mo affinado; e affi terá cuidado de requerer of> def-
pachos d'aquelles feitos de prefos , que forem con-
clufos , a aquelles Ouuidores ou Corregedor que os
em feu poder teuerem.
2 E QY AN oo os feitos dos ditos prefos eíleuer('m
em dilaçam , pera fe em elles auerem de tirar inqui-
riçoês, faberá quaes teflemunhas fe nos ditos feitos
ham de preguntar por parte da Juftiça , e fa-las-ha
com deligencia citar, que venham dar feus teftemu-
nhos,
Do SoLICITADOR DA JusTIÇA. 167
nhos, e fe no~ vierem requererá aos Julguadores a
que pertencer, que os conílrangua. E iífo mefmo
fará aas teftemunhas que os prefos pobres nomea-
rem , porque o mefmo Solicitador da Juíliça as fará
citar , que venham dar feus tefiemunhos. Peró fe
forem taees pe!foas que deuam feer preguntadas em
fuas caias , faça com o Efcriuam , e Enqueredor
que as vam laa preguntar, e fe em ello forem negri-
gentes, digua-o aos Julguadores a qu·e pertencer.
3 ITEM terá cuidado de mandar fazer as Cartas
dos defembarguos que fahirem nos feitos da Jufti-
ça, e affi dm; prefos pobres , e defemparados , e as
fará affinar, e aífelar , e as entreguará ao Promotor
da Juíliça pera as dar aos Caminheiros, e poerá em
lembrança perante o Promotor o dia em que as
Cartas foram dadas aos Caminheiros, e o tempo em
que com as repoftas dellas tornaram, pera fe veer fe
poferam em ello a deligencia que deuiam; e quan-
do achar que foram negrigentes , va-o loguo dizer
ao Regedor, e moftre-lhe o dito liuro das lembran..
ças , pera o Regedor lhe defcontar de feus manti-
mentos aquello que por fuas negrigencias nom me-
receram.

TI-
168 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. T1r. XXII.
T I T U L O XXII.
Do Porteiro da Chancelaria da Nojfa Corte.

O PORTEIRO da Chancelaria hirá em cada


huü dia a cafa do Chanceler Moor, pola menham,
ou aa tarde, fegundo lhe for por elle ordenado , e
prefente elle aífelará as Cartas; e como forem aíre-
ladas mete-las-ha em huü faco çarrado e aírellado ,
e leua-las-ha aa cafa do Efcriuam da Chancelaria,
fem fe defuiar pera outra parte do caminho, e affi
as terá Cem abrir o foco, atee que o dito Efcriuam
e Recebedor da Chancelaria [e aílentcrn pera as dar,
e prefente elles abrirá o Caco , e tirará hüa e hüa
Carta, entreguando-a ao Efcriuam ; e de[pois que
lhe pofer a pagua, e o Recebedor for entregue , da-
la-ha aa parte a que pertencer , e tire outra Carta~
e affi todas as outras, tendo o faca fem outrem to-
mar Carta algüa fenom elle dito Porteiro ; e ferá
em ello bem deligente , chamando as partes que o
Efcriuam diíler; e ci eípois que as Cartas do faco to-
das forem dadas , o dito Porteiro ponha ante fi as
Cartas velhas da arcá da Chancelaria , que ficaram
por dar dos outros dias , e as dee ao dito Efcriuam
pola guiía íufo dita, fe hi eíl:euerem as partes a que
pertencerem , e as que ficarem torne-as aa dica
arca . .
I. E EM durando as ditas Cartas, fe alguü qui-
fer embarguar algüa , poífa-o fazer, e pague o derei-
to
Do PoRTEIRO DA RoLAÇAM. 169

to do embarguo aa Chancelaria , que he dez reaes


de cada embarguo, e o Eícriuam entregue a tal Car-
ta com os ernbarguos, que por parte do embarguan-
te forem dados a nom paífar • ao Porteiro que a le-
ue a aquelle que a aílinou, pera a defpachar em Ro ..
laçam , fe tal defernbarguo for dado em Rolaçam.
E o Efcriuam poerá nas coílas dos embarguos o dia,
mez, e era em que foi embarguada a dita Carta, e o
Porreiro auerá de feu trabalho de tal hida dez reaes.
2 E .AALEM deíl:o ferá theudo de fazer qualquer
coufa, que lhe for mandado polo dito Chanceler
Moor , e Officiaes da Chancelaria , por feruiço Nof-
fo que aa dita Chancelaria pertença.

T I T U L O XXIII.

o
Do Porteiro da Rolaçam.

PORTEIRO da Rolaçam deue feer bem deli.


gente em cada huü dia cedo pola menhaã correger
as mefas , e bancos de feus bancaes , e campainha ,
e buceta de poo, e tinta , como de cuíl:ume he , em
tal guifa ,que quando os Defernbarguadores chegua-
rem fe poífam loguo aílentar a defembarguar , e
nom ajam razam de fe deterem por minguoa dello.
I E TERA' cuidado de guardar os panos d'ar-
mar, e bancaes , e campainhas , e bucetas de poo,
em maneira que de todo dee boa conta, quando lhe
Liv. 1. Y for
170 O PRIMEIRO L1v. DAS 0RoEN. T1T. XXIV.
for requerido, e todo eílo lhe ferá entregue por man-
dado do Regedor, e efcripto polo Efcriuam dos Nof-
fos feitos , pera defpois viir a boa recadaçam.
2 E guardará a porta da Rolaçam continuada..
mente cada huü dia , fem della fe partir em quanto
a Rolaçam durar , fe nom por mandado do Rege..
dor. E nom leixará entrar dentro na dita Rolaçam
fenom por feu mandado ; e fazendo o contrairo ; o
Regedor o caftigue como viir que he bem.

T I T U L O XXIV.
Do Porteiro dos Corregedores da Corte , e dos Nojfo1
Ouuidores , e da Raynba.

O PORTEIRO dos Corregedores de Nofla Cor-


te deue fee, bem deligente, e em cada huü dia pola.
menham hir aa cafa do Corregedor do Crime , ante
que parta pera à Rolaçam, e hir.fe com elle, e os
feitos que teuer viftos leua-los-ha em huü faco, que
pera cfto terá ordenado. E eftará aa porta da Rola-
çam pera guardar a porta onde eíleuer o Correge-
dor com os Defembarguadores defpachando os fei ..
tos crimes, como pera fe o ouuerem mefter pera.
mandar a algúa parte , que o achem preftes ; e nom
fe partirá dahi em quanto affi efteuerem em Rola..
çam fem licença do Corregedor. E por o femelhan.
te modo defpois de comer, nos dias em que os Cor-
re-
Do PoR.TilRO DOS CoRREG. DA CoR.TE ET e. 171

regedores do Crime , e do Ciuel fazem Audiencias,


os deue hir requerer , fe as ham de fazer , e lhes le-
uar os feitos que hi deuem pubricar, e a vara, e o
pano pera a Seda , e ferá prefente pera citar e fazer
qualquer outra coufa , que lhe os ditos Corregedores
por bem de jufüça mandarem.
1 ITEM citará aquelles , que os Corregedores

.
mandarem , fegundo Diremos no Titulo Das cita-
fOes.
2 ITEM fe o dito Porteiro citar na Audiencia,
lcuará de cada hüa peffoa onze ceptiis, e outro tanto
citando marido e molher , ou Prior , e Conuento ,
que fam reputados por huü corpo ; e fe hi citar her-
deiros , e teftamenteiros , pofto que muitos fejam ,
leuará tres reaes e quatro ceptiis , como de duas pef-
foas. E citando de fóra da Audiencia, affi na Vil..
la , ou L uguar , como fóra delle , leuará o dobro do
que leuaria fendo na Audiencia. Peró fendo fóra da
Villa , leuará mais o caminho da bida e vinda , de
cada kguoa fete reaes e dous ceptiis. E o que dito
he , que a citaçam dos herdeiros e teftamenteiros fe
pague como de duas peffoas, auerá luguar quando
for feita na Audiencia, ou fóra della , morando todos
juntamente em hüa caía, e fe nom morarem juntos
leuará de cada huü herdeiro ou teftamenteiro. que
fóra da Audiencia citar , tres reaes e quatro ceptiis.
E das pefToas que o Porteiro apreguoar leuará de
preguam outro tanto, como leuaria fe as na Audi-
encia citafi"e.
Y2 3
172 O .PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. XXV.
3 ITEM de todas as fentenças que forem dadas
pelo Corregedor de pequena contia, conuem a fa_
ber, de mil reaes a fundo, deuem loguo feer feitas
as execuçoes polo dito Porteiro, leuando Aluará af-
finado polo Corregedor ; e fe forem de maior con-
tia, far-íe-ham Cartas affeladas, e nom por Aluará,
e neíl:e cafo quando paffar de mil reaes leuará Efcri-
uam pera com elle fazer as ditas execuçoês,. e íem-
pre arrecadaram a dizema, e qualquer outro derei-
to, que a Nós pertença; e fe o nom arrecadarem ,
affi o Porteiro como o Eícriuam paguem a dizema
por a primeira vez em tresdobro, e pala fegunda
anoueada , e pala terceira percam os Officios.
4 E TODAS as coufas acima contheudas perten-
ce iffo mefmo fazer aos Porteiros dos Noílos Ouui-
dores, e da Raynha, prefente os ditos Ouuidores , e
por feus mandados, como neíl:e Regimento fe con.
tem , que o Porteiro dos Corregedores da Nofia
Corte aja de fazer.

TITULO XXV.

o
Do Preguoeiro da Corte.

PREGUOEIRO da Corte ha d'eíl:ar nas Audi..


encias preíl:es pera apreguoar qualquer que manda.
rem degradar com preguam na Audiencia, e leua-
rá do dito preguam dez reaes aa cufta da parte aíli
apre-
DAS CIT.AÇ. PREG. PROCUR. E INQ!Jl"-IÇ. ETC. l7J

apreguoada, e fazer outras coufas que lhe forem


mandadas polo Corregedor , ou Ouuidores , fobre
algüa execuçam que feja neceffaria cumprir por
bem de Juíliça.
1 E ESTARA' fempre prefies pera chamar os ou-
tros Preguoeiros , cada vez que fe ouuer de fazer
juíliça.
2 ITEM ha de fazer todas as arremataçoes das
execuçoes das fentenças do Corregedor da Corte , e
dos Ouuidores , e quaesquer outras que lhe forem
encarreguadas por cada huü dos NofTos Defembar.
guadores da Cafa.
3 I Tl. M fe nom fezer feu Officio como deu e , o
Corregedor lhe dará aquelle caíliguo que elle mere-
cer, ou o Regedor da Cafa, fe niffo quifer entender.
4 hEM auerá de feu Officio polas execuçoês
que fezer , fegundo he contheudo no Titulo Do qu~
bam de leuar os Porteiros, e Preguoeiros das penhoras ,
e arremataçoés.

T I T U L O XX VI.
Das citaço'és, preguoes, procuraçoes , e inquiriçoes, de
que a E/Rey pertence auer dereito.

MANDAMOS ao Efcriuam de Noffos feitos ,


e affi ao das malfeitorias , que efcreuam todas as ci-
taçoes, preguoes, procurat,oes, e inquiriçoes, de
que

21
174 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XXVI.
que Auemos d'auer No{fos dereitos. Os quaes fam
de cada procuraçam tres reaes e meio, e de cada
dito de teíl:emunha tres reaes e meio , aalem do que
o Enqueredo r por [eu Regimento ha de leuar; e dos
preguoés , e citaçoes outro tanto quanto he ordena-
do ao Porteiro de leuar, quando cita na Audiencia •
ou no Luguar , como he dito no Titulo Do Porteiro
dos Corregedores da Cor/e , fazendo deílo liuro em ca.
da huü anno ;_e façam compridam ente eílo receber ·
aos Porteiros , que eftam perante o Juiz dos ditos
feitos , e perante o Corregedor da No!fa Corte. Aos
quaes Porteiros Defendemo s, que nam recebam
coufa dos ditos Noífos dereicos, faluo perante os di-
tos Noffos Efcriuaés; e efta mefma regra fe tenha
perante os do Noífo Defembarg uo, e Ouuidores ,
efcreuendo todo eflo aquelles Efcriuaês a que Der-
mos carreguo. E Mandamos a todos os outros Efcri-
uaes que tirarem inquiriçoes, que ante de as leu arem
aos Defembarguadores façam poer as paguas em
ellas polos ditos No!fos Efrriuaes, que teuerern car-
reguo daquello que a Nós pertence de cada dito de
teftemunh a, e os ditos Porteiros perante elles rece ..
bam os ditos dinheiros. E outro fi Mandamos , e
Defendemos aos ditos Defembarg uadores, que fen-
do-lhe leuadas taces inquiriçoés fem paguas , nom
dem a ellas liuramenco, atee lhe ferem poftas as di-
tas paguas. E porque muitas vezes acontece os di ..
tos Defembarg uadores, efpecialmente o Correge..
dor I mandarem penhorar algüas pefioas por feus
AI..
Do CARC. DA CoRTE E DA CAs. oo C1v. ET e. 175

Aluaraes, e de que em Noffa Chancelaria fe leuaria


dizema fe por Carta paffaífe , a qual dizema fe nom
arrecada por aili paffar por Aluaraes, Mandamos, e
Defendemos aos ditos Defembarguadores , e Corre-
gedores , que nom paffem taees Aluaraes, faluo
naquelle cafo que he ordenado; e os Efcriuaes que
taees Aluaraes efcreuerem , nom os dem, n_e m en-
treguem aa parte a que pertence, nem ao Porteiro,
nem a outra pelfoa algüa que por elles aja de fazer
execuçam, fem os primeiro arnoílrarem aos ditos
Noífos Efcriuaés , que difio teuerem carreguo, per-
ante os ditos Porteiros, pera fe delles recadar J e
leuar todo Noffo dereito. E os Efcriuaés que o con-
traira fezerem , e Noffo Mandado nom comprirem ,
fejam fufpenfos dos Officios atee Nofia Merce.

-----
T I T U L O XXVII.
Do Carcereiro da Corte , e da Cafa áo Ciuel , e do que
a ftus Ojficios perunu.

p RIMEIRAMENTE o Carcereiro da Corte ha-


de trazer quatro homens , pera encadear.e m , e def..
encadearem os prefos , e os guardar.
1 O CARCEREIRO ha de dar húa cadea de mon..
te, e dous homens que andem polos caminhos, por
onde quer que Nós Andarmos, pera os que prende-
rem , e com elles ha de hir huü homem do Meiri-
rinho das Cadeas. 2
176 O PRIMEIRO Lcv. DAS ÜRDEN. TIT. XXVII.
2 ITEM ha de guardar mui bem fuas prifoés, e
os prefos , e aprifoa-los fegundo os maleficios em
que o prefo for culpado, e a qualidade das pdfoas ;
e bufcar em cada huií dia duas vezes os prefos das
prifo~s, pera veer fe fam bem prefos, e arrecadados,
e fe tem feita algua malicia pera fe auerem de Coi-
tar. Porque fe alguus prefos lhe fogirem , ha d'auer
aquella pena que o prefo que fogir deuera d'auer
fendo-lhe prouado o maleficio, por que prefo era,
fegundo he declarado no ~into Liuro, no Titulo
Do Alcaide, ou Carcereiro que falta prefa ei e. E achan..
do algüa coufa mal feita , notificalo-ha loguo a
gram preffa ao Corregedor dos feitos crimes , e ao
Meirinho das Cadeas , pera prouerem loguo com
Jufüça. E leualos-ha a fazer fuas neceffidades o
Carcereiro . e o Meirinho com feus homens, duas
vezes no dia , quando outro remedio hi nom ouuer
pera fua hida fóra fe poder efcufar.
3 ITEM ha de fazer todas as coufas que lhe o
Meirinho das Cadeas mandar fazer por Noífo ferui ..
ço , que a feu Officio toquem.
4 OuTRo s1 quando os prefos andarem cami-
nho, ham de feer entregues aos Concelhos onde
cheguarem , e affi de Concelho em Concelho.
5 OuToR st o Carcereiro ha de teer cuidado,
quando forem por caminho, de aprifoar os prefos
aa noute onde quer que cheguarem. E terá carre..
guo , e guarda delles cm cada hüa noute com os
homens do Concelho que os leuam , a que forem
en..
Do CARC. DA Co.RTK E DA CAs. DO C1v. ET e. 177

encomendados , atee ferem entregues onde a Cadca


ouuer de eílar d'afeífeguo.
6 ITEM nom ha de confentir , que ninhuü prefo
tragua ferros de befta, que fe fechem , nem desfe-
chem com chaue; e fe os elle mandar trazer a al-
guü , ou confentir que os tragua, perder-fe-ham pe-
ra o Meirinho das Cadeas, que lhos ha loguo de
mandar tornar.
7 OuTRO s1 quando o Carcereiro viir que alguü
prefo he foberbo , e deshoneílo , ou briguofo , em ta.l
guifa que por feu aazo a Cadea receba alguü peri-
guo , noteficalo-ha ao dito Meirinho das Cadeas , ou
ao Corregedor, pera lhe ferem lançadas grandes pri-
foés , em tal guifa que por caufa dello fe nom poffa
feguir outro dãno alguü.
8 1TEM nom confentirá o dito Carcereiro, que
cometam em a dita prifam alguüs maleficios , affi
como juguar dados, ou cartas , ou arreneguar. Nem
confemirá iffo mefmo, que os ditos prefos, ou alguüs
outros homens de fóra durmam em a dita prifam
com as molheres hi prefas. E dormindo o Carcerei-
ro com algúa molher que affi teuer prefa , ou con-
fentindo a alguü outro que com ella durma , nom
fendo feu marido, Mandamos que moura por cllo.
E fc fe próuar que o dito Carcereiro veo com a dita
prcfa a alguü auto deshonefto , affi como abraçar 11
ou beijar, que feja por fua vontade da prcfa , ferá
degradado dez annos pera a Ilha de Sam Thome. E
fc alguü Carcereiro quifeífe por força dormir corn a
.Lrv. I. Z prc-
178 O P.R.IMEIRo Lrv. DAS ÜRDEN. TIT.XXVII.

prefa, pofio que com ella nom dormiffe por fe ella


defender, ou lho tolherem , moura por ello. E pri-
meiro que fe faça execuçam de morte em cada huü
dos fobreditos cafos , No-lo faram faber.
9 ITEM o dito Carcereiro noin leuará peita d'al-
guu prefo, por lhe deitar menos prifam que o feu
àeliél:o merece, porque efio he caufa de os ditos pre-
fos auerem lnguar de fogir , e fazendo-o perca o
Officio, e mais feja punido fegundo a peita que le-
uar.
10 E SENDO achados alguüs arteficios, ou armas
na dita prifam pera romper as ditas Cadeas, e fol-
tar os ditos prefos , Mandamos que as percam feus
donos , e fejam dos Carcereiros , ficando obriguados
os que taees arteficios, ou armas trouuerem , a lhe
Mandarmos dar, fe forem , ou poderem fecr prefos,
as penas que merecerem.
II hEM Mandamos, que tanto que alguü pre-
fo for trazido, e cheguar aa porta da Cadea da Nof-
fa Corte , ou da Cafa do Ciuel, antes que dentro en-
tre , o Carcereiro faça auto por fua maõ acerca da
tonfura, e vefüdos, fegundo he contheudo no Q!in-
to Líuro, no Titulo ~ue ao tempo da prifam ftfaça.
011/0 do habito e tonfura.
12 E: PORQYE algüas vezes acontecia, que os
prefos affi da Cadea da Corte, co~o da Cafa do Ci.
uel defobedeciam a feus Carcereiros , nom querendo
tomar o ferro ; nem que os bufcaffem como cum.
pre pera boa guarda delles > ~crendo Nós a efto
pro-
Do CARc. DA CoRTE E OA CAs. DO Crv. ET e. 179
prouer , Mandamos que todos os prefos obedeçam
em todo , e por todo a feus Carcereiros , no que a
boa guarda delles, e fegurança da Juftiça pertencer,
affi como em os mandar aprifoar , ou dobrar o fer-
ro, ou bufcar fuas camas , e eíl:adas, ou os mudar de
huü luguar pera outro, ou lhes mandar outra coufa
femelhante , e qualquer que o contrairo fezer , e lhe
for requerido tre~ vezes juntamente por o Carcerei-
ro , ou Meirinhv das Cadeas, e mandado cada hüa
das ditas coufas, e o tal prefo, ou prefos o nom qui-
ferem fazer, e reftftirem a cada huü dos ditos Offi-
ciaes nom lhe obedecendo, fe for piam feja tirado
aa porta da Cadea de fóra, e com preguam lhe fejam
dados vinte açoutes, por a elle feer caíliguo, e aos
outros exemplo, e loguo o tornem dentro a aprifoar
fegundo defcriçam, e juízo dos Officiaes da dita Ca..
dea. E fe for Efcudeiro, ou d•outra qualidade que
nom feja piam, pola tal defobcdi~ncia por cada vez
pague dous mil reaes pera as defpefas da Cadea , os
quaes recadará o Recebedor do dinheiro das defpe-
fas da Rolaçam , pera defpenderem nas defpefas da
Cadea quando comprir ; os quaes fe os loguo nom
paguar lhe fejam executados em as camas , e rou-
pas , e veftidos que em a Cadea teuerem , fem lhes
hi ficar coufa algua, e o que minguoar da dita pe-
na , fe execute , e aja polo milhor parado que lhe
acharem. E aalem deflo fe em tal refiftencia, e def-
obediencia os ditos Officiaes, ou cada huü delles fe..
rirem , ou matarem os ditos prefos • que o pofi'am
Z 2 fa-
180 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. Tn. XXVIII.
fazer fem pena algúa , guardando a temperança que
fe deue teer. E quando os prefos fe acharem agra-
uados dos Officiaes da Cadea , poder-fe-ham agra-
uar ao Corregedor, o qual os ouuírá, e prouerá com
juíliça , e fe faça todo compridamente corno fe deuc
fazer.
13 ITEM. na dita Cadea ha d'auer dous, ou tres
Miniftros da Juíl:iça, dos quaes o Carcereiro ha de
teer cuidado de os trazer prefos , em maneira que
nom fuguam, e ham d'auer feu mantimento orde-
nado cada mez, fegundo lhe for ordenado polo Re-
gedor. E ham de Ieuar dos homens, ou molheres
que morrere.m por juftiça, os vefüdos,. e roupas de
cama , que na dita Cadea teuerem.
14 ITEM Mandamos , que os ditos Carcereiros
nom vendam aos prefos coufa algua , fob pena de
perdimento do Officío , e mais auer a pena que for
Noifa Merce, pera quem quer que os acufar.

T I T U L O XXVIII ..
Das carceragens da Corte , e como ft bam dt /euar.

T 000 homem que for prefo na Cadea da Cor.


te , pague de carccragern cincoenta e quatro reaes
brancos da moeda ora corrente , conucm a faber , a
íeis ceptiis o real, e quatro reaes d"cntrada, e mais
pague quando o foltarem outros quatro rcaes pera.
aquel-
DAS CARCER.AGENS DA CoRTE ET e. J 8r

aquelle que o desferrar, quando o mandarem foltar;


e por efies quatro reaes d'entra.da o Carcereiro ha
de dar candea com que os prefos fe vejam de nou-
te , e mais aguoa pera beberem. E fe o prefo for
acontiado em cauallo. ou Vaffallo ,ou Meftre de nao
de caftello d'auante, ou barca que feja de carregua
d'oitenta toneis, ou outro homem de femelhantc
condiçam, e quifer andar pola Cadea com ferros
fem jazer mais aprifoado na Cadea , e feu feito fur
tam leue que razoadamente lho deua , e poífa affi
fazer , pague de carceragem cento e oito reaes.
I 1TBM nom leue carceragem de ninhuü que for
folto ante que feja aprifoado, ainda que chegue aa
caía da prifam por prefo, fe o mandarem fultar ante
que feja aprifoado. Nem leue carceragem do que for
prefo fem mandado do Corregedor , ou Juiz , ou ou-
tra qualquer Juftiça, que poder tenha de mandar
prender ,fc ellc achar que he mal prefo, e o mandar
íoltar por acharem que foi prefo fem feu mandado ,
e fem culpa. E bem affi nom leuará carceragem
d 'aquelle que for prefo por erro.
2 I T&M todos aquelles que forem prefos por feer
achados dcfpois do fino de correr fem arma, e fo-
rem condenados na pena dos que fam achados dcf-
pois do fino, e forem aa cadea., paguaram mea car..
ceragem foomente. E os que forem prefos por ferem
achados com arma defefa. , e forem condenados em
pena d'arma , paguaram a carceragcm inteira.
3 I TIM fe alguü prefo for lcuado pera outra
pn-
182 O PR.IMEIR.O Lrv. DAS ÜRDEH. TrT. XXVIII.
prifam , pague ametade de toda a carceragem , que
paguaria quando foffe folto. E na outra prifam onde
for leuado, quando ouuer feu liuramento , e o folta-
rem, paguará -a carceragem inteira.
4 OuTRo s1 Mandamos , que nom feja ninhuü
Carcereiro oufado de mais leuar de cada huü prefo
do que acima he declarado, que he o que lhe de De-
reito pertence auer, e mais nom ; e fe o contrairo
fezer , aucrá as penas contheudas no ~into Liuro,
no Titulo Da pena q11e muram os Ojficiaes que leuam
mais do contbeudo emftu Regimento.
5 l TIM os prefos nom feram foltos fem Alua-
raes affinados polos Julguadores, que os mandarem
foltar, feitos no Liuro da carceragc:m , nos quaes
Aluaracs feram efcriptas as paguas das carceragens
por maõ do ·Efcriuam que teuer o feito do dito pre-
fo , pera viirem todas a boa arrecadaçam. E o dito
Efcriuam lcue por fazer o dito Aluará fete reaes, e
mais nom.
6 ITEM as carceragens da Corte fc ham de re-
partir , fegundo hc contheudo no Titulo Do Meirt'-
nbo das Cadeas.

TI-
Do REG. oo Goov. DA JusT. NA CASA Do C1v. 183

T 1 T U L O XXIX.
Do Regimento do Guouernador da Jujliça
na Gaja do Ciue/.

P OR quanto a Juftiça da Cafa do Ciuel princi-


palmente entende , e prouee fobre as contendas , e
litígios, que fam acerca dos bens , e fazendas dos
Noffos vaffallos, e naturaes , e affi fobre o Regimen-
to da Juftiça da Noff'a Cidade de Lixboa, que he a
maior, e mais nobre de Notfos Reynos, e Senhorios,
em que muito confiíle Noffo feruiço , e vniuerfal
Juftiça dos ditos Noff'os Reynos , e por tanto ceer a
guouernança da dita Caía he nella o Officio maior,
e mais principal , e affi acerca de Nós , e de Noffo
Eftado de tanto pefo, e eíl:ima, que por Nós, e Nof-
fos Soceffores fe deue procurar , que o Guouerna-
dor della feja fempre com aprouadas e mui vertuo-
fas qualidades de fua peffoa pera efte Officio efco-
lhido. Porque deue feer homem Fidalguo, de limpo
fangue, bom , vcrtuofo, de muita auél:oridade , e
pera mais perfeiçam Letrado, fe for poffivel , te-
mente a Deos, de fam vontade, de boa confciencia,
jufto , e em bondades exprementado , inteiro , e
conftante, pera fem algüa contraira inclinaçam. nem
paixam fazer, e procurar, que o Dereito, e Juftiça
a todos mui igualmente fe guarde. E deue fecr affi
abaftado dos bens temporaes ,e do animo principal-
mente, que fua particular neceffidade nom dee a
clle
184 O PRIMKIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TrT. XXIX.
elle caufa a algüa corrupçam de Noffa Juftiça. E affi
de graciofo , e defpejado acolhimento aas partes ..
pera fem algüa difficuldade o verem, e fem pejo lhe
poderem requerer fua Juíl:iça ; e fobre iffo deue feer
caridofo , e de condiçam piadofo, com que fempre
tenha cuidado , e grande ,lembrança de prouer , e
efguardar polo bom, e brcue defpacho das partes ,
efpecialmente das peffoas miferauees , pobres, e de
baixa condiçam , portal que as caufas, e juftiça def.
tes por defemparo, ou minguoa de requerimento ,
ou por outros fcmelhantes dcfeétos , quanto em elle
for , nom ajam razam de fe perder. IOo mefmo o
Guouernador deue feer Noflo natural , que como
bom , e leal Nos defeje feruir .. e am6 perfeitamente
Noffa Pefioa, Eílado , e Seruiço, porque affi como
a Juíliça he caufa mais principal , porque com a
graça de Oeos por ella Reinamos, e a ella fobre to-
dalas coufas deíl:c mundo Tenhamos por i(fo maior
obrigu!lçam , pera com muita equidade a Guardar..
mos fempre a todos., affi a razam, e ella mefma Ju-
ftiça Nos aconfelham , que o Guouernador , que na
dita Cafa por Nós ouuer de guouernar , feja tal , de
que Noffo Senhor feja feruido , e em que Noffo car-
reguo defcanfe , e Noffa confciencia quanto a iffo
ande fempre defcarreguada; e pera o Guouernador
que ora he , e qualquer outro que polo tempo for ,
milhor e mais inteiramente comprir em todo o
que a feu Officio pertence, Encomendamos-lhe mui-
to, . que elle Regimento amiude veja, e pafie pola
me..
Do Rrn. oo Guov. DA JusT. NA CAsA oo Crv. 185
memoria eíl:a tamanha confiança , e tam eíl:imado
carreguo,que nelle Poemos, por cal, que a lembran-
ça , e conhecimento difio , lhe acrecenre por No(fo
refpeéto tal vontade, que Cobre o prouimento da Ju-
fiiça , e dependencias della o faça affi deligence,
atento , e folicito , como fobre a coufa que Deos
mais ama, e a que Nós Cobre os terreaes Somos mais
obriguado; de que fe feguirá, fazendo-o aíli bem , e
dereitamente como Efperamos, que por feus traba-
lhos , e cam dignos feruiços , e merecimentos, elle
neíle mundo auerá de Nós , e Noffos Soceífores a
honra , merce, e acrecentamento que merecer, e de
Deos Noífo Senhor, que fobre todos he jufto,e bom,
no outro fua gloria por gualardam pera fempre.
I E TANTO que o Guouernador for aíli prouido
de tal Officio , ante que comece feruir, nem faça
coufa algüa que ao dito Officio pertença, lhe ferá
dado juramento em Rolaçam polo Chanceler da di-
ta Cafa em Noífa Prefença, em pubrico, e prefente
os Defembarguadores da dita Cafa , na fórma fe ..
guinte.
2 ., EU Foam Guouernador da Caía do Ciuel
.,, juro aos Sanél:os Auangelhos , em que ponho as
,, maõs , que nom dei a ninhüa peffoa , nem darei ,
,, nem prometi de dar, nem mandar , nem manda-
l• rei coufa algüa a algüa peífoa , por caufa de me

,, feer dado o dito Officio , e carreguo, nem pera o


u diante o teer. E aíli juro , que quanto a mim , e
,, minhas forças, e juizo for poffiuel , eu feruirei o
Liv. I. Aa ,, Of..
186 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRD!N. T1T. XXIX.
,, Officio da guouernança da dita Caía, de que Sua
,. Alteza me fez merce, bem e fielmente, como a
,, feruiço de Deos ,. e defcarreguo da confciencia do
,, dito Senhor , e minha comprir. E trabalharei que
,, o Dereito e Juíliça inteira e igualmente fe guarde
,, aas partes fem algúa differença,nem refpeél:o, que
,, aja de grandes a pequenos, nem ricos a pobres,
,, nem d'eíl:rangeiros a naturaes; porque quanto em
,, mim for fempre procurarei,que a todos fe faça, e
,, guarde por inteiro. E em efpecial terei cuidado
,, dos prefos, orfaõs , e viuuas , e pobres , e peífoas
,, miferauees, e trabalharei quanto em mim for, e o
,, Regimento de meu Officio me der poder,. que to-
,, dolos feitos , e neguocios dos fobreditos fe defpa-
,, chern bem, jufia,e breuemente fem algúa paixam
,, de odio, amor ,afeiçam, parentefco, nem d'outro
,. femelhante refpeél:o. E affi mefmo juro e pro me-
,. to, que por mim , nem por antrepofla peíloa nom
,, receberei dadiua, prefente , nem feruiço alguü de
,, qualquer peíioa , que na dita Cafa tragua , ou a
,, minha noticia vier que ha de trazer feito ou de-
·, , manda, faluo a ~aquelles com que eu tenha tal di-
,, uido, e parentefco, a que eu por dereito deua feer
,, fufpeito. E pola dita maneira quando o fouber ,
,, nom o Jeixarei leuar a alguu Defembarguador 1
,, nem Official de Jufüça da dita Cafa. E affi com
,, deligencia trabalharei , que os Defembarguadores,
,, Procuradores , Efcriuaes , Meirinhos , Carcerei-
,, r05 , e todolos outros Officiaes , e Minifiros da Ju-
»> fti-
Do REG. oo Guov. DA J usT. NA CASA DO Crv. I 87

,, ftiça, que debaixo de meu mandado, e juriídiçam


,, efleuerem , bem e dereitamente, e fegundo feus
., Regimentos, feruam feus Officios, e fem efcanda-
,, lo, cautela , nem delongua guardem , e façam aas
,, partes Dereito e Juíl:iça em todo, aos quaes incei-
,. ramente e fem minguoa algua farei guardar todas
,, as Leys, e Ordenaçoés do dito Senhor, e guarda-
,. rei as ditas Ordenaçoes. E achando que elles , ou
., cada huú delles o nom fazem, prouerei a iílo com
,, aquelle remedio, e emenda, como Sua Alteza por
,. Suas Ordenaçoes , e meu Regimento me Manda;
,, e o que por elle eu nom poder emendar , que a feu
,, feruiço e bem de Juíl:iça comprir, lho farei loguo
,, faber, pera o dito Senhor o prouer como for fua
,, merce. E aíli juro e prometo de em todo guardar
,, fempre o dito meu Regimento , e a fabendas o
,, nom exceder e paffar, faluo quando, e na manei-
,, ra, que polo dito Senhor me for mandado. E aíli
,, prometo teer fegredo naquellas coufas , que defco-
,, brindo-fe feria perjuizo a feruiço do dito Senhor,
,, e a bem de Juíliça das partes, ou contra meu Re-
,, gimento. E qualquer coufa que eu Couber que a
,, bem de Juíl:iça cumpra, affi na dita Cafa do Ci.
,, uel, como em qualquer outra parte de feus Rey-
,, nos, e Senhorios, que toquem a Officiaes de Jufti-
,, ça, e affi peífoas., que juriídiçoês de Terras tenham
,, do dito Senhor, que neceffario feja Sua Alteza o
., faber, a que eu por mim fegundo meu Regímen-
,, to , e poder nom pofià prouer • o farei loguo faber
Aa 2 ,, ao
188 O PRIMEIRO L1v. o.As ÜRDEN .. T1T. XXIX.

,, ao dito Senhor pera o prouer como for Sua Merce,


u as quaes coufas todas como aqui fam declaradas ,
,, outra vez juro aos Sanfros Auangelos, e prometo ,
,, e dou minha fc:e de inteiramente o affi guardar e
,, compnr. ,,
J O Q.YAL juramento fe efcreuerá no Liurinho
da Mefa deífa Rolaçarn , e ao pee delle o Guouerna.
dor affinará , e abaixo de feu final todos os Defem-
barguadores que forem prefentes affinaram i.fl'o rnef-
mo, como teílemunhas do tal auto.
4 ÜuTRO sr quando Nós tomarmos alguü Le-
trado pera a Cafa do Ciuel , ante que feito alguü
ckfembargue , o Chanceler della lhe tomará jura-
mento na Mefa perante todos os Defembarguado-
res, e elle dito Letrado o fará na fórma que fe fe.
gue, e fe efcreuerá em o diro Liuro.
5 ,, EU Foam juro aos Sanétos Auangelhos, em
,, que ponho as maõs, que nom dei a ninhüa pef-
,, foa , nem darei , nem prometi de dar , nem man..
-. dar, nem mandarei coufa algüa a algua pelToa 1
,, por caufa de me feer dado o dito Officio, e carre-
,, guo, nem pera o diante o teer. E affi juro e pro.
,, meto, que efte Officio de defembarguo, ou tal Of-
,, ficio defta Caía do Ciuel, de que ora EIRey Nof-
" fo Senhor me Fez Merce, quanto a minhas forças,
,, proprio entendimento, e verdadeiro juizo for pof-
,, fiuel , eu o feruirei bem , dereita , e fielmente , e
,, guardarei inteiramente o feruiço de Ocos , e do
» dito Senhor, e Dereito e Juftiça igualmente aas
,, par-
Do REc. DO Guov. DA JusT. NA CAs.A DO C1 v. J 89

,, partes de qualquer natureza, forte, eflado, e pre-


,, minencia, e condiçam que fejam, fem odio, nem
» afeiçam , nem algü-a injuíla acepçam de peíloas.
,, E affi juro , e prometo, que as Leys e Ordenaço~s
» do dito Senhor inteira, e faãmente guardarei , co-
,, mo nellas fegundo meu verdadeiro juízo he con-
,, theudo. E aíli juro, e prometo, que por mim, nem
,, por antrepoíla peffoa nom receberei dadiua , pre-
., fente , nem feruiço alguü de qualquer peíloa que
,, tragua , ou a minha noticia vier, que ha de trazer
,, feito , ou demanda perante mim, ou pender no
,, Juizo,. e Mefa em que eu poffa defembarguar, e
,, dar voz; faluo daquelles de que eu por Dereico de-
,, uo feer fufpeito. E ilfo mefmo, que em quanto em
,, mim for ,e meu juízo alcançar, comprirei em to-
,, do o que ao dito meu ~arreguo, e Officio perten-
,, cer, e eu fou obriguado fem minguoa algüa. E affi
., prometo teer fegredo naquellas coufas, que defco-
,, brindo-fe feria perjuizo a feruiço do dito Senhor,
., e a bem de Jufüça das partes. E affi nom reque-
" rerei por pe(foa algüa na dita Cafa, faluo por aquel-
,, les pera que me a Ordenaçam daa luguar que o
,, poffa fazer. ,,
6 E 'I'ANTO que o dito juramento for efcripto, o
dito Defembarguador que o fezer poerá abaixo del-
le feu final, e auerá no fobredito Liuro tanto efpaço
em branco , que abaixo dos juramentos efcriptos,
{em fe fazerem outros de nouo, poffam affinar os
outros Guouernadores, e Defembarguadores, que po.
lo

22
190 O PUMEIRo L1v. DAS ÜRDEN. Trt. XXIX.
lo tempo affi jurarem~ fendo por Nós nouamente
dos taees Officios prouidos.
7 E PORQ!IE a primeira e principal coufa, que
em todolos autos, e Officios fe deue fazer, he enco-
mendarem-fe os homens a Deos, pera que fuas obras
aderece bem , e a feu fanél:o feruiço, e affi por fua
enfinda bondade os alumie , e enfine pera coníeguir
todo bem, e efia verrude nas coufas da Juftiça em
efpecial fe deu a guardar, pois de rodas as temporaes
ella he a principal, por tanto o Guouernador orde-
nará, e efcolherá hum Sacerdote, que em todolos
dias pola menhaã digua Mi!Ta na Rola-çam aa entrada
della, naquelle -lúguar e caía que pera ilfo mais ho-
neíl:o, e conuenience lhe parecer, o qual Sacerdote
ferá paguo por aITT-nado do dito Guouernador dos di-
nheiros apropriados pera as defpefas da dita Rola-
çam. E o mefmo Sacerdote terá obriguaçam, e car-
reguo de confeífar os homens , que forem aa morte
condenados , e de hir com elles atee o luguar pera a
tal Juíhça deputado, dando-lhe confonos, e enfi-
nos, e esforços taees , com que elles mouram bons
Chriftaõs, e recebam fua morte em paciencia, com
as milhares palauras que poder, e viir que pera fua
faluaçam delles póde aproueitar.
8 AN'l'RE as coufas que ao dito Guouerhador
principalmente conuem , affi he, que faiba por ver-
dadeira enformaçam, como os Noffos Officiaes, que
pera adminiftraçam da Juftiça fam deputados , vi-
uem, e vfam , affi em receberem d'algüas partes da-
di.
Do REG. oo Guov. DA JusT. NA CASA no C1v. 191

diuas, como em ferem negrigentes, e rerniffos em


feus defembarguos, e em quaefquer outros faleci-
mentos , porque feus Officios aíli acerca de Noffo
Senhor Deos, como de Nós nom fejam bem ferui-
dos ; e quando elle for em conhecimento de tal cou-
fa por- enformaçam que dello aja , ou por fama ,
Mandamos-lhe que chame effe Official de que tal
enformaçam ouuer, e apartadamente, antre fi e eJie,
o amoeíle, que fe gua rde d'aquello de que aíli he in ..
famado, e confire como por bem de Noffo Officio
he honrado , e prezado antre os bons, e recebe de
Nós rnerce, e fe follem , e affi lhe digua algüas ou-
tras razoés, que lhe pera iílo bem parecerem ; e nom
fe querendo caíl:iguar por aquella primeira repre..
henfam, deue-lho de dizer outra vez em prefença
d'outros Officiaes de femelhante Officio, porque re-
ceba ainda mais verguonha de fuas minguoas ; e
continuando di em diante em feu mao prepofito, en-
tam o deue dizer a Nós, pera com feu bom confe-
lho lhe Darmos aquella pena, e caíliguo que por fua
culpa merecer. E porem fendo o dito Guouernador
por certa enformaçam, ou fama pubrica enformado,
que o Defembarguador > ou Official recebeo algüa
dadiua > ou fez falfidadc em feu Officio, deu e-o lo-
guo dizer a Nós fem lhe fazer outra amoeílaçam,
pera fabida a verdade lhe Darmos aquella pena, que
por taro graues cafos fe merece. E aquelles que achar
que viuem bem , e vfam de feus Officios como de-
uem , louualos-ha • e honrará muito antre os outros ,
e
192 O Pa.1MEIR.O Lrv. DAS ÜRDEN. TrT. XXIX.
e Nos fará faber fua boa fama, e vertude, pera rece-
ber de Nós honra, fauor , e merce, por tal que a
merce, e a vantagem que aos taees Fezermos por
fuas vertudes, e merecimentos, e o cafüguo que Der-
mos ao que tal nom for por fuas culpas , feja exem-
plo aos outros pera bem viuerem , e fe guardarem
dos maos cuíl:umes.
9 E o dito Guouernador deue procurar merce ,
e honra aos Defembarguadores , e Officiaes da dita
Caía, fobre que tem o regimento , e guouernança.,
e fazer-lhes comprir e guardar com effedo todos
feus Priuilegios, que dos Reys que ante Nós foram.,
e Noífos teuerem ; e fe meíler for, o efcreua a Nós.,
pera o affi Mandarmos comprir , pois os dit-0s Offi-
ciaes eílam continuadamente em Noffo feruiço.
10 E ACABADA a Miffa, ordenará hüa meía em
hüa cafa, que pera eito feja pertencente, em que el-
le eíl:ee continuadamente em cada huíí dia com os
Defembarguadores que pera ello ordenar, e huü dos
Ouuidores, e naquella mefa defembarguará todolos
feitos crimes, que a efla Caía pertencerem ; os quaes
feitos crimes feram viftos e relatados por o dito Ou-
uidor perante elle Guouernador, e Defembargua-
dores, e as partes, ou feus Procuradores, Cegando mais
compridamente ferá ' declarado no Titulo Dos Ouui-
dores..
1r ITEM ordenará outra rnefa em outra caía, e
defembarguará nella outro Ouuidor , com o qual o
dito Guouernador ordenará dous, ou tres Defembar-
gua-
Do R&G. Do Guov. DA JusT. NA CASA Do Crv. r93
guadores, que ajudem o dito Ouuidor a defembar..
guar os feitos crimes de feu Officio.
12 ITEM ordenará outra mefa ao Juiz dos feitos
de Guinee, e Indias, e lhe dará aquelles Defembar..
guadores , que forem neceffarios , fegundo a quali ..
dade dos feitos que effe dia ouuer de defpachar.
13 ITEM fará viir em cada huü dia todos os Def-
embarguadores , e Officiaes cedo pola menhaã aas
mefas a cada huü deputadas, pera vfarem de feus
Officios , aos quaes Mandamos, que com muita de-
ligencia, e faã conciencia vejam os feitos , e os def..
embarguem com juftiça, e dem aas partes que os
requerem boas e honeíl:as repoíl:as ; e fe algüa parte
fe agrauar d'alguu Official , que lhe retarda feu fei-
to, ou fez o que nom deue, proueja o Guouernador
fobre elle em tal guifa, que norh receba agrauo.
14 E NOM confentirá, que alguús dos Defem-
barguadores , defpois que forem a!Tentados. em feus
luguares pera defembarguar , fe aleuantem donde
eíleuerem; faluo fe for tal neceilidade , ou impedi ..
mento, que nom potra efcufar , e torne-fe a feu lu-
guar donde fe partia , como fua neceffidade acabar.
I 5 ºE TERA' i{fo mefmo grande refguardo , que
o tempo fe nom guaíl:e em falas , e praélicas , nem
outras coufas nom neceffarias ; e o tempo que durar
o defembarguo na Rolaçam feja ao menos por efpa..
ço de quatro horas inteiras paffadas por relogio
d'area , que ferá poíl:o na mefa, onde o dito Guo..
uernador eíleuer, nas quaes o mais aturadamente
Liv. l. Bb que
194 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN.TIT. XXIX.
que for poíliuel, e com moor cuidado defembargua-
ram os feitos , que neíle dia ouuerem de defpachar.
16 E sE cafo vier , que hi aja muitos feitos cri-
mes , e as partes nom poderem auer tam afinha li-
uramento , polos Ouuidores nom poderem tanto
defembarguar , cometa o Guouernador parte dos
ditos feitos a outros Defembarguadores , que bem •
e em breue os poffam defembarguar pera milhar
defpacho das partes , os quaes delles conheçam
como cada huü dos ditos Ouuidores.
I 7 E sE o Guouernador viir, que em alguüs
feitos crimes , e de graues maleficios ha taees duui-
das , que ·the pareça bem ferem juntos todos os
Defembarguadores, faça ajuntar todos aquelles, que
forem fem fufpeita, e com elles os defembargue.
I 8 E os feitos crimes , em que os acufados me-
receriam pena de morte natural , fe os cafos por que
fam acufados foífem prouados, mandará defembar-
guar aa fefla feira na mefa em que elle efieuer ; os
quaes feitos Ordenamos ferem defembarguados ao
menos por cinco Defembarguadores , e o que po-
la maior parte for acordado fe dee aa execuçam.
E eílando Nós onde a dita Caía eíleuer , antes de
fe fazer execuçam da morte natural , faça-fe pri..
rneiro faber a Nós. E os outros feitos crimes• em
que os acufados nom merecerem morte natural ,
feram defembarguados ao menos por tres Defem-
barguadores ; peró fendo os dous delles concordes ,
ponha-fe o defembarguo , e alline-fe polos dous
que
Do REG, Do Guov. DA JusT, NA CASA Do C1v. 195

que forem concordados : e fe dos tres cada huü for


em defuairada tençam, em tal cafo o dito Guouer.
nador dará o feito a outro Defembarguador , que o
veja em fua cafa por terceiro, e concorde-fe com
cada huü dos tres, que o primeiro viram, e affi fe
ponha o defembarguo, e fe affine , e pubrique ; e fe
o terceiro for em outra noua tençam , de-fe a outro,
atee que dous fejam concordados em huü defem.
barguo. E eíl:o fe fará affi nas interlucutorias , como
nas definitiuas.
19 E MANDAMOS, que os feitos ciueis que fe em
Rolaçam defembarguarem , fejam relatados perante
as partes , ou feus Procuradores, e bem affi leudas
todas as inquiriçoes , e efcrituras , e razoes que aos
feitos pertençam, perante os Defembar guadores que
pera taees defembarguos fam deputados; faluo fe aos
Defembarguadores do feito , e aas partes , ou a feus
Procuradores parecer. que algüas das ditas inqu'iri-
çoés , efcripturas, e aleguaçoes fam efcufadas , e fe
nom deuem ler; porque em tal cafo fe lerá foo-
rnente o que por todos elles for acordado : e acaba ..
do de ler o dito feito , as partes , e feus Procura ..
dores fe fahiram pera fóra,. e o Juiz do feito dará
nelle fua voz primeiro ,. e di por diante os outros
Defembarguadores, que ao feito efieuerem , e o que
pola maior parte dos ditos Defembarguadores for
concordado. fe comprirá, e dará aa execuçam, fen-
do em os ditos feitos ao menos concordados tres
Dc:fembarguadores.
Bb 2 20 E
196 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. Tn. XXIX.
20 E EM todos os feitos, que fe defpacharem em
Rolaçam polas mais vozes como dito he, fempre a
fentença ferá poíl:a , e efcripta polo Juiz do feito ,
pofto que elle feja em defuairada tençam, e ferá
affinada polos que no dito acordo forem; e quando
fe a fentença tirar do proceffo ferá affinada polo
mefmo Juiz do feito, pofto que nom affinaffe no
feito, e foffe em outra tençam. E fe o Juiz do feito
ao tirar da fentença for abfente , paffará por outro
Defembargua dor. E fe a fencença for de qualidade ,
que quando fe tirar do proceílo, aja de feer affinada
por dous Dcfembargua dores, e huü delles for ab-
fente, paffará polo que prefente for, e o Efcriuam
poerá ao pee da fentença , como paífou por aquelle
foomente, por o outro feer abfente.
21 O Guouernador receberá todas as enfor-
maçoés das partes , que fe agrauarem de qualquer
Defembargua dor , ou do Corregedor , ou de cad~
huü dos Officiaes da Juftiça da dica Cidade de Lix-
boa. e affi das fufpeiçoes, quando na mefa forem
poftas a cada huü dos Defembarguad ores , ao tempo
que os feitos fe ouuerem de defpachar, as quaes elle
com os Defembarguadore s do Agrauo , e com os
mais que fe hi acharem, defernbarguar arn como for
Dereito, e o que por as mais vozes for acordado fe
comprirá; e em quanto efteuerem aas vozes o Def-
embarguador de que fe agrauarem , ou a que foi'
pofta fufpeiçam , fe apartará atee fe fobrc ello to-
mar concluíam.
22 E
Do REG. DO Guov. DA JusT. NA CASA oo C1v. 197

22 E QYANDO fe alguü agrauar por enforma-


çam d'alguü Official da dita Caía , ou de qualquer
Official da dita Cidade , e no dito agrauo apontar
algüa coufa , que toque á infamia do dito Official ,
o Guouernador com os fobreditos Defembargua do-
res conheçam dello ; e fe acharem que tal infarnia
poíla ao dito Official nom he verdadeira, faram
emendar , e correger a aquelle que a dita infamia ,
ou doeílo pos, por prifam , e pena de corpo , ou de
dinheiro, ou por reprenfam de palauras • fegundo
for a qualidade do frito, e a condiçam das peífoas ;
e achando o dito Guouernador , e Defembargua do-
res , que o dito Official foi defamado com razam ,
em tal cafo deue-o reprender de praça prefente os
outros Officiaes da Rolaçam ; e fe o erro for tal, que
o dito Official mereça maior pena que reprenfam,
o dito Guouernador em Rolaçam com acordo dos
Defernbarguadores lhe dee aquella pena, e emenda•
que fegundo fua culpa merecer.
23 Ao Guouernador pertence prouer, e confer-
uar os Efülos , e bons Cuíl:umes acerca da ordena..
çam dos feitos, que fempre fe cuíl:umaram, e guar-
daram na dita Cafa; e nom confentirá que alguü
Defembargua dor entre, nem ,efice com efpada, nem
punhal na Rolaçam.
14 ÜuTRO s1 Mandamos , que o dito Guouer..
nador nom mande fazer execuçam , nem confenta
fazer por Aluaraes , nem Cartas, ou quaefquer ou ..
tros defembarguos àffinados por os Defembargua -
do-
198 o PRIME(RO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXIX.

dores da Caía da Sopricaçam , que fejam fobre al-


güas coufas, que por elle, ou por alguüs Officiaes
deffa Cafa fejam defembarguadas , ou fobre feitos
que perante elle pendam, ainda que as taees Cartas;
Aluaraes , ou defembarguos , fejam afieladas do
Noffo verdadeiro Selo ; faluo fe eífes Aluaraes , Car-
tas, ou defembarguos forem por Nós mefmo affina.
dos , porque Noífa tençam he , que os ditos Defem-
barguadores da Sopricaçam nom fe entremetam
em ninhum modo fobrc os feitos e contendas , que
já forem mouidas , ou começadas em eífa Cafa do
Ciuel ; faluo onde fegundo as Ordenaçoês de Noffos
Reynos efpecialmente lhes he outorguado, que o
ajam de fazer. Peró o dito Guouernador nom con-
fentirá , que fe hi conheça de coufa algüa , que aa
dita Caía da Sopricaçam pertencer.
25 E Qg ANDO antre os Defembarguadores das
Caías ambas for duuida fobre alguüs feitos, fe per..
tencem a hüa Cafa , fe a outra , Mandamos que os
Noffos Defembarguadores do Paaço fejam das taees
duuidas e contendas Juízes , os quaes auida pera
iffo enformaçam neceffaria Nos faram de todo rela-
çam , e com Noffa auél:oridade determinaram, em
qual das Caías fe deuem os taees feitos trautar :
e o que por elles for determinado , Mandamos ao
Guouernador, e Regedor, que o façam em todo
comp .. :r e guardar.
26 ITEM o dito Guouernador com grande cui-
dado , e deligencia , fe trabalhará de faber , como o
AI.
Do REG. Do Guov. DA JusT. NA CASA oo Civ. 199

Alcaide. e Meirinho das Cadeas feruem feus Offi-


cios • e fe nellcs fatisfazem com as coufas que fam
obriguados , e affi fielmente como o deuem fazer
por Noffo feruiço, e bem da Juíliça; e fe trazem os
homens que lhe fam ordenados , e fe fam taees
como deuem pera as coufas da Juíliça, e achando
que o Alcaide faz o que nom deue em feu Officio >
amodl:a-lo-ha que fe emende, e quando fe nom
correger Nos fará faber feus vicias, pera niífo Man-
darmos o que Ouuermos por bem : peró quanto aos
homens que ouuer de teer • fe achar que nom fam
taees como deucm, aquelles que taees nom forem
lhos mandará lançar fóra • e tomar outros que bem
poífam feruir. E no que toca ao Meirinho das Ca-
deas , fe achar que faz o que nom deue, e for com-
prendido em alguüs erros taees • por que lhe pa-
reça razam fufpende-lo do Officio, pode-lo-ha fa-
zer , e meter outro em feu Iuguar , e No-lo fará
faber , pera Mandarmos acerca dello o que Ouuer-
rnos por bem , e for mais Noífo feruiço ; e acerca.
dos homens fe os teuer , guardará o que lhe Man-
damos nos homens do Alcaide.
27 ÜuTRo si prouerá fobre os Carcereiros da
dita Cafa mui a miude , e faiba fe feruem bem feus
0fficios • ou fazem nelles o que nom deuem • man•
dando tirar fobre elles inquiriçoês ; e trabalhará
como acerca dos ditos Carcereiros fempre feja pro-
uido, de maneira que por minguoa de bom cuidado
e deligencia nom po.ífarn elles fazer o que nom de-
uern. 28 E
200 Ü PRIMURO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. XXIX.
2 8 E Assr prouerá fobre os Efcriuaes da Cara
do Ciuel , fe fam fieis em feus Officios, e affi deli-
gentes no feruiço delles , como fam obriguados por
feus Regimentos , e fe no defpacho das partes fam
efcandalofos , e de maas repoftas , ou de fuas efcri-
pturas leuam mais,. do que lhe he ordenado, tiran-
do em cada huü anno inquiriçam deuaífa fobre el-
les , do que dito he. E iífo mefmo lhe Damos po-
der, que quando fe algüa parte queixar d'alguü
E[criuam , que potra fobre ello tirar as teflemunhas
que lhe bem parecer , e aquelle que achar que mal
faz, emenda-lo-héll, e fará correger como feja ra-
zam ; e achando 'a lguüs comptendidos em erros
taees , por que m ereçam cafliguo nas pe!foas , ou
nos Officios , mandará proceder contra elles como
com Dereito deua, cometendo fuas culpas ao Chan•
celer da dita Cafa, a quem o conhecimento perten-
ce. E Damos-lhe poder, que os poífa fuípender ,
qua~do em tal c~lpa os achatre pola-dita inquiri-
çam, ou deua{fa. , por que com razam affi o deueíle
fazer , e defpois de os affi fufpender No-lo fará fa-
ber, pera Mandarmos a maneira que com elles te-
nha ; nom tolhendo porem o Noílo Chanceler da di-
ca Cafa poder entender fobre os ditos Efcriuaes , fe-
gundo a feu Officio pertence.
29 E PORQ!!E pela ventura alguüs Senhores de
Terras , e Fidalguos que J urifdiçam tem , fe antre-
metem de vfar de mais Jurifdiçam, que aquella que
por as doaçoes das ditas Terras lhe hc dada, do que
fe
Do REG. oo Guov. DA JusT. NA CASA no C1v. 2or
fe fegue muito Noífo deíeruiço • Mandamos ao dito
Guouernador íob carreguo do juramento que tem
tomado de feu Officio , que fempre fe trabalhe de
faber pelos feitos, que aa dita Caía vierem, fe alguú
Senhor de Terra. ou Fidalguo, ou peffoa que Terra
ou Jurifdiçam tenha, em qualquer maneira que a
J urifdiçam della lhe feja dada, vfa de mais Jurifdiçam
que aquella , que por fua doaçam lhe for outorgua-
da. e achando que alguü o faz nom lho confenta,
e niffo proueja de tal modo , que o mais nom faça ;
e contra aquelles, que o contra iro continuarem def..
pois que lhe for mandado que o nom façam, pro.
cederá como com Dereito em tal caío deue. E Man..
damos ao dito Guouernador, que niílo como coufa
mais principal oulhe com muito cuidado, pera feer
prouido como a Noffo feruiço cumpre: e quando
eíl:as peffoas foffem de cal eíl:ado e qualidade, que
No.lo deua fazer faber, o falará a Nós, ou enuiará
dizer por fua carta , pera o Prouermos como for
Noífo feruiço , e muito em efpecial eíl:a coufa lhe
Encomendamos, que nella proueja fob carreguo do
dito juramento.
30 E PERA bom defpacho e breuidade dos feitos
Mandamos, que quando alguü feito for finalmente
conclufo, e vifto em Rolaçam, e fe pofer em elle
algüa interlucutoria , pera fe ainda auer de fazer al-
güa deligencia, o Juiz principal do feito ponha
hüa lembrança affinada polos ditos Defembargua-
dores, que fe hi acordarem, o que que fe fará tan-
Liv. I. Cc to
202 · ·o PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XXIX.
to que fe a dita interlucutoria comprir , e a deli-
gencia v·ier feita , affi de nom , como de fi , pera fe
entam loguo affentar fentença no feito , e fe affinar
fegundo a dita lembrança, vendo foomente o que
nouamente crecer , fem mais fe tornar a ler todo o
feito ; a qual lembrança ficará em poder do dito
Juiz do feito, e partindo-fe o Juiz, fique a quem o
Guouernador ordenar.
3 r E ACONTECENDO, que os Defembarguadores
de algüas das ditas 'mefas fejarn cm vozes defuai-
rados, que fe norn poffa poer defembarguo, em tal
cafo o dito Guouernador fará ajuntar com elles ou-
tros Defembarguadores • que vejam o feito Cobre que
for o deíuairo, e o que a moor parte delles affi todos
juntos acordar, fe cumpra. E vindo cafo, que em
alguú feito, viíl:o por todos os Defernbarguadores
que prefentes forem aas vozes , forem iguaes , em
tal cafo o Guouernador dará fua voz, e aquella par-
te a que fe elle acoftar preualecerá, e fegundo dia
fe poerá fentença. E quando o Guouernador nom
for prefente, e os Defembarguadores forem difcor- .
des quanto aas cuflas , fendo em vozes iguaes quan.
to ao principal, ponha-fe na fentença, que feja fem
curtas , e os Defernbarguadores poderam poer fob
feus fignaes Eram cum fumptihus, ou fine Jumptihus ,
pera fe poder faber tençam em que cada huü era.
32 E SENDO alguü Defembarguador abfente, ou
em tal maneira impedido , que nom poffa defem ..
bargua.r os feitos que a feu Officio pertencerem, ou
que
Do Rw. Do Gaov. DA JasT. NA CASA ooCrv. 203

que lhe forem cometidos. o Guouernador poerá ou.


tro em feu luguar I que os defembargue , e faça as
Audiencias affi na Rolaçam I como fóra , fegundo
pertencia fazer ao tal Defembarguador que affi for
impedido , em tal maneira, que por minguoa dos
Juízes principaes dos feitos os defembarguos nom
fejam retardados : e tanto que ceífar o dito impedi-
mento, ou abfencia, recolherá feus feitos no ponto,
e eíl:ado, que os achar, fem lhe ficar feito alguú a.
aquelle, a quem o dito Officio foi cometido. Porem
vindo alguá das partes com embarguos a algúa fen.
tença ínterlucutoria, ou definitiua dada por aquelle
a quem o dito Officio foi cometido , elle conhecerá
dos ditos embarguos, fe na Corte e{1-euer ; e nom
eftando na Corte, entonce conhecerá dos ditos em-
barguos o proprio Juiz do Officio. E Mandamos ,
que no cafo onde foffem ce.rtos Defembarguadores
Juízes d'alguas coufas, affi como os do Agrauo , e
em algúa interlucutoria , ou incidente defuairaf-
fem, ou foffem em diuerfas tençoes, por onde o fei-
to foffe a outro Defembarguador a quem ouueffe de
hir I ou a quem o Regedor o cometeífe , defpois que
for poíla a dita interlucutoria o feito tornará a
aqúelle I que foi em defuairo, e conhecerá delle com
os outros em todo mais que fe no feito ouuer de
proceffar, affi como conhecera, fe dos outros nom
defuairára : e porem ferá obriguado a frguir o def-
embarguo I que polos oufros foi acordado, poíl:o que
elle foffe cm outra opiniam.
Cc 2 33
204 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRD!N. TIT. XXIX.

33 E rsso MESMO Mandamos que fe guarde nos


feitos , que fe defpacharem nas mefas polos Defem-
barguadores, que o Guouernador cada dia ordena•
onde fe acontece as mais das vezes cada inrerlucu-
toria dos ditos feitos feer defpachada por diverfos
Defembarguadores ; porque feram obriguados, os
que derradeiramente vierem aos defpachos dos ditos
feitos, affi pera as interlucutorias, como pera dar
fentença definitiua, feguirem as interlucucorias po-
los outros poílas , poíl:o que lhe outra coufa pareça
acerca das ditas interlucutorias que fam poíl:as, ou
poílo que já outra vez eíleueffe ao deípacho da dita
inrerlucutoria, e foffe em contraira opiniam. E rodo
cílo que dito he, que os Oeíembarguadores figuam
as interlucutorias, poílo que foffem em defuairada
tençam, e que fiquem Juizes, como que nom foram
em tal deíuairo, Mandamos , que iíTo meímo aja lu-
guar , poílo que o defuairo foífe em nom receber o
libelo, e o libelo foffe recebido.
34 E POSTO Q.!lE -0 Defembarguador feja muda-
do , o feito nom fe tirará do Efcriuam ordenado,
faluo por fufpeiçam , ou por outro fi:melhante im-
pedimento.
35 O GUOVERNADOR mandará . fazer em cada huü
anno liuro da entrada e íaida dos feitos, affi ciueis
como erimes, no qual cada Defembarguador que
te uer Officio ordenado tenha feu titulo , pera fe po-
der faber os feitos , e eílormentos que lhe cada mez
vem , e os que fe defembarguam , e os que fam re-
tar..
Do REG. DO Guov. DA JusT. NA CASA oo C1v. 205

tardados , e por cuja caufa fe retardam ; e affi man-


dará fazer rol de todos os prefos que entrarem na
Cadea , em o qual fe declararam os nomes dos di-
tos prefos, e donde fam naturaes, e os cafos porque
forem prefos; e eíles roles verá o Guouernador mui
a miude, pera faber como fe procedem os ditos fei-
tos • e mandar que em breu e fe defpachem ; o qual
liuro, e rol Mandamos que faça o Solicitador da Ju-
ftiça I que o dito liuro terá em fua maõ I e o amoflra-
rá ao Guouernador cada vez que lho mandar, fazen-
do no dito liuro titulo affi dos feitos, como dos
prefos que em cada mez vieram, e fe defembargua-
ram. Item todolos liuramentos finaes, que federem
em feitos crimes, efcreuerá no dito liuro, e affi as
interlucutorias em que mandarem meter alguü a
tormento.
36 O cuovERNADOR mandará fazer os paguamen-
tos aos Defembarguadores aos quarteis, por rol por
elle affinado. E no mantimento dos Defembargua-
dores nom fe fará ninhl.lÜ embarguo por ninhuü Of-
ficial da Juftiça a requerimento de ninhuu creedor 1
foomente por mandado do dito Guouernador, e o
paguador que ouuer de paguar nom guardará ni.
nhuü outro embarguo feito no dito mantimento, o
qual lhe nom mandará embarguar o dito Guouerna-
dor por ninhua diuida ; faluo quando achar, que o
dito Defembarguador fez algüa coufa em feu Offi-
cio, por onde o deuefJe embarguar. E bem affi man-
dará paguar por feus Aluaraes em cada mez. o At-
eai-

23
206 O PRIMEIRO L1v. DAS ORDEM. T1T. XXIX.
caide, e feus homens, e o Carcereiro, e Guardas da
Cadea, e os Porteiros • e Caminheiros da Rolaçam •
e os Miniílros da J uíliça, e quaesquer outros Qffi..
ciaes da dita Cafa, que mantimento ordenado de
Nós teuerem.
37 E BEM ASSI ordenará huü Efcriuam, que te..
nha carreguo de receber os dinheiros apropriados
pera as defpefas da Rolaçam, as quae.s fe faram por
feus Aluaraes , e fe leuaram em conta , e elle toma-
rá as contas dellas, ou quem elle pera iífo ordenar,
e mandará fazer quitaçam do defpefo, e com fua
viíla ferá affinada por Nós.
38 E NOM confentirá, que os Defembarguado..
res nem Officiaes fe partam donde a Caía eíl:euer
fem fua licença, ou de quem feu carreguo teuer; peró
fe alguüs teuerem taees neceffidades , por que lhes
conuenha leixar de feruir em Noífa Rolaçam , em
tal cafo o Guouernador lhe poderá dar luguar, e li-
cença pera a ello acodirem por alguüs dias~ com
tanto que nom paflem de vinte, em partes , ou jun-
tamente por todo o anno ; e fe lhe for neceífario
mais tempo , feja a licença pedida a Nós• pera lhe
Darmos o tempo que for Nofla Merce.
39 O GUOVERNADOR nom confentirá, que os Fi..
dalguos, nem outras peífoas venham aa Rolaçam ;
faluo quando forem chamados; e fe d'outra maneira
laa quiferem entrar feja-lhe dito , que nom podem
por entam laa hir, e que mandem por efcripto todq
o que lhe comprir a quem quiferem. E o Porteiro
que
Do REG. oo Gvov. oo JuST. NA CASA Do Crv. 207
que efteuer aa porta terá carreguo de leuar taees
efcriptos, e trazer repofias; porque d'outra maneira
fe impediria o tempo ordenado pera o defembarguo.
E o Porteiro ferá niílo muito deli gente, fem por
iffo leuar coufa algüa.
40 ITEM quando o Guouernador for abfente, fica-
rá em feu luguar o Chanceler da dita Cafa ; e nom
fendo elle hi, o dito Guouernador leixará em feu lu-
guar o mais antiguo dos Agrauos, ou No-lo fará fa-
ber, pera niílo Prouermos o que for mais Noílo fe.r:-
u1ço.
41 Ao Guouernador pertence mandar em cada
huü anno efpaçar a Caía ao derradeiro dia de Ago-
fio por Aluará , o qual mandará poer na porta da
Rolaçam, porque notifica aos Defembarguadores,
como a Cafa he efpaçada por dous mezes feguinces,
e que venham continuar feus Officios, e defembar-
guos ao terceiro dia de Nouembro, onde a dita Ca-
fa a effe tempo efleuer ; e mandará aos Efcriuaês , e
aos outros Officiaes na dita Caía , que ao dito termo
fejam todos prefentes na dita Rolaçam ; e naquelle
tempo auerá por aleuantadas as refidencias dos que
andam por Carta de feguro. E aos que andam prefos
fobre fuas menagens lhe ordenará luguar onde ajam
d'eftar , e affi a huús como a outros mandará , que
pareçam ao dito termo em o dito luguar.
42 ITEM o Guouernador dará os Officios de Ca-
minheiros da Caía do Ciuel a aquelles, que pera ei-
lo lhe parecerem pertencentes, e as taees Cartas paf-
faram por elle. 43
208 O PRIMEIRO L1v. 01,s ÜRDEN. TIT. XXIX.

43 Ou TRo s1 o Guouernador terá carreguo de


mandar apoufentar todolos Defembarguadores, Pro-
curadores , e Eícriuaes, e outros Officiaes da dica
Cafa , quando da Noífa Cidade de Lixboa abalarem
pera alguú outro Luguar. E mandará huú Efrriuam
diante por Apoufentador com feu Aluará , e rol das
pe{foas que ouuerem de feer apoufentadas , o qual
dará as poufadas , e camas pera o apoufentamento
neceU'ario, e que d'apoufentadoria fe cuílumam dar
a cada huü fegundo feu Officio, e merecimentos, e
fegundo a cafa que trouuer; apoufentando primeiro
os Defembarguadores, e defpois os outros Officiaes
fobreditos. E porque alguas vezes acontecia , que
efie apoufencamento fenom fazia por ordem , e al-
guús Oefembarguadores, e Officiaes mandauam ao
Luguar, pera onde a Cafa auia de hir, pedir pau-
fadas a feus amiguos, ou alugualas, de que fe feguia
nom ferem os ditos Defembarguadores, e Officiaes
apoufentados , fegundo o que a elles pertencia, e as
boas poufadas muitas vezes fe nom dauam a aquel-
les que as mereciam, e a que deuiam feer dadas ,
Mandamos , que daqui em diante ninhuü Defem.
barguador , nem outro alguü Official , nem peífoa
que por qualquer maneira na dita Caía andar, vaa,
nem ' mande requerer poufadas ( que fe podem dar
d'apoufentadoria) a feus donos das caías , nem as
tomem delles por aluguer, nem por outra algüa
maneira, foomente as peçam, ou mandem requerer
ao Apoufentador, que polo dito Guouernador for ar-
de-
Do CttANCELE.R DA CASA Do Crvn n e. 209

denado , e torne as cafas , e efirebarias, e roupas,


que polo A poufentador forem dadas; e fe o A poufen-
tador achar algúas cafas prometidas por feu dono ,
ou por outrem , ou já tomadas , as tomará, e dará
a outrem , pera que mais conuenienres lhe pareçam:
e o Apoufentador que affi polo dito Guouernador for
ordenado, terá aquelles poderes , que ao tal carre-
guo pertencem, e que tem o Noífo Apoufentador ; e
fe algüas peíloas fe delle femirern agrauados , co-
nheça o Guouérnador dos agrauos, e determine o que
lhe por Dereito parecer , e o que por elle for deter-
minado fe cumpra em todo.

----------·---------
TITULO XXX.
Do Chanceler da Gafa do Ciuel, e do que a /eu Ojficio

o
pertence.

CHANCELE R he o fegundo Officio da Ca-


fa do Ciuel , e de grande confiança; porem he con-
ueniente, pala dignidade de feu Officio , que elle
feja bom , difcreto, e Letrado, por tal, que faiba
conhecer os erros , e minguoas das efcripturas, que
por elle ham de palTar ; e deue feer de boa linha-
gem, porque aja verguonha de fazer coufa erra-
da , e de defcobrir os fegredos da Juíliça , no que a
feu Officio pertencer ; e de boa memoria , por fe
lembrar das Çartas que por elle paífarern , que nom
Liv. 1. Dd fe-
2ro O PRrM&rRo Lrv. DAS ÓRDEN. TIT. XXX.
fejam contrairas hüas aas outras , e de bons cuftu-
mes, porque honre o luguar em que por Nós he
pofto, e bem razoado, pera receber e honrar aquel-
les, que perante elle vierem, fegundo os merecimen-
tos de cada huü.
1 O CHANCELER verá toçlas as Cartas que ouuer
d'affinar com boa deligencia, e fe achar algüa contra
Nolfos Dereitos , ou contra o Pouo, ou contra a
Clerezia, ou contra algüa peffoa, que lhe tolha , ou
faça perder feu dereito , nom a paffará, fem a pri-
meiro mollrar em Rolaçam preíente o Guouernador,
e os outros Defembarguadores i e o que hi for acor-
dado fe cumprirá.
2 E sE ao Chanceler parecer> que aTgúa Carta
ou fentença nom deue paffar pofa Chancelaria ,
poer-lhe-ha íua gtofa, e manda-la-ha por o Portei-
ro leuar ao outro dia aa Rolaçam , pera fobre a dita
gloía falar com o Julguador, ou Julguadores , que
forem do tal feito Juízes; e fe forem fobre a dita
glofa <li/ferentes , ver-fe-ha na Meía grande prefen-
te o Guouernador , e por acordo de todos os Def-
embarguadores que prefentes na Mefa forem , ou da
moor parte delles, ferá defembarguada a dita glofa.
3 E TANTO que as Cartas forem affeladas, e po-
flas no faco , o Porteiro da Chancelaria o çarre, e
affelle, e affi bem çarrado, e a ffelado o leu e ao Efcri-
uam , e Recebedor, ao luguar onde fe ouuerem de
dar.
4 O CHANCELER conheça de todalas fufpeiçoes
po-
Do CHANCELER DA CASA oo C1v.EL ET e. 211

poíl:as .aos Defembarguadores , e a todolos outros


Officiaes da dita Cafa, e por fi as defernbarguará ;
e quando ouuer alguüs por fufpeitos, mandará fa-
zer as comiíloes a taees peffoas , que fejam fem fu-
fpeita , fabendo primeiro das partes que forem pre-
fentes, ou de feus Procuradores, fe tem fufpeiçam
a aquelles a que os feitos por elle forem cometidos •
fazendo-o fempre o mais a prazer das partes que
poder.
5 PER ó quando a fufpeiçam for poíl:a em Ro-
laçam a alguü Defembarguador, que ao defpacho
do feito eíleuer, em tal cafo fe deue julguar tal fu-
fpeiçam polos outros Oefembarguadores , que ao def-
embarguo eíleuerern do dito feito , prefcnte o Guo-
uernador, o qual Guouernador poerá outro Defem-
barguador em luguar d'aquelle que for julguado
por fufpeito, fe neceílario for. E quando fe ouuer de
cometer alguü feito de nouo a alguü Defernbargua-
dor, onde nom procedeo fufpeiçam, em tal cafo
o Guouernador, ou quem {eu carreguo teuer, o co-
meterá a quem ihe bem parecer, que fufpeito nom
feja; e em quanto eíl:euerem aas vozes fobre a dita
fufpeiçam, o Defembarguador a que for poíl:a, ·fe
apartará atee fobre ello fe tomar concluíam, corno
dito he no Titulo precedente.
6 OuTRO s1 conhecerá de todalas fufpeiçoês •
que forem poíl:as aqualquer Julguador, e Official da
dita Cidade, affi de No!ras rendas e dereitos , como
da Juíl:iça; e efio fe entenderá naquelles Officiaes,
Dd 2 que
212 O PRrMElRO Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. XXX.

que ordenadament e nom teuerem Juízes, que das


fufpeiçoês a elles poílas ajam de conhecer, as quaes
determinará como as dos Defembarguad ores, e Of-
ficiaes da dita Cafa.
7 O CHANCELER dará Cartas, fe alguus eílor-
rnentos pubricos forem furtados , ou perdidos , e fe
nom poderem achar, que :chamada a parte a que
pertencer lhe fejam dados outros femelhantes po ..
las notas, nom mudando fubílancia nem a fórma
delles ; e efto fará foomente na Cidade de Lixboa,
ou no Luguar onde a dita Cafa efteuer.
8 ITEM dará Cartas de fegurança aos Tabaliaes,
e Efcriuaês da dita Cafa, e affi da Cidade, prefen-
te fi , quando fe fegurarem, por razam de erros que
fe diguam cometerem em feus Officios ª e d'outra
guifa nam.
9 ITEM faberá fe alguüs Efcriuaês da dita Cafa,
ou Tabaliaês da dita Cidade leuam mais de fuas
efcripturas, ou bufca , do que he contheudo nas Or-
denaçoés , as quacs lhe faça comprir, e guardar cm
todo.
10 h&:M fe os Tabaliaês da Cidade de Lixboa,
ou d•outro qualquer Luguar onde a dita Cafa efte-
uer, ou Efcriuaês da dita Cafa, ou Officiaes da
Chancelaria della, errarem em feus Officios. o Chan-
celer conhecerá de feus erros , e mandará prender
aquelles que achar culpados ., ou de que lhe for que..
relado, fegundo fórma da Ordenaçam, os quaes feitos
defembarguar á em Rolaçam com acordo dos outros
Def-
Do CHANCELER !)A CASA oo C1vu ET e. 2, 3

Defembarguadores, que pera o defembarguo de [e.


melhantes feitos lhe forem deputados.
1r ITEM paffará as Cartas das dizernas das fen-
tenças, que fe na dita Cafa derem, e conhecerá dos
feitos que fe fobre as ditas dizemas ordenarem, os
quaes feitos defembarguará em Rolaçam.
11 ITEM defembarguará em Rolaçam quaesquer
duuidas, que fobreuierem fobre que fe deue paguar
de Chancelaria de quaesquer Cartas , que por ella
paífarem, fegundo Diremos no Titulo Do Ejcriuam
da Chancelaria. Peró fendo o Nofio Chanceler Moor
com Nofco , ou com a Cafa da Sopricaçam , onde a
Caía do Ciuel eíl:euer , conhecerá o Chanceler da
dita Cafa foomente dos feitos, e coufas que tocarem
aos Officios della , por razam de feus Officios, aill
como Efcríuaes, e Procuradores, e outros; e bem
aill das fufpeíçoes pofias aos Julguadores, e Officia-
cs da dita Cafa, de que lhe o conhecimento perten-
ce; porque todo o mais fará o Chanceler Moor fe.
gundo o Regimento de feu Officio.
13 ITEM o Chanceler mandará a todolos Efcri ..
uaes da dita Caía, que façam as fentenças e Cartas
dos defembarguos , que ouuerem de fazer em feus
Officios, em tal maneira, que fejam bem feitas, e
efcriptas de guifa , que por fua minguoa e negri-
gencia nom fejam glofadas , nem as partes por ello
decheudas ; e fendo algüa fentença, ou Carta glofada
juílamente, de maneira que fe deua· fazer outra de
nouo, fe o tal erro for por culpa do Efcriuam ª o
Chan..
2I4 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. XXXI.

Chanceler lhe faça loguo tornar aa parte todo o di-


nheiro que por ella recebeo, ou fazer outra de gra-
ça; e fe for por culpa do Defembargua dor, ou Def-
embarguadore s que a paífarem, elles a paguem ao
Efcriuam que a fezer , e o Chanceler determinará
por cuja culpa fe glofou.

T I T U L O XXXI.
Dos Dejembarguadores do Agrauo, e do que a feus
Ojficios pertence.

Ü S dous Defembarguad ores deíle Officio , que


em eira Cafa fam ordenados, def pacharam todas as
petiçoês , que aa Rolaçam vierem, perante o Guo-
uernador , com os outros Defembargua dores que
hi prefentes forem, e eíles dous defembarguar am
todos os feitos, e agrauos que a elles vierem por fu-
pricaçam que a elles pertencerem, e bem affi os efior-
mentos, e Cartas teíl:emunhaue is, que das Comar-
cas a elles vierem de coufas ciueis ; os quaes defpa-
charam por aquelle modo que he ordenado aos Def-
embarguadore s da Sopricaçam , fegundo he con-
theudo no Titulo Dos Defembarguadores do Agrauo
da Ca/a da Sopricaçam.
I EsTES Defembarguad ores verarn todos os agra-
uos, que fahirem d'ante os Sobrejuizes, atee con-
tia de oito marcos de prata, porque os de maior
con-
Dos SoBREJUIZ. E DO QYE A SEU OrFic. PERT. 215

contia pertencem aa Cafa da Sopriçaçam, e velos-


ham por deíl:rebuiçam, que tantos veja huü por
primeiro, como o outro.
2 E o Defembarguador que viir o feito por pri-
meiro, fome-o, e ponha fua rençam comprida , e
dalo-ha ao ou iro íeu parceiro por fi, de guifa, que
nom paffe a outra maõ , por fe nom faber fua ten-
çam; e fe forem conformes. a confirmar, pqeram
a fentença; e fe defuairarem, que huü for a confir-
mar, e outro a reuoguar, hirá ao terceiro dos agra-
uos , que na dita Cafa he ordenado; e concordando
com o que he a confirmar , poeram a fenten.ça; e
concordando · com o que he a reuoguar , ou fendo
em outra defuairada tençam, entonçe o leuaram aa
Mefa principal perante o Guouernador • o qual o
fará defpachar, fegundo he contheudo no Titulo
Dos Difembarguadores do AgYauo da Gafa da Soprica-
fOm. E efle mefmo modo fe terá, quando dous fo.
rem a reuoguar, e huü a confirmar.

---·-------------
T I T U L O XXXII.

Dos Sobrejuius,. e do que afiu Oificio pertence.

