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OSTENSIVO CIAA-112/022

MARINHA DO BRASIL
CENTRO DE INSTRUÇÃO ALMIRANTE ALEXANDRINO

GUIA DE ESTUDO
ÉTICA PROFISSIONAL MILITAR
CURSO ESPECIAL DE HABILITAÇÃO PARA PROMOÇÃO A
SARGENTO
2021

OSTENSIVO ORIGINAL
OSTENSIVO CIAA-112/022

ÉTICA PROFISSIONAL MILITAR

MARINHA DO BRASIL

CENTRO DE INSTRUÇÃO ALMIRANTE ALEXANDRINO

2021

FINALIDADE: DIDÁTICA

1ª EDIÇÃO

OSTENSIVO -I- ORIGINAL


OSTENSIVO CIAA-112/022

ATO DE APROVAÇÃO

Aprovo, para uso no Curso Especial de Habilitação para Promoção a Sargentos, a


apostila CIAA-112/022 – ÉTICA PROFISSIONAL MILITAR, elaborada pelo 3ºSG-ES
FERNANDO JOSÉ SILVA DE AMARAL, em 10 de agosto de 2020, no Centro de Instrução
Almirante Alexandrino.
Os direitos de edição são reservados para o Centro de Instrução Almirante Alexandrino,
sendo proibida a reprodução total ou parcial, sob qualquer forma ou meio.

Rio de Janeiro, RJ., 10 de agosto de 2020.

PETRUCIO GOMES DA SILVA


Capitão de Corveta (RMI-T)
Coordenador da Escola de Cursos de Formação

OSTENSIVO -II- ORIGINAL


OSTENSIVO CIAA-112/022
ÍNDICE
PÁGINAS
Folha de rosto........................................................................................................................ I
Ato de Aprovação................................................................................................................. II
Índice.................................................................................................................................... III
Introdução............................................................................................................................. IV

CAPÍTULO 1 - ESTATUTO DOS MILITARES


1.1 - Deveres e obrigações dos militares.............................................................. 1-1
CAPÍTULO 2 - NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITOS HUMANOS
2.1 - Forma de Estado, Sistema de Governo e Separação de Poderes.................. 2-1
2.2 - Dos direitos e garantias fundamentais – Art. 5º ao 17.................................. 2-7
2.3 - Missão constitucional das Forças Armadas................................................... 2-13
2.4 - Diretrizes da ONU e OEA sobre Direitos Humanos..................................... 2-17
2.5 - Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)...................................... 2-22
CAPÍTULO 3 - DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO
3.1- Direito de Genebra........................................................................................... 3-1
3.2 - Direito de Haia................................................................................................. 3-2
3.3 - Direito misto..................................................................................................... 3-2
3.4 - Direito da Guerra, Direito Internacional Humanitário, Direito Internacional
dos .Conflitos Armado e Direitos Humanos: semelhanças e distinções........... 3-3
3.5 - Movimento da Cruz Vermelha.......................................................................... 3-5
3.6 - Manual de San Remo (guerra no mar).............................................................. 3-5
3.7 - Tribunal Penal Internacional ............................................................................ 3-7
3.8 - Aplicação do DICA nas Operações de Paz....................................................... 3-8
ANEXO A - Bibliografia ............................................................................................. A-1

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OSTENSIVO CIAA-112/022

INTRODUÇÃO

1 – PROPÓSITO

Esta publicação tem o propósito de apresentar conceitos básicos sobre Ética Profissional
Militar. Os assuntos nela contidos foram extraídos de publicações de fácil compreensão,
atendendo às exigências do currículo, com o propósito de facilitar a aprendizagem dos
alunos.

2 – DESCRIÇÃO

Esta publicação está dividida em três capítulos. O capítulo 1 versa sobre todos os
deveres e as obrigações no Estatutos dos Militares; capítulo 2 possibilita conhecimento de
Noções de Direito Constitucional e Direitos Humanos; e o capitulo 3, aborda o Direito
Internacional Humanitário.

3 – AUTORIA E EDIÇÃO

Esta publicação foi organizada pelo SO- (RM1-CN) PEDRO DA CONCEIÇÃO REIS,
e revisada pelo CC (RM1-T) PETRUCIO GOMES DA SILVA, elaborada e editada no
Centro de Instrução Almirante Alexandrino.