Üs Sobrejuizes fam feis, repartidos em tres Au-


diencias, conuem a faber, dous em cada hüa : eftes
defembarguaram todos os feitos , que a elles ham
de
216 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. XXXII.
de viir por apellaçam de todo o Reyno, faluo do Lu ..
guar onde Nós Eíl.euermos, ou a No!fa Cafa da So-
pricaçam, e a cinco leguoas derredor ; porque effes
ham de feer defembarguados em Noífa Corte, nom
fendo porem da Cidade de Lixboa 1 nem de feu
Termo., de que elles fempre ham de conhecer. Pe-
ró eíl:ando a Cafa do Ciuel, onde Nós, ou a Caía
da Sopricaçam efteuer, quer em Lixboa , .quer em
outro _Luguar, os Sobrejuizes conheceram das apel ..
laçoes do dito Luguar, e de cinco leguoas derredor,
como de todas as outras apellaçoês de Noífos Rey-
nos. E eíl:es Sobrejuizes veram os feitos por de!lre-
buiçam , ~ue tantos veja por primeiro huü , corno
outro, e faram fuas Audiencias bem e honeíl:a-
mente, cedo , defpois da ora da prima , no Luguar
cuíl:umado, e façam que fejam bem ouuidos ; aos
quaes Mandamos , que com boa deliberaçam vejam
os feitos, e fem delongua; e como o feito for con-
clufo , prefente as partes , ou aa reaelia, ponha-o o
Efcriuam no faco do primeiro que o ouuer de veer,
de guifa, que nom palfe mais a outra maõ; e o So..
brejuiz que o feito viir por primeiro, afome-o com-
pridamente, e vifto por elle primeiro pode-lo-ha
por fi foo profeguir , e poer em elle ~odalas interlu..-
cutorias , que lhe neceffarias parecerem pera boa
ordenança do dito feito, fem feu parceiro; faluo no
recebimento do libelo, e contrariedade , e reprica-
çam , e outros artiguos affi de contraditas , e em-
barguos a fe abrirem e pubricarem as inquiriçoes ;
por-
Dos SonREJUIZ. E DO Q.!J'E A SEV Orne. PERT. 217

porque em todos eítes cafos, e cada buú delles , co-


mo nas fenrenças definitiuas, tanto que o primeiro
o teuer viílo, o entreguará com fua tençam a feu
parceiro, que o ha de veer por fegundo da fua maõ;
e viílo por ambos , fe forem concordes, loguo ponha
o defembarguo , e feja pubricado, e fe nom forem
concordados, e quiferem conferir pera verem fe fe
poderam acordar , juntar-fe-ham no luguar onde
ham de fazer Audrencia, nos dias d' Audiencia lo-
guo pola menham cedo, em maneira que fe nom
torue de fazer a Audiencia; e fe fe nom concorda-
rem , veja-o por terceiro outro Sobrejuiz , e fe for
conforme a cada huu dos que o já viram , ponha-fe
o defembarguo fegundo for acordado, e pubrique-
fe ; e fe for em outra noua tençam , feja dado a outto
Sobrejuiz, atee que dous fejam concordes em hüa
tençam, e fegundo acordarem, fe ponha o defembar-
guo, e fe pubrique. E ~eremos que os ditos Sobre-
juízes tenham alçada , e poffam julguar fem agrauo
atee contia de quatro marcos de prata , ou fua ver-
dadeira valia ao tempo ·que for demandado , e efio
fe entenderá foomente no principal , nom contando
cuílas.
1 Os Sobrejuizes nom foomente conheceram das
apellaço~s, como diro he , mas ainda dos feitos que
lhe forem cometidos polo Guouernador , e affi dos
que vierem por remitram a elles, ou aa dita Caía do
Ciuel. E affi dos feitos d'aquelles que tem jurifdi..
çoês , e .dos Prelados ifentos que neftes Reynos nom
Liv. L Ee tem
218 O PRIMtIRo L1v. DAS ÜRDE!l. Tn. XXXII.

tem Superior Ecclefiaílico Ordinãrio, fegundo Di-


remos no Liuro Segundo no Titulo primeiro, e dos
feitos das viuuas, orfaõs, e peífoas miferaueis, quan-
do perante elles quiíerem litiguar, fegundo he con-
theudo na Ordenaçam íobre ello feita.
2 ITEM conheceram das efcripturas defaforadas.
quando os Autores perante elles quiferem demandar.
3 ITEM fe alguüs embarguos forem poftos per..
ante alguü Juiz , ou Corregedor da Comarca , a em-
barguar a execuçam d'algüa fentença por os Sobre-
juízes dada , e do que por elles for determinado a
parte fe agrauar , pertence aos ditos Sobrejuizes co..
nhecer do tal agrauo, pois que pende e procede da
fentença por elles dada , affi como pertence aos ou.
tros Defembarguadores conhecer dos agrauos das
execuçoês . de fuas fentenças , fegundo Diremos no
Terceiro Liuro, no Titulo Das execuçoês que Je faz.em
geeralmenle.
4 1TEM os Sobrejuizes deu em teer cuidado de
faber , fe os Efcriuaes d'ante elles dam aas partes
maas repoftas , ou lhes retardam feus de[pachos , ou
leuam mais do que deuem ; e achando alguüs cul-
pados , procedam contra elles, ou o diguam ao Chan-
celer pera lhes feer dado o caíliguo que merecem.
Aos Sobrejuizes pertence dar ejlas Cartas que Je feguem.
5 ITEM daram Cartas citatorias aos Officiaes
deífa Cafa , que ham Noffo mantimento , que que-
rem demandar alguü , que venha refponder perante
6E
Dos SoBREJUIZ. E DO QYE A SEU ÜFFIC. PERT. 219

6 E ASSI aos que quiferem demandar por au ..


çam noua perante elles alguus Fidalguos , ou outras
pefloas, que tenham Terras com Jurifdiçam ,ou Se-
nhorio, quando os Autores q_uiferem perante elles de-
mandar, nom fendo coufas que pertençam ao Juiz
dos Noffos feitos , ou aa Fazenda.
7 E Q!JANDO algüa peffoa aprefentar perante el-
les dia d'aparecer, e requerer que apreguoem a par-
te, e ajam a apellaçam por defrrta, por o termo feer
patfado com os tres dias de Corte , Mandamos , que
primeiro fejam por o Poneiro preguntados peffoal-
mente o Deíl:rebuidor, e Efcduaes de todas tres Au-
diencias, fe alguü delles tem tal apellaçam , no-
meando-lhes o Luguar donde he, e fobre que he , e
as partes por feus nomes ; e quando fe nom achar,
façam apreguoar em hüa Audiencia o reuel , e lhe
dem termo aa fua reue1ia atee primeira Audiencia,
na qual o tornaram outra vez a apreguoar, e nom
parecendo por fi , ou por feu Procurador , ou nom
mandando a apellaçam, ajam a apellaçam por defer-
ta ; e fe defpois fe achar que a apellaçam era em
maõ de cada huü dos fobrediros ao tempo que fo-
ram preguntados , e o nom diffe, em tal cafo ajam
a fentença da defertaçam por ninhüa , e por ella fe
nom faça obra , e toda a perda e dãno , que a parte
por ello receber, pague-lha o Efcriuam , e mais per-
derá o Officio, e o Chanceler o faça affi comprir, e
realmente executar.
8 E POSTO QYE feitas as ditas deligencias a
Ee 2 apel-
220 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XXXII.

apellaçam íeja anida por deferta, e nom feguida, fe


o apellante parecer com a apellaçam ante que a ou-
tra parte feja partida com a fentença da defertaçam
do luguar onde for da~a , Mandamos que elles a
defembarguem , ouuindo as partes com feu dereito,
fem embarguo de a já terem auida por deferta aa
reuelia · do apellante , paguand~ porem primeiro a
parte que tardou aa outra todas as cuftas que fez
por caufa de fua tardança.
9 E PORQ.Y E muitas vezes defpois que a fenten-
ça interlucuroria I ou definitiua he dada polos So-
brejuizes concordados cm hüa tençam, a parte con-
tra quem he dada fe agraua ao Gi..ouernador I pe-
dindo.lhe que mande reuer o feito , de que a fenten-
ça fahio prefente fi na Mefa principal, Mandamos
que defpois que hüa ·vez o feito for defembarguado
por os Sobrejuizes concordados em hüa tençam ,
nom feja mais reuillo por algüa guifa na Mefa prin-
cipal ; e a parte que fe de tal fentença fentir agrau_a -
da , agraue por via ordinaria , paguando o agrauo.
e feguindo-o prefente.os Defen:ibarguadores da Nof-
fa Sopricaçam maior , ou menor , fegundo a Orde-
naçam por Nós fobre ello feita.
10 E os Sobrejuizes faram Audiencias tres dias
na fomana , conuem a faber , aa terça feira , e aa
quinta , e ao fabado pola menham, conuem a faber,
em cada mefa fua Audiencia defpois de conferirem,
como emcima dito he, e fará cada huü dos dous
parceiros fua fomana Audiencia.
li
Dos Ouv. oo CRIM. E oo QYE A sEus Or. PERT. 221

11 o Sobrejuí2 que por Nós for ordenado,


ITEM
que ferua de_ Corregedor, quando a Cafa fe fahir fó_
ra da Cidade de Lixboa, pera fe aílentar em outro
Luguar, vfará no dito Luguar em que fe affi aífentar,
e feu Termo, de todo o Regimento , e Jurifdiçam
que por Nós he dado em feus Regimentos aos Cor-
regedores de Noífa Corte , afli do Crime , como do
Ciuel. E eílando a Cafa afTenrada em alguü Luguar
do Termo de Lixboa ,poderá vfar do dito Regimen-
to em todo o Termo de Lixboa, e na Cidade nam.

T 1 T U L O XXXIll.

Dos Ouuidores do Crime, e do que ajeus Ojficios


pertence. ·

OS OUVIDORES defembarguaram todos os


feitos crimes, que a elles por agrauo vierem de Lix-
boa foomente, e feu Termo , affi do Corregedor da
Cidade, como de quaefquer outros Juizes, e Jul-
guadores della.
I OuTRo s1 conheceram das apcllaçoês dos fei-
tos crimes , que fahirem d'ante os Juízes, e Corre-
gedores , affi da dita Cidade , como de toda a Co.
marca da Eftremadura, que nom fejam das Terras
da Raynha , nem dos Meíl:rados , ou d'outros Se-
nhores, que por priuilegios tenham, de norn entra ..
rem em fuas Terras os Corregedores da Comarca,
por-

24
222 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TrT. XXXIII.
porque as apellaçoês deíl:es Luguares com todas as
outras do Reyno de feitos crimes ham de viir aa
Cafa do Sopricaçam; e aíli quando a Caía da Sopri-
caçam efieuer em alguú Luguar da Eftremadura,
nom fendo na Cidade de Lixboa , fegundo Diremos
no Terceiro Liuro, n_o Titulo tzye todas as apellaçoes
dos feitos ciueis.
2 EsTEs feitos crimes de que ham de conhecer,
leuaram aa Rolaçam viftos , e cotados na fórma que
Diffemos nefte Liuro, no Titulo Dos Ouuidores da
Gafa da Sopricaçam , relatando-os prefente as partes ,
ou feus Procuradores, fe a eUes quiferem eíl:ar, e len-
do as inquiriçoês, e eftormentos, que aos feitos per-
tencerem , e por as partes forem aleguados , prefente
os Defembarguadores que ao defpacho delles eíleue-
rem. As quaes apellaçoês , e agrauos vetam , e def-
embarguaram , pofto que Nós , ou a Caía da Sopri-
caçam Eftemps dentro em a dita Cidade, ou qual-
quer outro Luguar onde a Caía do Ciucl efteuer. Pe-
ró os agrauos de que o Corregedor da Noffa Corte
primeiro tomar conhecimento , elle os defembargua-
rá em Rolaçam.
3 ITEM receberam as querelas de todos os male..
ficios que forem feitos em Lixboa e feu Termo, e
daram Cartas de feguro delles em todos cafos; faluo
em herefia , traiçam , aleiue, fodomia , moeda falfa,
de que as deue dar o Corregedor da Noffa Corte.
Nem daram Cartas de feguro de quaefquer maleficios
cometidos em a dita Cidade, e feu Termo, eftando
Nós,
Do PRoM. DA J usT. R oo Q!JE A sEu Or. PERT. 2 23

Nós, ou a Cafa da Sopricaçam em ella, porque foo-


mente as dará o dito Corregedor; e dos maleficios
ante cometidos, as poderam dar os ditos Ouuido-
res, ou o Corregedor a quem for primeiro requeri-
do.
4 ITEM daram Cartas das defefas, e penas, que
poferem antre partes por fe efcufarem arroidos , e
efcandalos. E efio na Cidade de Lixboa , e na Co..
marca da Eíhemadura foomente.
5 E NOM daram Cartas de imizade em cafo al-
guü, nem as outras que aos Defembarguadores do .
Paaço pertencem dar , fegundo em feu Titulo he
contheudo.
6 E Q!JANTO he aas outras coufas que pertence-
rem ao Officio dos ditos Ouuidores, Mandamos que
fe guarde o Regimenro que he dado aos Ouuidores
da Noífa Cafa da Sopricaçam.

T I T U L O XXXIV.

Do Prometor da Juflira, e do que afeu O./Jirio


pertence.

O PROMETOR da Juíliça deue feer Letrado, e


bem entendido pera faber efpertar, e aleguar as cau-
fas, e razoés que pera lume, e clareza da Juftiça, e
pera inteira conferuaçam della conuem , ao qual
Mandamos , que com grande cuidado , e deligencia
re-
224 O PatMEmo Lrv. DAS 0RDEN. Tn. XXXIV.
requeira todas as coufas, que pertencerem aa Jufti-
ça , e conferuaçam de Noffa J urifd içam, em tal gui-
fa, que por fua culpa , ou negrigencia norn pereça
Juftiça, nem a Noíla Jurifdiçam feja vfurpada; por-
que fazendo o contra iro , a Deos no outro mundo, e
a Nós nefte dará diífo conta.
1 E ENFORMAR-sE-HA fe alguüs feitos fe trau-
tam perante os Prelados, ou feus Viguairos, que fe-
jam contra os Noífos De-r eitos, e Jurifdiçam, pera a
por Nós defender, affi por Dereito Comum, e O:r-
denaçoés , e Artiguos acordados , e aprouados polos
Reys que ante Nós foram, como por outro qualquer
modo juridico ; e fe viir que vfurpam a Nol'fa Jurif-
diçam, ou alguü outro Dereito Noífo, fale primeira-
mente com o Guouernador; pera que veja o dito ca-
fo com alguüs Defembarguadores que lhe bem pa- ·
recer , que prouejam fobre ello , e fe acordarem que
a Nós pertence, tenha-fetal modo, conuem a faber,
que o dito Noífo Prornetor fe ajunte com os Viguai-
ros em luguar honeílo, que falem, e difputem fobre
o cafo; e fe os ditos Viguairos nom quiferem reco-
nhecer que tal Jurifdiçam pertence a Nós, poderam
viir aa Rolaçam , e os Defembarguadores lho mo-
ftrem por Dereito, como o conhecimento de tal ne-
guocio a .Nós .pertence , e nom a elles ; e quando fe
nom quiferem conhecer , dararn Cartas a aquelles
contra que os Viguairos procederem, porque os nom
euitem , nem prendam por fuas cenfuras , nem le-
uem deUes penas de efcomunguados, nem guardem.
nem
Do Esc. DA CHANC. t DO Q.!7E A sw OF. PIRT. HS
nem executem fuas fcntenças , nem mandados , co-
mo fe fempre cuíl:umou em femelhantes cafos.
'.l E QyANDO alguü Sobrejuiz, ou Ouuidor for
impedido. ou fufpeito, ou dous Sobrejuizes em def.
uairo, e nom ouuer outro Sobrejuiz, ou Ouuidor que
os taees feitos veja, Mandamos que o NoJfo Prome-
tor os veja. nom fendo fuípeito , porem o Guouer-
nador por algüa jufta caufa os poderá cometer a ou-
tro Defembarguador.
3 l TEM veja , e procure bem todos os feitos da
Juftiça, e das viuuas, e orfaõs , e peffoas rniferaueis,
que aa dita Cafa vierem, de que hi pertença o co-
nhecimento, fem lhes leuar por ello dinheiro, nem
outra couía; e nom voguará, nem procurará outros
alguiis feitos que a Nós nom pertençam , _fem Noífo
efpecial Mandado.

T I T U T O XXXV..
Do Efcriuam da Chancelaria, e do 9.ue afeu Oificio

o
pertence.

ESCRIV AM da Chancelaria da Caía do Ci-


uel fará deíhibuiçam em cada huü dia de todos os
feitos ciueis , que vierem por apellaçam , e eftor..
mentos d'agrauo, e dos crimes que vierem de Lix-
boa , e íeu Termo , e d'aquelles Luguares da Eílre..
madura que aa elita Caía deuem hir , e fará a dita
Liv. I. Ff dcf..
226 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. 'J)T. XXXV.

deíl:rebuiçam naquelle luguar, e ora, onde fempre fe


cuílumou, e aos Eícriuaés que forem prefentes dará
deíl:rebuiçam , e aos abfentes nam , mas paílará por
elles ; peró fe for alguü abfente por mandado do
Guouernador, ou por outro cafo que pertença a Nof-
fo Seruiço , ou por algüa euidente neceffidade, nom
lhe feja deneguada fua deílrebuiçam , e em tal cafo
feja crido por feu juramento , o qual lhe dará o
Chanceler. ·
1 E DARA' as Cartas como forem affeladas pre-
fente o Recebedor, e nom fem elle , e ponha em el-
las a pagua por fua maõ , e efcreua-a no Liuro da
recepta ; e fe duuida for antre elle , e a parte fobrc
a pagua da Chancelaria , leue loguo a Carta ao Chan-
celer, e fe algua das partes nom quifer efiar pala de-
terminaçam do Chanceler, leue-a aa Rolaçam , pera.
com o dito Chanceler fe hi determinar.
E-QYANDO na dada das Cartas algüas ficarem
por dar, por as partes as nom hirem requerer, o di-
to Efcriuam as ponha em hüa arca de que tenha hüa
chaue , e o Chanceler outra , e o Recebedor outra ,
por maneira, que fe nom polfam furtar , .nem fazer
em ellas outra maldade, as quaes dará na outra dada
feguinte , com as que fe defpois atrelarem, e daram
as Cartas que ficarem de huma dada pera outra.
3 DEVE feer bem deligente,e mandado nas cou-
fas que a feu Officio pertencem , e requeira o Chan-
celer, e fale com elle cada vez que comprir , fobre
as duuidas que teuer em feu Officio , ou quando fe
as
Do EscR. Q!Jl! TEM CARR. DE Souc. DA JusT. 227

as partes agrauarem das paguas , como dito he.


4 ITEM affentará em feu Liuro todas as paguas
dos agrauos , que as partes condenadas paguarem •
declarando o dia, e mez, e era em que lho paguam.
5 E PERA o dito Efcriuam faber quanto deue ar-
recadar de Chancelaria de cada hüa Carta, lhe Man-
damos , que tenha o treslado da taxa da Chancela-
ria , que Nós Mandamos fazer em hüa Carta teíl:e-
munhauel , ailinada polo Chanceler Moor, e aifela..
da do Noifo Selo pendente.

------------------
T I T U L O XXXVI.

Do Ejcriuam, que tem carreguo de Solicitador


da Juflifª·

O ESCRIVAM que-for Solicitador da Juftiça


ferá bem deligente , e tenha fempre em memoria, e
lembrança o Regimento feguinte, que lhe he dado,
em maneira , que por fua minguoa , e negrigencia
nom fe alonguem os feitos da Jufüça, e dos prefos.
1 PRIMEIRAMENTE poerá em rol todos os prefos
que ouuer na Cadea , poendo declaradamente feus
nomes , e alcunhas, e os cafos porque fam prefos, e
quem he Juiz de feu feito, e affi o Efcriuam , ou
Tabaliam que nelle efcreue I e quem he o Procura-
dor do prefo ; e ferá prefente a todas as Audiencias
que fezerem os Ouuidores da dita Cafa, e affi o Cor-
Ff 2 re-
228 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. XXXVI.
regedor da Cidade, e Juizes do Crime , e nas ditas
Audiencias poerá em lembrança os termos em que
cada feito de prefo ficar, e acufará a negrigencia do
Procurador que tal feito auia de trazer , fe o nom
trouuer ao termo affinado , e affi terá cuidado de re-
querer os defpachos d'aquelles feitos de prefos que
forem conclufos a aquelles Ouuidores , e Correge-
dor , e J uizes , que os em feu poder teuerem.
2 E quando os feitos. dos ditos prefos eíleuerem
em dilaçam pera fe em elles auerem de tirar inqui-
riçoês , faberá quaes teftemunhas fe nos ditos feito~
ham de preguntar por parte da Juftiça , e falas-ha
com deligencia citar, que venham dar feus teflemu-
nhos, e fe nom vierem requererá aos Julguadores a.
que pertencer , que os coftranguam. Peró fe forem
taees pe!foas que deuam feer preguntadas em fuas
caías , faça com o Efcriuam , e Enqueredor que as
vam laa preguntar, e fe em ello forem negrigcntes,
digua-o aos Julguadores a que pertencer.
3 ITEM terá cuidado de mandar fazer as Cartas
dos defembarguos .. que fahirem nos feitos da Jufü-
ça , e affi dos prefos pobres, e defemparados , e as
fará affinar, e atrelar, e as entreguará aos Caminhei-
ros, que as leuem a aquelks Luguares pera onde fo-
rem deregidas , e traguam loguo certidam da obra,
e deligencia que fe por dias fezer, poendo em lem-
brança o dia em que as ditas Cartas foram dadas aos
Caminheiros, e o tempo em que com as repoíl:as
deltas tornaram I pera fe vcer fc poícram ~m ello a
d~.
Do Escn. QyE TEM CARR. DE Souc. DA JuST. n9

deligencia que deuiam , e os que achar negrigentes


aponte-os , t digua-o ao Guouernador pera lhes feer
defcontado de feus mantimentos aquello que por
fuas negrigencias nom mereceram.
4 TERA' cuidado de veer nas repoílas que os
Caminheiros trouuerem , fe os Corregedores , ou
Juizes , ou quaefquer outras peífoas a que as ditas
Cartas hiam derigidas , foram negrigentes em com-
prir o que lhes por ellas era mandado, e requerer
aos Julguadores, por que taees Cartas paílàram, que
procedam contra elles, e todauia mandem comprir
todo o que das ditas Cartas ficou por fazer.
5 ITEM efcreuerá em outro rol quaefquer pef-
foas, que fe pdos feitos, que fe na dita Cafa defem-
barguarem , fe acharem culpados em quaefquer ma-
leficiç,s. E fará as Cartas pera os Corregedores das
Comarcas , e aíli pera os Juizes dos Luguares onde
os ditos cu) pados forem moradores , ou efieuerem •
que os prendam , e façam delles comprimento de
Dereito; e efl:as Cartas fará affinar, e affelar, e as
entreguará aos Caminheiros que as leuem , .e tra-
guam repoíl:as das deligencias , que fobre ello feze-
ram.
6' ITEM fará em cada huü anno hum Liuro, em
que ponha todos os feitos crimes, e ciueis, que fe
na dita Cafa defembarguarem , poendo declarada-
mente o dia, mez, e anno, em que cada feito fe co ..
meçou, e o tempo que durou , atee auer final liura-
mento.
TI-
230 O PRIMEIRO L1v. DAs ÜRDEN. TIT. XXXVII.

T I T U L O XXXVII.

Dos E/criua'és, que efcreuem perante os De.fembargua(Ú)..


res , e Sobrejuizes, e Ouuidores da dila Gafa.

OS Eícriuaés do derembarguo deuem feer dous,


e efies faram todas as Cartas, que pa{fam polos Def..
embarguadores do Agrauo por deílrebuiçam.
1 E os Ercriuaês dos Sobrejuizes ham de feer
feis , repartidos em tres Audiencias , em cada hua
dous, e mais nom.
2 E PERANTE os Ouuidores feram tres Efcriuais
foornente.
3 Esns Efcriuaês deuem feer bem deligentes
em feus Officios, e viir cedo aas Audiencias, de gui ..
fa , que por fua tardança os Julguadores nom fejam
detheudos , nem as partes percam tempo , e poffam
hir fazer o que lhes comprir. E fe algüa parte offe-
recer em Juizo algüa ercriptura em ajuda de feu fei ..
to , e derpois de feer em poder do Efcriuam, a par-
te que a affi deu a tornar a pedir, riam lha dará fem
confentimento da outra parte , ou fem mandado do
Juiz, o qual ouuirá primeiro a parte, ou feu Procu ..
rador.
4 E oos feitos dos prefos pobres da Noffa Cafa.
do Ciuel, que por noua auçam fe trautarem , ou por
apellaçam, ou agrauo a ella vierem, federpois de fi-
nal mente ferem defembarguados, os ditos prefos, 011
outrem por elles nom tirarem fuas rencenças atee
dous
Dos EscR. Q!JE Isc REv. PER. os DESEMB. n e. 231

dous mefes, contados do dia da pubricaçam das fen-


tenças , por dizerem que fam tam pobres• que nom
tem por onde paguar os falarios aos Efcriuaês dos
feus feitos , Mandamos ao Chanceler da dita Cafa,
que fazendo certo de fua pobreza , mande contar os
ditos feitos , e todo o que fe achar por conta, que os
ditos prefos fam obriguados aos ditos Efcriuaés de
feu falario, e affi ao Procurador que por elles na dita
Caía procurou, lhes mande paguar a metade de feus
falarios do dinheiro da Chancelaria da dita Cafa,
e par feu mandado fará o Recebedor da Chancelaria
da dita Caía, ou quem feu carreguo teuer, os pagua-
mentos perante o Efcriuam da dita Chancelaria, pe-
ra com conhecimento do Efcriuam , ou Procurador
a que affi paguar, lhe ferem leuados em conta, e pe-
ra a outra metade lhe ficará feu dereito refguarda-
do , pera o auerem dos ditos pobres defpois que te-
uerem por onde paguar.
5 E TODO o que dito he acerca do paguamento
dos feitos dos prefos pobres nom auerá luguar nos
prefos , que forem remetidos aas Ordens , ou torna-
dos aa imunidade da Igreja , ou a alguü Couto de
Noífos Reynos ,onde eílauam acoutados.
6 ITEM deue cada huü Efcriuam affi do ciuel,
como do crime feer auifado , que foomente efcreua.
as coufas que a feu Officio pertencerem, e nom ufur ..
pe o Officio alheo por ninhüa guifa ; faluo fendo-lhe
mandado efpedalmente polo Guouernador , ou ai ..
guü Defernbarguador que pera ello tenha poder, a
qual
23 l O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. XXXVII.
qual coufa nom deuem mandar fem grande e mui-
to euid.ente caufa.
7 E PORQ.1.lE muitas vezes acontece I que o Con-
tador das cuílas nom pode contar cufias ao vence-
dor de fua peffoa, porque no proceífo nom fam efcri ..
ptos os dias que a parte pareceo, Mandamos a todo.
los Efcriua~s da Caía , que efcreuam nos proceífos
todos os dias, que peffoalmente as partes parecerem.
foltas, ou prefas • ou forem veer como juram as te..
ftemunhas I pofto que Procuradores tenham ; e íe o
affi nom fezerem , paguem aa parte em dobro todo o
dãno • e perda , que por ello receber.
8 OuTRo st Mandamos I que ninhuü Efcriuam
da dita Caía fe parta donde ella eíl:euer fem licença
do Guouernador • e do Defembarguador perante
quem efcreue; e affi, fem leixar os feitos a outro Efcri ..
uam, fegundo mais larguamente he contheudo no
Titulo Dos E/criuaes d'anle os Defembarguadorts do
Paaço I e o que fezer o contraira, encorrcrá nas pe-
nas hi declaradas.
9 E PORQ..UE outras muitas coufas pertencem ao
Officio deftes Efcriuaes I que aqui nom fam declara.
das , Mandamos que guardem o Regimento dos
Efcriuaês da Noífa Corte, em quanto fe a elles poder
apricar , e fe nom comprirem o contheudo em eíl:e
Titulo, ou no dito Titulo Dos Ejcriuaês d'attte os
Dejembarguadores do Paaço I que fe a eftes pode apri-
car, encorreram nas penas contheudas no dito Titu..
lo • fegundo a differença dos cafos.
TI-
Dos PROCUR. E DOS QlJE O NOM PODEM SEER. 2JJ

T I T U L O XXXVIII.
Dos Procuradores, e dos que o 110m podemJeer.

MUITO proueitofa coufa he auet hi Procurado-


res Letrados , e entendidos , que procurem os feitos,
que fe trautarem affi em Noffa Corte , como em a
No!fa Cafa do Ciucl, e nas Cidades, e Vilias de Nof..
fos Reynos. E porem Mandamos , que aquelles que
ouuerem de feer Procuradores em Noífa Corte , e
Cafa da Sopricaçam , antes que entrem ajam NofTo
Aluará , porque Nos Praz que poffam feer exanüna-
dos , e que fendo autos, entonce lhe feja paffada fua
Carta; o qual Aluará ferá aprefentado ao No!fo Re-
gedor, e fará ajuntar perante fi. os Defembarguad o-
res do Agrauo com o Chance.ler Moor , e lhes affina-
ram huü ponto em hüa Ley, qual lhes parecer, pe-
ra que ao outro dia aas mefmas oras a venha ler , e
difputar, e ferá notificado aos outros Procuradores ,
que já na Cafa andarem , que lhe venham arguir , e
feito o dito exame veram fe he auto pera procurar
na dita Cafa : e achando-fe que he auto , fendo
o Chanceler Moor prefente lhe mandará fazer fua
Carta , e nom fendo prefente o Regedor lha manda-
rá fazer , a qual ferá pa!fada polo Noífo Chanceler
Moor.
I E Q!1 ANTO aos Procuradores da Caía do Ci-
uel Mandamos, que os que forem graduados ,e qui-
{crem procurar na dita Cafa, fejam a ello recebidos
Liv. L Gg polo
234 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. Tn.XXXVIII.

polo No{fo Guouernador, o qual os deílrebuirá quan..


to he aas mefas dos Sobrejuizes , pera que fejam tan-
tos em huma, como em outra , ou mais em hüa Me-
fa que em outra, fe viir que na dita Mefa ha mais
rneíl:er , por teer maior jurifdiçam ; porem primeiro
que os aíli deílrebua os mandará examinar polo
modo que Diílemos do exame da Cafa da Soprica..
çam , conuem a faber , por o dito Guouernador , e
Chanceler, e Defembarguadores da dita Caía do Ci-
uel, e achando-fe que fam autos, lhes mandará paf-
far Carta, a qual paffará polo Nolfo Chanceler Moor.
E eíle exame dos Procuradores da Cafa do Ciuel fe
fará em todos os graduados , faluo fe forem gradua-
dos na-Noffa Vniuerfidade do Eíl:udo da Cidade de
Lixboa, porque efies procuraram na dita Cafa fem
outro exame.
2 E quanto aos Procuradores das Correiçoes , e
Cidades, e: Vilias, e Luguares de Noffos Reynos •
eftes feram examinados polo Chanceler Moor , ven-
do fe fam autos pera iffo, e elle lhe dará fuas Cartas
auendo enformaçam de quantos ha na Correiçam,
ou Cidade, ou Villa pera onde pedem as ditas Car-
tas de Procurador, e aíli dos que fam neceffarios ,
em modo que nom fejam mais , que os que parecer
que abaíl:aram , e que razoadamente fe poderam
manter. Porem os que forem graduados de Bacharel
em qualquer Eíl:udo vniuerfal por exame, ou em ou ..
tro gráo de Bacharel pera cima, poderam procurar
nas ditas Cidades, ou Villas, ou Luguares, ou Cor-
rei-
Dos PROCUR. E DOS Q.YE o NOM PODEM SEE'R. 235

reiçoes, fem mais auerem Carta do Chanceler Moor,.


fegundo em feu Titulo he declarado. Porem nas
Correiçoés, onde ouuer numero certo de Procurado-
res por Nós ordenado • nom poderam procurar fem
Noffa Licença.
3 E os que d'outra maneira procurarem, pofto
que Prouifam tenham de qualquer outra peffoa ,
como nom for Noffa, ou do Noffo Chanceler Moor •
que lhe ferá dada na fórma fobredita , ou nom fo-
rem graduados como erncima dito he , fejarn pre-
fos, e da Cadea paguem vinte cruzados , ametade
pera Nós , e a outra pera quem os acufar, e mais
feram degradados por huü anno fóra do Luguar , e
feu Termo donde procurarem , e nom poffam mais
auer Officio de Procurador. E eíl:o ·fe nom enten-
derá em ·alguü Luguar, que por priuilegio tenha
pera nelle nom auer Procuradores do numero , e
poder procurar quem quifer; porque nos caces Lu-
guares poderam procurar fem as ditas Prouifoés •
fendo pera ello idoneos, e a que por Dereito Com-
mum , ou Noífas Ordenaçoes nom feja defefo.
4 E MANDAMOS a effes Procuradores , que te..
nham os Liuros todos das Noffas Ordenaçoes, e
nom procurem contra ellas , e vfem bem de feu
Officio, nom fazendo perlonguas nos feitos , nem os
dilatando maliciofamente ; e fazendo o contrairo
paguaram aas partes todas as cuíl:as, que por fua cul-
pa fezerem.
5 E PORQ-VE Noffa tençam he, que Noffas Or-
Gg 2 de-
~36 O PRIMEIRO _
L1v. DAS ÜRDEN.Tn.XXXVIIl.
denaçoés fejam mui inteiramente guardadas , De-
fendemos a todos os Procuradores, affi da Notfa
Corte ,e Caía da Sopricaçarn, como da Caía do Ci-
uel , e a todas outras peffoas , que em cada hüa das
ditas Cafas feito trouuerem , ou procurarem , ou re-
quererem , que por palaura, nem por efcripto nom
aleguem , nem requeiram contra algüa Ordenaçam
por Nós aprouada , que fe nom deuem comprir,
nerp guardac, nem por ella julguar, dizendo que he
contra Oereito Commum , ou contra Dereito Cano-
nico, em quanto a tal Ordenaçam nom for por Nós
reuoguada ; e qualquer que o contrairo fezer , por
eífe mefmo feito fem feer neceffario outra frntença ,
nem declaraçam , Auemos por bem , que encorra
em pena de vinte cruzados pera as defpefas da Ro-
laçam , onde fe a tal duuida mouer , os quaes loguo
paguará ante que da Rolaçam parta , fe h i prefente
efieuer ; e nom elhndo hi , fe efto for na Cafa da
Sopricaçam o Regedor da dita Cafa , ou fe for na
Cafa Ciuel o Guouernador dei la , fufpenda loguo o
Procurador que tal razam teuer aleguada do Officio
do Procuratoria, atee que pague a dita pena. E nom
fendo Procurador o que o teuer aleguado , mande-o
loguo penhorar polos ditos vinte cruzados , e cu-
fias, que fe na arrecadaçam delles fezerem , e o di-
nheiro das ditas penas ferá entregue ao Recebedor
dos dinheiros das deípefas da Rolaçam perante o
Efcriuam de feu Officio , pera todo viir a boa re-
cadaçam.
6 ITEM
Dos PROCUR. E DOS QYE O NOM PODEM SEER. 2J7
6 ITEM Mandamos, que fe dous Procuradores
mais auantajados forem em No!Ta Corte, fe hüa das
partes filhar ambos, nom lhe feja confemido, mas
efcolha huü delles, qual antes quifer, e outro Jeixe
a feu aduerfario fe o pedir , o qual ferá conftrangi-
do procurar por elle, poíl:o que já tenha recebido
o falaria , ou parte delle d'aquelle que o primeiro
tomou , e lhe foílem por elle defcubertos os fegre-
dos da caufa ; e eíle que por Procurador da ourra
parte ficar , tornará a aquelle que o primeiro to-
mou o dinheiro, que já delle recebido teuer; e eíl:o
~eremos que fe faça geeralmente em todos os fei-
tos , affi grandes, como pequenos, por cada hüa das
partes nom perder feu dere.ito por defigualança dos
Procuradores.
7 lTiM aprocuraçam,porque alguü faz Procu-
rador , feja feita por Tabaliam pubrico, ou por
carta aífelada de tal felo que faça fee , e d'outra
guifa nom valha. Peró fe for efcripta e affinada por
maõ de Doutor feito em efludo geeral por exame ,
ou Caualeiro , ou de cada hüa das outras pdfoas , a
cujos efcriptos por bem de Noífas Ordenaçoés fe
deue dar fee como a efcripturas pubricas , Manda-
mos que faça fee , como que fo(fe feita por maõ de
Tabaliam , affi em fuas proprias coufas , como nas
em que for Procurador.
8 E EsTo fe nom entenda nas procurações , que
fam feitas apud a[la , porque as taees fe podem fa-
zer perante o Juiz polo Efcriuam que no feito
efcre-

25
238 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN.TIT.XXXVIII.
efcreuer , fendo affinadas pola parte , as quaes fe
poderam fazer, poíl:o que a parte contraira nom fe.
ja a ello prefente.
9 E sERAM auifados effes Procuradores , que
nom defernparem os feitos, nem fe vam da Cortei,
ou d'oucros Luguares onde os trautarem , faluo fe
teuerem tal neceffidade ou impedimento , que nom
poffam al fazer, a qual notificaram ao Juiz do fei-
to ; e auendo o dito Juiz enformaçam do impedi-
mento , ou neceffidade que lhe he aleguada , fendo
o impedimento tal,por que nom pode, ou nom deue
feer Procurador, a parte, ou partes contrairas, que
os feitos quiferem feguir, hiram citar as outras par-
tes , pera profeguirem os ditos feitos.
10 E SE o Procurador for doente, e fe nom fou ..
ber fe a doença he perlonguada , ou nam , deue effe
Procurador feer efperado atee cinco dias , e nom
ceffando a qita enfermidade em o dito termo, nom
deu e o dito Procurador feer mais efperado, mas as
partes contrairas , que feus feitos quiferem feguir ,
citaram as outras partes contrairas.
II E sE os ditos Procuradores leixarem os ditos
feitos fem tal impedimento , ou neceffidade corno
cmcima dito he , e fem licença do Juiz, em tal ca..
fo o.Juiz procefferá aa reuelia da parte , ou partes ,
e o Procurador que os affi defemparou paguará aas
partes toda perda, e dãno que por ello recebeffem.
E nom tendo por onde paguar ferá prefo atee a
parte, ou partes ferem fatisfeitas.
12 ITEM
Dos PROCUR. E DOS QYE o NOM PODEM SEER. 239

12 ITEM fe a parte manda procuraçam, contra


a qual he poíla algüa e.xepçam , que impida a auer
efeéto, todo o que tal Procurador fezer, ou differ
no feito principal, nom valha atee feer julguado
por Procurador , ou a parte ratificar efpecialmente
o que affi for feito.
13 . E QYANDO a parte que cita vem por Procu-
rador , e a outra parte opoem contra a procuraçam •
ou- contra a pe!foa do Procurador tal razam, por que
a procuraçam por Dereito norn valha, e affi for jul-
guado, o citado ferá abfolto da inílancia do Juizo,
e o Autor condenado nas cuíl:as ! e citando-o outra
vez nom ferá ouuido, atee que as pague ; e fe o Ci-
tado vier por Procurador, e o Autor polo dito mo-
do lhe impedir a procuraçam , o dito Reo ferá aui-
do por reuel , e em quanto procuraçam fufficien-
te nom ouuer fe procederá no feito aa fua reuelia.
E eíl:o fe nom entenda , quando ao Procurador fof..
fe poíl:o tal impedimento, ou inabilidade, que veri-
fimelmente a parte, que o confticuio, nom deueria
faber ; porque em tal cafo ferá nouamente citado
pera profeguir feu feito, ou fazer outro Procurador.
14 ITEM todo homem pode feer Procurador em
Noífa Corte , e Cafa do Ciuel , e perante outros
quaefquer Juízes, tendo Officio de Procurador fe-
gundo Nolfas Ordenaçoes, e poder das partes pera
poderem por ellas procurar, faluo os a que he defe ..
fo ; e os que Auemos por bem, que o nom fejam ,
fam os feguintes.
15 ITEM
240 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN.TIT.XXXVIII.
15 ITEM o que for menor de vinte e cinco an-
nos, faluo fe for graduado em Dereito Ciuil, ou Ca-
nonico , e em eíl:udo vniuerfal de gráo de Bacharel,
ou Licenciado, ou Doutor.
16 hEM o que for dado por fiel antre as partes,
que deue dar teíl:emunho por hüa parte ou por ou-
tra, affi como he o Corretor; e eíl:o em aquelle fei-
to em que deue feer fiel, e teíl:emunha.
I 7 1TEM Fidalguos, Caualeiros, Creliguos , e
Religiofos, nom poffam por outrem procurar em
1

Juízo; faluo por aquellas peífoas, e em aquelles ca-


fos que fam contheudos no Terceiro Liuro, no Ti-
tulo Das pe/foas a que he defefo que nom procurem ou
'l)oguem &e.
1 8 ITEM o Tabaliam, no Luguar onde he Taba-
liam , nom ferá Procurador , nem o ferá em outro
Luguar alguü por procuraçam que por elle feja fei..
ta.
19 ITEM ninhuü Efcriuam da Audiencia feja
Procurador, nem Aduoguado , faluo em feu feito
proprio, ou d'aquelles que viuerem continuadamen-
te com elles em fuas cafas , ou por No{fo efpecial
Mandado.
20 ITEM o que for condenado por falfidade,
ou outro crime, porque fique infame.
21 E QlT ALQYER peffoa, que perdeffe qualquer
Officio por erro que nelle fezeffe, nom poderá feer
Procurador.
22 ITEM o que teuer recebido falario, ou parte
delle
Dos PROCUR. E DOS QYE O NOM PODEM SEER. 241

delle d'alguü pera procurar feu feito, nom poderá


pola outra parte procurar; faluo fe eíle, de que o te-
uer recebido , teuer outro Procurador, e a outra
parte nom poder auer quem por ella procure , ou
forem ambos mais auantajados; porque neltes caíos
o que os aili teuer tomados poderá efcolher huü
delles , e o outro procurará pola outra parte , poíl:o
que do primeiro teue!Te fabido os íegredos da cau-
fa , e recebido o dinheiro, o qual lhe tornará como
emcima dito he, o qual fará por mandado do Jul-
guador.
23 E TODAS eíl:as pell'oas, que norn podem feer
Procuradores , poderam antes de lhe feer poíl:a a
excepçam da incapacidade fubeíl:abelecer outros a
que nom feja defefo, tendo pera eito poder dos
confütuintes , ou fendo já feitos fenhores da lide
por· feer contefiada ; porque defpois de lhes a dita
excepçam verdadeiramente feer poíl:a nom pode-
rarn em eífes feitos fubeíl:abelecer outros Procura-
dores , ainda que a lide feja com elles conteíl:ada ,
ou tenha procuraçam pera fubefiabelecer.
24 ITEM todos os fobreditos , que affi podem
feer Procuradores, nom poderam procurar perante
alguú Julguador, que feja feu pay, ou feu irmaõ,
ou cunhado no mefmo gráo.

E os que nom pódem fazer Procurador Ja,n


os Jeguintes.
25 O MENOR de hidade de quatorze annos nom
Liu. I. Hh pode
242 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN.Tn.XXXVIII.

pode -por fi fazer Procurador , mas deue-o fazer


feu Tutor.
26 E o que for de quatorze atee vinte e cinco
poderá fazer Procurador, auendo pera ello Noíla
auétoridade , ou do Juiz do feito, e d'outra guifa
nam.
27 E o acufado ou demandado por feiro crime,
em que caiba pena d'açoutes , ou outra aalem de
·d egredo temporal, nom fe pode liurar por Procu-
rador , mas deue parecer peffoalmente em Juizo ;"
faluo fe for prefo fegundo Diremos no Terceiro Li-
uro, no Titulo Dos que podem, e dotem feer citados ,
que pareçam pejfoalmenJe em Juiz.o; e em todo cafo
em que o Reo for prefo , ou por obriguaçam feguir
feu feito em peffoa , nom poderá o Acufador abfen-
te acufar , nem feguir a acufaçam por Procurador ,,
mas comprir-fe-ha o que Diremos no <l!!into Liuro ..
no Titulo Da ordem que o Julguador deue teer nos feitos
crimes.
2 8 ITEM o que for citado que peffoalmente pa-
reça , nom ferá efcufo de viir, mandando Procura-
dor , mas deue parecer por peffoa.
29 E MANDAMOS que fe as partes por culpa, oa
ignorancia de feus Procuradores, receberem em feus
feitos algüa perda , lhes feja todo fatisfeito por feus
bens. E i1fo mefmo os ditos Procuradores paguaram
as cuftas aas partes , que lhes fezerem fazer por
apellarem , ou agrauarem , onde por Noílas Orde-
çoes nom couber apella~am , ou. agrauo , e a parte
po..
Dos PROCUR. E DOS QgE o NOM PODEM SEER. 143

poderá por ello demandar o Procurador , fem elle


poder aleguar priuilegio geeral nem efpecial de feu
foro.
30 E DEFENDEMOS a todos os Procuradores, que
nom façam auença com as partes, que ajam certa
coufa, vencendo-lhes as demandas; e qualquer que
a fezer feja priuado de procurar huü anno, e pa-
gue dous mil reaes pera a Arca da Piedade. Mas
foomenre leuaram os falarias, que lhes dereitamenre
montarem , e por Noífa Ordenaçam he taxado ; e
fe lhe as partes mais derem em paõ , vinho, carne ,
ou outras coufas, e lhe requererem que lhe defcon-
tem no falaria , feram obriguados os Procuradores
de lho defcontar , ao tempo que lhe for contado feu
feito.
3 r E os Procuradores nom façam antre fi com-
panhia fobre o falario , fob pena de ferem priuados
dos Officios , e degradados pera fempre pera a Ilha
de Sam Thorne.
32 E POR milhor defpacho dos feitos Manda-
mos , que os Procuradores razoem , e diguam por
efcripto todo o Dereito da fua parte em hüas foos
razoes, affi fobre libelo , ou artiguos , como fobre
a definitiua ; e nom diram mais elles, nem as partes
por palaura, nem por efcripto coufa algüa; faluo fe
a Nós quando prefentc Formos, ou aos Julguadores
do feito parecer necefJario; porque entam feram ou-
uidos , e nom tocaram nada do que já no feito _te-
uerem efcripto, e entonce nom ouuiram huü Pro•
Hh 2 cu-
244 O PRIMEIRO L1v. 'DAS ÜRDEN. TIT.XXXVIII.

curador fem outro. Nem os Julguadores ouçam os


Procuradores fobre os ditos feitos em cafa.
33 E POSTO Q.Y E cada hüa das partes tenha mais
de huü. Procurador, nom razoará no feito fenom
huú delles; e fará huü foo razoado, como mais lar-
guamente ferá contheudo no Terceiro Liuro, no Ti-
tulo Da Ordem do Juiz.o.
34 E DEFENDEMOS a todos os Procuradores, que
nom recebam coufa algiia d'aquelles contra quem
procurarem; e o que a receber aja a pena contheu ..
da no Titulo Dos Aduoguados, e Procuradores, que vfam
de aduoguar por amhas as Partes.
35 ITEM Mandamos a todos os Procuradores,
que defpois que nos feitos, em que affi procurarem,
oferecerem em Juizo libelo, ou quaesquer artiguos,
ou razoes, nom poffam nos ditos libelo , artiguos ,
ou razoés rifcar coufa algüa, nem adder , nem de-
menuir fem licença do Julguador, que for Juiz do
feito , ouuida a parte fe for coufa de feu perjuizo; e
o Procurador, que o contrairo fezer, feja priuado do
Officio, e degradado por dous annos pera cada huú
dos Luguares d' Alem em Africa. E bem affi nom
poderam efcreuer na margem em ninhúa folha dos
feitos ninhúa razam, foomente poderam cotar, e
poer aquellas cotas, que o Juiz póde poer, fegun-
do Diífemos neíl:e Liuro, no Titulo Dos Ouuidores
da Gaja da. Sopricafam; e fazendo o contra iro feram
fufpenfos dous mezes de feus Officios, ou aueram
outra maior pena, fegundo a qualidade das pala..
uras, 36
Dos PROCUR. E DOS Q!JE o NOM PODEM SEER. 245

36 E MANDAMOS que todolos Prncuradores,que


em Juizo ouuerem de procurar por algüas partes,
ajam enformaçam das ditas partes de todo o feito
que ouuerem de procurar , affi fobre o libelo, como
contrariedade, como fobre todolos aniguos, que no
dito feito ouuerem de fazer, em modo, que o dito
Procurador nom faça artiguo alguü, que nom feja
contheudo nas ditas enformaçoês; as quaes enfor-
maçoés lhe feram dadas pelas ditas partes, ou por
Procuradores a que as ditas partes fezerem procu-
raçam pera a dita caufa, feita por Tabaliam das
Notas , ou por maõ das partes , fendo de qualidade
que a procuraçam feita por elle faça fee em Juízo.
Na qu-al procuraçam fe contenha, que lhe daa po-
der pera feguir a demanda , e poder fubeíl:abelecer
outro Procurador; e fe o mefmo Procurador, que em
Juízo ouuer de procurar, teuer fernelhante procura-
çam pera feguir a demanda , e fubeílabelecer, nom
auerá meíl:er enformaçam ; as quaes enformaçoes fe-
ram affinadas per as mefmas partes , ou per os Pro-
curadores, feitos da maneira que dito he, e nam
per os Procuradores que em Juizo nelles ouue-
- rem de procurar. E os que nom fouberem efcreuer,
façam-nos affinar per outras peífoas conhecidas ,
que as per feu mandado affinem. E quando o feito
for de algüa pefloa, que efl:ee fob adminiíl:raçam de
feu pay , ou tutor, ou curador, ou adminiíl:rador , o
adminiíl-rador, tutor , ou curador dará , e affinará
na enformaçam per fi , ou per outrem , pela manei..
ra
246 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. Tn.XXXVIII.

ra fobredita. E fe a demanda for d'alguü Concelho


ferá aílinada pelos Vereadores, ou per dous delles,
e polo Procurador do Concelho. E fendo a deman-
da d'algüa Vniuerfidade, aílinará .o Reélor I e o Sin-
dico della. E fe for d'alguú Cabido, ou de Moeftei-
ro , ferá a enformaçam affinada pela principal pef-
foa do tal Cabido, ou Moeíleiro, e pelo Sindico , ou
Procurador dos neguocios, fe o hi ouuer. E em as
demandas que pertencerem a algüas Confrarias 1
affinaram os Moordomos per fi, ou per outrem , fe
nam Couberem efcreuer, como dito he. As quaes
enformaçoês os ditos Procuradores teram em feu po-
der bem guardadas, pera as amo!lrarem aos J ulgua-
dores , quando lhes for mandado , affi em fe trau-
tando os feitos perante elles, como defpois de fe..;
rem fentenciados , pera fe veer fe os ditos Procura ..
dores procuraram os feitos verdadeiramente , e fe-
gundo as enformaçoes que lhes foram dadas. E fe
os Julguadores , que dos taees feitos forem Juízes•
acharem , que alguü nam feguindo a enformaçam
da parte procurou feu feito erradamente, e por fua.
culpa a parte recebeo dãno, faça todo emendar, e
paguar aa parte pelos bens do Procurador, que em
tal culpa for achado, fe a parte o requerer. E aalem
defto o Procurador , que por malícia nom feguir a
enformaçam da parte, ferá punido fegundo fua cul._
pa, e o erro que nifio cometer. E pofto que alguüs
feitos fe trautem , e determinem fem os Procurado-
res auerem as enformaçoes das partes, na maneira
que
Dos CoRREGEDORES · DAS CoMARCAS ET e. 247

que dito he , Auemos por bem , que as fentenças


que em taees feitos forem dadas nom fejam por iffo
anuladas , nem impedidas as execuçoes dellas. Em-
peró , porque os Procuradores tenham cuidado de
auerem as ditas enformaçoes das fuas partes , Man-
damos, que qualquer Procurador que em a Noffa
Corte, ou em a Noífa Cafa do Ciuel procurar > e
nom amoíl:rar a enformaçam da parte que dito he ,
fen<lo já o feito finalmente determinado, encorra
por -effe mefmo feito em pena de dez cruzados pera
as defpefas da Rolaçam em que procurar. E nos ou-
tros Luguares encorra em pena de cinco cruzados
pera os captiuos. Em as quaes penas os Auemos por
effe mefmo feiro por condenados huus e outros ,.
que nellas encorrerem, fem feer neceffario outra fen-
tença, nem declaraçarn. E a execuçam das ditas
penas fará qualquer Julguador,ou Julguadores, per-
ante quem os ditos Procuradores encorrerem em
cada hüa das ditas penas.

TI T U LO XXXIX.

Dos Corregedores das Comarcas , e do que a/eu Ojficio


pertence.

O CORREGEDOR da Comarca, tanto que for


em fua Correiçam, mandará aos Tabaliaes do Lu.
guar pera onde ouuer de hir , que lhes enuiem as
cul-
248 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÔRDEN.TIT.XXXIX.

culpas , querelas, e eíla_dos que teuerem de quaes ...


quer peíloas, que fejam obriguadas aa Juftiça •
.1 E Q!JANDO os ditos Tabaliaês nom teuerem
enuiadas as culpas ao Corregedor ante que venha
ao dito Luguar, por lhas elle nom mandar pedir,
Mandamos, que do dia que o dito Corregedor che-
guar ao dito Luguar a tres dias lhe dem loguo as
ditas culpas, as quaes hiram efcriptas, e affinadas
por fua maõ, e nom por letra d'outrem , e o dito
Corregedor as verá, e os que achar em taees culpas,
por que déuam feer prefos fegundo Noífas Ordena-
çoés , mandará por feus Aluaraes aos Juizes, e Al-
caides d 'aquelle Luguar, onde affi eíl:euerem os mal-
feitores, que os prendam. E fe alguü dos ditos mal-
feitores nom for prefo por culpa d'effes Juizes, ou
Alcaides, procederá o Corregedor contra elles como
for Dereito. E fe alguüs Tabaliaês lhe foneguarem
algúa querela , ou inquiriçam , ou qualquer outro
auto, que a bem de Juíl:iça pertenceífe , quando affi
o Corregedor lhas manda pedir, ou as nom der to-
das ao dito tempo dos tres dias , quando o Correge-
dor vier ao Luguar proceclerá contra elles a pena de
priuaçam dos Officios, e qualquer outra que por De-
reito merecerem.
2 E Q.YANDO mandar prender alguü malfeitor
por feu Meirinho fóra do Luguar , e Termo onde
eíleuer , nom lhe confentirá que leue os homens
de huú Concelho pera outro fem feu efpecial man-
dado.
3
Dos CORREGEDORES DAS COMARCAS ET e. 249

3 E TANTO Q.!TE cheguar a cada huü Luguar de


fua Correiçam , faberá fe he neceffario fazer-fe elei-
çam dos Juízes e Officiaes do Concelho, e terá nif-
fo a maneira que nas taees eleiçoés Temos determi-
nado, fegundo he contheudo neíl:e Liuro, no Titulo
Em que modo Je deu e fazer a Ele içam.
4 ITEM faberá pola inquiriçam , que cada anno
fe ha de tirar fobre os Officiaes da Juftiça, fe os
Juizes fezeram fuas Audiencias ordenadas nos fei-
tos dos prefos , como lhes he mandado, e fe defem-
barguaram feus feitos fem delongua. E fe manda.
ram foltar alguüs prefos nom apellando em feus fei..
tos por parte da Juftiça, em aquelles cafos em que
fam obriguados a apellar, pofto que a parte nom
apelle; e em tal cafo elle apcllará por parte da Jufri-
ça pera os Julguadores a que pertencer; e contra
os que achar culpados, affi em eíl:as coufas, como
em outras quaesquer que a feus Officios pertençam ,
proceda como for Dereito.
5 E MANDARA' apreguoar, que venham perante
elle todos aquclles que fe fentirem agrauados dos
Juizes , Procuradores , Alcaides, Tabaliaes, ou de
poderofos , e d'outros quaesquer, e que lhes fará
comprimento de Dereito. E que affi venham peran-
te elle todos os que ouuerem demándas , e que lhas
fará defembarguar; e dado affi o preguam deue cha-
mar os Juizes d'aquelle Luguar, e poe-los a par de
fi , e fazer-lhes pregunta quando vierem as partes
que feitos t,e m perante elles, por que os nom defpa-
L11. I. li cham •
250 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. XXXIX.

cham, mandando-lhes que loguo defembarguem


feus feitos.
6 E ELLE nom conhecerá por auçam noua, nem
auocará pera fi feito alguü Crime, nem Ciuel ; fal-
uo dos feitos, e caufas dos Juizes, e Alcaides, Pro-
curadores , Tabaliaes, e de Fidalguos, e dos Aba-
des, e dos Priores , nos cafos que a jurisdiçam de-
reitamente pertence a Nós , os quaes por Noffas Or-
denaçoes fam declarados; e bem affi de quaesquer
outras pe0oas poderofas , que ao Corregedor pare-
cer, que os Juizes da Terra nom faram delles in-
teiramente juftiça ; e bem affi dos feitos e caufas em
que os. Juizes da Terra forem fufpeitos, porque de
todos eíl:es fobreditos poderá conhecer , em quanto
efteuer no Luguar, affi por auçam noua • como auo...
cand0-os pera fi, fe lhe parecer neceífario; e eílo, po-
fto que os Juizes da Terra diguam , que faram dei.
las dereito, quer fejam Autores, quer Reos. E quan-
do fe o Corregedor quifer partir do Luguar, e Jul-
guado, onde polo dito modo conhecer dos ditos fei-
tos, leixará todos os ditos feitos, de que polo dito
modo conhecer no dito Luguar, e Julguado,. ·aos
Juízes da Terra, e fendo fufpeitos, a huü homem
bom d'effa Villa ; porem fe ao Corregedor parecer,
que alguüs dos taees feitos fam de taees peffoas que
os Juízes da Terra, ou aquelles a que os deuiam lei..
xar , nom poderam fazer delles jufüça , leualos-ha
comfiguo onde quer que for , atee acabar de nelles
dar liuramento ; faluo fe o menos poderofo dos liti-
guan..
Dos CoRREGEDORES DAS COMARCAS ET e. 251

guantes, quer feja Autor, quer Reo, quifer antes,que


o feito fique na Terra , porque entonce o leixará na
Terra. E eíl:o nom auei-á luguar nos feitos dos Jui-
zes , e Procuradores, e Tabaliaes, e Alcaides pe..
quenos, e outros Officiaes de Juftiça do mefrno Lu-
guar, porque eftes ficaram na Terra• poílo que o
Corregedor os queira comfiguo leuar, e ainda que
polas fuas partes contrairas lhe feja requerido que
os leuem comfiguo ; e quando o Corregedor tornar
por o dito Luguar , fe achar que alguús d'aquelles
feitos nom fam defembarguados por culpa ou malí-
cia dos Juizes, a que os leixar, procederá contra
elles como lhe parecer jufiiça.
7 ITEM nom conhecerá por apellaçam em ninhuu
feito. E conhecerá dos eftormentos d'agrauo , ou
cartas teftemunhaueis , que da Correiçarn a elle vie..
rem, de que os De[embarguadores do Agrauo, ou
o Corregedor da Corte dos feitos crimes podem co.
nhecer. E affi no Luguar onde efteuer poderá co.
nhecer dos ditos agrauos, mandando leuar os feitos
perante fi , e em todos os ditos agrauos dará deter-
minaçam , fe he agrauado. ou nom he agrauado ; e
des que nos ditos agrauos der determinaçarn, torna..
rá ou mandará tornar os ditos feitos aos Juízes pera
os proceffarern. Porem nom conhecerá de ninhuüs
agrauos de injurias verbaes, nem de que por Nof..
fas Ordenaçoes he determinado, que pertence aa
Camara fem apetlaçam nem agrauo.Nem conhecerá
de feitos alguüs, que a elle venham por maneira
li 2 d'a..
252 O PRJMEtRo L1v. DAS ÜRl'.>EN. TIT. XXXIX.
d'agrauo , de quaesquer fentenças definitiuas que
polo Juiz da Terra forem dadas, pera tomar conhe-
cimento dos merecimentos da caufa, e determinar
fe foi mal, ou bem julguado. Mas poderá conhecer,
e determinar fe he cafo d'ápellaçam , quando foo-
mente polos Juízes for deneguada, e mandará ao
Juiz que lha receba, e affine termo aas partes a que
a vam feguir perante os Julguadores, a que o conhe-
cimento della pertencer; e quando os agrauos forem
de o Juiz nom receber apel12çam da fentença inter-
lucutoria, poflo que tenha força de definitiua, guar.
dará o que Diremos no Terceiro Liuro, no Titulo
Das apellaçoes das fentenças interlucutorias. E quando
os agrauos forem de o Juiz receber apellaçam, quer
de fentença definitiua , quer de interlucutoria aa par-
te contraira , o Corregedor nom cqnhecerá de tal
ellormento , ou Carta teíl:emunhauel ; porque em
tal cafo o conhecimento do dito agrauo pertence
aos Defembarguadores do Agrauo , e o Corregedor
nom tomarâ delle conhecimento.
8 E MANDARA' prender os que deuem feer pre-
{os por as culpas que lhe forem dadas, e aquelles
que forem prefos remeterá aos Juízes com fuas que-
relas, denunciaçois, e enformaçoés, mandando-lhes
· que os defembarguem com feu Dereito; faluo fe fo-
rem das peífoas fobreditas, de que ellc ha de tomar
conhecimento • como dito he , e dee-lhes por efcri.
pto quantos , e quaes, e por que razam fam prefos •
pera. Caber o dcfpacho, e deligencia dos Juizes. E os
01.l•
Dos CoRREGEDOREs DAS CoMARCAs ET c. 253

outros que nom prender em quanto hi for, dalos-ha


em efcripto aos Juizes daquelle 'Luguar, perante
huü, ou dous Tabaliaes, e mande-lhes que os pren-
dam, e ouçam, e defernbarguem com feu Dereito,
e mande aos Tabaliaês, que fe os Juizes defpois os
nom quiferem prender, nem trabalhar por iífo, fa-
bendo onde fam , o efcreuam affi em feus Liuros ,
de guifa, que por elles feja elle,ou oNolTo Correge-
dor da Corte, quando Formos por hi, certos da obra
que os Juízes fobre eíl'o fezeram, pera lhes feer
eftranhado fegundo fuas culpas.
9 E os ditos Corregedores nom mandaram pren-
der pdfoa algüa , faluo por os Meirinhos, e Alcai-
des, ou polos Juízes dos Luguares. E quando man-
darem prender algüas peffoas por feus Aluaraes •
hiram declarados nelles os nomes d'aquelles, que ou-
uerem de feer prefos, e fem a dita declaraçam nom
os affinaram. Peró fe pera moor fegredo, e feguran-
ça das coufas da Juftiça , paffarem Aluaraes • que
prendam a pelfoa , ou pefioas que lhes amofirar , ou
nomear, o que o tal Aluará lhes aprefentar , .leuará
todauia fempre outro Aluará fecreto, em que vaa
declarado o nome, ou nomes dos que mandam pren-
der• o qual ferá aprefentado ao Alcaide, ou Meiri-
nho ao tempo da prifam, e polo primeiro Aluará,
que fem nome lhes for dado, poderam bufcar o que
ouuerem de prender ; e porem nom o prenderam
realmente , fem verem o outro Aluará , em que o
nome vaa declarado. Porem no dito Aluará, que vai
fem

26
254 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN.TIT. XXXIX.
fem nome, fará mençam como a parte leua o outro
Aluará, em que o nome vai declarado; e fe por AI ..
uará fem nome prenderem, pague cada huü que
o fezer dez cruzados pera o Efprital de Todos os
Sanltos da Noífa Cidade de Lixboa, e a parte que
leuar o tal Aluará fem nome, fem fazer rnençam do
outro Aluará em que o nome vai declarado, pague
outros dez cruzados , e o Efcriuam , ou Tabaliam
que o fezer, outros dez pera o dito Efprital, e mais
cada huü delles ferá degradado huü . anno pera
Alem , e fe for peífoa em que caiba pena d'açoutes,
feja açoutado; · e o Corregedor que tal Aluará pafiar
fem nome , e fem outro em que feja declarado o
nome do que ha de feer prefo , quando o cafo for
de tal qualidade em que fe requeira femelha.nte fe-
gredo , paguará ao que por tal Aluará fem nome for
prefo cem reaes por cada dia que jouuer prefo, e
mais ferá fufpenfo do Officio em quanto Noífa
Merce for : e efta Nofia Determinaçam ~cremos
que fe cumpra, e aja luguar nem foomente nos
Corregedores das Comarcas, mas tambem nos Cor-
regedores da Corte, e Ouuidores, e quaefquer Def-
ernbarguadores d'ambas as Caías, e nos outros Jul-
guadores , e peífoas que poder e aultoridade te-
nham pera mandarem prender.
10 E EM cada huü Luguar de fua Comarca
mandará apreguoar, que ninhuü encubra nem co-
lha degradado , nem ladram , nem outro malfeitor ,
nem receba furto alguü em fua cafa , e que aquelle
que
Dos CoRREGEDORES DAS CoMAllCAS ET e. 2 55

que o fezer , lhe ferá dada aquella pena que por


Der eito merecer.
II ITEM faberá, fe os Juizes tem cuidado de
faber fe os Tabaliaes guardam os Artiguos, que da
Chancelaria leuaram e juraram ; e achando que os
ditos Juizd em efto fam negrigentes, proceda con-
tra elles fegundo fuas culpas , e i[o rnefmo contr~
os Tabaliaês que achar culpados, dando-lhes aquel-
las penas que em Noflas Ordenaçoes, e em os ditos
Arciguos , e Regimento da Chancelaria fam con.
theudas.
12 ITEM faberá fe ha hi competiçoes , ou ban-
dos em cada huú d'aquelles Luguares em que ha de
fazer correiçam, e quaes fam os principaes d'elles,
e fe deílas competiçoês, ou bandos f e feguem pele-
jas, voltas, mortes, ou outro mal, e dãno ; e auen-
do-as hi, procederá contra elles como for Oereito,
fegundo o cafo for , e aalem diífo , fendo de quali-
dade que No-lo deua fazer faber, No-lo fará faber.
13 ITEM faberá fe os d'aquelle Luguar, onde
fezer correiçam • recebem agrauos dos Almoxarifes,
e Efcriuaes , ou dos Porteiros, Sacadores , ou d'ou-
tros quaefquer Officiaes , que ajam de tirar e pro-
curar Noffos Dereitos , agrauando o pouo como
nom deuem ; e fe for por razam de feus Offic-ios ,
digua-lhes que o nom façam, e perfeuerando elles ,
faça-lho correger ( nom conhecendo porem dos fei-
tos) e defpois de corregido faça-o faber a Nós.
E efto fe entenda, quando no Luguar onde efto
acon.
25 6 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XXXIX.
acontecer nom efteuer Veedor da Fazenda , ou
Contador a que eílo pertence ; porque fe hi efieuer
lhe notificará eíl:o que fe aíli faz , que proueja a ello
como feja emendado.
14 OuTRO s1 deue faber fe alguüs poderofos ou
outras pefioas embarguam Noífos Dereitos , ou os
retem fem razam • e fará loguo que fe arrecadem
pera Nós.
1 5 ITEM fe trabalhe mandar em todos os Lu-
guares da Correiçam , que fe façam as bemfeitorias
pubricas , conuem a faber, calçadas , pontes , fon-
tes , chafarizes , poços , caminhos , e caías dos Con-
celhos , picotas , e outras quaefquer bemfeitorias •
que forem neceífarias , mandando loguo aíli fazer
aquellas que comprir de nouo ferem feitas, como
repairar as que repairo ouuerem meíler , o que todo ·
faram das rendas do Concelho; e quando hi nom
ouuer dinheiro do Concelho , e ouuer neceffidade
d'algüa finta, affi pera o dito cafo, como pera ou-
tros que lhe pareça neceffario, No-lo faram faber •
pera Nós lhe Darmos a Prouifam que Nos bem pa-
recer ; porque fem Noffa Prouifam os ditos Corre-
gedores nom daram Carta , nem licença pera fintar
cm ninhuü cafo. Porem fe a neceffidade for tal que
fe poffa fazer com quantia atee quatro mil reaes •
em tal cafo o dito Corregedor poderá dar licença
pera a dita finta atee a dita quantia• fem mais viir
a Nós.
16 ITEM fará aproueitar as vinhas , e herdades •
como
Dos CoRREGEDORES DAS CoMARCAS n e. 257

como fentir que he proueito da Terra. E iffo mermo


conílrangerá aquellas peffoas que fam pera feruir ,
e nom tem tanto de feu que deuam d'ello feer efcu-
fados, que viuam com amos por fo!dadas. E pera
os feruidores nom terem razam de fe efcufar de
feruir , e os bens de cada Luguar ferem aproueita-
dos , e os moradores nom andarem em demandas ,
guaíl:ando o que tem, mande aos Juizes quedem
os mancebos a aquellcs que os mefter ouuerem.
17 ÜuTRO sr nos Luguares em que for necelfa-
rio, e pera ello forem defpoftos , mandará poer
quaefquer aruores de fruito, que fe em elles pode-
rem dar, conuem a faber, oliueiras, vinhas ,e amo-
reiras fegundo a qualidade da terra, e affi fará en-
xertar todos os azambugeiros.
J 8 ITEM deue faber em cada Luguar das Terras,
por onde andar de fua correiçam , achando alguüs
Luguares defpouoados , por que fe defpouoararn ,
e por que modo fe milhor poderam pouorar , e fa-
çam-no faber a Nós, pera Fazermos fobre ello, o
que for Noífo feruiço.
1 9 E SE alguüs Concelhos ham demandas , ou
contendas antre fi , deue trabalhar quanto poder de
os concertar, e aviir •; e nom podendo, faça-o faber
a Nós, e enuie-Nos dizer o feito todo como he , e a
razarn donde nace, e o dãno que defto pode recre-
cer , e aquello que entender que he bem de fe fazer•
e a razam que o a iífo moue.
20 ITEM entrará em os Cafielos que tem os
Li'll. I. Kk AI-
258 O PRIMEIRO Ltv. DAS ÜRDEN.Tn.XXXJX.
Alcaides, affi Noffos , como das Ordens , e verá
como eftam baflecidos tambem d 'armas, como das
outras coufas , que lhe forem neceffarias , e verá fe
as torres, e muros ham mefter de fe corregerem , e
repairarem ; e deue iffo mefmo veer, e faber das
cercas das Villas I e todo o que affi achar , No-lo
faça faber : e Mandamos aos Alcaides , que lhe lei-
xem veer as coufas fobreditas.
2r ITEM mandará, tanto que for no Luguar I aos
Tabaliaes, e Juízes I que lhe moílrem as inquiri-
çoês deuaffas que hi ouuer , e deue-as veer loguo ;
e fe alguüs dos contheudos em effas inquiriço~s fo-
rem liures polos Juízes do Luguar, faberá como os
defembarguaram , e fe achar que o tal liuramento
foi por conluio, ou por falfa proua, falo-ha corre..
ger , em maneira que fe faça loguo Dereito, e nom
pereça Juftiça ; e achando que os Juizes ou outros
alguüs fam culpados em effe conluio, por a fenten-
ça feer dada por peita , ou afeiçam , ou por outro
alguu modo maliciofamente I proceda contra elles
fegundo a culpa de cada huú , e acerca de todo o
que dito he terá a maneira que Diremos no ~in-
to Liuro , no Titulo Se o que for acufado por algu'ü.
crime &e.
22 ITEM f~berá as prifoês de cada huü Luguar,
fe fam taees como cumpre, de guifa, que os prefos
poffam hi feer bem guardados; e fe taees nom fo ...
rem , deue-as mandar fazer a aquelles , que forem a
ifio obriguados , tambem aos Noflos Officiaes , co-
mo
Dos CORREGEDORES DAS COMARCAS ET e. 259
mo a outros quaesquer, e fazer que os homens, que
ouuerem de guardar as prifoés , fejam bons, e de
boa fama , e arreiguados na Terra, e de bons cufiu-
mes , e deue-os auifar, que guardem muito bem os
prefos que lhe derem , e que fejam certos, que fe
lhes fogirem , lhes ferá dado por ello graue pena ;
a qual lhes ferá dada aos que o affi nom fezerem ,
corno por Dereito, e Noífas Ordenaçoes he deter-
minado.
23 OuTRo s1 verá o Corregedor os Foraes de
cada huü luguar, pera veer fe Nos tomam alguú de-
reito que Nos pertença auer por elles, ou fe lhes Hi-
mos contra feu foro. Outro fi deue faber fe Nos to-
mam No(fos dereitos , que Deuarnos auer tambem
das herdades, como das Jurisdiçoes, vfando dellas
como nom deuem, ou mais do que deuem, fegundo
Diremos no Segundo Liuro, no Titulo De como as
Raynhas e Infantes , e corregerá o que por fi poder ,
e o ai que por fi correger nom poder, enuie-no-lo
dizer, e iffo mefmo faça, fe Nós "lhe Leuarmos al-
gúa coufa do feu 'fem razam.
24 E DARA' o Corregedor todas as Cartas de fe-
guro a aquelles que lhas pedirem em fua Correi-
çam ; faluo em cafo de morte de homem , ou mo-
lher, ou de traiçam , aleiue, fodomia, moeda fal-
fa , ou tirada de prefos da Cadea , ou ofenfa ; ou re-
fül:encia feita a Official de Juftiça, que pertencem
ao Corregedor da Corte , ou de erros de. Tabaliam
que fe digua teer cometidos em feu Offido, e d'ou-
Kk 2 tros
260 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. XXXIX.
tros Officiaes , de que o conhecimento pertencer ao
Chanceler Moor. ·
2. 5 E AS Cartas de feguro neguatiuas de feridas•
ou pancadas , de que fiquem inchaços , ou laida-
mento, nom dará; faluo paffados trinta dias, conta-
dos do dia que o maleficio for cometido , e mande
ouuir os feitos deltas aos Juizes das Terras.
26 E PERA faber fe os Juizes defembarguam os
feitos dos feguros como deuem, cada huü Correge-
dor terá huü liuro, em que ponha todas as Cartas
de feguro que der pera os Juizes de cada Luguar,
e o dia em que ham de parecer perante elles , pera
veer quando for per effes Luguares, fe os que as di-
tas Cartas guanharam pareceram perante os Jui-
zes em e[es feitos.
27 E oEFEND!.Mos a todos os Corregedores das
Comarcas, e aos Ouuidores que luguar de Correge-
dores teuerem , que nom dem em cafo alguü Carta
de imizade; nem Cartas de emancipaçam aos me-
nores de vinte e <:inco annos; e fe as derem, ellas
feram em ft ninhüas, e de ninhuü efeéto • e o Cor-
regedor, ou qualquer outra Juíliça, que cada hiia
das ditas Carta der , encorrerá nas penas contheudas
nefte Liuro, no Titulo Dos Defemharguadorts do Paa-
ço , no parrafo final. ·
2 8 OuTRO s1 terá cuidado de fabcr, que Taba-
liaes ha em cada hüa Villa, e Julguado de fua Cor-
reiçam, e fe fabem bem feu Officio, ou fe vfam
dellc como deucm , e fe fam necclfarios mais Taba-
liaês
Dos CoRREGlDOREs DAS COMARCAS ET e. 261

Jiaês dos que hi ha ; e achando que alguü por feu


máo ler, e efcreuer, ou outra inhabilidade, nom he
pertencente pera o tal Officio feruir ,o fufpenda del-
]e, e lhe affine termo a que pareça perante o Noffo
Chanceler Moor , ao qual enuiará dizer feus defe-
étos , e a caufa per que o fufpendeo, pera o dito
Chanceler Moor o examinar, e prouer niffo como
for Dereito ; e fe o dito Corregedor achar que alguú
vfa mal de feu Officio , proceda contrá elle , e lhe
dee aquella pena que por Dereito merecer, dando
apellaçam e agrauo pera o dito Chanceler Moor,.
nos cafos que deue. E achando que em alguü deffes
Luguares fam neceffarios mais Tabaliaes , No-lo
faça loguo faber , declarando-Nos alguas peffoas ,
que em effes Luguares ouuer pera iffo mais perten-
centes , pera Nós fobre ello Prouermos como Nos
bem parecer; e eílo fará o dito Corregedor affi nas
Noffas Terras , como nas das Ordens, e d'outras
quaefquer que jllrifdiçoes, e Tabaliados reuerem ,
onde por bem de feu Officio deue entrar.
29 E o Corregedor norn poerá em feu luguar
Ouuidor fern muita neceffidade, e auendo tal necef-
fidade poderá poer peffoa pera ello pertencente por
efpaço de huií mez fcomente em cada huü anno;
faluo quando for ocupado em coufas de Noffo fer-
uiço fóra de fua Correiçam, porque entam o poerá
em quanto durar fua ocupaçam por Noffo feruiço ;
e fe aalem do dito mez teuer necefiidade tal, fem
por Nós feer ocupado, pera por fi nom poder feruir,
em
262 OPRIMECRO L1v. DASÜRDEN. T1T. XXXIX.
em tal cafo No-lo fará faber , pera Poerrnos quem
por elle firua , em quanto fua ocupaçarn e neceffi-
dade durar. E em quanto o dito Ouuidor teuer o
tal carreguo , nom tomará o Corregedor conheci-
mento de feito, nem coufa algüa que aa Correiçam
pertença ·, affi eílando hi, como fendo fóra, ou
hindo; ou tornando ; e fazendo o contrairo de qual-
quer coufa contheuda neíle parrafo, ferá fufpenfo
do Officio atee Noífa Merce, e mais paguará vinte
cruzados , ametade pera a Arca da Piedade, e a ou-
tra metade pera quem o acufar.
30 E PERA o Corregedor fazer comprir eílas
couías, e as outras que a feu Officio pertencem , e
pera outro fi faber fe os Juízes , e outros Officiaes
da Terra cumprem , e guardam aquello, que lhes
he mandado, vfará de feu Officio , e andará por
cada huü Luguar de fua Correiçam no anno hüa
vez ao menos , e nom efrará nos Luguares grandes
mais de trinta dias ; e nos outros mais pequenos
atee vinte dias, faluo fe pera ello ouuer No{fo efpe-
cial Mandado, ou fe hi acontecer tal cafo, que por
bem de Juftiça feja neceffario eftar hi alguü mais
tempo.
31 F ARA' efcreuer a huü Taba]iam , ou Efcri-
_u am que com elle andar, todas as fentenças que der,
e todas as outras coufas que mandar , affi cm feito
da Jufliça , como da guouernança da Terra, pera
Nos dar recado do que fez , e como o fez , ou a
aquelles a que Nós Mandarmos. Ao qual Tabaliam. ,
ou
Dos CoRREEGDORES O.AS CoMARCAS ET e. 263

ou Eícriuam Mandamos , que outro fi eícreua ,


quando o Corregedor entrar em cada hüa Villa, ou
Luguar , e quantos dias hi eíleuer , e quantos feitos
defembarguar.
32 OuTRO sI verá fe os Juizes que farn por Nós
pofios em effes Luguares , ou . pofios polos Conce-
lhos, e confirmados por Nós, ouuem os feitos ciueis,
e crimes , e os deíembarguam fem detença como
por Nós he mandado; e fe achar que nom fam de-
ligentes, eftranhe-lho, e moftre-lhes como façam ,
de guifa, que fe faça como deue.
33 E ASSI faiba o Corregedor em qu?l quantia
os Juízes, e Vereadores lcixaram a~ rendas do Con-
celho, e quanto rendiam ora ; e fe menos renderem,
faiba qual he a razam, e achando que he por cul-
pa dos ditos Officiaes , proceda contra elles como
por Dereito deue.
34 O CoRREGEDOR deue trazer taees homens,
que nom façam dãno na Terra ; e nom fendo taees,
deite-os de fua companhia, e lhes dee aquelle cafti-
guo que merecerem.
35 OuTRo s1 faberá fe os priuilegiados apou-
fentados por hidade , doença , ou aleijam , fe o fam
fem malicia , e fem enguano ; e fe achar que nom
fam apoufentados como deuem , faça-o correger ,
nom confentindo vfar do tal priuilegio, que mali-
ciofamente foífe auido.
36 htM fe nos Luguares de fua Comarca ou-
uer alguüs Creliguos reuoltofos, e traueflos, faça-o
fa-
264 O PRIME.IRO Lrv. DAS ÜRDEN. Tu. XXXIX.
faber aos Prelados pera que os caíligucm ; e nom
o querendo fazer , No:..lo notificará pera a iílo Pro ..
uermos como Nos bem e juftiça parecer.
37 ITEM cada huü Corregedor cm fua Comarca
faiba em cada huü mez por inquiriçam , affi por os
p,efos , corno por outros , fe os Carcereiros leuam
peitas; e fe achar alguús culpados, faça-os .prender
e fazer delles Dereito.
38 E PORQYE alguüs malfeitores fe acheguam a
algüas peffoas poderoías , e fe acolhem a fuas caías,
por as Juíl:iças os nom prenderem, nem fe fazer
delles corriprimento de Dereito, Mandamos aos
Corregedores, que fejam bem deligentes fobre ello,
e fe trabalhem elles , e os Juízes de os prender em
quaefquer Luguares , e cafas onde forem achados,
guardando acerca defto a Ordenaçam do ~into
Liuro , no Titulo ftue os Fidalguos e Prelados nom
acoutem os malfeitores.
39 OuTRo s1 Mandamos , que faibam por
inquiriçam nos Luguares onde ha Moeíleiros de
Donas , fe alguüs homens tem nelles conucrfaçam
deshoneíla , ou fam infamados com algüas Donas
delles , e defenda~lhes que nom vam mais a elles ,
de noite , nem de dia; e os que acharem que laa
mais vam defpois da dita defefa , fejain degradados
õeífa Correiçam, atee Noffa Merce; e fe forem de
pequena condiçam mande-os prender, e enuie-Nos
a defefa que lhes fezeram , e as inquiriçoês que te-
uerem contra ellcs , pera lhes Darmos a pena que
Nof..
Dos CORREGEDORES DAS COMARCAS [Te. 265
Nolra Merce for, e leixem mandado aos Juízes dos
Luguares, que aili o façam. Peró fe fe por proua
certa acharem alguüs culpados com alguas Freiras•
e Donas deffes Moeíl:eiros, procedam contra elles ,
dando-lhes as penas que por Noffas Ordenaçoes me-
recerem .
. 40 E os Corregedores, e Ouuidores dos Meflra-
dos , e de quaefquer outros Senhores de Terras , e
Fidalguos, nom conftrangeram os Concelhos de
fuas Comarcas , que dem camas de graça aos Pro-
curadores , e Efcriuaes , que com elles andarem 1
nem que lhes leuem mancimentos de huü luguar a
outro, nem lhes tomem os ditos mantimentos por
menos do que valerem comümente na Terra, nem
confentam , que lhe feja tomada palha , nem lenha
contra fuas vontades ; e os que cada húa das ditas
coufas ouuerem meíl:er, comprem-nas aas vontades
d'aquelles que as venderem, fegundo o eílado da
Terra. Peró as poufadas Mandamos que fejam dadas
de graça aos fobreditos Officiaes , conuem a faber ,
fe forem cafados hüa poufada a cada huü , e fe fo_
rem foltciros a dous hüa poufada ; e quando for ne-
ceffario mandar trazer mantimentos de fóra , nom
os mandaram viir , faluo polos Officiaes do luguar ,
e fcram foomente de pam , e vinho, e carnes que fe
vendam a pefo, e a talho, e outras algúas nom.
41 OuTRO SI nom conftrangeram peífoas algüas
que lhes dem beílas d'albarda pera fuas carreguas •
nem dos Officiaes que com elles andarem , nem
Li'TI. L Ll pera
266 o PRIMEIRO LIV. DAS ÜRDEN. T1T. XXXIX.
pera outras peífoas; faluo aquellas que cuflumam a
feer aluguadas, as quaes paguaram fegundo cuíl:u-
rne da Terra.
42 E Q.YANDO o Corregedor cheguar nouamen-
te aa fua Correiçam, tirará inquiriçam fobre o Cor-
regedor que ante elle foi em cada huü luguar , fe-
gundo o modo , e fórma contheuda no Titulo Em
que modo ha de enquerer o Corregedor, fe por outra pef-
foa nom for primeiramente tirada por Noffo cfpe-
cial Mandado.
43 E BEM Assr cnquererá quando cheguar a ca-
da huú luguar de fua Correiçam , hüa foo vez em
cada huü anno, fobre os Juízes Ordinarios , Taba-
)iaês, Alcaides, Juiz dos orfaõs, Coudeis, e quaef-
quer outros Officiaes, affi da Jufüça, como dos Con.
celhos dos Luguares de fua Correiçam , por onde
andar, pera faber fe vfam de feus Officios como de-
uem , e cumprem o que fam obriguados , e o que
por feus Regimentos lhes he mandado, e na dita in-
qu iriçam nom preguntará foomente polos erros, e
culpas, que os ditos Officiaes teuerem cometidas
naquelle anno em que tira a inquiriçam, e no outro
atrás , e mais nom , e contra os culpados proceda ,
e os puna como por Dereito deue,dando apellaçam
e agrauo nos cafos que o Dereito outorgua. E qual-
quer Corregedor que as ditas inquiriçoês nom tirar,
quando aos Luguares de fua Correiçam cheguar ,
pera hi fazer correiçam, nom a tendo já tirada no
dito Luguar no dito anno , feja fufpenfo atee Noffa
Mer-
Dos CoRREOEDOR!S DAS CoMARCAs ET e. 267

Merce. e mais pague dez mil reaes pera quem o


acufar.
44 E PERA Q!JE dos Corregedores. que acabam
o tempo de feus julguados, fe poffa mais breuemen-
te fazer Dereito , fe alguas peffoas de fuas Correi-
çoés os quiferem demandar, Mandamos , que 'tanto
que os Corregedores nouos entrarem a feruir feus
Officios, os Correge<lores paffados fe vam aos Lu-
guares onde os nouos efteuerem , e eíl:em hi conti-
nuadamente huü mcz, pera poderem hi fcer citados.
e demandados por quaefquer pdfoas que contra el-
les entenderem teer dereito , por algúas coufas que
lhe tenham feitas , ou tomadas em tempo de feus
Julguados; e o Corregedor que tal refidencia nom
fezer , encorra em pena de cincoenta cruzados pera.
Noffa Camara, cm que o Auemos por condenado, e
o Corregedor nouo o mande loguo por elles penho-
rar , e executar, e mais paffará Carta pera lhe feer
tomada foa menage , onde quer que elleuer , pera
fobrc ella hir eftar aa dita refidencia. E efto norn
auerá luguar, quando o dito Corregedor teuer já fei-
ta fua refidencia perante alguü Defembarguador
por Noffo Mandado,fegundo Diremos neíl:e Liuro_.
no Titulo Das refidencias.
45 OuTRo s1 nom leuaram na fua Cadea os pre-
fos que acharem nas Cidades, Villas, e Luguares,
pofto que de feus feitos conheçam, antes os leixa-
ram nos ditos Luguares onde forem prefos , faluo
quando os crimes forem caces , ou os malfeitores de
LI 2 tal
268 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XXXIX.

tal qualidade de criaçam, ou parentefco, de que fe


veriffimelmente efpere poderem feer tirados, ou fo-
gir; porque neftes cafos Mandamos, que os leixem
nos Cafte!Qs , ou Cadeas fortes dos Luguares mais
comarcaõs , fe no Luguar tal Cadea , ou Caíl:elo
nom ouuer em que feguramente po1fam ficar. E
Mandamos aos Alcaides dos Caftelos • e Carcereiros
das Cadeas , que os recebam ; e os Carcereiros que
os nom receberem paguem quatro mil reaes pera
corregimento das Cadeas da Correiçam , das quaes
penas o Chanceler de qualquer Correiçam ferá exe-
cutor , fob pena de perder o Officio, e o Alcaide que
outro fi nom receber os ditos prefos feja loguo em-
prazado , que a vinte dias venha em peffoa aa Noffa
Corte, pera lhe feer dada aquella pena que por De..
reito merecer.
46 E OUTRO sr Mandamos a todos os Correge-
dores das Comarcas, e a quaefquer outros Julgado-
res, que tanto que os feitos dos prefos forem fen-
tenceados, de que as apellaçoés deuam viir aa Nof-
fa Corte , os façam tresladar , e çarrar , e affdar, fe.
gundo Diremos no Terceiro Liuro, no Titulo Das
ape!laçoes, e fem aguardarem o defpacho dos Cami-
nheiros, as enuiem por quaefquer peífoas fem fu ..
fpeita, que lhes por parte do prefo forem aprefenta-
das, tomando-lhes primeiro juramento, que bem ,
e fielmente as traguam , e aprefentem em Noffa Cor-
te aos Officiaes a que deuem feer entregues, e le-
uem delles feus conhecimentos ; e quando as feme-
lhan-
Dos CoRREGEDOREs DAS COMARCAS iT e. 269
lhantes peffoas as trouxerem , os Caminheiros nom
leuaram couía algúa, e o Corregedor da Comarca>
ou quaefquer outros Julguadores que o contheudo
nefte parrafo nom comprirem , fejam fufpenfos dos
Officios atee Noífa Merce, e paguem dez cruzados.
ametade pera quem o acufar, e a outra pera o prefo.
47 E MANDAMOS, que os ditos Corregedores
cumpram , e guardem todo o contheudo em efte Ti-
tulo, e em todos os Capitolos nelle cont heudos , e
nom o comprindo , e guardando , aueram aquella
pena , que a Nós bem parecer, fegundo a qualidade
dos cafos ; faluo nos Capitolos em que loguo expref-
famente lhes he pofta certa pena , porque nefl"es ferá
nelles executada a dita pena em cada huü delles de-
clarada.
48 E TENDO algui:ís Senhores de Terras Noffo
priuilegio, ou dos Reys paffados , por Nós confirma-
do , pera que o Corregedor da Comarca nom entre
em fuas Terras, ninhuu Ouuidor dos taees Senhores
nom vfará nas ditas Terras de correiçam >foomente
vfará do que por fuas doaçoes , ou priuilegios lhe ex-
prclfamente for outorguado, fegundo fórma de Nof-
fiu Ordenaçoês. ·

TI-
270 O PRtMEIRo Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. XL.

TITULO XL.

Dos Ouuidores, que por Nós Jam pojlos em alguüs


Luguares.

Q U ANDO pofermos por Ouuidor d'algua Terra


alguü Juiz de Fóra, pofio por Nós em algüa Cida-
de , ou Villa, vfará de fua Ouuidoria na fórma fe-
guince.
1 ITEM quando eíleuer no Lugua·r da fua Ouui-
doria conhecerá de todo o que conheceria o Corre-
gedor da Comarca, e vfe de todo o que o dito Cor-
regedor por feu Regimento hi pode vfar, e terá a
alçada que tem no Luguar de feu Julguado , e nom
agrauaram delle pera o Corregedor, [e nom pera on-
de poderiam agrauar do Corregedor ; faluo quando
elle conhecer por auçam noua antre partes , nos ca-·
fosque por feu Regimento pode, porque cntam po-
deram delle. agrauar , nom cabendo em fua alçada ,
ou pera o Corregedor, ou pera onde poderiam agra ...
uar d'ante o Corregedor. E nom eílando o dito Ou-
uidor no luguar da Ouuidoria, as partes que quife-
rem agrauar d'ante os Juizes do dito Luguar pode..
ram agrauar pera elle I ou pera o Corregedor, qual
as partes quiferem. E eílando no dito Luguar nom
poderam agrauar fe nom pera ellc. E quando o Cor-
regedor el\euer no dito Luguar , o Ouuidor nom
vfará do dito carreguo em coufa algüa.

TI-
EM Q.YE MODO HA DI INQ.: o CoRR. NOV, ET e. 271

TITULO XLI.
Em que modo ha de enquerer o Corregedor nouo fabre o
Corregedor da Comarca pajfado ,. quando acaba o tem-
po de /eu Ofjicio.

PERA Sabermos corno cada huú C'orregedor víou


de feu Officio, e fegundo feus merecimentos o Gua-
Jardoarmos, ou Punirmos por feer aos outros exem-
plo , Mandamos , que tanto que o Corregedor en-
trar na Comarca, e tomar poffe de feu Officio, que
)aguo comece tirar inquiriçam fobre o Corregedor
paffado, como dito he no Titulo antes do preceden-
te; a qual acabará , e enviará ao Regedor atee huü
anno a mais tardar, fob aquellas penas que lhe no
dito Titulo fam pofias , quando nom tirar inquiri-
çam fobre os Officiaes , a qual tirará na maneira fe-
gúinte.
1 PRIMllRAMENTE começará no Luguar onde
primeiro entrar a fazer Correiçam , preguntando lo-
guo por juramento os Officiaes da Correiçam, e affi
os Juizes , e Officiaes que foram o anno paífado, e
os Tabaliaés , e quatro, ou cinco homens dos mais
principaes deffe Luguar ·• e por efta maneira conti-
nuará di auante nos outros Luguares de fua Correi-
çam, que forem de cem foguos pera riba, pregun-
tando os Officiaes do anno paffado, e Tabaliaês de
cada Luguar, com alguüs bons homens que raiam
tenham de o faber ; e preguntalos-ha por os feguin-
tes
272 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. T1T. XLI.
tes capitolos , declarando a cada húü delles , que o
dito Corregedor nom ha mais de tornar aa dita Cor-
reiçam, e o que diflerem affi de bem, como do con-
traira , mandará efcreuer , pera de todo Auermos
certidam.
2 E ENQ!JERERA fe em cada anno fez correi-
çam por todos os Luguares da dica Correiçam , e fe
em alguu , ou alguüs dos ditos Luguares leixou de
entrar , e fazer em elles correiçam , por roguo, ou
temor dos Senhores delles , e [e eíl:eue mais tempo
em cada huü dos ditos Luguares, do que lhe por a
Ordenaçam de feu Regimento he mandado..
3 ITEM fe teue maneira que a jurifdiçam Noffa
foífe bem guardada, ou fe por feu prazer leixaua aa
Clerezia, ou a alguüs outros Senhores de Terras vfar
della em Noffo perjuizo.
4 ITEM fe tomou aa Clerezia, e Fidalguos , ou
aos Concelhos algüa coufa das J urdiçoês que a elles
pertencem, conhecendo das coufas de que nom de-
uera conhecer.
5 ITEM fe fazia Audiencia aas partes aos tem-
pos , que ordenadamente lha deuia fazer, que fam
tres dias na fomana, e fe defembarguaua feus feitos
defpachadamente • guardando a cada huü feu De-
reito.
6 ITEM fe recebia peitas, ou dadiuas d'alguüs
Grandes , ou Fidalguos , por lhe feec fauorauel em
alguüs feus feitos, ou dos feus , ou de quaefqucr ou-
tras peffoas de fua Comarca, e quejandas eram, e fe
ou-
EM Q.YE MODO HA DE EN(4 o CoRR. Nov. ET e. 273

ouue emprefiidos, ou fez compras• ou trocas de


algüas coufas com algüas pe!foas, que perante eUe
requereffem alguü defembarguo , ou que já teuef-
fern requerido, ou d;outras peíloas a que feja defefo
por Noffas Ordenaçoes , oú fe tomaua alguüs man-
timentos, ou outras coufas fem as paguar , ou por
menos preço do que valiam, ou fe faziam feruir al-
guüs homens da dita fua Comarca com feus carros,
corpos, e beílas , ou outras feruentias , nom Jhe
paguando aquello que lhe dereitamente he ordena-
do , ou fazia a algiías peffoas outras femrazoes.
7 ITEM fe tinha cuidado de faber, fe em fua
Comarca auia alguüs malfeitores , e Cabendo-o , fe
os prendia , ou fazia prender , pera fe delles fazer
comprimento de Jufüça , ou {e lhes de~ fauor de
andarem na dita fua Correiçam , ou prefente elle ,
ou lhes deu luguar que a feu faluo fe foílem.
8 ÜuTRo s1 fe fez paguar algüas malfeitorias,
ou comadias que na dita fua Comarca foffem feitas
por alguiís Fidalguos, ou Abades , e outras pe!foas
poderofas , ou alguüs roubos que alguús homens
dos fobreditos iffo mefmo fezeffem em ella, de guifa,
que os querelofos foífem contentes , e fatisfeito~.
9 ITEM fc nos Luguares da dita fua Comarca,
por onde andaua, fazia correger as pontes• fontes ,
e caminhos, e prouer as prifoês das Cadeas, fegun-
do em feu Regimento lhe he mandado.
10 ITEM fe fazia aos Efcriuaês d'ante elle, e aITT
aos Tabaliaê's e Eicriuaes da fua Comarca , guardar
Liv. 1. Mm e man-
274 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. XLI.
e manter os Artiguos que juraram na Noífa Chan-
celaria , e defpachar as efcripturas aas partes , e
nom leuar por ellas mais preço do que lhes he ta..
xado , e fe confentia a alguüs, que com elle andaf..
fem , fazer alguüs maleficios em dãno da Terra.
11 OuTRo s1 fe achou, que em a fua Comarca
antre alguüs Fidalguos , ou alguüs Concelhos com
outros , eram aiguüs bandos, e fe trabalhou de os
tirar e arredar, de guifa, que foffem todos em boa
concordia.
12 ITEM fe achou algüas Villas , e Luguares de
fua Comarca defpouorados, e fe trabalhou como fe
tornaffem a pouorar , e fe fez aproueitar as herda-
des. e .vinhas, e fe mandou poer aruores em fua
Correiçam, ·como cm feu Regimento lhe he man-
dado.
13 E PREGUNTARA' as teíl:emunhas, fe fabem
dias algüas coufas aalem deftas que aqui fam con-
theudas, e que as diguam por o juramento que afii
ham feito-, e fe affentc polo Efcriuam.
14 E SE differem algüas deíl:as coufas, feram
preguntados como o fabem, e por quem , e quaes
eram as pcffoas culpadas em ello com o dito Cor-
regedor , ou que dello faibam parte , e affi feram
declaradas ; e referindo-fe as teftemunhas a algüas
outras peífoas fejam loguo preguntadas , cm tal
guifa, que a verdade feja compridamente Cabida.

TI-
DAs REsID. Q.YE os CoR. DAS CoMARC. 'ET e. 2.75
T I T U L O ·XLII.
Das re.fidencias , que os Corrtgedores das Comarcas , e
Ouuidores ham de fazer , acabados os Ires annos de

o
feus Officios.

RDEN AMOS , que todo Corregedor da Co.


marca, ou Ouuidor d'alguü Meílrado, ou outro
Ouuidor de Senhor de Terras, e Jurisdiçam , onde
o Corregedor da -Comarca nom entra, antes huú
mez ou dous que acabe os tres annos de fua Correi-
çam , ou Ouuidoria , efcreuam ao Noífo Regedor da
Cafa do Sopricaçam, como os tres annos de fua
Correiçam fe acabam, pera lhe Mandarmos fazer
refidencia acabado o dito tempo ; e o dito Rege-
dor, tanto que ouuer as ditas Cartas , No-lo fará fa-
ber, e Nós Mandaremos huü Defembarguador ·aa
dita Comarca , ou Correiçam , pera lhe fazer a dita
refidencia. E o Defembarguador, que Mandarmos
tomar a dita refidencia, hirá a huü Luguar do meo
da Comarca , e mandará feus Aluaraes a cinco ou
feis Luguares dos mais principaes da Comarca ,
ou Correiçam, pera delles fe faber, e viir em noti-
cia em toda a Comarca , nos quaes Aluaraes notifi..
cará, que toda a peffoa que quifer demandar o dito
Corregedor, ou Ouuidor , o venha perante elle de-
mandar , por qualquer cafo que feja , e efiará o di-
to Defembarguador no dito Luguar huü mez com
o dito Corregedor, ou Ouuidor, que iffo mefmo
Mm 2 efia-
276 O PRIM!IRO Liv. DAS ÜRDEN. T1T. XLIL
eftará no dito Luguar , em quanto o Defembargua..
dor nelle eíleuer; e o dito Defembarguador ouui-
rá todos os que fe detle Corregedor, ou Ouuidor
queixarem, ou agrauarem , tirando fobre c:llo as te-
ftemunhas, que lhe forem aprefencadas, e lhes pro-
verá aas partes quanto a feus in.tereffes , ou coufas
que lhe foram por elles tomadas , ou leuadas , atee
contia de cinco mil reaes finalmente, dando aa ex-
ecuçam fuas fentenças • fem mais apellaçam nem
agrauo. E fendo as demandas de maiores contias •
ou de tal qualidade , que mereça pena corporal, cn-
tam proceffará os ditos feitos , atee os faz.er conclu ..
fos , fe podér no dito mez, os quaes affi conclufos, e
os que nom forem concluías (paffado o dito mez)
trazerá aa Noffa Cafa da Sopricaçam, pera elle com
os mais Defembarguadores, que pera iílo lhe feram
ordenados por o Regedor da dita Caía , os defpa-
char finalmente ; e atempará tempo ao dito Corre-
gedor, ou Ouuidor, e aas partes , a que pareçam na.
Corte , por que nom vindo fe procederá aa fua re.-
velia do que nom vier, como for Dereito ; e em
quanto o dito Defembarguador lhe tomar a dita re-
fidencia, o dito Corregedor, ou Ouuidor ferá fufpen-
fo do Officio, e vfará delle o dito Defembarguador,
nom fendo prouido de Corregedor, ou Ouuidor no-
uo na dita Comarca, ou Correiçam.
1 E sE o dito Corregedor, ou Ouuidor, que affi
ouuer de fazer a refidencia , fogir , ou fe abfencar
do Luguar cm que lhe o Defembarguador cíleuer
to-
DA RESID. Q..YE os CoR. DAS CoMARc. ET e. '-77
tomando a dita refidencia , ou nom vier a fazer a
dita refidencia , Auemos por bem, que todos os cri-
mes , e exceífos , e caufas por que for demandado ,
ou acuíado , por caufa de feu Officio, perante o di-
to Defembarguador no dito Luguar, fejam auidos
por prouados, e confdfados, como que foífem per-
feéhmente prouados por legitimas prouas , pofto
que a elles nom foffe dado ninhúa proua.
2 E Q.YANDO affi o dito Corregedor, ou Ouuidor
efcreuerem ao Noífo Regedor, que fe querem acabar
os tres annos de fua Correiçam , lhe mandará a car-
ta por o feu Caminheiro, ou por peíloa certa, que
lhe leue Certidam affinada por o dito Regedor , de
como lhe entreguou a dita carta, e em que dia ; e
na dita Certidam lhe mandará o dito Regedor di-
zer, a que Luguar da Comarca, ·ou Cor reiçam vaa
eíperar polo dito Defcmbarguador, que lhe ha de
tomar a dita rdidencia ; e em que dia hi ferá, pera
fazer fua refidencia , e o Corregedor que affi nom
efcreuer huu mez ou dous antes que fe acabem os
ditos tres annos , polo modo que dito he, Auemos
por bem, que feja priuado do Officio., e nunca mais
aja Officio de julguar.
J E POR. efia Ordenaçam nom Tolhemos aos
Corregedores, ou Ouuidores fobreditos, que vie..
rem nouamente, poderem tirar inquiriçoes fo-
bre os Corregedores , e Ouuidores palrados , em ca-
da huü Luguar da dica Comarca , fegundo Difle..
mos nos dous Titulos precedentes.
4
278 O PRtMEIRo Lr,•, DAS ÜRDEN. Tn. XLII.
4 E POLO mefmo modo os Juizçs de Fóra, que
Nós Mandarmos a algüas Cidades , ou Villas de
Noífos Reynos , e affi os Ouuidores d'algüs Senho-
res de Terras, e Jurisdiçam , onde o Corregedor da
Comarca entra, antes dous ou tres mefes 1 que fe aca..
bem os tres annos de feu Julguado , efcreueram ao
Corregedor da Comarca , como acabam os ditos
tres annos, que lhe vaa tornar a refidencia, e aue-
ram Certidam da dita carta que lhe efcreuer, e o
Corregedor da Comarca hirá ao Luguar onde affi
for o dito Juiz de Fóra, ou Ouuidor; e quando fo-
rem muitos Luguares d'Ouuidoria, lha hirá tomar .
no mais principal delles, e hi lhe efcreuerá que o
vaa efperar a dia certo, e tanto que hi for , o Juiz ,
ou Ouuidor leixaram a Vara, e a do Juiz entregua-
rá o Corregedor ao Vereador mais antiguo , e a do
Ouuidor terá elk em fi, mandando dar os preguoes,
e ouuindo as partes como acima dito he ; e nos fei-
tos que couberem em fua alçada dará determina-
çam fem apellaçam nem agrauo , e nos outros dará
apellaçam e agrauo pera a Cafa da Sopricaçam , aí-
finando termo aas partes , e a elle Juiz , ou Ouui-
dor; e fe o achar por fem culpa, e for Juiz poíl:o
por Nós , ou for Ouuidor , que tenha licença pera
feruir mais de tres annos, lhe tornará a Vara; e no
mais compriram em todo os ditos Juízes, e Ouui-
dores, todo o que emcima dito he nas refidencias
dos Corregedores, e fob as penas fobreditas.
DA CHANCELARIA OAS COMARCAS, 279
T I T U L O XLIII ..

Da Chancelaria das Comarcas.

TODOS os Tabaliaes das Cidades, Villas, e Lu-


guares de Nolios Reynos, e Efcriuaes d'ante quaes-
quer Juízes, e Juftiças das Cidades, e Villas , e
Luguares que poder e auéloridade tenham de jul-
guar , daram em rol ao Chanceler da Correiçam
todas as penas , que em feus protocolos teuerern ,
que pertençam aa Chancelaria, no dia que lhe por
o dito Chanceler forem requeridas ; fob pena de
elles paguarem de fua cafa as penas que elles nom
derem em rol , e aalem deílo fejam fufpenfos dos
Officios atee No!fa Merce.
1 ITEM Mandamos, que o Porteiro d'ante o
Corregedor , ou Ouuidor da Comarca , feja mui
deligente em feruir íeu Officio , e executar todas
as fentenças , e penas que lhe forem dadas , affi as
que pertencerem aa Chancelaria , como a outras
partes ; e fe o Corregedor achar que foi em ello ne-
grigente , faça Ioguo paguar por feus bens toda
perda , que por fua culpa fe feguiffe , e nom tendo
bens feja priuado do Officio ; e fe o Porteiro rece-
ber algüa coufa da parte condenada , e a nom en-
treguar quando for requerido , feja prefo, e da Ca-
dea pague todo aquello que fe achar que tem rece-
bido , e mais auerá aquella pena , que por Dereito
merecer , fegundo a culpa que no cafo teuer.
2 0
280 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN, T1T. XLIII.
2 O POR TE mo arrecadará os dinheiros dos pre-
guoes , procuraçoes , citaçoes , e da~ teftemunhas
que fe tomam nos feitos, que pendem perante o
Corregedor, ou Ouuidores, porque todo efto fe ar-
recada na Audiencía ; e as contias que fe ham d'ar-
recadar Diffemos neíle Liuro , no Titulo Das ciJa-
fO'és, perguoes, &,. : e o Efcriuam da Chancelaria
faça defto liuro, em que ponha os ditos dinheiros
em recepta fobrc o dito Porteiro, o qual fcja theudo
de dez em dez dias dar conta com entrcgua por
o dito liuro ao Chanceler do que affi recebeo; e fe
loguo nom paguar, o dito Chanceler lho defconte
em feu mantimento, cm tal guifa , que a dita rece..
pta lhe fique loguo em defpefa, e por o dito Efcri-
uam lhe feja loguo poíla em recepta no liuro das
paguas da.s cartas ao dito Chanceler; e fe o dito Por-
teiro citar nom quifer as ditas peff'oas que o Chance-
ler por Noffo feruiço mandar citar , elle Chanceler
as mande citar aa cufta do dito Porteiro , e enuie-o
dizer ao N-0ífo Chanceler Moor, pera dar o Officio
a outrem que o milhar firua; e fe acontecer ,_que o
dito Porteiro tenha recebido tanta contia , que a lo-
guo nom poífa entreguar ao dito Chanceler , nem
fe poífa auer por feu mantimento , pague da Cadea
todo o que affi teuer recebido.
3 ITEM as penas, e coufas que o Chanceler de-
manda em NoíTo Nome, nom as pode o Julguador
releuar, poíl:o que as partes dem razam por fi • atee
feer ouuido o dito Chanceler por No!fa parte.
4E
DA CHANCELARIA DAS COMARCAS. 281

4 E SE o Meirinho nom arrecadar as penas, que


forem julguadas pera a Chancelaria, e que lhe for
mandado que arrecade, atee oito dias, do dia que
lhe for mandado, o Chanceler lhas contará em feu
mantimento , e o Efcriuam da Chancelaria o efcre-
ua affi, pera viir a boa recadaçam; e fe. mais montar
nas ditas penas que no mantimento, e veíl:ir que ha
d'auer , feja por ello prefo atee que pague ; porem
fe moflrar ra-zam euidente por que o nom pode fa-
zer, feja-lhe dado outro efpaço, e nom as arreca-
dando feja prefo , e nom folto , atee que as arrecade
aa fua cuíla.
5 ITEM o Corregedor nom fe antremeterá a to-
mar conta ao Chanceler do dinheiro da Chancela-
ria, mas toma-la-ha o Contador da Comarca; nem
mandará delle defpender couía algüa fem Noffo
Mandado, ou dos Veedores de Noffa Fazenda , e
moílrando tal Mandado , feja tresladado no Liuro
da Chancelaria , pera viir todo a boa reca_oaçam.
6 O CHANCELER nom dará parte das penas ,
nem coufa algüa por lhas defcobrirem , nem faça
auença c-om os Concelhos , nem com as partes que
demandar , foomenre requererá o que Nos de De-
reiro pertencer; e fazendo auença , pague em dobro
todo o que fe montar na auença , ametade pera
quem o acufar , e a outra metade pera os catiuos.
7 E DEMANDARA' todo o que lhe parecer que
de Dereito pertence aa Nofla Chancelaria perante o
Corregedor , e fe entender que o em algüa coufa
Liv. 1. Nn agra.
282 O PRIMf:IRo L1v. DAS OrtDEN. TIT. XLIII.
agraua, tome eíl:ormento d'agrauo pera o Juiz dos
Noffos Feitos , ou pera os Veedores de Noífa Fa-
zenda , fegundo for a qualidade do cafo de que fe
agrauar.
8 E SE em algúa pena cair algüa peffoa por Or...
denaçam,que difponha que Ajamos Nós algüa par-
te , e o Meirinho outra , proueja o Chanceler em
tal maneira que o Meirinho nom fe concerte com
a parte , e Nós Percamos Noffo Dereiro, mas todo
o que a Nós de Dereito pertence fe arrecade , e o
Meirinho , que o tal concerto ou auença fezer, pa ..
gue em dobro todo o que fe montar na dita auença ,
a metade pera quem o acufar, e a outra metade pera
os catiuos.
9 ÜuTRo s1 o Chanceler terá o Selo , e atrelará
todas as Cartas, que por o Corregedor forem a ili na ..
das , fem as glofar , e fem ocupar acerca dello o
Porteiro da Correiçam em coufa algüa.
10 ITEM o Chanceler, ou o Rendeiro da Chan ..
celaria das Comarcas , no Luguar onde o Correge-
dor eíleuer , poderá demandar as penas aos que elle
achar com pefos , ou medidas nom marcadas, ou
nom concertadas , ou que nom forem afinadas aos
tempos que dcuem , e affi as peffoas particulares ,
que nom teuerem os pefos , _e medidas , que farn
obriguados , ou os teuerem dobrados, affi como as
podem demandar o Almotacee Moor, ou Almota-
cees das Cidades, e Villas, fegundo he contheudo
no Titulo Do Almotacee Moor.
11 E
Do CHANCELER DAS CoMARCAS. '283

II E BEM Assr dr.mandaram todas as penas •


que por Noífas Ordenaçoes fam apricadas pera o
Concelho, ou que o Procurador do Concelho podia
demandar , fe achar que o Procurador do Concelho
as nom demandou já, com tanto que o dito Chan-
celer , ou Rendeiro as demandem dentro de huú
anno , do dia em que nellas encorreram as peífoas •
que por ellas ham de feer demandadas.
12 E SE as Chancelarias forem arrendadas, Man-
damos que os Rendeiros nom façam auenças com
os Concelhos em maneira algüa , fob pena de ferem
prefos , e paguarem em dobro o que affi montar
na auença que fezeram, ametade pera quem os
acufar , e ametade pera os catiuos, e mais torna-
ram ao Concelho todo o que lhe por tal auença le-
uaram , mas foomente demandem as peífoas parti-
culares que culpadas forem, as quaes citaram 1 e
demandaram em quanto os Corregedores, ou Ou-
uidores eíl:euerem nos Luguares, onde os demanoa-
dos forem moradores. E os Corregedores nom con-
fentiram que fejam citados pera outra parte , nem
leuaram co.míiguo os feitos, que fobre taees penas
forem começados, e os leixaram aos Juizes das Ter-
ras, os quaes determinem em breue , dando apella-
çam, e agrauo. Peró nom Tolhemos aos ditos Ren-
deiros, que poflam fazer auenças com as particula-
res pefioas , polas coimas, e penas que lhe já forem
julguadas por fentença ; porque fe taees auenças fe-
zerem ante de lhe ferem as penas , ou coimas jul-
Nn 2 gua-
284 O PRIM!IRO L1v. DAS ÜRDEN. Tn·. XLllI.
guadas , feram pubricamente açoutados pola Villa ,
ou Luguar onde taees auenças fezerem.
13 ITEM Mandamos aos No!fos Corregedores das
Comarcas ,e affi aos Ouuidores, e Juizes, affi de Fó-
ra, como Ordinarios, e affi a todas outras Juíliças
que poder tenham de poer penas, que ninhuü delles
ponha daqui em diante ninhüa pena pera a Chan-
celaria , fob pena, que qualquer pena que pera ella
poferem , de pequena , ou grande contia , a paguem
anoueada, ametade pera .quem o acufar e a outra
pera os caciuos , e fejam fufpenfos de feus Officios
em quanto for NolTa Merce, e mais a pena, ou
penas, que por elles affi forem p.:>ílas pera a dita.
Chancelaria , nom ajam efeél:o , nem fe faça nellas
execuçam algüa. E pera a execuçam das ditas pe-
nas Auemos por bem , que poffa feer o tal Corre-
gedor, ou Corregedores, ou Juftiças fobreditas, de-
mandados prefente o Noffo Corregedor da Corte ,
ou prefente qualquer outra Juíl:iça que a parte que
o quifer demandar mais quifer ; e poderam feer por
as ditas penas demandados, durando o tempo de
feu Officio, e mais huü anno defpois de nom ferui ..
rem as Correiçoes, ou Julguados. E foomente os di.
tos Corregedores poderam mandar recadar pera as
ditas Chancelarias aquellas penas, que farn, ou forem
por Noffas Ordenaçoés , Regimentos , e Mandados
ordenadas pera a Chancelaria, e outras algüas nom.
Porem Declaramos, que as penas que os ditos Corre-
gedores, ou outrasJuítiças virem,que fam neceffarias
fe
DA CHANCELARIA DAS COMARCAS. 285

fe poer por bem da Juíliça, as poífam poer affi


como juíl:o, e honeílo for, e como com razam o
deuam fazer , as quaes poeram , conuem a faber,
ametade pera os catiuos, e a outra metade pera as
obras do Concelho, onde com a Correiçam efieuer,
ou onde for Julguador; e eílas mandaram foomente
executar, e arrecadar, e o dinheiro dellas o manda-
ram loguo entreguar , conuem a faber, ao Procura-
dor, ou Tefoureiro do dito Concelho, a fua metade
pera as obras delle, e a outra metade ao Mempo-
íleiro dos ditos cariuos , em tal modo , que nunca o
dinheiro das diras penas vaa á maõ d•outras alguas
pelfoas. E das fobreditas penas que affi polos ditos
Corregedores, ou Juftiças forem potlas por bem de
Jutliça , e executadas, e arrecadadas, lhe Manda-
mos , que cada huü em fua Corr.eiçam , e Julguado
mande fazer huü Liuro , em que fejam aífentadas
por buü Efcriuam , qual pera iffo mais auto lhe pa-
recer, declarando a foma de cada hüa , e o porque
foi pofta, e a quem , e como foi executada, e a par-
te que della recebeo o Procurador do Concelho , e
affi o Mempoíleiro dos caciuos , pera fe poder fem-
pre faber as penas que foram poftas, e que fe arre-
cadaram. E Mandamos aos Efcriuaês das receptas
dos Procuradores dos Concelhos , e dos Mempo-
fteiros dos catiuos , que façam fous Liuros ordena-
dos , em que aflentaram em recepta fobre elles o
que affi das ditas penas receberam , com toda a
boa declaraçam , pera' fe faber por elles o que das
ditas penas rccadaram, e darem diífo conta. 14
286 O PRIMEIRO Lrv. DAs ÜRDEN. TrT. XLI III.

r 4 E PORQYE Somos enformado, que os Chan-


cereys das Comarcas aas vezes poem o feio , e re-
cebf'rn a Chancelaria das taees Cartas, fem lhe feer
pofla a pagua polo Efcriuam da Chancelaria , De-
fendemos, e Mandamos, que nom ponham ninhuõ
felo em Carta algüa , de que fe deua paguar Chan-
celaria , fem primeiro o Ercriuam da Chancelaria
poer na dita Carta a pagua do que monta nella ; o
qual Efcriuam ferá auifado, que nunca ponha a pa-
gua na Carta, fem primeiro a1Tentar no Liuro do
recebimento da Chancelaria , como o Chanceler a

_____ ___
recebeo; e fazendo qualquer delles o contra iro, per-
ca o Officio , e nunca o mais aja.
,

T I T U L O XLIIII.
Dos Juizes Ordinarios, e do que a.feus OJ!icios
pertence.

Ü S Juízes Ordinarios, e quaefquer outros que


Nós de fóra Mandarmos, deuem fecr deligentes, e
trabalhar que na Cidade, Villa, ou Luguar onde
forem Juízes, e feus Termos, nom fe façam male-
ficios, nem malfeitorias ; e fazendo-fe, ou outros
alguüs dãilos , tornem a ello, e procedam contra os
culpados com grande deligencia fem tardança.
1 E POSTO Q..U E polos Reys Nofi"os Antecefi"ores
foffe ordenado , e feita Ley, que todos os Juizes
das
Dos Juiz. ÜRo. E DO Q.YE A SEUS OFFrc. PERT. 287

das Cidades, Vil las, e Luguares deíl:es Reynos , ca-


da huüs em feus Julguados, tiraífem inquiriçoes
geeraes deua!Tas em cada huü anno, por cercos ca-
picolos em fua Ley declarados , por quanto Nós
Ouuemos por cerca enformaçam , que de fe tirarem
taees deuaífas geeraes era pouco feruiço de Deos ,
e Noílo, e dellas fe feguia muito dãno, e perda a
Noífo Pouo, por fe veer por experiencia, que mui-
tos com pouco temor de Deos reíl:emunhauam fal.
famente em as ditas deuaíTas contra outros, a que
defejauam empecer, e por taees teílemunhos pren-
diam muitas peífoas, e outras fe abfentauam, e al-
guüs eram punidos , nom tendo culpa nos malefi ..
cios , em que os as taees teílemunhas culpauam , e
outros cm feus liuramentos guaílauam fuas fazen-
das , ou grande pru-te dellas ; ~erendo Nós a eílo
prouer, e tirar os ditos inconuenientes, e por fe
nom dar azo aos perjuros , e fe efcufarem muitas
demandas , defpefas, e perdas que fe dellas feguem,
e porque pera alimpar, e purguar a Terra de máos
homens, e os maleficios poderem feer fabidos, e
por Dereiro punidos. parece abaftar a Prouifam,
que por Noffas Ordenaçoés he dada • Eílabelece ..
mos, e Mandamos a todolos Corregedores , Ouui-
dores , Juízes. e Juíliças de No(fos Rfynos. e Se..
nhorios, que nom tirem as ditas inquiriçoés deuaf..
fas geeraes , mas foomente tirem , e fejam theudos
tirar as deuaíl"as particulares, fobre as mortes , for-
çaa de molheres, que fe queixarem que as forçaram,
fo-
288 O PRIM!CRO Lrv. DAS ÜRDEN, T1T. XLI III.
foguos poftos • e fobre fogida de prefos,. ou que-
brantamento de Cadea , moeda falfa , refiílencia,
ou ofenfa de Julliça , ou carcer priuado • ou furto
de valia de marco de prata e di pera cima; e fen-
do da dita valia pera baixo , nom deualfaram. Peró
fendo requeridos polas panes , a que os furtos de
menos valia de marco de prata , e di pera baixo
( com tanto que nom deçam de valia de duzentos re•
aes) forem feitos , que tirem fobre iffo inquiriçam ,
tira-la-ham, dando primeiramente juramento aos
Sanél:os Auangelhos aa parte, fe fe queixa bem , e
verdadeiramente, e [e lhe foi feito furto juncamente
de duzentos reaes, ou di pera cima , ou fua valia ,
e jurando que fi , tiraram foomente atee oito teíle-
munhas aa cufta das partes que lho requererem ;
faluo fe cada hüa das ditas oito tdremunhas fe re-
ferir a outra -algüa teftemunha , que ainda nom feja
preguntada ,. que em tal cafo preguntaram as em
que affi fe referirem , aalem das oito teftemunhas.
E Mandamos iffo mefmo, que vindo aa tloticia dos
Juízes, como a algüa peffoa foi feito alguü roubo, ou
furto em alguü caminho, ou no campo, fendo-lhe
affi dito por algüa peffoa., ou pola mefma parte a
que o dito furto foi feito , o Juiz ferá obriguado
tirar deuaffa , pofio que o furto feja de valia de
marco de prata· pera baixo, em qualquer quantida-
de que feja. E bem affi tiraram inquiriçam deuaffa
fobre arrancamento d'arma em Igreja , ou Precif-
fam , ou em qualquer Luguar onde efteuer, ou for
o
Dos Jurz. ÜRD, l DO QYE A SEU ÜFFIC. PER.T. 289

o Corpo do Senhor, poflo que hi nom aja ferimen-


to. E iffo mefrno fobre qualquer ferimento, que de
noute for feito a algüa peffoa , ora a ferida feja gran-
de, ora pequena; e bem affi fendo algüa peifoa fe-
rida no roíl:o. ou aleijada d'alguü membro, ou fen-
do ferida com beeíl-a , ora o ferimento feja de dia,
ora de noute ; nos quaes cafos, e cada huü delles ti-
raram inquiriçam deuaffa , tanto que vier á fua no-
ticia, que em fcus Julguados fam cometidos: e fen-
do os taees maleficios, ou cada huü delles cometidos
em Cidade, ou Villa, os Juízes começaram tirar fo-
bre elles inquiriçam do dia que cometidos forem ·
a dous dias , poíl:o que de taees rnaleficios nom feja
dada querela , nem fejam por algúa parte requeri-
dos. E fendo cometidos no Termo de qualquer Ci-
dade, ou Villa , os ditos Juizes começaram tirar as
ditas inquiriçoés do dia que á fua noticia vier a tres
dias • e paffados oito dias de[pois do maleficio co-
metido nom poderam os Juízes aleguar, que nom
começaram a tirar fobre tal maleficio inquiriçam ,
por nom . faberern que era cometido ; porque nom
he de creer, que quando alguü dos fobreditos male-
ficios for cometido no Termo d'algüa Cidade , ou
Villa, que em oito dias nom venha aa noticia dos
Juizes de tal Cidade, ou Villa, em cujo Termo for
cometido. As quaes inquiriçoês acabaram de tirar
do dia que os maleficios forem cometidos a trinta.
dias. E qualquer Juiz que nom tirar ·a inquiriçam
deuaífa em cada huü dos fobreditos cafos, ou a co..
Li11. I. Oa rneçar
290 O PRIMErRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XLIV.
-
meçar de tirar,e nom acabar nos tempos aqui decla ..
rados , feja degradado dous annos pera Cepta fem
remiffam , e mais pague cinco mil reaes, ametade
pera quem o acufar, e a outra pera a Piedade.
2 E os Juizes, e Juíliças que fobre outros cafos
e maleficios, afóra os fobreditos, ou alguüs, em que
por outras Noífa:ã Ordenações expreífamente Man-
darmos deuaffar , tirarem inquiriçam deuaífa gee-
ral ou efpecial , paguaram todas as cuílas, e perdas,
e dãnos que fe por as ditas deuaffas caufarern a quaes-
quer partes, e a dita inquiriçam deuaffa ferá ninhúa,
e de ninhuü efeéto , e por ella fe nom poderá pro..
ceder contra peffoa algüa; e o que por ella prender
algüa peffoa encorrerá na pena, em que encorre o
Julguador que prende fem culpas obriguatorias.
3 E AQYEIXANDo-sE algüa peffoa que lhe foi
feito alguü dãno em orca, ou pomar, por algüa pef-
foa, ou peífoas, que nom fabe quem fam, em tal ca-
fo o Juiz preguntará a requerimento e aa cuíl:a da
parte, que o affi requerer, atee oitoteíl:emunhas de-
uaílamente, e achando alguü culpado, procederá
fegundo for Dereito.
4 E PORQYE os Julguadores, e outros Officiaes
da Juftiça nom tomem atreuimento pera ·vfarem
de feus Officios como nom deuem , Mandamos a
todolos Juizes das Cidades , Villas , e Luguares de
Noffos Reynos , e Senhorios , que do dia que come..
çarem a feruir feus Officios a dez dias primeiros fe-
guintes começem tirar inquiriçoes deuaífas fo,.
bre
Dos Juiz. ÜRD. E DO QYE A SEU ÜFFIC. PERT. 291

bre os Juizes que ante e!les foram, a qual acaba-


ram de tirar atee trinta dias, do dia que for come-
çada, em a qual preguntaram as teílemunhas que
mais razam tenham de o faber, e fejam pregunta-
d~s ao menos atee trinta teflemunhas por eíl:es ca-
pitolos que fe feguem.
5 ITEM fe os Juizes faziam as Audiencias aos
tempos ordenados , e fe defpachauam os feitos fem
delongua.
6 ITEM fe leixauam de fazer dereito por temor,
peita, amor, odio, ou negrigencia.
7 ITEM fe trabalharam de prouer as inquiriçoes,e
querelas, e faber fe em feus J ulguados auia ht alguüs
malfeitores obriguados aa J uíl:iça , pera os prender,
ou mandarem prender; ou fe deram fauor a alguüs,
que fabiam que eram obriguados aa Ju!liça, que an-
daífem prefente elle, ou na Terra, e fe nom trabalha ..
ram de os prender, ou mandar prender, ou fe os aui ..
faram , ou deram fauor que a íeu faluo fe foífem.
8 ITEM fe leuaram feruiços, ou geiras , ou ou-
tras feruentias, ou receberam dadiuas d 'algu ús Fi-
dalguos , ou d'outras peffoas.
9 ITEM fe com poderio de feus Officios toma-
ram alguüs mantimentos , oú outras coufas fem
dinheiro , ou por menos preço do que valiam.
10 ITEM federam alguü_s prefos por feitos
mes fobre fiança.
11 ITEM fe liuraram alguüs feitos crimes fem
apcllarern por parte da Juíl:iça, fendo os cafos taees
Oo 2 que
292 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TrT. XLIV.
que fegundo Noífas Ordenaçoés deueram apellar.
12 ITEM fe dormiram com algúas molheres, que
perante elles trouxeílem demandas ·:t ou requereffem
alguüs defembarguos.
13 hEM fe tiraram as inquiriçoês fobre os Jui ..
zes que ante elles foram , e fobre os outros Officiaes
da Juíliça , e fobre os maleficios que nefia Ordena-
çam fam declarados, fobre que Mandamos deuaf-
far aos tempos nella limitados.
14 E BEM ASSI inquiram fobre os Alcaides , fe
fezeram pedidos de pam, vinho, guados, ou outras
coufas , ou fe leuaram geiras ou receberam outras
quaesquer dadiuas.
15 I HM fe prendem, ou foltam fem mandado
da Juíliça.
16 l TEM fe prendem com deligencia os que os
Juízes mandam prender, ou fe leixam de prender al-
guüs por peicas que recebefl"em , ou mandam auifar
os que lhe mandam prender, pera fe guardarem,
e nom ferem prefos.
17 ITEM fe leixam trazer armas defefas , ou aos
tempos defefos, a algüas peíloas, e fe po1· lhas leixa ..
rem trazer recebem algüas peitas.
1 8 ITEM fe leuam por prender os malfeitores
alguü dinheiro, ou outro alguú intereffe das partes
querelofas, ou leuam dos pi-efos algüa coufa polos
lcuarem aas Audiencias.
19 ITEM inquereram fobre os Tabaliaes, fe
guardam os Artiguos que em Noífa Chancelaria
20
Dos Juiz. ÜRD. E DO Q!TE A SEU Orrrc. PERT. 293

20 ITEM fe dam fem delongua os eílormentos •


e efcripturas aas partes, quando lhe fam requeri ..
das, ou os leixam de dar a alguüs que os requerem
contra alguüs Juizes, e Jufüças, ou peffoas podero-
fas, ou fe leuam mais por dias do que he taxado.
21 ITEM fe teueram parte com alguas molhe-
res, que andaffem em demanda perante os Juízes.,
de cujos feitos folfem Tabaliaes.
22 I TEm fe por refpeito de feus Officios leua-
ram geiras , ou outras feruentias de graça.
23 ITEM fe defcobriram os fegredos da Juftiça >
ou auifaram os de que fabiam que era querelado;
ou por qualquer outrã maneira folfem obriguados
aa Juíl:iça, ou deneguaram aos Juizes, e Correge-
dores as culpas que de11es tem.
24 ITEM fe defcobriram a algüa parte o que fe
contem nas inquiriçoes , pofto que fejam de feito
ciuel, ante de ferem abertas e pubricadas.
25 ITEM fe fezeram algüas falfidades em efcri ..
pturas, ou inquiriçoés, ou em quaesquer outros au..
tos ,. ou fazem alguüs outros erros em feus Officios.
26 E BEM ASSI tiraram inquiriçam fobre todos
os outros Officiaes, e Miniílros de Juftiça, affi Ve..
readores, Juízes d'orfaõs, Efcriuaes, Almoxarifes >
Recebedores, Almotacees, e Alcaides das facas, Con ..
tadores dos Refidos , onde os ouuer, fe erram em
feus Officios, e em efpecial fe leuaram peita de feus
Julguados, ou fe compraram algüa coufa fiada, ou
fe receberam algüa coufa empreftada , preguntan-
do
294 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRD EN. T1T. XLIV.

do em as inquiriçoés pelloas de boa fama , de que


fe prefuma que ajam de dizer verdade, e que deuam
faber parte das femelhantes coufas , e lhes faram
q uaesquer outras interrogaçoés, que neceífarias fo-
rem, pera fe faber como de feus Officios vfam , e fe
proceder contra os c1,1lpados ~orno for Dereito. E na
dita inquiriçam nom pregurúaram, foomente polos
erros , e culpas, que os ditos Officiaes teuerem co-
metido o anno palrado, e o outro atrás , e mais
nom.
27 E rsso MESMO na dita inquiriçam pregunta-
ram , fe algüas peífoas paffaram guado pera Caíl:ela ,
e affi fe algüas peífoas venderam, ou compraram, ou
apenharam algüas coufas das Igrejas; conuem a faber,
joias, alfaias, ou ornamentos d'ouro, prata, ou de
feda, ou de laã, ou de linho, ou d'outros quaesquer
corregimentos das ditas Igrejas; e tanto que os acha ..
remem maõs de quaesquer pelloas os tomaram, e en-
treguaram aa Igreja donde foram tirados , e proce-
deram contra os vendedores e compradores, fegundo
as culpas de cada huü, e fegundo fórma de Noífas
Ordenaçoés.
28 E BEM ASSI preguntaram na dita inquiriçam,
fe algúas peffoas, de qualquer qualidade que fejam,
aguafalham em fuas caías algüas Freiras fem Noífa
Licença , fem embarguo de quaesquer Prouifoés
Eclefiafticas que tenham; e nos que as affi teuerem
executaram as penas de Noffa Ordenaçam.
29 E BEM ASSI preguntaram na dita inquiriçam,
fe
Dos Juiz. ÜRD. E DO Q.!JE A SEU ÜFFIC. PERT. 295

fe algüas peffoas caçarem com boi perdizes nos


Luguares expreffamente nomeados na Ordenaçam
do ~into Liuro , no Titulo ~ue nom cacem perdi-
zes e/ e. Inquirindo foomente cada huü polo caçar
com boi no dito Luguar de fua Jurisdiçam onde
afTi he defefo.
30 E NOM tirando as ditas inquiriçoes , ou co..
meçando-as, e nom as acabando nos ditos termos,
feram degradados dous annos pera Cepta fem remif-
fam, e affi cada huü paguará cinco mil reaes, a me-
tade pera quem o acufar , e a outra pera a Piedade.
3 I E DAS coufas que acharem, que elles loguo por
fi podem correger, prendam , e correguam , dando
apellaçam e agrauo nos cafos que deuem ; e fe taees
coufas forem, que por fi nom podem correger, fa-
çam-no faber a aquelles a que pertence, conuem a fa-
ber, dos crimes e malfeitorias ao Corregedor da Co-
marca, ou ao Corregedor de No{fa Corte, quando mais
perto for; e das outras coufas, que ao Concelho per-
tencem , aos Regedores, e Officiaes do Concelho ; e
dos da Fazenda, aos Contadores, e Veedores della.
32 ITEM as deuaffas, que os J uizes tirarem fo-
bre os Juizes do anno paíl'ado , e fobre os outros
Officiaes da Juíl:iça, enuiaram aos Corregedores das
Comarcas do dia que forem acabadas atee huü
mez , e cobrem delles conhecimentos , pera em to-
do tempo fe faber como lhas enuiaram , e em que
tempo; e efto compriram fob aquella pena, que aci-
ma lhes he pofta, fe as ditas inquiriçoés nom tira-
rem. 33
296 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. Trr. XLIV.
33 E QYANDO hi ouuer Juizes de Fóra, tiraram
em cada huü anno as ditas deuaffas fobre os Offici-
aes fobreditos polos capitolos acima ditos , e fob as
penas fobreditas.
34 ITEM em todos os feitos de mortes d'homes,
e molheres, e forças, e roubos ., e d'outros malefi-
cios acima declarados, em que efpecialmente Man-
damos deuaffar, deuem tirar per fias inquiriçoes,
nom as cometendo a outro ninhuü; e como forem
acabadas enuiaram o treslado das que forem tira-
das fobre as mortes á arca das malfeitorias, e o pro-
prio ficará na maõ do Tabaliam que a tirou , a que
foi deíl:rebuida , pera dar conta della. As quaes de-
uaffas de morte fe paguaram polos querelofos , fe os
hi ouuer; e nom os auendo, paguaram aquelles que
por ellas fe acharem culpados; e nom fe moftrando
polas ditas inquiriçoés quaes fam os culpados nas
ditas mortes , querendo-fe alguü liurar, eíle tal pa-
gue ao Ta:baliam , ou Efcriuam , nom foomente o
treslado da inquiriçam , mas tambem o que lhe mon-
tar d'auer do origir,al. E Mandamos que fe nom le-
ue pagua das taees inquiriçoes aos herdeiros do
morto.
3 5 E QY A NTO aas outras deuaffas que neíl-e Ti-
tu lo fobre certos cafos particulares Mandamos ti-
rar, fe por ellas confiar quem he o culpado, de tal
culpa, por que mereça feer prefo, paguar-fe-ha a de..
uaffa aa fua cufta, poíl:o que fe nom venha liurar ;
e nom fe achando nella culpado alguü, paguar-fe...
ha
Dos Juiz. ÜRD, E DO QYE A SEU Orne. PERT. 297

ha ametade do que nella montar aa cuíla do Conce-


lho, onde fe cometer o maleficio, e da outra metade
nom leuará o Tabaliam , ou Efcriuam, coufa algüa ,
por fe affi tirar por bem de Jufiiça.
36 E (UI ANTO aas deuaílas geeraes, que Manda..
mos tirar em cada huü anno fobre os Officiaes ,
eíl:as tirará cada huü Tabaliam por defirebuiçam
cm cada huü anno, e nom leuará c:oufa algúa della,
nem do treslado que mandar ao Corregedor, foo-
mente quando hi ouuer culpados paguaram o que
montar aas fuas culpas , affi do original , como dos
treslados.
37 E DEFENDEMOS a todos os Juizes, e Juíliças de
Noffos Reynos, e Senhorios , que de feitos conhece-
rem, que nom remetam feito alguú a Nós, nem a
NoíTa Rolaçam, nem a outro alguü feu Superior,
fem Noffo efpecial Mandado, foomente proceffem
os feitos, e dem nelles fentença final, e entonce da.
ram apellaçam ou agrauo, ou apellaram fegundo os
cafos forem , e por No{fas Ordenaçoês forem obri-
guados ; faluo naquelles cafos, em que por Noffas
Ordenaçoés lhe expreffamente Mándarmos, ou Der..
mos Iuguar que os remetam ; e remetendo.os d'ou-
tra fórma , todo o que fe proceffar polo Superior a
quem forem remetidos, ferá ninhuú e de ninhuu
viguor, e o Julguador que a tal remiffam fezer, e
affi o que della conhecer, feram condenados nas cu-
fias.
38 ITEM trabalhem-fede faber dos malfeitores,
Liv. J. Pp e
298 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. TIT. XLIV.

e os prender; e fe na Terra norn forem, faber on-


de fam, e enuiar;,im recado aos Juízes, e Juftiças que
os prendam, e lhos enuiem.
39 E MANDAMOS aos ditos Juizes, que nom
mandem prender pelfoa algüa, faluo por o Alcaide,
ou Meirinho , e por feus Aluaraes ; e nos Aluaraes,
que paífarem pera ferem prefas quaesquer peíloas,
fejam declarados os nomes dos que mandam pren-
der, e fem declaraçam dos ditos nomes os nom af-
ftnem , nem paífem ; faluo fe pera maior fegredo e
fegurança das coufas da Jufüça , fendo o cafo de
qualidade de que fe affi deua fazer > mandarem paf..
far Aluará, por que prendam a peífoa, que lhe dif-
fer, ou moílrar o que lhe o dito Aluará aprefentar,
leuando todavia outro Aluará fecreto , em que vaa
declarado o nome da peffoa que ouuer de feer pre-
fa; os quaes Aluaraes feram feitos, e aprefentados ,
e por elles prenderam, e mandaram prender na fór..
ma, e fo'b as penas que Diífemos no Titulo Dos Cor.
regedores das Comarcas, no parrafo E o,s ditos Correge-
dores.
40 ITEM fe alguüs ·Fidalguos, e feus homens•
ou quaefquer outras peffoas fezerem algüas malfei..
torias , ou tomadias , trabalhem-fe os Juizes de os
penhorar , e fazer paguar o dãno que fezerem , ou
coufas que tomarem, e prender os que merecerem
feer prefos; e fe por·fua culpa alguü nom for prefo,
ou penhorado nos cafos em que o deuem feer , Man..
damos que porfeus bens os ditos Juizea paguem os
di-
Dos Jurz. ÜRD. E DO Q.YE A SEU ÜFFIC. PERT. 299

ditos dãnos, e malfeitorias, e mais aueram qualquer


outra pena criminal , que no caío couber.
41 ITEM trabalhem-fe que façam ambos as Au ..
diencias aos tempos que deuem , conuem a faber 1
onde os Concelhos, Víllas , ou Luguares pa(farem
de fetenta vezinhos , faram dous dias na fomana, e
fe forem de fetenta vezinhos, e di pera baixo, faram
huu dia na fomana Audiencia; e fe em cada hüa de
todas as Cidades, Vi lias, e Luguares de Noffos Rey-
nos cíleuerem em cuílume de fazerem mais Audien-
cias cada fomana , guardar-fe-ha o dito cuílume.
Porem nos feitos dos prefos fempre faram, aalem das
fobreditas Audiencias ordenadas, mais duas Audien-
cias em cada fomana, quando os Concelhos forem
de fetenta vczinhos pera cima ; e fendo de fetenta
vezinhos , e di pera baix:o, faram aos preíos mais
hüa Audiencia em cada fomana , aalem da fobredi-
. ta ordenada. E cada huü Juiz , onde forem dous
Juizes Ordinarios, fará as Audiencias fua fomana,
e a fornana que cada huü delles fezer Audiencia
defpachará por fi foo os feitos, e cada huü feguirá
as interlucutorias , e mandados do outro Juiz feu
parceiro : e quando alguü delles for doente, ou im-
pidido de juíla caufa, e o impedimento, ou abíen-
cia, ou doença nom for perlonguada, ficará íeu par-
ceiro foomente; e fendo ambos abíentes , ou impi-
didos, ou doentes de doença , ou abfencia nom per..
Jonguada , façam-no faber aos Vereadores • e elles
daram o dito carregue a huü dos Vereadores mais
Pp 2 ve-
300 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. TIT. XLIV.
velho de dias ; e fendo a abfencia , ou doença per..
longuada , guardar-fe-ha o que Diremos. no Titulo
feguinte.
42 OuTRO s1 faibam fe os Almotacees vfam de
feus Officios como deuem; e fe o contraira fczerem
do que lhes he mandado • ou forem negrigentes •
coníl:raguam-nos pera ello, fegundo he contheudo no
Regimento de feus Officios, e fob as penas hi decla..
radas.
43 ITEM nom lhes confentiram que dos feitos
da Almotaçaria ordenem proce!fos , nem grandes
efcripturas , mas mandem-lhes que breuemente os
liurem. E os Juizes liuraram por fi os agrauos , e
apellaçoês que perante elles vierem, quer fejam fei ..
tos antre partes , quer fobre penas pecuniarias • ou
coimas , fazendo-lhe o Almoracee par palaura rela-
çam , nom paílàndo a contia de feiscentos reaes ; e
paffando a dita contia , e di pera cima , liurem-nos
os ditos Juizes com os Vereadores em Camara fem
mais apellaçam , nem agrauo pera ninhuü Senhor
de Terra, nem pera Nós. Porem fe as penas poíl:as
polos Almotacees forem corporaes , ou forem pecu ..
niarias, que paffem de feis mil reaes, as apellaçoes,
que dos taees cafos d•ante os Almotacees fahirem ,
venham aos Nolfos Defembarguadores a quem de-
reitamente pertencerem, fem hirem aós Juizes, nem
Officiaes da Camara.
44 ITEM dos furtos dos efcrauos de que elles pri-
meiramente teuerem tomado conhecimento, quer
fe-
Dos Juiz. ÜRD. E DO Q.!JE A SEU ÜFPJC. PERT. 301

fejam Chriílaõs, quer Mouros, atee quantia de qua.


trocentos reaes conheceram os Juizes , e defembar-
gualos-ham em Camara com os Vereadores fem apel-
laçam, nem agrauo, dando-lhes pena d'açoutes aos
que acharem culpados, ou qualquer outra que me-
recerem , fegundo fórma de Noffas Ordenaçoés.
45 OuTRo s1 os Juizes conheçam dos feitos das
injurias verbaes, que alguüs demandem a outros, e
os façam concluías em breue , nom fazendo longuos
proceffos , e fem darem vifta aas partes pera razoa-
rem a final por efcripto, e fem lhes darem os no-
mes das teftemunhas pera contraditas , e os leuem
aa Camara canto que forem conclufos, e os defem ..
barguem com os Vereadores na primeira Vereaçam;
e fe alguü delles fur fufpeito, tomem dos outros ho-
mens bons defia Cidade, ou Villa, huü em feu lo-
guo , que nom feja fufpeito aas partes , lendo os di ..
tos feitos perante as partes, fe hi quiferem eflar, ou
aa fua reuelia, fe a hi nom quiferem eílar; e quando
affi efteuerem prefentes ao ler do feito em final , po-
deram apontar quaefquer contraditas, que notorias,
e pubricas fejam , pera verem quanta fee lhe deue
feer dada , e as fentenças que derem façam-as dar
aa execuçam , fem mais dellas receberem apellaçam,
nem..agrauo; porque Queremos que em as femelhan.
tes injurias verbaes tenham alçada fem mais apella-
çam , nem agrauo , atee contia de íeis mil reaes , e
nom poffam em maiores contias condenar as partes,
que affi fcmelhantcs injurias a outros diJrerem ; e fe
mais

29
302 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. TIT. XLIV.
mais julguarem, o dito excetro de ~aior contia íeja
auido por ninhuü, e de ninhuü viguor, e feja redu~
z.ido aa dita contia dos ditos feis mil reaes.
46 PERó quando cada hüa das partes for Caua.
leiro, ou Fidalguo de Solar , ou de Cota d 'armas, ou
molher de cada hüa das fobreditas qualidades , ou
quando as fobreditas injurias verbaes forem fobre
fegurança , ou ditas a alguü Official , que tenha lu.
guarde Jufüça, em feu Officio, ou fobre feu Officio.
os Juiz.es conheceram dos ditos feitos, e os deter.
minaram finalmente por fi fem os Vereadores, e da.
ram apellaçam , e agrauo aas partes , que de fuas
fentenças, e mandados apellar , ou agrauar quife.
rem.
47 E POSTO O..!JE nas petiçoes ponham tal quati.
dade , que prouada nom pertenceria aa Camara , affi
como fe diffeffe que o doeflou, e que lhe deu panca.
das, ou que lhe dilfe as injurias fobre fegurança , ou
que he Caualeiro, fe defpois polas inquiriçoés fe
nom motlrar auer hi cada húa das ditas qualidades,
ou outras femelhantes , que prouadas nom pertence.
riam aa Camara, em tal cafo o Juiz o defpacha.
rá em Camarafem mais apellaçam, nem a.grauo, co.
mo dito he.
48 EM PERÓ as partes que fe íentirem agrauadas
de quaesquer dos caíos acima ditos defpachados em
Camara, de que fe nom pode apellar, nem agrauar,
poderam fazer fimpres petiçam a Nós , e Nós os
Prouercmos quando Nos bem parecer.
49
Dos Juiz. ÜRD. t DO (U)E .A SEU 0,11c. PERT. 303

49 E MANDAMOS a todos os Juizes das Cidades,


Villas, e Luguares de Noífos Reynos , e Senhorios 1
e quaesquer outros Julguadores ,e Corregedores das
Comarcas , e Ouuidores , e Corregedores da Noffa
Corte , que daqui em diante norn prendam , nem
mandem prender peffoa algüa de qualquer qualida-
de, e condiçam que feja, por petiçam , ou queixume
d'injuria verbal, que outrem deli a faça, nem por in-
quiriçam que por ella feja tirada, pofto que a peffoa
que fe ouuer por injuriada feja de maior forte, con-
diçam , e qualidade que o injuriante ; faluo quando
por final fentença for determinado , que a tal peífoa
feja prefa , por maneira que ante da fentença defini ..
tiua nom feja peffoa algüa prefa por caufa d'injuria
verbal como dito he.
50 E QY AN oo alguü Fidalguo, ou Caualeiro, ou
Efcudeirq Noífo criado, ou Efcudeiro criado de qual-
quer dos Grandes, ou Prelados de Noffos Reynos,
injuriar de palauras ou de feito algüa outra peffoa 1
de qualquer forte e condiçam que feja, em qualquer
Luguar de Noflos Reynos, e Senhorios, e o injuriado
fe queixar, e der fuas inquiriçoes, e defpois de as teer
dadas defiíl:ir d'acufaçam, ou lhe perdoar, ainda
que o cafo feja tal , que fegundo as Ordenaçoes de
No(fos Reynos as Nofias J uftiças nom poíT'am mais
proceder polo feito em diante , por affi a parte defi-
ftir, todauia em tal caío ~eremos, e Mandamos, que
a Jufiiça proceda polo feito cm diante , e dee fen-
tença no feito, condenando a parte na mJuna em
que
304 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. XLIV.
que o condenaria, fe a outra parte injuriada acuíaíle;
a qual condenaçam feja aplicada aa parte injuriada,
e fe ella nom quifer receber a dita condenaçam da
dita injuria, ou lha teuer perdoada, entam feja pera
a Arca da Piedade. E no cafo fobredito nom fe quei ..
xando a parte injuriada, ou queixando-fe, e defiíl:in ..
do antes de dar as inquiriçoês ( poílo que feja em
cafo que a Juftiça fegundo Noffas Ordenaçoés nom
aja luguar) ficará a Nós Mandarmos proceder no
dito cafo , como Nos parecer juíliça.
5 I ITEM porque os Juízes Ordinarios com os
homens bons tem o regimento da Cidade, ou Vilia ,
elles ambos quando poderem, ou ao menos huü, hi-
ram fempre aa Vereaçam da Camara, quando fe
fezer, pera com os outros ordenar o que entende..
rem por prol comum, Dereito, e Juíl:iça.
52 ITEM conílrangeram o Alcaide, e feus ho-
mens~ que traguam os prefos á Audiencia , e pren-
dam os que lhe elles mandarem, e foltaram por feu
mandado.
53 ÜllTRO s1 conftrangeram o Alcaide que fer..
ua , e guarde a Cidade, ou Villa, de noute e de dia,
com os homens jurados que lhe forem dados na
Camara , fegundo lhe he ordenado em cada húa Ci-
dade, ou V ilia; e façam-lhes paguar, o que ham de
auer, por o Alcaide Moor, onde he ordenado por or-
denança , ou cuftume • que os Alcaides Moores os
paguem ; e nom lhes paguando, tomem-lhe tantas
de fuas rendas, por que os paguem do que affi ham
d'a-
Dos Juiz. ÜRD. E DO Q!JE A SEU ÜFFTC. PERT. 305

d'auer, fegundo mais compridamente Diremos no


Titulo Do Alcaide pequeno.
54 ITEM os Juizes mandaram tanger o fino de
correr polos Alcaides, onde nom ouuer peífoa or.
denada pera iffo; e efto, naquelles Luguàres onde fe
cuftumou tanger. E nas Cidades, e Villas Notaueis
de Noílos Reynos, fe corra o fino hüa hora inteira.
E começaram a tanger defde o começo d'Outubro
atee fim de Março aas 01to horas da noute , e tan-
geram atee as noue; e defde comei;o de Abril atee
fim de Setembro começaram a tanger aas noue ho-
ras , e tangeram atee aas dez ; e nas outras Villas, e
Luguares abaíl:ará tanger o fino húa mea hora, po-
rem acabaram fempre de tanger aas noue horas no
inuerno, e aas dez no veram , nos mefes que emci-
ma Diffemos.
55 hEM os Juízes Ordinarios tragu~m varas
vermelhas continuadamente, quando pola Villa an..
darem, fob pena de quinhentos reaes por cada vez
que fem ella for achado; e os Jtiizes de Fóra, que
Nós Mandarmos a algüas Cidades , Villas , ou Lu ..
guares , trazeram as ditas varas brancas , fob a dita
pena.
56 ITEM premeram as Eíl:alagees das Cidades,,
Villas, e Luguares, e feus Termos onde-forem Jui..
zes, fe tem fuas Eíl:alageês prouidas de camas , e
mantimentos como fam obriguados ; e nom as ten-
do como deuem , .lhes fejam loguo tomados os pri..
Liv. 1. Qg uile-
306 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDBN. TJT. XLIV.
uilegios que teuerem de Eflalajadeiros , e lhes nom
fejam ~ais guardados.
57 E SEJAM auífados os ditos Juizes , que nom
confentam a Arcebifpo, nem a B.ifpo , nem a. feus
Viguairos, que tomem Noffa Jurifdiçam , nem vam
contra Noífos Dereitos, fazendo os Leiguos perante
fi refponder nos cafos que nom deu em ; e confen-
tindo o contrairo , e nom o fazendo faber a Nós ,,
Tornar-nos.hemos a elles , e lho Efiranharemos
grauemente nos corpos , e nos bens.
58 ITEM fe alguus vierem perante elles á Audi ..
encia,. que fejam Caualeiros , ou Efcudeiros, 011
outras peífoas poderofas , ouçam loguo feus feitos ,,
e os enuiem d'ante fi, e nom lhes confentam que hi
mais eíl:em ; e fe quif.erem alcuantar palauras , de-
fendam-lhes que nom venham hi mais, e por feus
Procuradores requeiram feu dereito, nos cafos em
que por Procuradores o podem requerer..
59 ITEM feram os Juizcs auifados, que nom dem
a pefioa algüa licença pera comprar guado alguü
pera o tornar a reuender , faluo aquelles que fc obri-
guarem em cada huü Luguardc Noffos Reynos ao
cortar;- e eftes nom poderam mais comprar , que
aquella. copia que forem obriguados cor.t ar , do qual
leuaram certidam dos Juizes, Vereadores J e Procu-
radores , feita polo Efcriuam da Camara , ou per
Tabaliam pubrico da dita Villa-,em que-fo,em obri-
guados, na qual certidam ferá declarado cm quanto
hc
Dos Juiz. ÜRD. I! DO Q.Yl A SEUS ÜFFIC. PERT. 307

he a obriguaçam; e os Juízes, que tal licença derem


a outras peffoas, paguaram a extimaçam do guado
que fe affi comprar pola dita licença em dobro,
ametade pera o acufador, e a outra pera Naifa Ca..
mara; e aqueUes que o guado comprarem fem as
ditas licenças I e deligencias, encorreram nas penas
conrheudas no Titulo Do Regimento dos Alcaides das
facas no ~into Liuro , e acerca deHo fe guardará
o que no dito Titulo he contheudo~
60 ITEM nom confentiram que os guados , que
de fóra de Notfos Reynos vierem pafta.r a elles , an.
dem paftando a menos de cinco teguoas dentro do
eílremo, e fe menos quiferem andar, que os maio-
raes , e paftores dem fiança abaftante a nom tor-
narem, e paffarem os ditos guados fóra de Nofios
Reynos , fem ferem viílos , e contados por o Con-
tador dos guados perante o Alcaide das facas da
Comarca onde andarem , eílando hi ; e fe hi nom
efleuer , perante o Portageiro ; e cfiando todos no
Luguar ,perante todos feram contados., querendo o
Portageiro eílar á dira conta: e efta maneira fe terá
affi na entrada, como na fahida do dito guado, e
a fahida ferá por o meímo porto por onde foi a
entrada ; e fazendo o contrai'ro deflo os maioraes 1
ou paílores , Mandamos , que percam todos feus
guados , e fejam prefos, e ajam a pena dos paífa-
dores dos guados , fegundo mais larguamente Dire.
mos no ~into Liuro, no Titulo Do Regimmto dos
Alcaides das facas.
61 ITEM
308 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. Tn. XLIV.

6r !TEM os Juizes Ordinarios, onde nom ou-


uer Juízes dos orfaõs, guardaram, e compriram em
todo com muita dcligencia o Regimento, que efpe-
cialmente he ordenado ao Juiz dos orfaõs.
62 E PORQ!!E Somos enformado, que muitas
vezes os J uizes , e outras J u ftiças. que poder tem de
prender, acodem aos arroidos onde acham algua
peífoa ferida , e lhes he dito affi polas partes feri-
ridas, como por algüas peffoas que fe hi acertam,
quem he o que fez o dito ferimento , moílrando-
lho pera que o prendam, ou lhe moílram como vai
fogindo, em modo que o podem prender, e as di-
tas Juftiças nom oufam de os prender por ainda
nom terem querela, nem deualTa, por que os poffam
prender, e por bem de Nolfa Ordenaçam , que de-
fende, que nom prendam fem querela, ou culpa
obriguatoria, os leixam hir, e defpois , quando as
partes querelam , os nom podem mais auer aa
maõ, e am perece juíl:iça, e pera Prouer nitro Man-
damos , que quando affi as ditas Juíliças acudirem
aos ditos arroidos ,. onde acharem algüa peíloa , ou
peíloas feridas,. e lhe for dito, e moíl:rado aquelle J
ou aquelles que fe dilTerem feer culpados , os pren-
dam loguo , como que delles teuetTem querelas
obriguatorias pera prifam ; e pofto que lhe nom
feja requerido por parte algüa, nem dito , qual he
o culpado , fe ao Juiz no dito arroido parecer que
alguüs fam culpados , poderá prender atee feis pef-
foas, e tanto que prefo, ou prefos forem , loguo
neífe
Dos Juiz. ÜRD. E DO Q!!E A SEU ÜFFJC. PERT. 309

neffe dia preguntem aa parte fe quer querelar , e


querelando, o leixaram jazer prefo, fe a querela for
obriguatoria pera a prifam, atee fe liurar por fcu
de rei to ; e nom querendo querelar, entonce vejam
loguo neífe dia a qualidade das ditas feridas , e fe-
nom forem pera deuaífar, loguo neffe dia o foltem >
fem mais apellaçam nem agrauo , fazendo diíl'o
huü auto, que fique em maõ do Ta baliam, pera, a
todo tempo fe faber como o Juiz fe ouue niífo,. o
qual auto paguará o dito prefo , que affi mandam
foltar ; e fe o cafo for pera deuaífar, tire loguo nef-
fe dia, e a todo mais atee o dia feguinte, a deuaffa;
e achando que norn hc culpado , e que o nom cul-
pa tcflemunha algüa , o foltem iífo· mefmo loguo
pelo modo que dito he, fem mais apellaçam, nem
agrauo ; e achando que algüa teftemunha o cuJ·pa,
entonce procedam contra eUe, fazendo citar a parte;
e fe a parte o quifer acufar, vaa polo feito em diante;
e nom o querendo acufar a parte , entonce proceda
contra elle por parte da Juíliça , acband·o que a Ju-
fiiça ha luguar , poílo que a parte nom queira acu-
far, como he no cafo da aleijam, ou ferimento polo
roílo ; e achando que a Juíliça nom ha luguar, e a
parte nom quer acufar , e o ferimento foi em rixa •
pofto que foífe de noute , entonce o mande foltar
pola fórma fobredita , fern mais apeHaçam , nem
agrauo , na fórma que dito he; e fendo cafo que o
ferimento norn feja d'aleijam, nem ferida de roíl-o,
e o juiz. no dito arroido prender algüa peífoa da
fór-.
310 O PRIMEIRO Lrv. DAS Oa.DEN. T1T.XLIV.
fórma que dito he, e defpois de o teer prefo, nom
querendo a parte querelar, achar que as feridas fam
mortaes , tire huü fumaria conhecimento de duas
ou tres teftcmunhas , que mais razam tenham de
faber, fe o dito prefo he culpado , e achando que o
he , o nom foice atee o ferido nom fcer feguro de
morte das ditas feridas polos milhores dous Ce-
lorgiaes que na Terra ouuer, e nom auendo dous,
por o Celorgiam que o curar, fendo examinado; e
achando polo dito fumaria conhecimento que nom
he culpado, entonce o folte loguo , pofto que o fe.
rido nom eftee feguro.
63 E 1sn rnefmo modo teram os Juizes., quan.
do lhe o Alcaide , ou Meirinho , ou qualquer do
pouo , trouxer alguü prefo , polo acharem em al-
guü maleficio.
64 ÜUTRO sr , por quànto Ouuemos por enfor-
maçam , que muitos moradores nas Aldeas de Nof-
fos Reynos , que eftam afafladas por.hüa leguoa, e
mais ,das Cidades, e Villas, de cujo Termo; e Ju;..
rifdiçam fam, perdiam muitos dias, e geiras, por
hirem requerer fua juíliça fobre os dãnos, e coi-
mas, e outras contendas de pequena quantid~de , e
quantia, aas ditas Cidades , e Villas de cuja Jurif-
diçam fam, ~erendo a efto prouer, Mandamos•
que em qualquer Aldea , em que ouuer vinte vezi~
nhos., e di pera cima atee cincoenta , e for hüa le-
guoa afaftada, ou mais, da Cidade, ou Vi!Ja de cujo
Termo for , os Juizes da dita Cidade, ou Villa, .c om
os
Dos Juiz. ÜRD. ! DO (U.JS A SEUS ÜFF!C. PtRT. 31 I

os Vereadores, e Procurador , efcolham em cada


huü anno huü homem bom da dita Aldea , que feja
nella Juiz, ao qual daram juramento em Camara ,
que bem e verdadeiramente conheça , e determine
verbalmente fem proceífo alguu as contendas , que
forem antre os moradores da dita Aldea, de contia
de cem reaes pera baixo, fem apellaçam, nem agra-
uo; e fua determinaçam, e fentença dee loguo aa ex-
ecuçam com efed:o. E bem aíli conhecerá dos dã-
nos , e coimas ancre os ditos moradores , e as deter-
minará fegundo as Poíl:uras do Concelho, fem apel-
laçam, nem agrauo. E poderá prender os malfeitores,
que forem achados cometendo os maleficios em a
djta Aldea, e feu limite, ou lhe for requerido polas
partes que os prenda, fendo-lhe mofirados manda-
dos, ou querelas, por onde o deuam feer; e tanto
que forem prefos, os mande entreguar aos Juizes
Ordinarios de cujo Termo for a dita Aldea.
65 · E SENDO a Alde.a de cincoenta vezinhos atee
cento, conhecerá o dito Juiz atee duzentos reaes ,
e das coimas, e dãnos, fem apellaçam, e agrauo; e
prenderá os malfeitores , e os remeterá polo modo
fobredíto.
66 E SE for Aldea de cem vezinhos atee cento
e cincocnta , conhecerá de contia de trezentos re-
aes, e di pera baixo , e dos dãnos , e coimas antre
os ditos moradores , fe.m apellaçam, e fem agrauo ;
e prenderá, e remeterá os malfeitores polo modo
fobredito.
312 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XLIV.

67 E SE a dita Aldea for de duzentos vezinhos,


e di pera cima, conhecerá o dito Juiz atee quantia
de quatrocentos reaes, fem apellaçam , e agrauo ,
fem fobrc i{fo fazer procetfo , e das coimas , e dã-
nos, e eílo antre os moradores deffa Aldea ; e pren-
derá , e remeterá os malfeitores aos Juízes Ordina-
rios como fufo dito he; e os ditos Juízes das taees
Aldeas daram aa execuçam realmente com efetl:o as
ditas fenrenças. ·
68 E NOM conheceeram de contenda algüa que
feja fobre bens de raiz, nem fobre crime alguú , foo-
mente quanto aa prifam dos malfeitores , como di-
to , e declarado he.
69 ITEM os Juízes Ordinarios das Cidades, e
V ilias de Noffos Rcynos, que paífarem de duzentos
vezinhos, teram Jurifdiçam fem apellaçam , nem
agrauo, atee quantia de mil reaes, ou fua valia nos
bens moueis. E fendo de duzentos vezii1hos, ou di
pera baixo, tecam Ju~ifdiçam atee feifcentos reaes,
fem apellaçam, nem agrauo nos moueis. E fendo em
bens de raiz, teram J urifdiçam affi huús , como ou-
tros atee quatrocentos reaes, fem apellaçam 1 nem
agrauo ; e pafürndo a valia de quatrocentos reaes ,
daram apellaçam a qual das partes apcllar quifer.
E no proceffar das ditas demandas affi huús J uizes ,
como outros, tcram a fórma feguinte : fe a contia
nom paffar de quatrocentos rcaes , nom fendo fobre
bens de raiz, ouuiram as partes verbalmente, e re-
cebendo-lhe fuas prouas fe nece!fario for 1 fem fa..
2.er
Dos Jurz. Oao. E oo QYE ., s11u Orrrc. PERT. 313

zer procelfo aJguü , foomente o Tabaliam no pro-


tacolo fará affento de como os Juizes o condenaram
ou abfolueram > o qual ferá affinado pelos Juizes ,
dó qual affenro nom leuará mais que tres reaes e
meo , e do que niffo mandarem , mandará fazer
execuçam por hum Aluará, de que o Tabaliam le-
uará quatro reaes foornente; e palrando a contia dos
ditos quatrocentos reaes atee mil reaes ( nos que
paífarem de duzentos vezinhos , nom fendo fobre
bens de raiz) mandaram efcreuer todo o que as
partes , ou feus Procuradores differem , por huü
Tabaliam d'ante fi ; e fe quiferem dar proua ao que
differem , tomar-lha-ham , aílinando-lhe pera ello
dilaçam fe comprir, e ouuindo-lhe todo o que qui-
ferem dizer de feu dereito. E todo faram efcreuer
fem diífo darem vifta aas partes 1 nem a feus Pro-
curadores , e a fentença que derem , ferá por elles
ambos aílinada , e a daram aa exec-uçam.
70 E srnoo a contenda fobre bens de raiz de
qualquer contia que feja , ou paílar de mil reaes em
bens moueis, proceffaram o feito fegundo fórma da
ordem do Juízo, que por Noífas Ordenaçoés Te-
mos ordenada..
71 E QyERlMOS, e Nos praz , que ninhuü Juiz
Ordinario, que por eleiçam fahir por Juiz, nom fe.
ja condenado em ninhüas cuílas, faluo quando con-
fiar que interueo fua malícia, no cafo em que mere-
ce feer condenado. E eílo nom auerá luguar nos Jui-
ies das Cidades , e Villas Notaueis, e outras , onde
Liv. J. Rr al-
314 O PaIMEtRo Lrv. DAS ÜRDi.N. T1T. XLV.
atgüa ora já Mandamos , ou Acuílumamos mandar
Juizes de Fóra, nem em os Juizes d'outras ViUas
de Noffos Reynos, que fam Villas cercadas, e gran-
des , e femelhantes aas fobreditas Villas Notaueis ;
porque os taecs Juizes poderam feer condenados
em cuftas , fegundo fua malicia , ou culpa , ou ne-
grigencia for, como fe achar por Dercito , e Noffas
Ordenaçoê's que o deuem feer. E em todo cafo que
ouucrcm de condenar quaefquer de todos os fobre-
diros Juizes, affi de Cidades, como de quaefquer
Villas , nas cuílas, fe .a dita condenaçam for em ca-
da hüa das Noffas Cafas da Sopricaçam , ou do Ci-
uel , nom fe fará fem o Regedor , ou Guouernador
feer prefente ; e fendo prefence, fegundo as mais vo..
2es , ferá nellas condenado , ou releuado.

TITULO XLV.

Em que modo ft f11rá a eleiçam dos Juízes , e Perea.


dores , e outros Olficiaes.

A NTES que os Officiaes do derradeiro anno da


eleiçam paffada acabem de feruir feus Officios , nas
oitauas de Natal do dito anno fejam juntos em Ca ..
mara com os homens bons, e pouo chamado a Con ..
celho, e o Juiz. mais velho requererá a todos os que
prefentes forem, que nomeem feis homens pera En-
Jcgedores I os quaei lhe feram nomeados fecreta-
men ..
EM Qy! MODO SI PARA' A ELEiç. DOS Jurz. IT e. 315
mente , nomeand0-lhe cada huü íeis homens pera
ello mais autos , os quaes tomará em efcripto o
Efcriuam <;la Camara , andando por todos com o di-
to Juiz, fem outrem ouuir a voz de cada huü fenom
os fobreditos; e tanto que todos ,forem preguntados,
e fuas vozes c:fcriptas por o dito Efcriuam , os Jui-
zes com os Vereadores veram o rol das vozes , e os
que mais vozes teuerem efcolhc:ram pera Enlegedo-
res, aos quaes fc:rá loguo dado juramento dos Auan..
gelhos, que bem e verdadeiramente: efcolham aquel-
las peífoas , que pera tac:es carreguos lhe parecerem
mais pertencentes • e que tenham fegredo , e nom
diguam os que affi nomearem a outra peffoa algüa ;
e eílc:s fcis homens fará o Juiz apartar de dous em
dous , nom fendo eftes dous parentes aaqUem do
quarto grao , nem cunhados dentro do dito grao , e
fejam apartados em outra cafa onde peffoa algüa
nom eílee, fenom os ditos Enlegedores ., e eílaram
affi apartados dous e dous , em maneira que fe nom
falem huús com os outros , e mande-lhes qu-e cada
huú deíles dous dee em efcripro apartado por fi 1
quaes lhe parece que fam per~encentes pera Juizes,
e em outro titulo dem quaes fam pertencentes pera
Vereadores I e em outro quaes pera Procuradores. e
em outro os que fam pera Tefoureiros, onde Te-
foureiros ouuer , e em outro titulo outros homens
bons, que forem pertencentes pera ferem Efcriuaês
da Camara • e bens deífes Luguares, e affi Juízes , e
Efcriuaês dos orfaõs onde cuftumam andar por elei-
Rr 2 çam
316 O PRIMEIRO L1v. DAS 0RDEN. TrT. XLV.
çam do Concelho: e affi em outro titulo lhe dem
quaefquer que forem pertencentes pera Juii.es dos
Efpritaes nos Luguares onde fe cuíluma, que o nom
fejam os Juízes Ordinarios, e ouuer Juiz apartado
por fi ; e affi mefmo pera quaefquer outros Offi.ciaes
que por eleiçam fe cullumam fazer. E quando os Lu-
guares forem tam pequenos, que nom polfam os En-
legedores achar dentro na Villa,ou pouoraçam todas
as peíl'oas que ham de dar no rol pera Juiz.es, enle-
geram huü do Termo ,e outro da Villa, ou pouora-
çam, em modo, que fempre feja huü da Villa. E po-
rem os ditos Enlegedores, cada dous .e m feu rol, nom
nomearam mais peíloas que aquellas que forem ne..
ceífarias pera feruir os ditos Officios tres annos , e
cftes tres roles foram cada dous Enlegedores deftes
feis huü rol, em tal guifa , que fejam tres roles por
clles affinados , conuem a faber, cada dous affinem
feu rol ; e fe acertarem dous Enlegedores que nom
faibam efcreuer , o outro Juiz , ou huü Vereador
mais aotiguo efcreuerá com elles , e nom fabendo
efcreuer, fer-lhes.ha dado huü bom homem que
com elles efcreua • com juramento que nom defcu-
bra , os quaes Enlegedores tanto que o juramento
lhes for dado nom falem huüs com os outros; fal-
uo os dous que forem apartados hu ü com o outro, e
nom alcem maõ , nem fe partam dahi atee que fe-
jam acabados os ditos roles ; e como forem acaba..
dos, dem-nos ao dito Juiz mais antiguo ,o qual pri ..
meiramellte tomará j'uramemo prefentc todos , que
a
EM Q!JE MODO SE FARA• .A ELEIÇ. DOS Juiz. ET e. 317
a peffoa a1gúa nom digua • nem dee conta dos Offi-
ciaes , que na eleiçam feitos ficam ; e como lhe os
ditos roles forem entregues , veja-os por fi foo , e
concerte huüs com os outros, e efcolherá por aquel-
les roles, que os feis Enlegedores lhe derem, aquelles
que mais vozes teuerem , e tanto que os affi apura-
dos teuer , efcreua por fua maõ em hüa folha, que
fe chama pauta , os que ficam efcolheitos pera Juí-
zes, e em outro titulo os Vereadores, e em outro os
Procuradores, e affi de cada Officio; porem defpois
de apurados, no ajuntar pera auerem de feruir huus
com os outros terá tal auifamento , que ajunre os
mais conuenientes , affi por nom ferem parentes ,
como tambem os menos praél-icos com os que o
mais forem, e affi oulhando aas condiçoes, como ou-
tra qualquer coufa que fe deua efguardar no tal ajun-
tamento, pera a Terra feer milhor guouernada ; e
eíla folha ferá afinada por o dito Juiz, e ferá cerra-
da , e aífelada. E tanto que a dita pauta for feita, e
afinada com~ dito he , fará pelouros defta guifa ,
conuem a faber, tres pera Juizes, e tres de Verea-
dores, e tres de Procuradores , e tres de Tefourei-
ros , e affi de cada Officio em cada pelouro , e nos
pelouros dos Juizes e Vereadores nom ajuntaram
parentes , ou cunhados dentro do quarto grao , pera
em huú anno auerem de feruir E eftes pelouros fe
poeram e.m huü faco aparrado fobre fi , no qual faco
fe faram tantos repartimento~. quantos forem os Of.
ficios que no dito faco ouuerem de dl:ar , e em cada
re-
318 O PRIMEIRO L1v. DAS OaDEN. Tn. XLV.
repartimento fe poerá o titulo de cada Officio, e em
eíl:es repartimentos fe meteram em cada huü os pe-
louros d'aquelle Officio de que for o titulo , e am fe
fará outro repartimento em que fe poerá a pauta no
dito faco com os ditos tres roles dos Enlegedores, a
qual pauta com os ditos roles fe verá no fim dos tres
annos , pera fe faber fe os Officiaes que nella foram
portos fahiram , ou fe foi nella feita algüa falfidade •
pera fe dar caíl:iguo a quem o merecer.
I E ESTA eleiçam fe fará polos Juizes no modo
que dito he , quando o Corregedor hi nom for na
Cidade,ou Villa,onde a dica eleiçam fe ouuer de fa-
zer; porque eíl:ando hi , pertence a elle de a fazer ,
e elle fará a apuraçam dos Juízes, e Officiaes por fi
foo. A qual eleiçam o dito Corregedor poderá fazer
em qualquer tempo do derradeiro anno da eleiçam
paffada.
2 E o dito faco fe meterá em cofre forte bem
fechado com tres fechaduras , das quaes teram as
chaues os Vereadores que foram o anno paffado, ca-
da huü fua ; e efl-es que affi teuerem as ditas chaues
do cofre , nom as daram a outro alguü , que cada
hüa das ditas chaues tenha , porque nunca em alguü
tempo em híía maõ fejam duas chaues do dito co-
fre, mas cada huü dos fobreditos hirá por fi abrir a
fua fechadura quando comprir; e fazendo o contrai-
ro, affi o que a chaue der a quem a outra tinha, co-
mo aquelle que a receber tendo já outra , ferá de-
gradado por huií anno fóra da Cidade, ou Villa • e
ícu
EM 1
Q!JE MODOSEFAIU A ELtJÇ. oosJu1z. ETC. 319

feu Termo, e mais paguará cada huü quatro mil


reaes, ametade pera os catiuos, e a outra pera quem
os acufar.
3 E SENDO cafo que alguõ dos que teuerem eflas
chaucs faleça, ou lhe feja neceílario hir fóra do Lu-
guar, auendo de feer por tanto tempo , que pareça
que ferá neceffario de fe abrir o dito cofre , em tal
cafo por ordenança dos Officiaes que effe anno fo.
rem , fe dará a dita chaue, ou chaues a outra peffoa,
ou peíloas, que nos pelouros dos ditos Officios foem
andar.
4 E NO tempo que ouuerem de tirar os pelouros
dos ditos Officiaes , fegundo feu foro , e cuíl-ume ,
mandaram apreguoar a Concelho , e prefente todos
huü moço de hidade de fere annos meterá a maõ
em cada huü repartimento do dito faco , e reuolue-
rá bem e{frs pelouros , e tirará de cada repartimento
huü pelouro, e aquelles que fahirem nos pelouros
fcjam Officiacs effe anno , e outros nom.
5 E SI acontecer que cada huü dos ditos Offi-
ciàes, que nos ditos pelouros fahir, for falecido,ou
cfteuer abfente de abfencia pcrlonguada, em manei-
ra que fe nom efpere viir taro cedo, ou for impedi-
do d'outro impedimento perlonguado, juntar-fe-
ham os Officiaes da Camara com os homens bons
da Cidade, ou Villa , que nos pelouros da Camara
foem andar, e aas mais vozes efcolheram quem fer-
ua o dito Officio cm luguar d'aquelle finado, ou ab-
fcnte , em quanto foomente durar fua abfencia , ou
im-
320 O PRIMEIR.o L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XLV.
impedimento. E e fia mefma maneira fe terá, quan-
do defpois que cada huii dos ditos Officiaes come-
çar de feruir o dito Officio fe finar, ou abfentar de
abfencia perlonguada, ou lhe vier alguii impedi-
mento perlonguado, em quanto durar o dito impe-
dimento, ou abíencia ; e a eíl:e que affi fezerem da-
ram juramento em Camara , que bem e verdadei-
ramente ferua o dito Officio.
6 E sE defpois eíl:e que affi for enlegido pera
feruir em luguar do finado, ou abfente, ou impe-
dido , acontecer fahir em outro anno por Official
d'alguü Officio dos ditos pelouros, feruirá todauia o
dito Officio, e nom fe efcufará por affi teer já ferui-
do no outro Officio , pera que foi enlegido por ab-
fencia, ou morte, ou impedimento do outro.
7 E os J uizes que fahirem por pelouros , man-
daram requerer as Cartas, pera vfarem de feus Offi-
cios de Julguado, aos Defembarguadores do Paaço,
ou ao Corregedor da Comarca , ou ao Senhorio da
Terra, fe pera iffo por fua doaçam, ou priuilegio
lhe for dado poder ; e atee que ajam a dita Carta.
nom ufaram do dito Officio , e os que o contrairo
fezerem , aucram por ello aquella pena que Nofia
Merce for.
8 E MANDAMOS que o que em algüa Cidade, 011
Villa for huü anno Juiz, ou Vereador, ou Procura-
dor, ou Tefoureiro; nom poífa auer em elTe Con-
celho ninhuü dos ditos Officios, que já ouue, e fer-
uio, atee tres annos contados do dia que fahio de ca.
da. huü dos ditos Officios. 9
EM Q.lJE MODO SE FARA' A ELl!IÇ. DOS Jurz. IT e. Jll

9 EM PERÓ eflo nom auerá lugu:ar nos Luguares


pequenos , onde fe nom poderem achar peffoas taees,
que fejam pera feruir os ditos Officios i porque em
eíles taees Luguares poderam feer Officiaes huü an-
no , e outro nom.
10 E AVEMos por bem que dos Officios de Juí-
zes , Vereadores, Procuradores, e Almotacees dos
Concelhos, nom fejam efcufos ninhuas pelfoas, po-
fio que de Nós tenham priuilegio que fejam efcu-
fos dos Officios dos Concelhos , porque Noffa ten-
çam he, que nom fejam efcufos deíles quatro por
priuilegio que tenham ; porque os taees Officios os
milhares dos Luguares os deuem teer , faluo fe cx-
preffamente no priuilegio differ, que deíles Officios
proprios os Efcufamos.
11 E MANDAMOS que qualquer Senhor de Ter-
ras, ou outra peffoa que poder teuer de fazer a elei..
çam , ou confirmaçam dos fobreditos Officiaes , que
defpois de affi ferem ordenados, fegundo emcima
Diffemos, tornarem a abrir os pelouros, ou tira-
rem huüs , e meterem ·ourros , ou mudarem os de
huü anno pera outro, ou efcufarem algaiís Officiaes
dos que fahem ordenadamente , e meterem ourros
em feu luguar , ou quebrar o modo do fazer da di-
ta eleiçam que emcima Temos Ofdenada , ou man-
dar fazer .cada hüa das fobredicas coufas , que feja
priuado da Jurifdiçam, que affi na dita eleiçam , ou
confirmaçam tinha , e nunca mais a poíla fazer : e
Mandamos aos Juízes, ou Officiaes que forem or-
Liv. I. Ss dena-
312 o PRIMEIRO LIV. DAS ÜRDEN. TIT. XLVI.
denados contra fórma da dita Ordenaçam , que nom
feruam os ditos Officios ; e feruindo-os, Auemos
por bem que fejam priuados dos Officios , e nunca
mais ajam Officio de julguar , e fejam degradados
dous annos pera as partes d' Africa. E efta mefma
pena auerá o Ouuidor de qualquer Senhor , que a
dita eleiçam quebrar , ou mudar os Officiaes della
por cada huü dos modos acima declarados. E a to-
dos os Officiaes, ante de começarem feruir feus Of-
ficios, feja dado juramento fobre os Sanétos Auan-
gelhos , que bem e verdadeiramente vfem de feus
Officios , guardando a Nós Noífo feruiço , e aas
partes feu Dereito.