4 - CLASSIFICAÇÃO

Esta publicação é classificada de acordo com o EMA-411 REV.6 - Manual de


Publicações da Marinha em: PMB, não controlada, ostensiva, didática e manual.

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OSTENSIVO CIAA-112/022
CAPÍTULO 1
ESTATUTO DOS MILITARES
1.1 - DEVERES E OBRIGAÇÕES DOS MILITARES
Todo cidadão, após ingressar em uma das Forças Armadas mediante incorporação,
matrícula ou nomeação, prestará compromisso de honra, no qual afirmará a sua aceitação
consciente das obrigações e dos deveres militares e manifestará a sua firme disposição de
bem cumpri-los. No Título II do Estatuto dos Militares (Lei 6880/1980), constam os
deveres e obrigações dos militares e o comportamento ético esperado por cada um dos seus
integrantes. das Forças Armadas.
São manifestações ESSENCIAIS DO VALOR MILITAR :
a) O patriotismo, traduzido pela vontade inabalável de cumprir o dever militar e pelo
solene juramento de fidelidade à Pátria até com o sacrifício da própria vida;
b) O civismo e o culto das tradições históricas;
c) A fé na missão elevada das Forças Armadas;
d) O espírito de corpo, orgulho do militar pela organização onde serve;
e) O amor à profissão das armas e o entusiasmo com que é exercida; e
f) O aprimoramento técnico-profissional.
1.1.1- Da Ética Militar
O sentimento de dignidade e brio militar e o decoro da classe impõem, a cada um dos
integrantes das Forças Armadas, conduta moral e profissional irrepreensíveis, com a
observância dos seguintes preceitos de ética militar:
I - amar a verdade e a responsabilidade como fundamento de dignidade pessoal;
II - exercer, com autoridade, eficiência e probidade, as funções que lhe couberem em
decorrência do cargo;
III - respeitar a dignidade da pessoa humana;
IV - cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções e as ordens das
autoridades competentes;
V - ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do mérito dos
subordinados;
VI - zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico e, também, pelo dos
subordinados, tendo em vista o cumprimento da missão comum;
VII - empregar todas as suas energias em benefício do serviço;

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VIII - praticar a camaradagem e desenvolver, permanentemente, o espírito de cooperação;
IX - ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada;
X - abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa de qualquer natureza;
XI - acatar as autoridades civis;
XII - cumprir seus deveres de cidadão;
XIII - proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular;
XIV - observar as normas da boa educação;
XV - garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-se como chefe de família
modelar;
XVI - conduzir-se, mesmo fora do serviço ou quando já na inatividade, de modo que não
sejam prejudicados os princípios da disciplina, do respeito e do decoro militar;
XVII - abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para obter facilidades pessoais de
qualquer natureza ou para encaminhar negócios particulares ou de terceiros;
XVIII - abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas:
a) em atividades político-partidárias;
b) em atividades comerciais;
c) em atividades industriais;
d) para discutir ou provocar discussões pela imprensa a respeito de assuntos políticos ou
militares, excetuando-se os de natureza exclusivamente técnica, se devidamente
autorizado; e
e) no exercício de cargo ou função de natureza civil, mesmo que seja da Administração
Pública; e
XIX - zelar pelo bom nome das Forças Armadas e de cada um de seus integrantes,
obedecendo e fazendo obedecer aos preceitos da ética militar.