T I T U L O XL VI.
Dos Pertadorts das Cidades , e Vi/las , e totifas que
aJeus Ojfiâos ptrtencem.

TANTO QYE os Vereadores começarem fer-


uir feus Officios ham de faber , e veer , e ·requerer
todos os bens do Concelho , affi propriedades , her-
dades, cafas, e foros , fe fam aproueitados como
deuem, e os que acharem mal aproueitados, falos-
ham aproueitar , e correger.
I ITEM faram meter todas as rendas do Conce-
lho cm preguam , e as que viirem que he bem
de fe arrematarem , falas-ham ·arrematar , e faram.
os
Dos VEREADORES DAS CIDADES, 1 VILLAS ET e. 313
os contraétos com os Rendeiros , e receberam as
fianças, e as que acharem que nom he prol do Con-
celho fe arrematarem , manda-las-ham correr, e
colher pera o Concelho , e poeram em ellas bons
Arrecadadores , e Requeredores, e falas-ham viir a
boa recadaçam.
2 lnM faberam fe algüas poffiíl"oês , ou cami-
nhos , ou refios, ou feruidoés do Concelho , andam
emalheadas , e tira-los-ham pera o Concelho , de-
mandando os que os trazem perante os Juizes, que
as leixem atee realmente ferem tornadas, e reftitui-
das ao Concelho. Peró fe acharem que algüas pef-
foas alarguam os valados das fuas herdades polos
caminhos dos Concelhos , e com elles tomam dos
caminhos, ou feruidoes algüa parte, em taees cafos
elles loguo por fi com alguü fumario conhecimento
de teílemunhas, prefente as partes , ou feus cafei.
ros, ou moordomos, fem mais outra citaçam de mo-
lheres , tornaram os caminhos, ou feruidoes no
ponto que d'antes eílauam , fem receberem apella-
çam, nem agrauo; ficando porem refguardado aos
Senhorios, fc entenderem que fam agrauados, po.
derem demandar o Concelho fobre a propriedade
ordinariamente.
3 1TEM faberam fe tomam, ou trazem alguüs
as J urifdiçoes do Concelho, ou as embarguam co-
mo nom deuem, ou as forçam , ou querem forçar a
e requereram que fe tornem ao Concelho. -
4 OuTRO s1 faberam fe os Noffos Officiaes , ou.
Ss2 A~
324 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. XLVI.
Alcaides, ou outras quaefquer peífoas que por Fo-
ral, ou por outro qualquer Dereito , ham d'auer al-
guus fOFos, e dereitos, os tiram como deuem , ou
leuam mais do que deuem , e nom o confentiram ,
requerendo-os que o norn façam , e fe o fezerem ,
demandem-nos.
5 ITEM faberam como os caminhos , e fontes ,
e chafarizes , e pontes, e calçadas, e poços do Con-
celho, e cafas, e affi quaefquer outras coufas do
Concelho fam repairadas, e as que comprir de re-
fazer, e adubar , e correger , manda-las-ham fazer,
e repairar , e abrir os caminhos, e teíladas , em tal
guifa, que fe po{fam bem feruir por elles, fazendo-
º em tal maneira, que aa fua minguoa as ditas cou-
fas nom recebam danificaçam ; porque danifican-
do-fe aa fua minguoa , por feus bens fe correge..
ram os ditos danificamentos, que por fuas negri-
gencias fe fezeram , e os Corregedores quando vie...
rem polos Luguares , Mandamos que o executem,
e façam correger por feus bens.
6 E MANDAMOS , que quando affi furem fóra da
Villa a fazer as coufas, que a feus Officios perten-
cem , ao mais que em cada hida guaftaram em ca-
da huü dia que affi fóra andarem , feja quatrocentos
reaes ; porem fe a Villa nom paífar de quarenta mil
reaes de renda , nom poderam mais guaftar em to-
do o anno nas ditas comidas , que atee dous mil
reaes; e fe mais guaílarem , ou for neceffario hir
mais vezes fóra, feja aa fua cufta , porque d'o1,1tra
ma..
Dos VERtADOR!S DAS CIDADl!S, E VIL LAS n e. 325

maneira os Concelhos ficariam muito danificados.


E Defendemos, que os ditos Officiacs da Camara
nom leuem dos bens do Concelho outros percalços,
nem dinheiro, por affi hirem fóra , nem por faze-
rem Preciffoês, nem por outra qualquer coufa que
a. feus Officios pertença, pofro que por cuílume an-
tiguo ,ou por Aluaraes Noffos o atee aqui leuaffem,
ou pofto que eíleueífem em poíle de fazerem maio-
res comedias ; e fazendo o contraira encorreram
nas penas contheudas na Ordenaçam Dos 'J..Ue leuam
mais do contheudo em faus &gimentos.
7 ITEM proueram as Poíl:uras , e Vereaçoés , e
Cuílumes da Cidade , ou Villa, antiguas , e as que
viirem que faro boas fegundo o tempo , façam-nas
guardar, e as outras. façam correger, e outras façam
de nouo , fe comprir a prol , e bom regimento da
Terra, e o faram na fórma feguinte.
8 ITEM confiraram em todas as coufas que
cornprir a prol comum , e defpois que affi confira-
rem , ante que façam as Poíl:uras , e Vereaçoes , ou
as desfaçam , e as outras coufas , chamem os Jui ...
. xes, e homens bons , que foem andar no regimento
da Terra, e diguam-lhes aquello que vi irem, e con-
:firarem , e o que com elles acordarem fe coufa leue
for, façam-na loguo poer em efcripto, e guardar ;
e em as coufas grandes , e graues, defpois que por
todos .for acordado, ou por a maior parte delles li
façam chamar o Concelho,. e diguam-lhe as coufas
quae.s fam , e o proue.ito, ou dãno que lhes pode
re-
326 O PRIMEIRO Ltv. DAS ÜRDEN.TtT. XLVI.
recrecer, affi como fe oauelfem demanda fobre fua
Jurifdiçam , ou fe lha filham, ou lhe vam contra
feus foros, e cuftumes , de guifa , que nom poffam
efcufar demanda , ou em outros feitos femelhantes ;
e o que por todos, ou pola maior parte delles for
acordado , affi o façam loguo poer em efcripto no
Liuro da Vereaçam , e dem feu acordo aa execu-
çam.
9 E AS Poíl:uras , e Vereaçoês que affi forem
feitas , e outorguadas , o Corregedor da Comarca
nom lhas poífa reuoguar , nem outro ninhuü Offi-
cial , ou Defembarguadores Noffos , ante as façam
comprir • e guardar, e faber fe as dam a boa exe-
cuçam, quando pola Cidade , ou Villa o dito Cor-
regedor vier. Porem fe ao fazer da Poíl:ura os que
mais poucos forem em vozes quiferem agrauar, por
lhes parecer que a fua tençam he milhor que os das
mais vozes , poderam agrauar pera os Defembar-
guadores do Agrauo da Noífa Rolaçam ; o qual
agrauo tiraram aa fua cuíl:a, e nom do Concelho 1
e o que for determinado em Noffa Rolaçam fe guar-
dará·, e cornprirá.
10 E Ao fazer das taees Polluras , nem a outra
coufa que na Camara os ditos Vereadores ouuerem
de fazer, nom confentiram que os Senhores das Ter-
ras , nem feus Ouuidores cíl:em na dita Camara , e
fe laa entrarem , requeiram-lhes que lhe diguam o
que querem , e o Efcriuam da Camara o efcreua, e
faiam.fe loguo da Camara, e elles façam fua Verea-
çam •
Dos VEREADORES DAS ClDADEs, E VnLAs ET e. 327

çam ; e nom fe querendo fahir, faram loguo difro


huü auto com o Efcriuam da Camara , e Ieixem de
fazer aquella Vereaçam, e mandem loguo o auto ao
Corregedor da Corte dentro de huú mez ; e o Se-
nhor da Terra que tal fezer paguará cem cruzados,
ametade pera quem o acufar, e a outra metade pera
os catiuos ; e fe for feu Ouuidor , ferá condenado
em dous annos de degredo , e priuado do Officio; e
os Vereadores que o affi nom comprirem , encorre-
ram nas mefmas penas, e mais paguaram cada huü
vinte cruzados, e efras mefrnas penas auerá o Efcri-
uam da Camara que no fazer do tal auto for negri-
gente. Porem aos que por fuas doaçoes , ou por
priuilegios por Nós confirmados, for outorguado ,
que poíTam entrar , e efiar nas Camaras , guardar-
fe-ha o que por fuas doaçoes , ou priuilegios lhe
expreffamente for outorguado.
11 1TEM os Vereadores faram guardar em hüa
arca grande, e boa , todolos Foraes, Tombos , Pri-
uilegios , e quacfquer outras Efcripturas , que per-
tencerem ao Concelho ; e efia area terá duas fecha-
duras, das quaes hüa chaue terá o Efcriuam da Ca-
rnara , e outra huü dos Vereadores , e nunca fe tira-
rá Efcripumr algüa da dita arca, faluo quando algüa.
for necdfaria pera fe veer , ou trasladar , encam
foomente a tiraram em a dita caía da Camara , em
que a dita arca eíl:euer, e acabado aquello pera que
for neceífaria , fc torne loguo aa dita arca , e eílo ,
fob pena do Efcriuam da Camara perder o Officio ,
e
328 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. T1T. XLVI.

e o Vereador que a outra chaue teuer aucrá aqucl-


la pena que NolTa Merce for.
12 ITEM como entrarem tomaram a conta aos
Procuradores, e aos Tefoureiros do Concelho , que
foram o anno paffado, e affi dos outros annos, fe lhe
tomadas nom foram; e todo o que acharem que de-
uem façam Joguo por feus bens executar , e efias
contas , e execuçoês faram do dia que entrarem a
dous mefes ; fob pena de paguarem outro tanto por
fcus bens, quanto affi leixarem de executar , a qual
pena ferá pera os catiuos.
13 ITEM poeram almotaçaria aos Officiaes ma-
canicos I e jornaleiros , e mancebos , e mancebas de
foldada , e louça, e calçado, e aas outras coufas que
fe comprarem , e venderem, fegundo a defpofiçam
da Terra , e a qualidade do tempo.
14 ITEM faram recadar todas as diuidas , que
forem deuidas ao Concelho , e affi poeram em boa
guarda quaefquer coufas que hi ouuer do Concelho,
em maneira que fe nom danifiquem.
15 OuTRO s1 mandaram fazer, quando forem
neceffarios , os cofres pera as eleiçoês , e pelouros ,
e affi as arcas , e almarios pera as Efcripturas , e
coufas , que nellas ham de feer bem guardadas.
16 ITEM os Vereadores com os Juízes liura-
ram em Camara fem apellaçam os feitos das inju-
rias verbaes., e furtos pequenos , e d'almotaçaria, de
que lhe he dado conhecimento , fegundo a declara-
çam que cm o Titulo Dos Juízes Ordinarios Temos
~L 170~
Dos VEREADORES DAS CrnADts, t V111As E.Te. 329

17 OuTRO s1 feram auifados de prouer, fe a


Terra e fruitos della fam guardados como deuem ,
e fe guardam as Poíl:uras e Vereaçoês do Concelho;
e fe acharem que fe nom guardam, conílranguam
os Rendeiros, e Jurados, e os outros que dello reue-
rem carreguo, que as façam guardar , fegundo fam
poílas , fob pena de paguarem por feus bens todo
o dano que fe por e!lo feguir e recrecer.
I 8 ITEM ninhuü Vereador, nem outro qualquer
Official da Camara quite ninhua coima, nem pe-
na , a ninhua peíloa que em ella tenha encorrido ,
nem diuida , nem outra coufa que ao Concelho fe-
ja deuida , e qualquer que o contrairo fezer pague
todo o que affi quitar anoueado pera o Concelho, e
aalem dello aquelle que na dita pena ou coima en-
correo feja por ello conílrangido, e todavia pague.
E a execuçam deílo faram os Vereadores que forem
no anno feguinte , íob as ditas penas.
19 ITEM fejam auifados dar aos Rendeiros , ou
ao Procurador, em quanto as rendas nom forem ar-
rendadas, Jurados que auondem, que bem guardem
a Terra, e fe nom façam em ella ninhuus dãnos, fob
pena de por feus bens paguarem todo o dãno, que
fe por fuas culpas fezer, aíli ao Concelho , como
aas partes.
20 E QllANoo nom acharem quem queira feer
Jurado, coníl:rangeram as peíloas que forem piaes)
e que cuíl:umem trabalhar por jornal, que nom fo.-
rem efcufos por alguü priuilegio.
Liv. L Tt -z1
330 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. T1T. XLVI.
21 E Q.!!EREMOS por euitar os dãnos, e refrear
os daninhos, que quando algua pelfoa achar em fuas
herdades, ou vinhas, ou pomares alguu guado, ou
beíl:a , ou peffoa , em luguar, e tempo que feja de-
fefo por a Poílura do Concelho , que elle, ou feu
criado , ou cafeiro ; ou moot'domo poíla com hüa
teíl:emunha erncoirnar, e dar a coima ao Concelho ,
a qual teílemunha ferá crida por feu juramento, e
eflo quer hi aja Jurado, quer nom.
22 ÜUTRO s1 nom confentiram a ninhüa peffoa
por poderofa que feja, que contra as pofturas faça
ninhüa coufa , e fe o fezer , loguo requeiram aos
Juizes que tornem hi, e fe o fazer nom quiferem,,
ou nom poderem , façam-no faber ao Corregedor ,
ou a Nós , pera em ello Prouermos , e Mandarmos
dar a emenda que for razam.
23 ITEM os Vereadores viiram todo$ aa Verea-
çam aa qu .. rta feira, e ao fabado, e nom fe efcufa-
ràm fem juíl:a caufa ; e o que hi nom vier pague
pera as obras do Concelho por dia cem reaes bran-
cos , os quaes loguo o Efcriuam efcreuerá em rece-
pta fobre o Procurador, fob pena de os paguar ano-
ueados. Peró fe for doente, ou ouuer alguü neguo-
cio, que nom poffa viir, feja efcufado, fazendo-o
faber ante a feus parceiros. E porc;m nos Luguares
onde eíl:euer por cuílume em menos dias fazerem
Vereaça01 , guardar-fe-ha feu cuftume.
24 ITEM os Vereadores ham de teer carreguo de
todo o regimento da Terra , e das obras do Conce..
lho,
Dos VEREADORES DAS CIDADES, E VnLAs ET e. 33r

lho , e de qualquer coufa que poderem faber e en...


tender, por que a Terra, e moradores della pofiam
bem viuer, e efto ham de trabalhar; e fe fouberem
que fe fazem na Terra malfeitorias , ou que nom he
guardada por a Juíliça como deue, requereram aos
Juizes que tornem a iífo, e fe o fazer nom quiferem,
façam-no faber ao Corregedor da Comarca , ou a
Nós.
25 ITEM Carta ninhüa nom fcrá efcripta em no..
me do Concelho , faluo na Camara delle, onde fe
ajuntarem os Juizes, e Vereadores, e Procurador,
e homens bons, que forem em acordo de fe tal Car-
ta fazer , e hi ferá por clles afiinada , e nom fe afii ..
nará palas cafas, e tanto que por todos for afiinada,
a façam afTeiar com o feio do Concelho. E fe al-
guús do Concelho quiferem fazer outra· Carta em
contrairo d'aquella , ajuntem-fe na dita Camara, e
ahi a façam , e afiinem, e façam aílelar como dito
he; e nom fe fazendo as Cartas cm eíl:a maneira ,
~cremos que por ellas fe nom faça obra algüa ,
nem lhe feja dado credito, nem auétoridade. E eíl:o
nom auerá luguar em Cartas que pertençam a de-
mandas, que fejatn antre partes; porque eílas pode...
ram feer feitas polo Efcriuam da Camara , ou por .
qualquer outro a que pertencer, e affü1ar-fe-ham
onde quer que efteuerem os Officiaes , que as ouue-
rem d'affinar , poflo que nom feja na Camara, e o
que teuer o feio as affelará , tanto que affinadas fo-
rem, pera nom ferem as ditas Cartas detheudas, nem
Tt2 as
332 O PRIMEIRO Ltv. DAS ÜRDEN. TIT. XLVI.
as demandas prelonguadas. E os Officiaes que affi-
narem por cafas, e nom na Camara como dito he-,
paguaram por cada vez dous mil reaes , e o que alre-
lar tres mil reaes , e outro tanto o Efcriuam da Ca-
mara que a efcreuer, e perder.amos Officios, e ame-
tade deílas penas feram pera quem os acufar; e a ou-
tra metade ferá pera os captiuos. E Defendemos aos
Corregedores, e Juizes, e a outras qua.esguer pelfoas
que J urisdiçam teuerem , que nom tomem os feios
dos Concelhos , e os leixem teer aos Chançereis ; e
nos Luguares onde os nom ouuer, os leixem teer e
guardar a aquellas peffoas a que polos Juizes e Offi-
ciàes dos Concelhos fegundo feu antiguo c.uíl:ume
forem encarreguàdos.
26 IT.EM os Vereadores ham de fazer auenças
polos jornaes, e empreitadas com os que fezerem as
obras, e as outras coufas que cumprem ao Conce-
lho , e talhar foldadas com os Porteiros , e com os
outros que ham de feruir ao Concelho , e por feu
mandado feram paguos > e d'outra guifa nam.
27 ITEM ham de dar Carniceiros, e Paadeiras,
e Almocreues, que dem os mantimentos , e mandar
talhar com os Carniceiros, e com as Paadeiras, e lhe
taixar guanhos honeftos-, e conílranger que fcruam
e vfem-de feus meíleres, e affi o& outros Mefteiraes.
28 OuTRo s1 nom aforaram ninhuüs bens do
Concelho, fenom em preguam , fob pena de pa-
guarem a noueado ao Concelho o foro, por que afo-
rarem, e mais o contraélo ferá ninhuü 1 e de ninhuü
valor. 29
Dos VEREADORES DAS CroADES,, E VtLLAs 1Tc. 333

29 OuTRO s1 Mandamos, que quando fe feze-


rem as eleiçoês dos Juizes , e Vereadores, e Officia..
cs do Concelho ,e affi quando fe fezerem as Verea..
çoês , os Alcaides Moores nom eftern ao fazer dei-
las , por fe euirarern algüas toruaçoês , e deuifoês •
que por f ua e fiada fe podem feguir; e os Vereadores,
e Officiaés que o contraira confentirem , encorratn
em pena de dous mil reaes , amerade pera os cati-
uos, o a outra metade pera quem os acufar. E Man..
damos aos ditos Vereadores, e Officiaes, que requei-
ram aos femelhantes Alcaides , que fe faiam da Ve-
reaçam ; e nom o querendo fazer, o Efcriuam da
Camara o affente affi , e Nolo faça loguo faber, pera
ni{fo Mandarmos prouer como for Noffa Merce.
30 E isw nom fe entenderá naquelles Alcaides
Moores , que por Foral da Terra, ou Noffo priuile..
gio podem eflar nas ditas eleiçoes .. e Vereaçoes.
31 PERÓ nom Tolhemos aos Alcaides Moores ,
que nom polTam hir requerer aas ditas Camaras e
Verea~oês, o que lhes comprir, e acabando de re-
querer fe faiam loguo da dita Vereaçam, e nom
efiem hi mais ; e Mandamos aos ditos Officiaes, que
em quanto affi hi eíleuerem os ditos Alcaides Moo-
res requerendo fuas coufas, nom façam nas Verea-
çoês coufa algu.a.
32 E BEM Assr nom conlentiram , que effem ao
fazer das eleiçoes, e Vereaçoês as peffoas poderofas,
que Offidaes da Camara nom forem ; faluo quando
quiferem hir aaa Vereaçoes requerer o que lhes com-
prir,

31
334 O PRIMEIRoLrv. DAS 0RI>EN. Tn. XLVll.
prir , porque em tal cafo Mandamos que fejam ou-
uidos , e acabado de requerer o que lhes comprir
fe faiam loguo da dita Vereaçam , e nom efiem hi
mais, e em quanto hi efteuerem requerendo fuas
coufas nom façam nas Vereaçoês coufa algüa.

---·---~----------
T I T U L O XLVII.

Das pejfoas que podem dar licença pera as fintas , e


quaes Jam as pefloas que dei/as fam efcufas , e que os
Concelhos 110m ponham tença a alguem.

P ORQPE muitas vezes acontece que as rendas


do Concelho nom abaílam pera as coufas que os
Officiaes da Camara fam obriguados por feus Regi-
mentos prouer, e fazer , Mandamos , que quando
hi pera as ditas coufas nom ouuer dinheiro das ren-
das do Concelho , e lhes parecer neceffario lançar
finta , que efcreuam aos Defembarguadores do Paa..
ço a caufa, ou caufas pera que querem lançar a di-
ta finta, e lhes hc neceffario o dito dinheiro, e quan-
to dinheiro lhe bafiará pera o dito neguocio, e em
que fe defpendeo o dinheiro do Concelho ; e {e os
ditos Defembarguadores viirem que he neceífario ,
daram a dita Carta pera poderem fintar , com Nof.;.
fo pafle , atee a contia que Nos bem parecer ; e fe o
dito Concelho quifer lançar a dita finta pera feguir
al-
DAS PESS. Q.YE POD. DAR LIC. 'PIRA AS FINT. !Te. 335
alguü feito , e demanda que com outrem aja em a
Noífa Corte, e Cafa da Sopricaçam, ou do CiueJ ,
efcreueram ao Juiz, ou Juizes do feito, os quaes lhe
daram·Carta pera fintar, com auétoridade do Rege-
dor~ ou Guouernador, atee contia que ihe neceffario.,
e bem parecer ; porem fe a finta nom ouuer de feer
mais que atee quatro mil reaes , poderam efcreuer
ao Corregedor da Comarca , o qual lhe dará licen-
ça pera a dita finta , fegundo em feu Titulo he con ..
theudo, e fcm a dita Carta de cada huü dos fobredi-
tos, como dito he; nom poderam os Officiaes da Ca..
mara, nem o Concelho lançar finta pera coufa al-
gúa ; faluo pera a criaçam de meninos engeitados,
fegundo Diremos no Titulo Do Juiz dos Orfaõs.
1 E AS peífoas que fam efcufas de paguar na di ..
ta finta, quando affi for lançada , fam as feguintes,
conuem a faber, os Fidalguos, e Caualeiros, e Efcu-
deiros de linhagem, ou de criaçam d'alguü Fidat..
guo , ou outra peffoa que o em fua caía criar , e fe-
zer Efcudeiro_, trazendo-o a caualo, e fendo tal Fi-
dalguo que cuíl:uma tecr em fua cafa Efcudeiros ; e
efto, tendo os ditos Efcudeiros lanças, que paílem de
dezoito palmos , e couraças : e i{fo mefmo todas as
pelfoas de maior qualidade que as fobreditas , e affi
mefmo os Doutores , ou Lecenciados, ou Bachareis
em Theologia , ou Canones , ou Leys , ou Medici-
na , que forem feitos por e.xame em eíl:udo geeral ,
e affi os Juizes, Vereadores, e Procuradores do Con-
celho, e Tefoureiro no anno em que feruircm, e al-
guas
336 O PRIMEIRO Ltv. DAS 0.RDEN. T1T. XLVII.
guas peífoas que tam pobres fejam , que principal-
mente viuam por efmolas , e bem affi os que tiue-
rem por priuilegio efpecial que nom paguem nas
fintas do Concelho. Porem quando a finta for pera
defenfam , ou guarda da Cidade, Villa , ou Lu-
guar, e feus Termos donde viuerem, ou pera fazi-
mento, ou refazirnento de muros , pontes , fontes , e
calçadas, nom feram efcufos ninhuus dos fobredi-
tos ; faluo fe moíl:rarem priuilegio por que expreffa-
mente fejam das ditas fintas de fazimento, ou refa ..
zimento de muros , pontes, fontes, e calçadas, ou
defenfam , ou guarda da Cidade, ou Villa; por que
entam lhe guardaram os priuilegios como nelles for
contheudo.
2 E MANDAMOS que Concelho alguü, poílo que
de Cidade algüà feja, nom potra dar, nem poer ten-
ça a peífoa algua fem Noíla e(pecial licença , e au-
él:oridade , e doutra guifa nom valha : e poflo que
algüas peífoas ajam de Nós Cartas de roguo pera al-
guüs Concelhos , que lhe ponham algüas tenças >
Auemos por bem, que taees Cartas lhe nom guar-
dem , fe o nom fentirem por proueito deffes Conce-
lhos ; por quanto por importunidade dos requeren-
tes algíias vezes Poderemos palrar femelhantes
Cartas, e porem nom he Noífa tençam , que aquet ..
les, a que as Enuiarmos, fejam necelfariamente
coníl:rangidos com prilas.
DA O&DEN. DA BOLSA Q.YE SE HA DE FAZ. ET C. JJ7
T I T U L O XLVlll.

Da ordena11ra da /Jo!fa que ft ha de fazer pera difpifa


dos dinheiros, e prefas que fe leuam de huü lug11ar pe-
ra outro , e que os Juiz.u tomem os prefos.

Ü RDENAMOS,quede cada Luguar,nos Lugua-


res onde por Noífa Ordenaçam , ou cuíl:ume fazem
bolfa pera o leuar dos prefos, ou ao diante ouuerem
NoíTa Prouifam pera ello , fe tenha ·ef\a maneira ,
que em cada hüa Freguezia fe faça huú Sacador, ao
qual feram dados em rol as peffoas moradores na
dita Freguezia , que com razarn deuam pera a dita
bolfa paguar, o qual Sacador arrecadará , e recebe-
rá de cada huü os dinheiros que lhe forem ordena:-
dos , e lhe ferá affinado termo a que os aja de tirar,
e tanto que tirados forem, entregualos-ha ao Rece-
bedor abonado, que pera eílo feja ordenado a pra-
zimento dos que na dita bolfa ouuerem de paguar ,
e lhe feram entregues perante o Efcriuam do dito
carreguo , ou perante o Efcriuam da Camara, don-
de Efcriuam efpecial pera eíl:o nom ouuer; ao qual
Mandamos que efcreua eílo , e faça huü liuro apar-
tado, em que efcreua a recepta, e defpefa deíl:es di-
nheiros , e feja a ello bem deligente.
I E ESTES dinheiros fe tiraram em cada huú
anno , e os roles que forem entregues aos Sacadores
fejam concertados com os Officiaes em Camara, Oll
Liv. L Vv com
338 O PRIMEIRO L1v. DAS OaoeN. TrT. XLVIIL

com aquelles a que o tal carreguo Teuermos dado,


e acabado o anno fe tomará de todo conta , pera fe
faber o que fe recebeo, e defpendeo, e viir todo a
boa recadaçam.
2 E POR quanto fe todolos priuilegiados foífem
deíle paguarnento releuados, ficariam poucos pera
em eíl:o paguaret'n, Mandamos que nom fejam defto
e(cufos, faluo aquelles que teuerem Noffos priuile-
gios , em que exprelfamente declare que nom pa-
guem em eftes dinheiros da bolía ; e fe tal declara-
çam nom teuerem, poílo que digua que nom feruam
com prefos , nem com dinheiros , Mandamos que
todauia paguem. E bem affi nom paguaram os Bee.
fteiros de caualo, nem os Efcudeiros, e Caualeiros,
e di pera cima, que Diífemos no Titulo precedente
que nom paguaffem nas fintas.
3 ÜuTRO s1 nom paguaram na dita bólfa os Ren-
deiros das Noífas Rendas, e Dereitos, e os Requere-
dores da Nofla Sifa, e Portagem, que por No!fa Or-
denaçam fam defto efcufados , e algüas peífoas que
tam pobres fejam, que principalmente viuam por
efrnolas.
4 E MANDAMOS, que quando quer que os ditos
prefos affi forem leuados de Concelho em Concelho,
affi por os leuadores que pera iífo forem ordenados,
como por quaefquer pelloas que os leuarem por con-
ftrangimento, que os Juizes das Cidades, Vilias, ou ·
Luguares onde com os ditos prefos cheguarem , os
recolham loguo com deligencia , e os entreguem e
fa-
Dos ALMOT. E cous. Q.!JE A SEu Onrc. PERT. 339

façam tomar aos Carcereiros das taees Cidades ,. ou


V ilias ; e fendo os Juizes nello negrigentes , os A ue-
mos por condenados cm vinte cruzados , amecade
pe ta quem acufar, e a outra metade pera a Noffa
Caniara , e mais feram degradados huü anno pera
cada huü dos Luguares d' A frica, e alem deli o lhe
ferá dada a mais pena que merecerem , fegundo o
dãno q ue de fua negrigencia, e de nom quererem
tomar os prefos fe feguir.

T I T U L O XLIX.
Dos Almolacus, e coujas que aftu Ojficio pertencem.

OS Almotacees fe ham de fazer no começo do


anno por efta guiía, conuem a faber, o primeiro
mez ham de feer Almotacees os Juízes do anno paí-
fado.
1 ITEM o fegundo dous Vereadores os mais an-
tiguos, e o terceiro huú Vereador, e o Procurador
do anno paífado. E no Luguar onde ouuer quatro
Vereadores Jeruiram no terceiro mez os outros dous
Vereadores, e no quarto mez fcruiní. o Procurador
com outro.
2 hEM pera os noue mezes os Offic1aes do Co11.
celho com o Alcaide Moor, onde por Foral ou pri ...
uilegio elle ha de feer prefente ao fazer dos Almo-
tacces, tomando a todos primeiramente juramento
Vv 2 de
340 O PRIMEIRO Liv. D..\s·O.R.DEN. T1r. XLIX.
de fazerem aquelles que pera ello mais idoneos fo.
rem, enlegeram aas mais vozes noue pares d'homens
bons, dos milhores que ouuer no Concelho, que effe
anno nom forem Officiaes delle, que fejam perten-
centes pera o feer , e feram efcriptos em húa pauta
affinada por os ditos Officiaes , e fe çarrará , e affela-
rá , e meterá no cofre da eleiçam , pera fe faber no
fim do anno fe fahiram aquelles que foram ordena-
dos , e feram poftos em noue pelouros , e como fo.
rem feitos, tiraram em cada huü mez huü pelouro•
prefente os ditos Officiaes, e Alcaide Moor, e co-
mo tirarem cada pelouro, os efcreuam no liuro da
Vereaçam cada mez como fahirem, e tanto que o
mez vier conftranguam-nos que venham jurar co.
mo eíl:euerem efcriptos , e quando lhe derem jura-
mento , feja chamado o dito Álcaide Moor, fe elte
hi ouuer de eílar, que venha , ou enuie alguü pera
veer como juram , e fe viir , ou enuiar nom quifer •
dem-lhe juramento na Camara, em maneira que to-
dos ante que comecem fcruir tomem juramento, que
f eruam feus Officios como deuem, guardando Noffo
íeruiço, e ãO pouo fru dereito: e fe alguü deíl:es que
enlegidos forem ie finar , ou por outra razam nom
poder feruir feu mez , os Officiacs do Concelho , e
o Alcaide Moor enlegeram outro em feu luguar que
o feja • e ferua. Peró fe o filho d'alguü bom cafar
nouamente no Luguar, que feja honrado, e tal, que
deua d'auer os Officios do Concelho , efte feja At..
motacec com huü dos que forem efcriptos cm efi'e
mez
Dos ALMOT. E cous. Q!1E A SEU ÜFFrc. PERT. 341

mez feguinte , chamando ambos os que fam efcri-


ptos; e fe alguü delles quifer leixar de o feer por fua
vontade, por lhe fazer honra, em feu luguar entre
o que affi nouamente cafar; e fe ninhuú ddles o qui-
fer leixar, entam lance antre ambos fortes qual ·fi-
cará , e com elle o feja o que affi nouamente cafar.
3 ITEM os Almotacees fejam bem auifados, que
o primeiro atee o frgundo dia a mais tardar, como
entrarem , mandem ]oguo apreguoar, que os Carni-
ceiros, Paadeiras , Reguateiras, Almocreues, Alfaia-
tes , Çapateiros , e todos os outros Meíleiraes vfem
cada huü de feus mefieres , e dem os mantimentos
em abaílança , guardando as Vereaçoes, e Pofluras
do Concelho. E os Almotacees que forem no mez
de Janeiro, e Julho de cada huü anno, mandaram
apreguoar, que em cada huü dos ditos mezes ve.
nham os que teuerem medidas , ou pefos , que fam
obriguados a afinar, que as vam afinar nos ditos me-
zes , fob as penas contheudas no Titulo Do A!mota-
eee Moor. Porem quando os fobreditos, que obrigua-
dos fam a teer pefos , os trouxerem 'a afinar nos di-
tos tempos, pofio que os ditos pefos que affi lcuam
a afinar , e concertar, fejam achados que nom fam
concordantes com o padram , nom lhe feram por if-
fo leuadas penas algüas.
4 ITEM dado efie preguam , faberam, e enque-
reram ~rguntando algüas tcílemunhas em palaura,
fcm fobrc iffo fazerem efcriptura algfia, fe eífes Me-
fteiraes, e Officiaes guardam as Pofturas do Conce.
lho,
342 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TrT. XLIX.
lho, e fe as -nom guardam, fe as demandam os Ren-
deiros, e Jurados; e fe as nom demandarem. faben-
do que cahiram nellas, diguam-no ao Procurador
do Concelho, que as demande pera o Concelho , e
elles julguem as coimas ao Concelho , paguando-as
os que acharem em culpa • e o Rendeiro outro tan-
to, quando fe prouar , que fabendo parte das taees
coimas as nom demandam.
5 OuTRo sr os Almotacees que forem nos mezcs
de Junho, e Dezembro, tirem inquiriçam fobre os
Rendeiros, e Jurados, affi dos que entonce feruirem,
como dos que já feruiram naquelle anno, e teuerem
acabado feu tempo , fe elfes Rendeiros , ou Jorados
fezeram auença com as partes , e com os danadores
antes de lhe ferem as coimas julguadas ; e fe a·c ha-
rem que as fazem , prendam-nos loguo pera fe del-
les fazer dereito por as ditas deualfas, e os remetam
aos Juízes Ordinarios, pera procederem contra ellcs
ordenadamente.
6 ITEM como entrarem dem pefo aas Padeiras,
e aas Candieiras , e defpois faibam fe vendem por
elfe pefo que lhes foi dado, e fe acharem menos, po-
Ja primeira ve2 pague cincoenta reaes. e pola fegun-
da cento pera o Concelho, e pola terceira fejam em-
picotadas; e aalem deftas penas as Paadeiras, e Can-
dieiras perderam todo o pam, e candeas que lhe for
achado menos do pefo que lhe foi dado, o qual pam,
e candeas feja pera os prefos. E eíl:a pena auerá o
Carniceiro fe pefar mal a carne , e a Reguateira que
nom
Dos AtMOT. E cous. Q..UE A SEU OrFJc. PER.T. 343

nom guardar a almotaçaria que lhe for poíl:a, e os


que mal pefarem ou medirem. E fe o Carniceiro pe-
far por falfo pefo. ou a Medideira, ou Medidor por
falfa medida , fejam prefos, e faça-fe dellcs dereito
e jufiiça, e aalem dello os fobreditos ajam as penas
que fam contheudas no Titulo Do Almotacee Moor.
7 - ÜuTRo sr os Çapatciros, Alfaiates, Ferrei-
ros, e Ferradores, e todos os outros Meíleiraes, a que
he poíla taixa fobre feus lauores, e obras , fe as Po-
fturas nom guardarem , pola primeira vez paguem
cincocnta reaes , e pola fegunda cento pera o Con-
celho , e pola terceira duzentos , e fe mais forem
achados em culpa, feja-lhe defefo que nom vfe mais
deffe meíler , e fe mais vfar feja prefo , e nom feja
folto atee Noffa Merce.
8 ITEM os Almotacees feram bem auifados, e
deligentes em feus Officios , e os dias que o peícado
vier cheguem aa Praça , e ponham em elle almota-
çaria fegundo feu cuíl:ume , poendo o màior , e o
meam, e mais pequeno fegundo fua valia , poendo
as moíl:ras em luguar onde as vejam os que compra-
rem. E fe o pefcado for pouco eílem hi ambos , ou
huü dellcs que o reparta por os ma iores e menores,
cada huü como merecer. e fegundo o pefcado for,
em tal guifa) que os ricos, e pobres ajam todos man-
timento, e nom fe partam dahi atee que feja dado,
e repartido como dito he I e nom vindo hi , ou fe
partindo atee que o acabe de repartir, pague pera as
obras da Cidade, ou Villa cem reaes por cada vez, e
o
344 O PRIMtrRo Lrv. DAS 0RDEN. T1T. XLIX.
o Eícriuam d• Almotaçaria o efcreua !aguo, e dalo-
ha efcripto ao Efcriuam da Camara , que o ponha
em recepta fobre o Procurador, fob pena de priua-
çam dos Officios , e de os paguarem em dobro ; e fe
o peícado for muito, defpois que almotaçado for, e
poílas fuas moíl:ras , nom ferá theudo de hi mais
efiar.
9 ITEM faram , e coníl:rangeram os Carniceiros,
que dem carneiros , e vacas , e porcos, e as outras
carnes, e affi as Enxerqueiras fegundo lhes for man-
dado nas Vereaçoés do Cone e lho, e eíl:aram como
for menham no açougue atee ora de terça, nom fe
partindo dahi , e fazendo dar as carnes, e repartir
polos ricos , e pobres, auendo cada huü como o me-
rece ; e nom vindo, ou íe partindo ante de!Te tem-
po pague as penas fuíoditas, e os Efcriuaes as efcre-
uam fob as penas fufoditas. Os quaes Almotacees
leuaram por feu trabalho do repartir a carne aquello
que d'antiguamente na tal Cidade, ou Villa os Car-
niceiros lhe cuíl:umaram dar, e efio foomente nos
Luguares onde ouuer o tal cuftume; e de ninhüa ou-
tra couía que repartam, ou ajam d•almotaçar, ou na
Cidade, ou Villa fe vender, nom leuaram coufa al-
güa , fem embarguo de qualquer cuíl:ume , ou fen-
tenças que hi aja em contrairo; fob pena de encor-
rerem nas penas que fam poílas aos Officiaes , ·que
leuam mais do contheudo em feus Regimentos.
10 ITEM pera fabercm fe os Carniceiros pefam
bem a carne , ponha-fe a balança e pefos do Conce-
lho
Dos A1Mor.. E cous. Q.Y'E A sw ÜFFrc. PiRT. 345

lho em que fe peíe , e veja fe he bem pefada , e os


pefos dereic.os , e o Pefador eíl:ee hi fempre refi-
dente, fob pena de vinte reaes cada dia que nom
eíl:euer pera o Concelho.
11 ITEM os Almotacees quando nom teuerem Car-
niceiros, Paadeiras , Reguateiras, ou Enxerqueiras,
Moíl:ardeiras , e Almocreues , que ajam de feruir ao
Concelho, requeiram aos Vereadores que lhos dem,
e affi os requeiram quedem Jurados, quando virem
que os hi nom há , ou que ham recado, que fe a
Terra dãna por minguoa de guarda.
12 ITEM cada huu em feu mez prouerá com o
Efcriuam d' Almotaçaria os pefos , e medidas das
pefloas que fatn obriguadas de os teer , fegundo he
contheudo no Titulo Do Jllmolacee Moor; e aquelles
a que fe nom acharem juíl:os , e concordantes, fe-
ram punidos fegundo no dito Titulo he contheudo.
13 ITEM requereram, e andaram pola Cidade 1
ou Villa , em tal guifa, que fe nom façam em ellas
eílerqueiras I nem lancem arredor do muro eílerco,
nem outro lixo I nem fe atupam os canos da Cida-
d.e , ou Villa I nem a feruidam das aguoas.
I 4 ITEM cada mez faram alimpar a Cidade, ou
Villa, a cada huú ante as fuas portas das ruas I dos
eíl:ercos, e máos cheiros , e faram tirar cada mez.
todas as eílerqueiras do Luguar_, e lançar o efterco
fóra nos luguares., onde for ordenado polos Verea-
dores , em que feram poftas eftacas , as quaes fe ti-
raram aa cufia dos vezinhos, e moradores, que fu-
Liv. l. Xx ma-
346 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. XLIX,
rnariamente lhe conílar por teílemunhas, que por
palaura preguntaram • que as fez.eram , ou manda-
ram fazer , fem priuilegiado alguü feer efcufo da
dita pagua ; e os Almotacees que nom fezerem ti-
rar as eílerqueiras no feu mez, como he ordenado,
paguaram quinhentos reaes por cada eílerqueira ,
que ficar por tirar no feu mez, e os Juizes execu-
taram as ditas penas nos ditos Almotacees, e nom
as executando , elles encorreram nellas.
I 5 ITEM nom confentiram que lancem befias,
nem caes , nem outras coufas çujas , e fedorentas ,
na Cidade , ou Villa ; e os donos das beíl:as , e caês ,
os foterraram fóra da Villa , em modo que fejam
bem cubertas , e nom poífam cheirar; e quem aíli
os nom foterrar paguará duzentos reacs pola be..
fia , e cento polo caõ , e cincoenta polo guato pera
o Concelho , ou pera quem o acufar.
16 OuTRo s1 mandaram apreguoar em cada
huü mez, que alimpem cada huü fuas teíladas de
fuas vinhas , e herdades , que aos caminhos pubri-
cos vierem teer, fob certa pena; e os que as nom
alimparem , fe as os Rendeiros nom tirarem, fa.
çam-nas recadar, e poer fobre o Procurador.
17 ITEM façam as Audiencias nos dias que he
cufiume de fe fazer • e ante d' Audiencia derradei-
ra de feu mez faram dar preguam • que todos os
que tem feitas coimas , e fam penhorados , e nom
fam liurados , que vam liurar feus penhores , e fei-
tos em aquelle dia ; e os que laa nom forem aa fua.
re..
Dos ALMOT. 1: cous. Q!!E A SEU ÜFFIC. PERT. 347

reuelia julguem as coimas , e dem liuramento a


todo.
18 E os Rendeiros feram auifados de dentro
de tres dias aífentarem , e eícreuerem as coimas ,
e as demandarem dentro de huu. mez , do tempo
que foram feitas, e nom o fazendo a ili ficaram de-
uolutas ao Concelho , e defpois de julguadas as
executaram dentro de huü mez • do dia que a íen-
tença for dada; e 110111 as executando no dito tem-
po fiquem deuolutas ao Concelho, e o Efcriuam
d'Almotaçaria • tanto que o mez for acabado, fem
as fentenças ferem executadas , as dará ao Procu ..
rador do Concelho pera as executar dentro d'outro
mez, do dia que lhe forem dadas ; e quando as affi
der as fará i(fo mefmo affentar ao Efcriuam da
Camara em recepta fobre o Procurador do Conce-
lho, e nom as arrecadando o dito Procurador do
Concelho no dito tempo, as paguará de fua caía ao
Concelho , e nom as poderá nunca mais arrecadar
das partes condenadas, elle, nem outra peffoa algüa;
e o Efcriuam d'Almotaçaria • que o fobredito nom
comprir no dito tempo, perderá o Officio, e pa-
guará em dobro pera o Concelho todo o contheudo
nas ditas fentenças.
19 1TEM todos os feitos Iiuraram bem, e de-
reitamente, e com breuidade fem proceffos, e gran-
des cfcripturas , e de qualquer liuramento que de-
rem , fe a parte apellar, ou agrauar I clles lhes dem
apellaçam • ou agrauo pera os Juízes• fazendo-lhe
Xx 2 re-
348 O PRIMEIRO Liv. DAS 0.RDEN, Tn. XLIX.
relaçam do feito por palaura , e Ioguo hi feja por
clles viíla a apellaçam, e agrauo, e julguado fegun-
do entenderem por Dereito, nos feitos que nom
palfarem contia de feiícentos reaes ; e como paffar
a dita contia defembarguem os Juízes cíles agra-
uos, e a pellaçoés , com os Vereadores na Camara ,
fegundo Diífemos no Titulo Dos Juizes Ordinarios.
20 E s~ os Almotacees forem ncgrigentes , e
nom fezerem comprir as coufas fofo ditas, e cada
hüa clellas, por cada hüa-vez paguem as coimas , e
penas , que paguariam os que ham de fazer as ditas
coufas, e as nom fazem; e os Juizes conftranguam-
nos polos bens, e polos corpos, quando, e cada vez
que viirem que cumpre; e fe os Juízes a ello nom
tornarem , paguem-nas elles , e o Efcriuam d' Al-
motaçaria efcreuerá todo , e o dee ao Eícriuam da
Camara , que as efcreua fobre o dito Procurador,
fob pena de o ditp Efcriuam d' Almoraçaria paguar
em dobro pera o Concelho as penas que affi nom
cfcreuer, ou nom der ao Efcriuam da Ca mara.
21 . ITEM no feito d'Almotaçaria os Carniceiros,
e Paadeiras, deípois que fe obriguarem ao Concelho,
pera fazer feu Officio , aquelle que fe delle quifer
fahir, e nom feruir ate huü anno, que o conílran.
guam por o corpo , ou polo auer, que o faça atee
que o anno feja comprido.
22 ITEM o Efcriuam d' Almotaçaria efcreucrá
todas as achadas, affi de guados , e bcftas, como
dos Mefieiraes, Carniceiros, Paadeiras, Reguateiras,
e
Dos ALMOT. E cous. Q!JE A SEU ÜEFrc. PERT. 349

e Enxerqueiras, e outros que nas coimas cahirem ,


que polo Rendeiro , e Jurado forem acoimados , e
os outros que e\le poder faber, que vam contra as
Pocturas, e cada mez as amoílrará aos Almotacees ;
e fe os Almotacces nom tornarem a eílo, moftrem-
nas aos Juizes, e aos homens bons da Camara, pera
fe verem quaes fam os daninhos, e fazerem em elles
comprir as Pofturas, e Ordenaçoes do Reyno , fe-
bre os daninhos feitas.
23 E os Almotacees nom julguaram coima al-
güa ao Meirinho da Corte , e da Comarca , e aos
feus homens , que encoimarcm fem huü homem
bom ajuramentado , fegundo Diffemos no Titulo
Do Meirinho da Cor/e.
24 ITEM"os ditos Almotacees conheceram de
todas as demandas , que fe fozerem fobre o fazer ,
ou nom fazer de paredes de caías , ou quintaes , e
affi de portaes , janelas , freílas , ou eiradas , ou to-
mar, ou norn tomar d'aguoas de rafas, ou fobre
meter traues , ou qualquer outra madeira nas pare-
des, ou fobre eftercos, e çugidades, ou aguoas, que
fe lançam como norn deuem , e fobre canos, e en.
xurros , e fobre fazer de calçadas, e ruas.
25 ITEM aos Almotacees pertence embarguar
qualquer obra de edificio , que fe dentro na Vílla ,
ou feus arrabaldes fezcr , a requerimento de qual-
quer parte , poendo-lhe aquella pena que lhe bem
parecer , atee feer determinado por Dereito fobre
ello ; e fe defpois fezer mais obra , fem mandado
de

32
350 O PRIMEIRO Ltv. DAS ÜRDEN. TrT. XLIX.
de Jufüça, qoe pera ello tenha poder, aalem de
encorrer na dica pena , desfar-fe-ha toda obra que
hi defpois fezer, poílo que queira moftrar., ou mo-
ftre , que de Dereito a podia fazer.
26 ITEM qualquer que teuer cafas, ou cafa, po-
de nellas fazer eirado com peitoril , e janelas , e fre-
ftas, e portaes, quantos elle quifer, e alçar-fe quan-
to quifer, e colher o lume a qualquer outro feu ve-
zinho d'ante fi, fe quifer. Porem ninhuü nom po-
derá fazer freíl:a, nem janela., nem eirado com pei-
toril fobre cafa , nem fobre quintal d'ourro, porque
o defcubra, que eflee conjunto aa parede onde aITT
quer fazer a janela., ou freíla, ou eirado, fem cou-
fa algua fe meter em meo. E bem p~derá fazer ei-
rado com parede tam alta , que fe nom poífa geitar
fobre ella, pera veer a cafa , ou quintal d'outrem.
E affi quem quifer poderá fazer na fua parede Cobre
o telhado, ou quintal d'outrem., feeteira por onde
foomente poífa auer claridade ; e quando o outro ,
fobre que fe faz fe quifer aleuantar , poder-lha-ha
fazer tapar , poíl:o que feja paífado anno e dia , o~
outro qualquer mais tempo, que eíl:eueífe feita.
27 E TENDO alguú feita janela, ou frefta, ou.
eirado com peitoril, em cafo que a nom podia fa-
zer , defpois de feer paífado anno e dia , fe a parte
era prefente no Luguar onde fe fez, já lha nom po-
derá fazer desfazer, poíl:o que fe aleuantar queira.
'18 ITEM em beco norn poderá fazer alguu ja.
nela., nem portal , faluo por licença dos Almota.
cees,
Dos ALMOT. E cous. Q.YE As.Eu Orne. PERT. 351

cees , e Officiaes da Camara , a qual lhe daram fe


virem que tem neceílidade , e nom traz muito per-
JUIZO,
29 !TEM quando algüa peffoa teuer algüa jane-
la aberta em fua parede fobre algüa azinhagua ,
que for tam eílreita que nom palfe de quatro pal.
mos, e que nom aja nella portas , foomen te correm
as aguoas dos telhados por ella , nom fe pode o ou-
tro vezinho alçar tanto, que lhe tolha o lume da ja-
nela, mas poder-fe-ha alçar atee dereito da janela ,
em modo que lhe nom tolha o lume, e mais nom.
30 bEM fe algüa peffoa teuer janela , ou beiras
de telhado em algüa parede, que feja fobre cafa
d'outrem, e desfezer effa parede, ou lhe cahir, e a
quifer renouar , ou refazer de nouo, nom poderá hi
fazer maior janela , nem beiras , nem em outro lu-
guar, fe nom como a d'arue auia, nem poderá hi
fazer mais janelas.
31 ITEM fe algúa peffoa teuer biia caía de hua.
parte da rua, e outro feu vezinho quer fazer cafa
,da outra parte da rua, ou fe já d'anres a cafa era
feita, e quer nella abrir portal de nouo, ou quer hi
fazer janela , ou freíla , nom a poderá abrir , nem
fazer dereito do portal , ou da janela , ou da frefia
do outro feu vezinho , que mora da outra parte da
rua ; faluo fe d'ante hi ouue já o dito portal , ou ja-
nela, ou freíla , onde o ora quer abrir , porque en-
tonce a poderá fa7,er no proprio modo , e maneira,
que d"ante eftaua. E porem defuiado do outro, o
poderá fazer. 32 E
352 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. XLlX.

32 E BEM Ass1 nom poderá peffoa algüa poer


efcada em a rua dereito do portal de feu vezinho ,
porque lhe embargue a entrada do feu portal.
33 E a EM Ass.r nom fe poderá fazer na rua
efcada, nem ramada , nem alpendere , nem outra
coufa algüa , que faça embarguo aa feruentia da di-
ta rua, e fe o fezerem nom lhe ferá confentido , e
os Almotacees lhó mandaram derrubar..
34 OuTRo s1 fe algua peíf'oa ouue.r duas caías,
que fejam hüa de hüa parte, e outra da outra parte
da rua , e hi teuer lançadas traues por cima da dita
rua de hüa parte pera outra , e teuer hi feito bal-
cam com fobrado, ou abobada, e defpois acontecer
que hüa caía da parte da rua he de huü hereo , e a
outra caía da outra parte he d'outro hereo com o
balcam , ou abobada , ou ametade della, e ambos,
ou cada huií delles fe quifer alçar, podem-no fazer,
e huü, e outro , e cada huü por fi poderam fazer
janelas , e freftas fobre aqu.elle balcam ; por quan-
to poíl:o que o dito balcam , ou abobada eíl:ee nas
paredes , fempre affi o debaixo do balcam , como o
aar · d'emcima fica do Concelho ; e por tanto cad&
vez que o Concelho quifer, vindo a caufa pera ello,
o pode fazer derribar , porque por tempo alguií
nunca poderá aquirir poífe em o dito bakam o fe..
nhorio da dita cafa, ou balcam.
35 ITEM fe alguü teuer janela Cobre alguü quin-
tal I ou campo d'outrem , e aquelle cujo for o quin-
tal , ou campo• quifer hi fazer caía, nom poderá
fa-
Dos AtMOT. E cous. Q!IE A SEU ÜFFIC. PERT. 353

fazer parede tam alta , que tape a janela que ante


hi era feita, fe paffar de anno e dia que era feita;
porem fe o que quifer fazer a dita caía quifer leixar
azinhagua de hua vara e quarta de medir pano. em
}arguo, bem poderá fazer a dita caía• e alçar-fe
quanto quifer.
36 ITEM fc hüa caía for de dous fenhorios • de
guifa, que de huü delles feja o fotam , e d'outro o
fobrado • nom poderá aquelle cujo for o fobrado fa-
zer janela fobre o portal d 'aquelle cujo for o fotam,
nem outro edificio alguü.
37 ITEM ninhuü nom poderá meter traue em
parede, em que nom teuer parte; porem fe lhe qui-
fer paguar ametade do que a dita parede cuíl:ou,
poderá nella madeirar, fendo a parede pera iffo.
38 E sE em algüa parede d'antre dous vezinhos
efieuercm metidas alguas traues, ou traue , e nom
conftar que efte, que as taees traues tem metidas,
tenha parte na dita -parede, e o outro vezinho teuer
madeirado na mefma parede mais alto, que o feu
madeiramento, eíle que mais baixo teuer madeira-
do poderá meter quantas outras traues quifer,
donde teuer metidas as primeiras pera baixo, e di
pera cima nom poderá meter outras mais traues,
nem madeirar ; faluo fe comprar ao dito feu vezi-
nho , que eftá madeirado mais alto , ametade da di-
ta parede. ou fe auier com elle.
39 ITEM fe dous ouuerem hüa caía comüa, e
huü delles quifer partir, e o outro nom , partir-fc:-
Liv. J. Yy ha
354 O PuMEU.O L1v. DAS ÜRDEN. T1T. XLIX.
ha , poflo que huü delles nom queira , e ambos da.
ram o luguar na cafa pera fe fazer parede de re-
partimento , e o alicerce della. E fe antre elles for
diferença que huü queira que fe faça de cauoado 1
e outro de taipa, ou de pedra, os Almotacees vejam
a caía e luguar, e fegundo o que achatem , que fe
deue fazer mais proueitofam ente pera as partes ,
affi o façam fazer. Porem fe ambos nom forem con-
cordes de fe fazer a dita parede aas fuas cuíl:as ,
aquelle que requerer a partilha a faça aa fua cufta 1
porem o outro nom fe poderá neUa madeirar, nem
lograr della em coura algüa, fenom quando lhe pa-
guar ametade do que cuftou.
40 ITEM fe alguem teuer cafa que verta aguoa de
feu telhado fobre a cafa de feu vezin ho, o qual vezi.
nho quifer fazer parede no feu, pode-fe alçar, e po-
de-lhe britar as beiras, e cimalhas, e encanamen tos,
e alçar.fe quanto quifer , fe o feu vezinho hi nom
teuer frella, ou janela; e quando fe affi alçar , tomar-
Jhe-ha as aguoas, e dará feruentia pera ellas, em tal
maneira , que o dito feu vezinho nom receba dãno.
41 E SE algucm teuer parede de perrneo com
outro feu vezinho, e a caía de huü he mais alta que
a do outro , e tem a cal por que verte a aguoa do
feu telhado na dita parede , e o que tem a cafa mais
baixa quer-fe aleuantar pola parede mais alto que
o outro , poder-fe-ha alçar por toda a parede, em
tal guifa , que lhe leixe tamanho luguar de parede,
per que colha a aguoa do telhado d'aquelle , que
ante
Dos ALMOT. E cous. QyE A SEU ÜFFIC. l'ERT. 355
ante hi tinha a cal , porque recebia a aguoa , em
modo que lhe nom venha por ello dãno.
42 E sE alguú quifer verter todalas aguoas de
fua cafa a huü luguar da rua, pode-o fazer por cal,
por onde as aguoas venham por fua pá.rede ; porem
nom poderá fazer a cal tam longua, que feja fóra
em a rua• por que faça nojo, nem mal a feu vezi-
nho , ou aos que paffarem pola rua ; e fe alguem te-
uer já feita cal longua, nom a poderá mudar pera
poer hi outra maior, nem d'outra feitura da que
era dante em aquelle mefmo luguar; porem a tal cal
affi longua nom poderá prefcreuer por tempo alguü,
fe nojo fezer ao vezinho, ou aos que paffarem pola
rua, como dito hc.
43 E TODA PESSOA que teuer campo, ou pardi-
eiro a par do muro da. Villa, pode-fe acoílar a el-
le , e fazer cafa fobre elle , porem fica fempre obri-
guado, fe vier guerra, ou cerco, de ·a derribar, e dar
por ella corredoira, e feruentia; e fe o muro fobre
que affi ouuer a cafa , ou a que fe acoftar , cahir,
aquelle que affi teuer a dita cafa ferá obriguado a
tornar a fazer o dito muro aa fua cufia.
44 E MANDAMOS que fe algüa peffoa fe aqueixar
d'outrem , ou o demandar perante os Almotacees ,
por razam d'algüa fcrucntia de caía , ou qualquer
outra coufa de feruentia, que pertença aa Almota-
çaria, e defpois paffarem tres mefes fem feguir a
dita demanda , ou fem fe tornar a queixar, nom po-
derá já mais feguir a dita caufa , nem tornar-fe a
Yy 2 quei-
356 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜROEN. TIT. L.

queixar dello; e fe feguindo a dita demanda leixar


de falar a e\la tres mezes inteiros , nom ferá mais
ouuido fobre ella, nom auendo alguü juílo e lidimo
impedimento.

TITULO L.
Do Procurador do Concelho, e cou.fas que ao dilo OJ!irio
pertencem.

DESPOIS que as rendas do Concelho forem ar-


rendadas , faberá o Procurador do Efcriuam da Al-
motaçaria , e affi dos outros Officiaes do Concelho,
fe algüas peífoas cahiram em penas, ou coimas, que
o Rendeiro nom demandaffe a tempo deuido, e de-
manda-las-ha pera o Concelho , porque a elle per-
tence, quando as o Rendeiro nom demandar no dito
tempo; e tanto que forem julguadas pera o Conce-
lho , as fará carreguar fobre o Tefoureiro, e aíli as
que forem julguadas , e nom executadas em tempo
deuido , as fará carreguar fobre o dito Tefoureiro,
fob pena de paguar de fua caía as ditas coimas e pe-
nas, e as ditas demandas, e cuílas , que fe nellas fe-
zerem, fe paguaram palas ditas penas e coimas.
1 ITEM requererá bem todos os adubios e cor-
regimentos , que comprirem aas caías, e pontes , e
fontes, chafarizes, poços , calçadas , caminhos, e
todos os outros bens do Concelho ; e affi procurará
to-
Do Tm:s. oo CoNc. E cous.QJJE A sw On. PERT. 357
todos feus feitos em tal maneira , que fe nom per-
cam, nem danifiquem por fua minguoa; e o que mal
corregido for, requeira aos Vereadores, e Officiaes
a que pertencer • que o mandem correger , o qual
requerimento lhes fará perante o Efcriuam da Ca-
mara, o qual efcreuerá o dito requerimento, por-
que nom fe fazendo como deue, fe faiba por cuja
culpa fe teixou de fazer, e fe fazer paguar a perda ,
por quem dereico for.
2 ITEM quando o dito Procurador acabar feu
Officio dará razam aos Vereadores, perante o Efcri-
uam da Camara , como ficam as coufas do Conce-
lho, e em cujo poder, pera os Officiaes, que noua-
mente entrarem , faberem como as ditas coufas
efiam , e o que fobre dias deuem fazer.

T I T U L O Lf.
Do CJ'efoureiro do Concelho, e coufa.s qut afeu Offid~
pertenum.

O TESOUREIRO ha de receber todas as ren-


das do Concelho , e ha de fazer todas as defpefas ,
que polos Vereadores forem mandadas fazer.
1 E NOM receberá nem defpenderá coufa algüa,
fenom prefente o Efcriuam da Camara, o qual lo-
guo affentará em o liuro, que pera ello ha de fazer ,
em o qual liuro feram aifentados os mandados das
defpe-
358 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. Tn. LII.
deípefas, que elle ouuer de fazer , os quaes man-
dados feram allinados no dito liuro polos Vereado-
res que os mandarem, e d'outra maneira nom def-
penderá couía algüa das defpefas groffas, fob pena
de lhe norn ferem leuadas em conta; e quanto he aas
de fpefas rniudas , falas-ha prefente o Efcriuarn da
Cam ara , o qual dellas terá canhenho, e o molhará
aos Vere adores, fegundo no Regimento de feu Offi-
cio he contheudo.
2 ITEM quando as rendas do Concelho nom fo_
rem arrendadas, as arrecadará em guifa, que fe nom
perc am , fob pena de as paguar de feus bens , e
com poer todo o dãno , que o Concelho por elle re-
ceber.
3 E NOS Luguares onde nom ouuer Tefoureiro
o Procurador do Concelho feruirá o dito Officio, e
guardarâ , e comprirá cm todo cíl:e Regimento.

TI T U LO LII.
Do Ejcriuam da Gamara , e coujas que a feu OJ!icio
pertencem.

Ü ESCRIVAM da Camara fará em cada huü


anno liuro da recepta de todo aquello que as ren-
das do Concelho renderem , poendo cada hüa ren-
da f obre fi , e a quem he arrendada , por quanto pre-
ço, e os tempos a que fe ham de fazer as paguas ,
e guaes fam os fiadores. 1
Do EscR. DA CAM. E cous. Q!JE A sEU Orr. PERT. 359
1 ITEM em outra parte deíle liuro poerá todas
as defpefas que o Tefoureiro ou Procurador do Con-
celho, onde Tefoureiro nom ouuer, fezer, as quaes
defpeías aílentará por o miudo bem declaradas, em
maneira que fempre fe poífa tomar a conta dellas.
2 ITEM nom fe faram defpefas algüas, fenom
por acordo dos Vereadores, o qual acordo efcreuerá
o Efcriuam no dito liuro em titulo apartado fobre
fi , e o dito acordo ferá ailinado polos Vereadores , e
Officiaes, e homens bons do Concelho , que no dito
acordo forem , e em outra maneira nom efcreuerá o
dito Efcriuam defpefa algüa no dito liuro.
3 OuTRO SI todas as defpefas miudas que fe fe.
zerem • façam -fe perante o Efcriuam da Camara i,
o qual fará canhenho apartado fobre fi , em que po-
nha as ditas defpefas miudas, e leuará o dito canhe-
nho aa Vereaçam, e o amoftrará aos Vereadores; e
aquellas defpefas, que os ditos Vereadores ouuerem
por boas e bem feitas, aíTentará no liuro da Cama-
ra, e ifío mefmo aífentará per quem , e per cujo
mandado as ditas defpefas foram feitas, e os ditos
Vereadores as ailinaram.
4 ITEM todos os Mandados e Acordos , per que
{e ajam de fazer algüas coufas , efcreuerá em huú
Jiuro pera ello ordenado, os quaes Acordos e Man-
dados feram ailinados por aquelles, que os acorda-
rem , e mandarem.
5 hEM ao Efcriuam da Camara pertence efcre-
uer em os feitos das injurias verbaes, que em Ca-
mara
360 O PRIMEIRO L1v. DAS 0ROEN. T1T. LII.
mara forem defembarguados • fe defpois que o fei-
to for conclufo pera finalmente fe defpachar, for ne-
ceffario por mandado dos Juizes e Vereadores efcre-
uer algüa coufa no dito feito ; porem em quanto fe
o feito proceffar perante o Juiz • aos Tabaliaés, que
efcreuem perante o Juiz, pertence efcreuer no di-
to feito ; e affi Mandamos , que defpois que a fen-
tença for dada no dito feito, e pubricada na Cama ..
ra, torne o feito ao Tabaliam que o proceffou; e fe
o Efcriuam da Camara nom teuer efcripto no dito
feito mais que a pubricaçam, leuará fete reaes da
dita pubricaçam , fem mais fobre elles hir o dito fei-
to ao Contador.
6 ÜUTRO sr a elle pertence efcreuer todas as
Cartas teíl:emunhauees de quaesquer requerimentos
que fe fezerem aos Vereadores, e Officiaes da Ca-
mara , que ouuerem de palrar fob final dos ditos
Vereadores , e ferem aífeladas com o feio do Con-
celho.
7 ITEM o Efcriuam da Camara terá hüa dai cha-
ues da arca do Concelho, em que ham de eílar os
Foraes , Tombõs , e Priuilegios , e outras Efcripcu-
ras, o qual Efcriuam nom confentirá, que coufa al-
güa das fobreditas, que na dita arca efleuerem, fe
tirem fóra della pera ninhüa parte ; faluo quando
algüa Efcriptura for neceífaria fe tirará na caía da
Camara , onde tal arca eíl:euer , e tanto que fc viir •
ou tresladar, fe torne á arca , e efto cumpra affi o
Efcriuam fob pena de priuaçam do Officio.
8
Do EscR. DA CAM. E cous. QYE A SEU Or. PERT. 361
8 ITEM o Flcriuam da Camara em começo de
cada huü mcz , na primeira Vereaçam que fe fezer •
lerá , e publicará feus Regimentos aos Officiaes da
Vereaçam , e aos Almotacees, e todas as ditas pu-
blicaçoes feram affinadas polos fobreditos Officiaes •
fob pena de paguar duzentos ·reaes pera as defpefas
da dita Camara c.'\da -vez que o affi norn fezer, os
quacs o Procurador do Concelho fará efcreuer fobre
o dito Efcriuam da Camara ao Efcriuam da Almo-
taçaria.
9 ITEM de todos os affentos que fezer em feus
liuros por mandado dos Officiaes a requerimento
das partes , affi como de obriguaçoês , e fianças , e
outros femelhantes , leuará de cada huü tres reaes.
10 ITEM dos Aluaraes que fezer, que ouuerem
de feer aílinados polos Officiaes da Camara , ou por
cada huú delles, leuará de cada Aluará quatro reaes.
E porem fe em alguiis Luguares eftam em cuílume
de leuar menos do aqui -contheudo , ou de nom le-
uar coufa algüa , nom leuaram mais coufa algüa. E
no mais que nom for prouido expretfamentc por
efte Regimento do que ham de leuar, leuaram aas
regras , como os outros Efcriuaés do Judicial.

LiJ. I. Zt TI.
362 O PRIM!IRo Lrv. DAS ÜRDEN. TrT. LIII.

T I T U L O LllI.

Do Efcriuam da A/mo/araria, e couJas que afiu


Ojficio pertencem.

O ESCRIVAM da Almotaçaria efcreuerá todas


as achadas , aili de guados , e beíl:as, como de Me-
fieiraes , Carniceiros , Paadeiras, Reguateiras, e ou-
tras quacfquer que em coimas cahirem, que polos
Rendeiros , e Jurados lhe for notificado.
1 ÜuTRO sr efcreuerá todas as outras peffoas que
elle fouber, que vam contra as Poíl:uras do Conce-
lho, e cada mcz amoíl:rará as elitas achadas aos Al-
motacces , e fe os AI mõtacees nom procederem con-
tra os culpados, mofire-as o dito Efcriuam aos Jui-
zes , Vereadores , e homens bons da Camara , pera
faberem quaes fam os daninhos , e pera fe executar
em elles as Ordenaçoés, e Poíl:uras do Concelho, e
nom o fazendo aili , o dito Efcriuam paguará em
dobro pera o Concelho todas as coimas, e penas que
aili nom amoftrar aos Almotacees, ou Juizes, e Ve-
readores.
'.l ITEM trabalhe-fe de Caber, fe os Rendeiros ,
ou Jurados tem feitas auenças com aquelles que po-
dem cahir em coimas ante de as terem feiras, ou lhe
ferem julguadas ; e fe achar que caces auenças fazem
ante de as ditas coimas lhe: ferem julguadas por fen-
tença, o notifiquem aos Juizes pera os punirem fe-
gundo fórma de Noífas Ordenaçoês; e efio compri..

Do EscR. DA ALM. E cous. Q!JE A sEu Or. PERT. 363

rá affi o dito Efcriuam , fob pena de feer fufpenfo


do Officio em quanro Noffa Merce for.
3 ITEM efcreuerá todas as penas em que encor-
rerem os Almotacees por nom comprirem aqucllas
coufas, que em feu Regimento lhes fam mandadas,
fob pena de paguar em dobro pera o Concelho as
ditas penas que affi nom efcreuer; e em fim de cada
mez o dito Efcriuam leuará aa Camara eílas penas,
em que affi os ditos Almotacees teuercm encorrido,
e as amoílrará aos Juizes pera as mandarem execu-
tar em os ditos Almotacees, que em ellas encorre-
ram.
E o dito Ejcriuam d' A!motaçaria leuará defeufa!ari'o
o que Je jegue.
4 ITEM de hüa auçam , e contefiaçam , e man-
dado pera fe preguntarem tcíl:emunhas , tres reacs ,
e nom auendo mandado pera fe preguntarem teíl:e-
munhas, Ieuará foomente dous reaes.
5 ITEM de hüa abfoluiçam da iníl:ancia do Jui-
zo a ífentada no quaderno dous rcaes.
6 I Tl.M de hüa apellaçam antre partes pera o
Juiz, ou Camara, tres reaes.
7 ITEM de hüa tefiemunha tres rcaes.
8 ITEM de húa fentença quatro reaes.
9 ITEM de hua pena poíla anrrc partes quatro
reaes.
1o ITEM do prouimento pala Villa , ou Cidade
aos Marceiros, Boticairos , Mercadores de panno de
Zz 2 coor
364 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. TrT. LIV.
coor e linho, e Reguateiras, dous reaes de cada ca ..
fa , quando os acharem em culpa • e dos que nom
acharem em culpa nom leuaram Coufa algüaA
11 E sE ouuer algúas caufas , em que fe ouuer
d'ordenar feito alguü , e guardar a ordem do Juízo,
leuaram o que he ordenado aos outros Efcriuaês ,
fegundo he contheudo no Titulo Do que bam de le-
uar os 'Tabaliaes, e Ejcriuaes de ftu Officio~

T I TU LO LIV.

Dos ff(,uadrilheiros.

E M todas as Cidades , e Villas , e Luguares , e


feus Termos auerá ~adrilheiros , pera que milhar
fe prendam os malfeitores , e fe euitem os malefi-
cios.
I E PERA fe fazerem os ditos ~adrilheiros fe
ajuntaram em Camara os Juízes, e Vereadores, e
teram em huü rol todos os moradores da dita Cida ..
de , Villa , ou Luguar , e feu Termo , e a cada vin ..
te moradores que ajam de-feruir em quadrilha , que
mais vezinhos elleuerem , ordenaram huü ~adri-
lheiro, que pera e-llo mais auto , e pertencente lhe
parecer; e feitos affi-os ditos ~adrilheiros, ficaram
efcripros no liuro .da Camara polo Efcriuam della.
pera feruirem tres annos com a quadrilha que lhe
affi for ordenada. ·
2 E
Do S Q_ U A D RI L H t I R OS. 36 5
'2 E SERA' dado juramento em Camara aos que
affi forem ordenados por ~adrilhciros, que bem e
verdadeiramente cumpram o Regimento nefia Or-
denaçam contheudo. E acabados os tres annos or-
denaram oucros ~adrilheiros na maneira fobredita;
e fe durando os ditos tres annos falecer cada huü
dos ditos ~adrilheiros , ou fe abfentar de abfencia
perlongada , os mefmos Juizes, e Vereadores faram
outro em feu luguar , que acabe de feruir os ditos
tres annos, ou atee o outro viir, quando for feito por
fua abfencia perlonguada.
3 ITEM cada ~adrilheiro terá vinte homens de
fua quadrilha , os quaes lhes feram dados em rol ao
tempo que receber juramento, e o treslado do dito
rol ficará na Camara pera fe faber os que lhe foram
ordenados ; e feram obriguados todas as ditas vinte
peffoas a terem continuaoamente lança de defoiro
palmos pera cima , ou ao menos mea lança boa ; e
nom a tendo paguará cincoenta reaes pera o Mciri-
n ho que o acufar.
4 E os moradores dos Termos , e Terras chans
trazeram configuo continuadamente lança , ou mea
lança; e pofio que em feus fcruiços andem, hi as te-
ram , pera tanto que ouuirem alguú apelido, ou os
chamar o ~adrilheiro, poderem loguo dahi hir on-
de lhe for mandado, ou comprir por Noffo feruiço,
e bem de Juíliça ; e quem for achado fem as'ditas
armas , pague por cada vez dncoenta reaes pera o
dito Meirinho,
s
33
366 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. LIV.
5 ITEM ferá cada ~adrilheiro muito deligente
em faber pera fua enforrnaçam , fem fo.bre iffo tirar
inquiriçam , fe em fua quadrilha fe fazem alguús
furtos, ou outros crimes, e quaes fam as pdfoas que
niffo tem culpa, pera quando por hi vier o Correge..
dor lho fazerem faber, e affi o faram faber ao Juiz
pera fazer aquello, que por bem de Noffas Ordena ..
çoes podem , e deuem fazer.
6 OuTRO s1 íeram muito deligentes em faberem,
fe em fuas quadrilhas andam alguus homens vadios,
ou de maa fama, ou alguüs cíl:rangeiros, e loguo
lhes tomem conta do que hi fazem ; e nom lhes dan ..
do elles algüa juíl:a, e verdadeira razam-, per que te..
nham cauía de hi andarem, os prendam, e leuem
ao Juiz antes de ferem metidos na Cadea, o. qual
Juiz lhe tomará conta de quem faro, e do que hi fa ..
zem , e achando-os em culpa os prl!ndam , e façam
delles jufüça com apellaçam , e agrauo ; e dando o
tal homem algüa razam, per que pareça claramente
que tem neceffidade de eílar na Terra, o Juiz lhe
mande que em certo tempo, que lhe parecer que
abaftará , acabe o que hi teuer pera fazer , fob pena
de feer prefo; e fendo mais deípois achado, paífado
o termo que lhe o Juiz der, os ditos Q!adrilheiros
o prendam, e leuem ao Juiz como dito he. E qual ..
quer ~adrilheiro , que em fua quadrilha confentir
andar as femelhantes peffoas, fem comprirem o que
lhes aqui he mandado, encorreram em pena de tre..
zentos reaes pera o Meirinho I ou Alcaide • e alem
ditro
DO S Q_u A D R I L H E I R. O S. 367
diífo fc a tal peffoa vadia, ou eíl:rangeira fezer alguü
furto , ou dãno a algüa peffoa , o dito ~adrilheiro
com os de fua quadrilha, que confentirem antre fi
andar a tal peífoa, paguará aa parte danificada o d~
no que receber.
7 ITEM pera milhar execuçam da Jufüça, e os
malfeitores , e homeziados nom andarem pola Ter-
ra, os Juízes tanto que os Tabaliaes lhes derem os
roles dos culpado3 , os daram a cada ~adrilheiro,
huu rol dos que deucm feer prefos , o qual lhes en-
treguará perante huü Tabaliam , e os ditos ~adri-
)heiros faram de maneira, que fe cada huü dos ditos
culpados ( que lhes os Juízes derem em rol ) andar
em fua quadrilha, o prendam, lançando loguo onde
quer que o virem apelido, dizendo Prender Foam
da parle d' EI-Râ noflo Senhor ; aa qual voz fahiram
loguo todos os de fua quadrilha, e de quadrilha em
quadrilha o figuam atee feer prefo ; fob pena de
aquelle ~adrilheiro, ou quadrilha, per cuja culpa,
ou rninguoa o tal homeziado deixar de feer prefo,
paguarem aa parte danificada o que lhe paguara o
dito homeziado fe fora prefo, e aalem diffo o ~a-
drilheiro, que em fua quadrilha deixar andar algüa
peffoa das que lhe forem dadas em rol, encorreram
em pena de quinhentos reaes pera o Meirinho, ou
Alcaide que o acufar.
8 ITEM feram os ditos ~adrilheiros, e homens
de fuas quadrilhas muito deligentes em acudirem
aas voltas , e arroidos com fuas armas , e faram de
ma-
368 O PRIMEIRO L1v. DAS Orrnrn. TrT. LIV.

maneira que prendam os culpados ; e fe loguo nos


arroidos os nom poderem prender , corram apo~ el-
les com apelido no modo fobredito de huma qua-
drilha em outra atee ferem prefos; e deixando os cul-
pados de ferem prefos por fua minguoa, feram obri...
guados paguar aa parte danificada o dãno que rece-
beram, e poderam auer do malfeitor fe fora prefo;
e aalem deílo o ~1adrilheiro que nom acudir aos
arroidos paguará cem reaes , e as outras peffoas da
fua quadrilha paguaram cada huü cincoenta rcaes
pera o Meirinho, ou Alcaide que os acufar.
9 ITEM fendo cafo, que feguindo alguü Q.!adri-
lheiro alguü homeziado pera o prender , e elle fe
acolher a cafa de alguü poderofo, o dito ~adri ..
lheiro lhe requererá que lho entregue , ou lho deixe
bufcar em fuas caías, e nom querendo lho haja por
prcfo em fuas maõs , e tendo hi Tabaliam faça de
todo auto , e nom tendo Tabaliam tome de todo te..
ftemunhas, e loguo ante que torne a fua cafa fe vaa.
ao Juiz da Terra, o qual Juiz fará de todo auto, e
procederá per elle a lhe feer entregue o dito malfei-
tor fegundo fórma da Ordenaçam, ou enuie o dito
auto ao Corregedor da Comarca, o qual Corregedor
guardará acerca dello a dita Ordenaçam. E eíle re-
querimento ( aos poderofos em auer-lhe por prefos
os malfeitores em fuas maõs} nom faram os ~a-
drilheiros, faluo onde nom efteuer Juiz; porque on-
de eíl:euer Juiz , ou loguo poder feer chamado, o
dito Juiz fará o dito requerimento, e guardará a
fórrna das Ordenaçoes. 10
DOS Q._u A DR I L H E l R OS. 369
10 E SENDO a peffoa onde fe o dito malfeitor
acolher pelfoa Ecclefiaílica, e nom o querendo en..
treguar, nem confentir que as cafas fe lhe bufquem.
por elfe feito ferá fufpenfo de qualquer Jurifdiçam
que teuer tee Nolfa Merce.
11 1TEM porque Somos enformado, que alguüs
dos ditos Prelados trazem configuo, e acolhem em
os Coutos de feus Moeíleiros os malfeitores , nom
efguardando como lhe já foi defefo per NofTo Man-
dado, nem olhando o que deuem a Noffo fc1uiço,
e fua honeílidade, ~eremos que tanto que os Jui-
zcs, ou ~adrilheiros fouberern , que alguü malfci ..
tor fe acolhe em caía dos ditos Priores, e Dom Aba ..
dcs, lhe diguam, e requeiram que os lancem fora•
notificando-lhe como fam omiziados ; e tendo-os
ellcs mais, ou trazendo-os configuo , façam difio
auto, e o enuiem ao Corregedor, o qual procederá
contra elles a Cufpenfam da dita Jurifdiçam , como
dito he.
12 E ESTE requerimento fe lhes nom fará quan..
do o tal omiziado teuer cometido o crime, per que
merece íeer prefo no Couto do dito Moeíleiro; por.
que em tal cafo pela mais obriguaçam em que os
ditos Dom Abades, e Priores eílam, de os nom aco-
lherem, nem empararem , nom fc lhes fará .r equeri-
mento, que os lançem fóra • mas prendelos-ham em
fuas caías , fe o poderem fazer fem fe feguir coufa
contra Noífo feruiço; e em oucra maneira façam au-
to, e o enuicm ao dito Corregedor,
Lir,,. J. Aaa 13 E
370 O PRIME.IRO LtvRo DAS 0RD. Tn·. LV.
r 3 E os Corregedores pelos Luguares onde an-
darem , ou efteuerem , faberam com deligencia , fe
os ~adrilheiros cumprem efte Regimento, e pro-
cedam contra os que acharem em culpa.

--------------------
TITULO LV.
Dos Alcaides lv1oorf'S dos Caffe!os.

T EER Caílelo d'EIRey, ou d'outro Senhor, fe-


gundo foro antiguo defks Reynos , he coufa em que
jaz muito grande periguo , que pois ha de cahir em
pena de traiçam o que o reucffe , fe o perdeíle por
fua culpa, muito deuem os que os teuerem feer pre.
cebidos de os guardar, de maneira que nom caiam
em ella ; e pera efia guarda feer feita compridamen-
te, deu em frer efguardadas cinco coúfas : a primei-
ra , que fejam os Alcaides taees como conuem pera
guardarem os Caftelos; a fegunda cat1fa , que fa-
çam elles mefmos o que deu em ; e a terceira, que te-
nham hi abaíl:ança de homens ; e a quarta, de man-
timentos ; e a quinta, d'armas. E porem todo Alcai-
de que reuer Caíl:elo Noffo, ou d'alguú Senhor, de-
ue feer de boa linhagem de padre e madre , porque
fe o for fcmpre auerá verguonha de fazer coufa que
lhe et1ee mal , nem porque feja doeftado , nem os
que deite defcenderem. Ootro fi deue feer leal , por-
que o Rey , e o Reyno nom percam o Caftelo que
elle
Dos A1cAJDEs Moous oos C.AsTnos. 37r

eTie teuer ; e ainda ha meíler que feja esforçado,


porque norn duuide de foportar os periguos • que ao
Caílclo vierem, e conuem que feja fabedor , porque
faiba fazer as coufas que conuem aa guarda. e dâen-
dimenco delle. Outro fi nom deue feer muito efcaf-
fo • porque ajam vontade os homens de ficarem com
elle. E affi feJá mal feer muito guaílador das cou-
fas , que forem meíler pera guarda do Caílelo. Ou.
tro ft deue feer difcreto, pera faber partir o que te-
uer com os homens, quando lhe mel1er fotfe, e nom
deue feer muito pobre, porque nom aja cobiça de
enriquecer daquello que lhe derem pera a tença do
Caílelo, e muito deligente deue feer em guardar
bem o Caílelo que teuer, e nom fe partir dclle em
o .tempo do periguo ; e fc aqueceíle que lho cercaC-
fcm, e o embargualfem, deue-o emparar atee morte:
e por veer atormentar, ou ferir, ou matar os filhos,
ou a molher , ou outros homen~ quaefquer, que
amaffe, nem por elle feer prefo, ou atormentado ,
ou ferido de morte, ou ameaçado de o matarem,
nem por outra ra~am que feer podefTe de mal • 011
de bem que lhe fezeífem , ou prometeCTem de fazer1
nem deue dar o Caíl:elo, nem mandar que o dem ;
porque fe o frzeffe cahiria em caío de traiçam ,
como aquelle que trae o Caílelo d'EIRey, ou Senhor.
r E PORQYANTO efcufar nom pode o Alcaide
Moor • que nom vaa algüas vezes fóra do Caílelo
que tem a outra parte, por ·coufas que lhe fam ne-
cdfa,ias , nom deue efio peró fazer em tempo que
Aaa 2 en-
372 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LV.
entendelfe , que o Caíl:elo fe poderia perder por fua
hida; e quando affi ouuelfe de hir a alguü Luguar ,
deue hir fegundo foro de Noffos Reynos , conuem a
faber , leixando hi outro em feu luguar por Alcai-
de, que feja Fidalguo dereitamenre de padre e ma-
dre, e que nom aja feita traiçam , nem aleiue, nem
venha de homês que a ouueífem feita, e que feja tal
com que aja diuido de parentefco, e de amor gran-
de, de maneira que tenha razam de fiar o Caftelo em
elle. como em fi mefmo , podendo-fe bem auer ; e
tal como eíle deue leixar em feu luguar, e dar-lhe as
chaues do Caílelo , e fazer que lhe façam menage
quantos hi forem , affi como a elle mefmo auiam
feita, pera guardar o dito Caftelo bem e lealmente
em todas as coufas , atee que elle venha. Porem
fempre o dito Alcaide ficará obriguado aa mena-
gem , na fórma e na maneira que a deu , ou era
obriguado de a dar, pofto que a nom deffe.
2 E ESTANDO o Alcaide no Caftelo fe aconteceí-
fe que morreffe fem fala , de guifa, que nom podef•
fe leixar outro de fua roaõ , deue ficar ao mais pro-
pinquo parente , que em o Caftelo ouuer, fe for de
hidade , e tal homem , que feja pera efto ; e fe tal
homem hi nom acharem, deuem fazer os que eíleue-
rem no Caftelo Alcaide o milhor homem , que no
Cafielo for, pera o teer. E deuem loguo efcreuer a
Nós , que Prouejamos de Alcaide como for Nofla
Merce. Peró todavia deuem o catar mui leal, e mui
amiguo do Senhor do Caftelo i e tal Alcaide como
eftc
Dos ALCAIDES MooR Es nos CASTELOS. 373
eíle he theudo de fazer, e guardar, e comprir todas
as coufas em guarda do Caíl:clo, affi como emcima
ditas fam.
3 E TODA peffoa, a que for encarreguada guarda
de Caíl:elo, ou ouuer delle poíTe por qualquer modo
que feja, ora feja Alcaide Moor del!e, ora norn, fe-
rá obriguado fazer menagem na fórma feguinte.
4 ,, Muno Alto, muito Poderofo Rey Dom
,, Manuel, meu verdadeiro;e natural Rey, e Senhor,
,, eu Foam vos faço preito e menagem pelo Voílo
,, Caílelo. e Fortaleza de tal Luguar, de que ora
,, Voíla Alteza me encarregua, e dá carreguo, que a
,, tenha e guarde , e Vos acolherei e receberei no
,, alto, e no baixo della, de noute e de dia, e a quaef..
,, quer oras e tempos que feja, irado , e paguado ,
,, com muitos e com poucos, vindo Vós em Voífo
,. liure poder; e delle farei guerra, e manterei tre-
,, guoa e paz fegundo me per Voffa Alteza for man-
,, dado , e a nom entreguarei a algua peffoa de qual-
,, quer gráo , dignidade, preminencia que feja , fe-
,, nam a Vós Meu Senhor, ou a Voífo certo reca..
,, do, loguo fem delongua, arte , nem cautela, a to-
,, do tempo que qualquer pelfoa me der Vo(fa Carta ,
,, ailinada per Vós , e aífelada com Voífo Selo , Oll
,, Sinete de VoJTas Armas, porque me quitaes efte
,, dito preito e menagem. E fe fe acontecer, que eu
,, no dito Caíl:elo aja de leixar algüa peffoa por AI-
,, caide , e Guarda delle , eu lhe tomarei efte dito
,, preito e menagem na fórma , e maneira , e com as
u clau-
374 O PRIMEIRO LrvRo DAS ÔRDEN. Tn. LV.
,, claufulas, condiçoes, e obriguaçoê's nella conthe-
u udas, e eu por iffo nom ficarei defobriguado deíl:o
,, dito preito e menagem, e das obriguaçoes e cou-
,, fas que fe nella contem , mas antes me obriguo ,
,, quo o dito Alcaide e petfoa, que affi leixar no dito
., Caíl:elo , tenha , mantenha, guarde , e cumpra to..
,. das cflas coufas , e cada hüa dellas inteiramente.
,, E eu o fobredito Foa.m faço preito e menagem _nas
,, Ma6a de Voífa Alteza, que a de mim recebe. hüa,
n duas , tres vezes , fegundo vfo e coftume deflcs
, 1 Voffos Reynos , e Vos prometo , e me obriguo ,

•• que cumpra e guarde inteiramente eílc dito prei-


,, to , e menagem , e todalas claufulas , e condiçoê's,
., e obriguaçoês , e todalas coufa,, e cada hua dei ..
u las cm ella conrheudas, fem arte • cautela • engua ..
., no, nem minguoamento alguü, e por firmeza dei ..
" lo affignci aqui por minha n,aõ : tellemunhas que
,, a efto foram prefentes , Foam , e Foam, e Foarn >
0 e eu Foam que o cfcrcui.
5 E PosTo que qualquer Alcaide Moor nom fa.
ça a dita menagem. ferá obriguado tanto qu-e tomar
poffe do Caílelo a todas as coufas contheudas nefla
menagem acima efcripta, affi como fe folenemente a
teucffe feita ; e nom a comprindo encorrerá no cafo
de traiçam. que encorreria • fe em Noflas Maõs fo.
lênemcnte a ouuelfe feita.
6 E QYANDO o Alcaide Moor ouuer de leixar ai•
güa pcffoa por Alcaide, e Guarda do dito Caílelo, e
lhe ouuer-de tomar a menãgem, como emcirna di.
[O
Dos ALCAIDES MooRES nos CAsnr.os. 375
to he, o fará por auto feitô por Tabaliam pubrico
com teílemunhas , que ao menos fejam tres , e affi-
nado pola dita peffoa a que o aíli leixar.
7 E oEsPors de o dito Alcaide Moor teer feita
a menagem fobredita , huü Porteiro da Maça lhe
hirá dar a poffe da dicr. Fortaleza , e lha encreguará
perante huü Tabaliam pubrico, o qual Porteiro da.
Maça trazerá efiormenco pubrico , feito por o dito
Ta baliam , de como lhe affi entreguou a dica poífe,
o qual eftormento entreguará ao Efcriuam da Puri-
dade, que guardará os ditos eíl:ormentos. E o dito
Alcaide Moor fará graça ao dito Porteiro da Maça,
que lhe affi for dar a dita poffc, d'aquello que por
bem teuer, com tanto que nom deça de dez peças
d'ouro. E tomando alguü Alcaide Moor poffe do di-
to Caftelo e Fortaleza, fem lha dar o dito Porteiro
da Maça, poílo que lhe feja dada por auétoridade
de Juíliça, ferá ninhüa a tal poffe , e de ninhuii efe-
éto, e nom vencerá rendas alguas da dita Alcaida-
ria ; e fe as ceuer recebidas as perderá, a metade
pera quem o acufar, e a outra metade pera a Noffa
Camara. porem por qualquer maneira que ouuer
a poffe da dita Alcaidaria , ferá obriguado ao con-
theudo na fobredita menagem , fob as penas fobre-
ditas.
8 OuR.To sr o Alcaide Moor ha de fazer duas
coufas no Caftelo ; a hiia , defende-lo com ardimen-
mento , e com esforço , e a outra com fabedoria e
defcriçam: e o que ha de fazer com ardimento, e
com
376 O PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LV.
com esforço he, que deue defender o Canelo mui
ardidamente, ferindo, e matando os imiguos, o mais
rijo que podc;r , por maneira que os nom leixe
cheguar a elle , e em efto nom deue poupar padre ,
nem filho , nem fenhor que ame teuelfe , nem outro
homem do mundo alguü • que d'outra parte foffe •
que o Caílelo lhe quifeffcm fazer perder ; porque
muito fem razam , e contra Dereito feria guardar
homem aquellcs que o quiferem fazer trecdor. Ou-
tro fi deue auer grande esforço em fofrer todo me-
do , e todo o trabalho que lhe venha, affi em velar,
como em fofrendo fede , e fame, e .frio , e todo ou ..
tro trabalho que hi tomar ; porque pois nom ha de
dar o Caftelo fc nom a feu Senhor, meíler he que to-
me esforço em fi , porque o poffa fazer , e nom caia
por fua culpa em erro de traiçam ; e porem morre,
nem outro periguo que lhe poíla viir , nom . deue
tanto temer, como maa fama, que hc coufa que lhe
ficaria fempre a elle, e a fua linhagem , fe nom fe ..
-zefTe o que dcueífe , em guardar o dito Cafielo.
E aos Alcaides Moores pertence auer ejles dereilos,
e coufas que ft adiantefiguem.
9 PRIMEIRAMENTE ao Akaide Moor pertence
auer todas as carceragens dos prefos I e todas as ar-
mas que á Alcaidaria forem jutguadas I e as penas
deUas , que fam duzentos reacs, dos quaes ametade
hc pera o Alcaide Moor • e a ou~ra metade pera
quem as acoutar ; faluo fe em alguüs cafos efpeciaes
forem ordenadas outras penas. 10
Dos ALCArDIS MooRts Dos C.AsTnos. 377
10 ITEM leuará o Alcaide Moor ametade das
armas, e bem affi das penas que fe com ellas ouue-
rem de paguar , quando forem coutadas por o Al-
caide pequeno, ou por feus homens , e bem affi.
polos Meirinhos da Noífa Corte, e da Comarca, e
polos feus homens, quando Nós, ou a Notra Cafa da
Sopricaçam nom Formos no Luguar onde as aíli fi.
lharem ; e a outra metade das dicas armas e penas
feram dos ditos Meirinhos, e feus homens, que as fi.
lharem • e fe os Meirinhos e feus homens da Noífa
Corte, ou deffa Comarca, no Luguar onde Nós For.
mos , ou a Noífa Cafa da Sopricaçam, filharem ai.
gúas armas , ou as coutarem como deuem , as ditas
armas, e as penas deuem feer todas deffes Meiri.
nhos, e feus homens que as filharem.
11 ITEM auerá o Alcaide Moor pera fi todas
as penas pecuniarias dos barregueiros cafados , e de
barreguaãs , a qual he de cada quarenta mil reaes
que o barregueiro teuer de fazenda ( tirada a parte
de fua molhcr) mil reaes, e a eíle refpeito do mais,
e do menos ; ou tres mil reaes , quando a quarente.
na nom cheguar a elles, e a fua barreguam pagua-
rá ametade de quanto a elle montar de paguar, ou
dous mil reaes, quando ametade da quarentena do
barreguam a e!les nom cheguar. E afii auerá rodas
as penas, que ham de paguar as barreguaãs dos Cle-
riguos, e Frades, e d'outras peffoas Religiofas, que
fam dous mil reaes de íeis ceptiis o real. e eílo pe-
ró auerá luguar , quando o Alcaide Moor acufar , e
LJu. i. . Bbb de-
378 o PRIMEIRO LIV. DAS ÜRDEN. T1T. LV.
demandar as fobreditas peffoas , e ouuer contra ellas
fentença , por fi , ou por outrem ; e fendo ellas de-
mandadas per o Alcaide pequeno, ou per cada huü
dos homens, que com elle feruem , ou por qualquer
outra peíloa que feja , auerá o Alcaide Moor foo-
mente a terça parte das ditas penas, e as duas par-
tes feram pera o acufador.
12 ITEM ha d'auer pera fi a terça parte da pena,
que ham de paguar os que forem efcomunguados,
fendo por iífo prefos , fegundo a fórma de Noffa
Ordenaçam; e he de pena por cada noue dias que
jouuerem prefos cento e oito reaes , e affi polo tem-
po que na dita efcomunham eíl:euerem, atee que
fejam abfoltos ; e deíl:es dinheiros, que affi os efco-
munguados paguarem , a terça parte ferá pera a
Fabrica da Igreja , e a outra terça parte pera o
Efprital, ou Efpritaes que nefle Luguar ouuer, e ou-
tra terça pera o Alcaide Moor ; e eíl:o fe entenda
nos Luguares onde por Foral nom for em outra ma-
neira ordenado.
13 ITEM ha d'auer todas as forças que julgua-
das forem, e que elle reíl:ituir por mandado do Juiz,
ou d'outra peffoa que poder tenha de o mandar , e
ha d'auer por cada força cento e oito reaes.
14 lnM ha d'auer ametade de todo ouro, ou
prata , e dinheiro que for achado nos joguos dos
tafuls, e mais as coimas de todas as tauernas, que
forem achadas abertas defpois do fino d'acolher
atee amenhaã clara. E auerá mais o dito Alcaide
Moor,
Dos ALCAIDIS MooREs DOS CASTELOS. 379

Moor das penas , que forem pofias polos homens


d' Alcaidaria, por mandado da Juíliça , aas molhe-
res que fam vfeiras de bradar , cento e oito reaes de
coima , por cada vez que nella cahir.
I 5 OuTRO sr ha d'auer o Alcaide Moor as coi-
mas, que fam poftas aas barcas , e batees , que fam
achados tomando aguoa, ou laítro de noute derpois
do fino de correr , e fam por cada vez que aíli fo_
rem achados cento e oiro reaes, e mais perderá to-
da a louça que trouuer pera tomar a dica aguoa ; e
ha de auer mais todas as armas, que forem achadas,
leuando-as alguü Mouro , em alguü nauio que vaa
pera Alem Mar, afóra hüa que leuar pera a defcn-
fam de feu corpo; e fe obrigue tornar eíl:a arma, e
dee a ello fiadores ; e nom tornando a dita arma
que affi leuar J que pague por ella tres armas , ou
tres vezes aquello que valer.
16 lTtM ha d'auer todo o pefcado que fe ma-
tar aos Dominguos , e Feftas de Jc(u Chriíl:o, e de
Sanél:a Maria, e dos Apoíl:olos , e nas noutes dos
ditos dias , conuem a faber , as noutes antrc as
Vefperas e os dias dos fobreditos Sanélos; e eíl:o
fe nom entenderá naquelles pefcados, de que os
pefcadores teuerem licença do Sanéto Padre , ou
dos Prelados que os pofiam matar nos ditos dias.
17 ITEM todo Mouro que fe forrar , pera fe hir
fóra da Terra , e paguar a dizema , paguará a redi-
zcma á Akaidaria, e aue-la-ha o Alcaide Moor.
18 ITEM ha d'auer o Alcaide Moor de qualquer
Bbb 2 na-
380 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. LV.
nauio , que for achado defpois do fino de correr ,
filhando carregua , ou defcarreguando , ou metendo
homens , ou molheres, ou pefcado, ou outra qual.
quer coufa , cento e oito reaes por cada vez que aíli
for achado.
19 ITEM poderá poer o Alcaide Moor hum bom
Eícudeiro, que continuadamente ande com o Alcai-
de pequeno, affi de noute, como de dia, quando
ouuerem de andar ; e o dito Efcudeiro requeira ao
Alcaide pequeno, que feja bem deligente .e m reque-
rer todos os dereitos , que pertencem aa dita Alcai-
daria , e que fe alguüs dereitos fe perderem por fua
rninguoa I ou negrigencia , que elle feja theudo , e
obriguado aos paguar por feus bens ao dito Alcaide
Moor; e o dito Alcaide Moor poderá poer dous
Efcriuaes per fuas Cartas , huü na Alcaidaria da
Villa, e outro na Alcaidaria dos montes , onde a
ouuer, que andem continuadamente com os ditos
Alcaides das Villas I e dos montes.
20 E Q!JEM Q.YER que procurar em coufa que
toque á Alcaidaria, fenom teuer auél:oridade Noffa
pera procurar em Juízo, e procuraçam da parte a
que pertencer, pague nouecentos reaes pera a Al-
caidaria I aalem de encorrer nas outras penas , que
fam poftas aos que procuram fem Nolfas Cartas:)
que fam declaradas no Titulo Dos Procuradores.
21 E MANDAMOS que todo efto, que he contheudo
cm eíle Titulo Dos Alcaides Moores, fe cumpra , e
guarde aíl1, como em c:ftes capitolos acima efcri-
ptos
Do Ate, PEQYENO DAS Cm. E VIL. n e. 381
ptos he declarado ; faluo fe por algüas Cartas, ou
Priuilegios Noffos, ou dos Reys que ante Nós fo_
ram , for acuílumado o contrairo, por quanto Man-
damos , que fe guardem as ditas Cartas , ou Priui-
legios.
22 E NOM deuem feer pofios Alcaides Moores ,
faluo nos Luguares que teuerem Caílelo de mena-
gem , ou onde já ouue os ditos Caflelos , ou em ou-
tros alguüs Luguares , em que de tempo antiguo
fempre ouue os ditos Alcaides, poíl:o que nelks
nunca ouueífe Caílelo. ,
23 E EM aquelles Luguares em que os Alcaides
Moores fam obriguados poer Carcereiros , quando
fogir o Carcereiro , ou por outro qualquer modo fi-
car o dito Officio vaguo, Mandamos, que o Alcai-
de Moor feja loguo requerido que dee outro; e nom
o dando do dia que lho requerem a dez dias , os
Juízes, e Officiaes ponham entam outro aa cuíla do
dito Alcaide Moor.

TITULO LVI.

Do Alcaide pequeno das Cidades, e Yillas,, t' co,ifas


que aJeu Ojficio pertencem.

O S Alcaides pequenos feram feitos por eíla


guifa : os Senhores dos Luguares , ou os Alcaides
Moores, aprefentaram aos Juizes, e Vereadores em
Ca-
38i O Pa.rMURO Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. LVI.
Camara tres homens bons , cafados na Cidade , Vil-
la , ou Luguar, que fejam abonados , e nom fejam
eftrangeiros , mas naturaes de Noífos Reynos , e Se-
nhorios , e os J uizes , e Vereadores efcolheram huü
d'aquelles , que pera ello feja idoneo, e pertencen-
te; e nom fendo os ditos Juizes, e Vereadores con-
tentes de ninhuú delles , o dito Senhor, ou Alcaide
Moor lhe aprefentará outros tres , que fejam mais
idoneos, que aquelles que já aprefentou , e lhe nam
foram recebidos; e nom fendo os ditos Juízes , e
Vereadores contentes de ninhuü dos tres, que a fe-
gunda vez lhe foram aprefcntados , entam feja o Se-
nhor do Luguar , ou Alcaide Moor obriguado apre-
fentar outros tres, e deíl:es noue feram os ditos Jui-
zcs, e Vereadores obriguados tomar huü o mais
idoneo delles • o qual feruirá o dito Officio por tres
annos , e mais nom , os quaes acabados, fe fará ou-
tro na maneira fobredita: e feruindo mais que os
ditos tres annos , ou feruindo fem feer aprefentado ,
e recebido na fobredita maneira, Mandamos, que
feja degradado dous annos pera Africa , e que rnm-
ca mais poíla feruir d• Alcaide ; e nas mefmas penas
cncorreram os Juízes , que leixarem feruir o diro
Alcaide palTados os ditos tres annos, ou nom fendo
aprefentado como diro he: e nom Tolhemos defpois
que paffarem outros tres annos , acabados os annos
que elle feruio , que potra feer enlegido por outros
tres arinos.
1 E ANTE de o dito Alcaide feruir , lhe ferá em
Ca-
Do Ate. PEQ.YENO DAS Cio. E Vn. ET e. J 83
Camara dado juramento fobre os Sanélos Auange..
lhos , que bem e verdadeiramente ferua o dito Offi..
cio, e guarde to.dalas coufas nefta Ordenaçam con-
theudas, e affi que tenha fegredo nas coufas que lhe
forem encarreguadas por bem de Juftiça, guardan-
do em todo a Nós Nolfo feruiço, e ao pouo feu de..
reito. E antes que lhe dem o dito juramento , o di-
to Alcaide dará fiança , pera que fe alguü dãno
fczer com o dito Officio, fe auer pola dita fiança ,
atee a contia della , a qual fiança ferá nas Cidades
trinta mil reaes , e nas Villas vinte mil , e nos Con-
celhos das Terras chaãs dez mil reaes; e os Juizes ,
e Officiaes da Camara que lhe leixarern feruir o di-
to Officio fem a dica fiança, paguará cada huü vinte
cruzados , ametade pera quem acufar , e ametade
pera Nolfa Camara.
2 PERÓ os ditos Alcaides Moores feram auilã-
dos , que nas ditas aprefentaçoes nom vfem d'alguü
enguano , ou maa cautela , aprefentando peffoa~
nom idoneas pera tal Officio, por lhe feer recebido
aquelle que quiferem fauorecer ; porque fejam cer-
tos que fazendo em ello o que nom deuem, Nós
Daremos tal prouifam , que fe faça como deue.
3 ÜuTRO s1 nos Luguares onde o Alcaide por
Nós ha de feer pofto, os ditos Juizes, e Vereadores,
e homens bons efcolheram huü homem bom pera
ello pertencente , e No-lo enuiem com fua Carta ,
pera o Confirmarmos I ou Poermos outro , qual
Virmos que cumpre, o qual feruirá tres annos , e
ma.ia
.384 O PRIMEI1to L1v. DAS ÔRDEN. T1T, LVI.
mais nom , fob as penas fobreditas. E fe antes qui-
ferem mandar pola dita confirmaçam ao Corregedor
da Comarca , elle lhe poderá dar a dita Carta de
confirmaçam,
4 E Nos Luguares onde por Foral o Alcaide
pequeno fe ha de poer por o Concelho fem o apre-
fentarem ao Alcaide Moor, Mandamos, que vfem
do dito Foral• como fempre vfaram, feruindo po.
rem fempre tres annos , e mais nom, fob as penas
fobrcditas. Peró nom he Noífa tençam de por efto
Tolher aos Concelhos feu dereito. onde a eleiçam
dos Alcaides pequenos a eUes pertence , e o Alcai-
de Moor recebe o por dles aprefentado ; porque
onde os Concelhos eílam em poíle de o affi fazer ,
Mandamos que affi fe faça.
5 E MANDA Mos aos ditos Alcaides, que façam
em tal guifa , que affi de noute, como de dia guar-
dem bem as Cidades , ou Villas , com os homens
jurados que lhe forem dados por os Officiaes dos
Concelhos, naturaes , ou moradores, onde por Foral
forem obriguados a lhos dar ; e quando de noute
andarem, traguam fempre huü Tabaliam, que lhe
o Juiz dará cada noute por deílrebuiçam , e o con-
ftrangerá pera ello ; e eíl:o onde nom ouuer Efcri-
uam depurado pera eíl-o, o qual dará fé, e teftemu ...
nho das coufas que os Alcaides fezerem, e acharem,
em tal guifa , que por fua minguoa , e negrigencia,
fc. nom faça mal I nem furto, nem roubo nas Cida.-
dades I e Villas ; porque fazendo.fe o contraira, pa-
gi.aa-la-ham por feus bens. 6 E
Do ALc. PEQ.ylUJO DAS Cro. E Vn. E Te. J8S
6 E E-M cada húa noute fejam todos juntos.
quando tangerem a Ave Maria > em cafa do Alcai-
de pequeno , e eíle Alcaide e Efcriuam lhe affinem
corno ham de guardar a dita Cidade, ou Villa ; e iífo
mefmo os ditos homens guardem a dita Cidade, ou
Villa de dia, fegundo for acordado pelos ditos Al-
caide pequeno e Efcriuam , e nom fe apartem os
ditos homens a andar de noutc , atee que cheguem
aa cafa do dito Alcaide, e que lhes por elle e polo
dito Efcriuam feja dito, pola guifa que ajam de fa-
zer. E os prefos que prenderem diguam ao Carce-
reiro por que cada huü he prefo , pera o guardar o
dito Carcereiro., e faber a quem ha de requerer feu
liuramento. E Mandamos que qualquer homem do
Alcaide , que cada hüa das fobreditas coufas nom
fezer, e for negrigente, por a primeira vez perca o
mantimento d'oito dias , e por a fegunda de huü
mes, e por a terceira feja prefo, e nom folto fem Nof-
fo Mandado; faluo moftrando tal razam; porque
a efto nom feja theudo.
7 E o Alcaide quando affi prender a1güa pef-
foa, ou for na prifam della, fará fazer o auto do
habito e tonfura, fegundo Diremos no ~into Li-
uro , no Titulo ~ue ao tempo da prifam /e faça auto de
habito.
8 ITEM a eíl:es homens dará e paguará o Alcai-
de Moor feus mantimentos , nos Luguares onde os
Alcaides Moorcs fam obriguados de os dar, e nom o
Li'l.J. I. Ccc fa-
386 o PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. LVI.
fazendo affi, os Juízes tomem tantas de fuas rendas,
por q\Je loguo fejam paguos.
9 ITEM os Alcaides nom poeram em eftes Offi-
cios , nem trazeram outros homens configuo , fal ..
uo eíles que jurados forem , efcriptos no liuro do
Concelho ; e fe outros trouuerem, por fe delles fer-
uir, ou ajudarem ao dito Officio, trabalhem-fe que
nom façam mal nem dãno; e fe o fezercm , elles fe-
jam theudos a paguar por elles, ou os entreguar aa
Juíliça.
10 OuTRO sr todo Alcaide ferá deligente por fi
e por feus homens guardar as Audiencias, e trazer
os prefos perante os Juizes, quando lhe mandarem.
E prenderá por feu mandado, e d'outra guifa nom;
faluo achando alguú em fragu-ante maleficio, ou
fendo-lhe requerido por qualquer peíl"oa em alguú
arroido, ou fendo-lhe mo{lrada querela , e nom fe
acertando o Juiz no Luguar ao dito tempo, ou algü&
peffoa fufpeita de noute , ou com armas defefas ,
ou fem ellas defpois do fino de correr : e os que elle
por fi prender , leue-os perante o Juiz , ante que
vam aa Cadea ; peró fe for de noute , ou a taees ho..
ras que o nom poffa achar ,. ou nom for na Cidade ,
ou for tal peffoa o prefo, que feria periguofa coufa
de o trazer por a Villa , leue-o aa prifam que teuer
em fua caía , ou algüa outra que pera ello feja affi-
nada polo Alcaide Moor , e venha loguo , ou pela
rnenham fe o aa noute prender, ao Juiz; e fe mere-
cer
Do Ate. PEQ.!JUO oAs Cro. E VrL, n e. 387
cer de feer prefo, fcja-o , e fe o nom merecer , foi-
tem-no fem carceragem. Porem no cafo onde for
prefo , por feer achado deípois do fino de correr,
e nom teuer outra pena fenom de dinheiro, fe lo-
guo paguar, o Juiz o mande folcar, fem hir aa Ca-
dea, e fem paguar carceragem.
1 r E o mandado do Julguador, por que o Alcai-
de hade prender , ferá em efcripto , e aílinado por
elle , porque deípois neguando o Juiz que o nom
mandou prender , nom ferá recebido ao Alcaide
proua de teftemunhas ; e efto nom auerá luguar ,
quando o Julguador mandar ao Alcaide, que lhe
prenda huú homem , ou molher, e que o tragua
perante dle , porque em tal cafo nom auerá rnefler
Aluará, foomente quando o ouuer de meter na Ca-
dea.
12 ln:M feja ainda bem deligente a guardar os
Almotacees , e açougues, e praça , em tal guifa que
nom entrem nos açougues , nem tomem a carne ,
nem pefcado , e as outras coufas que aa praça vem
por força , fob pena de as paguarem a fcus donos ,
e nom auerem o que delles deuem leuar por o foro
da Cidade.
13 ITEM fe o Alcaide fezer por fi, ou por outrem
pedida de pam , ou de ceuada, ou de outras coufas,
na Cidade, Villa, ou Luguar, e feu Termo donde
he Alcaide • ou tomar, e leuar algúa couía, ou re-
ceber acoitamento, ou tença d'algüa peffoa da dita
Cidade, Villa , ou Luguar , ou feu Termo, en-
Ccc 2 cor-
388 O PRIMEIRO L1vn.o DAS Oaorn. T1T. LVI.
correrá nas penas que Diremos no ~into Liuro, no
Titulo Dos O./fiâaes d' El Rey que recebem &e. E nom
fe efcufará o dito Alcaide das ditas penas, por dizer
e prouar que lho deram por fuas. vontades , e fem
lho elle pedir; mas como quer que fe achar , que
algúa coufa leuou, fem por clla paguar aquelle pre..
ço que razoadamente valer na Terra,. auerá as ditas
penas.
14 ÜuTRO s1 o Alcaide nom penhore, nem con-
ftrangua ninhuu por ninhüa diuida , nem por outra
coufa; faluo fe lhe for mandado por os Juizes, ou
por o Almoxarife , ou por outro alguú que pera el-
lo aja Noífa auétoridade , por feu mandado affinado
por o dito Official, ou leuando a fentença de con..
denaçarn. E paífando a execuçam de mil reaes nom
fará fem Efcriuam , e fazendo o contraira do quct
clico he, paguará de pena quinhentos reaes, ametade
pera quem o acuíar, e·ametade pera os captiuos, e
mais paguará aa parte toda a emenda e corregi-
mento.
1 5 ITEM o Alcaide nom foice prefo fem man ..
dado dos Juízes, e fe o faltar, e fe perder a Juftiça,
ou algua outra parte receber por ello perda ou dã ..
no, o Alcaide, ou aquelleque o foltar, feja theudo,
e lho façam loguo os Juízes emendar, e correger ,
fe for feito de corregimento ; e fe for feito crime ,
e nom for Alcaide Moor do Cafielo , prendam-no
loguo , e façarn delle Dereico, e Juftiça ; e fe for o
Alcaide Moor do Caftcllo, nom no prendam, e en-
u1em-
Do Ate. PEQYENO DAS Cm. E Vn. IT e. 389
uiem-no dizer a Nós , pera Mandarmos o que for
Nolfa Merce.
16 ITEM fe o Alcaide nom trouxer os prefos á
Audiencia perante os Juízes , ou os nom foltar por
feu mandado • os Juizes lhe façam todo paguar , e
correger por os bens deffe Alcaide.
J7 E SE o Alcaide pequeno teuer neceffidade de
infirmidade, ou outra femelhance, que por fi nom
poffa feruir , o notifique ou mande notificar aos- Juí-
zes , e Vereadores , e Officiaes daquella Cidade, ou
Villa, ou Luguar onde for, e com fru acordo e apra-
zimento do Alcaide Moor ponham outro pera ello
pertencente, que íeu luguar tenha, atee que fóra fe-
ja da dita neceílidade, e mais nam: e o Alcaide que
em outra maneira o pofer, perca o Officio , e pague
dous mil reaes pera quem o acurar , e quem o fer-
uir paguará outros dous mil reaes pera quem acufar,
e mais auerá aquella pena que merecia qualquér do
pouo , que fem auétoridade algüa feruiíle o dito Of.
fiei-o. E efta mefrna pena auerá o que feruir por man-
dado do Alcaide Moor, nom tendo a dita auél:orida ..
de dos Juízes, e Officiaes, e nom reípondarn a efl'es.
que affi pofer , em ninhüa coufa , nem façam por
feus mandados , nem os ajam por Alcaides ; e fe o
Alcaide do Caflelo o pofcr, façam-no faber a Nósª
pera lho Eíl ranharrnos como Noffa Merce for.
18. ITEM os home.ns que o Alcaide ouuer de
trazer, fejam aprefentados perante os Juizes, e Offi-
ciaes, e lhe dem juramento na Camara , e efcriptos
no
390 O PRlMFIRO LrvRo DAS Oao. T1T. LVI.
no liuro da Vereaçam , pera ferem conhecidos , e
os temerem corno homens da Juíl:iça.
19 ITE.M o Alcaide nom leixe trazer as armas ,
que em todo tempo fam defefas , a ninhuü I nem
as outras no tempo que forem defefas , e as tome e
coute aos que as trouuerem , fegundo Diremos no
Titulo feguinte ; nem dem licença e luguar a ni-
nhuü , poílo que do Alcaide Moor fcja , e viuam
com elle, que as tragua, nem façam auença com al-
guü por as coimas, e penas que ham d'auer daquel ...
les a que fam defefas , ante da fentença ; fob pena
de paguar, fe for Alcaide Moor, dous mil rcaes pe-
ra a Piedade, e fe for Alcaide pequeno pague mil
reaes pera a Piedade por cada vez, que o contrairo
fezercm , e fe defpois dá fentença as quitarem a ai ..
guüs, poffam-no fazer hüa vez , e mais nom ; e fe
a mais quitarem a aquella peíloa , paguem a pena
em dobro , que quitarem a aquelle que a deu ia de
paguar, pera os captiuos. E Mandamos aos Taba-
liaês fob pena dos Officios , que o efcreuam , e dem
em eftado aos Juízes, quaes fam os que as affi tra-
zem por fua licença , ou fabendo-o elfe Alcaide ,
ou a quem as elle vio , e nom as quer coutar e to-
mar , e os Jtlizes façam.lhe logllO paguar a pena fo-
bredita , fob pena de a paguarem por feus bens ; e
da obra que os Juizes fezerem, affi o dem ao Cor-
regedor da Comarca pera veer como fe deu aa ex-
ecuçam, ou a fazer elle executar, fob pena de a pa-
guarem em dobro. E todo eíl:e fe ent~nda no tem-
po
Do Ate. PEQ!TENO DAS Crn. E V11. IT e. 391
po em que as armas forem defefas, e fendo a defefa
das armas aleuantada • como he ao prefente , entam
nom as filhem a ninhuü ; faluo aquellas que em to-
do tempo fam defefas • ou as .outras, trazendo-as
de noute. ·aas deforas. ou de dia• fazendo com dias
o que norn deuem , entam as perderam , e feram
demandada s fob as penas• e claufulas fobreditas.
20 !TEM fe ao Alcaide for mandado por aJguü
Julguador • que ponha fegurança antre afguús. an-
tre que aja alguas imizades • loguo fem cardança a
ponha, e nom leue por ello coufa algüa , e nom po-
nha outra ddongua que loguo láa pom vaa ; e fe o
aíli nom fezcr • e por ello fe feguir alguú mal, feja
por ello o Alcaide theudo , o qual Alcaide nunca
poerá a dita fegurança, fe nom por mandado da
Juftiça • como dito he.
21 E BEM ASSI Defendemo s aos Meirinhos, e
Alcaides , e a feus homens. e Moordomo s. que norn
entrem em caía d'alguu bom homem, ou boa mo-
lher , pera hi bufcarem e prenderem alguü malfei..
tor ; e auendo por enformaçam > que alguú malfei ...
tor eílá cm cafa de alguú dos fobteditos , deuem-
no notificar aos Corregedor es , ou Juízes da Terra ,
e com fua auél:oridade • fabida a verdade • entrem
em caía deffe homem bom , pera prender o malfei-
tor ; faluo fe o cafo for de tal qualidade , que nom
padeça tamanha dilaçam, em que razoadame nte
poífa bufcar, e requerer á dita Juíl:iça , pera auer
foa auél:oridade ; cá entam eífe Alcaide , ou Meiri-
nho,
391 o PlllMEIRO LIVRO DAS 0RD!N. TlT. LVt.
nho , por fi mefmo, com o Efcriuam das Armas I ou
com huü Tabaliam pubrico poderá entrar na dita
cafa , para prender effe malfeitor que em ella eíle-
uer , fendo primeiramente cm conhecimento \'erda-
deiro per certa enformaçam, como efiá dentro na
dita cafa, e d'outra guifa nom entrará em ella; e
entrando, ferá theudo a toda a perda, e dãno, e de-
famamento que hi fezcr , como dito he ; e fe effe
em cuja cafa eíleuer o malfeitor , for alguü grande
Senhor, affi como Prelado , Conde , Meftre, Almi-
rante, Rico Homem, Fidalguo, ou Caualeiro de
grande eíl:ado e poder , em tal cafo Mandamos que
fe guarde o que he contheudo no ~into Liuro, no
Titulo ~e os Fidalguos e Prelados nom coutem os mal-
feitores.
22 ITEM faça em tal guifa o Alcaide, que os
dereitos que ha d'auer dos Carniceiros e d'outras
pefToas , que os requeira no dito dia, e nom o fa_
zendo affi , que os nom po(fa defpois demandar ; e
fe os demandar, que os Juízes os nom recebam a
tal demanda.
23 ITEM o·Alcaide ·e Carcereiro nom leue ma-
ior carceragem , que ha de leuar , fegundo he con-
theudo na Ordenaçam fobre ello feita ; e o que mais
leuar aja a pena que he contheuda no Titulo Das
carceragens.
24 ÜUTRO sr nom leuem carceragem dos que
forem foltos , ante que vam aa prifam , ou dÓs que
lenaram aa Cadea fem mandado dos Juízes , ante
que
Do ALc. FtQ.YENO DAS Cm. E VIL. ET e. 393
que os Jeuem perante elles. fe os Juízes os manda-
rem foltar • por nom merecerem feer prefos.
25 ÜuTRO s1 o Alcaide• e feus homens nom fe-
ja oufado de leuar dinheiro• nem outra coufa d'al-
guu prefo, por o leuar onde o ajam d'ouuir; e qual-
quer que o contrairo fezer, pola primeira vez pague
o tresdobro do que leuar, e por a fegunda anoueado
pera os catiuos , e por a terceira feja loguo açoutado
por a Villa, fe for homem do Alcaide, e fe for o Al-
caide perca o Officio, e feja prefo atee Noífa Mer-
ce,
26 ITEM o Alcaide Moor , e pequeno nom de-
uem trazer configuo homens daninhos , e trazen-
do-os, Mandamos aos Juizes, que fe trabalhem que
faibam parte quaes eflo fazem, e mandem loguo re..
querer ao Akaide • que corregua o dãno , e pague a
coima em dobro por os feus homens, ou lhos entre-
gue, e fe lhos entreguar façam delles Dereito; e nom
os entreguando, polos bens deffe Alcaide façam lo'."
guo paguar o dãno aa parte, e a coima ao Concelho,
ou Rendeiro em dobro , fob pena de a paguarem
por feus bens.
27 !TEM todas as coimas, ou penas que o Al-
caide ouuer d'auer d'aquelles que achar em coima,
affi como os que fazem forças, e elles as forem refti-
tuir por mandado da J uíliça , ou lançam de noute
aguoas , ou outras femelhantes , demandem-nas do
dia que as coimas forem feitas a tres dias , e norn as
demandando atee effe tempo, que as nom poíram
Li'll. I. Ddd mais
394 O PRIMEI!to Lrv. DAS ÜRDIN. TIT. LVII.
mais demandar. E quanto aas armas que as poífam
demandar atee oito dias .. fegundo Diremos no Ti-
tulo feguinte.
28 ITEM ninhuü Alcaide. nem Meirinho qual-
que1· que feja, nom auoguará, nem procurará no Lu ..
guar onde for Alcaide • ou Meirinho por algüa pef-
foa ,. nem aceptaram procuraçam algüa pera por el...
la fobeílabelecer ;. faluo por feus feitos ,.ou d 'aquel..
les que viuerem continuadamente com elles em fua.s
caías , fob pena de perdimento dos Officios.
29 ITEM o Alcaide pequeno nom ferá Rendeiro
das armas ,. nem d'outra ninhúa renda da Alcaida-
ria,. nem d'outra ninhüa NotTa, nem d'outra pdfoa
algüa , no Luguar onde for Alcaide , fob pena de
perder o Officio ,. e feja prefo atee Noífa Mcrce.

T I T U L O LVII.
Das armas que Jam difefas • e quando Je deuem perder
4ft de dia , como de 11oute. E dos que Jam achador
defpois ·do Ji110 de correr.

D EFENDEMOS, que peífoa algiia,. de qual.


quer condiçam que feja,. nom tragua em qualquer
parte de Noffos Reynos pélla de chumbo , nem de
ferro , nem de pedra feitiç~ ;. e fendo achado com
ella feja prefo, e jaça na Cadea huü mes , e pague
quatro mil reaes , e mais feja. açoutado pubricamcn.
te
DAS ARMA~ Q.1J'lt SAM DEPl!SAS ET e. 395
te com baraço e preguam pola Cidade , Villa , ou
Luguar , onde for achado ; e fendo peffoa de quali-
dade em que nom caiba açoutes , aalem das fobre-
ditas penas , ferá degradado dous annos pera cada.
huü dos Luguares d' Alem.
I E DI.11'.BNDIMOS ilfo mefmo, que ninhüa pelfoa,
de qualquer forte e qualidade que feja , em ninhüa.
parte de Noílos Reynos potra trazer armas ofenfi-
uas , nem defenfiuas de dia , nem de noute ; faluo
fe for efpada., ou punhal , ou adagua, como abaixo
Diremos ; fob pena de perder as ditas armas , e pa•
guar duzentos reaes de pena da Cadea fe for piam ;
porque fendo Valfalo, e di pera cima , ou Meílre de
nao • ou de femelhante, ou de maiol" condiçam. fer ..
lhe-ha coutada a dita arma, e paguará a dita pena
fem hir aa p,-ifam. Porem na Cidade de Lixboa , ou
em qualquer Luguar onde Nós Elleuermos , ou a
Noffa Caía da Sopricaçam fem Nós, Íl!ndo achada
com qualquer arma ofenfiua , ou defenfiua , que
nom for efpada, ou punhal, ou dagua, defpois que
as Aue Marias forem dadas atee que feja menham ,
~cremos que fcja prefo e jaça na Cadea huu mes,
e pague dous mil reaes. Peró eílo todo que diio hc
nom auerá luguar em aquellas peífoas, que andarem
caminho, ou que forem veer feus bens que teuerem
fóra dos luguares onde viuerem , eM quanto pera laa
forem , e Iaa andarem , ou e-ornarem pera fua caía,
2 E Q]ANTO a efpada, ou punhal, ou dagua, ·
toda peffoa a poderá trazer , a.ffi em Noffa Corte ,
Ddd 2 co-
396 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. LVII.
como em qualquer parte de Noffos Reynos de dia,
e atee o _fino do correr feer tangido; e acabado o fi ..
no, fendo achado com efpada, punhal, ou adagua,
paguará duientos reaes , e perderá as ditas armas
com que for achado ; e os que forem achados def-
pois do fino fem arma paguaram foomente felfentíL
reaes pera quem o prender> o que todo paguar.am
da Cadea > quando o loguo nom quiferem paguar
perante o Juiz, a que ham de feer leuados ante que
vam aa Cadea. E eílo fe nom entenderá quanto aa
pena nos que forem achados defpois do dito fino na
Cidade de Lixboa, ou por cada huü dos Meirinhos
da Nofla.Corte onde quer que Nós Eíleuermos, ou a
Noífa Caía da Sopricaçam fem Nós; porque em eftcs
caf06, pofto que frm arma fejam achados, paguaram
de pena duzentos reaes pera quem os prender. Peró
em toda pane os que forem achados defpois do fi.no
de cor,er fcm arma com candea acefa , ou alenter-
na , ou outro lume , hindo pola rua pera aJguü cer-
to luguar, nom feram prefos , nem paguaram pena
algüa. E quanto he aos moços que nom paflarcm de
qui-nze annos > p,oílo que fejam achados defpois do
fino do correr fem candea, ou outro lume , Mc1nda-
mos que nom fejam prcfos, nem paguem pena al-
güa.
3 E AS ditas armas poderam feer coutadas por
qualquer Meirinho de Noffa _Corte, ou da Comar...
ca , ou Alcaide da Cidade, Villa, ou Luguar, ou
por cada hu·ü dos feus homf'ns , onde com ellas • ou
ca.-
DAS ARMAS QYE SAM D'EFESAS ETC. 397
cada hüa dcllas forem achados ; das quaes armas , e
penas auerá o Alcaide Moor ametade , fe no Luguar
onde foram coutadas ouuer Alcaide Moor, e aquel-
Je que as coutar outra metade ; faluo fe forem couta-
das por cada huü dos Meirinhos da Corte, ou por
o Meirinho da Comarca , eíl:ando Nós , ou a Cafa da
Sopricaçam no Luguar onde forem coutadas , como
DiU-emos no Titulo Do Alcaide Moor. E feno dito
Lugu-ar nom ouuer Alcaide Moor, auelas-ha o que
as coutar: e efto que Dizemos que o Alcaide Moor
auerá ametade das penas no dito Luguar, e modo
cm que as pode auer , Entendemos das penas de
duzentos reaes ; porque nas penas dç quatrd mil
uacs , e de dous mil reaes, que cmcima Diffemos,
Jeuará o Alcaide Moor foomente das dicas penas
( nos cafos fobrediros em que tem amecaàe das ar-
mas) cem reaes , e da demafia leuará quem as cou-
tar ametade, e a·outra metade ferá pera a Piedade.
4 OuTRO s1 porque aos Creliguos d'Ordens Sa-
eras, e Benefiçiados he defefo por Dereito, que nom
traguam armas , Nós aill Mandamos que fe cumpra,
e fe forem achados com ellas, Mandamos que lhe
{cjam camadas• e pedidas; e fc as nom quiferem
loguo dar, fejam-lhe tomadas por os Meirrnh~s, ou
Alcaides, e feus ·hornens, quando lhas affi acharem:
e efto fe nom entender4 quando os ditos Creliguos
d'Ordens Sacras , ou Beneficiadós.forem aas Mati-
nas , ou dcllas vierem dereitamente pcnt foas .cafas ,.
ou anda{cm caminho , ou forem fóra da Cídade ,
Vil-

3S
398 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. LVIII.
Villa , ou Luguar onde viucrem , e em quanto la.a
eíl:euerem , e tornarem pera fuas caías ; porque em
taees cafos Mandamos , que lhe nom fcjam couta-
das , nem tomadas.
5 E AVEMos por bem que as ditas armas e pe-
nas , nos cafos que neíl:e Titulo Diffemos que fe po--
dem coutar, e pedir , fejam demandadas do dia que
forem coutadas a oito dias , e fendo as ditas armas
tomadas polo Akaide , Oll Meirinho , ou cada huü
de feus homens, a par.te a que forem tornadas fe en-
tender que lhe fam mal tomadas, as poderá ilfo mef-
mo demandar ao que lhas tomou do dia que lhe fo-
nun tomadas a outros oito dias ; e nom demandan-
do atee o dito tempo , nom fe poderam mais de-
mandar.

T I T U L O LVIII.
Dos Carcereiros da.s Cidades, e Villas J é das carceragens
que ham de /eunr.

TODO prefo tanto que for na prifam paguará


quatro reaes d'cntrada pera. o Carcereiro , polos
quaes-ha de dar càndea de noute , co~ que geeral.
mente os prefos fe vem , e mais aguoa pera beber ,
e mais paguará quando o folrarem quatro reaes pera
aquelle que o desferrar, e eftes paguará em qualquer
maneira que prefo for.
l E
Dos CARCEREIROS DAS CmAo. 1 Vn. ET e. 399
1 E MAIS o que for prcfo por feito crime pagua-
rá de carceragem cincoenta e quatro reaes brancos
da moeda corrente de feis ceptiis o real ; e o que for
prefo por feito ciuel pag~ará de carceragem noue
reaes brancos ; e fe o prefo for acontiado em caua-
lo, ou ValTalo , ou for Meftre de nao de caftelo
d'auante, ou barca que feja de carregua de oitenta.
toneis , · ou outro homem de femelhante qualidade ,
e condiçam , e quifer andar pela Cadea com ferros
fem mais jazer aprifoado na Cadea , e o feu feito for
tam leue, que razoadamente lho deua, e poífa fazer,
pague de carceragem cento e oiro reaes.
2 ITEM Mandamos que todolos Aiuaraes , por
que mandam foltar os preíos , fejarn efcriptos polo
Efcriuam do feito, onde o ouuer, ou por Efcriuam
da Alcaidaria onde Efcriuam do feito nom ouuer,
e lc:uará por fazer huií Aluará fere reaes , e mais
nom ; e em fim de cada huü deHes ponha a pagua,
que o prefo ouuer de paguar da carceragem, por tal,
que pola. dita pagua venham as ditas carceragens a
boa arrecadaçam.
3 ITEM o dito Efcriuam da Alcaidaria faça huú
Jiuro apartado, em que ponha todas as carceragens
que os ditos prefos paguarem , fegundo as paguas
que elle pofer nos ditos Aluaraes, por que os prefos
forem feitos , e concertará e.ífe liuro cada fomana
hüa vez com o outro. que tcuer o Carcereiro , em
que fam contheudos os Aluaraes com as ditas pa-
guas I porqve por eíle Jiu.ro ferá tomada conta . das
dicas carceragens a aquelle qúe as receber. 4
400 O PRIMErRo L1v. DAS ÜRDEN. Tn. LIX.
4 ITEM Mandamos que fe por fogida d'alguüs
prefos ficarem na priíam algüas roupas, ou quaef-
quer outras coufas , nom as tomem os Alcaides ,
Meirinhos , ou Carcereiros, nem homens feus, mas
repairem-fe, e correguam-fe polas ditas coufas as
prifoês, e ferros da dita Cadea, ou quaefquer outros
dãnos que fe fezerem na prifam.
5 E -PORQY E outras muitas coufas pertencem ao
Officio dos Carcereiros, que aqui nom fam declara-
das, Mandamos que guardem, e cumpram o Regi-
mento do Carcereiro da Corte, fegundo em feu Ti-
tu 1o hc contheudo, e aíli no Titulo Das carceragens
da Corte, em quanto fe a elles póde aplicar, fob as pe-
nas contheudas nos ditos Títulos , fegundo a defe-
rença dos cafos.

TITULO LIX.

Dos ~abaliaes das Notas, e do que afaus Oificios


pertence.

p RIMEIRAMENTE os Tabaliaês das Notas


efcreueram todas as Notas dos contraél:os que feze-
rem em feu liuro de Notas , que cada huü ha de
teer, e como forem efcriptas, loguo as leam prefen-
tc as partes, e teíl:emunhas, as quaes ao menos fe-
ram duas , e tanto que as partes outorguarem , affi-
naram as ditas partes , e teftemunhas ; e fe cada hüa.
das
Dos TAB. DAS NoT. E no Q.YE A nus OrFic. PERT. 401

das partes affinar nom foubcr, aílinará por ella hüa


peffoa, ou outra teftemunha que feja aalem das duas
teftemunhas, fazendo mençam como affina pola
parte ou partes, por quanto ellas nom fabem affinar.
E fe em lendo a dita Nota for corregido, emadido ,
ou minguoado por antrelinha, ou riícadura, algüa
coufa, o dito Tabaliam fará de todo mençam no
fim da dita Nota , ante de as partes e teftemunhas
affinarem, em guiía, que ao defpois nom pofia fobre
ello auer duuida algüa.
1 E MANDAMOS e Defendemos aos ditos Taba-
liaés, que quando forem requeridos pera fazerem
algüa cícriptura de qualquer contraéto ou fermidam
antre partes, que as nom efcreuam em canhenhos,
nem tauoas, nem por ementas, mas que as notem
loguo em feus liuros de Notas, como dito he; e fe
os ditos liuros ahi nom teuerem, que vam por elles,
e cm elles fejam notadas , e as nom dem nem paf.
fem fob feu final pubrico, nem priuado , atee as di-
tas Notas ferem prefente as partes lidas , e affinadas
como dito he.
2 E se acontecer que os ditos Tabaliaês nom
conheçam algüas das partes, que os ditos contraél:os
querem afirmar, elles nom façam taecs efcripturas,
faluo fe as ditas partes trouucrem duas teíl:emunhas
dignas de fec, que os ditos Tabaliaês conheçam ,
que diguam que as conhecem , e em fim da Nota
os Tabaliaês façam mcnçam , como as ditas tefte-
munhas conhecem a dita. parte ou partes , as quaes
li11.· I. Eee teíl:e..
402 O PRIMEIRO Lrv. DAS On.oEN. Tn. LIX.
tefiemunhas itro mefmo affinaram na Nota.
3 ITEM os ditos Tabaliaes nas efcripturas que
fezerem ponham íempre o mez, dia, e anno, e a
Cidade , Villa , ou Luguar , e cafa, em que as feze ..
rem , e aíli os feus nomes delles Tabaliaês , que as
fazem.
4 ITEM os ditos Tabaliaes daram as efcripturas
que ouuerem de fazer a íeus donos, do dia que as
notarem atee tres dias > e fc lhas elles nom pedi-
rem , nom fejam culpados. E quanto hc aas efcri-
pturas grandes, porque as nom podem em tampe-
queno tempo dar , que lhas dem do dia que lhas as
partes pedirem atee oito dias , e nom lhas dando
no dito tempo, feram obriguados de paguar aa par-
te as perdas , e dãnos , e intcrelfe que por o dito re-
tardamento fe lhe caufarem , e mais lhe darem a
efcriptura em tal cafo de graça, fem lhe por ella
feer obriguada a parte paguar dinheiro alguü.
5 ÜuTRO sr os ditos Tabaliaês feram muito de-
ligentes , e auiíados de guardarem mui bem os di ..
tos liuros das Notas em todos os dias de fua vida,
.e por fua morte íeus herdeiros feram obriguados de
as entreguar por inuentairo ao focdTor do dito Of..
ficio, o qual ferá obriguado de as guardar atee qua-
renta annos, contados do tempo que as efcripturas
forem feitas , em guiía, que quando forem requeri-
dos pera moílrarem as Notas, que as amoftrem
fans • e limpas , enquadernadas em perguaminhos,
ou no que mais quifercm., e por fe.u trabalho de as
buf-
Dos Tu. DAS NoT. g Do Q.VE A nus OrFTc. PERT. 403
bufcar aueram aquello que lhe por Nós ao diante
he taxado, fem pedirem nem leuaretn por ello ou-
tras dadiuas; e fe as ditas Notas nom mollrarem
boJs e fans, e fem duuida algúa, e enqu{ldernadas •
como dito he, todo o dãno e perda, que fe aas par..
tes dello feguir , o paguantm por fe-us bens, e mais
perderam feus Ofücios, nom tolhendo porem de el ..
les auerem as outras penas, que por Dereito e Leys
de Noílo Reyno denem auer.
6 hEM em qualquer Cidade, Villa, ou Luguar
onde ouuer cafa deputada pera os Tabaliaes· de No-
tas, os ditos Tabaliaês efiaram pola menhaã e aa tar-
de na dita cafa, por tal, que as partes que os meíler
ouuerem, pera fazerem algüa ekriptura, os poffam
mais prefies achar em a dita cafa , que lhes affi for
ordenada.
7 ITEM quando fezerem algüas efcdpturas, que
pertençam e deuam feer dadas a ambas as partes,
fe cada hüa dellas pedir cada hüa efcriptura, feja ..
lhe dada, ainda que a outra parte nom peça a fua.
8 I TE"M feram bem deligehtes, cada vez que fo.
rem chamados pera hirem faier alguüs contraéfos,
ou teftamencos a algüas peffoas honrad'as, ou enfer-
mas , que ra-zoadamente nom poffam , nem deuam
vfü aa dita cafa, e Panço dos Tabaliaes, que vam lo-
guo a íuas cafas, ou poufada-s daquelles a cujo re-
querimento affi for<!m chamados.
9 OuTRo SI que em todolos contraél:os d'obri-
guaçoés, aforamentos, e arrendamentos, compras
Ece 2 e
404 O PaJMEIR.o L1v. DAS 0RD!N. TIT. LIX.
e vendas I e apenhamentos I e quaefquer outros fc-
rnelhantes , em que algüa parte fe obrigue a outra
fazer ou dar algüa coufa I defpois que o Tabaliam
der húa vez efiormento pola Nota aa parte a que
pertence I nom lhe dará mais outro eftormento por
ninhüa coufa , nem razam, que Lhe pera cllo alegue s
faluo auendo pera ello Noífa Carta I porque lhe feja.
dada a dita efcriptura, a qual Carta lhe mandará
dar o Chanceler Moor prefente as partes, e com
falua fegundo fórma acofiumada, e fazendo o con-
traira perderam feus Officios , e mais aueram qual-
quer outra pena em Noífas Ordenaçoês contheuda.
10 hEM os Tabaliaes das Notas faram todolos
tefiamentos , cedolas , codicilos , e quaefquer outras
vitimas vontades , e todolos inuentairos que os her-
deiros• e teflamenreiros dos finados, e outras quaef.
quer peífoas lhes quiferem mandar fazer, por qual-
quer guifa que feja ; faluo os inuentairos dos meno,..
res., orfaõs,ou prodiguos,ou defafifados,onde Efcri-
uam d'orfaõs ouuer, porque entam o fará o Efcri-
uam doa orfaõs: e onde Efcriuam d'orfaõs nom ou-
uer, o faram os TabaUaes do Judicial: e pofto que
os inuentairos ajam de fucr feitos antre menores I e
maiores, ou prodiguos, e defafifados .,. em tal cafo
Mandamos que f.empre o Efcriuam dos orfa6s faça
os ditos inuentairos. Nem faram itro meúno os in-
uentairos , que os J ui~es de feu Officío mandarem
fazer d'alguüs bens de peífoas aufentes I ou que
morrerem fem herdeiros, porque os taee• inuen-
tai..
Dos TAB. DAS NoT. E DO QYE A nvs On1c. PER. T. 405
tairos deuem fazer os Efcriuaés das Audiencias,
que perante elles ef.creuem •.
11 ITEM os ditos Tabaliaes das Notas faram to-
. dolos eílormentos das poíl'es, que forem dadas ou
tomadas por poder e vertude das efcriptur.as das
vendas, e efcaimbos • aforamentos , e emprazamen.
tos ,. e d'outros quaesquer contraétos , fegundo he
contheudo no ~arco Liuro , no Titulo Dos que to-
mam forçofamenle a pofle da (oufa que outrem pq/fue. E
quanto aas poffes que forem tomadas por viguor de
fentenças , ou mandados de Juízes, faram os eíl:or-
mentos diffo os Tabaliaes Judiciaes, como adiante
ferá declarado em feu Titulo.
J2 ]TEM efcreueram os ditos Tabaliaês das No-
tas as receptas, e defpefas dos bens dos finados, que
feus teílamenteiros recebem, e defpendem per vi-
guor de feus teílamentos, e eíl:o, quando os ditos
finados em feus teíl:amentos nom ordenaram Efcri-
uaes certos pera efcreuer as ditas receptas, e defpe-
fas ; ca fendo por elles ordenados· effes Efcriuaes
efcreueram as ditas receptas e defpefas ; porem as
Cartas das vendas e remaraçoes dos ditos bens fa.
ram os Tabalia~s das Notas.
13 OuTRO &I os Tabaliaes das Notas faram
quae(quer Cartas de vendas, compras, efcaimbos,
arrendamentos , e aforamentos, que fe fezerem dos
orfaõs, e de fcus bens , quando pa!far:em de tres an.
nos , e os preços dos ditos arrendamentos , ·ou foi-
dadas paffarem de trinta.mil reaes; porque os arren-,
da-
406 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. TIT. LIX.
damentos atee tres annos , e que nom paftarem de
trinta mil reaes, ha de fazer o Efcrruam dos orfaõs6
fegundo he contheudo em feu Titulo.
14 E ASSI faram os ditos Tabaliaês quaefquer
obriguaçoes , . e contraél:os , que alguüs prefos feze-
rem em fendo prefos , pofl:o que raees efcripturas fe
ajam de fazer per mandado , e auél:oridade, e em
prefença dos Juizes.
15 ITEM faram quaefquer eftormentos d•empra-
zamentos, obriguaçoes , arrendamentos, e d•alugue-
res de cafas, e quaefquer outros contraétos de con-
uenças, que fe fezerem antre partes, porto que as
dicas efcripturas de confentimento das partes por
maior firmefa fe ajam de julguar por fentença de
quaefquer Julguadorcs. E quanto aos eíl:ormentos.
d 'afrontas. e requerimentos , e proteftaçoês, que al-
güas peffoas fezerem a outras fóra do Juízo, e aíli
das citaçoêi que fe fazem por Notras Cartas, ou de
quaefquer Nolfas Juftiças, e de entreguas de prefos
a algüus Juizes, ou Alcaides, que fe delles dam por
entregues , ou de certidoes , como algüas Cartas, e
Aluaraes Nofios foram aprefcntados a alguüs Juizes.
e Officiaes, ou quaefquer outras pe{foas, ou de fee •
e certidam como algüas Noffas Cartas , ou d'outras
Noífas Juftiças, ou dos Prelados, e feus Viguairos
foram preguadas nas portas das Igrejas , ou lugua-
res pubricos , todas eíl:as efcripturas, e eílormentos
das couías nefte Capitolo declaradas, e d'outras
quaefquer de femelhante qualidade, faram e paff'a-
ram
Dos TAB. DAS NoT. E DO Q.YE A SlUS ÜFHC. PERT. 407
ram quaefquer Tabaliaês, ou das Notas , ou das
Audiencias , quaes as partes pera ello quiferem
efcolher, e acharem mais preftes e deligentes.
16 E os ditos Tabaliaês das Notas leuaram das
efcripturas, que affi fczerem notadas em feus liuros,
e dos cdlamentos , e cartas q~e efcreuerem polas
ditas Notas, e das bufcas de lias, eílo que fe fegue.
17 ITEM fe fezer tal efcri ptura tirada da Nota,
que encha toda hiía. pele de perguaminho bem
dcripta de hua banda fem malicia, leuaram da tal
efcriptura fetenta e dous reaes, e da Nota della que
be poíl:a em feu liuro leuaram cento e oito reaes ,
que he mais a terça parte ; e eíl:a maioria aja, porque
leuam mais trabalho na Nota, que na ef.c:riptura que
fe por ella tira,. que nom tem de fazer fenom tref.
lada.r e fe for efcriptura que nom encha fenom
mea pele , leuará trinta e feis reaes , e de fua Nota
cincoenta e quatro-reaes : e fe nom leuar mais que
quarto de pele, lcue vinte e dous reaes >·e de fua No-
ta vinte e fete , e affi di pera baixo por efic refpeito.
E eíl:o fe entenderá~ quando o Tabaliam nom for
fóra do Paaço fazer tal cfcriptura , porque fe for
fóra do Paaço fazer efcripturas, que fcja na Villa ou
arrabalde onde elle efteuer > aalcm de leuar o que
dito he das efcripturas, leuatá mais fete reaes da
hida.
1 8 1TEM das efcripturas que os ditos Tabaliaes
das Notas fczerem em papel, fe for tal efcriptura.
que encha Mia m(a folha de papel efcripta d'ambas
as
408 O PRtMF.TRo Lrv. DAS 0RDIN. T1T. LIX.
as laudas , leuará della vinte e dous reaes , e da fua
nota vinte e oito reaes ; e fc for efcripta de húa foo
lauda leuaram onze reaes ~·e da fua Nota quatorze
reaes, e di pera fundo por etre refpeito, com tanto
que leue cada lauda vinte e cinco regras pouco mais
ou menos, em modo que contando quatro ou cinco
laudas faiam hüas por outrai. a vinte e cinco regras
cada lauda • e affi cada regra leuará ao menos trinta
letras pouco mais ou menos • em modo que contan ..
do as letras de fete ou oito regras , fique cada regra
hüas por outras de trinta letras ; e nom tendo a dita
lauda as ditas regras como dito he, nom lhe conta..
ramas ditas laudas fe nom aas regras, a cinco re-
gras por huü real; e nom fendo as regras das letras
que dito he, nom lhe contaram dellas coufa algüa.
E fe for fóra do Paaço fazer tal efcriptura , leue a
hida como dito he. E quando acabarem de cfcreuer
as taees efcripturas nas Notas , leuaram o que nas
Notas montar ; e quando entreguarem u efc-ripturas
que das ditas Notas tirarem aa parte, entam lhe pa..
guaram o que nas taees efcripcuras affi tiradas das
Notas montar.
19 E SE eífes Tabaliaes fezerem outras eícri..
pturas, affi como inuentairos, ou outros autos feme ..
lhantes , fejam-lhes contados aas r:egras , conuem a.
faber , de cinco regras e[criptas como dito he huu
real , affi como leuam os outros Tabaliaes dos pro..
ceffos , como adiante hirá declarado no Titulo Do
que ha,n de leuar os 'l'abaliaes , e mais de hida fete
reaes fe for na Villa, ou arrabalde. .20
Dos TAB. DAS NoT. E oo Q.YE A stvs Orne. PERT. 409
20 ITEM os ditos Tabaliaes quando bufcarem
algüa Nota por feus liuros, ou algu-üs Efiormentos
que das Notas tenham tirados , e nom forem reque-
ridos polas partes a que pertenciam de os auer, de
maneira que nom eíl:eue polo Tabaliam, leuaram
foomente de bufca ametade do que he ordenado de
fe leu.ar da bufca -dos proceffos , e outras Efcriptu-
ras , como adiante ferá declarado no Titulo Do que
bam de /euar os cfabaliaês , e Efcriuaes.
2I E os Efcriuaês nom feram Juízes em ninhuü
tempo que forem Tabaliaes , nem voguaram , nem
procuraram em Juizo por algüa pefioa; faluo por
feus feitos, ou daquelles que viuerem continuada...
mente com elles em fuas cafas , fob pena de perde-
rem os Offic ios.
22 ÜuTRo s1 os ditos Tabaliaes feram obrigua-
dos de viuer, e morar continuadame nte na Cidade,
Villa , ou Luguar, ou Concelho em que affi forem
Tabaliaês, fob pena de perderem os ditos Officios ;
e nom poderam feer Tabaliaes em defuaira.dos Lu-
guares, ou Concelhos , faluo fe forem tam pequenos
os ditos Luguares, e .affi conjuntos, que nom ajam
mais de huu a outro que duas leguoas ; e eíl:es que
em defuairados Luguares affi forem Tabaliaes, vi..
ueram e .moraràm em cada huu dos ditos Lugua-
res , ou Concelhos.
23 E s.E algüa parte pedir Eílormento ao Ta~
liam, ora feja das Notas, ou das Audiencias, ou
Efcriuam dos Contos, ou d'outro qualquer Officio
Lrv. 1. Fff de
410 O PRIMEI~o L1v. DAS OaDEN, T1T. LIX.
de Noffa Fa'lenda, naquelles cafos que cada huü
delles lhe pode pa!Tar Eftormentos , ou Cartas Te-
ftemunhaueis d'ante os Corregedores, Ouuidores ,
Juizes, Contadores, ou quaefquer outros Officiaes ,
e Juftiças, dizendo que lhe nom querem fazer de-
reito, fe o Julguador differ que lhe feja dado o dito
Eílormento, ou Cana com fua repoíla , ferá obri-
guado dar a dita repoíla a dous dias primeiros fe-
guintes, contados de momento a momento do dia ,
e momento que lhe o requerimento for feito por
palaura , ou fe a parte quifer viir com requerimento
por efcripto do dia , e momento que lhe for apre•
'íentado a dous dias primeiros feguintes , contados
de momento a momento , como dito he ; e fe a par-
te a que tocar quifcr refponder , refponderá em ou-
tro tanto termo ; e fe o Requerente quiíer repricar,
e a outra parte trepricar, ou o Juiz , pode-lo-ham
fazer, porem pera a reprica nom auerá mais de huú
dia de termo, e outro pera a treprica, contado
como dito he. E o dito Tabaliam, ou Efcriuam ,
ferá deligente em aprefentar o requerimento ao
Juiz, na hora qlle lhe for dado , e iffo mefmo em
pedir ao dito Juiz a dita repoíl:a, ou aa parte a re.
poíl:a, e treprica no fim de cada huü dos ditos ter-
mos, e nom lha dando cada huíí dos fobreditos ao
dito termo , o dito Tabaliam , ou Eícriuam pafiará
o E tormento, ou Carta aa parte que lho pedir, fem
a dita repoíl:a , ou reprica , ou treprica que lhe affi
nom for dada ; e de~a guifa o faça. anrre as partes ,
quan•
Dos TAB. DAS Nor. E oo Q.!!I. A. srns Orne. PERT. 41 r
quando lhe algüa das partes pedir Eftormento de re-
querimento , ou proteftaçam , ou d'outro qualquer
auto fóra do Juízo, fe a outra parte lhe nom der
repofta ao dito termo de dous dias; porque he cer-
to que fe o Juiz, ou a parte com que he a contenda
mais alonguafTe d.e dar a dita repoíla , nom o faz ,
faluo por alonguar a demanda, e tolher ao Reque-
rente feu dereito.
24 E o Tabaliam, ou Efcriuam affi da Juíl:iça,
como da Fazenda, que loguo nom der o Eílor-
mento. ou Carta aa parte que lho requerer a ou-
tro dia fcguinte, defpois de paffados os ditos ter-
mos, ora feja com repofta do Julguador, ou parte)
ou fem ella, fe no dito termo a nom quifer dar ,
Q!eremos que por effe mefmo feito perca o Offi-
cio, e nunca o mais aja, nem outro alguü Officio
da J uftiça , e feja prefo , e da Cadea pague vinte
cruzados pera a parte fe os quifer acufar, e pedir;
e nom os querendo a parte demandar, ferá a metade
pera quem os acufar, e a outra pera os catiuos ; e
nom auendo Acufador feram todos pera os catiuos ,
e efto fem embarguo que per os Oefernbarguadores
que a algüas partes Mandamos com Alçada , poílo
que Prefidente leuem, ou per os Corregedores, Ou-
uidores, Juizes de Fóra, Contadores , e todos ou-
tros Officiaes de Jufüça , ou Fazenda à que tocar ,
ou polos que jurifdiçam teuerem nos Luguares ,
onde fe taees Eftonnentos requererem, lhes fcja de-
fefo que os nom dem; e pofto que os taees Officiaes
Fff z da
412 O PRIMIIRo L1v. DAS ÜRDEN. T1T. LIX. ·
da Júftiça, e Fazenda tenham Noffa Alçada no tal
cafo ; porque toda via os daram fob as ditas penas,
declarand o como o dito Julguado r lho defendia que
o nom deíle, e elle por bem deíla Noffa Ordena-
çam, e Regiment o lho deu. E no cafo que alguü
Eílormen to for tirado d'antc alguüs Defembar gua-
dores que com Alçada Mandamo s • como dito he ,
o tal Eíl-ormento nom hirá a ninhüa das Caías, mas
virá a Nós.
25 E ss defpois que o Tabaliam , ou Efcriuam
encorrer em as dicas penas , por dcneguar o Eíl:or-
mento aa parte, fezer mais Efcriptur a , ou outra
algüa coufa que a feu Officio pertença, Mandamo s
que feja prefo , e da Cadea pague vinte cruzados ,
ametade pera os catiuos , e a outra pera quem o
acufar , e mais ferá degradado por dez annos pera a
Ilha de Sam Th.ome, e as partes o poderam de-
mandar polo que lhes leuar por as taees Efcriptu-
ras, e nom [eram valiofas ,. nem teram viguor al-
guü. E aos Juizes, e Officiaes affi da Noffa Juíliça,
como da Fazenda, Defendem os que com o tal Ta-
baliam , ou Efcriua-m nom façam coufa algüa que
a feus Officios pertença ; e o que o contraira fezer
pague dous mil reaes > ametade pera a rendiçam
dos catiuos, e a outra metade pera quem o acufar.
26 E MANDAMO S a todos Nolfos Corregedo res •
Juizes ,.e Officiaes de Noíla Jufüça, e affi aos Nof-
fos Contador es, Almoxari fes, Juizes das Sifas, e
Officiaes da Noífa Fazenda• e Contadores doa Re-
fi.
Dos T AB, DAS NoT. E no Q.!JI A sws ÜFFIC, PER T. 41 J

fidos , Ouuidorcs Notfos , e das Raynhas, e Me..


ílrados, e affi de Senhores de Terras, e Grandes de
Notfos Reynos ,· e Senhorios, que quando quer que
femelhantes requerimentos lhes fezerem , e pedirem
diffo .Efiormentos, que no tempo aqui contheudo
dem fua repofta , e nom a dilatem mais ; e fe paffa-
do o dito termo a nom derem , Mandamos, que
nom impidam, nem tolham aos ditos Tabaliaês , e
Efcriuaés, que nom paífem os ditos Efiormentos,
ou Cartas Teíl:ernunhaueis e lhos leixem fazer, e
dar aas partes , fegundo a feus Officios pertence ;
e nom foomente lhos nom impidis:am , ma.s feram
obriguados a lhe fazer dar os ditos Eíl:ormentos ,
ou Cartas Teíl:emunhaueis, nos termos acima con-
theudos , fob pena de qualquer que o contraira fc:.
zer, e femelhante E!lormento , ou Carta impidir •
ou lha nom fezer dar como.dito he, perder por dfe
mefmo feito Officio , e ferá inhabel pera nunca
mais teer Officio. de Ju!liça , nem outro alguü de
Cidade, Villa , ou Luguar , e mais paguará vinte
cruzados, os quaes feram pera a parte fe os qui(er
acufar , e pedir , e nom os querendo a parte de-
mandar·, ferá ametade pera quem os acufar, e a ou,.
tra metade pera. os catiuos, e nom auendo Ac.ufa-
dor feraril todos pera os catiuos , e fe mais ufar do
dito Officio, fem diffo auer Noffa. Prouifam , auerá
aquella pena , que aueria qualquer peíl'oa que fem
Noffa auél:oridade miniíl:ratfe jufüça ; e fe o que te-
ucr a Jurifdiçam da Terra 1 o defender que nom
dem

36
414 O PRIMEIRO L1v. DAS 0RDiN. TrT. LIX.
dem tal Eílormento • feja fufpenfo dclla em quanto
o Nós Ouuermos por bem.
17 E sERAM auifado$ os ditos Tabalfaes, que os
taees Eftormentos fe-zerem, que fc os fezerem per
cedulas que lhes as partes derem, que tanto que a~
ditas cedulas forem por el!es trasladadas , fejam li-
das, e concertadas perante as partes fe prefenres a
ello quiferem feer, e quando as partes nom forem
prefentes , ftjam concertadas com outro Tabaliam •
o qual poerá o concerto> e affinará .de feu final pri-
uado; e nom lhe poendo o dito concerto como dito
he , ferá priuado do Officio , e paguará aa parte
toda perda • e dãno, e cuftas que por cllo l'eceber.
28 E DE.FENDEMOS aos ditos Tabaliaês das No.
tas, que nom façam ninhuüs contraél:os, nem con-
uenças, em que as partes fe obrigutm por jura..
mento , ou á boa fce , de comprir, e manteer os
ditos contratl:os, fob pena que o que o tontrairo fe-
zer cocorrer nas penas que Diremos no ~arto
Liuro , no Titulo ~ue 11inbuú nom faça conft"allfJs,
nem dijlraélos , em que ponha juramenlo , nem ""ª fee.
29 OvTRO s1 Mandamos, que os ditos Taba...
liaes ponham por fuas letras em todas as ·Efcri-
pturas , que parfarem aas partes-, as pagua5 , pera fe
faber fe leuam mais do que lhes he taixado, e na-
quellas Efcripturas de que nom ouuerem , ou nom
quiferem leuar dinheiro• ponha nibil : e fe o con..
trairo dello fe-zerem , nom poendo p~gua como dito
he , pola primeira vez tornem todo o que leuarem
aa
Dos TAB. DAS NoT. i DO Q.!TE A s1us Orne. PERr • •415
aa parte , e paguem outro tanto pera os prefos, e
pola fegunda vez ajam dita pena, e fcja fufpenfo
do Officio por [eis mefes ) e pola terceira vez feja
priuado do Officio. E o Tabaliam que mais leuar
do que lhe he ordenado, auerá as penas conthcu.
das no ~into Liuro, no Titulo Da pma q1u aue-
ram os Ojficilus que leuam mais do ,ontbeudo em feus
Regimentos.
30 ÜuTRo si Mandamos, que onde ouuer dous
Tabaliaés das Notas, ou mais, o mefmo Defirebui-
dor que for antre os Tabaliaés Judiciaes, feja iffo
mefmo Deftrebuidor antre os Tabaliaês das Notas ,
o qual deftrebuirá antre elles todas as Efcripturas ,
que ouuerem de fazer, em cal guifa , que os ditos
Tabaliaês das Notas fejam igualados , e nom ferá
ouíado ninhuü Tabaliam das Notas faz~r algúa.
Efcriptura de qualquer qualidade que feja , de todo
o que a feu Officio pertence fazer, faluo o que lhe
for deftrebuido polo dito Deftrebuidor ; e fazendo
alguü delles o contrairo , pola primeira vez feja
fu(penfo por feis mefes , e pola fegunda priuado do
Officio , e pague dous mil reaes pera quem o acu-
far. E o Deíl:rebuidor leuará de cada coufa que de-
ftrebuir rres reaes , e ferá obriguado teer Liuro de
defhebuiçarn bem enquadetnado , e de o guardar, e
da-r conta delle atee trinta annos , e nom leuará bu-
fca. fenom quando paffar de cinco annos, que tal
Efcriptura for deílrebuida. E porem nos Luguares
onde ouuct copia de Tabaliaes das Notas , Nós
Apar-
416 O PRrMitRo Lrv. DAS Oa.DIN. T1T. LIX.
Apartaremos o feu Deftrebuidor do Deílribuidor
dos Tabaliaes do Judicial , e fendo a:ffi apartado •
ferá obriguado ·eíl:ar no Paaço dos Tabaliaes das
Notas trcs horas pola mcnham, e trcs aa tarde con-
tinuadamente ; e o dito DeflrebuidO(, que as ditas
Efcripturas antre os Tabaliaes das Notas deílrebuir.
affentará no dito Liuro da deílrebuiçam os nomes
das partes que o contraél:o fezercm , e o nome do
conrraél:o, e a coufa fobre que fe fez o contraél:o ,
affi como dizendo : Item a Foam '!'aba/iam büa Efari-
ptura de venda de h'iias cafas , que Foam vende a Foam.
31 E Q!JANDo as Efcripturas fe forem fazer fóra
do Paaço, e ninhúa das partes nom for ao dito Paa-
ço pera o declarar , em tal cafo o Deíl:rebuidor lhe
carrcguará a Efcriptura que ouuer de hir fazer na
deftrebuiçarn , poendó o nome foomente do que affi
manda chamar o Tabaliam , e leixará em branco
pera defpois efcreuer os només das outras pa1tes , e
fubftancia da Efcriptura como émcima dito he ; e o
dito Tabaliam ferá obrigoado de no dito dia; Oll
atee o outro .dia a mais tardar, declarar ao Deftre..
buidor os nomes das partes, e fubftancia do con-
traélo , fob pena de perder o Officio, e fe o Taba-
liam o nom declarar no dito ternpo, o DeA:rebui..
dor lhe norrt dará mais deíl:rebuiçam.
32 E ACONTECE'l-fDo que defpois de feer defire-
buida a alguü Tabaliam das Notas algüa Efcriptu-
·ra pera fazer, as partes fe arrependerem , ou por
qualquer mane.ira a nom quiferem fazer> o tal Ta-
ba-
Dos TAB. DAS NoT. E DO QYE A sEus Onrc. PER.T•. 417
baliam a que affi for deíl:rebuida o noteficará da hi
a dous dias ao Deíl:rebuidor, o qual ·affentará na
margem donde affi a tal Efcriptura·eíteuer deílre-
buida, como o dito Ta baliam diífe que a nom feze-
ra , e o Tabaliam aílinará ao pee, e lhe ferá defpois
dada outra . tal na deílrebuiçam ; e nom o note fi-
cando affi no dito termo, poílo que defpois queira
prouar que as partes nom fezeram a tal Efcriptura ,
nom ferá a ello recebido. E porem fe no cafo em
que o dito Tabaliam fezer a Efcriptura que lhe for
deílrebuida, e for dizer ao Deílrebuidor que a nom
fez , ferá punido como falfario.
33 ITEM feram auifados os ditos Tabaliaês, qae
nunca, em quanto Tabaliaês forem, traguam coroa
aberta grande nem pequena, e fazendo alguG o con•
trairo , por effe mefmo feito , fem mais feer citado,
perca o Officfo e nunca o mais aja.
34 ÜuTRO sr Mandamos a todas os Tabaliaés •
que feruàm feus Officios por fi, e nom ponham em
elles outras peffoas que os por elles feruam ; e qual-
quer que outrem pofer em feu Officio que ferua por
clle, nom tendo pera ·ello Nofla auél:oridade efpe-
cial , por eíle mefmo feito perca o dito Officio. E o
Tabaliam que todo o contheudo neíl:e Regimento
nom comprir i perderá o Officio, e pàguará o dãno
e perda àas partes ; faluo nos capitolos em que lo-
guo expreffamente he poíla certa pena , porque nef..
fes aueram a dita pena nelles declarada.
35 ITEM os ditos Tabaliaes daram fiança, antes
Li7!, I. Ggg que
418 · O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. Tn. LIX.
que comecem feruir, à todo o dano ou perda que
a algüa pa.rte fe caufar por fua malícia ou culpa,
conuem a faber, nas Cidades trinta mil reaes , e nas
Víllas vinte mil , e nos Concelhos de Terras chãas
dez mÚ reaes, e feruindo fem dar a dita fiança per~
d~ram os Officios.
36 E MANDAMOS que em cada hüa Aldea, queou-
uer vinte vez.inhqs, e di pera cima, que eíleuer afa-
fiada hüa leguoa , ou mais, de qualquer Cidade , 0L1
Villa, aja hüa peffoa efcolhida polos Officiaes da
Camarada tal Cidade, ou Villa, pera poder fazer os
teílamentos aos moradores da dita Aldea, que eíl:e-
uerem doentes ern cama , a qual peífoa affi pola
dita Camara efcolhida terá poder de fazer os ditos
teflamentos 1 affi como faria o Tabaliam das Notas
da tal Cidade• ou Vi_lla , de cujo Termo for a dita
Aldea, e lhe ferá dada a fee e auétoridade, fendo os
taees teftamentos feitos fegÚndo fórma de Noffas
Ordenaçoes , como que foram feitos por Tabaliam
das Notas da dita Cidade, ou V-ilia: e- aos Officiaes
da dita Camara Damos poder. que poffam efcolher
hua peffoa morador na dita Aldea a mais auta pera
ello , ao qual dem juramento em Camara, que bem
e verdadeiramente ferua o dito Officio ,. o qu.al fer-
uirá em fua vida _no que dito he, como Tabaliam
pubrico. E cometendo qualquer erro ou. falúdade
nos ditos teílamentos , encorrerá nas penas que en-
correra qualquer Tabaliam pubrico, que os ditos
erros ou falfidades cometera ; a qual peffoa affi efco-
lhida
Dos TAB. Juo. E oo QVE A srns ÜFFrc. PERT. 419

lhida ferá obriguado teer quadcrno bem cofido •


cm que efcreua os ditos teílamentos, quando lhos
mandarem fazer em Notas. E porem nom Tolhe-
mos , que os moradores da dita Aldea poffam fazer
os teílamentos , poílo que doentes eílcm , com os
Tabaliaes da Cidade , ou Villa, ou como antes qui-
ferem , fegundo fo rm a de Noffas Ordenaçoés. E as
taces pefToas que affi forem c:mlegidas pola Camara,
leixaram fcu final pubrico feiro na Camara ao pee
do juramento' qu e lhe for dado.