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OSTENSIVO CIAA-112/022
CAPÍTULO 2
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITOS HUMANOS
2.1 - FORMAS DE ESTADO, SISTEMA DE GOVERNO E SEPARAÇÃO DE PODERES
A Teoria Geral do Estado observa atentamente os fenômenos do Estado, desde sua
origem, formação, estrutura, organização, funcionamento e suas finalidades.
O objetivo precípuo da Teoria Geral do Estado, em síntese, é a investigação da realidade
específica do Estado, sua estrutura, suas funções, o seu processo histórico e as tendências
de sua evolução.
2.1.1 - Conceito de Sociedade Política
O ser humano não pode viver fora da sociedade. A vida em sociedade é da natureza
humana. O homem é um animal social. Mas o que é sociedade?
É o agrupamento humano que almeja o mesmo fim, através de reivindicações
organizadas que influenciam uma ou mais pessoas.
Para ser sociedade não basta a reunião de um grupo de pessoas, mas para que este
agrupamento humano possa ser reconhecido como sociedade são indispensáveis os
seguintes elementos:
a) Uma finalidade
Os agrupamentos humanos caracterizam-se como sociedades quando têm um fim
próprio a alcançar, fim este que, na sociedade humana, é o bem comum.
b) Manifestações de conjunto ordenadas
Para a consecução da finalidade, o conjunto de indivíduos promove manifestações
ordenadas, ou seja, práticas oriundas da sociedade de forma organizada.
c) O poder social
O Poder social, como já diz o nome, está em meio à sociedade. É a capacidade de
um coletivo realizar influência social, ou seja, influenciar uma ou mais pessoas, de
forma comunicativa, harmônica, ou até repressiva.
2.1.2 - Diversas são as sociedades em que o homem se insere. Podemos, quanto aos fins,
distinguir duas espécies de sociedades:
a) Particulares
Nas sociedades de fins particulares, os seus membros visam, direta e mediatamente,
aos objetivos inspiradores de sua criação, por um ato consciente e voluntário. Cita-
se por exemplo: Sociedade de Advogados, Sociedade de Economia Mista e
Sociedade Comercial (exemplo: Empresa).
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OSTENSIVO CIAA-112/022
b) Gerais
Nas sociedades de fins gerais, o objetivo de seus membros é a criação de condições
necessárias para que os indivíduos e as demais sociedades possam atingir seus fins
particulares. As sociedades de fins gerais são denominadas sociedades políticas.
Entre as sociedades políticas, a família, fenômeno universal, é a que atinge um
círculo mais restrito de pessoas. A sociedade política de maior importância, por sua
amplitude e por sua capacidade de influir e condicionar, é o Estado. Portanto, o
Estado é uma sociedade política.
2.1.3 - Conceito de Nação
Nação é o conjunto de pessoas ligadas entre si por vínculos permanentes de sangue,
idioma, religião, cultura e ideais.
Cuida-se de conceito histórico, cultural. Envolve elementos de ordem objetiva: língua,
raça (ou etnia), território, religião; e de ordem subjetiva: tradições, cultura etc.
Exemplo: a Palestina é uma Nação, mas, até hoje, não atingiu o “status” de Estado.
Diz-se que Nação é uma realidade sociológica, anterior ao Estado.
2.1.4 - Conceito de Estado
Grupo de indivíduos fixados num mesmo território e submetidos a uma mesma
autoridade, a que se atribui personalidade jurídica, onde normalmente a lei máxima é
uma Constituição escrita. Ou seja, Estado é a corporação de um povo, assentada num
determinado território e dotada de um poder originário de mando. Importa ressaltar que
Nação e Estado são realidades distintas. Nação é uma realidade sociológica e Estado
uma realidade jurídica, onde normalmente a lei máxima é uma Constituição escrita.
2.1.5 - Elementos Essenciais do Estado
a) População
A população, elemento material do Estado, é o conjunto heterogêneo de habitantes
de um país ou de uma região. É um conceito aritmético, quantitativo, demográfico,
envolvendo, portanto, a massa total de indivíduos, inclusive os estrangeiros
residentes. Não há limite mínimo e máximo para a população de um Estado.
Entretanto, é óbvio que alguns indivíduos ou algumas famílias não podem formar
um Estado, por lhes faltar o poder necessário. Atualmente, há Estados com pequena
população, como o de Mônaco, e outros com grande população, como a China.
Povo não é sinônimo de População, pois povo são os nacionais, existindo um
vínculo do indivíduo ao Estado por meio da nacionalidade ou da cidadania. Um