TITULO LX.

Dos 'l'abaliaes Ju diciaes, e do que aJeus Officios


pertence.

l\JI ANDAMOS áos Tahaliaes Judiciaes, tanto


que o Juiz entrar por Juiz, loguo nefTe mes lhe
dem as querelas que teuerem de quaesquer peífoas,
e affi lhes moílrem as inquiriçoês em que teuerem
alguüs culpados, fob pena de priuaçam dos Offici ...
os , e affi di em diante em cada huü mes lhe dem
todas as mais querelas, que no dito mes receberem,
ou culpas que mais ouuerem, fob a dita pena de
priuaçam dos Officios ; e pera certidam de como
lhas amoílraram , faram huü rol de todas as ditas
querelas e inquiriçoês que lhes moílrarem, do qual
ficará o treslado na maõ do Juiz, e outro na maõ
Ggg 2 do
420 o PRIMEIRO LIV. DAS 0RDEN. TIT. LX.
do Tabaliam affinado polo Juiz : o que iífo mefmo
Queremos que aja luguar nos Efcriuaés, que peran-
te alguüs Julguadores efcreuerem , que querelas ou
inquiriçoes teuercm , em que alguüs fejam culpados,
fe as nom moftrarem aos Julguadores, a que talco-
nhecimento pertencer.
1 Os Tabaliaés J udiciaes feram mui preíl:es e
deligentes, affi pera nas Audiencias em que fam or..
denados efcreuerem todolos Autos que perante os
Juizes palrarem, como pera em todolos outros Au.
tos, que a bem de Juíliça pertencem, fazerem e
efcreuerem o que a feus Officios pertence , e lhe for
mandado polos Juizes, e requerido polas partes, em
tal maneira que por fua negrigencia a Jufüça nom
pereça nem as partes percam feu dereito. E pera
eíl:o todo fazerem como deuem , viram pola me-
nham cedo aas Audiencias, de maneira que elles
aguardem polos Juizes , e nom os Juízes por elles •
e efcreueram rodolos termos dos feitos que lhe de..
firibuidos forem mui declaradamente , e o menos
prolixo que poderem, poendo fempre em cada ter-
mo o dia • e mes , e anno , e feu nome , fob pena de
priuaçam dos Officios ; e os termos que forem pre-
judiciaes , ou em proueiro d'algüa das partes, faram
affinar aas partes, fegundo he contheudo nefte Liuro,
no Titulo Dos Efcriuaes dante os De.ftmbarguadores do
Paaro, e fob as penas hi contheudas ; e os outros
termos da ordem de Juizo, acerca do continuar dos
proceifos , poderam poer em Portacolo por lean-
bran.
Dos TAB, JuD, E DO (UI! A SEUS OFFIC, P.ERT. 42?

brança, pera os continuar defpois declaradamente,


e corno pafiaram. E ferarn auifados os ditos Taba-
liaés , que façam affinar aos Juizes as fentenças, affi
definitiuas , como interlucutorias que por elles ver-
balmente forem dadas nas Audiencias ; e nom o fa-
zendo affinar o dia que as der, ou atee outro dia •
paguaram aas partes toda a perda que por nom eíl:ar
affinada fe lhe caufar.
2 E POERA' na continuaçam dos ditos termos , e
affi no começo do feito, e affi nas Sentenças e Car-
tas que pa{far, o nome do Julgu.1dor , e o nome do
Officio foomente , porque conhece do dito feito , e
nom lhe poeram outros nomes , nem dignidades ,
pofto que as tenha; e o Tabaliarn, ou qualquer ou-
tro Efcriuam que· o contraira fezer , paguará dous
mil reaes , ametade pera quem o acufar, e a outra
metade pera os captiuos.
· 3 E Q.!! ANDO aconteceífe , que todos os Taba-
liaês do Judicial de huü Luguar fotrem fofpeitos
em algüa caufa , entam huú Tabaliam das Notas
efcreuerá na dita caufa; e fendo fufpeito, efcreuerá
o Efcriuam da Camara ; e fendo fufpeito , entonce
virá huü Tabaliam do mais acheguado Luguar , e
efcreuerá na dita caufa.
4 E MANDAMOS que os ditos Tabaliaés façam
cada huü feu liuro -enquadernado de quademos
iguaes, de tantas folhas huü corno outro, e de papel
de hüa marca e grandeza , pera nelles efcreuerem
as querelas obriguatorias , que polos Juizes e Jufti.
ças
422 O PRIMEIRO L1v. DAS 0.a.DEN. T1T. LX.
ças forem recebidas aos querelofos , nos ca_fos em
que por Noffas Ordenaçoês deuem fcer recebidas aos
querelofos ; e o Tabaliam que o contrairo fezer, e
for comprendido em malicia , ou negrigencia, per-
derá o dito Officio.
5 E os ditos Tabaliaês feram auiíados de nom
poer, 11em cfcreuer, ne.rn de leixar de efcreucr mais
palauras , nem menos , daquellas que lhe forem di-
tas polas partes querelofas 1 as quaes defpois de te-
rem cfcriptas as leram todas de wrb() a verb() aos di-
tos querelofos I perante o Juiz que lhe a dita quere-
la receber I e defpois de lidas affi as ditas querelas,
feram afinadas pelo quercloío I e polo Juiz; e o Ta-
baliam que o contrairo fezer I perca loguo o Offi.cio,
e feja prefo pera lhe Mandarmos dar a pena de fal..
fo, ou outra I qual Noíla Merce for.
6 OUTRO si os ditos Tabaliaês Judiciaes feram
mui preíl:es I pera viirem com os Juizcs, ou por feu
mandado, fa~er quaesquer Autos que pertencem a
bem de Juíl:iça , é a tirar quaesquer inqt1iriçoês, que
polos Juízes lhe for mandado , affi deuaffas , como
judiciaes I geeraes , e efpeciaes em todolos malefi..
cios, affi por parte da Jufüça I como a requerimento
das partes danificadas, as quaes inquiriçoes deuaffas
lhe fera m paguas , fegundo Ditfemos nefie Liuro ,
no Titulo D()s Juizes Ordinari()s.
7 E sE por ventura algua parte por fe fentir do
Juiz agrauada pedir Eftormento d' Agrauo, ou de
qualquer outra protefta~am dante o Juiz pera feu
Su-
Dos TAB. JuD. E DO Q.YI A sws OFF1c. PERT. 423
Superior , o dito Tabaliam Judicial a que for pedido
lho dará, guardando em todo e por todo acerca dei-
lo o que Diífemos no Titulo precedente , e fob as
penas hi poílas.
8 E os Eftormentos, que fezer por cedulas efcri-
ptas palas partes , concertará prefente elles , ou pre-
fenre outro Tabaliam que ponha o concerto • e affi-
ne de feu final priuado ; e nom lhe poendo o dito
concerto corno dito he • ferá priuado do Offiçio.
9 E POLO dito modo faram concertar todos os
Autos que derem em pubrica fórma , e affi as Cartas
que fezerem pera fr tirarem inquiriçoes por artiguos;
e nom o poendo como dito he, feram ifio mefmo
priuados dos Officios , e paguaram aas partes toda
a perda, e dãno , e cuílas que por eUo receberem.
10 MANDAMOS aos ditos Tabaliaês, que as Car-
tas, que aquelles cujo for o defembarguo lhes man ..
darem fazer , as façam loguo em eífe dia , ou atee o
outro pola menham • fe as nom poderem fazer em
eífe dia; peró fe o Juiz cujo o defembarguo for viir
que fe nom pode fazer no fobredito tempo, affine
tempo a que o eífe Tabaliam poíla faz.er, e fem ma-
lícia.
11 ITEM feram obriguados continuar todolos
feitos no dia que forem offerecidos, e os elles re-
ceberem nas Audiencias • e no dito dia ou a mais
tardar no outro os dem aos Juizes,.ou Procuradores
que os ouuerem d'auer; peró fe nos ditos feitos fo-
rein offerecidas tantas e taees efcriptura.s , que tam
em
4'24 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRl>EN. TIT. LX.

em breue fenom poífam tresladar, o Julguador que


de taces feitos conhecer lhe affine termo conueni-
ente , em que as poífam tresladar; as quaes efcriptu-
ras tanto que forem tresladadas, concertaram com
outro Tabaliam , e eífe com que afü concertar lhe
poerá concerto ao pec , e affinará de feu final ; e
nom as concertando na dita fórma, paguará aas
partes , ou cada hüa dei las , toda perda, e dãno , e
cuftas que por ello receberem , ou fe caufarem.
E nom dando os ditos feitos , ou nom fazendo as
ditas Cartas no dito dia , ou ao termo que lhe foi
affinado, paguará dez cruzados , ametade pera a
parte , e a outra metade pera os captiuos , e deíla
metade dos captiuos àuerá quem o acufar , ainda
que feja a propria parte, ametade. E pera nom feer
duuidà quando deram os feitos, poeram fempre no
feito em que dia os deram aos Juizes , ou Procura-
dores.
12 ITEM todo Tabaliarn e Efcriuam de Nofl'os
Reynos e Senhorios, que nom for da Corte, nem das
Sifas, poderá eni C?.da huü anno hir fora do Lugúar
onde for Tabaliam , ou Efcriuam , fem licença do
Julguador perante quem efcreue , oito dias foomen-
te , e mais nom. E hindo fóra do dito Luguar fem
fua licença, e andando fóra mais <los ditos oito dias
em cada huci anno , ferá fufpenfo do Officio por
huü anno , e paguará aas partes toda perda , e dãno
que por fuà hida e abfencia {e lhe caufar , a qual
licença lhe poderá o dito Julguador, perante quem
éfcre-
Dos TAB, Juo. E oo QYE A nus ÜFflC. PERT. 425

efcreuer, foomente dar a todo mais atee tres mefes


em cada huü anno, fe pera tanto tempo viir que o
dito Official tem neceffidade , e andando fóra mais
que os ditos tres mefes, poílo que feja com licença
do Julguador , ferá priuado do Officio ; e quando
lhe affi der a dita licença, ficará feu carreguo a ou-
tro Efcriuam , ou Tabaliam do mefmo Officio, ou
Auditorio, a quem o elle leixar, e lhe dará enfor-
maçam dos Feitos e Autos que lcixar, cm modo que
nom fejam as partes detheudas por dfa razam, fob
pena de paguar as cufras e perdas aas partes que por
o affi nom leixar fe lhe caufarem. E nom auendo hi
outr.o Official de feu Officio a que feu carreguo aja
de ficar, o dito Julguador lhe nom dará a dita li-
cença, e dando-lha ferá ninhüa.
13 E Q!JANTo aos Efcriuaés da Corte e das Si-
fas , fe guardará o que por outras No«as Ordenaçoes
he determinado.
14 ITEM quando quer que os ditos Tabaliaes
algúas apelaçoes ouuerem de dar aas partes, primei-
ramente as concertem perante elles • em guifa que
nom poffam dizer ao defpois , onde taees apelaçoes
ou treslados de efcripturas forem viíl:as , que fam
minguoadas ou emadidas, e pera efto toJher faram
affinar o concerto aas ditas partes , quando forem
prefentes, ou a outro Ta baliam , fob pena de priua-
çam dos Officios , e de lhe paguarem as perdas , e
dãnos , e cuftas que fe lhe por ello caufarern.
15 E Assr poeram no fim das ditas apelaçoês
Liv. 1. Hhh antes
426 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. LX.
antes que as mandem , o treslado da conta que o
Contador fez, do que montou auer ao dito Taba-
liam, affi do proprio feito, como do treslado ;. e man-
dando a dita apelaçam fem a dita conta• ferá pri-
uado do Officio.
16 E QYANDO as demandas forem fobre bens de
taiz, o Ta baliam ou Efcriuam que a apclaçam ou-
uer de fazer , ou o feito d'agrauo ouuer de mandar~
fedas fentenças que os Juizes das apelaçoés derem
for agrauado, nom a çarrará, nem emreguará ao Ape-
lante ou Agrauance , fem em a dita apelaçam ou
feito d'agrauo primeiramente ferem poftas as pro-
curaçoes das molheres dos litiguantes, fe cafados fo-
rem, pera protfeguimento das ditas apelaçoes , ou
feitos d'agrauo. E fe algüa das partes Apelantes ou
Agrauantes nom quiferem trazer pronrraçam de fuas
rnolheres, o Juiz do feito lhes nom affinará termo
pera feguirem fua apelaçam ou agrauo, antes paffa-
dos os tempos da Ordenaçam , que fam limitados
pera os Apelantes ou Agrauantes fegui.rem feus agra-
uos ou apelaç-oes, nom poderarn mais os ditos Ape-
lantes ou Agrauantes fegoir fuas apelaçoês ou agra-
uos ; e quanto aas partes apeladas ou agrauadas, dlas
nom feram obriguadas traier procuraçam de fuas
molheres , mas os Juizes que a apelaçam ou agrauo
ouuerem d'énempar. mandaram aos ditos Apelantes
ou Agrauantcs que citem as ditas fuas molheres •
quando citarem os maridos agrauados ou apelados.
E o Tabaliam ou Efcriuam que o feito da apelaçam
ou
Dos TAB. Juo. E DO QY! A SEUS OFP'1C. PERT. 427

ou agrauo entreguar fem as ditas procuraçoês , ou


citaçoes, encorretá em pena de perdimento do Offi ...
.cio. Porem fe a molher , cuja procuraçam ou cita..
çam fe requere pera o cafo da apelaçam ou agrauo,
teuer dado procuraçam a feu marido abaíl:ante , pe...
ra feguir a dita apelaçam ou agrauo , a qual procu ...
raçam eíleueífe ja oferecida no feito, nom ferá ne-
ceífario outra. procuraçam , nem citaçarn da dita
rnolher.
17 E PORQ!!R nas fufpeiçoês que fe põem aos Jüi-
zes Ordinarios, ou a quaefquer outros Julguadores
das Cidades • Villas , e Luguares , ou Comarcas de
Noffos Reynos e Senhorios, e affi aos Efcriuaês e Ta-
baliaes dante elles, ou Enqueredores , fe faz grande
leél:ura , e quando fe tresladam as apelaçoes fe tres-
lada todo o proceífo affi como eíl:aa , e porque tres-
ladar o que toca aas fufpeiçoês nom traz proueito
algoü , Mandamos que ninhuü Ta baliam nem Efcri-
uam nom treslade nas ditas apelaçoes as fofpeiçoés,
nem teftemunhas , nem termos que fobre as ditas
fufpeiçoês forem tirados e feit-0s , foomente poerá
huu termo como foi pofta fufpeiçam ao Julguadot,
ou Efcríuàn'I , ou Tabaliam , ou Enqueredor , e foi
julguado ou nom julguado por fufpeito, e foi a ou-
tro, fegundo confta nos Autos da fufpeiçam que em
fua maõ ficam; faluo fe por cada húa das partes lhe
for requerido que tresladem o que dito he das fu..
fpeiçoês , porque entam o rresladaram , e ante que
çarre a apela~am, fará o dito Tabaliam ou Efcri-
Hhh 2 uam
428 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. LX.

uam affinar aparte que lho affi requerer, no rnefmo


treslado da apelaçam que ao Superior ha de viir,
como he verdade que lho requereo. E quando affi
os Autos da dita fufpeiçam fe tresladarem a reque-
rimento d'algúa parte, a mefma parte que o affi re-
quereo, paguará o dito treslado. e affi paguará na
caufa d'apelaçam a vifra que fe nelle montar, affi da
fua parte, como da parte contraira ; e poílo que a
dita parte que affi requereo o treslado dos ditos Au-
tos da fufpeiçam, feja vencedor em cufias, nom lhe
feram contadas as que fe fezeram no tal treslado,
nem o que paguou da vifta delles na caufa da ape-
laçam. E o Efcriuam, ou Tabaliam que o affi nom
comprir como emcima dito he, perderá •rodo o que
fe lhe montar no treslado de toda apelaçam pera
aparte que o acufar.
I 8 E BEM affi Mandamos fob a dita pena • que
nas apelaçoes que os ditos Tabaliaés tresladarem ,.
nom tresladem Carta algüa, por que fe qualquer in-
quiriçam tiraffe por artiguos que no Feito eílem 2
porque abaílam os ditos artiguos que no feito eftam,
donde fahiram as ditas Cartas; faluo fe por cada hüa
das ditas partes for requerido. porque entonce fe
comprirá em todo o que emcima dito be nas fu,.
fpeiçoes.
19 ITEM feram mui deligentes os ditos Tabali-
a~s Judiciaes, pera hirern fazer as execuçoes, e to-
madas de poffes de bens de raiz, penhoras, rernata-
çoés > e entreguas > e todolos outros autos > quando
quer
Dos TAB. Juo. E oo Q!!E A sws OrFic. PERT. 429

quer que polos Juízes forem mandados , em manei-


ra, que por fua culpa e negrigencia nom fej am re-
tardadas as ditas execuçoes ; e faram , e paffaram de
todolos ditos autos, e cada huü delles , as Efrriptu-
ras e Efiormehtos que lhe forem polas partes reque-
ridos.
20 ITEM faram os inuentairos, que os Juízes de
feu Officio mandarem fazer d'alguus bens de pef-
foas aufentes, ou que morrelfem [em herdeiros ; por-
que os taees inuentairos mandaram fazer de feu Offi-
cio , pofio que lhes requerido nom feja por algüa
parte.
21 E QYANTO aos Efiormentos d'afrontas, e re-
querimentos , e proteílaçoes, que algüas peffoas a
outras fazem fóra de Juizo , e de citaçoés que fe fa-
zem por Nofias Cartas, ou de quaefquer Noffas Ju-
füças , e de entreguas de prefos a alguüs Juízes, ou
Alcaides, que fe delles dam por entregues , ou de
mandados e auél:oridades de Juízes pera alguús pre-
fos poderem fazer conrrautos nas Cadeas onde ja-
zem , ou de certidoes como algüas Noílas Cartas ou
Aluaraes foram aprefentadas a alguús Juizes, ou Ju-
ftiças, ou quaefquer outras pelfoas, ou de fee e cer-
tidam como algüas Noffas Cartas, ou d'outras Nof-
.fas Jufiiças , ou dos Prelados e feus Viguairos , fo-
ram preguadas nas portas das Igrejas , ou luguares
pubricos, todas eílas Efrripturas neíle capitolo de-
claradas, e outras quaefquer de feme1hante qualida-
de• faram quaefquer Tabaliaes > ou os das Audien-
c1as li

37
430 O P.uMEIRo Ltv. DAS ÜRD!N. TtT. LX.
das, ou os das Notas, quaes as partes pera ello qui-
ferem efcolher, e acharem mais prefies, e rnais deli ..
gentes.
22 E AS Efcripturas que fe fazem com treslado
d'outras em pubrica forma por auéloridade dos Jui..
zes , e iífo mefmo das apelaçoes que algüas partes
intimam d'ante quaefquer Juízes, affi Eclefiaílicos,
como Seculares , ou Cartas de vendas e remataçoês
que fe fczerem por vertude de Noífas Sentenças , ou
de quaefquer Noffas Juíliças, façam-nas os Tabali-
aês das Audiencias, que perante os Juízes efcreue..
rem.
23 ITEM nom feram Juizes em ninhuü tempo
que forem Tabaliaês, nem voguaram , nem procura..
ram em Juízo por algüa peffoa , nem aceptaram
procuraçam algüa pera por ella fubdlabelecer; faluo
por feus feitos , ou daquelles que viuerem continua..
damente com elles em fuas caías ; fob pena de per--
derem os Officios.
24 OuTRO sr porque fe euirem alguiís inconue-
nientes, que por caufa do parentefco dos Tabaliaes
do Judicial fe poderiam feguir, fe pay, e filho, ou
outros parentes muito cheguados , e cunhádos fof-
fem em huií Luguar Tabaliaês , Mandamos que da ..
qui em diante em ninhüa Cidade, Villa; ou Cón-
celho de Noffós Reynos e Senhorios , nom fejam •
nem poffam feer juntamente em huu ·tempo pay e
filho Tabaliaes do Judicial, nem dous irmaõs , ou
primos com irma6s , nem tio e fobrinho filha d'ir.
maõ
Dos TAB. Juo. ! oo Q!TE A sEus ÜFFJC'. P!RT. 431
maõ ou irmaã, ou cunhados cafados com duas ir-
mãas , ou huíí cafado com a tia do outro , irmãa do
pay, ou mai, ou auoo , ou huü com irmãa do ou-
tro , nem poderá feer huú Tabaliam, e outro Procu-
rador em aquella Audiencia ; e eílo ~eremos, e
Mandamos que iífo mefmo aja luguar , e fe guarde
nos Chancereis , e Efcriuaes , Procuradores , e Mei ..
rinhos , e Contadores , e Deílrebuidores , e Enq.ue-
redores , affi de quaeíquer Luguares , como nos das
Correiçoes , e quaefquer Ouuidorias fe antre elles
ouuercada huü dos ditos parentefcos, ou cunhadios,
poíl:o que fejam Officiaes de defuairados Officios ; e
qualquer que cada huíí deíles Officios feruir con-
tra forma defta Ordenaçam , perderá o dito Officio
aquelle que derradeiramen te contra ella o ouuer.
2 5 ITEM nom arrendaram rendas algüas , fegun-
do Diremos no ~arto Liuro no Titulo Dos Oifici-
ae-s :que nom podemfaer rendeiros.
26 E MANDAMOS que ninhúa petToa poffa feer Ta-
baliam em defuairadas Cidades , Villas, ou Lugua-
res, e Concelhos , faluo fe os ditos Concelhos forem
tam pequenos e affi conjunél:os, que do Luguar on-
de os ditos Tabaliaes morarem , aos Luguares em
que fe fezerem as Audiencias , nom aja mais que
duas leguoas ; e eftes que em defuairados Concelhos
forem Tabaliaês ou Efcriuaes , fe.ram obriguados
viuer em cada huü dos ditos Concelhos , e hirem a
to.das as Audiencias que nos ditos Concelhos de que
forem Tabaliaes fe fezerem , aífentando com os
Jui-
432 o PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TrTr LX.
Juízes os dias e oras , em que fe as ditas Audiencias
fezerem, em maneira que poífam em todas bem fr ·-
uir, e que ao tempo que forem obriguados feruir
em hum Concelho nom fejam neceffarios em ou ..
tro. E quando alguü Tabaliam de defuairados Con..
celhos for aas Audiencias d'huü Concelho ao outro,
nom leuará do caminho dinheiro alguü aas partes.
27 E AQyELu;s que foornente forem Tabaliaês
em algüa Cidade, Vilia, ou Luguar, feram obrigua ..
dos morar continuadamente dentro na dita Cidade,
Villa , ou Luguar em que affi forem Tabaliaes , e
nom fora dclles, fob pena de perderem os Officios ; e
os que forem Ta balia és em huü foo Concelho, em
que aja mais que huü Luguar, feram obriguados
continuadamente morar em qualquer Luguar do di-
to Concelho, que lhes prouuer, com tanto que nom
feja afaíl:ado do Luguar do dito Concelho, onde fe fa-
zem as Audiencias, mais de duas leguoas como em..
cima dito he , fob pena dos Officios.
28 E SERAM obriguados cada ·vez que forem re-
queridos por bem dejuíl:iça, pera hir aos Luguares
do Concelho, onde affi forem Tabaliaês, a fazer
quaefquer autos ou efcripturas , que por razam de
feus Officios fam obriguadoir fazer, de hirem loguo
com muita deligencia , fem leuarem dinheiro alguú
da hida, foomente leuaram o que lhes dereitarnente
montar nas efcripturas, e autos que fezerem , como
adiante ferá declarado.
29 E DEFENDEMOS a todos os Tabaliaes de Nof-
fos
Dos TAB. Jao. E oo QYE A SEUS ÜFFIC. PERT. 433

fos Reynos e Senhorios , que nom recebam tença >


nem acoílamenco de ninhuüs Fidalguos , nem fe
aco!lem a elles, nem recebam delles quita das pen-
foes, que por fuas doaçoes que de Nós tenham dos
ditos Taba.liaes deuam auer; e qualquer Tabaliam
que o contra iro fezer por eífe mefmo cafo perca o
Officio, e Nós o Poderemos dar aquem Noffa Mer-
ce for.
30 ÜuTRO s1 Mandamos a todolos Efcriuaes das
Audiencias. affi da Noíla Corte , corno da Cafa do
Ciuel , e das Correiçoês , e Ouuidorias , e am a to-
dolos Tabaliaes Judiciaes , e Efcriuaes das Cidades.
Villas , e outros quaefquer Luguares de Noffos Rey-
nos, que quando quer que duas, ou mais peffoas
forem prefas , ou demandadas juntamente por huü
crime , ou cafo, ou fe delle per Carta de frgurança,
ou por outra maneira quiferem juntamente liurar >
nom façam fenom huü feito , em que todos junta-
mente fejam ouuidos, e acufados; faluo fe cada hüa
das partes requerer ao Julguador , que do dito feito
conhecer , que lhe faça fobre fi feito apartado : e
qualquer Efcriuam, ou Tabaliam que o contraira fe-
zer , ~eremos que encorra por cada hüa vez em
pena de dous mil reaes pera a Mifericordia ; porem
nom Tolhemos que cada parte poffa tirar fua fen-
tença de feu liuramento , pera a cada huü teer em
feu poder, como fe atee ora cofiumou.
31 ÜuTRo s1 onde ouuer dous Tabaliaês do Ju ...
dicial, ou mais, auerá fempre huü Deíl:rebuidor, o
Liv. L Iii qual
434 O PRIMIIRo Lxv. DAS 0RDEN. TIT. LX.
qual deílrebuirá. antre elles todos os feitos, cartas , e
defembarguos , ou autos , que a elles pertencerem
fazer, em tal guifa , que todos os Tabaliaés fejam
igualados nos feitos , e em as efcripturas que feze-
rem; e. nom ferá oufado ninhuu Tabaliam filhar al-
guü feito ,. ou fazer Carta , ou qualquer outra Efcri-
ptura, faluo o que lhe for deíl:rebuido polo dito Def-
trebuidor; e fazendo alguü delles o contrairo , pa-
gue pola primeira ve-z. duzentos reaes pera a Pieda-
de, e pola fegunda feja fufpenfo por feis mefes, e
pola terceira priuado do Officio. E o Deíl:rebuidor
leuará de cada coufa que de{hebuir tres reaes, e ferá
obriguado teer liuro de deíl:rebuiçam bem enqua..
dernado, e de o guardar, e dar conta dclle atee trin-
ta annos, e nom leuará bufca fe nom quando paífar.-
de cinco annos, que o tal Feito ou Auto for deílre-
buido. E Mandamos que ninhuü Tabaliam poífa
teer , nem feruir Officio de Deftrebuidor , nem Con-
tador, nem Enqueredor, fob pena. de perdimento
dos ditos Officios , e dos que affi teuer, ou feruir.
E os ditos Officios de Contador , e Deftrebuidor , e
Enqueredor, ~eremos, e Mandamos que andem
todos tres em hüa foo peffoa daqui por diante >quan ..
do cada huü deíl:es tres Officios vaguar , e o falario
do dito Enqueredor ferá contado por o Juiz da. Ci-
dade, ou Villa, e nom ferá contado por ninhuii Ta ..
baliam , nem outro Official de Juíl:iça : e fem em.
barguo de affi Ordenarmos que em cada Vílla aja
Enqueredor,. quando o dito Enqueredor for abfente,
ou
Dos TAB. Juo. E DO Q...UE A sws Orrrc. PERT. 435

ou ocupado , que nom poíla acodir a tirar todas as


inquiriçoés que fe ouuerem de tirar, o Juiz poderá
mandar a qualquer Tabaliam, que enqueira com o
Tabaliam que a dita inquiriçam otmer de efcreuer ,
e como por o Juiz for mandado, valerá a dita inqui-
riçam como que polo dito Enqueredor fora tirada.
32 E sERAM auiíados os ditos Tabalia~s, que
nunca em alguü tempo em quanto Tabaliaes forem,
traguam coroa aberta , grande , nem pequena i e fa-
zendo alguú o contraira, per eífe rnefmo feito fem
mais feer citado perca o Officio, e nunca o mais aja.
33 ÜuTRO sI Mandamos a todos os Tabaliaês,
que feruam feus Officios por fi , e nom ponham em
elles outras peffoas que os por elles feruam ; e qual-
quer que outrem pofer em feu Officio, que ferua por
elie , nom tendo pera ello Noffa auétoridade efpe-
cial , por effe mefmo feito perca o Officio.
34 E MA!iDAMOS que todos os TabaliaE:s, e Efcri--
uaés , quando tirarem algtlas inquiriçoes judiciaes ,
fcmpre preguntem as tefiemunhas no começo de
feus ditos, e tefternunhos, polo coíl:ume; e bem aíli
as preguntem polo cofiurne em todas as inquiriçoês
deuaffas, aíli geeraes, como efpeciaes , no fim de
cada huü teílemunho, fob pena de perderem os Of-
ficios, e nunca os mais auerem,
35 E DEFENDEMOS que daqui por diante ninhüa
peíloa, que for criado d' Alcaide Moor d'algüa Cida-
de , Villa, ou Luguar, ou d'alguü Fidalguo, nom
aja Officio de Tabaliam do Judicial, nem o ferua.
lii 2 por
436 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDIN. Tn. LX.
por outrem no Luguar onde o dito feu Senhor for
Alcaide Moor , ou o dito Fidalguo viuer : e auendo
o dito Officio feja priuado delle, pera o Darmos a
quem for Noífa Merce; e feruindo-o por outrem ,
perderá a extimaçam do dito Officio, ametade pera
quem o acufar, e a outra pera os catiuos.
36 ITEM os ditos Tabaliaes daram fiança, antes
que comecem feruir, a todo o dãno, ou perda que
a algüa parte fe caufar por fua malicia , ou culpa ,
conuem a faber, nas Cidades de trinta mil reaes , e
nas Villas de vinte mil , e nos Concelhos de Terras
Chãas de dez mil rcaes ; e feruindo fem dar as dicas
fianças perderam os Officios.
37 !TEM todos os Tabaliaes que leuarem Cartas
de feus Officios da Noífa Chancelaria , leuaram nas
cofias da Carta por affinado e fee do Efcriuarn da
dita Chancelaria , corno tomou juramento na dita
Chancelaria , fob pena de perdimento do Officio.
38 ITEM ninhuü Tabaliam nom tornará pam,
nem vinho, nem outra qualquer coufa de ninhüa
parte, que perante elle trouxer feito, poílo que di-
gua que lho difcontou., ou difcontará do falario. E
bem affi terá cuidado , tanto que o feito for findo ,
poílo que nom feja requerido por ninhüa das par-
res, de mandar dahi a huü mez o dito feito ao Con-
tador, e o fazer contar> fob as penas que Diífernos
no Titulo Dos Ejcriuaes d'a11/e os Defembarguadores.
39 ITEM feram os ditos Tabaliaes obriguados de
dar todas as culpas que teucrem ao Corregedor da
Co-
Dos TAB. Juo. E Do QlJE A SEUS OrFJc. PERT. 437
Comarca, do dia que cheguar ao Luguar on·dc fo..
rem Tabaliaés a tres dias , fob pena que nom lhas
dando, ou foneguando algüas, feer priuado do Offi-
cio , fegundo mais larguarnente he contheudo no
Titulo Dos Corregedores das Comarcas, no parrafo [e..
gundo.
40 ITEM o Tabaliam que nom der em rol todas
as penas, em que algüas peífoas encorreram pera a
Chancelaria , ao Chanceler da Comarca , fcrá fu-
fpenfo do Officio, e mais paguará as ditas penas,. fe-
gundo Diffe.mos no Titulo Da Chancelaria das Co-
marcas , em princ1p10.
41 hEM quando o Tabaliarn viir, que o Alca i-
de faz auença com algüa peffoa fobre lhe leixar tra-
zer armas defefas , ou que daa licença, ou confente
que as traguam fem as coutar, e acufar, o poerá em
eílado, e o dará ao Juiz, fob pena de priuaçarn do
Officio , como he contheudo no Titulo dos Alcaide$
pequenos.
42 1TEM os Tabaliaés demandaram feus fala rios
do dia que as fentenças definitiuas forem dadas nos
feitos a tres mezes ; e nom os demandando no dito
tempo, nom o poderam mais demandar, fegundo
he contheudo no Titulo Do que ham de leuar os Ta-
haliaes, ou Efcriuaes defeu falaria.
43 ITEM os ditos Tabaliaês ham de leuar os Re-
gimentos de feus Officios da Chancelaria , e teelos
fempre ; e nom o fazendo aíli , encorreram nas pe-
nas contheudas no Titulo Do que ha.m de leuar os ~a-
ha!iaes, ou Ej'criua'is &c.. 44
438 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜR.DEN. T1T. LX.
44 E o Tabaliam que feruir fem Carta ferá de-
gradado· dez annos pera a Ilha de Sam Thome, co-
mo he contheudo no dito Titulo Do que hAm de /euar
os Tabaliaes , qu Efiriuaes &e.
45 !TEM os Tabaliaes , quando tirarem a.lgüas te-
fiemunhas , e a alguüs artiguos differem nihil , o
efcreueram, e affentaram na fórma que Diffemos no
Titulo Dos &queredores, no parrafo Ejer/J auifado o
'Ta.baliam , ou Ejcriuam.
46 ITEM ninhuü Tabaliam contará o feito em
que ouuer d'auer falaria , fob pena de priuaçam do
Officio , corno he contheudo no Titulo Do Contador
das cujlas.
47 ITEM ninhuú Tabaliam nom poderá vender,
trefpaffar, nem renunciar o feu Officio cm outra
peffoa, fem Nofla efpecial licença, nem menos ore-
nunciará quando eíl:euer doente• ou quando teuer
nelle feitos alguüs erros , fegundo mais comprida-
mente DílTemos no Titulo Dos que vendem Jeus OJJi-
cios /em licença , e fob as penas hi contheudas. E affi
ferá obrigua.do de fe cafar, como no dito Titulo he
contheudo.
48 ITEM qualquer Tabaliam que fe chamar po ..
lo Senhor da Terra, que pera ello nom teuer expreí-
fa doaçam, perderá o Officio, e paguará vinte cru-
zados, fegundo íe contem no fegundo Liuro, no Ti-
tulo De como as Rt1Jnhas, e Infantes &e. no parrafo
E hem ajfi nom Je chamaram.
49 ITEM qualquer peíloa que aceptar Officio de
Ta..
Dos TAB. Juo. E. Do Q.!1E A srns Orne. PERT. 439
Tabaliam nouamente criado por qualquer Senhor
de Terra , auerá pena de falfario, e eílo fegundo he
contheudo no dito Titulo De como as Raynhas , no
parrafo E porque criar.
50 I T~M o que aceptar Officio de Tabaliam
d'alguü Senhor de Terr:lS, que norn teuer mais po-
der que pera aprefentar , e o feruir fem viir tirar
Carta , e Regimento da Chancelaria , perderá o Of-
ficio, e auerá as mais penas que fam contheudas no
dito Titulo, no parrafo E qualquer dos ditos Senhora.
5 r ITEM qualquer peífoa que ouuer Officio de
Tabaliado , por lho dar alguü Senhor de Terras,
que tenha poder de lho dar fem viir aa Noffa Chan-
celaria , fe o tal Tabaliam aceptar do tal Senhor Re-
gimento de feu Officio , que nom for ral como o
Noífo Chanceler Moor daa aos Tabaliaés na Noffa
Chancelaria, perderá o Officio, e auerá a mais pena
contheuda no Titulo De como as Raynbas , e Infan-
tes &c. no parrafo E aquel!es Senhores.
51. ITEM qualquer Tabaliam que perder o Offi-
cio (que lhe for dado por alguü Senhor) por fenten-
ça , e o tornar a auer de fua maõ fem Naifa expref-
fa licença , perderá o Officio , e auerá as mais pe-
nas que fam contheudas no dito Titulo , no parrafo
E Mandamos 'J.Ue os ditos 'I'a!Ja!iais.
53 ITEM qualquer Tabaliam que foneguar o te-
ftamento ao Contador dos Rcfidos quando lhe for
mandado, perderá o Officio , como he contheudo
no Titulo Dos refidos, no parrafo E porque aos Conta:..
dores. 54
440 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. LX.
54 ITEM o Tabaliam he obriguado, quando paf-
far alguü Eftormento a qualquer parte, declarar to-
da a verdade dos Autos, que polas partes , ·ou polo
Juiz for apontado em feus requerimentos, ou repo-
flas, fob pena de priuaçam do Officio, como he
contheudo no terceiro Liuro, no Titulo Da manei- ·
ra que Je terá, quando o Juiz nom rteebe aptlaçam &e.
55 ITEM os Tabaliaes ham d'aífentar no auto da
penhora , que fezerem , corno aparte foi requerida,,
fob pena de perder o Officio, fegundo he contheudo
no Titulo Das execuçoes, no parrafo primeiro.
56 ITEM os Tabaliaês ham de poer na pubrica-
çam das fentenças , fe foram as partes prefentes ao
pubricar da fentença , fob pena de perderem os Of-
ficios , como he contheudo no Titulo Das execuçoes ,,
no parrafo E pera fe.
5 7 ITEM os Tabaliaes , quando mandarem algiía
apelaçam fobre bens de raiz, poeram na dita apela-
çam a aualiaçam dos ditos bens , fob as penas , e co-
mo he contheudo no Titulo Dos agraf!,OS das /enten ..
ças definitiuas. ·.
58 ITEM ninhuu Tabaliain fará Efci-ipturas por
liuras , fob pena de perder o Officio , como he con-
theudo no quarto Liuro, no Titulo Da dedaraçam da
valia das liuras, no parafo Mandou mais o dito Senhor.
59 ITEM qualquer Tabaliam que em feu poder
receber ninhuíí depofito, nem qualquer condéna-
çam , perderá o Officio, como he contheudo no Ti-
tulo Do que compra algúa corifa &e.
60
Dos TAB. Juo. E DO Q.yE A SEUS ÔPFIC. PERT. 441

60 ITEM o Tabaliam que pofer renunciaçam da


Ley , que fala dos LX dias que tem o que confdfon
que recebera empreílado para dizer que o nom re-
cebeo, perderá o Officio , como fe contem no Ti-
tulo Do que conftffou au,er recebido.
6 e l TEM o Ta baliam das Notas que fezer Eftor-
mento d'aprouaçam em tefiamento, fem feer affi-
nado polo teflador , e teftemunhas , perderá o Qffi ..
cio ., fegundo fe contem no Titulo Em que forma ft
faram os tejlammtos. E teram a forma do fazer dos te-
fi:amentas, que Diremos no dito Titulo, e fob as
penas e claufulas nelle contheudas.
62 lT!lM os Tabaliaês d'alguüs Feitos de prefos
·poeram nos Feitos o auto da prifam , fob pena de
priuaçam dos Officios, fegundo mais compridamen-
te he contheudo no quinto Liuro, no Titulo Da or-
dem que o Julguador terá itos Feitos Crimes.
63 1TEM todo Tabaliam ferá obriguado, fob
pena de perder o Officio , tanto que alguü Feito d~
· feguro, de que for Eícriuam, eft:euer quinze dias fem
fo falar a elle , de o notificar ao Julguador~ como he
concheudo no dito Titulo Da ordem que o Julg11ador
terá nos Feitos Crimes.
64 ITEM o Tabaliam nom dará mais tefiemu-
nhas no feito em que for Efcriuam) que as da que-
rela , ou deuaífa , ou nella referidas; faluo corno Di...
remos no fohredito Titulo Da ordem que o Julgu.ador
terá &(• • e fob a pena hi contheuda.
65 ITEM o Tabaliam que foneguar as culpas na
Ljv. 1. Kkk fo-
442 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. Tn. LX.
folha ferá punido de falfario , como he contheudo
no Titulo Comofe paflará a falha.
66 ITEM qualquer Tabali~m que fezer efcriptu•
ra falía , ou auto fa!Co, morrerá morte natural, e per..
derá roda fua fazenda, como he contheudo no Titu-
lo Da pena que auerá o que faljar final.
67 !TEM os Tabaliaes teram cuidado de notifi..
car aos Juízes, quando teuerem algüa querela, que
paífar de huu anno que he dada , fem por ella fe
proceder., que façam citar por editos os de que affi
for querelado, a qual notificaçam afiinará o Juiz ao
pee da querela , fob pena de priuaçam dos Officios •
fegundo mais compridamente he contheudo no Ti-
tulo Em que ca/os deuem prender os ma/feitores•.
68 ITEM os Tabaliaês. efcreueram os autos, e
emprazamentos , e efctipturas, que lhes por os Al-
caides Moores das Sacas for requerido, de graça.,Job
pena de perdimento dos Officios , fegundo hc con..
theudo no Titulo Do regimento do Alcaide das Sacas.
69 ITEM todo Tabaliam que leuar mais do con...
theudo em feu Regimento , perde o Officio , e mais
auerá as penas, que fam comheuda.s no Titulo Da-
pena que muram os Olfiáaes.
70 ITEM os Tabaliaes ham de poer em eftado,
quando os Julguadores nom procederem, contra os
que aleuantarem volta em Juízo, corno he contheu-
do no Titulo Do que aleuanta volta em Jui~o.
71 ITEM os Tabaliaês ham de teer continuada.-
mente em fua caía couraças , éapacete, ou c:afco .,
adar-
Do QYE HAM DE uuAR os EscR. DA FAz. ET e. 44J

adargua , e lança , e os d'algüas Cidades, ou Villas


contheu.das no Titulo Como os Ejcriuaes e Meirinhos ,
ham de teer caualos,fegundo no dito Titulo he con-
theudo, e fob as penas hi poílas.
72 l TEM os Tabaliaes que forem prefcntes aapri-
fam de qualquer homem , ham de efcreuer o abito
e tonfura , em que for achado , fob as penas con-
theudas no Titulo ~ue ao tempo da prifamfefara auto.
73 E A.ALEM dos cafos aqui conteudos nefte Ti-
tulo , feram obriguados os Tabaliaes fazer , e com-
prir todo o que lµe mais por Nofiàs Ordenaçoes,
Regimentos , e Dereito for mandado , fob as penas
nellas contheudas.

TITULO LXI.
Do que ham de leuar os Ffcriuaes da Fazenda, e da Ga-
mara , das Cartas, e Defembarguos, e Aluaraes, e
outras Ejcripturas que fezerem.

I TEM de Cartas, e Aluaraes de pape;, quaefquer


que fejam, hu0. real de prata de cento e dezafete em
marco , de ·Jey de. onze dinheiros, que furo de moe-
da ora corrente em huú real vinte reaes de feis ce-
ptijs o real.
1 hEM de Cartas detença, huü real de prata de
vinte reaes. xx. reaes.
2 ITEM dos Defembarguos de merce, hum real
de prata de xx. reaes. .xx. reaes.
Kkk2 3
444 O .PRIMEIRO LIVRO DAS ÜRDIN. TIT. LXI.

3 ITEM d•outros Aluaraes peque.nos, huu real de


prata de xx. reaes·. xx. reaes.
4 ITEM de Cartas de/e ajfi he , tres reaes de
prata. LX. reaes.
5 ITEM de Cartas d'Officios, tres reaes de pra-
ta. LX, reaes.
6 l TEM de Cartas de pad roes de rendas ; ten ças ,
ou aifentamentos , cinco reaes de prata. e. reaes.
7 ITEM de Cartas de priuilegio , quatro reaes de
prata. LXXX. reaes.
8 l TEM de cada Carta d'aforamento, cinco reaes
de prata. e. reaes.
9 ITEM de Cartas de Doaçam de Terra ou Terras,
huü efpadim d'ouro. ccc. reaes.
10 ITEM de Canas de Doaçam de Caftelo huü
efpadim d'ouro. ccc. reaes.
II !TEM de contraél:os,, hum cruzado. cccc. rcaes.
12 1TEM de lanço de rendeiro , ou rendeiros, quer
fejam muit~, quer pouc.o s, huü efpadim d'ouro.
ccc. re.aes.
13 E PORQ.ln: dás Cartas das Confirmaçoes nom
deuem os Efcriuaes d'auer tanto fa1ario , como
quando de nouo as fazem., por o menos trabalho que
em ellas leuam , Mandamos que de qualquer Carta
rle Confirmaçam de Doaçam de Terras , ajam foo-
rnente cinco reaes de prata. e. reaes.
14 ITEM de Confirmaçam dalgulís dereitos, qua-
tro reaes de prata. LXXX. rcaes.
15 l TEM de Confirmaçam de qualquer padram •
tres reaes de prata. LX,. reaes.
Do QYE HAM DE I.EUAR os Escn. DA FAz. E Te. 445

16 lnM de Confirrnaçam de Carta de Caftclo *


cinco reaes de prata. - e. reaes.
17 ITEM de Confirmaçam de priuilegios, tres
reaes de prata. LX. reaes.
18 ITEM de Confirrnaçam de Carta de qualquer
Officio, dous reaes de prata. XL. reaes.
19 E DEFENDEMOS a todolos ditos Efcriuaês, que
nom leuem mais dinheiro das partes polas Efcriptu-
ras que fezerem, do que aqui por Nós he ordenado,
·pofro que as partes lho queiram dar de graça ; nem
leuem mais dinheiro , poíl:o que nas Cartas ou Alua-
raes fejam muitas peífoas, do que leuariarn fendo
húa foo peffoa.
20 OuTRo s1 Mandamos aos fobreditos que em to-
das as Cartas e Efcripturas que fezerem ponham as
paguas , quer as ditas Cartas e Efcripturas que feze-
reltl ajam de feer affinadas por Nós, quer por quaef-
quer Noílos Officiaes. E quando por Nós forem af.
finadas, poeram as paguas nas cofias das Cartas em
huü cabo dellas , e qualquer dos Efcriuaes que nom
pofer as paguas como dito he , por a primeira vez
torne aaparte todo aquello que leua.r, e mais pague
o dobro para os prefo.s; e por a fegunda vez aja adi-
ta pena do dinheiro , e feja fufpenfo do Officio por
huü rnes; e por a terceira vez aja. a dita pena do di-
nheiro, e feja fufpenfo do Offi.cio atee Noffa Merce,
e norn lhe feja recebida efcufa, por dizer que por ef-
quecimento, ou preffa, ou outra fadigua o nom fez;
e qualquer dos ditos Efcriuaes , que mais leuar que
o

.IH
446 O PRI MIURO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXI.
o contheudo neíl:a Ordenaçam e Regimento , auerá
as penas contheudas no Titµlo Da pena que autram
os Ojficiaes , que leuam mais do contheudo em jeus Regi-
mentos.
21 E MANDAMOS aos Noífos Veedores da Fazenda,
e a quaefquer outros Noffos Defembarguadores , e
O.fficiaes a quem pertencer, que nom affinem Cartas
nem Aluaraes, que paguas nom leuarem. E ao Efcri.-
uam da Puridade, ou a qualquer outro que ouuer de
poer a viíl:a, que a nom ponha em qualquer Carta
ou Aluara que pagua nom leuar , e ao noílo Chan-
celer Moor Mandamos que as nom affele.
22 E POREM nom he Naifa Tençam por eíla
Ordenaçam reuoguar, nem limitar as outras Orde-
naçoes , feitas acerca do que ham de leuar os outros
Efcriuaés, e Tabaliaes de Noífos Reynos e Senho-
rios , affi das Notas, como das Audiencias, e de to..
dolos outros , que por efcreuerem ham de leuar fa-
lairo , e dinheiro de Efcriptura judicial , ou extraju ..
dicial ; ant~s Mandamos , que fe guardem como em
ellas he contheudo.

TI-
Do Q.YE HAM DE LEVAR os Eso. DA CoR TE ET c. 44 7
T I T U L O LXII.

Do que bam de /'e11ar os Efcri1111cs da Corte, e das Co-


marcas , dos carreto; dos feitos.

A OS Efcriuaes da Corte , e dos Defembargua-


dores , e dos Corregedores das Comarcas , e dos
Ouuidores da Raynha, e P.rincepe , e dos Infantes>
e d'outros Senhores de Terras , e Mefires , e aos
Efcriuaes dos Contadores das Comarcas • pertence
auer das partes carretos dos feitos que coníiguo tra-
zem;. por quanto fe abalam de huü Luguar pera
outro; e porem quando _acontecer, que taees Efcri-
uaes fe abalam com o Julguador, ou fern elle por
feguir feu Officio, de huü Luguar pera outro,. fe for
tamanho efpaço que paffe de dez leguoas,. leuará
eíle Efcriuam de carreto de cada huü feito fete reaes
de cada parte> e fe nom for maior efpaço de huü
Luguar pera outro que dez leguoas e di para baixo.,
nom leue eífe Efcriuam de cada feito de carreto. fal-
uo tres reaes e meo de cada parte. Pero fe o efpaço
for tam pequeno , que nom paíle de cinco 1eguoas
acima , nom leue o Efcriuam inais do carreto do
feito , que dous reaes de cada parte.

T J..
448 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TrT. LXIII.
T I T U L O LXIII.

Do que bam de leu.ar os 7'abaliaes e Ejcriuaes


de ftu Oiftci'o.

p RIMEIRAMENTE em todas as Efcripturas


que fe ham de contar por regras, affi como .as in-
quiriçoes , e apeJaçoés , freslados , e termos de pro-
ceífos • leuará o Tabaliam de cinco regras huü real ,
e ó Efcriuam de cinco regras e mea; e cfta maioria
auerá o Tabaliam do Efcriuam , por bem da pen-
fam que pagua a Nós em cada huü anno; nas quaes
regras por euitarmos algüa malícia queno.efcreuer
muito !arguo fe cometia , Mandamos que ao menos
em cada hüa regra aja tr•inta letras pouco mais ou
menos , em modo que contando as letras de fete ou
oito regras, fique 'cada regra hüas por outras de trin-
ta letras ; e poíl:o que alguu Efcriuam feja pubrico
em alguús Luguares. que pofia fazer Efcriptura pu-
brica como Tabaliam , tal como efte fe nom paguar
a Nós penfam como pubr.ico Taba,liam, nom leuará
faluo de cinco regras e mea huü real , como outro
Efcriuam ; e pofto que alguü Tabaliam . feja priuile-
giado por Nós, que nom pague penf.am, nom leixa-
rá porem de leuar de cinco regras huü real; porque
fcm razam feria fazerlhes perjuizo feu priuilegio :
e em todolos outros autos, que ao Officio do Taba-
liam ou Efcriuam pertencem, nom aja algüa outra
diferença, quanto ao leuar dos falarios.
I l'IEM
Do Q.YE HAM DE L!UAR os TABAL. E Esca. BT e. 449

I 1 TEM de hüa Comiífam efcripta no proceffo ,


por que Nós, ou aquelle que Noífo luguar teuer,
cometa o Feito a alguü Julguador , leuará o Taba-
liam , ou Efcriuam tres reaes e quatro ceptijs ,
da'quelle em cujo fauor a Corniffam he feita ; e fe
for a prazime-nto d'arnbos, ou em feu fauor • leuara
de cada huü onze ceptijs, e mais nom.
2 ITEM das Procuraçoes feitas em procc(fo apud
alia , leuará o Tabaliam , ou Eícriuam da parte que
fezer eífa Procuraçam , tres reaes e quatro ceptijs •
ainda que faça muitos Procuradores; e fe duas, ou
tres peffoas fezerem huú Procurador, ou Procurado-
res, de cada hüa peffoa leuará tres reaes e quatro ce-
ptijs; faluo fe forem marido e molher, ou irmaõs em
biia herança, ou Cabido, ou V niuerí,dade, ou Con-
celho, que nom paguaram, fenom como hüa peffoa.
' 3 E DE todalas outras Efcripturas nom leuaram
os ditos Tabaliaes, nem Efcriuaes, pofro que fejam
de No!fa Corte, ou das Correiçoes, ou outros quaes-
quer Efcriuaes de No!fos Reynos e Senhorios, mais
dinheiro, poílo que em ellas fejam muitas pelfoas,
do que dereitamente lhes pertence leuar fendo hüa
foo peífoa.
4 ITEM de querela , ou fiadoria, ou conuença,
ou outro termo femelhante, que o Tabaliam, ou
Efcriuam efcreuer perante alguü Julguador, ou por
feu mandado for fazer em alguú Luguar, . dentro
na Villa, ou arrabalde onde o Julguador efteuer ,
Jeuará effe Tabaliam, ou Efcriuam fete reaes , aíli
Liv. L Lll como
450 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0.RDEN. T1T. LX111.
como leua de hüa affentada de teíl:emunha.s , e mais
auerá o que montar neífa Efcriptura que fezer, con-
tada aas regras como dito he.
5 ITEM de qualquer termo em que for efcripta
reuelia, e fezer mençam corno a parte foi apreguoa-
da , Ieuará o Tabaliam , ou Eforiuam da parte em
cujo fauor fe fezcr o dito termo, tres reaes e quatro
ceptijs.
6 E DAS pubricaçoês das fentenças definitiuas
leuará o Ta.baliam , ou Efcriuam fi~te reaes , e das
interlucutorias tres reacs e quatro ceptijs, da parte
em cujo fauor forém ; e fe a fentença fezer por an~
balas partes, paguará cada hüa fegundo a fentença,
ou ínterlucutoria for em feu fauor~
7 E DAS conclufoes , affi como da concluíam
fobre o libelo , ou fobre artiguos, ou fobre outra
qualquer coufa ou fobre a definitiua , de cada hua
conclufam leuará o Tabaliam, oU Efcriuam doos
reaes d'ambalas partes, conuem a faber, huü real
de cada hüa parte ; e fe tal conclufam for a~ reuelia
de hüa das partes , leuará a reuelia , e a conclufam
e
da parte em cujo fauor h.e tal conclufam , reuclia.
Pcró fe for conclufam. ante o Juiz da apelaçarn, e
for fobre a- defiinitiua, fe :eífe Efcriuam-nom ouue
do feito vifta , ou outro proueito de efcriplura , fal-
uo a dita- condutam , como muitas vezes acontece
affi ern Feitos Crimes, como Ciueis, leuará o Efcri-
uam de tai conclufam dezoito reaes d'ambafas par-
tes , conuem a faber , noue reaes de cada parte ; e fe
nom
Do Q.Pt HAM DE LEUAR os TABAL. E EscR. n e. 451
nom parecer fenam hüa parte , e for conclufo aa
reuelia da outra , leuará noue reaes de!fa parte que
for prefente, e mais a reuelia d'aquella em cujo fa ..
· uor he.
8 !TEM dos mandados que o Julguador mandar,
affi como quando affinar termo a algua das partes ,
a que venha razoar , ou venha com algüa Efcriptu-
ra, ou lhe manda dar o traslado d'algüas razoes, ou
o lançam da proua , ou razoado, ou d'outra coufa •
ou d'outros ta-ees femelhantei mandados, leuará o
Tabaliam , ou Eícriuam da parte em cujo fauor for
tal mandado > onze ceptijs.
9 E DAS inqt1iriçoês que tomar o Tabaliam, ou
Efcriuam, aalem d'aquello que lhe montar de fua.
efcriptura contada aas regras • leuará as affentadas
das teílemunhas por efta guiía, conuem a faber,
de cada hüa alfentada fcte reaes , e do dito das te..
fiem unhas nom leuará coufa algüa, faluo fua efcri ..
ptura como dito he : e cílas affentadas fejam taees,
que cm cada hüa aja tres ditos de teClemunhas ; e fe
menos for , nom lhe contem aífentada , faluo onze
ccptijs do dito da teílcmunha , e fua efcriptura.
E o Tabaliam , ou Efcriuam fará duas affentadas no
dia, conucm a faber húa da hora da terça atee meo
dia , e outra defpois de comer atee fahida de vefpo-
ra , e eílará deligente a receber quantas tcClemunhas
poder no dito tempo em cada affentada : e porque
aas vezes acontece, que em hüa aífencada o Taba-
liam , ou Efcriuam toma quatro, ou cinco teflemu ..
LU 2 nhas,
452 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. LXIII.
nhas, e em outra nom toma mais de duas, e hüa , e
eíl:o acontece ou polas tefiemunhas dizerem muito,
ou pouco, ou a pane por entam nom poder mais
dar, e nom por culpa do Tabaliam, ou Efcriuam ,
em eíl::e cafo refaçam-fe as teílemunhas de hüa af-
fentada pala outra , de maneira que leue de cada
tres teíl:emunhas hua affentada ; e eíl:o fe entenda
quanto aas teílemunhas que o Tabaliam • ou Efcri-
uam preguntar em luguar acoílumado. E fe acon-
tecer que vam pola Villa preguntar alguas teíle-
munhas em fuas caías , por ferem peífoas honradas ,
ou enfermas, que mereçam , e deuam fecr pregun-
tadas em fuas caías , ou andarem tirando algüas in-
quiriçoes deuaífas polas Fregudias , leucm de cada
tres teíl:emunhas por hua affentada , affi como fc as
preguntaffem em luguar acoílumado; porque tam
gram trabalho he de as andarem affi pregutando ,
como eíl:ar rdidcnte em cerco luguar.
10 ITEM das penhoras que fezer o Ta baliam ,
ou E(criuam • quando for com o Porteiro, leuará o
dinheiro que lhe montar na efcriptura que efcreuer,
contada aas regras como já dito he , e mais auerá
de hida fete reaes, e outro tanto leuará quando cfte-
uer aa venda dos penhores, cada vez que hi cíleucr,
conucm a faber , cada dia duas vezes, hüa a1ee jan-
tar , e outra d ef pois de comer atee vefpara, fe tanto
durarem eíles penhores que fe venderem ; e fc a
parte penhorada quifer paguar, e lhe tornarem eíles
penhores , leuará o Tabaliam, ou Efcriuam a efcri-
ptura
Do Q.!11 HAM DE ·tEUAR os TABAL. E EscR. tT e. 453
ptura que fobre ello efcreuer ,. contada aas regras ,
e mais de fua ent.regua fete reaes; e eílo fe entenda.
quando a penhora for feita na Villa , ou arrabalde
do Luguar onde o Tabaliam eíleuer , porque fe
mais longe for, leuará maior falario , como fe ao
diante dirá.
1I E .DAS fentenças definiriuas, que os ditos Ta-
baliaes, e Efcriuaes tirarem do proceffo , fe for tam
grande a fentença que leue hüa pele de carneiro
chea de boa efcriptura, feita fem malícia, leuaram
nouenta reaes, e de mea pele quarenta e cinco re-
aes, e de quarto de pele vinte e dous reaes e meo.
Peró fe tal fentença for dada em Carta , ou for Car-
ta Teílemunhauel , o_u for Eílormento que fe faz
por traslado d'outras Efcripturas , nom lcuaram de
tal pele chea fenom fetenta e dous reaes , e de mea
pele trinta e íeis , e de quarto de pele dezoito reaes ;
e efto, com tanto que eíl:as peles, ou meas peles, ou
quartos fejam inteiros, e bem efcriptos de todo,
que lhe nom tirem fenom os cercilhos ; e aquella
maioria que leuam da fentença , ou Çarta tirada do
proce!To , he porque leqam maior trabalho , que
em tresladar hüa coufa por outra. E fe a Carta ,. ou
Eíl:ormento for tàm pequeno, que nom leue quarto
de pele, leu~ della por refpeito do que dito he , fe-
gundo fua quantidade.
12 E DA fentença , ou Efl:ormento que fezerem
em papel, fe for tirada do proceffo , ou de Eílor-
mento d'agrauo 1 e for hüa mea folha de papel cbea,
efcri-
454 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. LXlll.
efcripta d'ambas as laudas , leuará della vinte e no..
ue reaes i e fe for efcripta de hüa foo lauda • leuará
quatorze reaes e meo, e affi por eífe refpeito, fegun-
do fua quantidade I e fe for Catta Teftemunhauel ,
oo outra dereita • affi como Carta de fogurança, ou
de polfe , ou de imizade, ou Carta feita por peti..
çam que nom fam de muito trabalho. leuaram de
hüa mea folha chea , efctlpta d'ambas as laudas ,
vinte e dous reaes , e [e for efcripta de hua foo lau-
da, lc~aram onze reaes, e affi do menos por elfe re-
f peito; . com tanto que cada hüa lauda leue vinte e
cinco regras póuco milis ou menos , em modo que
contando quatro, ou cinco laudas, fejam hüas por
outras a vinte e cinco regras cada lauda , e affi cada
regra leuai-á ao menos trinta lietras pouco mais ou
menos , em modo que contando as letras de fete ,.
ou oito regras, fique cada hüa, huas por outras , de
trinta letras ; e nom tendo as ditas laudas as ditas
regras como dito he, .nom lhas contaram, fenom aa~
regras , a cinco regras pór huü real ; e nom fendo
as regras das letras que dito he, nom lhe contaram
dellas coufa algúa.
13 E DEFENDEMOS a todos os Tabaliaes, e Efcrí-
uaês de Nolfos Reynos e Senhorios, que nom efcre..
uam ninhüas Cartas Teílemunhaueis, nem direitas,
nem Eílorrnentos d'agrauo, ·nem apelaçoês, nem
outras quaefquer Efcripcuras de qualquer forte que
fejam , que ajam de feer feitas em papel , que as
noín façam em bandeira, ou rolo, nem efcriptas ao
lon-
Do QYE HAM DE LEI/AI\. os TA.B.AL, -e EscR. IT e. 4H
longuo, foomente as façam da maneira que fe efcre-
ue no proce(fo ; e fazendoas d'outra maneira, per-
cam toda a Eferiptura que aili fezeram, enom pof-
fam della leual' coufa algua.
14 E Qg,umo alguü Tabaliam, ou Efcriuam fe-
~er algüa Carta Teílemunhauel em papel, ou Eíl-or-
memo d'agrauo, ou outra qualquer Carta que Noífo
Selo leuar, feerlheam contadas as primeiras tres fo-
lhas que fam feis laudas , conuem a Caber, a vinte
e dous reaes cada duas da.uda!i , as quaes lhe afTi.
Mandamos contar cm lugu.ar das tres folhas intei-
ras de longuo • que coftümauam a fazer em rolo• e
lhe fohiam affi feer contadas. E fe cada hua das di-
tas efcripturas for de mais folhas , contarlheam to~
das as mais folhas• e efcripturas aas regras, con ..
uem a faber, cinco regras por hum real ao Efcri-
uam, e .cinco e mea ao Tabaliam, fendo fempre as
ditas folhas das regras fobrcditas, e as regras do fo..
bredíto conto de letras. E quanto he c1as apelaçoés ,
contarlbas .. ham todas, desd'o começo a.as regras,
16 . E Q!'ANDO taees Efcdpturas vierem aa Noíl'a.
Corte , ou aa Noílà Cafa do Ciuel , feja contado
aquello que i:nontar dellas aos Tabali.aés , e Efcri-
uaês que as fei.erem, affi como dito he ; e aquello
qu.e for achado que m.ais leuaram, façam-lho tornar
aas p.artes loguo em dobro, declarando em eíla gui-
fa , conuem a faber , fe forern hi moradores os ditos
TabJ1liaes ou Efcriuaes , o Contador das cunas os
faça loguo ch:unar , e faça .. lho loguo todo pag~1ar
real-
456 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0.RDEN. TrT. LXIII.
realmente com efeél:o ; e fe forem moradores em
e
outra parte, façam loguo a Carta, paffe polos Def-
embarguadorcs que do feito conhecerem ; porque
todo affi feja realmente executado como dito he; e
mais auerarn a pena contheuda no quinto Liuro, no
Titulo Da pena que aueram os Officiaes gue le.uam mais
&e., da qual fe tirará o que affi a parte lcuar, fe-
gundo mais larguamente hi Diremos.
16 ln:M dos Aluaraes pequenos,que nom enche-
rem húa lauda , affi como Aluaraes pera prender, e
foltar prefos, ou pera citar teílemunhas, ou d'outros
femelhantcs , leuem eífes Tabaliaés ou Efcriuaês
fete reaes de cada huu. Peró fe o Aluará for tam
grande que encha hüa lauda , leuem della dez rcaes,
e fe maior for leuaram por eífe refpeito.
17 E MANDAMOS que os ditos Tabaliaés, e Efcri-
uaês ponham por foas maõs as pagas , affi nas Car-
tas, como nas Sentenças, e Proceffos, e Alu::i.raes, e
Eíl-ormentos , e em todalas outras efcripturas que fe-
zerem , de que deuam leuar dinheiros , e nas cfcri-
pturas de que nom ouuercm, ou nom quiferem leuar
dinheiro, ponham nihil, e na Carta nom ponham
pagua de pubricaçam , nem de proceífo, mas foo-
mente do que leuarem pola efcriptura da Carta; e
todos aquclles que o contraira fezerem, nom poen-
do pagua como dito he, pola primeira vez tornem
todo o que leuarem aa parte, e pagúem outro tanto
pera os prefos , e pola fegunda vez ajã a dita pena >
e fejam fufpenfos dos Officios por íeis mefes , e pa-
la
Do Q..UE HAM DE LEUAR o.s TABAL. E EscR. ET e. 457

la terceira vez fejarn priuados dos Officios, fegundo


dito Auernos no Titulo Dos Ejcriuaés danJe os Defem-
harguadores do Paaço.
I 8 ITEM da viíl:a do Feito leuará o Ta baliam, ou
Efcriuam que o cfcreuer do começo, a terça parte
de quanto montar na efcriptura da inquiriçam deífe
Feito atee onde a viíla foi pedida, contando-a toda
aas regras , affi corno dito he ; e poílo que a viíla
feja pedida muitas vezes , nom Ieuará eíle Taba-
liam ou Efcriuam viíla , fenom hüa vez. Peró fe
defpois que a viíl:a foi pedida hüa vez , o Feito cre-
cer mais per inquiriçam, ou por efcriptura qual-
quer que feja , fejalhe contada a viíla do que mais
creceo, aalem donde a outra viíla foi pedida, e eílo,
com tanto que lhe nom contem viíl:a , donde lhe
contaram o treslado.
19 !TEM perante o Juiz da apelaçam leuará o
Efcriuam da viíla de{fa apelaçam onze ceptijs de
cada folha, e eíl:o, porque antiguamente leuauam o
quinto do que montaua na dita apelaçam : e porque
em a maior parte de todos os feitos em cada hüa
folha monta noue reaes pouco mais ou menos , le-
uararn de cada folha onze ceptijs, que he o quinto
como dito he; emperó fe acontecer, que o Juiz da
apelaçam mandar tirar algúas inqui riçoês em eíTe
Feito, defpois que perante elle pender , ora fe tire
na Corte , ou em outra parte , e for dellas pedida a.
viíl:a , leuará o Efcriuam o terço dellas , aili como
Liv. I. Mmm fe
458 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0R.DEN. TIT. LXIU.
fe o feito foífe começado perante efie Juiz da ape-
laçam , como dito he.
20 lrEM fe acontecer que huü Feito feja findo
por fentença, e deípois for por algüa parte dado em
fua ajuda em outro Feito, e for delle pedida a viíla
por algua parte, de tal Feito nom leuará o Tabaliam
ou Efcriuam viíla , faluo ametade do que leuaria o
Eícriuam perante o Juiz d'apelaçam ; e efto he
por que ja do Feito findo efle Tabaliam , ou Efcri.
uam que o tinha , leuou a viíla. Peró fe ainda delle
nom ouue algüa vilh , faluo entam foi a primeira
vez pedida, em tal cafo leuará fua vifta toda em
cheo , affi do Feito como d'apelaçam, pola guifa
que dito he, e deíla viíla leuará ametade o Taba.
liam ou Efcriuam que tinha o Feito, que he dado
,em proua, e a outra metade leuará o Tabaliam ou
Efcriuam que tem o Feito, em que o dam em proua.
21 E Tooo Tabaliam ou Efcriuam que Feito te4
uer em feu poder , deípois que for findo por {enten.
ça , ou ante que o feja , fe he retardado , e nom fe
fala a elle por culpa das partes, quando lhe forre-
querido por algüa das partes, que o tragua a Juizo,
pera falar a elle , ou pera tirar delle fentença , ou
outra efcriptura, ou pera o dar em ajuda de fua pro-
ua em outro Feito, ou pera auer por elle alguu ou-
tro proueico , leuará e!Te Tabaliam ou Efcriuam da
bufca de tal Feito de cada mes noue reaes, e eílo
atee o primeiro anno comprido• que fam por anno
cen..
Do QYE HAM DE UUAR os TABAL, E EscR. ET e. 4S9
cento e oito rcaes brancos ; e fe for mais tempo que
paffe o anno , leuará no fegundo an·no de cada me.s
quatro reaes e meo, que fam no fegundo anno cin-
coenta e quatro reaes ; e fe paffar de dous annos le-
uará polo terceiro anno dezoito reaes, e fe paílàr de
tres anno.s , di em diante nom leuará de bufca cou ..
fa algüa , faluo dos ditos tres annos, em que lhe
monta cento e oitenta reaes ; e eíla bufca ferá dada
a effe Tabaliam ou.Efcriuam, nom tam foomente
polo trabalho que leua em bufcar o Feito, mas por-
que he theudo de o guardar atee vinte annos dos
Crimes , e atee trinta dos Ciueis.
22 ITEM tal bufca como eíh nom aja luguar nas
Efcripturas, que a parte deu em Juízo pera prouar
fua tençam , que fejam taees, que no fim do Feito fe
deuarn de tornar aa parte, poíl:o que as o Tabaliam
ou Efcriuam tenha era '"eu poder o dito tempo •
durando o dito Feito, como aas vezes acontece.
23 E DESPOJs que o dit.o Feito for findo por fenten-
ça, fe a parte nom requerer fuas Eferipturas, e M lei-
xar eftar em cafa defle Tabaliam , ou Efcriuam , le-
ue dellas a bufca, affi como d'outro Feito, ou Efcri-
pturas , que teuerem em fua guarda., pala guifa que
dito he • falllo fe efla parte nom for na Terra pera as
pedir e requerer. E efta bufca aja luguar em todos
proceffos, inquiriçoês, e efcripturas que effe Ta ba-
liam, ou Eícriuam teuer em fua guarda , como dito
he. Peró fe effe Tabaliam ou Efcriuam for requeri-
do, que dee as ditas Efcripturas, e maliciofamcnte
Mmml por
460 O PRTMWto Ltv. DAS ÜRDEN. Tn. LXI.II.
por leuar bufca as reteuer , nom aja dellas bufca , e
pague aa parte outro tanto quanto lhe demanda de
bu[ca.
24 E Q!!ANTO aas Efcripturas, que o Tabaliam
ou Efcriuam ha de bufcar por liuro, affi como No-
tas de contraélos , ou querelas, ou denunciaçoés ,
que tenham efcripras em feus liuros, de taees como
eíl:es nom leuaratn de bufca , faluo ametade do que
leuariam dos Proceffos, e das Efcripturas fofo ditas,
auendo refpeito ao que dito he ; e outro tanto leua-
rá o dito Tabaliam por bufcar o Eíl:ormento, que ja
teuer tirado da Nota, e nom lhe foi requerido pala
parte a que pertencia , e affi nom efteue por elle Ta•
baliam.
2 5 E Q1l ANTO aa bufca dos inucntarios , que fo.
rem feitos por os Tabaliaes dos bens dos Orfaõs, on-
de Efcriuaes nom ouuer do dito Officio, leuaram
de bufca dos ditos inuentarios aquello que adiante
vai declarado no Titulo Do Ejcriuam dos Orfaõs.
26 E EM todos os fobreditos cafos de bufcas on-
de as deuem auer como dito he, nom fe contará buf-
ca dos primeiros feis mefes , faluo di em diante ;
porque defpois que paffam os feis meíes fem fe falar
ao Feito. nom eíl:ando condufo, ou eftando con ..
clufo huü anno fem fe falar a elle, nom fe pode fa ..
lar ao Feito, atee que a parte feja nouamente cita--
da, e por tanto do tempo que correr defpois dos
ditos íeis mefes fe contará foomente a bufca, e
nom dos ditos primeiros íeis mefes.
Do Q.!JE HAM DE U.UAR os TABAL, E. EscR. !Te. 461

27 E QYANDO alguü Tabaliam, ou Efcriuarn, ou


Enqueredo1· for fóra do Luguar tirar inquiriçarn ,
ou fazer outro auto, fe leuar beíla fua e moço , Ie-
uará pera fi e pera mantimento da befta e moço fe-
ten ta e dous reaes por cada dia , e affi di em dian-
te , fé mais dias nello andar fora de fua caía ; e aue-
rá mais effe Tabaliam ou Efcriuam fua efcriptura ,
e affentada de teíl:emunhas, ou a penhora fe a fezer,
e o Enqueredo r leuará as aífentadas, e mais o ~i-
nheiro que lhe montar dos ditos de tefiernunhas ;
como dito he ; e fe em tal auto nom andar, fenom
amet.ade de huü dia , leuará ametade , e affi mais
ou menos , fegundo o efpaço do dia que laa efteuer.
Porem fe a parte deer beíla fua a eífe Ta baliam, ou
Efcl"iuam, ou Enqueredo r, nom leuará, faluo trinta
e íeis reaes pera fi e pera mantimento do moço ; e
nom comerá effe Tabaliam, ou Efcriuam, ou Enque~
redor com a parte, porque por aazo do comer po- ·
derá feer afeiçoado aa dita parte , faluo fe no Luguat'
onde tal auto for fazer nom achar a vend·er outro
mantiment o, faluo o que lhe a parte deer; e fe co ..
mer aa cufta da.parte elle, e o moço , e a befta , nom
leuará , faluo trinta e íeis reaes ; e fe nom leuar be•
:fia, auerá foomente quarenta e cinco reaes, e co-
merá delles ; e fe comer aa cuíl:a da parte, nom lc-
uando befta, nom aja mais que vinte e fetc reaes.
2 8 E MANDA Mos que fendo as partes prefentes
no Luguar onde os Tabaliaég, ou Efcriuaes forem
moradores, demandem íeus falarios do dia em que
fe

39
461 O PRIMEIRO Lrv. DAS Ot.DEN. Tn. LXIII.
fe pubricar a íentença definiciua em os Feitos e Cau..
fas , em que elles forem Tabalia~s, ou Efcriuacs ,
a tres mefes ; e nom os demandando no dito tempo,
nom os polfam mais demandar, nem fejam fobre
ilfo mais ouuidos.
29 E MANDAMOS aos ditos Tabaliaes. affi do Ju-
dicial, como das Notas , que cada huü faça aguei ..
las Efcripturas que lhe farn declaradas em eíles Re-
gimentos de feus Officios , e huüs nom tomem as
Eícripturas que aos outros penencerern de faz.er ; e
qualquer que o contraira fezer, Mandamos que fe ...
ja prefo , e fufpenfo do Officio atee Noffa Merce ; e
fe fezer as Efcripturas que lhe nom pertencerem, fe-
jam ninhúas, e mais pague aas partes todas as per..
das, danos, e intereífes que por ello receberem.
30 E MANDAMOS a todolos Tabaliaés de Noffos
Reynos e Senhorios, que a.o tempo que ouuerem
as Cartas dos Officios , leuem da Noffa Chancelaria
todo eíl:e Regimento, affim como pertencer a cada
huü; conuem a Caber , o Tabaliam das Notas leua ...
rá o que a feu Officio pertence, e o do Judicial le-
uará iífo mefmo o que pertencer a feu Officio; e
porque em alguüs Luguares de Nolfos Reynos, por
ferem pequenos, fam os Tabaliaês das Notas e do
Judicial juntamente, Mandamos que os femelhan-
tes leuem os Regimentos d'ambos os ditos Officios,
os qúaes Regimentos feram obriguados fe~pre teer ,
pera em todo tempo que lhe for requerido o pode..
rem moítrar ; e cumpram , e guardem todos eftes
ca..
Do Q.YE HAM DE LEU AR os T ABAL. E EscR. ET e. 463
capitolos , e cada huü delles como nelles he con-
theudo: e qualquer que nom leuar o dito Regimen-
to, e o nom teuer , per eífe mefmo feito perca o
Officio , e nunca o mais aja , nem outro alguú Offi-
cio de Juíliça , e paguará da Cadea vinte cruzados,
ametade pera os catiuos , e a outra metade pera.
quem o acufar.
31 E o que feruir fem Carta Noífa, ou de quem
poder teuer pera lha dar, aalem de encorrer nas
ditas penas, feja degradado pera a ilha de Sam Tho•
me por dez annos; e os Juízes que os leixarem fer.
uir fem as ditas Cartas , ou fem os ditos Regimen-
tos, encorram cm pena de dous mil reaes , a metade
pera os catiuos , e a outra metade pera quem os acu..
far: e onde Nós , ou os Rcys Nolfos Anceceffores
Teuermos feito Doaçoes a algüas Ordes, ou outras
quaefquer pdfoas , em tal fórma · que po!Tam em
fuas Terras poer os Tabaliaés por fuas Cartas, fem
aucrem Confirmaçam Noíla , ou do Noífo Chance-
ler Moor • em tal cafo leuaram os ditos Tabaliaês
.os Regimentos de feus Officios, fegundo Diremos
no fegundo Liuro, no Titulo De como as Raynhas, e
lefantes.

TI-
464 O PRIMEIR.O LIV. DAS ÜRDEN. TIT. LXIIII.
T I T U L O LXIIII.
Dos 'l'abaliacs geeraes, e como deuem vfar de
Jeus Oj/icios, e das pe.efoés que deuem paguar.

Ü S Tabaliaes geeraes que forem dados por Nós


em todos Noffos Reynos e Senhorios , ou em algúa
Commarca, ou Bifpado delles, nom poderam mais
cfcreuer em qualquer Cidade, Villa, ou Luguar, ou
Concelho que dous mefes do anno , e eíl:es dous
mefes poderam efcolher quaes elles quiferem ; e
onde ouuer Tabaliaês Judiciaes apartados dos das
Notas , poderam efcolher em quaes dos ditos Offi-
cios quifercm efcreuer , e nom faram Efcripturas
algüas fem deíl:rebuiçam , fob pena de priuaçam
dos Officios , e eíl:o foomente auerá luguar onde os
Feitos e Efcripturas fe repartirem anrre os outros
Tabaliaes per deíl:rebuiçam.
1 ITEM os ditos Tabaliaes geeraes feram obri-
guados de Nos paguar em cada huü anno de pen-
fam dous mil reaes, e em fuas Cartas, quando lhe
os ditos Officios forem dados , ferá poíl:a a claufula
que fe poem aos outros Tabaliaes, per que Manda-
mos que lhe nom feja confentido vfar dos ditos
Officios atee darem fiadores abaíl:antes aos Noífos
Almoxarifes, por que Nós em cada huu anno Polfa-
rnos auer delles a dita penfam.
2 E POSTO Q.1TE em fuas Cartas feja contheudo
que poílam todo o anno , ou mais dos ditos dous
me-
Dos TA B A LI Ã E s G E 'E R A E s ET e. 465

mefes, efcreuer em qualquer Cidade• Villa, ou Lu-


guar que lhes aprouucr, e fem defhebuiçam , e que
nom fejam theudos a Nos paguar penfam algüa,
Mandamos, que fem embarguo dello, fe cnmpra
eíla Noffa Ordenaçam em todo; faluo fe por outra.
Noffa Carta eípecial fobre ello paílàda, e por Nós
affinada , e affelada do Noffo Selo• Nos prouuer po.r
alguüs juftos reípeél:os difpenJar com eíla No{fa
Ordenaçam , fazendo della efpecial e expreffa men-
çam.
3 E PERA os ditos Tabaliaês faberem onde ham
de dai: as ditas fianças , e paguar as ditas peníoês ,
o Declaramos aqui ; conuem a fabcr , os da Comar-
ca d'antre Doiro e Minho ao Notro Almoxarife da
No(fa Cidade do Porto.
,+ E os da Comarca de Tralosmontes ao Almo-
:xarife da Torre de Mencoruo.
5 E os da Comarca da Beira ao Almoxarife da
Noffa Cidade de Vifeu.
6 E os da Comarca da Eftremadura ao Almo-
xarife das auenças da Noffa Cidade de Lixboa.
7 E os da Comarca d'antre Tejo e Odiana ao
Almoxarife da Noffa Cidade d'Euora.
8 E os do Reyno do Alguarue ao Nofio Almo-
xarife de Tauila.
9 E POSTO <UJE as penfoes dos Tabaliaes de al-
guús Luguares fejam dadas aos Meftres das Ordens_.
ou outras quaefquer peffoas , nom fe entenderá lhe
ferem dadas eftas que ham de paguar os Tabaliaês
Ls°fl. 1. Nnn gee-
466 O P1uM11Ro L1v. DAS 0RDEN. TrT. LXIIII.
geeraes , porque eftas fe arrecadaram pera Nós, por
os ditos Officios ferem affi geeraes , e nom efpe-
ciaes em cada Luguar.
10 E MA.NDAMos aos ditosAlmoxarifes, que nom
recebam por fiadores , fenom peffoas abonadas , e
taees por que Nós poffamos auer as ditas penfoes ,
fc as nom pagarem os ditos Tabaliaês; fendo certos
os ditos Almoxarifes , que fe taees fiadores nom re-
ceberem , que por feus bens Aueremos todo aquello
que polos ditos Tabaliaês e feus fiadores fe nom
poder auer.
11 OuTRO sr Mandamos aos Corregedores das
ditas Comarcas , e atodolos Juizes , e Juíliças de
Noffos Reynos e Senhorios , que nom confentam
a ninhuü dos ditos Tabaliaes gecraes, que vfem dos
ditos Officios ante de darem as ditas fianças ; e
achando que vfam delles nom as teendo dadas, ou
efcreucm em alguü Luguar mais tempo, do que
aqui he ordenado, que os prendam, e nom os folcem
fem No!fo efpecial Mandado.
12 E POR QYANto por Nós he ordenado, que
com a Noffa Cafa da Sopricaçam ande huü Taba.
liam geeral , e outro com a Noffa Cafa do Ciuel, e
affi em cada hüa Correiçam de Noffos Reynos com
os Corregedores em cada Correiçam huü Tabaliam
geeral, os quaes nom ham de paguar penfam algüa.
Mandamos que efta Ordenaçam nom aja luguar
nclles, mas fem embarguo della clles poderam
efcreuer nos Luguares onde as dicas Caías, ou Cor-
rei-
Dos ENQ!YERED, 1: DO o.ys A SEU ÜFFlC, PER.T. ET e. 467

reiçoês eíl:euerem , e fazerem todas as Efcripruras


pubricas que lhe forem requeridas, guardando po-
rem o Regimento, e taixa dos outros Tabaliaes •
quanto ao fazer das ditas Efcripturas.
I 3 PoREM todolos Tabaliaes gecraes, de que ne-
fia Ordenaçam he feira mençam • feram obriguados
de guardar , e cornprir os Artiguos e Regimento,
que leuam os outros Tabaliaês particulares de Nof.
fa Chancelaria , o qual Regimento lhe ferá dado
com fuas Cartas ; e nom leuaram mais das Efcri-
pturas, e quaefquer Procetros, e Autos que fezerem,
que aquello que he ordenado aos outros Tabaliaes
particulares das Cidades , Villas , e Luguares, e
Concelhos de Noffos Reynos , fob as penas que aos
ditos Tabaliaes particulares fam poftas.

TITULO LXV.
Dos E119.ueredores, e do que a.feu Ojficio pertence, e
do <Jtle bam de leuar de Jeu fala rio.

Ü S Enqueredores deuem feer bem difcretos , e


dcligentes em feus Officios , em modo que com boa.
difcriçam faibam preguntar , e enquerer as cefte-
munhas por aquello pera que fam traz.idas ; e ante
que a teftemunha feja preguntada • lhe fera dado
juramento nos Sanél:os Auangelhos corporalmente
tangidos, que bem e dereitarnente digua a verdade
Nnn 2 do
468 O PRIMEIRO Lrv. t>As ÜR.DEN. T1T. LXV.
do que fouber acerca do Feito pera q.ue he cha.-
mado, do qual juramento o Tabaliam , ou Efcri-
uam dará fee no dito da teftemunha que efcreuer ,
e o dito juramento lhe ferá dado perante a parte
contra que he chamada , fe ella quifer veer dar o
dito juramento, e defpois que affi jurar dará feu te-
ftemunho fécretamente, fem ninhüa das partes d'elle
ferem fabedores atee as· inquiriçoês ferem abertas ,
e pubricadas ; e affi as pregunta.rá loguo por o co-
ftu me, e coufas que a elle pertencem, conuem a fa.
ber, fe tem diuido, ou cunhadio com algúa das
partes, e em que gráo, e fe tem taro efireita ami-
zade, ou odio tam grande a algüa dellas , por que
leixem de dizer a verdade, e fe receberam d'algüa
dellas, ou d'outrem em feu nome, algüas dadiuas, e
fe foram roguadas ou fobornadas , que diffeffem em
fauor d'algüa dits partes ; e rodo o que difierem
efcreuerá o Tabaliam, ou Efcriuam que a inquiri-
çam efcreuer; polo qual cofiume preguntaram fem-
pre as teftemunhas, fob pena de perdimento dos
Officios, affi nas inquiriçoês deuaffas , como judi-
ciaes.
1 E BEM 1.ss1 pregunraram muito declarada-
mente polo que fabem dos artiguos por que forem
preguntados, e nom preguntaram por ninhüa cou-
fa que feja fora do tontheudo nos ditos artiguos , e
da materia, e fubftancia, e cafo delles, foomente
polo contheudo nos artiguos com as declaraçoes fe-
guintes, conuem a faber , fe dilfercm qu~ fabem al.
güa
Dos ENQ.YtR.ED. E DO (UJ! A SEU ÜFFIC. PER T. n e. 469
güa coufa daquello por que fam preguntados , pre-
guntem-lhe como o fabem ? e fe differem que o fa-
bem de vifta, preguntem-lhe em que tempo, e luguar
o viram ? e fe ao tempo que o elles viram eílauam
hi outras peffoas que o tambem viffem ? e todo o
que diílerem faç;1m efcreuer : e fe diíferem que o
fabem d'ouuida, preguntem-lhe a quem o .ouuiram •
e em que tempo , e luguar? e todo o que differem
façam efcreuer, fazendo-lhe todas outras preguntas
que lhe parecerem neceífarias, por que milhor e mais
claramente fe potra faber a verdade daquello por que
forem preguntadas ; e efguardem bem com que
afpeél:o., e com que conílancia as teílemunhas fa-
lam , e fe variam , ou vacilam , ou enruiuecem , oa
fe fe mudam de fua cor , ou fe fe toruam em fua
fala , em tal guifa. que lhe pareça que fam falfas ou
fufpeitas : e quando tal coufa vijr ou fentir, deu.e .o
notificar ao Julguador do Feito , fe for prefente no
Luguar onde fe tirar a dita inquiriçam ; e fe for ab-
fente, mandará ao Efcriuam ou Tabaliam, que
efcreua as ditas toruaçoês e defuairos da teílemu.-
nha, a que acontecer , pera o Juiz que ouuer de
julguàr o Feito , fobre ello prouer como lhe parecer
dereito. E fazendo outras preguntas afóra as nefta
Ordenaçam contheudas., por effe mefmo feito o
Enqueredor perca o Officio, e nunca o mais aja; e
o Tabaliam ou Efcriuam que as efcreuer , feja fu-
fpenfo do Officio atee Nolla Merce. E pofto que a
teftemunha queira. dizer mais do contheudo no di ..
to
470 O PRIMURo Lrv. DAS 0RDEN, TIT. LXV.

to artiguo, ou da materia, e fubfiancia, e cafo delle,


poíl:o que lhe nom feja preguhtado) o Tabaliam, ou
Efcriuam o nom efcreuerá fob a mefma pena.
2 Oul'RO sr o Enqueredor que nom preguntar
por todas ~s cou~,.s contheudas nos ditos artiguos, e
leixar algiía pí'.rtc dellas por preguntar , aja a fobre ..
dita pena de perJimento do Officio.
3 E srn.r..' auifado o Efcriuam, ou Tabaliam que
a dita inquiriçam com o dito Enquercdor tirar, que
quando a teíl:emunha differ d'alguü artiguo, o\1 arti-
guos nibil, que nom efcreua, nem ponha em cada
artiguo particularmente preguntado pot tal artiguo,
e feita pregunta que era o que dello fabia &e. , diffe
a todo nihil, como atee aqui coílumauam poer por
fazer muita ledura • foornente em huü foo capitolo
efcreuerá todos os artiguos a que diíler nihil, o qual
capitolo poerá no fim do teftemunho, defpois de
acabar de ercreuer e poer todo_s os artiguos em que
a teíl:emunha diífe algüa coufa , o qual capitolo di-
rá affi, e preguntado por tal arti'guo, e por lal, poendo
foomente o numero • affi como primeiro, fegundo,
terceiro, ou como o numero for , a todos di/fe nihil;
e o Tabaliam , ou Efcriuam que o contrairo fezer •
fuá fufpenfo do Officio atee Noffa Merce.
4 ln:M os Enqueredores leuaram as alfentadas
das teílemunhas, affi e pola guifa que fam contada3
aos Tabaliaes e Efcriuaes, conuem a faber , de ca-
da húa afTentada fete reaes , e maii; leuaram de ca-
da dito de teftemunha tres 1·eaes e meo , fegundo
<;o-
Dos ENQYER.ED. E DO Q..U! A SEU ÜFFIC. PIRT. F.T e. 471
coftume e ordenança antigua. Peró fe a teflemu-
nha diírer tampouco em feu dito, que nom chegue
a vinte regras , nom lhe contem mais que dous
reaes ; e fe palrar de vinte regras , entam lhe con-
tem tres reaes e meo , como dito he.
5 E SE os Enqueredores forem fóra do Luguar
tirar algúas inquiriçoês, leuaram aalem do que dito
he , de fua hida fe for fóra do Luguar , e leuar be-
fta fua e moço, fetenta e dous reaes por cada dia , e
aíli di em diante , fe mais dias nello andar fóra de
fua cafa. Porem fe a parte der befia a e!Te Enquere-
dor por a elle nom teer, nom leuará , faluo rrinra e
íeis reaes pera fL e pera mantimento do moço. E nom
comerá eífe Enqueredor com a parte, porque por
aazo do comer poderá feer afeiçoado a ella; faluo fe
no Luguar, onde o tal auto for fazer , nom achar a
vender outro mantimento , faluo o que lhe a parte
der; e fc comer aa cuíl:a da parte elle, e o moço,
e a befta, nom leuani faluo trinta e íeis reaes. E fe
nom leuar beíl:a, auerá foornente quarenta e cinco
reaes, e comerá delles ; e fe comer aa cufia da par.
te nom leuando befta, nom aja mais que vinte e fe-
te reaes.
6 E <lY ANDO fe ouuerem de tirar algüas i nqui-
riçoes judiciaes fobre cafo de morte , ou de aleja-
mento; ou diformidade de roftro , ou de furto que
prouado mereceffe morrer, e affi nos Feitos Cíueis
fobre quantidade de cem cnn~dos e di pera dma •
ou fua valia, os Juizes ou Julguadores das ditas
cau-
4 72 O PRtMEtRo Ltv. DAS ÜRDEN. TrT. LXV[.

caufas , fe nos Luguares onde fe os Feitos trauta-


Tem fe tirarem as ditas inquiriçoes, tiraram por fi
as ditas inquiriçoes , e leuaram o mefmo falaria que
atrás he ordenado aos Enqueredores ; e nom fe ti-
rando nos mefmos Luguares onde fe os Feitos trau-
tarem , auendo de paffar Carta pera outros Lugua-
res , pera fe tirarem as ditas inquiriçoes, os Juízes,
ou Julguadores a que as ditas Cartas forem dirigi-
das, as tiraram por fi , lcuando o falario fobredito
como dito he.

---------
TI TU LO LXVI.
Do que ham de leuar os Porteir1s, e Preguoeiros das
penhoras, citaçoes, e remataçoes.

O S Porteiros quando fezerem as penhoras no


Luguar ou arrabalde onde forem moradores , leua-
ram <letra penhora noue reaes , e quando vier a ar-
remataçam , fe os arrematarem, leuaram de quanto
montar nelfa venda dos ditos pinhores , fe fam mo-
ueis, de cincoenta reaes huu, e eíl:o Ieuaram atee que
polfam auer de feu falaria cento e oitenta reaes , e
nom leuaram mais, ainda que a quantia feja grande
da arremataçam , e dure muito ; e fe cífes penhores.
nom forem arrematados, e a parte Ioguo paguar de
feu grado , leuará effe Porteiro da entregua deffes
penhores noue reaes I quando os cntreguar aa parte..
Pero
Do Q.YE JtAM DE LEU AR o~ PollTEIROS E'l' e. 473
Pero fe os trouuerem em preguam o tempo con-
theudo na Ordenaçam > ou alguü pouco menos , e
os norn arrematarem , Ieuem ametade do que leua..
riam, fe arrematados foffem; e fe a penhora for fei-
ta por o Porteiro, e elle nom vender os penhores,
faluo o Preguoeiro, entam leue o Porteiro fua penho...
ra • e o Preguoeiro fua arremataçam como dito he;
e fe a penhora for feita em bens de raiz, leue de fua
penhora noue reaes, e da arrernataçam de cincoen-
ta reaes huü , atee que chegue a trezentos e feflenta
reaes > e mais nom , poílo que os bés muito valham.
1 ITEM Mandamos que eíla taixa e ordenança,
que os Porteiros e Preguoeiros ham de teer naquello
que ham de leuar dos bens moueis e de raiz que affi
arrematarem , e dos que trouuerem em preguam ,
e os norn arrematarem corno dito he, effa rnefma
tenham os Sacadores, e por eíl:a guifa leuem o ieu
falario, e affi lhe feja contado, e nom doutra manei-
ra; e por eíla guifa kuaram as Adeelas dos penho-
res e coufas que lhes dama vender.. E qualquer Por-
teiro, ou Preguoeiro , ou Sacador , ou Adecla que
mais leuar da parte do que lhe aqui he ordenado e
taixado, auerá as penas contheudas no ~into Li-
uro, no Titulo Da pena que aueram os Officiaes, que le-
uam mais do contheudo em /eu regimento.
2 ITEM todo o que dito he dos falarios dos Por-
teiros e Preguoei-ros ~eremos que aja luguar, quan-
do venderem algu üs bens por mandado dos herdei-
ros e teíl:amenteiros dos finados , ou Tutores, e Cu..
Liv. I. Ooo rado.
474 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDiN. Tn. LXVI.
radores , e quaefquer miniftradores de bens , ou ou-
tras quaefquer peffoas , que lhos affi mandarem
vender. E quando eff'es Porteiros forem fóra do Lu-
guar fazer as penhoras, leuaram por cada dia de feu
trabalho, e pera mantimento, vinre e fete reaes, afo-
ra aquello que lhe montar de fua penhora , ou cn..
tregua; e fe mais dias andar fóra , cada dia leuará
vinte e fere reaes; e fe fur ram perto do Luguar, que
nom dure de hida e vinda fenom meo dia, leuará
treze reaes e meo, e affi fegundo mais e menos tem-
po do dia por effe refpeito.
3 E ESSE mefmo falario auerá o dito Porteiro ,
quando for citar algüa peffoa fóra do Luguar ; e fe
citar algüa peíloa no Luguar , auerá por fc:u traba-
lho aquello que he ordenado no Titulo Do Porteiro
do Corregrdor da Corte; conuem a faber , fe citar na
Audiencia hí:'ía peífoa Jeuará onze ceptijs , e outro
tanto leuará , pofio que cite marido com molher,
ou Priol por fi e por feu Conuento na dita Audien.
eia, porque fam auidos por huü corpo; e fe citar na
dita Audiencia herdeiros, e rcftamenteiros, poílo
que muitos fejam, leuará tres reaes e quatro ceptijs ;
e fe forem apreguoadas na dita Audiencia leuará o
Porteiro do preguam onze ceptijs , como da cita-
çam ; e fe eíl-as peffoas forem citadas no Luguar fóra
da Audiencia ,. leuará o Porteiro de cada hüa peffoa
tres reaes e quarto ceprijs ; faluo fe forem herdeiros
e teftamenteiros , que leuará fete reaes e dous ce-
ptijs, porque faro duas, e affi de mais, fe mais forem
que
Do Jo1 z Dos oR F A<>S 'BT e. 475
que dous , e nom morarem em hõa cafa ; ca fe todos
morarem em hüa cafa nom leuará mais que fete
reaes e quatro ceptijs.

T I T U L O LX VlI.
Do Juiz dos 01faôs, e (ou/tJs 'l"e afeu Offido
pertencem.

M ANDA MOS que em todalas Villas e Lugua-


res, onde na Villa e Terrno ouuer quatrocentos ve-
zinhos e di pera cima , aja fempre Juiz dos orfaós
apartado; e onde os nom ouuer, os Juizes Ordina-
rios do dito Luguar feruiram o dito Officio de Juiz
dos orfaõs com os Tabaliaês da dita Villa ; faluo fe
nas ditas Villas e Luguares que a quatrocentos vezi.
nhos nom cheguarem, eíl:cuerem em coílume e pof-
fi: antigua de auer os ditos Juízes dos orfaõs, ou fo-
rem por Nós ordenados , os quaes Ordinarios feram
obriguados em todo comprir e guardar todo o con-
theudo neíl:e Titulo, fob as penas nelle contheudas.
1 E o que ouuer de feer Juiz dos orfa6s, fcrá de
trinta annos e di pera cima , e nom cheguando aa
dita hidade, ora a dada feja Notfa , ou da Camara •
ou d'alguüs Senhores de Terras, perca o ditoOfficio.
e nunca o mais aja, e Nós o Daremos aquem Noflà
Merce for , e mais perderá ametade de fua fazenda.
2 E o Juiz dos orfaõs deuc; com grande dcli-
Ooo 2 gencia
476 O PRIMEIRO L1v. DAS Ü.RDEN. TrT. LXVII.

gencia e cuidado faber quantos orfaõs ha em a Ci-


dade, Villa, ou Lug11ar de que ell.e he Juiz , e fa-
zelos todos efcreuer em huü Liuro ao Efcriuam deíle
Officio , declarando o nome de cada huu orfaõ , e
cujo filho he e de que hidade, e onde viue, e com
quem , e quem he feu Tutor , ou Curador ; e ilfo
mefmo deu e faber quantos bens tem, affi moueis ,
como de raiz, e quem os traz, e fe andam bem apro-
ueitados , ou fe fam dãnificados, ou perdidos, e por
cuja culpa ou negrigencia, pera os fazer correger e
aproueitar, e affi fazer paguar aos ditos orfaõs to-
da a perda e dãno que em feus bens receberem , per
aquelles que em ello achar negrigentes ou culpadosi
e o Juiz que o affi nom comprir paguará aos ditos
orfaõs toda perda e dãno que por ello receberem.
3 ITEM tanto que alguü , que filho ou filhos me-
nores de vinte e cinco annos tenha, falecer , o Juiz
dos orfaõs terá cuidado do dia de feu falecimento a
huü mes fazer inuentario de todolos bês moueis , e
de raiz, que por morte do dito defunto ficarem , e
dará juramento aaquelle em cujo poder os ditos bens
ficarem , que faça o dito inuentario de todos os di-
tos bens, bem e verdadeiramente, declarando as con ..
frontaço~s dos bens de raiz , e o luguar onde farn , e
dos moueis poerá taees fi.naes , por onde em todo
tempo fe poffam conhecer, e fe nom faça fobre elles
duoida ; e affi fe poeram no dito inuentario todalas
ôiuidas , que a effes orfaõs ou orfaõ forem diuidas
ou em .que elles a outrem forem deuedores ; e fe al-
güas
Do Juiz 1>0s 011.rAÕs ITc. 477
güas coufas alheas hi fore.m achadas, feja decJarado
no dito inuentario cujas fam, e por que modo vieram
a poder do defonto, em cuja cafa forem achadas,. e
fe tem os ditos orfaõs alguü dereito nellas , pera fe
faber o que fica ou pode ficar aos orfaõs por faleci-
mento de feu pay, e loguo encam fe fararn as parti-
tilhas das taees fazendas ordenadamente. E porque
acontece , quando as taees fazendas ham de feer
tregues aos ditos orfaós, por ferem cafados ou eman-
cipados, ou por qualquer outra razam por que lhe
ajam de feer entregues, as ditas coufas ferem gua-
ftadas e dãnificadas, em que os orfaõs recebem niílo
grande perda, Mandamos que loguo ao tempo em
que fe os ditos inuentarios e partilhas fezerem como
dito he > fejam aualiadas todas as coufas que aos d1 ...
tos orfaõs pertencerem polo dito Juiz dos orfaõs , e
feus Efcduaés , e duas, ou tres pelfoas ou.Eras ajura-
mentadas, que nello bem entendam, e os preços das
ditas coufas fejam logua efcriptos nos ditos inuen-
tarios e partilhas , pera que quando ao tempo da en-
tregua as ditas coufas forem guaílada·s , ou dãnifica-
das por fe dellas feruirem as mãys dos ditos orfaõs
fe em feu poder ficaram > ou feus Tu.tores fe loguo
lhe forem entregues, paguarem as taees coufas palas
ditas aualiaçoês , e affi feram remediados os ditos
orfaõs, e nom receberam perda nem enguano. Po-
rem fe forem moueis de que os orfaõs fe feruirem ,
ou em feu vfo fe guaíl:arem , em tal cafo nom íerá
fua mãy ou íeu Tutor obriguado a lhos entreguar,
· fe-

40
478 O PuM1nRo Ltv. t>As OaoEN. Tn. LXVII.
fenom affi como eíleuerem. E affi fará o dito Juiz
poer no dito inuentario todalas Efcripturas. que aos
ditos orfaõs pertençam, nom tresladando porem to-
da las Efrripturas no dito inuentario, mas foomcnte
poendo o de que cada hüa Efcriptura he, e em que
tempo foi feita. e o nome do Tabaliam ou Efcriuam
que a fez, pera em todo tempo fe faber quaes e quan-
tas Efcripturas ficaram, e pera o Tutor do dito or-
faõ dellas dar conta , porque os proprios lhe ham de
fecr entregues polo dito inuentario.
4 E sE a may d'alguü menor de vinte e cinco
annos fc finar, o dito Juiz ferá obriguado dentro do
dito mes mandar ao pay <letra peffoa ou peffoas I que
faça inuentario de todolos bens, am moueis como de
raiz, que elle tinha e poffuia ao tempo da morte da
dita fua molher, dandolhe pera ello juramento nos
Sanétos Auangclos; e tanto que o dito inuenrario for
feito , fará as partilhas e aualiaçoes como dito he no
precedente capitolo, e leixará os bens em poder do
pay , porque elle por dereito he feu legitimo admi-
niíl:rador , e porem he obriguado conferuar os ditos
bens a feus filhos quanto aa propiedade, e foomentc
pode guaftar as rendas e nouidades dos ditos bens,
em quanto feus filhos teuer cm poder , e polo dito
inuentario he obriguado lhos entreguar , quando fo-
rem emancipados, ou cafarem; porque fegundo efti-
lo de Noffo Reyno fempre como he cafado he aui-
do por emancipado, e fora do poderio de feu pay.
Porem fc forem moueis de que os orfaõs fe ferui ..
rcm,
Do Jo I z o os o R F A õ s n e. 4 79

rem, ou em feu vfo fe guaftarem , em tal cafo nom


ferá feu pay obriguado a lhos entreguar, fenom affi
como efteuerem. Pero fc o pay for tornado do en-
tendimento , ou doente de tal infirrnidade , que os
bens dos ditos feus filhos nom poffa reger nem mi-
nifirar, nom lhe feram entregues em tal cafo os bens
que aos ditoli feus filhos por morte de fua mãy per-
tencerem., mas feer-lhes-ha dado Tutor , ou Cura-
dor , na maneira que adiante ferá declarado.
5 E JSEM Ass1 mandará fazer inuentario de toda
fazenda e bens que pertencerem herdar , ou auer a
alguú menor de vinte e cinco annos por morte d'al-
güa peítoa , do dia que fouber que lhe pertencem a
huü mes , no modo e maneira que emcima Manda-
mos que fe faça , quando fe lhe fina o pay ou mãy.
E todo o que dito he comprirá affi o dito Juiz fob
pena de priuaçam do Officio.
6 E BEM ASSI Mandamos , que por falecimento
do marido ou da molher, cada huu delles que viuo
ficar a que ficarem filhos, ou netos menores de vin-
te e cinco annos dentro de dous mefes , do dia do
dito falecimento, quando ainda per mandado do
Juiz dos orfaõs nom teuer feito inuentario, p.ofto que
lhe per elle nom feja mandado que o faça , feja
obriguado de fazer inuentario de todolos bens mo-
ueis e de raiz, que per morte do dito defunto fica.
rem, com as declaraçoés acima ditas , o qual inuen-
tario fará com o Efcriuam dos orfaõs per juramen-
to dos Sanélos Auangelhos , que lhe per o Juiz ferá
dado,
480 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN.. T.rT. LXVII.

dado, o qual juramento fe atrentará pelo dito "Efcri-


uam em cuja maõ ficará o dito inuentatio, affina-
do por aquelle que o fezer, pera fempre fe .delle po.-
derem ajudar a peffoa ou · peA"oas a que pertencer;
e nom o fazendo affi dentro do dito tempo, e polo
modo que clico he , o pay ou auô que o affi nom fe-
zer por effe mefmo frito ferá priuado da heranç;a
dos filhos, ou defcendentes ., ·que ao dito tempo te-
uer , pera nunca mais em tempo alguü lhe podec
foceder , e mais fe for ·feu pay ou auô , ferá priua-
do . do vfofruito de,feus bens ; e fe for mãy ou auoo
( aalem da priuaçam dá he:rança como dito he} nom
poderá feer ·fcu Tutor , nem teer mais feus. filhos
em fua guouernança.
7 O Q!Jt auerá luguar a~ nos .cafos que daqui por
diante acontecerem, como nos paílados, das pef..
foas que ainda nom teuerer:11 feito im,ientario ; e po-
t"em nos cafos paffados D_a mos lugua'r pera qllc as
fobi-editas pefioas , que ainda norn teuerem feitos os
ditos inuentarios, que os poflam fazer 'da pubríca-
çam defta Ordenaçam a quatro_mç(es ; e nom os fa-
zendo no dito tempo , e pelo modo fobredito , cn.
correram em todas as dicas penas.
8 E o pay _ou miy > ou qualquer outra pell"oa ,
que inuentario fezer por mandado da Jufüça, e no
dito inuentario que affi fezer fobneguar e encobrir
algua coufa, aíli mouel como ~de raiz , que folTe do
defunto ao tempo de foa morte , perderá pera os
menores todo aquelló que affi fobneguar, •em Jna-
ricira
Do Ju r z Dos o 1t FA 6s ET e. 481

neira que nom auerá parte algua (fe a teuer na dita


coufa ) daquello que fobneguar, e mais paguará em
dobro pera os menores a valia da coufa , ou coufas
que affi fobneguar, e no inuentario nom pofer, po-
fio que na dita coufa, que affi fobneguou , nom te-
nha parte algüa, e aalem diffo auerá a pena de per-
JUro.
9 E SE alguüs orfaõs nados de legitimo matri-
monio ficarem em tam pequena hidade , que ajam
rneíl:cr criaçam , fc teuerem madres , a ellas os da-
ram a criar, em quanto fe ellas nom cafarem, a qual
criaçam feram obriguadas fazer atee os ditos orfaõs
auerem tres annos compridos, e eíl:o de leite foo-
mente , fem por ello leuarcm coufa algüa, e todo o
ai lhe ferá dado dos bens dos ditos orfaõs , aquello
que razoada mente na dita Cidade, Villa ou Luguar
fe cafiuma dar por criaçam aas amas, que alguüs
meninos criam , e eíl:a criaçam fe paguará atee o
tempo que os ditos orfaõs fejam cm hidade de que
poílam merecer algüa coufa por feu feruiço. Pero
fe a mãy dalguü orfaõ for de tal qualidade e condi-
çam, que nom deueffe com razam criar feus filhos
aos peitos , ou por alguu impedimento o nom po-
der criar , em tal cafo ferá o tal orfaõ dado a ama
que o crie , affi de leite , como de toda outra cria-
çam que lhe for neceffaria, aa cuíla dos bens do dito
orfaô ; e fe os ditos orfaõs nom teuerem bens por
que fe po!fa paguar fua criaçam, fuas madres feram
conílrangidas que os criem de graça de toda cria-
Liv. 1. Ppp çam •
48:2 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜR.DEN. TrT. LXVII.

çam , atee ferem em hidade de que poffam merecer


algüa coufa por feu feruiço.
10 PoREM fe alguüs orfaõs que nom forem de
legitimo matrimonio forem filhos d'alguüs homens
cafados , ou de folteiros , em tal cafo primeiramente
feram conílrangidos feus pays • que os criem; e nom
tendo elles por onde os criar, fe criaram aacuíl:a das
mãys; e nom tendo huüs nem outros por onde os
criar, fejam requeridos feus parentes que os man-
dem criar; e nom o querendo fazer, ou fendo filhos
de Religiofos, ou Frades, ou Freiras, ou de molhe-
res cafadas, por tal que as.crianças nom mouram por
minguoa de criaçam , os mandaram criar aacuíla
dos bens dos Ofpitaes , ou Albcrguarias, fe os ouuer
na Cidade, Villa , ou Luguar ordenados pera cria..
çam dos engeitados ; e nom auendo hi taees Ofpi-
taes ou Alberguarias , fe criaram aacufta das rendas
do Concelho ; e nom tendo o Concelho rendas por
onde fe polfam criar , fe lançará finta por aquellas
pefloas que nas fintas, e encarreguos do Concelho
ham de paguar, a qual lançaram os Officiaes da Ca-
rnara.
II ITEM o Juiz dos orfaõs fará apreguoar em fim
de fua Audiencia quaefquer orfaõs de fua jurifdi-
çam , que fe ajam de dar por folda.da, ou a peffoas
que fe ajam de obriguar de os cafar, tanto que fo-
rem em hidade de fete annos, e nom os dará fenom
aaquellas peffoas que por elles mais derem: e quan--
do lhe forem dados fará obriguar por Efcripturas pu-
bricas
Do Jurz DOS ORFA<>!I ETC. 483
bricas aquelles a que os der , que lhe paguaram
fcus feruiços, cafamentos , ou foldadas, fegundo lhe
foram dadas, aos tempos que fe obriguaram paguar,
e daram fiadores abaíl:antes pera comprirem o em que
fe affi obriguarem ; e fe alguus orfaõs forem filhos
de lauradores , fc outrós lauradores os quiferem pera
o meftcr <la lauoira nom lhe feram tirados tanto por
tanto ; e fe fuas madres os ouuerem meíler pera la-
uoira , e forem viuuas que .eíl:em em fua honra , a
ellas fe dem primeiramente tanto por tanto ; e fe
nom teuerem madres, e feus auoos os quiferem pera
o dito meíler da lauoira , a eíl:es fe dem tanto por
tanto ; e nom tendo auoos , fe outros parentes teue..
rem que mantenham lauoira, e pera ello os quife-
rem , a elles íejam dados tanto por tanto ; e fendo
muitos que pera eílo os queiram , fejam dados aos
parentes mais cheguados atee o quarto grao , e fen-
do dous cm igual grao, precederá o da parte do pay
que for mais abafiante ; e nom feram dados pera ou-
tros mefteres os filhos dos lauradores , fenom pera
lauoira, e o Juiz que eílo nom comprir, paguará ao
orfaõ toda perda e dano que por efto fe lhe caufar;
e o Juiz que o filho do laurador a nom laurador der
pera outro meíler ou feruiço, principalmente achan-
do laurador que o queira tomar, paguará mil reaes,
e o Tutor que em tal dada confentir paguará outros
mil reaes , ametade pera quem os acufar, e a outra
metade pera as obras do Concelho. Pero nom To ..
lhemos aos lauradores a que os ditos orfaõs pera la-
Ppp 2 urar
484 O PRIMEIRO LIVRO DAS 0RDEN. TIT. LXVIT.

urar principalmente forem dados, que fe nom fer-


uam delles em guarda de bois , e vacas , guados • e
befias, e outros feruiços quando lhe cornprirem ,
com tanto que pola maior parte , e pr-incipalmente
os acupem no mefter de iauoira. E em todo cafo
quando o orfaõ fe ouuer de dar por foldada, nom fé.
rá tirado a fua mãy em quanto fe nom cafar , ou
auoos, tanto por tanto.
12 E o Juiz dos orfaõs, ou Efcriuam dante elle,
nom tomaram pera fi por fo)dada , nem em outra
maneira ninhuu orfaõ de fua·jurisdiçam, poíl:o que
lhe queiram dar mais preço, que outra algua pef-
foa., nem compraram coufa algua dos bens dos or-
faõs, por fi ) nem poi outrem, fob pena de perderem
os Officios, e mais o preço que por as. taees coufas
derem anoueado , e affi o que derem ou prometerem
de foldada. anoueado ; as quaes noueas !eram ameta..
de pera~quem acufar, e a outra pera Q orfaõ, e mais
o tal Juiz ou Efcriuam ficará inhabile pera nunca
poder auer Officio de honra , e as dicas vendas fica-
ram ninhüas.
13 E BEM ASU nom tomaram porfl,nem por ou-
trem , nem receberam, nem teratn em feu poder di-
nheiro alguü, ou bens., ou qualquer outro coufa .que
feja dos ditos orfaõs, pofto que fe lhe nom proue ,
nem alegue ferem compradas ; porque foomente por
lhe affi. forem achadas em feu poder , ou lhe feer
proua<lo que cm íeu poder o tcueram, <l!!eremos
que percam os Officios, e paguem o dinhciro que
affi
Do Juiz oos oltFAÕs ETC. 485

affi tomarem , ou receberem , anoueado pera o dito


orfaõ ; e quando tomarem, ou em feu poder teuerem
outra coufa, que nom feja dinbeiro , áalem do per-
dimento do Officio, em que affi encorreram , tor-
naram a dita coufa ou coufas . fendo a.uidas , ou fua
extimayam nom fendo auidas , e todo anoueado pe-
rà. o dito orfaõ. E é:íl:as mefmas penas auerá o Con-
tador dos Refidos,. que cada hua das fobreditas cou-
fas comprar, ou,em feu poder teuer..
14 ITEM fe ó Juiz dos orfaõ achar, que algúas
péffoas criaram alguüs orfaõs pequenos , fem leua-
rem por fua criaçam alguü preço, fe a dita criaçam
fezer.am ante de os ditos orfaõs cheguarema hidade
de fece annos , a eftes que affi criaram os leixa-
rá teer de graça outros tantos annos defpois de
elles auerem fete annos ,. quantos os affi criarem fem
preço.
1 5 ITEM fe alguüs orfaõs forem filhos de taees
peífoas , que nom deuam feer dados por foldadas , o
Juiz lhes ordenará o. mantimento que lhes for necef-
fario , affi pera comer e beber , como pera veíl:ir e
calçar, e todo o ai que lhe for neceífario em cada
huu anno., e . eíl:o que lhe affi ordenar mandará
efcreuer ao Efcriuam dos orfaõs no inuentario , pera
fe auer de leu ar em conta a feu Tutor, ou Curador,
e os mandará enfinar a ler e efcreuer, aquelles que
forem pera iífo , atee hidade de doze annos, e di por
diante lhe ordenará fua vida e enfrno, fegundo a qua-
lidade de fua peífoa , e fazenda.
16 E
486 o PRIMEIRO LIV. DAS ÜRDEN. T1T. LXVII.
16 E SE alguüs orfaôs forem filhos d 'Officiaes de
quaefquer Officios macanicos, feram poíl:os a apren-
der Officios de feus pays , ou outros pera que fejam
pertencentes , e que mais proueitofos lhe fejam fe-
gundo fua defpofiçam, e inclinaçam, fazendo Efcri-
pturas pubricas com os meílres , a que os derem a
enfinar, que atee certo tempo razoadamente fe obri ..
guem aos dar bem enfinados em aquelles Officios ,
obriguando pera ello feus bens ao affi comprirem ; e
o Tutor ou Curador com auél:oridade do Juiz obri-
guará os bens d~s ditos orfaõs , e fuas peffoas, a elles
feruirem os ditos meíl:res, por aquelle tempo que os
ouuerem de dar enfinados I em aquelles feruiços que
taees ~prendizes coílumam fazer, e o Juiz que eílo
nom comprir paguará ao orfaõ toda perda e dãno
que por ello fe lhe caufar. E Ce os ditos orfaõs fogi ..
rem por culpa daquelles que os tinham I polos trau-
tarem mal fem culpa dos ditos orfaõs, entam feus
amos feram conílrangidos a lhe paguar aquelle tem-
po , que os feruiram, fem mais ferem obriguados os
orfaõs acabar de feruir o tempo da obriguaçam; e fe
a fogida for por culpa dos orfaõs • feram toda via
conílrangidos a tornar a feruir todo o tempo con..
theudo na obriguaçam , e mais outro tanto quanto
os ditos orfaõs leixaram de feruir , o tempo que aíli
andaram fogidos por fua culpa , nom patrando de
íeis mefes todo o tempo que affi por pena ouue-
rem de feruir. Porem fe aquelles que os tinham
nom quiferem que os acabem de feruir, nom feram
obri-
Do Ju I z o os o R r A õs ET e. 487

obriguadoo aos tomar, nom lhe fendo tomados den-


tro de huü mes do dia que fogiram ; e fe alguü
dinheiro teuerem recebido dante maõ tornaloam fol-
do aa liura , do tempo que o orfaõ efteue feruindo.
17 ITEM o Juiz. dos orfaõs terá cuidado de dar
Tutores, e Curadores a todos os orfaõs e menores ,
que os nom teucre m, dentro de hurí rnes, do dia que
affi ficar orfaõ , aos quaes Tutores e Curadores fará
encreguar todos os bens moueis e de raiz, e dinheiro
<los ditos orfaõs e menores., por conto e recado e in-
uentario feito polo Efcriuam deffe Officio, fob pena
de priuaçam do Officio.
18 ITEM terá cuidado de faber como os bens deffe
orfaõ fam aproueitados, e fe o norn forem fap-os
loguo aproueitar , e os que danificados forem fai-
ba por cuja culpa, e polos bens daquelles que em
ello forem culpados as faça correger, e: aprouei-
tar, e tornar a feu eftado com os fruétos e rendas
que delles poderam auer, fe aproueitados foram.
19 htM os que forem pera arrendar conftran-
gua os Tutores que os arrendem, os quaes Tuto-
res fuam metl!r em preguam os ditos bens ,. e arre-
matar aquer:ri por elles mais der , fendo fompre .is
ditas arremataçoês com auél:oridade do Juiz dos. or-
faõs , e achando que nom dam por elles coufa ra-
zoada, os faram aproueitar os ditos Tutores ou Cu-
radores, e o que renderem de frudos e nouidades
receberam os Tutores por conto e recado , e todo
fobre os ditos Tutores e Curadores ferá carreguado
em
488 O P.s.IMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TrT. LXVII.

em recepta no liuro do inuentario do dito orfaõ ou


menor polo Efcriuam do dito Officio. E nom faram
contraél:os alguüs dos bens e dinheiros dos ditos or-
faõs , em que aja algüa efpecia de vfora, nem con-
fentiram que fe faça; e fazendo-fe. o {!Ue o am fezer
encorrerá nas penas contheudas no Titulo Das vfu-
ras, aíli como encorrera fe o tal dinheiro ou bens
foram feus ; e porem o dinheiro ou bens dos ditos
orfaõs fe nom perderam por cllo.
2.0 E PORQ!lE o Juiz dos orfaõs he obriguado dar
Tutores ou Curadores aos orfaõs menores , faberá fc
o pay ou auo do orfaõ leixou em feu teílamento Tu ..
tor , ou Curador a feu filho ou filhos, ou neto ou
netos , e fe eíl:e que tal Tutor ou Curador leixou ,
era peffoa que podia faze-r teíl:amento, por quanto
algüas peffoas o nom podem fazer, conuem a faber,
o menor de quatorze ar-rnos , e o feruo. e o fandeu ,
e o prodiguo a que he defeía e tolhida a adminiítra-
çam de feus bens , ou o mudo e furdo, ou o hcreje ,
ou o condenado a morte natural ou ciuel, e .o Re!i-
giofo, e outros femelhantes ; e fe leixou por Tutor
ou Curador pe(foa que o per dereito pode feer, que
nom feja menor de vinte e ·cinco annos, ou fandeu,
ou prodiguo, ou imiguo do orfaõ , ou prouc aó tem-
po do falecimento do finado, ou fer110 , 9u infame,
ou Religi-ofo, ou_jmpedido doutro alguü perpetuo
impedimento ; e onde tal Tutor hi dado ouuer em
teflarnento perfeéto e folene. nom ferá dado ao orfa5
ou menor outro Tutor ou Curador pelo Juiz , mas
aquelle
Do Jurz Dos o R , A õ s ET e. 489
aquelle que lhe for dado em teflamento o ferá em
quanto o elle bem fozer, e como deue, a proueito do
orfaõ ou menor, e nom fezer coufa por que deua feer
tirado da dita tutoria ou curadia. E efies Tutores
ou Curadores dados em tefiamento palas peífoas
fobreditas , que os por Dereito podem dar, nom fe-
ram obriguados dar fiança algúa.
21 E SE algü pay em teftamento leixaff'e Tutor
ou Curador a feu filho natural e nom legitimo, ou
a mãy leixaíle tal Tutor ou Curador em feu tefta-
rnento a feus filhos , efias femelhantes tutorias ou
curadias deuem feer confirmadas polo Juiz dos or-
faõs , fe viir que taees Tutores ou Curadores fam
pera ello· pertencentes.
22 E SE alguü orfaõ nom teuer Tutor ou Cura-
dor, que lhe foífe leixado em tefiamento, e teuer
mãy ou auoo, fe fua mãy ou auoo viuerem honefta-
mente , e nom forem cafadas com outros maridos ,
e quiferem teer as tutorias ou curadias de feus filhos
ou netos , nom confentirá que de taees tutorias ou
curadias ajam de vfar, atee que primeiramente per-
ante o Juiz dos orfaõs fe obriguem de bem e fiel-
mente adminiftrarem os bens, e peífoas de feus filhos
ou netos , e que auendo de cafar ante que cafem
pediram, que lhe fejam dados Tutores ou Curado-
res, aos quaes entreguaram todolos bens que aos di-
tos íeus filhos o.u netos pertencerem , e pera eíl:o re-
nunciaram perante o dito Juiz dos orfaõs , que lhe
a tal tutoria ou curadia der , o beneficio da ley do
~-L ~q ~-
490 O PRIMEIRO L1v. DAS 01tD!N. TrT. LXVII.
Veleiano, a qual diz que ninhüa molher nom pode
feer fiador , nem fe obriguar por outrem , a qual lhe
ferá declarada , quejanda he, e o fauor que per ella
lhes he dado, e affi renunciaram todos os outros de-
reitos e priuilegios em fauor das molheres introdu-
zidos , que fem ernbarguo delles compriram todo
aquello , a que fe affi obriguarem. E efte auto, e re-
nunciaçam , e obriguaçam fará o Juiz efcreuer ao
Efcriuam dante elle no inuentario dos bens dos ditos
orfaõs, e o a ffinará de feu final , e affi o fará affinar
a tres teftemunhas , que ao menos a ello feram pre-
fentes, das quaes hGa fobfcreuerá , e dirá que affina
pola dita Tutor ou Curador, que fe affi obriguou por
lho ella mandar, quando ella nom fouber efáeuer;
e tanto que o dito auto for feito , entam lhe leixa-
ram tecr os ditos orfaõs ou menores, e feus bens , em
quanto o bem fezerem, e fe nom cafarem. E outras
molheres algüas nom fe.ram dadas por Tutores nem
Curadores- , nem lhe ferá confentido que vfem de
tal carreguo, poíl:o que o queiram feer. E nom ten-
do, nem pofiuindo as ditas madres e auoos dos ditos
orfaõs , que fuas tutorias ou curadias querem teer ,
bens de raiz por que poffam comprir a obriguaçam
fobredita , daram fiança abaftante e fegura a toda a
fazenda dos ditos orfaõs , que lhe aíli ficar em po-
der , a qual fiança o dito Juiz affi fará efcreuer , e
affinar nos ditos inuentarios com tefiemunhas, como
em qualquer outra nota de femelhantes contraél:os
fe coftuma e feer-lhe-ha dada fee como a qualquer
outra
Do J u1 z D o s o tt r A õ s ET e. 49 i
outra Efcripcura feita por Tabaliam das Notas.
2 3 E sE algüa molher fendo viuua for dada por
Tutor ou Curador de feus filhos, ou netos, na ma-
neira que dito he, e ella cafar , e por ello lhe forre-
mouida e tirada a dita tutoria ou curadia , fe ella
defpois viuuar, e quifer tornar aa tutoria, ou curadia
dos ditos feus filhos ou netos , nom lhe ferá con-
fentido.
24 E SE o orfaõ ou menor nom teuer Tutor ou
Curador dado em tefiamento, nem mãy ou auoo que
feja fua Tutor na maneira que dito he , o parente
mais cheguado que teuer na Cidade, Villa ou Lu.
guar, ou feu Termo, onde fam os bens do orfaõ. ferá
conílrangido que feja feu Tutor ou Curador; e fe te-
uer muitos parentes em igual grao , o Juiz efcolhe-
rá huú dclles, aquelle que pera ello for mais idoneo,
e pertencente, e eíle coníl:rangerá que feja feu Tu-
tor ou Curador, peró ame de lhe entreguar o dito
orfaõ ou menor e feus bens , dará fiador abonado ao
Juiz , o qual fiador prometerá e fe obriguará por o
dito Tutor ou Curador, que guardará e aproueitará
bem e lealmente os bens do dito orfaõ, e os frutl:os e
rendas delles , e aalem defio o dito Tutor ou Cura-
dor jurará de fazer todalas coufas que forem a pro-
ueito do orfaõ , de que for Tutor ou Curador, e iffo
mefmo guardará bem e fielmente fua peffoa e bens.
Porem fe o dito Tutor for abonado em tantos bens
de raiz por que o orfaó razoadamente poífa auer fe-
gurança de feus bens e rendas delles • no tempo que
Qgq 2 em
492 O PRIMEIRO L1v. DAs ÔRDEN. T1T. LXVII.
em poder do dito Tutor forem , em tal cafo nom fe-
.rá coníl:rangido dar a dita fiança ; e nom fendo elle
abonado, fe jurar aos Sanél:os A uangelhos que nom
tem , nem pode auer o dito fiador , peró fezeífe to..
da dcligencia em o bufcav, fe o Juiz ouuer por en:-
formaçam verdadeira que elle he peífoa honefta e
digna de fee , e que bem rege e guouerna fua pefloa
e fazenda, de que razoadamente fe dcma e poífa fiar
a peífoa e bens do dito.orfaõ, concorrendo todas eftas
coufas, feja releuado da dita fiança, e feja conftran-
gido pera reger e miniftrar a dita tutoria. E cm
quanto o Juiz achar parente do orfaõ abonado pera
feer Tutor, nom conftrangerá o que nom for abona-
do , pofto que feja parente mais cheguado em gráo
que o abonado, em tal guifa que foornente aa min-
guoa do abonado feja conftrangido o nom abonado.
25 OuTRo s1 em quanto for achado parente do
orfaõ , idoneo e pertencente pera feer feu Tutor ,
nom feja confirangido alguü eftranho pera ello.
26 E Sl:. alguü parente mais cheguado d'alguü
orfaõ. fe efcufaffe de feer Tutor , em tal cafo nom
herderá tal parente os bens do dito orfaõ, fe morreffe
ante de auer quatorze annos fe fofie batam , e fe fof-
fe fernea rnorrdfe antes dos doze ; e morrendo o di-
to orfaõ defpois da dita hidade; nom perderá o dito
{eu parente o dereito que teuer pera herdar em feus
bens , por fe affi efcufar da dita tutoria.
27 E NoM fe achando parente ao orfaó, pera
poder feer conílrangido que feja feu Tutor na ma-
ne.1ra
Do Jurz DO& 01u.• A5s !Te. 493
neira fobredita, em tal cafo. oJuiz conílrangerá huü
homem bom da Cidade, Villa, ou Luguar, que feja
abonado , diícreto, digno de fee , idoneo e perten-
cente , que feja Tutor e Curador do díto orfaõ pera
guardar e rniniílrar fua pe{foa e bens, aíli moueis co-
mo de raiz , e dinheiro que effe orfaõ ouuer ncffa
Cidade, Villa, ou Luguar , ao qual faça entreguar
o dito orfaõ , e todos feus bens por efcripto.
28 E SE o dito orfaõ teuer alguüs bens em outro
Luguar fora da jurisdiçam do dito Juiz, com deli-
gencia o Juiz loguo efcreuerá ao Juiz deffe Luguar
onde os ditos bens eíleuerem, recontando-lhe decJa;.
radamente a enformaçam da çoufa como he , e re-
querendolhe da Noffa parte, que faça loguo dar huü
Curador abonado a eífes bens, e os faça loguo entre-
guar a effe Curador por eícripto, fendo-lhe primeira-
mente dado juramento , que os reja e miniftre bem
e fielmente , e dee conta e recado delles , e aíli dos
fruét:os e rendas que renderem, a todo tempo que
pera ello for requerido ; e o dito Juiz tenha cuidado
d'auer a repo1la por efcripto do outro Juiz a que tal
recado enuiar , e da obra que por ellc fez , e rodo
faça efcreuà ao Efcriuam de feu Officio no inuen-
tario dos bens do dito orfaõ pera todo viir a boa arre-
cadaçam , e faça o dito Juiz em guifa, que por fua
culpa e negrigencia os bens dos orfa6s nom recebam
dãno , porque todo o dãno e perda que receberem
paguararn por feus bens.
29 E ESTES Tutores que nom fendo parentes fo-
rem ·

41
494 O P.a.,I MEI!to L1v. DAS OaoEN. T1T. LXVII.
rem coníl:rangidos nom feram obriguados teer as
ditas tutorias contra fuas vontades mais que dous
annos continuados, os quaes fe contaram do dia que
os taees Tutores começarem de reger e rninifiar : e
tanto que o dito tempo for acabado requeira loguo
ao Juiz dos orfaõs, que dee ao dito orfaõ outro Tu-
tor, que feja pera ello idoneo, e pertencente ; e o
dito Juiz conílrangerá loguo outro na maneira que
dito he, ao qual mandará entreguar por efcripto to-
dolos bes. e rendas do dito orfaõ, coníl:rangendo elfe
que ante for , que lhe faça loguo a dita entregua
realmente e com efeél:o; e nom lhe fazendo loguo a
dita entregua do dia que aconca for acabada atee
noue dias primeiros feguintes, feja loguo o dito Tu-
tor prefo , atee que da Cadea real mer1te e com efe-
éto pague, e entregue ao dito Tutor nouamente fei-
to, todo aquello em que por conta for achado feer
deuedor ao dito orfaõ, e affi fe faça cada vez que al-
guu Tator for remou ido. e dado outro de nouo•
.30 E sE algüa pelfoa, nom fendo parente do or-
faõ, quifer feer feu Tutor mais tempo que os ditos
dous annos, achando que adminiíl:rou bem o tempo
paílado. e que he abonado pera iífo, e nom hai ou-
tra caufa pera lhe feer rernouida, leixar-lhe-ha teer a
dita tutoria. em quanto o bem fezer, e ao dito Juiz
bem parecer.
3 1 E PORQYE aquellas peífoas qae fam dados
por Tutores muitas vezes fe efcufam de o feer, pera
que o dito Juiz faiba quaes efcufaçoés fam legiti.
mas,
Do Jurz Dos o R. F A õs ET e. 495
mas, e quaes nom, Declaramos, que por priuilegio
que algüas peffoos tenham , nunca fe entendem fe-
rem priuilegiados de feer Tutores de feus parentes ,
as quaes tutorias fe em Dereito chamam lidimas ,
mas foomente aquelle que affi for priuilegiado ferá
efcufo de feer Tutor dati.uo , conuem a faber , da-
quelles que fam dados polo Juiz a petfoas eftranhas.
Pero fe alguü teuetre cinco filhos lidimos antre ma-
chos e femeas , ou teueffe cinco netos , filhos ou fi-
lhas d'alguü f eu filho ou filhos , ou filha ou filhas
ja finados, ou effa filha mãy dos ditos netos feja ca-
fada com outro marido , fe effe padre ou auo te-
ueffe todos os ditos cinco filhos ou netos em feu po-
der , ferá efcufado de tod~las tutorias , quer feja
leixado em teílamento , ou parente do orfaõ, ou da-
do polo Juiz em desfalecimento de parentes ; e po-
ílo que os ditos cinco filhos , ou netos nom foffem
viuos, ao tempo que a dita tutoria fotre encarregua-
da a feu pay ou auo, fe elles ou cada huü delles
· morreram em auto de guerra , ou hindo pera ella
em Notro Seruiço , efres que affi morreram feram
contados, pera eícufar o dito feu pay e auo de toda
tutoria affi como fe foílem viuos.
32 E ss alguíi regeffe ou miniíl:raffe coufas Nof-
fas , ou pertencentes aa Repubrica , conuem a faber,
fe fotfe Veedor da Fazenda , ou Official da J uíl:iça ,
conuem a faber, Deíembarguador, ou Sobrejuiz, ou
Ouuidor, ou Procurador dos Noílos Feitos, ou da
Notra Juftiça, ou Tefoureiro, ou Contador, ou Al-
mo-
496 O PRIMEIRO LIVRO DAI 0RO!N. TtT. LXVII.
moxarife , ou Rendeiro , ou Efcriuam de cada huü
dos ditos Officios, e todolos outros Officiaes que
fam deputados pera feruir ante elles , conuem a fa-
ber , Procuradores, Efcriuaés , Porteiros , Carce-
reiros , Caminheiros , outro fi Juízes , Vereadores
de qualquer Cidade , Villa, ou Luguar de Noífos
Reynos , todos eíles e cada huü delles feram efcufa-
dos de todalas tutorias , quer fejam leixados em tef-
fiamentos , ou legitimas , que he daquelles que fam
parentes , ou datiuas, que he dos eílranhos. Pero os
Juizes e Vereadores nom feram releuados das tuto-
rias , de que ja foírem cncarreguados, ante que ou-
ueffem os ditos Officios ; faluo fe Nós Enuiaffemos
algüa peífoa por Juiz a algüa Cidade, ou Vilia de
Noffos Reynos , em quanto Noíra Merce for, talco-
mo efte fera efcuíado de toda tutoria, poflo que ao
tempo que o affi Enuiaffemos ja della encarreguado
foíre, e elle a tcueffe aceptada ; e com o dito orfaõ
fe terá aqueHa maneira , que fc teuera fe tal Tutor
hi nom ouuera.
33 ITEM todo menor de vinte e cinco annos, ou
maior de fetenta , ferá efcufado de roda tutoria lei-
xada em teílamento , ou legitima , ou datiua; e po-
fio que o menor de vinte e cinco annos tcueíle aui-
da Noífa Carta, por que foíle auido por maior, e lhe
foffem entregues feus bens, fem embarguo dello nom
ferá conílrangido para tutoria algüa, em quanto nom
for de vinte e cinco annos ; e poílo que tal menor
queira feer Tutor, nom lhe feja confentido.
34 ITEM
Do Ju I z oos o R F A õs E T c. 497

34 ITEM ferá eícufado de toda tutoria aquelle ,


que for enfermo de tal enfermidade , que razoada-
mente nom poífa reger e miniílrar fua fazenda , em
quanto tal enfermidade durar.
35 ITEM ferá efcufado de toda tutoria o Fidal-
guo de linhagem, ou Caualeiro, ou Doutor em
Leys, ou em Canones 1 ou em Fifica feitos em ílu-
do geeral por exame; e poíl:oque cada huü dos fo_
breditos queira feer Tutor, norn deue feer a ello re-
cebido. Pero a eíl:as pe{foas , em que Dizemos que
poílo que queiram feer Tutores , norh fejam a ello
recebidas , fempre ficará feu dereito refguardado
de foceder na herança do orfaõ, fe ao tempo da
fua morte lhe pertenceíTe por dereito; cá pois a cul-
pa nom he em elles, nom lhe deue feer imputada ,
pera perderem o dereico de foceder ao orfaõ.
36 E PORQJJE.aalem defles Tutores que fam da-
dos aos orfaõs , em quanto nom cheguam a hidade
de quatorze annos fe fam baroês , ou atee doze fe
fam femeas, deípois que paífam da dita hidade, e
nom cheguam a hidade de vinte e cinco annos , lhe
fam dados Curadores , todo aquello que em cima
Diffemos a.cerca daspeífoas que podem feer Tuto-
res, affi ~eixados em teflamento 1 como daquelles
que fam conílrangidos por ferem parentes dos or-
faõs, como dos que fam dados polo Juiz em desfa-
lecimento dos parentes , e tambem acerca das efcu-
façoes que por fi pódem poer , como em aquelles
que o nom deuem feer, auerá luguar em os Cura-
Liv. I. Rrr do~
498 O PRIMEIRO L1v. DAS 0RDEN. T1T. LXVII.
dores que forem dados aos menores de vinte e cinco
annos.
37 E PORQYE aalem dos ditos Curadores que
ham de feer dados aos menores de vinte e cinco an-
nos, fe deuem dar tambem Curadores aos defafifa-
dos, ou que mal guaíl:arem fuas fazendas, que fam
em Dereito chamados prodiguos, Mandamos que
tanto que o Juiz fouber, que em a Cidade, Villa, ou
Luguar, ha alguü fandeu, que por caufa de fua fan-
dice poffa fazer mal ou dãno alguü na peffoa, ou fa-
zenda , fe eíl:e tal teuer pay deue-lhe feer entregue ,
e mandado da Noffa parte, que di em diante ponha
nelle boa guarda, aíli em a peffoa, como em a fazen ..
da , fe a teuer; e fc comprir, faça-o aprifoar , em tal
guifa que nom poffa faz.e r mal com que outrem dã-
no receba: e fe deípois que lhe affi for encarreguada
a guarda do dito feu filho, elle fezcr alguü mal ou
dãno a outrem em a peffoa, ou fazenda , o dito feu
pay ferá theudo, e obriguado de todo correger, e
emendar polo corpo e bens, por a culpa e negrigen-
cia. que aíli teue em nom guardar o dito feu filho.
E os bens, que o dito fandcu teuer, feram entregues
ao dito feu pay por inuentario feito por Efcriuam
dos orfaõs, e o Juiz. ordenará certa coufa ao dito feu
pay porque o aja de manter . .
38 E SENDO o dito fandeu, ou defmemoriado
cafado , ferá entregue a feu pay fe o teuer , e ferá
feito polo Juiz inuentario de todolos bens, affi mo-
ueis como de raiz, feito polo Efcriuam dos orfaõs ;
e da
Do JuI z D os o R F A õs ET e. 499
e da renda dos ditos bens aílinará o Juiz aa dita
fua molher pera feu mantimento e de feus filhos, fe
os teuer , e aíli pera veílir e calçar, como manti-
mento quotidiano , e alfaias de caía , e qualquer
outra coufa que lhe for neceffaria, fegundo a quali-
dade e condiçam de fua peífoa , e frgundo os bens
e fazenda, e patrimonio que o dito feu marido te-
uer; e ferá dado juramento ao dito feu pay. que lhe
he dado por Curador, que bem e fielmente reja, e
guouerne a fazenda, e bens do dito feu filho, e faça
delle curar com boa deligencia a Fificos, e a Me-
fl:res, fegundo lhe for neceílario, e a condiçam de
fua pelfoa requerer; e mandará o diro Juiz efcreuer
ao Efcriuam todalas defpefas, que o dito Curador
fezer affi acerca da cura , e mantimento do dito
feu filho, como do mantimento e defpefa que fezer
com fua molher e filhos , fe os teuer , pua todo vijr
a boa recadaçam. Peró fe a dita fua molher for de
bom e honeílo viuer e entendimento, e quifer tomar
carregue do dito feu marido, feer-lhe-ham entreguei.
todos feus bens.
39 E ESTA curadia regerá e miniílrará feu pay,
ou fua molher , em quanto o dito fcu filho ou ma-
rido durar na fandice ; e tornando elle a feu verda-
deiro fifo e entendimento , lhe feram tornados , e
reftiruidos feus bens, com toda liurc adminiílraçam
delles, como a tinha ante que perde/fe o entendi-
mento, e o pay ferá theudo de dar conta, e r~cado de
como os regco) e minifirou em quanto affi foi feu Cu-
Rrr 2 ra-
500 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. Tn. LX VII.
rador ; e fe algua duuida for antre elles fobre a dita
conra , detremine-a o Juiz como achar por Dereito.
40 E SENDO o dito fandeu ou defmemoriado por
amerualos e interpofiçoes de tempo , em tal cafo
nom leixa!'á feu pay , ou fua molher fe a teuer , de
feer feu Curador, no tempo que affi parecer fefudo,
e tornado a feu entendimento ; porem em quanto
elle for em feu fifo e entendimento elle poderá
guouernar fua fazenda tam compridamente, como
qualquer outro de perfeéto fifo ; pero tanto que elle
tornar aa fandice, loguo o dito feu pay, ou fua mo-
lher vfaram da dita cu radia , e regeram, e mini-
flraram a peífoa , e fazenda do dito feu filho , ou
marido, affi como dante.
4r E NOM tendo o dito defafifado pay, nem
molher , e tendo alguü auo affi da parte do pay ,
como da mãy, Mandamos que o Juiz encarregue
na dita curadia aquelle auo , que pera eíl:o for mais
idoneo, e pertencente, e eíl:e conílrangerá que acei-
te o dito carrcguo.
42 E NO cafo que o dito defafifado nom teuer
pay, nem molher, ou auo , feja conílragido pera
feer feu Curador feu filho baram, fe o teuer tal, que
pera ello feja idoneo, e maior de vinte e cinco an-
nos ; e nom tendo tal filho, feja coníl:rangido feu.
irmaõ [e o teuer idoneo pera ello , e maior de vinte
e cinco annos , e que viua em caía mantheuda; e
nom auendo hy irmam idoneo pera ello , ferá con-
ftrangido feu parente mais cheguado, affi da parte
do
Do JuIz Dos o R F A õ s E T e. 501

do pay , corno da rnay, que pera ello feja idoneo, e


abonado em tantos bens , que abaílem fegundo a
fazenda , e patrirnonio do dito defafifado.
43 E NOM tendo o dito defafifado parentes, feja
pera ello conílrangido qualquer outro eílranho, que
feja pera ello idoneo, e pertencente, e abonado corno
dito he.
44 E SE o Juiz por inquiriçarn fouber, que em
a Cidade, Villa,ou Luguar de feu Julguado, ha al-
güa peffoa que como prodiguo defordenadamente
guaíla , e deftrue fua fazenda , mandará poer Alua-
raes de Editos nos luguares pubncos , polos quaes
mande, que di em diante nom feja alguü tam oufa-
do, que com tal pefloa venda ou efcaimbe, ou faça
alguú outro contraél:o de qualquer natura e condi-
çam que feja, fendo certo que todolos contraél:os
que com o dito prodiguo forem feitos, feram aui-
dos por ninhuus; e alem dello fe ·o dito prodiguo
por vertude de taees contraél:os algua coufa receber ,
nom poderá mais feer demandado. E efto mandará
o dito Juiz apreguoar por Preguoeiro pubrico palas
praças , e outros luguares pubricos da Cidade ,
Villa, ou Luguar onde efto acontecer. E feito affi to-
do efto, e efcripto polo Efcriuam dos orfaõs , en-
tam o Juiz dará Curador aa fazenda, e bens do tal
prodiguo , da fórma e maneira que em cima Dif-
femos que o dará ao d efaCifado, guardando em to-
do o que Diífemos no dito defafifado.
45 E ESTA curadia durará em quanto o dito pra-
di,..
502 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. TrT. LXVII.
diguo perfeuerar em fua maa guouernança ; e tor..
nando elle em alguü tempo a bons coíl:umes , e
temperança de fua defpefa por fua fama, e aluidro,
e bom juizo de feus parentes, amiguos, e vezinhos,
que dello ajam fabedoria, e o diguam por juramen ..
to dos Auangelhos, em tal cafo lhe fcram entregues
feus bens , pera os liuremer1te reger e minifl-rar.
46 E ESTES Curadores dados affi aos defafifados,
como aos prodiguos, nom feram obriguados a fer ..
uir mais em cada hüa curadia, que dous annos com-
pridos , e mais nom , fegundo em cima he ordenado
acerca do Curador datiuo, que he dado ao menor
de vinte e cinco annos ; faluo no cafo onde lhe for
dado por Curador feu pay, ou fua molher , ou auo ;
porque cm eíl:es Mandamos que dure a curadia em
quanto o fandeu durar na fandice, ou o prodiguo
durar er11 fua maa guouernança.
47 E POR CUJANTO em cima DiíT'emos, que a
todolos Tutores , e Curadores deuem feer entregues
os bens por inuentario , Declaramos que eílo nom
auerá luguar, quando a rnolher for dada por Cura-
dor a feu marido , por feer defafifado, ou prodiguo.
48 E ACHANDO o Juiz que os orfaõs tem alguüs
bens moueis , que ferá mais feu proueito fe vende-
rem , que eílarem affi, os mandará vender em pre-
guam em almoeda a quem por elles mais der; e
dos dinheiros que fe delles fezerern , e de qualquer
outro dinheiro que teuer, mandará aos Tutores, e
Curadores , que comprem com auél:oridade ddle
Juiz
Do Ju1z D os oRFA õs ET e. 5ô3
Juiz bens de raiz pera os ditos orfaõs, que lhe ren-
dam ; e achando herdades de pam , antes as com-
prem , que vinhas , nem outras heranças que ajam
meíl:er adubios , e deíl:as heranças que affi compra-
rem, faça o dito Juiz fazer as Efcripturas das com-
pras com toda fegurança que pera os ditos orfaõs
for neceífaria , em maneira que os bens que affi
comprarem, nom lhe poífam feer em algu~ tempo
tirados , por fe dizer que nom eram daquelles que
lhos venderam , ou por defeél:o d'algüa folenidade
nas dicas Efcripturas. E antes de fe as ditas com-
pras fazerem, faça o dito Juiz fobre ello toda a de-
ligencia que comprir, pera fe faber fe etTes bens, que
fe affi ham de comprar, fam liures, e deíembargua-
dos , e forros , e fóra de toda a obriguaçam a algua
peíloa , por onde a dita venda nom fique firme, e
fegura.
49 E NOM achando bens de raiz que fejam pro-
ueitofos pera fe comprarem como dito he , o Juiz
dos ditos orfaõs dará o dito dinheiro a mercadores
abonados , que com o dito dinheiro trautem ; e fen-
do em lugar em que nom aja mercadores a que o
dem , ou elles o nom quizerem tomar , entam o di-
to Juiz dará o dito dinheiro a cerieiros, carniceiros,
çapateiros, almocreues, e outros officiaes macani-
cos , que trautem com o cabedal ; e quando o dito
dinheiro affi derem aos ditos mercadores e ofliciaes ,
os ditos Juiz('s feram auizados que tomem delles
boas feguranças por fuas fazendas fe as teuerem ,
que
504 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. LXVII.

que loguo efpecialmente pera Hfo obriguaram , e


hypotecaram , ou per fiadores abonados e feguros,
e taees, por onde o tal dinheiro, e os guanhos poífam
eflar feguros ; porque fe per falecimento de boa fe-
gurança affi de fiadores, como das fazendas , os di-
tos orfaõs receberem no dito dinheiro, ou guanhos
algüa perda , os ditos J uizes feram obriguados de .
a paguarem por feus bens e fazendas. E quando fe
tomarem fiadores, fe obriguaram por principaes
paguadores, e loguo nas obriguaçoês que do dito di-
nheiro fezerem fe declarará , que nom trautem com
elle por mar• e que em todo o trauto que com ellc
por terra fezerem paguem bem todos os dereitos ,
affi a Nós , como a quem forem obriguados; e fe os
leuarem fóra do Reyno , que os nom metam em
mercadorias defefas, porque perdendofe por nom fa-
zer algüa das coufas fobreditas, ou por outras algüas
que feja por fua culpa e negrigencia , a tal peíloa
que affi o dito dinheiro trouxer, o perderá por feu.
50 E os ditos J uizes nom daram ninhuü dinhei-
ro dos ditos orfaõs a pefioa algua, faluo das fobre-
ditas ; nem ilfo mefmo a peífoa algüa de qualquer
qualidade que feja, ainda que feja das fobreditas ,
fabendo que o nom quer pera fi mefmo , e que o
toma pera outrem fimuladamente , dizendo que he
pera fi ; e o Juiz que o der por eíl:a maneira, per-
derá a fazenda e o Officio , e ferá degradado pera
fempre pera a Ilha de Sam Thome ; e efta mefma
pena de perdimento de fazenda e degredo , auerá
aquelle
Do J u 1 z o os o n. F A õs E T e. 505
aquelle que affi tomar o dito dinheiro nom fendo
pera elle.
51 E NOM achando o dito Juiz peffoa das fo-
breditas , que tome o dinheiro de cada huu dos or-
faõs ou menores a guanho, como dito he, mandará
lançar preguam nas praças , e luguares pubricos
por dez dias contínuos, que quem quifer tomar o
dinheiro dos orfaõs, que venha ao Juiz que lho da-
rá, os quaes preguoes aífentará o Efcriuarn dos or-
faõs no inuentario de cada huü orfaõ , que o cal
dinheiro teuer ; e [e feita a dita deligencia norn
achar quem tome os ditos dinheiros, mande aos di-
tos Tutores que o tenham a bom recado, pera quan-
do vier peffoa das fohreditas que o queira tomar
lhe feer logo dado.
52 E SERAM as dicas pe11oas, a que affi o dito di-
nheiro for dado a guanho , obriguadas darem de
guanho aos ditos orfaõs amctade de todo aquello
que por juramento dos Sanél:os Auangelhos, que
lhes por o dito Juiz ferá dado, jurarem que com o
dito dinheiro dos ditos orfaõs guanharam, e a outra
metade lhe ficará por o trabalho , e cuidado que
tem de o bem aproueitarem. E pera todo andar em
boa ordenança, Mandamos aos ditos Juízes, que
em cada huü anno tornem conta aas ditas peffoas, a
que o dito dinheiro for dado , do que affi com elle
guanharam, e façam loguo carreguar os ditos gua-
nhos fobre o Tutor que dos ditos orfaõs for em feu
inuentario; e quando nom for ncceífario pera repai-
Liv. J. Sss ro
506 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TrT. LXVII.

ro dos orfaôs, ou pera outra coufa pera que neceffa-


riamente fe aja rneíl:er, ficará na maõ da dita peffoa
que o alli traz , e lhe ferá carreguado no conto do
cabedal , e feer-lhe-ha tomado fegurança pera def-
pois rcfponder com o guanho de todo, affi do que á
primeira lhe foi dado , como do mais que lhe do tal
guanho foi carreguado fobrc o primeiro cabedal. E o
Juiz que aíli nom tomar conta do dito dinheiro em
cada huü anno, e nom pofer em boa recadaçam os
guanhos delle , como dito he , feja fuf penfo atee
Noffa Merce, e mais pague ao orfaõ todo o guanho
do dito dinheiro, que afü for dado a guanho, em
cuja arrecadaçam nom comprio eíl:e Regimento, em
dobro; e fem embarguo de o dito Juiz paguar o di-
to guanho ao orfaõ em dobro , toda via o dito orfaõ
auerá o guanho da parte , a que o dito dinheiro aíli
foi dado.
53 E sE o Juiz vijr que a tal peífoa nom reípon ..
de com os ditos ·guanhos como for bem , e parecer
que, fegundo o trauro e maneo que tem, o dito di-
nheiro poderia mais guanhar, entarn o dito Juiz to-
mará duas peífoas do mefmo mefter , e que bem o
entendam, e lhes dará juramento nos Sanél:os Auan-
gelhos , e por elle diram o que o dito dinheiro lhes
parece que poderia guanhar ao todo , fegundo o
trauto e deligencia que conhecerem da peffoa que o
traz, e diífo que affi aluidrarem paguará ametade
aos ditos orfaõs ; e quando for a dita peífoa tal , que
pareça que nom tem bom trauto, nem poem a deli.. -
gen-
D o Ju r z o o s o R r A õs E T e. 507

gcncia que deue , por onde venha proueito aos ditos


orfaõs, nem refponde bem com os ditos guanhos ,
o dito Juiz lhe tirará o dito dinheiro, e o dará a ou-
tra peffoa que o milhor faça.
54 E EM cafo alguü nom fe venderam bens al-
guüs de raiz dos orfaõs , ou menores ; faluo por tal
neceffidade , de que efcufar fe nom poífa : e quando
fe affi ouuer de vender , frmprc fe venderá aquella
propriedade que menos proueitoía for ao dito orfaõ:
e vendendo-fe em outra maneira, Mandamos que
tal venda feja ninhüa ; e o Tutor, ou Curador que
tal venda fezer , e o Juiz que a ella der fua auc9:ori-
dade paguará ao orfaõ toda a perda e dãno, que por
razam de tal venda receber.
55 E MANDAMOS que os Tutores e Curadores
nom comprem por fi, nem por outrem, bens alguüs
rnoueis ou de raiz daquelles , cujos Tutores ou Cu-
radores forem , poílo que por elles queiram dar o
feu juílo e verdadeiro valor ; e poílo que os taees
bens fe vendam por mandado de Juíl:iça pubrica-
rnente, e em preguam , nom lhes poífam os Juí-
zes dar licença , nem auéloridade pera os poderem
comprar, nem iffo mefmo em tempo alguü os pof-
fam auer por ninhum titulo, poílo que defpois nom
fejam Tutores, faluo fe for por via de foceffam ; e
comprando-os, ou auendo-os, nom valha a dita ven.;
da, nem contraélo , mas feja ninhuü e de ninhuü
efeél:o , e mais percam o preço que por elles derem
anoueado , ametade pera o dito orfaõ , e a outra
metade pera quem o acufar. Sss 2
508 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. LXVII.

56 E PORQlJE os Tutores e Curadores com mi-


lhar vontade fe ocupem em aproueitar , reger , e
adminillrar os bens dos orfaõs • aueram por feu tra-
balho em cada huü anno a vintena das rendas que
os bens dos orfaõs renderem , e am a vintena do
guanço que com o dinheiro dos orfaõs fe aproueitar,
nom paífando a contia da dita vintena de todos os
ditos bens e dinheiro de cincoenta mil reaes em
cada huü anno ; e eílo fe entenderá nom foomentc
nos Tutores e Curadores datiuos , mas ainda em os
parentes a que for encarreguada a tutoria ou cura-
dia , e ilfo mefmo nos Tutores ou Curadores que
forem leixados em teílamento : empero na efcolha
deíl:es, que forem leixados em tellamento, ferá ave-
rem antes a dita vintena , ou aquello que polo teíla-
dor lhes foi leixado; nem fe entenderá neíl:a vinte-
na aquello, que o orfaõ ou menor guanhar por foi-
dada de feu corpo : e os ditos Tutores e Curadores
nom receberam nem tomaram pera fi a dita vinte-
na• faluo por Aluaraes afinados polo dito Juiz, e
feito polo Efcriuam dos orfaõs ;o qual Efcriuam le-
uará por cada huü Aluará deíles foomentc quatro
reaes aa cufta do Tutor.
57 ITEM Ordenamos, que o Juiz dos orfaõs nom
leue por fazer qualquer partilha d'orfaõs mais de
cinco reaes por milheiro, atee ·contia de trinta mil
reaes, que fam cento e cincoenta reaes; e por fazer
qualquer inuentario nom leue mais que vinte reaes,
de!ta moeda que ora corre de íeis ceptijs o real; e
de
D o J u 1 z Dos o R r A õs E T e. 509
de tomar a conta a qualquer Tutor nom leue mais
de trinta reaes: e eílas contas nom tomaram aos
Tutores ou Curadores datiuos , faluo de dous em
dous annos, que ha de durar fua tutoria ou curadia;
e aos Tutores ou Curadores legítimos, ou teílamen-
tarios nom a tomará , fenom de quatro em quatro
annos, fe tanto durar a dita tutoria ou curadia, e
bem affi em fim do tempo de fua tutoria ou cura ..
dia. Pero em todos os Tutores e Curadores legiti-
mas, ou leixados em teíl:amento , ou datiuos , cada
vez que o Juiz dos orfaõs for enformado , que elle~
mal regem as ditas tutorias ou curadias, ou que fa_
zem em ellas o que nom deuem, tanto que o Juiz
eíl:o fouber , loguo lhes tomará a conta, e achando
que o mal fezeram , os priuará das ditas tutorias ou
curadias, e fará outros Tutores ou Curadores, fa-
zendo-lhe entreguar todos os bens dos orfaõs ou me-
nores , e coníl:rangendo eíle Tutor ou Curador que
foi , que logllo entregue todo ao Tutor ou Curador
nouo, com todas as perdas e dânos que os orfaõs
ou menores receberem per culpa ou negrigencia
do dito Tutor ou Curador remouido. Nem confin-
tam aos Partidores. que as partilhas dos ditos orfaõs
fezerem, que leuem mais que cinco reaes por mi-
lheiro, atee contia de trinta mil reaes, em que mon-
ta a ambos os Partidores cento e cincoenta reaes : e
fe os bens de que· fezerem ' partilha menos valerem ,
leuaram polo fobredito refpeito ; e poíl:o que muito
mais valham, nom leuaram os ditos Partidores mais
que

42
5ro O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRorn. T1T. LXVII.

que os ditos cento e cincoenta reaes ; e eílo quer fe


as partilhas façam na Cidade, Villa, ou Luguar, ou
em feu Termo. Pero fe a fazenda dos ditos orfaõs
valer mil cruzados d'ouro, leuará o Juiz, que ao fa_
zer de tal partilha eíl:euer, huü cruzado d'ouro, e
os Partidores ambos outro cruzado d'ouro. Pero
nom he Noífa tençam, que fe em algüa Cidade,
Villa, ou Luguar de Noífos Reynos lcuam menos
o Juiz e Partidores, do que aqui he declarado, que
po!fam leuar, faluo aquellp que fe em taees Cida-
des , Villas, ou Luguares acoftuma leuar. E fe o
dito Juiz ou Partidores mais leuarem do que dito
he , aueram as penas contheudas no Titulo Da pena
que aueram os Ojficiaes, que leuam mais do contheudo em
Jeu Regimento. E quer as partilhas fe façam na Villa,
quer no Termo, nom comeram o Juiz, nem Parti-
dores, nem Efcriuam aa cuíl:a dos orfaõs, poíl:o que
atee aqui o contraira vfaffem, ou pera ello quaefquer
fentenças tenham ; e fazendo o contraira, aueram
as penas por Nós ordenadas aos que leuam mais do
que he contheudo em feu Regimento.
58 E SE o Juiz dos orfaõs leuar fala rio alguü de
inuenrario , ou partilha , ou conta , a que elle nom
for prefente , ~eremos que por eífe mefmo feito
perca o Officio pera aquella peffoa que o acufar , fe
pera ello for idoneo ; e nom fendo idoneo , Nós lhe
Daremos luguar que o poífa vender, e auer pera fi
o preço que por ello lhe derem , ou lhe Faremos ou-
tra merce que Nos bem parecer. E fazendo outrem
a
DO J U 1 7. D O S O R F A ÕS E T e. 5II
a conta por abfencia ou impedimentd do Juiz, ou
auendo em alguü Luguar Official deputado pera
tomar as ditas contas , nom leuará mais dellas
do que por eíl:e R·e gimento o Juiz dos orfaõs póde
leuar.
59 E SE alguus orfaõs ou menores de vinte e
cinco annos, que teuerem Tutores ou Curadores ,
cafarem fem aué1:oridade do Juiz dos orfaõs, fe tal
cafamento for feito por vontade do dito orfaõ , fem
induzimento de peffoa algüa , fe eíle cafamento foi
menos daquello que o orfaõ podera achar , fegundo
quem he, e os bens que tem , polto que o dito or-
faõ aíli feja cafado, nom lhe mandará o Juiz entre-
guar feus bens, atee cheguar á hidade de vinte an-
nos ; e poíl:o que leue Notfa Carta , ou dos Noífos
Defernbarguadores, porque lhe fejarn entregues feus
bens , fe em ella nom fezer expreffa mençam, como
fe elle cafou fem auétoridade do Juiz dos orfaõs,
nom comprirá o dito Juiz tal Carta , nem lhe man-
dará entreguar feus bens, atee cheguar a hidade de
vinte annos , como dito he. E eíl:a pena auerá outro
qualquer , que cafar com algüa orfaã ou menor de
vinte e cinco annos , que Tutor ou Curador teuer ,
fe tal cafamento fezer fem auétoridade do Juiz dos
orfaõs.
60 E CASANDO alguu orfaõ, poíl:o que Tutor
ou Curador nom tenha , por enguano · ou induzi-
mento que lhe por algua peffoa feja feito , fem au-
él:oridade do Juiz dos orfaõs, aquelle que tal indu-
zi-
512 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. TrT. LXVII.
zimento ou enguano fezer, ferá conftrangido per-
fazer ao dito orfaõ , fobre a fazenda da dita peffoa
com que aíli cafou, tanto quanto lhe deuera feer
dado em cafamento com a dita peffoa com que aíli
cafou.
61 E SE alguü Tutor, ou Curador induzir alguü
orfaõ , ou menor de idade de vinte e cinco annos ,
cujo Tutor ou Curador for, e o cafar fem auél:orida-
de do Juiz dos orfaõs, ferá coníl:rangido dar de fua
fazenda ao dito orfaõ outro tanto, quanto elle teuer,
e aalem dcllo ferá prefo atee Noffa Merce, e pagua-
rá mais pera a Noffa Camara o quinto daquello que
por bem defle Noffo Regimento ao dito orfaõ ha de
fatisfazer de pena , nom fe defcontando polo tal
quinto coufa algüa do que ao dito orfaõ Mandamos
dar.
62 E SE alguü Tutor, ou Curador, ou outra
qualquer peffoa que teuer algüa orfaã, ou menor de
vinte e cinco annos em fua cafa, em guarda, ou por
foldada, poílo que orfaã nom feja , eftando em fa-
ma de virgem , pofto que virgem nom feja, com
ella reuer parte , aquelle que tal fezcr aa dita orfaã,
ou menor, cujo Tutor ou Curador for, ou que cm
fua guarda, ou por foldada teuer, ferá conftrangido
paguar aa dica orfaã , ou menor , o cafamento em
dobro que ella merecer, fegundo a qualidade de fua
peffoa ; e aalem deflo , aquelle que tal fezer ferá
prefo , e degradado por oito annos pera cada huü
dos Noffos Lugares d' Alem mar em Africa; e nom
ten-
DO J U I Z D OS O R F A ÕS ET e. 5l J
tendo por onde fatisfazer o dito cafamento em do-
bro, ferá degradado pera fempre pera a Ilha de Sam
Thome; e porem vindo defpois a teer por onde pa-
gue , lhe paguará o cafamento fi.ngelo.
63 E o Juiz dos orfaõs, ou Efcriuam deites, que
com algua orfaã dormir, que feja de fua jurisdiçam.
perderá o Officio, e ferá degradado dez annos pera
cada huu dos Luguares d' Alem , e mais lhe pagua-
rá o cafamento que ella merecer em dobro.
64 E DEFENDEMOS ao Juiz dos orfaõs, que nom
mande entreguar os bens a ninhuu orfaõ , faluo fe
ouuer vinte e cinco annos compridos, ou for caíado
por fua auétoridade , defpois d'auer dezoito annos ,
ou leuar Carta de foprimento de hidade, paflada
polos Defembarguadores do No(fo Paaço a que per-
tence, e nom por outros Officiaes, nem Corregedo-
dores , nem Contadores dos Refidos ; a qual Carta
ferá dada aos baroês que ouuerem vinte arrnos , fe
forem de tal fifo, entendimento, e difcriçam , e aas
femeas de dezoito annos fendo de tal fifo e difq_i- .
çam , como dito he
65 E AUENDO o menor tal Carta, ou fendo ca-
fado, e de hidadc: de vinte annos, fendo-lhe feus bens
entregues por vertude da tal Carta , ou cafamento ,
ferá di em diante em todo cafo auido por maior de
vinte e cinco annos, em tanto que vendendo elles ,
ou emalheando, ou obriguando algúa poffifTam de
raiz com confentimento, é auél:oridade de Juíliça ,
ainda que os ditos menores fejam lefos, e danifica-
Liv. L Ttt dos ,
514 O PRIMEIRO Lzv. o.As ÜR.DEN. TrT. LXVII.
dos, nom poderam vfar do beneficio da reftituiçam,
que por Dereito he outorguado aos menores , quan-
do farn lefos ; e fazendo elles a dita emlheaçam ou
obriguaçam fem auécoridade de Jufiiça, em tal ca-
fo o tal contraélo de emlheaçam, ou obriguaçam de
bens de raiz por elles feito, ferá ninhuü , e de ni-
nhuü valor , affi como fe o dito menor nom ouueffe
impetrada a dita Carta , ou nom foffc cafado.
66 ITEM o Juiz dos orfa6s terá jurisdiçam em
todolos Feitos Ciueis, que os orfaõs ora fejam Auto-
res , ora Reos trouuerem , em quanto nom forem
emancipados, ou cafados, e affi dos <lefafifados, ou
prodiguos, que Curadores teuerem , com quaefquer
peífoas, ou as pelfoas com elles, aíli Autores, como
Reos ; e poílo que nas taees coufas demandàdas > ou
auçoês fobre que fe litigua, alguús maiores tenham
parte por ainda nom terem partido , toda via fe
trautará a dita demanda perante o Juiz dos orfaõs,
a ffi polo que pertence aos orfaõs , e menores, como
aos maiores; faluo fe as contendas forem com ou-
tros orfaõs, ou peffoas priuilegiadas de femelhantes
priuilegios, porque em taees cafos o Autor feguirá
o foro do Reo, fe d'outra jurisdiçam for.
67 E ASSI terá o dito Juiz dos orfaõs jurisdiçam
em todos os Feitos Ciueis , que fe por os ditos or-
faõs, poílo que emancipados ou cafados feja.m , mo-
t1erem fobre partilhas , ou inuentarios , ou quando
quiíerem demandar feus Tutores, ou Juízes dos or-
faõs , ou Prouedores paffados , fobrc a entregua ou
rnaa guouernança de fua fazenda.
Do Ju rz D os o R F A õs ET e. 5r 5
68 E AS apelaçoes que dante os ditos }urzes
dos orfaõs fahirem , fe forem antre o orfaõ e outras
partes , ou antre os orfaõs fobre partilhas , hiram
aos Sobrejuizes. E fe forem fobre inucntarios, ou
antre o orfaõ e o Tutor, ou Juiz , ou Prouedor , hi-
ram as apclaçoes aa Caía da Sopricaçam , aos Def-
embarguadores que pera ellas na dita Cafa fam de-
putados.
69 E Nos Feitos Crimes nom fe entremeta o
Juiz dos orfuõs, porque o conhecimento delles per-
tence aos Juízes Ordinarios.
70 E PORQY.E algüas peffoas poderofas tomam
alguüs orfaõs, e fe feruem delles fem licença, nem
auél:oridade do Juiz dos orfaõs , e poílo que lhe fe-
jam requeridos os nom querem dar, nem entrcguar
a feus Tutores, ou Curadores, Defendemos, que ne-
nhüa peffoa de qualquer qualidade que feja nom
tome ninhuü orfaõ , nem fc ferua delle no Luguar
onde teuer fc:u Tutor ou Curador ; faluo fe lhe for
dado por feu Tutor, ou Curador com auétoridade
do Juiz dos orfaõs , ao qual M:rndamos, que quan-
do ouucr de dar os ditos orfaôs por foldada, que os
dec a taees peffoas de que fejam bem trautados , e
com aquellas feguranças e condiçoe.s , · que atras fi-
cam declaradas : e quaefquer peffoas que o contra-
rio fezerem, e os ditos orfaõs d'outra maneira to-
marem , e fe delles feruircm , paguaram por cada
mes ao dito orfaõ mil reaes • e outro tanto pera os
catiuos; e o Tutor ou Curador que o dito orfaõ aíli
Ttt 2 lei-
516 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. Tn. LXVII.
leixar eftar , paguará cfta pena em dobro , conuem
a faber , ametade pera o dito orfaõ , e ametade pera
os catiuos; e o Juiz que em ello for negrigente, pa-
la primeira vez ferá fufpenfo do Officio huü anno ,
e pala fegunda perderá o dito Officio , e paguará
outro tanto como hade paguar aquelle , que o dito
orfaõ affi teuer fem fua licença e auétoridade. E to-
mando-o fóra do Luguar onde affi teuer feu Tutor,
ou Curador, paguará ao dito orfaõ o que merecer
pala foldada.
71 E PERA oi ditos orfaõs terem algüa mais fe-
gurança de fuas fazendas 1 Mandamos que os Juizes
dos orfaõs de todalas Cidades , e Villas principaes
de Noffos Reynos, fejam theudos e obriguados can-
to que os ditos Officios ouuerem , ante de os come-
çarem feruir, de darem fiança de quatrocentos mil
reaes , dando pera ello fiadores abaftantes e abona-
dos , os quaes fe obriguaram a compoer e paguar
toda perda ou dãno , que por malicia , ou culpa dos
ditos Juizes fe feguir aos ditos orfaõs , atee a dita
contia de fua fiança ; e a dita fiança ferá defaforada,
e com declaraçam, que os orfaõs ajam o feu por
cada huü delles in folido, qual os orfaós mais qui-
ferem , e polo milhar parado. E efta fiança ferá
efcripta e notada por Tabaliam pubrico das Notas ,
e tresladada no liuro da Camara, pera a todos feer
notaria. E nos outros Luguares de Noíl'os Reynos
ferá a fiança de trezentos mil, e duzentos mil reaes,
fegundo a pouóaçam e grandeza delles. E nos mais
pequenos ferá de cem mil reaes. 72
Do EscR. DOS ORF. E DO Q.!JE A SEU ÜFFIC. PERT, 517

72 E o Juiz dos orfaõs, que o dito Officio feruir


fem dar a dita fiança , perderá o dito Officio , e o
E _fcriuam que com elle feruir perca iílo mefmo feu
Officio, e os Officiaes da Camara, que lho leixarem
feruir fem teer dado a dita fiança , pague cada huü
vinte cruzados, ametade pera quem o acufar , e a
outra metade pera os catiuos ; e aos ditos Officiaes
ficará a extimaçam da fobredita quantia das fian-
ças, auendo refpeél:o aa grandeza do tal Luguar ,
como dito he.
73 ITEM ninhuu Juiz, nem Efcriuam dos or-
faõs, nom p.oderam feer J uizes Ordinarios em quan-
to a ili forem J uizes , ou Efcriuaes dos orfaõs, ainda
que o elles queiram feer.