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brasileiro vivendo no exterior não faz parte da população do Brasil, mas faz parte do
povo brasileiro, pois é um cidadão ou pessoa de nacionalidade brasileira.
População se refere a um grupo de pessoas que residem em determinado território,
sejam ou não nacionais de determinado país, submetidos ao ordenamento jurídico e
político daquele Estado.
Povo refere-se a uma comunidade de mesma base sócio-cultural, que não depende
de base territorial para ser reconhecido. População é conceito numérico,
demográfico ou econômico, enquanto povo é conceito jurídico e político.
b) Território
O território é outro elemento material do Estado. Sem território, não há Estado,
embora possa haver Nação. É o caso dos palestinos, que constituem uma Nação,
embora sem território ainda bem definido. Território é um conceito geográfico e país
um conceito jurídico. De fato, o território de um Estado não é só o solo contínuo e
delimitado, mas, também, as regiões separadas do solo principal; as ilhas, os rios, os
lagos e mares interiores; os golfos, baías e portos; a parte que cabe a cada Estado
nos rios e lagos divisórios; o mar territorial; o subsolo; o espaço aéreo e, por força
de convenções, os navios de guerra, em qualquer lugar em que se encontrem; os
navios mercantes, quando em alto-mar; as embaixadas e representações diplomáticas
de um Estado em outro, quando presente o representante diplomático. Um país, de
uma forma geral, é um território social, político, cultural e geograficamente
delimitado, portanto pode-se afirmar que é um espaço demarcado por fronteiras
geográficas e dotado de soberania própria.
c) Governo
Há, ainda, mais um elemento essencial do Estado que é o governo, cuja definição: é
o conjunto de funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da
administração pública. O conceito de governo está relacionado com o de soberania.
De fato, o governo do Estado é uma delegação da soberania nacional. Portanto, sem
a presença de um dos elementos essenciais não há que se falar em Estado. Por fim,
ao Estado se reconhece personalidade jurídica, para que ele possa atuar no meio
social, mantendo relações jurídicas com as demais pessoas físicas ou jurídicas. A
personalidade jurídica do Estado, na realidade, assegura a manutenção de limites à
sua atuação, quando arbitrária, por meio de mecanismos jurídicos, reconhecendo

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direitos e obrigações e estabelecendo limites jurídicos claros e precisos na sua
atuação com o particular.
2.1.6 - Conceito de Soberania
A soberania do Estado consiste na característica de não se sujeitar a nenhum outro
ordenamento jurídico que não seja o seu próprio, isto é, nenhum outro Estado pode
interferir em sua ordem jurídica. Dizer que um Estado é soberano significa que este
pode editar seu próprio direito, no mais alto grau, ou seja, editar sua Constituição.
Portanto, uma ordem judicial prolatada em país estrangeiro não vincula qualquer outro
Estado a seu cumprimento, exceto ser foi ratificada pelo Estado soberano.
Exemplo: Porto Rico não é Estado independente ou soberano, pois está em território
Norte Americano, dependendo dos Estados Unidos para fazer sua defesa, sendo
classificado como Estado associado.
2.1.7 - Formas de Estado
Pode-se atribuir ao Estado duas formas: os Estados simples (unitários) e os Estados
compostos.
a) Estados Simples (unitários)
Os Estados simples ou unitários são aqueles em que somente existe um Poder
Legislativo, um Poder Executivo e um Poder Judiciário. Nos Estados unitários, só há
um governo estatal, sem outras divisões internas que não sejam as de ordem
meramente administrativa. Enfim, todas as autoridades existentes no território do
Estado unitário são delegações do Poder Central. São exemplos de Estados unitários:
Portugal, França, Uruguai.
O Estado Unitário é politicamente centralizado, existe apenas uma Constituição.
b) Estados Compostos
Os Estados compostos, por sua vez, são aqueles resultantes da junção de dois ou
mais Estados, sob regime jurídico especial, sendo só a União reconhecida como
sujeito de direito internacional.
Atualmente os Estados Compostos podem ser classificados em:
2.18 - Confederação
Na Confederação ocorre a reunião de Estados independentes, visando à defesa comum.
Modernamente, já não há confederações, mas sim federações.