T I T U L O LX VIII.

Do Ejcriuam dos orfaos, e do que a Jeu Ojficio


pertence.

Ü Efcriuam dos orfaõs ferá muito deligente a ili


em efcreuer, e poer em boa recadaçam os bens, e
rendas dos ditos orfaõs , como em oulhar por fuas
peffoas ; porquanto pera ello foram efpecialmente
criados , e ordenados _eíles dous Officios de Juiz , e
Efcriuam , os quaes antiguamente pertenciam aos
Juízes Ordinarios, e Tabaliaés de Noífos Reynos ,
e por fuas ocupaçoes ferem muitas , norn podiam
feer
518 O PR.IMIUlo L1v. DAS. OaDEN. Tn. LX.VUI.
feer tambem prouidos os ditos orfa5& , e fuas fazen-
das como detiiam feer , por lhe nom ferem dados
Officiaes efpecialmente pera ello deputados. E por
tanto Mandamos ao Efcriuam dos ditos orfaõs, que
com o Juiz delles faibam quantos orfaõs haa em
a Cidade , Villa , ou Luguar onde for Efcriuam , e
efcreuelos-ha todos em huü liuro , declarando o no-
me de cada huü orfaõ , e cujo filho foi , e de que
hidade he, e onde viue, e com quem, e por que
maneira , e quem he feu Tutor , ou Curador ; e elfo
mcfrno efcreuerá o inucntario de feus bens, alli mo-
ueis , como de raiz, o qual fará do dia que falecer
o padre, ou madre dos ditos orfaõs, ou orfaãs, a huú
mes , declarando cm elle as. confrontaçoés dos bens
de raiz , e o Luguar onde fam , e dos moueis poerá
taees finaes, por onde em todo tempo fe polfam
bem conhecer , e {e nom faça nelles duuida ; e affi
poerá no dito inuentario todalas druidas, que a eífes
orfaõs forem deuidas, ou em que elles a outrem fo-
rem deuedores : e fe algüas coufas alheas hi forem
achada.s , feja declarado no dito inuentario cujas
fam , e por que maneira vieram a poder do finado
em cuja caía foram achadas , e fe tem os ditos or...
faõs alguü dereito nellas. E por quanto Nós Man-
damos ao Juiz dos orfaõs em feu Regimento, que
por falecimento do pay , ou mãy dos orfàõs , faça
loguo aualiar e partir os bens dos ditos orfaõs ,
Mandamos ao Efcriuam , que mui declaradamente
efcreua nos inuentarios as aualiaçoes e partilhas ,
affi
Do EscR. oos ORF. li Do Q!JE A sEu O:rrtc. PER T. 519

a.ffi pola guifa que forem feitas, pera ao tempo da


entregua nom auer antre os herdeiros duuidas, nem
contendas ; e bem affi poerá nos ditos inuentarios
toda las Efcripturas, que aos ditos orfu6s pertencem,
nom fe tresladando porem as ditas Efctipturas to-
das , foomente o de que cada hüa Efcriptura he.
1 E TÀNTO QVE os ditos inuentarios forem fei-
tos como dito he , atfentará no cabo dclles as tuto-
rias , poendo declararadamente fe fam teílamenta-
rias , conuem a faber , leixadas cm teíl:amento, ou
legitimas , ou datiuas , e affi affentará as fianças , e
fiadores, ou quaefquer outras obriguaçoês, que pera
fegurança de boa adminiílraçam das ditas tutorias
os Juízes dos orfaõs tomarem aos ditos Tutores,
como em feu Regimento lhes he mandado.
::2 !TEM o Efcriuam dos orfaõs efcreuerá no
cabo dos ditos inuentarios todolos arrendamentos ,
que o Juiz fezer dos orfaõs, e de feus bens, que nom
pafiarem de tres a110os, e os preços dos ditos arren-
damentos, ou foldadas , nom paffarem de trinta mil
reaes ; porque todos os outros arrendamentos , que
nom forem das ditas qualidades, efcreuerá o Taba-
liam das Notas, fegundo he contheudo em feu Ti-
tulo. E dos arrendamentos que forem feitos polo
Tabaliam das Notas , .fará aífento o Efcriuam dos
orfaõs nos ditos cabos dos inuentarios , e as paguas
delles , em maneira que a recepra feja bem certa·,
pera fe faber como fe fazem as defpefas dos ditos
orfaõs, as quaes defpefas cffo rnefmo affentará nos
dí-
po O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. Tn. LXVIII.
ditos inuentarios, pera todo vijr a boa recadaçam ,
quando os Tutores derem fuas contas , e fezerem
encregua aos orfaõs , ou a outros feus Tutores.
3 ITEM quando alguüs orfaõs forem dados por
foldada a algúas pelToas , como no Regimento do
Juiz he ordenado, poerá o dito Efcriuam no dito
inuentario mui declaradamente a quem fam dados,
por quanto tempo, e por quanto preço, e em que
tempo fe hade paguar a dita foldada.
4 ITEM poerá no dito inuentario todo aquello ,
que he ordenado ao Juiz , e Tutores , e Partidores
por feu trabalho, e falario ; e polo dito modo poe-
rá todalas defpefas que forem feiras polos Tutores,
ou Curadores por mandado do Juiz , pera todo vijr
a boa recadaçam como dito he.
5 ITEM o dito Efcriuam nom tomará pera fi por
foldada , nem por outra ninhüa maneira , ninhuü
orfaõ de fua jurisdiçam , pofto que lhe queira dar
mais preço, nem outra ninhüa coufa dos ditos or-
faõs , fegundo DilTemos no Titulo Do Juiz. dos or-
faõs, e fob as penas hi contheudas.
6 E o dito Efcriuam nom leuará mais da efcri-
ptura que efcreuer , affi nos ditos inuentarios , co-
mo em quaefquer outros Autos, do que leuam os
outros Efcriuaes, conuem a faber, por cinco regras
huü real , e mais da hida, fe for na Villa, ou arra-
balde , fete reaes ; e efio mefmo lhe feram contadas
as bidas , que forem a alguús Luguares fóra da Ci-
dade, ou Villa, fazer os dit'os inuentariosà E quan-
do
Do EscRIUAM DOS ORFAÕS ETC. 521

do fe fezerem as partilhas, e bem affi quando fe to-


marem as contas aos Tutores, leuaram os Efcriuaês
dos orfaõs, aalern do que fe lhe montar aas regras,
fuas aífentadas , duas em cada dia , conuem a faber,
hüa pola menhâ, e outra aa carde, fe tanto durarem
as ditas partilhas ou contas. E de cada affenrada le-
uaram fere reaes; e d'affencar hüa turoria leuará cres
reaes e meo; e d'affentar as dadas dos orfaõs a folda-
das leuará feis reaes, os quaes paguará aquelle que
o tomar a foldada.
7 E Q!JANDO fe derem alguüs bois , ou vacas,
ouelhas , ou cabras d'arrendamenco, de que íe re-
queira huü foo termo, Ieuará d'affentar o ditto arren-
damento tres reaes e meo ; e fe huu foo boi ou va-
ca for dado d'arrendamento, daquelle foo leuará tres
reaes e meo.
8 hEM quando a!Ientarem as defpeías dos or-
faõs nos inuentarios Ieuaram de cada affentada de
defpeías dous reaes, ou aas regras, qual elles Efcri-
uaes mais quiíerem.
9 E EM rodo o mais que por eíle Regimento nom
for prouido expreffamente do que ham de leuar, e
em quanto a eíl-e nom contradiffer, leuaram todo o
que he ordenado , que os outros Efcriuaês ham de
leuar, e doutra guiía nom , fegundo he contheudo
no Titulo Do que ham de /eutJr os 'Iabaliaes , e Eftri-
uaes.
10 E P0RQJ!E nom feria razam que os ditos
Efcriuaes por cada vez que efcreuerem nos ditos in-
Liv. 1. Vvv uen-
512 O Pa.rMEIRo L1v. DAS OaoEN. T1T. LXVIII.
uentarios , que muitas vezes pode durar por vinte
annos, fruem bufca como paífa de feis mefes, Man-
damos que os ditos Efcriuaés dos orfaõs nom leuem
ninhüa bufca dos ditos inuentarios , faluo trinta e
íeis reaes por anno, na fim do anno, e eílo atee tres
annos compridos, que fam por os ditos tres annos
cento e oito reaes , e di em diante nom ltuem mais
bufca ninhua, poíl:o que paífe muito tempo e annos
que fe nom efcreueJTe coufa algüa no dito inuenta-
rio, e que feja neceffario bufcar-fe muitas vezes os
diros inuentarios pera fe efcreuerem as coufas dos
orfaõs. Nom Tolhemos porem, que os ditos Efcri-
uaes poífam leuar bufca dos ditos inuentarios, quan-
do lhe forem requeridos por algüa parte, que nom
feja por parte dos orfaõs , ou de feus Tutores, o que
Mandamos aos Tabaliaés que leuem de bufca dos
feitos retardados. E os Efcriuaês que mais leuarem
aueram a pena contheuda no ~into Liuro no Ti-
tulo Da pena que aueram os O.Jjiciaes, que /euam 1nais
do contheudo.
1l E MANDAMOS que em todas as Villas, e Lu-
guares, onde na Villa e Termo ouuer quatrocentos
vezinhos, e di pera cima, aja fempre Efcriuam dos
orfaõs apartado; e onde os nom ouuer, os Tabaliaês
da dita Villa, e Luguar feruiram o dito Officio de
Efcriuam dos orfaõs com os Juízes Ordinarios ;
faluo fe nas ditas Villas, e Luguares , que a quatro-
centos vezinhos nom cheguarem, efteuerem em co-
fiume e poífe antigua auer os ditos Efcriua~s dos
orfaõs,
Do EscRIUAM oos ORFAÔs RTc. 523

orfaõs. ou forem por Nós ordenados fem embarguo


de nom auer os ditos vezinhos.
12 E PERA os orfaõs terem algüa mais feguran-
ça de fuas fazendas • Mandamos que os Efcriuaes
dos orfaõs de todas as Cidades , e Villas principaes
de Noffos Reynos .fejam theudos e obriguados, tan-
to que os ditos Officios ouuerem , antes de os come-
çarem feruir, de darem fiança de duzentos mil reaes,
dando pera ello fiadores abaílantes e abonados , os
quaes fe obriguararn a cornpoer toda perda e dãno,
que por malícia ou culpa dos ditos Efcriuaes fe fe-
guir aos ditos orfaõs, atee a contia de fuas fianças; e
a dita fiança ferá defaforada, e com claufula • que os
orfaõs ajam o feu por cada huü delles in folido, qual
os orfaõs mais quiferem, e polo milhar parado; e
eíla fiança ferá eícripta e notada per Tabaliam pu-
brico das Notas, e tresladada no liuro da Camara
pera a todos f-ecr notorio. E nos outros Luguares de
Noffos Reynos ferá a fiança de cento e cincoenta
mil , e de cem mil , fegundo a pouoaçam e grande-
za delles , e nos mais pequenos ferá de cincoenta
mil reaes.
13 E o Efcriuam dos orfaõs, que o dito Officio
feruir ícm dar a dita fiança, perca o dito Officio; e o
Juiz, que o perante fi confentir que ferua, perca ifTo
mefmo feu Officio; e os Officiaes da Camara , que
lho leixarem feruir fem teer dada a dita fiança, pa-
gue cada huü vinte cruzados , ametade pera quem o
acufar, e a outra pera os catiuos. E aos ditos Offi-
Vvv 2 c1aes
r24 O PuMuR.o Lrv. DAS 0RDEN. T1T. LXlX,
ciaes ficará a extimaçam da fobredita quantia das
fianças, auendo refpeito aa grandeza do tal Luguar
como dito he.

T l T U L O LXIX.
Do Curador que he dado aos bms do abfe11te , e aa he..
rança do finado , a que nom he achado herdeiro.

PORQ!JE muitas vezes acontece ferem alguús


catiuos em terra de imiguos, ou fam abfentes , e fe
nom pode faber fe fam mortos, fe viuos, e feus bens
eílam defemparados por hi nom auer quem delles
tenha carreguo, qual deue, Mandamos que fe o que
for catiuo nom teuer molher, ou padre, fob cujo po•
der efteueffe ao tempo que o catiuaram , que feus
bens deu a adminiftrar o Juiz dos orfaõs ; ou aquelle
que teuer carreguo de prouer acerca dos bens dos
menores, e dos outros a que deue feer dado Cura-
dor, fegundo Di íTemos no Titulo Do Juiz dos orfaõs,
proueja acerca dos bens daqueJle que affi for cati-
uo , e lhe dee Curador aos bens tanto que lhe for
requerido, e notificado por qualquer do pouo, e elle
for certificado de feu catiueiro; e tenha aquella ma-
neira em dar o dito Curador , e em fazer arrecadar
e adminiíl:rar feus bens , que Mandamos teer nos
bens dos menores. E eíla mefma maneira Manda-
mos que fe tenha acerca dos bens daquelles, que fam
abfen..
Do Cull.AD. CU,E HE DADO AOS BENS DO A!ISENTE. 525
abfentes , em tal maneira que fe nom pode faber
onde fam , nem fe fam mortos, fe viuos.
1 ÜuTRO s1 finando-fe alguü homem- ou mo-
lher, que nom tenha herdeiro alguü que fua herança
queira aceptar , nem molher que fua herança quei-
ra auer fegundo Noffa Ordenaçam , em tal cafo o
Juiz o fará loguo faber ao Mempofteiro Moor dos
catiuos deffa Comarca, a que das taees heranças Te-
rnos feita merce, pera a mandar arrecadar em nome
dos ditos catiuos , ou dizer que a nom quer aceptar:
e nom a quel'endo elle auer, nem defender , entam
dará Curador aa dita herança , o qual com o dito
Juiz. faça inuentario de todos os bens que aa d ita
herança pertençam , fe ainda o nom teuer feito , e
adminiftrará a dita herança affi corno DifTemos nos
Curadores dos prodiguos , e furiofos ; o qual defen-
derá a dita herança das demandas , que os Credores
contra ella quiferem poer , bem e fielmente , fob
pena de paguar todas as perdas e dãnos, que por fua
culpa ou negrigencia fe recrecerem.

T 1-
526 O PRIME.IRO Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. LXX.

TITULO LXX.

Do Contador dos feitos, e cujlas, e como Je ham de contar


aj[t na Corte , como nas Cidades• //ilias, e Luguares
de Noffos Reynos e Senhorios.

Ü S Contadores das cufias contaram todas as cu-


ftas affi pe!Toaes, que fam pera mantimento das pef-
foas, como as do procefio, que fam o que os Eícri-
uaes e Tabaliaês ham d'auer da efcriptura , e o fala-
rio dos Procuradores, e outros quaefquer Officiaes.
As quaes nom contará outra algüa peffua affi em a
Noffa Corte, e Caía d<? Ciuel, como em as Cidades,
Villas, e Luguares , onde Contadores de cuílas ou-
uer ; e fendo a conta per outrem feita feja ninhüa e
de ninhuü efeél:o, e torne-fe a fazer por o Contador
a que pertencer ; e aquelle que a outrem a der à fa-
zer pague ao Contador de pena o dobro do que ha
d'auer da tal conta, aalem do feu fa.lario ordenado
que lhe della montar. ;pero fendo o Contador fuf-
peito , ou fe por alguü outro impedimento a nom
poder fazer, ou defpois de frita as partes aleguarem
erro de conta, em taees cafos fe for em Noífa Corte
o Chanceler Moor , e na Cafa do Ciuel o Chance-
ler della , e nas Cidades e Villas e outros Luguares
o Juiz do feito cometeram as taees contas ao Re-
ueedor, fe o hi ouuer por Nós pera ello ordenado; e
nom o auendo hi, a outrem que as bem e fem fuf..
peita poífa fazer.
l E
Do CoNTADOll DOS FEITOS E CUSTAS IT e. 527
1 E BEM Assr faram as outras contas , que os
Julguadores antre partes mandarem fazer nos feitos
que fe perante elles rrautarem ; porem neíl:e cafo
os Julguadores poderam mandar fazer efl.as contas
dantre partes a feu requerimento , ou de cada hüa
dellas , por outras peíloas em que fe louuem, auen-
do hi pera iffo caufa legitima, ou fendo a qualidade
das comas cal, que lhe pareça bem fazer-fe affi. E os
que affi fezerem as ditas contas antre partes nom
poderam leuar maior falario da dita conta , que o
que lhe for taxado polo Juiz do feito que a conta
mandou fazer ; e leuando mais, ou leuando fem lhe
feer taxado , aueram a pena que por Nós he poíl. a
aos Officiaes que Jeuam mais do contheudo em feus
Regimentos. E do que palo Juiz do feito affi for
taxado nom auerá apelaçam , nem agrauo, fe a con-
tia do principal , fobre que fe o feito trauta, couber
na alçada do dito Julguador; e nom cabendo o prin-
cipal fobre que fe o feito trauta em fua alçada, pode-
ram os Contadores ou as partes agrauar da dita taxa.
çam da conta por petiçam na Caía da Sopricaçam ,
ou do Ciuel , pera a Mefa grande de cada hüa das
ditas Cafas, e dantre outros Julguadores por Eftor•
mento d'agrauo pera os Oefembarguadores do agra-
uo de cada hüa das ditas Cafas , a qualquer dellas que
por Noífas Ordenaçoés o conhecimento pertencer. E
defpois de taxado o falario da dita conta o feito tor.
nará aa maõ do Contador, da qual nom fahirá atee
lhe feer paguo o que lhe affi for taxado.
2 E
528 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN, T1T. LXX.

2 E PORQYE as cuílas peffoaes fe ham de contar


aos litiguantes, a que forem julguadas, mais e menoli
fegundo a deferença das peífoas, e de fua honra, qua-
lidade ,e eílado, Mandamos que em o contar das di-
tas cu ílas fe tenha a maneira feguinte; conuem a fa-
ber, fe a parte, a que taees cuíl:as forem julguadas ,
for Caualeiro, ou Vaffalo, ou Cidadaõ, ou Bacharel,
ou Efcudeiro, ou Acontiado em caualo , ou doutra
mai~r condiçam , ou for mercador , e fe1.er certo
que dezimou pouco ou muito aquelle anno, que o
feito trautou , em cada húa de Noífas Alfandeguas
algüa mercadoria fua, ou Meílre de nao de caflelo
dauante , ou de barca que feja de carregua de oiten-
ta toneis, e di pera cima , contar-Ihe-ham quarenta
reaes por dia pera fua peffoa , e quinze reaes pera
huü feruidor, e quinze pera o caualo , fe o trouuer,
3 E QllANDo algü_as partes forem de tal eíl:ado e
qualidade , a que fe deuam contar mais feruidores,
affi de pee , como efcudeiros, como ao diante ferá
declarado, contar-lhe-ham pera cada huu feruidor
de pee a doze reaes por dia, e aos efcudeiros, que lhe
ouuerem de feer contados, a quinze reaes por dia a
cada huü, e quinze pera o caualo.
4 1TEM aos Moedeiras, e Efpinguardeiros , e
Beefteiros do Conto, e do Monte, affi apoufentados
como por apoufentar, contaram a quarenta reaes por
dia, e fendo prefo cada huü de todos os fobreditoa
contem-lhe cincoenta reaes por dia, quer tenha fer-
uidor, quer nom.
.s
Do CONTADOR DOS FEITOS E CUSTAS ET c. 529
5 ITEM todos No!fos moradores , que por orde-
na.nça ajam d'auer ceuada quando teuerem caualo,
aueram as cuílas como Noffos Efcudeiros ; e os ou-
tros Noffos criados que por Noffa Ordenança nom
ajam d'auer ceuada, poíl:o que caualo tenham, aue-
ram trinta reaes por dia.
6 E SE alguü homem que Efcudeiro nom feja
aleguar, que he homem aba fiado, e que coíl:uma teer
caualo, é que em quanto andou na demanda trouxe
fempre caualo no Luguar onde feguio a demanda 1
contar-lhe-ham as cuílas de fua peíloa como em ci-
ma Diílemos, que fe contem ao Vaffalo.
7 E QYANDO as molheres de quaefquer pefToas
acima nomeadas feguirem feu feito por fi , aíli em
vida do marido como defpois , em quanro em fua
honra efieuerem , contar-lhe-ham fe em elles forem
vencedores, como fe deueriam contar a feus maridos.
8 E Aos Creliguos d'Ordens de Miffa, e Benefi-
ciados• contaram as cuílas como aos Vaffalos, e Ca-
ualeiros.
9 E SE a pefioa a que as cuflas ouuerem de feer
contadas for piam , contem-lhe a trinta reaes por
dia, andando foi to; e fe for prefo, Mandamos que
aja cincoenta reaes por dia, quer tenha feruidor ,
quer nam : pero fe o tal prefo for Official macanico
Auemos por bem , que lhe contem a feffenta reaes
por dia , fe elle na Cadea nom vfar de feu Officio
aíli liuremente como faria fendo foica. E aas molhe-
res dos ditos piaens contaram a trinta reaes por dia,
Liv. l Xxx fendo
530 O Pn1 MErno L1v. DAS ÜRDEN. Trr. LXX.

fendo foicas , e fendo prefas lhe contaram quarenta.


reaes , quer tenham quem as ferua , quer nam.
10 E Q.UANDO alguü litiguante nom feguir feu
feito por fi em peíloa, e o mandar requerer por ou-
trem, auerá de cuílas fegundo for a qualidade do re-
querente, nom pa!Tando do que ouuera o que o aITT
enuiou , fe por fua pelfoa a dita demanda requerera.
II E QYANDO a parte vencedor for morador no
Luguar, ou feu Termo onde fe trauta o feito, con.
tar-lhe-ham foomente os dias que polos termos do
feito (e moílrar , que parec.eo nas Audiencias , ou
deu inquiriçam , ou for veer como juram as tefte ...
munh,1s, que fe contra elle derem.
12 E POR quanto aalem dos ditos dias as partes
vaam outros muitos dias feguir feus feitos , e eítan-
do conclufos em poder do Julguador aguardando as
Audiencias quando feus feitos ham de fahir , e por-
que taees dias fam incertos, dará o Contador jura-
mento aa parte, que digua quantos fam eífes dias
que polos termos do feito fe nom moftram , e os
que jurar, fe vijr que podem caber no tempo que o
proceífo durou , ello lhe contará ; com tanto que
por muito tempo1 que lhe jure lhe nom conte • mais
que quarenta dias em cada huü anno, no tempo que
o feito durar , e falarem a elle ; porque efto fe co-
ftumou aITT fempre, e chamam-fe por ello dias do
coílume , os quaes dias do coftume aueram foo-,.
mente luguar naquelles que forem moradores no
Luguar onde fe trautar a demanda.
13 E
Do CoNTADOR nos FEITOS E CUSTAS ET e. 531

13 E SE a parte vencedor nom for do Luguar e


Termo, onde fe crautar o feito, e vier a eífe feito
doutro Julguado, a tal como eíle fe contaram os dias
que hi for detheudo por eífe feito, e os dias da hida
e vinda atee que chegue a fua cafa , contando a feis
leguoas por dia, e nom mais, e mais tres dias para
fe fazer e tirar a fentença; e e!lo fe entenderá, fe clle
nom veio hi por outra coufa, cá fe por arrecadar ou-
tra coufa veio mais que por feguir o feito ( o que
ficará em feu juramento ) cncam nom auerá cuftas,
fenom dos dias que parecer em Juízo , ou der in-
quiriçam, ou vijr jurar as teftcmunhas como dito
he, e os dias do coílurne como fe foífe morador no
Luguar , e doutra guifa nom , e eíle conhecimento
pertence ao Contador ; e fe jurar que veio mais hi
por feguir o feito , que por outra coufa, contar-lhe-
ha as cuílas, poílo que hi neguoceaffe outras coufas,
como lhas contara fe hi nom neguoceara outra cou-
fa, fenom a demanda. Porem quanto aos feilos dos
moradores das Ilhas, e Luguares d' Alem, que vierem
a efte Reyno feguir alguü feito, concar-lhe-ham pera
a tornada os dias que ao Contador parecer , que fe
no caminho pode deter. Porem fe o feito fe acabou
em tempo que nom auia hi nauio pera partir defte
Reyno pera as Ilhas , por fe nom coíl:umar naueguar
em tal tempo , feer-lhe-ham tambem contados os
dias, que fe por caufa de aíli nom achar paífagem
eíleuer retardado ; e fe acerca dello lhe recrecer al-
güa duuida fale-o com o Chanceler Moor; e fe for
Xxx 2 na
53 2 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. LXX.
na Cafa do Ciuel fale-o com o Chanceler da dita Ca-
ía, e nos outros Luguares com o Juiz do feito.
14 E PORQ!J E acontece muitas vezes , que eílas
partes que vem doutros Julguados de fóra fam Al-
faiates, ou Çapateiros, ou Officiaes doutros mefk-
res, dos quaes vfam continuadamente neffes Lu-
guares onde fe trauta a demanda , e foomente vaam
aas Audiencias os dias que as fazem , e as Audien-
cias acabadas tornam-fe loguo a feus Officios , e fe
de taees meíleres nom vfaffem poeriam maior deli-
gencia cm requerer feus feitos, e aueriam mais afi-
nha liuramento , a taees como eíl:es que affi vfam
continuadamente dos ditos meíleres , e delles ham
proueico nom lhe contem , faluo os dias que fe mo-
ftrar que pareceram em Juizo, ou deram inquiri-
çam, ou vijram jurar teflemunhas, e os dias do co-
ftume como dito he; e efla mefma regra fe tenha
naquclles, que durando a demanda viu em por folda-
das, ou andam a jornaes continuadamente no Lu ..
guar da demanda.
I 5 ITEM fe alguu. Vaílalo for pe{foa honrada ,
que rragua configuo alguú homem de caualo, ou de
pee, que com elle viua, o tal corno efte aja cuftas
pera fi e pera feu homem ; conuem a faber, o de ca-
ualo leue a quinze reaes pera fi, e quinze pera oca-
ualo, e o de pee que mais trouxer aalem do feu fer-
uidor a doze reacs por dia. E eílas mefmas cuíl:as
leuem as molheres de cada huú dos fobreditos , que
configuo trouuerem os femelhantes feruidores , ho-
mens
Do CONTADOR DOS FEITOS E CUSTAS - ET e. 533

mens ou molheres ; e eílo fc entenda, que os que aíli


trouuerem fejam de h_idade de quatorze annos a ci-
ma , e nom lhe contem fenom huü feruidor, pofio
que mais tragua ; faluo fe for das peífoas que mais
feruidores Mandamos contar.
16 ITEM quando algüa parte traz dous, ou
tres feitos, ou mais, como fe muitas vezes acon-
tece , ora os tragua todos com hüa parte , ora com
diuerfas, e for huü feito fentenciado com venci-
mento de cuílas , e os outros feitos efieuerem ainda
por fentenciar ao temp9 que fe contam as cuílas
do dito feito vencido , entam contem ao vencedor
todas as cu11as no dito feito findo, como que nom
trouxeíle outro feito ninhuú. Porem defpois quan-
do os outros feitos fam fentenciados , e nelles ou
em alguü delles ouuerem de feer contadas cuíl:as
ao mefmo vencedor a que ja foram contadas , o
Contador nom lhe contará todos os dias , que lhe ja
no outro feito foram contados, pera que o Contador
dará juramento ao dito vencedor fempre , quando
lhe ouuer de contar cuíl:as, fe lhe foram ja contadas
outras cuílas daquelle tempo que o feito, em que
lhas entonce conta , mais durou. Porem aquelle
ou aquelles , fobre que aíli nom forn contadas as cu-
fias dos dias , que o outro feito em que o vencedor
primeiro venceo durou, ferá obriguado paguar as cu-
fias dos dias, que os ditos feitos dúrararn, em quanto
o feito que primeiro foi fentenciado durou , foldo
aa liura per repartiçam dos dias que os feitos junta-
rnen-
534 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRorn. TIT. LXX.

mente fe trautaram, os quaes fe paguarnm aaquel!e


que ja foi primeiro condenado que as paguaíle ; e
nom eíl:ando elle no Luguar onde fe a dita conta
fezer, o Contador as fará entreguar ao Mempoíl:ei-
ro dos catiuos do dito Luguar; e fe eíle que pri-
meiro foi condenado, e a que as ora Mandamos tor-
nar, as vier demandar atee dous mefes do dia que
forem entregues ao Mempoíl:eiro , o Mempoíl:eiro
lhas entreguará; e nom as vindo pedir no dito tem-
po ficaram deuolutas aos catiuos. E fendo cafo que
ao tempo que o Contador conta as ditas cuílas os
outros feitos forem fentenciados com vencimento
de cuíl:as de peíloa , entam repartirá o Contador as
ditas cuíl:as de dias de peíloa por o outro feito, ou
feitos em que lhe foram julguadas cuílas, que forem
fentenciados ao dito tempo que affi contam as ditas
cuílas; porque os feitos em que nom for vencedor
em cuílas nom ham d'entrar em repartiçam pera
por elles lhe ferem defrontados dias alguüs.
17 ITEM muitas vezes acontece, que molheres
que nom fam de Vaffalos , nem das peffoas que cu-
fias de Vaffalos deuem leuar, e iffo mefmo homens
velhos , ou mancos , ou doentes , que nom podem
vijr de pee, e trazem beílas aluguadas em que vem,
quando taees peffoas forem vencedores em cuílas,
contar-lhe-ham os alugueres que fezerem certo que
deram por eílas beíl:as em que vieram , e eíl:a proua
daram por teíl:emunhas, ou por Efcriptura, e fe dif-
ferem que nom tem teíl:emunhas, nem Efcriptura ,
ficará
Do CoNTADOR nos FEITOS E cusTAS ET e. .535
ficará em feu juramento , com tanto que o que aíli
jurarem nom pafTe de duzentos reaes.
18 ITEM quando forem julguadas aa parte ven-
cedor as cuílas do proceílo foomcnce , contem todas
as cu_!las que a parte fezer no procefTo , e mais narn;
e quando achar que as cuíl:as fam julguadas em do-
bro ou rresdobro, contará todas as cuíl:as, que fe mo-
firar que a parte fez, em dobro ou tresdobro ; faluo
ailinatura , e o falaria do Procurador, e feitio da fen-
tença , e Chancelaria della , e a conta do Contador.
19 h EM contará aas partes vencedores em cu-
fias todalas barcas que paíl'arem a traués em vindo
ao feito , e tornando pera fua cafa quantas vezes as
pafTarem ; e nom lhe contem barcas de longuo do
rio, poílo que o aleguem , foomente os dias da pef-
foa, contando a [eis leguoas por dia como dito he,
po.rque am [e coílumou antiguamente.
20 E Aos que vierem por mar de tal Luguar ,
que fe quiíeram bem podéram vijr por terra , con-
tar-lhe-ham a feis leguoas por dia. E fe vierem de tal
Luguar, que nom podiam vijr fenom por mar, con-
tar-lhe-ham todo tempo que andou no mar, quan.
to aa vinda.
21 ITEM muitas vezes acontece alguas partes
vijrem aa Corte , e feguirem feus feitos , e feche-
guarem a alguüs Fidalguos, ou Officiaes de Noíla
Cafa , ou femelhantes peífoas, per diuido, ou cria-
çam, ou amizade que com elles ham , e os acom-
panham e feruem, e lhes dam de comer, e guafa-
lhado
536 O PRIMEIRO Lrv. DAS ÜRDEN. T1T. LXX.
Ihado de poufada e cama, porem porque pala maior
parte fempre paguam o tal guafalhado e comer em
outras taees obras , ou femelhantes , e affi as panes
recebem perda de fua fazenda em virem , ou man-
darem requerer os ditos feitos , Mandamos que as
ditas cuíl:as lhe fejam contadas, como que comeram
aas fuas cuíl:as.
22 ITEM fe o feito fe trautar na Corte, e a parte
vencedor for Defembarguador, ou Procurador, ou
Efcriuam, ou tal Official, que por bem de feu Officio
deue eíl:ar cada dia nas Audiencias, ou fe fe rrautar
perante o Juiz, e a parte he Tabaliam, ou Procura-
dor , ou Porteiro , a cal como eíl:e nom fe contem
dias de pe(foa, nem de co!lume; porque ainda que
tal feito nom ouueffe, auiam de hir a Audiencia por
razam de feu Officio.
23 ITEM aos Meflres, Arcebifpos , Bifpos , e
Condes , e Priol do Eíprital contaram atee vinte
encaualguaduras a cada huü ; e fc menos tro~xerem
lhe contaram todos os que trouxerem, que fejam feus
proprios, e alheas nom; e fe mais trouxerem que
vinte , nom lhe contem mais.
24 ITEM ao Abade d' Alcobaça , e ao Priol de
Santa Cruz contaram atee noue; e fe menos trouxe-
rem contar-lhe-ham todos os que trouxerem, e ain-
da que mais traguam nom lhe contem mais ; e por
femelhante contaram aos outros Abades Bentos qua-
tro , e di pera fundo , e mais nam.
25 !TEM aos Comendadores Moores, ou Fidal-
guos,
Do CONTADOR. DOS FEITOS E CUSTAS ET e. 537
guos, ou Caualeiros honrados de femelhantes con-
diçoés, ou maior, feis encau alguaduras , e di pera
fundo; e fe menos trouxerem, contem-lhe todos os
que trouxerem feus proprios , e alheos nom ; e fe
mais trouxerem , nom lhos contem.
26 ITEM a outros Caualeiros , ou Defcmbargua-
dores , ou Doutores , ou Licenciados , ou Meíl:res
cm Theologia feitos por exame em Eíl:udo geeral,
ou Efcudeiros de qualidade mais fomenos, que os
fobreditos Cauaieiros, atee quatro encaualguaduras;
e fc menos trouxerem , contem-lhe todos os que
trouxerem , fendo feus proprios como dito he ; e fe
mais trouxerem, nom lhe contem mais.
2 7 E A OUTROS Caualeiros , e Efcudeiros mais ba-
xos, contaram huú homem de caualo, fe cm fua cafa
o coftumauam trazer, e dous de pee, f.e os trouuerem.
28 E A TODAS as peffoas, a que em cima Manda-
mos contar encaualguaduras , lhe feram contadas
quando as elle coíl:u maua de trazer configuo, quan-
do hia fora de fua cafa a outra parte , ou aa Corre ,
nom feguindo demanda; porque fe as nom cofiu-
maua trazer, quando hia fora de fua cafa a outra par-
te, nom lhe feram contadas quando as traz para fe-
guimcnto do dito feito ; foomente lhe contaram as
que affi coíl:umaua trazer, quando hia fora de fua
cafa.
29 E Bnr Assr nom lhe ferá conrada encaual-
guadura algüa a ninhüa peffoa das fobreditas, quan-
do cada hua das ditas pcíloas trouxer a demanda no
Liv. I. Yyy Lu-
538 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. LXX.
Luguar onde he morador, pofto que nas Audiencias
pareça, e que as ditas encaualguaduras ou mais ou me-
nos contiguo tragua; foornente lhe ferarn contadas,
quando for fora de fua caía a feguir a demanda , e a
demanda fo(fe com peíloa igual a clle, ou de maior
condiçam; e nom fendo a demanda com pe!foa igual
a elle , ou fendo a demanda em o Luguar onde he
morador, contaram foomente as cuftas dos dias da.
pe!foa a huü requeredor feu , fe o teuer , fegundo a
qualidade do requeredor ; conucm a faber , fe for
piam , como a piam , e fe for Efcudeiro, ou homem
de caualo, como a Efcudeiro, ou homem de caualo.
30 E Nos ditos cafos em que affi Mandamos
contar as ditas encaualguaduras a cada nüa das ditas
peíloas, fe nom trouxerem tantas c11caualguaduras,
e trouxerem feruidores d.e pee, ou hüa azemala, Oll
duas, e requererem que lhe contem tantos feruidores,
ou azemalas em luguar das encaualguaduras, contar-
lhe-ham os fcruidores que trouxerem, contando-lhe
a cada feruidor a doze reaes, como homem de pce, e
affi cada húa azemala com fcu azemel por hüa en-
caualguadura, em quanto couber no numero das cn-
caualguaduras; e i(fo mefmo fe trouxer mais de huü
caualo de fua pe{foa, contar-lhe-ham atee dous ca-
ualos pera fua peíloa, e huü delles ferá em conto das
encaualguaduras , contando-lhe foomente a qtJinze
reaes pera o caualo.
31 ITEM aas molheres de cada hu ú dos fobredí.-
tos, outros tantos homens e molheres por todos, co-
rno
Do CONTADOR. DOS FEITOS E CUSTAS n e. 539
mo aos maridos, fe os trouxerem feus, e alheos nom,
e da maneira que em cima Diffcmos ; e e!lo fe en-
tenda tambem em as molheres dos fobreditos , que
viuuas forem; e fe mais trouxerem, nom lhe con-
tem mais.
32 ITEM em todos eftes capitolos que falam das
encaualguaduras, que ham de feer contadas aos Me-
íhes, Priol , Arcebiípos , Bifpos , e Condes , Aba-
de d' Alcobaça , Priol de Santa Cruz, e Comenda-
dores Moores , e aas peffoas de femelhante maneira>
nom fe contaram nas ditas encaualguaduras as fuas
peífoas principaes ; porque aalem das ditas encaual-
guaduras lhe contaram as fuas peffoas.
33 E PORQ.11 r:: muitas vezes aconrece ferem cha-
madas alguas peffoas aa Corte , e a outras partes pera
teílemunharem em feitos , que a elles nom perten-
cem, aos quaes os Julguadorcs mandam algüas ve-
zes paguar as cuíl:as da vinda , eíl:ada , e tornada ;
Mandamos que em taeei. cafos lhes fcja paguo fe-
gundo o Regimento fobredito das cuíl:as , e mais
o que de feus officios e meíl:eres perderem por hi-
rem affi fora dar feus teíl:emunhos.
34 E o dito Contador contará pera fi da conta
das cuíl:as que affi fezer feu falario por a maneira que
fe fegue ; conuem a faber, nos feitos que fe trauta ..
rem por auçam noua leuará de cada conta que fe-
zer dezoito reaes, aíli da que fezer do que monta ao
Efcriuam, ou Tabaliam da parte do Autor, como da
que fezcr do que lhe monta auc:r da parte do Reo, e
Yyy 2 affi
540 O PRIMEIRO Lrv. DAS 0RDEN. TrT. LXX.

affi leuará d•ambas as. ditas contas trinta e feis reaes;


e poíl:o que aja tambem de fazer conta de dias. de
peffoa , por o Autor ou Reo as vencerem, ou poíl:o
que aja de contar a ambos, nom leuará mais coufa
algüa. E eíl:o auerá luguar em todos os Contadores
affi da Corte, como da Cafa do Ciuel, como em to-
dos os Contadores de Noffos Reynos.
35 E Nos feitos que por apelaçam vierem aa Cor-
te, ou Cafa do Ciuel , ou a qualquer Jlllguador que
por apelaçam poffa conhecer, fe vierem dante al-
guüs Corregedores, ou Julguadores de cujas fenten-
ças fe deua paguar dizema , e os ditos feitos forem
fentenciados, e fem cuíl:as, ou cuíl:as do proceffo. foo-
rnente, e as partes ambas ouuerem viíl:a, leuará foo-
rnente dezoito reaes de cada conta , como cm cima
dito. he; conuem a faber, dezoito da parte do Au-
tor, e dezoito da parte do Reo. E fe nos ditos fei-
tos forem julguadas cuftas de pe:ffoa a hüa foo par-
te, pofto que nom ouueíle vifta, leuará mais outros
dezoito reaes , e-affi leuará por todo cincoenta e
quatro reaes ; éonuem a faber , trinta e íeis da conta
daquelle a que contam cuíl:as da peffoa , e dezoito
da outra parte. E fe-a ambas as. partes ouuer de con-
tar cuíl:as de peffoa, leuará de cada hüa trinta e feis
reaes, e affi fam por todos fetenta e dous reaes , os
quaes lhe Mandamos leuar, por quanto ha de fazer
maiores contas por caufa da dizema.
36 E sE das ditas apelaçoes nom ouuer viíla,
nem cuílas de peífoa , leuará foomente ·da conta que
fe-
Do CoNTADOR nos FtrTos E cusTAs ET e. 54r

fezer noue reaes. E fe hüa foo parte ouue viíla , e


outra nam , leuará da parte que ouue viíla dezoito
reaes, e da outra norn leue nada.
37 E Q!1ANTO he aas apelaçoes que vierem dan-
te os Juízes Ordinarios, e de cujas fentenças fe nom
deua paguar dizema , fe nas ditas apelaçoens ouuer
viíla dambas as partes , ora aja condenaçam de cu-
fias de peffoa , ou do proceffo , ora nam , leuará da
conta de cada huü dezoito reaes. E fe húa foo parte
ouuer viíla, e outra nam , leuará da conta daquella
parte que ouue viíla dezoito reaes , e da outra
que nom ouue viíla nom leuará nada. E fe hüa
parte nem outra nom ouue vííl:a , e a fentença foi
fem cuílas , leuará foomente noue reaes; e auendo
vencimento de cuílas, ora feja do proceffo , ora de
peffoa, leuará daquella conta que faz da parte em
que ha y cuílas dezoito reaes , e da outra parte nom
leuará coufa algüa.
38 E Q!1ANTo aa,s contas que fezerem nos feitos
d'agrauo, leuaram de cada conta atjuello que em ci-
ma Diffemos , que leu em dos feitos das a pelaçoes.,
1
fegundo a diftinçam que em cima Diífernos nas di-
tas a pelaçoes.
39 E PORQ!1E muitas vezes acontece> que quan-
do ham de contar as ditas cuíl:as aas partes ambas,
as ditas partes nom fam ambas prefentes, pera aue-
rem de paguar ambas ao Contador feu trabalho,
quando tal coufa for, ponha-fe a pagua das ditas
contas fob re a parte que for prefente , e ella as pa-
gue,

44
542 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. LXX.
gue, e no encerramento, e cabeça das cuftas, carre-
gue o Contador na foma a outra parte, de guifa que
a parte que as paguou as leue na fua foma , pera
lhas auer de paguar a parte que nom foi prefente
aa dita conta, como dito he.
40 E sERAM auifados os Contadores no contar
dos feitos , que faibam das partes quanto he o que
lhe leuaram os Efcriuaes , e Tabaliaes, e Porteiros ;
e fe acharem que mais lhe leuara·m, que aquello que
por Noífas Ordenaçoês ou feus Regimentos lhes he
taxado , façam-lho loguo tornar a eífa parte eífo
que lhe mais leuaram em dobro. fegundo he con-
theudo neíl:e Liuro , no Titu-lo Do que hãm de leuar
os 'l'abaliaes, e Ejcriuaes ; e quanto aa mais pena que
por ello os ditos Officiaes merecem, a aueram quan-
do por ello forem acufados perante feus Juizes com-
petentes.
41 E o CoNTADOR das cuftas nom contará feitos
alguüs, em que elle aja d' auer fala rio como Efcri-
uam ou Enqueredor ; e iífo mefmo Mandamos,
que ninhuü Tabaliam, nem Efcriuam, nem Enque-
redor, nom feja Contador do feito, de que aja d'auer
falario ; e fazendo cada huü dos fobreditos o con-
trairo , perca o Officio pera o Darmos a quem Noífa
Merce for.
42 E MANDAMOS que a parte, que vencer con-
tra alguü prefo , faça leuar loguo ao outro dia fe-
guinte o feito ao Contador ; e fe mais tardar cm o
fazer leuar, que pague as cuíl:as do retardamento:
e
CoMo HAM DE CONT. o SALAR. AOS PROCUR. 543

e ilfo mefmo ferá a dita parte vencedor obrigado Ie-


uar a fentença, que affi guançar contra o prefo , o
dia que lhe por o Contador foi dado, pera cheguar
aa terra onde o prefo eíl:aa; e norn a leuando ao dito
tempo , que lhe pague as cuíl:as do que mais retar-
dar em dobro. E bem affi Mandamos , que o Con-
tador conte todos os feitos dos prefos do dia que
lhe derem o feito a dous dias, fob pena de lhe pa-
guar as cuíl:as do retardamento em dobro.

T I T U L O LXXI.
Como ham de contar o/alario aos Procuradores.

A OS Procuradores dos feitos contaram de falario


dos feitos ciueis a quarentena do que vencerem, ou
defenderem , atee contia de fetecentos e vinte reaes;
e por quanto em eíl:es falarios haa algüas duuidas,
Declarando acerca dello, teer-fc~ha eíl:a maneira ,
quando fe ouuerem de contar.
1 ITEM porque muitas vezes acontece orde-
nar-fe huü feito de grande contia fobre Efcriptura
pubrica , e pofto que a parte contra que fe dá a tal
Efcriptura peça o tteslado, e venha com embarguos,
nom lhe he delles conhecido , mas o Juiz frm cm-
barguo delles procede polo feito • dando em elle final
deterrninaçam , em tal cafo auerá o dito Procura-
dor o terço do dito falaria.
2 E
544 O PRIMEIRO L1v, DAS ÜRDEN. Tn. LXXI.
2 E sE erra auçam affi poíl:a por Efcriptura pu-
brica he julguada que procede , e a parte pede o
treslado della, aleguando algüa razam , de que he
conhecido, e daa cm proua outras Efcripturas, e fe
razoa fobre ello, e o feito he loguo determinado fo-
bre taes Efcripturas , fem outra proua de teíl:emu-
nhas , entam aja e11e Procurador as duas partes do
dito falario.
3 E se a parte de tal Efcriptura pede o treslado,
e vem a ella com embarguos, e os embarguos fam
taees que procedem , e for fobre ello filhada proua
de tdlemunhas, e fobre e(fa proua for dada fcnten-
ça, entam aja o Procurador que vencer ou defen-
der o falario inteiro, fe cheguar erre vencimento
aa contia, por que o deua de leuar, fegundo ao dian-
te ferá declarado.
4 I n:M erro meímo fe acontece por vezes orde-
nar-fe huü feito fobre muito pequena contia, affi fo-
bre herança, como fobre coufas moueis , e dura per
longuo tempo, e o Procurador Ieua em ello grande
trabalho , aas vezes por feer cm ponto de Dereito, e
lhe conuem de cíl:udar fobrc ello, ou por ferem mui-
tas Efcripturas que aja de prouer, e fe acontece de
tal feito nom montar a eíl'e Procurador de quarente-
na de feu falario de dez atee vinte reaes , fem razam
feria nom auer gualardam de feu trabalho; porem
quando o Contador femelhautes feitos contar alui-
drará eíle falario que lhe parecer, que razoadamen-
te merece , com tanto que nom chegue ao falaria
rn-
COMO HAM DE CONT. o SALAR. AOS Paocurt. 54S
inteiro e fe duuidar em ello, fale com o Chanceler
Moor , fe o feito fe trautar em Noífa Corte , ou em
a Caía do Ciuel com o Chanceler da dita Cafa, e
nos outros Luguares com o Juiz da feito. E eíl:es
falarios fe entendam nos feitos que efles Procurado-
res nouamente criam , e procuram atee definiriua.
5 l TEM em feitos ciueis que vem por apelaçam
ou agrauo aos Sobrejuizes , e Ouuidores da Corte , e
a outros Defembarguadores , de taees feitos como
eftes contaram aos Procuradores a quarentena do
que vencerem ou defenderem atee contia de trezen ...
tos e feífenta reaes , e mais nom ; por quanto nom
leuam tanto trabalho, como aquelle que cria o feito
de nouo.
6 E POR~E muitas vezes fe acontece vijrem
feitos aa Corte por apelaçam, ou agrauo, foomente
fobre o libelo, e ficam loguo na Corte, e defpois
crecem tanto em leétura , que leua o Procurador em
elles grande trabalho, em tal cafo como eíl:e con..
taram ao Procurador de falaria quinhentos e qua-
renta reaes, que fam as tres partes de maior quaren-
tena, fe for de contia de que o deua leuar ; e nos ou-
tros feitos de que ja vem tiradas as inquiriçoes , e
defpois crecem na Corte por Efcripturas que em el-
les dam , ou per interlucutorias , de que recrecem
inquiriçoes outro tanto como aquello que vem da
terra , ou pouco mais ou menos , em taees feitos
como eftes , contaram a effe Procurador a quaren-
tena do que vencer ou defender atee contia de qua..
Liv. I. Zzz tro..
546 O PRIMEIRO LIV. DAS ÜRDEN. TIT. LXXI.

trocentos e fet enta e noue reaes , que he as duas par-


tes da maior quarentena.
7 · ITEM nos feitos das injurias verbaes , em que
nom cabe pena de Juftiça, contaram aos Procura-
dores a quarentena do que vencerem , affi como nos
feitos ciueis , e teram em ello a regra contheuda ne-
fta Ordenaçam.
8 I rt!.M muitas vezes acontece vijrem aa Corte
Eíl:ormentos d'agrauo, e Cartas Teíl:emunhaveis, ou
Eílormentos de dia d'aparecer, e as partes fazem em
elles Procuradores , ou fem procuraçam lhos dam as
partes que razoem, porque os trazem abertos, e
foomente poem nas coíbs huum razoado, e o le..
uam affi ao Julguador, e fe he dia d'aparecer fazem
apreguoar a parte , e ficam loguo conclufos fem
mais em elles efcreuer, em tal cafo como eíle nom
contaram aos Procuradores quarentena deífo que a
parte vencer , foomente lhe contaram vinte ou trin-
ta reaes, fegundo for o trabalho , e crecimento de.ífe
Eíl:ormento , em que affi razoar.
9 ITEM fe a parte manda da Terra alguii Procu-
rador aa Corte, que folici'te e procure feu feito, e efia
parte por fi razoa fem tomar Procurador , e tal
parte como efta for vencedor em cufias , faram pre-
gunta a eíle Procurador fe quer antdeuar a quaren-
tena do que venceo ou defendeo, affi como he ta-
xado aos Procuradores do numero , fe ante os dias
da peíloa, fegundo a declaraçam feita em efta Orde-
na~m, e qual deftas efcolber dfa lhe contem , de
tal
COMO HAM Dt CONT. o SALAR. AOS P1wcuR. 547

tal guifa, que onde leuar dias de peffoa nom leue


falario , e fe leuar falario nom leu e dias de pcífoa ,
faluo os dias que pofer no caminho de hida e vinda.
10 ITEM fe algüa parte principal, ou feu Solici-
tador, ou Requeredor, nom quifer tomar Procura-
dor, nem elle por fi nom o fabe procurar , e buf-
car de fóra alguü Letrado que lhe faça as razoes fem
veer o feito, e e(la parte aprefentar as razoes nas
Audienc-ias , quando tal parte como eíla for vence-
dor em cu(las dar-lhe-ham juramento, quanto deu a
eífe Letrado por eílas razoes que lhe fez , e tanto
lhe contem, fe vijrcm que fam feitas por Letrado;
com tanto que e{fo que contarem nom paífe de du-
zentos reaes , fe taees razoados fam em que fe me-
reçam, poíl:o que a contia do que vencer feja gran-
de ; porque de razam fe moílra nom auer em ello
grande trabalho elTe Letrado , pois fez razoés a dito
da parte , e nom vee o proceílo.
Ir ITEM feram auifados, que nom contem fala-
rio ao Procurador do numero , fe lhe procuraçam
nom acharem feita no proceffo ; e fe o contarem
paguem-no de fua caía aa parte condenada ; faluo
nos feitos crimes dos prefos , que por coílume anti-
guo os Procuradores podem procurar polos prefos
como ajudadores, poílo que nom tenham procura-
çoes, em eíle cafo lhes contaram feus falarias fegun-
do fe adiante declarará.
12 E POR nom feet duuida, como fe ham de
contar eftes falarios, quanto pertence ao vencer, e
Zzz 2 de-
548 o PRIMEIRO LIVR..O DAS ÜRDEN. T1T. LXXI.
defender, verá o Contador aquello, que ao Autor
he julguado do principal na fentença, fem efguardar
aquello que he pedido , e deíl:o que he julguado
contará a feu Procurador a quarentena atee a dita
contia como dito he. E ao defendedor, verá o que
o Autor pedio no libelo , e daquello que o Reo vai
abfoluto contará a íeu Procurador a quarentena atee
contia de fetecentos e vinte reaes, como he decla-
rado no primeiro capitolo; e fe todo o que o Autor
pedia no feu libelo lhe for julguado , de todo feu
Procurador auerá a quarentena atee a contia fobre-
dita. E fe o Reo for abfolto de todo o que contra
elle pedido era , de todo elfo que he abfolto conta-
rá a feu Procurador a quarentena atee a dita con-
tia, como declarado he. E Mandamos que a dita
quarentena, que affi o dito Procurador haa de leuar
de feu falaria , que fe entenda de toda a condena.
çam , ou abfoluçam, em que o Reo feja condenado
ou abfoluto, affi do principal , como de qualquer
aceflorio, affi de penas, como de interelfes , fruitos ,
ou dãnificamencos, ou qualquer outra coufa feme-
lhante, em tal guifa que a dita quarentena nom feja
contada por refpeito foomente da condenaçam do
principal , mas de toda a dita condenaçam , affi do
principal e aceíforio , como dito he. E fe em toda
a dita quarentena montar mais que os ditos fetecen-
tos e vinte reaes , nom leuará mais , como em cima
he declarado. Pero Mandamos que fe nom entenda
em a dita quarentena a condenaçam das cuftas, por
que
CoMO HAM DE CONT. O SALAR, AOS PROCUR, 549
que as cuílas fe julguam tanto e mais per aluidro
do Julguador, que por riguor de Juíl:iça ; e por
tanto nom he razam , que por refpeéto dellas fe
julgue a quarentena do Procurador; faluo fe as ditas
cuílas forem julguadas per vertude dalgüa obrigua-
çam que alguü prometa, que nom comprindo o
principal , que pague todas as cuftas que fobre ello
forem feitas; ca em tal cafo ferá conrado a quaren-
tena ao dito Procurador, affi por refpeél:o das cuflas,
como do principal , fegundo em cima dito he da
condenaçam aceíforia dos fruiras e penas.
13 ITEM nos feitos crimes de grandes malefici-
os, affi como morte de homem , ou aleiue, ou la-
droice , ou moeda falfa , ou outro maleficio feme-
lhante, o qual fendo prouado contra o acufado mor-
reria por taees crimes , contaram ao Procurador no-
uecentos reaes brancos; e eílo fe entenda fe o Procu-
rador começaíTe eífe feito, e o feguir e procurar atee
definitiua. E quando taees crimes graues vierem por
apelaçam aa Corte, ou aa Caía do Ciuel • contaram
ao Procurador que vencer , ou defender, quatrocen-
eos e cincoenta reaes, e mais nom ; e porque aas ve-
zes acontece crecer no cafo da apelaçam outro tanto
e mais , que aquello que vem da Terra, quando tal
feito. for viíro por elle , contará a effe Procurador
quinhentos e quarenta -r~aes , fe vijr que o feito he
tal , que com jufta. razam o merece.
14 ITEM fe for feito crime em que nom caiba
pena de morte , pofto que lhe prouado foffç o ma-
leficio
550 o PAIMEIR.O LIV. DAS ÜRDEN. TIT. LXXI.
leficio, e deua feer degradado, ou açoutado, ou lhe
deceparem rna5 ou pee, ou outra pena femelhante ,
em tal cafo como eíl:e contaram ao Procurador que
vencer, ou defender, quinhentos e quarenta reaes,
fe o feito começar de nouo, e trautar atee definitiua.
E fe vier por apelaçam, contaram ao Procurador
que vencer, ou defender, duzentos e fetenta reaes,
fe vijrem que o feito he tal, que com jufta razam o
deue leuar.
r 5 ITEM porque acontece por vezes , que eftes
feitos, que affi vem por apelaçam, fam taro peque-
nos, e de tam pequeno volume, pofto que fejam
grandes maleficios, que o Procurador nom poem em
os veer foomente hüa hora, e fe he com a J uíliça nom
faz em elle fe nom huü foo razoado , e fem razam
feria leuar tam grande falario como nos outros fei-
tos grandes , em que trabalha mais tempo , porem
quando taees feitos contarem , contaram a eife Pro-
curador, que vencer ou defender, aquello que com
confciencia e juClamente merecer fem ninhüa afei-
çam ; e fe duuidarem falem com o Chanceler Moor ,
ou Chanceler da Caía do Ciuel, ou ao Juiz do feito,
que em Noílo Nome défembatguar as taees apela-
çoes ; nom fendo em ninhúa das Noifas Caías da
Sopricaçam, ou do Ciuel.
16 ITEM quando os taees feitos vierem por apela-
çam perante os Ouuidores dos Meftrados, ou outros
Senhores , contaram aos Procuradores ametade do
que Mandamos contar aos Procuradores da Corte.
E
COMO HAM DE CONT. -O SALAR. AOS PROCUR. 551
E fe perante os ditos Ouuidores fe rrautarem alguüs
feitos por noua auçam , por terem pera ello Noffa
Prouifam, contaram aos Procuradores todo o falario,
que em cima Mandamos contar aos Procuradores
nos feitos das auçoês nouas.
17 ITEM feram auifados os Contadores no contar
dos feitos, que Caibam das partes quanto lhe os Pro-
curadores leuaram , e fe acharem que mais lhe le-
uaram do que per efte Regimento lhes he taxado , .
e as partes requererem, que lhe faça tornar o que
affi mais leuaram , elle Contador lho fará tornar ,
fem mais por ello o Procurador auer outra pena
algüa.
18 E os falarios dos Procuradores nos feitos que
nouamenre começarem, harn de feer paguos em eíla
guifa: a terça parte ham dauer, quando o libelo for
julguado que procede; e outra terça parte , quando
as inquiriçoês forem abertas e pubricadas ; e a outra
terça parte , quando o feito for findo por fentença
definitiua.
19 E MANDAMOS que fendo as partes prefentes
no luguar onde os Procuradores forem moradores ,
demandem feus falarias do dia em que fe pubricar
a fentença definitiwi. , em que elles forem Procu-
radores , a tres mefes ; e nom os demandando no
dito tempo nom os poffam mais demandar, nem
fejam fobre i{fo mais ouuidos.

T 1-
552 O PRIMEIRO Ltv. DAS ÜRDEN. T1T. LXXIII.
T I T U L O LXXII.

Do /alario que ham de levar os Caminheiros.

POR quanto aos Caminheiros nom he dado Re-


gimento certo , do que ham de leuar das partes de
trazerem as apelaçoes aa Corte, Mandamos que os
ditos Caminheiros leuem daqui em diante de cada
apelaçam que trouxerem aa Corte a cinco reaes por
cada huüa leguoa, que ouuer do Luguar donde par-
tir atee onde a Cafa eíl:euer, e eíl:o atee o dito feu
falario poder cheguar a cento e cincoenta reaes, e
mais nam; porem Mandamos, que polo dito modo
fe conte o falaria aos ditos Caminheiros por manei-
ra que nam leuem mais, que os ditos cinco reaes
por leguoa como dito he. E fe as leguoas forem tan ..
tas , que contando a cinco reaes por leguoa lhe
montaria mais de cada hüa apelaçam , que cento e
cincoenta reaes , nam leuaram , nem lhe contaram
mais , que os ditos cento e cincoenta reaes por cada
apelaçam.

T -I T U L O LXXIII.
Í?<_ue os Ojficiaesfejam de idade de vinte e cinco annos.

M ANDAMOS que ninhí:ía peífoa poífa feruir


Offi.cio alguü de Juíl:iça, nem da Fazenda de qual-
quer
Dos Q.UE VENDEM SEUS ÜFFICIOS ET e. 553
quer qualidade que feja , nem da gouernança das
Cidades, e Villas, e Luguares de Noífos Reinos, que
lhe dado feja , nem menos o poífa feruir em nome
doutrem , poíl:o que licença aja pera ello, fe nom
paffar de vinte e cinco annos ; e fazendo o contrairo
fe o Officio for feu perca o Officio • e nunca o mais
aja , e nom fendo feu perderá a extimaçam do dito
Qfficio , ametade pera quem o acufar , e a outra
metade pera os catiuos.

T I T U L O LXXIIU.
Dos que vendem fe11s Ojficios fem lirenfa d' E/Rey, ou os
renunciam ejlando doentes, ou tendo ft'ilo nelles alguíis
erros : E que 11011 feruam feus Ojficios por outrem :
E que Jejam cafados.

M ANDAMOS que os Tabaliaês, e Efcriuaês, e


quaefquer outros Noffos Officiaes nom poífarn ven-
der os Officios que de Nós teuerem a ninhüa peffoa,
nem os trefpafiem, nem renunciem em outrem fem
Noífa efpecial licença; e vendendo-os, o vendedor
perca o preço que por tal venda receber, ou efperar
de receber j e mais perca o dito Officio, e o com-
prador o nom polfa auer, e fique a Nós pera o Dar-
mos aquem for Noífa Mercê.
1 E Ass1 MESMO o nom poderá renunciar quan-
do efteuer doente de doença periguofa de morte ; e
Liv. 1. Aaaa fe
554 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDEN. T1T. LXXIIII.
fe o renunciar eíl:ando doente de doença periguofa
de morte , ou eíl:ando doente de qualquer doença
de que fe finar do dia que a. renunciaçam fezer a
trinta dias, nom valerá a dita renunciaçam, e o di-
to 0fficio fe perderá pera o Nós Darmos a quem for
Noíla Mercê , poíl:o que o 0ffiçio foffe já dado por
Nós, ou por quem poder teueífe de o dar a outrem
por bem da dita renunciaçam.
2 E ASSI MESMO o nom poderá renunciar, nem
vender, poílo que Nolfa auél:oridade renha pera o
vender, quando nelle teuer feitos alguüs erros per
que o deua perder, e renunciando-o, ou vendendo-o
como dito he, poderá defpois feer acufado por os di-
tos erros , poíl:o que o 0fficio eíl:eja em poder dou-
tro 0fficial • a quem Tenhamos feita mercê do dito
Officio por vertude da dita renunciaçam ; e ferá
condenado aquelle que o dito 0fficio renunciou na
valia do dito 0fficio, ametade pera quem o acufar,
e a outra metade pera a Noíla Camara , e mais aue-
rá qualquer outra pena de juíl:iça , a que com derei-
to por os taees erros for obriguado ; porem neíl:c
cafo pola pena da valia do 0fficio fobredito , fe o
nom começarem a acufar do dia que a tal renuncia-
çam fez a dous annos, nom poderá mais por ella feer
acufado, nem demandado. E quanto aa pena crime
poderá feer acufado , e punido dentro no tempo que
o De reiro quer, que os taees crimes poffam feer acu-
fados. E aquelle a que Teuermos feita mercê do di-
to 0fficio por vertude da dita renunciaçam , o nom
per-
Dos QYE VENDEM SEUS ÜFFICIOS n e. 555
perderá polos erros que tinha feito aquelle que o
renunciou.
3 E MANDAMOS a todos os Tabaliaês, e Efcriuaes,
e a todos os Officiaes de Noífos Reynos , e Senho-
rios, que feruam feus Officios por fi , e nom po-
nham em elles outras peffoas, que os por elles fer-
uam ; e qualquer que outrem pofer em feu Officio
que ferua por elle, nom tendo pera ello Noffa Au-
él-oridade efpecial , per eífe mefrno feito perca o
Officio em que o aíli poíer, e aquelle que o feruir
perca a valia delle, ametade pera quem acufar , e
a outra metade pera a No!Ta Camara ; e fe no dito
Officio fezer alguú erro, ferá punido em todas as
penas que merecera, fe Official proprio fôra do dito
Officio, em que aíli cometeo o dito erro, ou erros.
4 E QYALQYER peffoa a que for dado Officio de
julguar, ou d' efcreuer, fe norn for cafado ao tempo
que lhe aíli for dado o dito Officio, Mandamos que
dentro de huú anno do dia que lhe for dado o dito
Officio fe cafe, e nom fe cafando dentro no dito tem-
po perderá o dito Officio. E fe defpois de feer cafado
enuiuuar ferá obriguado de fe tornar a cafar dentro
de huú anno do dia que aíli enuiuuar , fob a mefma
pena de perdimento do Officio; faluo fe ao tempo
que ouuer o dito Officio, ou ao tempo que enuiu-
uar paffar de quarenta annos , porque em tal cafo
nom ferá obriguado a fe cafar. E o que ja ao tempo
da pubricaçam deíl:a Ordenaçam tcuer tal Officio
Aaaa 2 ferá
556 O PRIMEIRO L1v. DAS ÜRDE~. TrT. LXXV.

ferá obriguado a fe cafar dentro de huü anno da pu-


bricaçam del1a fob a dita pena.

T I T U L O LXXV.
~uanto tempo duram as Carias impelradas por fe affi he.
E do que ouue perdam depois de as dilas Carias
ferem impetradas.

P OR quanto muitas pe{Toas impetram de Nós,


ou de No!Tos Officiaes, que pera ello Noífo poder
tem , Cartas de dadas de Officios , ou dalgua fazen-
da, ou outras coufas por Je q/Ji be, e defpois de as te-
rem fe leixam eíl:ar fem citarem, nem demandarem
as partes contrairas, de que fe feguem muitos incon-
uenientes , Ordenamos , que quando algüa peífoa
impetrar tal -Carta por ft ajfi he, cite a outra parte
contraira dentro de feis mefes, do dia . que a dita
Carta for feita ; e nom o começando á demandar
dentro do dito tempo, nom poderá ja mais pola dita
Carta demandar feu aduerfario em tempo alguü, e
a dita dada e mercê que lhe affi era feita pola dita
Carta ferá de ninhuü efeél:o. E poíl:o que neíl:e tem-
po dos feis mefes a parte contraira aja Noffo per-
dam , nom prejudicará aa parte que já tinha Nofia
Carta paffada pola Chancelaria.

T J..
CoMo ELREY PODE TIRAR os On1c1os ET e. 557
T I TU LO LXXVI.

Como E/ Rey póde tirar os OJ!icios aj/i da Jufliça >


,omo da Fazenda , (em jeer por e/lo olmguado
a fatisfaçam algüa.

P O R quanto por Confiarmos dalgüas pe!foas


que nos feruiram bem e fielmente, e como compre a
Noífo feruiço, e bem de NolTa Juftiça, e defcarre-
guo de Noíla confciencia , e affi a proueíco da Noíla
Fazenda, os encarreguamo s d'alguus Officíos de Nof-
fa Juíliça , ou Fazenda , e affi por lhe Fazermos
mercê, a qual mercê porem lhe norn Faríamos ,
poíl:o que boa vontade lhe. Tenhamos , fenom fofle
a confiança que nclles Temos pera o a cima dito , e
defpois de os affi Termos encarreguados nos taees
Officios vem aas vezes á Noíla noticia elles nam
os feruirem affi bem e fielmente, como fam obri-
guados , e como era a confiança que delles Tínha-
mos , com que dos caces Officios os Prouemos , e
poíl:o que nas coufas que affi dos fobreditos Sabe-
mos , e que á NolTa noticia vem, aas vezes nellas
nom haa prouas tam claras, porem haa quanto aba.íla
pera Sermos certo, Sermos delles mal feruido, e fa_
zerem mal feus Officios, e errarem nelles , em tal
modo, que ferá mais feruiço de Deos, e Noífo , os
fobreditos Officios lhes ferem tirados , que leixalos
eftar nelles, polo qual, e por outros refpeétos que
Nos moucm de muito feruiço de Ocos, e NolTo, e
bem

45
558 O PRIMEIRO L1v. D-As 0RDBN. Tn. LXXVII.
bem de Jufüça, e guouernança de Noff'os Reynos e
Senhorios , Determinamos , que daqui por dian-
te , quae[quer Offidas que Dermos , affi de Ju-
ftiça, como de Noífa Fazenda, como de qualquer
outra forte e qualidade que feja , quando quer que
Nós foubermos, e em Noffa confciencia Formos cer-
to, que alguü daquelles, a que os taees Officios Der-
mos, Nos feruem mal nelles, e fazem o que nom
deuem, e encarreguam Noffa confciencia, ou dani-
ficam e roubam Noffa Fazenda, os Poffamos tirar
dos fobreditos , e os dar aquem Noffa mercê for ,
fem por iffo lhe Sermos em obriguaçam algüa, affi
no foro da confciencia , como no foro do judicial;
pera por iílo auerern de demandar No!fo Procura-
dor , nem a Nos requererem fatisfaçam , porque de
todo os excludimos ; porem Fizemos diffo eíla Ley,
e Ordenaçam, pera fe nom poder aleguar ignorancia ..

------- ---
T I T U L O LXXVII.
Do Regimento das Audiencias.

PERA QYE os Julguadores faibam o modo que


ham de teer no fazer das Audiencias , e affi os Offi.-
ciaes que a ellas ham de hir, Ordenamos,, e Manda-
mos, que nos dias em que fe ouuer de fazer Audi-
encia os Defembarguadores da Caía da Soprica.-
çam, e do Ciuel, e affi todo.a Julguadores e os
Ju-
Do R t o 1 M EN T o DA s A u D 1 E N e 1 A s. · 559
Juizes de quaefquer Cidades, Villas , ou Luguarcs
de Noffos Reynos tenham ordenado hora certa, a que
ham de começar a fazer Audiencia , aa qual hora os
Tabaliaês, e Efcriuaes, e Procuradores, e Deftrebui-
dor hiram ao luguar da Audiencia, em modo que
quando o Julguador for a Audiencia elles cheguem,
ou eíl:em ja laa, e o Juiz fe nom detenha por elles.
E o Alcaide, e o Meirinho onde o ouuer, hiram com
feus homés aa caía do Julguador, e viram com elle
a Audiencia, e aíli o Porteiro hirá a fua cafa , e lhe
trazerá os feitos, que defembarguados teuer pera fe
pubricarem. E o Julguador pubricará loguo todos
os feitos, que leuar defpachados ; e acabados de pu-
bricar ouuirá os prefos que efteuerem na Audien-
cia , fe os hi ouuer, e a pós os prefos ouuirá os Pro-
curadores cada huü affi como eíl:euer affentado , ou-
uindo primeiro huíi de hüa banda, e outro da outra,
fegundo cada huü primeiro efteuer affentado. E ca...
da huG quando falar dará primeiro os feitos que te-
uer pera dar , e defpois falará por feu rol por as par-
tes cujo Procurador for, ou que nouamente o feze-
rem Procurador ; e acabando de falar, fe nom teuer
dado todos os feitos que ouuera de dar, o acufaram
os outros Procuradores, acufando-o primeiro o Pro-
curador que a primeira voz pera falar tem, e defpois
outro que após elle ouuer de falar, e affi todos os mais
que o quiferem acufar.
1 E ACABADOS d' ouuir os Procuradores , fará ler
o rol dos prefos , e acufados , fc cm as ditas Audi-
enc1as
560 O PRIMEIRO Liv. DAS 0RDEN. Tn. LXXVII.
encias taees feitos ouuer. em o qual rol eílaram
efcriptos todos os prefos que hi ouuer, e defpois dos
prefos todos os feitos da J uíl:iça , e dos feguros , que
por Cana de feguro andarem ; e em affi lendo cada
huü pelo dito rol, poerá feu feiro em termos , íe jaa
por os Procuradores, ou quando aos preíos fe falou,
nom for pano. E acabado o dito rol faberá dos
Tabaliaês , fe ha hi outro alguü prefo ou feguro ,
que nom eftee no rol , e o fará poer nelle, do qual
rol teram cuidado os Efcriuaês , ou Tabaliaês , cada
huüu feu mes ; e poeram nelle todos os prefos , e
acufados que hi ouuer.
2 E ACABADO o rol dos ditos prefos, e feguros,
fe na Audiencia eíl:euerem algüas peíloas Religiofas
as ouuirá loguo, e defpachará pera fe loguo hirem,
e entonce ouuirá quaefquer molheres que hi cfteue-
rem, primeiro que ouça ninhuü homem, e defpois
ouça os homes que na Audiencia efteuerem, os quaes
viram huü e huü aa vara com aquclle acatamento
que aa Juftiça he deuido. E em quanto a ella efte-
uerem , eíl:aram fempre com o barrete na maõ, fal-
uo fe o Julguador por algüa caufa ou qualidade de
fua peíloa os mandar cobrir. E ouça primeiro os la-
uradores, e homês de fóra parte que hi efteuerem.
E defpois que acabar de ouuir toda a gente que na
Audiencia efteuer , e falar quiferem , antes que fe
aleuante da Seda , mandará ao Porteiro , que pre-
gunte em alta voz fe alguem quer requerer algiia
coufa , e nom vindo ninguem , entonçe fe aleuante ,
e
Do REGIMENTO DAS AuDIENCIAS. 561
e o Alcaide e Meirinho fe tornem com elle pera a
poufada.
3 E FAÇA de guifa que fua Audiencia feja bem
ouuida; e quando as partes, ou Procuradores fala-
rem , que outra peffoa algüa, que na caía da Audien-
cia eftee, nom fale de modo que poffa fazer torua-
çam algüa; e aos que a fezerem o Juiz poderá ape-
nar no que lhe bem parecer pera os prefos pobres,
nom paífando de cem reaes. Porem fe a toruaçam,
ou coufas, que fe na Audiencia paffarem, forem de
qualidade pera fazer auto, falo-ha fazer, e procederá
fegundo forma de Noífas Ordenaçoes.
4 E ANTES que fe vaa da Audiencia, faberá fe
ha hi algüa inquiriçam da Juftiça por tirar, e man-
dala-ha acabar.
5 E os Procuradores teram feus aífentos ordena-
dos , e daqui pordiante fe aílentará cada huü fegun•
do for mais antiguo na dica Audiencia no procurar,
poíl:o que menor gráo tenha, que o que mais mo-
derno for no procurar. Porem onde ouuer Procura-
dores graduados, e outros de lingoagem, ou que gra-
duados nom fejam , fempre fe aífentará e falará pri-
meiro o que for graduado, pofto que o nom gradua-
do feja mais antiguo no procurar na dita Audiencia.
6 E ISSO mefmo os Efcriuacs, e Tabaliaes fe af-
fentaram em feus bancos ordenados , cada huü fe-
gundo for mais antiguo no Officio aili fe aílentará
primeiro. E após os Tabaliaes fe aífentará o Deíl:re-
buidor da dita Audiencia. E os Porteiros eftaram
Liv. I. Bbbb fem-
562 OP1UMEJRO LIVRO DAS ÜRD. TIT. LXXVII.
fempre em pee I e quando apreguoarem fempre
efiaram fem barrete.
7 E os Alcaides e Meirinhos ellaram aíTentados
acima dos Procuradores, ou Tab.aliaes; e nom fe af-
fencaram com os Juízes na Seda elles , nem ninhuü
Efcriuam de qualquer qualidade que feja , pofto que
feja Eícriuam dos Nofios Feitos.
8 E Nos Luguares onde nas Audiencias ouuer
gradê.s, nom fe aífcntará peffoa . algüa das grades
a dentro , fe nom for Official da Audiencia , faluo
quando o Julguador lho mandar. E onde nom ouuer
grades nom fe affentaram nos alfentos I que forem
ordenados- pera os Officiaes da Audiencia ; e aífen..
tando-fe fem fua licença, o Porteiro terá cuidado de
lhe dizer que fe faia fóra das grades, ou fe aleuante
dos ditos affentos.
9 ITEM os Efcriuaês e Tabaliaes que nom efte-
uerern já nas Audiencias ao tempo que o Julgua..
dor começar a publicar os feitos, o dito Jutguador
os condenará no que lhe bem parecer, fcgundo
for fua tardaçam ; nom paffando porem de duzen-
tos reaes, quando vier aaquella Au~iencia.
10 E os ditos Tabaliaês e Efcriuaês feram aui-
fados , que todos leuem efcreuaninhas aas Audien-
cias, e cada huü feu Protocolo , e ponham loguo
nos Protocolos a lembrança dos termos que palTam,
pera defpois em caía os poucm nos feitos, quando
loguo nos feitos os nom poderem poer. E em quan-
to na Audiencia efteuerem nom efcrcucram canas,
nem
Do R E GIM EN TO DAS AUDI EN C t As. 563

nem outras coufas, foomente os termos das Audi-


encias, e em outras coufas fe nom a cupem , por tal
que fempre eílem prontos a dar razam dos feitos ,
em que os Procuradores falarem • e pera tomarem
perfeélamente o que na Audiencia paffar. E nom o
comprindo affi. os poderá condenar por cada hÜil
das ditas coufas no que lhe bem parecer, nom pa.f-
fando de cem reaes.
11 E NINHUM dos ditos Officiaes affi Procura-
dores, como Efcriuaes, ou Tabaliaes, como os ou-
tros, Alcaide, e Meirinho, e feus homes , e Deílre-
buidor, e Porteiros fe nom fahiram da Audiencia,
nem fe aleuantaram de feus affentos, nem fahiram
da cafa da Audiencia, ( fem licença do dito Julgu-
ador) atee o dito Julguador íe fahir da dita cafa da
Audiencia : porem tendo alguü delles algüa neceffi-
dade de fe hir , elle lhe dará licença pera ello.
12 E QYANDO os ditos Julguadores affinarem
termo aas partes, ou Procuradores, affi pera libelo ,
como pera contrariedade, reprica , ou treprica , ou
pera outros quaefquer artiguos, como pera fatisfa-
zer com qualquer coufa, affinaram os ditos termos
por numero certo de dias , e nom per Audiencias.
13 E os fobreditos Julguadores feram auifados,
que nom diguã palauras algúas d'efcandalo nem re-
moque aos Procuradores , nem Efcriuaes , nem ou-
tros Officiaes da Audiencia , nem a ninhüa parte
que perante elles vier requerer fua juftiça ; e fe os
ditos Officiaes, ou partes nom forem deligentes em
Bbbb 2 com..
564 O PR.IM!IRO L1v. DAS 0RDEN. TIT. LXXVII.
comprir o que lhe por elles Julguadores for manda-
do , ou lhe nom teuerem aquelle acatamento que
deuem, procedam contra elles , e os apenem fegun-
do nefte Regimento, e por No!fas Ordenaçoés o po-
dem , e deuem fazer , fem lhe por ello dizer coufa
que tragua injuria , ou efcandalo; e fazendo o con-
traira, os Officiaes, e peffoas fobreditas fe poderam
queixar , ou agrauar aos feus Superiores, aos quaes
Mandamos que niífo prouejam, e lhes dem a fatis-
façam , e emenda, que o cafo requerer.
14 E MANDAMOS que nas Cidades, e Villas de
Noffos Reynos, onde eíl:euerem por Nós Juizes de
Fóra, fempre em caía dos ditos Juizes eíl:ee huú
Tabaliam do Judicial , comuem a faber, tres horas
pola rnenham , e tres aa tarde , que começaram a
aquelle tempo que lhe por o Juiz for ordenado, os
quaes Tabaliaês feruiram como dito he cada huü fua
fomana , ou por dias , por deflrebuiçam fegundo
antre elles for ordenado.
15 E MANDA Mos a todos os fobreditos Julgua-
dores que cumpram, e façam em todo comprir eíl:e
Regimento, poendo nos cafos em que nelle nom he
pofta certa pena aquellas penas que lhe bem pare-
cer , e forem juílas ; as quaes daram aa execuçam
tendo alçada pera ello, e nom a tendo daram apela-
çam e agrauo, qual no cafo couber. Porem fe em ca-
da hüa das coufas contheudas nefle Titulo for em
outra maneira prouido por algüa Noffa Ordenaçam,
guardar-fe-ha o que na dita Ordenaçam for contheu-
do, fem embarguo defte Regimento. 16
Do R E e I MENT o DA s A uDn N e I As. 565
16 E POSTO QYB por Noíl"as Ordenaçoes ninhuü
Tabaliam poffa fazer coufa algüa, fem lhe feer de-
ftrebuida, Mandamos que quando o Juiz teuer ne-
ceffidade de mandar fazer alguü Auto , ou Efcri-
ptura fem fe deftrebuir, ou por hi nom efiarem os
outros Tabaliaês, ou o Deftrebuidor, ou· por hi nom
auer tempo pera fe deftrebuir , que o Tabaliam a
que elle mandar que o faça fem deílrebuiçam o faça
loguo. Porem o dito Tabaliam da hi atres dias que
o tal auto acabar ferá obriguado de o dizer ao De-
ftrebuidor pera lhe carreguar na defirebuiçam ; e
nom lho dizendo auerá a pena que aueria, fe o fezera
fem mandado do Juiz, e fem deílrebuiçam. E quan-
do o Deftrebuidor for doente, ou em tal maneira
empedido, que nom poffa feruir , ou por qualquer
maneira nom for feruir a dita defirebuiçam, o Juiz
poerá huü Tabaliam da Audiencia, que ferua em
quanto o dito empedimento durar, ou por Nós nom
for prouido.
I 7 E QlJANDO o Defirebuidor das Notas for em-
pedido, o Juiz pelo mefmo modo dará huú Taba-
liam das Notas , que ferua o dito Officio qual lhe
milhar parecer, em quanto o dito empcdimento du-
rar como dito he.

TJ..
566 O PRIMEIRO LIV. DAS ÜRD&N. TIT. LXXVIII.
TI TU LO LXXVIII..

~ue fa façam em cada huü an1t0 duas Preciffoes folenn


aalem das mais ardenadas, e que os moradores do '!'er-
mo aalem de leguoa nomfejam pera aas Precif-
joés conjlrangidos.

ORDENAMOS, e Mandamos que em todos


Noffos Reynos, e Senhorios, em cada huü anno em
o dia da Vifitaçam de Noffa Senhora , que vem aos
dous dias domes de Julho, fe faça hüa Preciffam fo-
lene a louuor de Noffa Senhora, pera que affi como
ella quis vifitar corporalmente a Sanéta lfabel , affi
efpiritualmence nos vi fite , e a tódos os fiees Cri-
fiaõs. pera que noffas obras fejam feitas , e aderen-
çadas a feruiço de Noffo Senhor , e feu.
1 E isso mef1no Mandamos , que em cada huü
anno no terceiro Domingo domes de Julho polo di-
to modo fe faça outra Preciffam folene , por come-
moraçam do Anjo Cuíl:odio, que tem cuidado de
nos guoardar e defender, pera que fempre feja em
noffa guarda e defenfam. As quaes Preciffoês fe fa-
ram, e ordenaram com aquella fefta e folenidade,
com que fe faz a Preciffam do Corpo de Dcos.
2 PoREM affi pera as ditas Preciffoês, como pera
a de Corpo de Deos, como pera qualquer outra , que
fe antiguamente acoftumar fazer neíl:es Reynos. co-
mo em quaefquer que· Nós Mandarmos fazer, ou
forem ordenadas affi por os Prelados, ou quaefquer
outras
QpE SE FAÇA CADA HUM .ANNO DUAS PRE,crss. 567

outras peífoas , como por os Concelhos , e Camaras,


nom feja conftrangido vijr aas ditas Preciffoes nin-
huü morador do Termo d'a)güa Cidade, ou Villa ;
faluo os que morarem derredor biia leguoa da tal Ci ..
dade, ou Villa, por aquelles que poder teuerem de
os coníl:ranger. E pofto que os conftranguam em
outra maneira , nom feram obriguados a hir , nem
paguar penas algüas , que lhe forem poftas.

F 1 M.

Aqui_acaha o Primtiro Liuro das Orde11t1foes.

A pag. 127, /in. 9. caha ltaft cada


197 , li11. 21 e 22. ordenaçam /ea-fe or-
denança
203 , lin. 18. coufas lta-fe caufas
333 , lin. 9. o a outra lta-j, e: a outra
Esta edição "fac-simile"
das ORDENAÇÕES MANUELINAS - Livro 1,
foi impressa em offset e encadernada,
para a Fundação Calouste Gulbenkian
nas oficinas da Gráfica de Coimbra.
A tiragem é de 3.000 exemplares.
Dezembro de 1984
Depósito Legal n.0 7052 / 84
EDIÇÕES DA FUNDAÇÃO
CALOUSTE GULBENKIAN

Manuais Universitários
175 volumes publicados

Próximas publicações:

Mecânica dos Materiais - C: Moura Branco


Introdução à TriboloKia - A. Pina da Silva

Textos Clássicos
10 volumes publicados

Próxima publicação:

Crítica da Razão Pura - Kant

Cultura Portuguesa
10 volumes publicados

Próxima publicação:

Obras de Sobral Cid, li vol.

capa de Vítor da Silva


SÉRIE DE CULTURA PORTUGUESA
DAS EDIÇÕES DA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

Aparecendo embora depois de outras, talvez que esta série do Plano


de Edições da Fundação Calouste Gulbenkian possa considerar-se
anterior às que a precederam: pois não foi sempre na Cultura Portu-
guesa que se pensou ao projectar e fazer tudo quanto já existe no
referido Plano? Agora e aqui trata-se apenas de explicitar, criando
um lugar próprio reservado .aos testemunhos válidos da singularidade
e da autenticidade da nossa cultura, seja qual for o quadrante onde
se localizem. Interessa-nos documentar o que somos e temos sido no
campo das letras e das artes, da reflexão e do saber; procuramos
atingir a realidade colectiva nacional, que se criou pensando e agindo,
aprendendo e inventando, conhecendo ou descobrindo os outros:, mas
sentindo-se sempre diferente deles. Uma realidade que é viva e se
interroga à medida que vive : o clássico e indecifrado enigma histórico
de tudo o que é humano e existe no tempo.

Você também pode gostar