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2.1.9 - Federação
A Federação é um Estado formado pela união de vários Estados. É um “Estado de
Estados”. As Federações se caracterizam pela existência da União soberana e dos
Estados autônomos.
A forma federativa de Estado se caracteriza, essencialmente, pela descentralização
política. Assim, cada Estado da União pode elaborar sua Constituição
sem ferir a Constituição Federal. São exemplos de Federação: Brasil, Estados Unidos da
América, México, Índia e Argentina. A própria Constituição já define o que é assunto
de competência para ser tratado por cada Estado e o Poder Federal.
2.1.10 - Formas de Governo
No Estado moderno, a Monarquia e a República se consagram como as únicas formas
possíveis de governo.
2.1.11 - Monarquia
As principais características da Monarquia são: vitaliciedade e hereditariedade.
O monarca não governa por um tempo certo e limitado. Permanece no governo
enquanto viver e/ou enquanto puder continuar governando. A escolha do monarca se
faz pela linha de sucessão, sem a participação do povo. Exemplos de Monarquias:
Inglaterra, Espanha e Japão. Essas monarquias têm poder limitado e, modernamente,
seu sistema de governo é o Parlamentar.
2.1.12 - República
Na República, o povo participa do governo. Daí dizer-se que a República é a
expressão democrática de governo.
Principais características da República: temporariedade e eletividade.
O Chefe do Governo republicano exerce o poder, mediante mandato, por um prazo
pré-determinado; é eleito pelo povo, inadmitindo-se a sucessão hereditária; deve
prestar contas de suas opções políticas.
Exemplos de Repúblicas: Brasil, Argentina, Itália e Chile.
2.1.13 - Sistema de Governo
Modernamente, os Estados adotam, em sua maioria, o sistema representativo, cujas
modalidades são as seguintes: Presidencialismo e Parlamentarismo.
a) Governo Presidencialista
Governo Presidencial ou Presidencialismo, inegavelmente, foi criação norte-americana

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b) Governo Parlamentarista
do século XVIII, como resultado das idéias democráticas que inspiraram a Declaração
de Independência das colônias inglesas, de 4 de julho de 1776. Atualmente, além dos
Estados Unidos e de outros países, todos os Estados latino-americanos, inclusive o
Brasil, adotam o Presidencialismo.
O Governo Parlamentar ou Parlamentarismo foi produto de longa evolução
histórica. Inegavelmente, tal Governo surgiu na Inglaterra, no século XIII. Além
da Inglaterra, outros Estados, adotam o Parlamentarismo como a França e a
Espanha.
b) Principais diferenças entre Presidencialismo e Parlamentarismo:

PRESIDENCIALISMO PARLAMENTARISMO
1. No sistema Presidencialista, não 1. No sistema Parlamentarista há
há distinção entre chefe de Estado distinção de chefe de Estado e
e de Governo, pois o Presidente chefe de Governo. O Primeiro-
participa das decisões políticas e Ministro é o Chefe do Governo,
representa o Estado, acumulando participando das decisões políticas.
as funções de Chefe de Estado e O Chefe do Estado é o Presidente
Chefe de Governo. da República ou Monarca, que
apenas representa o Estado.
2. A Chefia do Executivo é 2. A Chefia do Executivo é
unipessoal, exercida pelo colegiada, exercida pelo Primeiro-
Presidente da República e Ministro e demais Ministros
auxiliado por Ministros de Estado. (Gabinete).
3. O Presidente da República não 3. O monarca pode dissolver o
pode dissolver o Congresso. Em Parlamento por solicitação do
casos excepcionais, previstos na Primeiro-Ministro.
Constituição, o Presidente poderá
ser afastado pelo Congresso.
( impeachment.)
4. O Presidente da República é 4. O Primeiro-Ministro, em geral, é
eleito pelo povo. indicado pelo Chefe de Estado e
deve ter seu nome aprovado pelo
Parlamento.

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2.1.14 - Da Separação de Poderes
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são os entes da República
Federativa do Brasil.
A Constituição da República Federativa do Brasil concede autonomia aos seus entes
para instituir seus governos e suas leis, sem, contudo, feri-la.
A Constituição brasileira adotou o princípio da Separação de Poderes e a "teoria da
tripartição", segundo a qual as funções de poder do Estado são exercidas por três
órgãos distintos: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
Em seu artigo 2º, a Constituição da República Federativa do Brasil estabelece que
esses Poderes são independentes e devem funcionar em harmonia, pois cada um
completa e, ao mesmo tempo, limita a atuação do outro. Cada um desses Poderes tem
seus deveres ou competências e prerrogativas definidas na Constituição.
a) Executivo
Tem responsabilidade direta sobre os serviços públicos, tais como saúde,
segurança, educação, abastecimento e infraestrutura (estradas, energia,
saneamento). Entretanto, ele só pode executá-los conforme as leis.
O Poder Executivo da União é exercido pelo Presidente da República juntamente
com o Vice-Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado, os
quais atuam à frente dos Ministérios e são responsáveis pela condução de políticas
públicas e pelo serviço público permanente.
O Poder Executivo sanciona e aplica as leis, administra, presta serviços, realiza
obras e outras atividades administrativas de responsabilidade do poder público.
b) Legislativo
Tem a função de elaborar e/ou aprovar as leis, observando o processo legislativo.
Também lhe cabe a função de fiscalizar o Executivo e representar as expectativas
e desejos dos vários setores da sociedade, além de inúmeras outras atividades de
natureza política.
Na esfera federal o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, órgão
bicameral, ou seja, formado por duas Casas ou Câmaras: a Câmara dos
Deputados, composta dos Deputados Federais, e o Senado Federal, dos Senadores.
O número total de Deputados Federais é de 513 representantes e seu número é
proporcional à população dos estados. Os Senadores são em número de 3 para
cada Unidade Federativa. Atualmente, portanto, são 81 no total.
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c) Judiciário
É o Poder que julga. Cabe a ele resolver conflitos, seja entre os cidadãos, entre os
cidadãos e o Estado ou entre os Poderes do Estado. Quando julgam, os juízes e os
tribunais ditam a solução jurídica para o conflito levado à sua apreciação.
O Poder Judiciário da União tem sua estrutura contemplada pelo artigo 92 da
Constituição da República Federativa do Brasil e é integrado pelo Supremo
Tribunal Federal (órgão máximo do Judiciário brasileiro); pelo Superior Tribunal
de Justiça; pelos Tribunais e Juízes da Justiça Federal, da Justiça do Trabalho, da
Justiça Eleitoral e da Justiça Militar Federal.
O Poder Judiciário estadual é exercido pelos tribunais e juízes estaduais: Tribunal
de Justiça, pelos Juízes de Direito, Tribunais do Júri e Juizados Especiais (que
atuam no julgamento das chamadas "pequenas causas").
Há ainda a Justiça Estadual Militar, que julga crimes praticados por policiais e
bombeiros militares estaduais.
2.2 - DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – ART. 5º ao 17 - CF/88

Direitos humanos fundamentais é o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do


ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua
proteção contra o arbítrio do poder estatal (poder do estado) e o estabelecimento de
condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana.

2.2.1 - Direitos Humanos de Primeira Geração


Os Direitos Humanos de Primeira Geração ou Direitos da Liberdade têm por titular o
indivíduo, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma
subjetividade que é o seu traço mais característico, enfim, são direitos da resistência ou
de oposição, no caso de arbítrio do Estado. Constituem-se no primeiro patamar do
reconhecimento do ser humano por uma Constituição, surgindo à idéia do Estado de
Direito. Em nossa Constituição os Direitos Humanos de Primeira Geração estão
estabelecidos no artigo quinto.
2.2.2 - Conceito e Destinatários dos Direitos e Garantias Individuais
Os Direitos Individuais são os direitos fundamentais do homem.
Esses direitos fundamentais reconhecem a autonomia aos indivíduos e lhes garante a
iniciativa e independência diante dos demais membros da sociedade política e do
próprio Estado. São destinatários dos Direitos e Garantias Individuais os brasileiros e os
estrangeiros no Brasil.
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OSTENSIVO CIAA-112/022
2.2.3 - Classificação dos Direitos e Garantias Fundamentais
Há autores que classificam os direitos e garantias fundamentais em três gerações,
seguindo de certa forma a sequência dada pelo lema da Revolução Francesa – liberdade,
igualdade e fraternidade.
A primeira geração refere-se à liberdade do indivíduo em relação ao Estado, com a
contenção do arbítrio estatal e o respeito aos direitos civis (direitos fundamentais
individuais, correspondendo, por exemplo: ao direito a igualdade perante a lei; o direito
a um julgamento justo; o direito de ir e vir; o direito à liberdade de opinião; entre
outros) e políticos do cidadão.
A segunda geração (igualdade) refere-se aos direitos sociais, econômicos e culturais,
com o compromisso do Estado de promover o bem-estar social.
A terceira geração (fraternidade) dirige-se à proteção de direitos coletivos e difusos,
como o meio ambiente, a paz, os direitos do consumidor, a qualidade de vida.
2.2.4 - Princípios Constitucionais e os Direitos Individuais
Os Direitos Individuais estão expressos na Constituição da República Federativa do
Brasil, no seu artigo quinto, entre os quais se destacam:
a) Princípio da Igualdade ou Isonomia
O objetivo do Princípio da Igualdade é extinguir as diferenciações arbitrárias e as
discriminações absurdas não sendo apenas uma utopia, mas uma realidade se vista
adequadamente. Pois, todos são seres humanos perante a lei, devendo ser tratados
como tal, com direitos e garantias à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade. A Constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de
direitos, prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades de que
todos os Cidadãos têm o direito de tratamento idêntico determinado pela lei. Dessa
forma, o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas,
pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é
exigência do próprio conceito de Justiça. Como por exemplo, a exigência de altura
mínima de 1,5 metros para inscrição em concurso de advogado da Prefeitura, seria
inconstitucional, pois o fator discriminatório adotado não demonstra nexo de
causalidade com a função disputada. De forma diversa seria se o mesmo fator fosse
exigido em prova para a carreira militar, cuja altura e vigor físico são pressupostos
ao cargo disputado.

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b) Princípio da Legalidade
Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei. Princípio consagrado no Estado de Direito, vem contemplado além do artigo 5º,
também no artigo 37 e artigo 84, inciso IV do texto Constitucional. A leitura do
Princípio tem sentido diverso para as relações particulares, comparado com as
relações com a administração pública. Para os particulares vigora o Princípio da
Autonomia da Vontade, em que tudo o que não é proibido é permitido. Para o
administrador, entretanto, vigora o Princípio da Legalidade Estrita, em que somente
será permitido o legalmente previsto. A conduta do militar somente será punível se
prevista na legislação, como, por exemplo, o Código Penal Militar e o Regulamento
Disciplinar para Marinha.
b) Princípio da Dignidade da Pessoa Humana
O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana impõe um dever de abstenção e de
condutas positivas tendentes a efetivar e proteger a pessoa humana. A dignidade é
uma qualidade própria da pessoa humana que não pode ser afastada de quem quer
que seja. Sendo assim, ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento
desumano ou degradante. O crime de tortura consiste em constranger alguém com
emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
I) Com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de
terceira pessoa;
II) Para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; e
III) Em razão de discriminação racial ou religiosa.
Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de castigo
pessoal ou medida de caráter preventivo.
c) Princípio da Inviolabilidade de Domicílio
A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela poderá penetrar sem o
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. Cabe frisar que por
determinação judicial somente durante o dia, ou seja, das 06 às 18 horas. Exemplo:
militar morador de PNR (Próprio Nacional Residencial) tem o seu domicílio
inviolável dentro de área sob a administração militar. Caso haja a necessidade de
algum serviço em seu domicílio, deverá ser autorizado pelo militar morador.
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d) Princípio da Privacidade e Intimidade
É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados
e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal. Exemplo: abrir o bilhete de pagamento ou
correspondência de terceiros.
e) Princípio da Liberdade de Reunião e de Associação
É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar
(associações civis, armadas e com estrutura semelhante à militar, que usam táticas e
técnicas policiais e/ou militares para a consecução de seus objetivos.). Exemplo
atual seria a formação de grupos compostos por militares, sob a motivação de
ineficiência do aparelho policial estatal, constituindo as “milícias armadas”.
Qualquer participação do militar em organizações paramilitares, mesmo que tenha a
melhor das intenções é proibida pela Constituição da República Federativa do
Brasil. Aos militares são proibidos a sindicalização e a greve, conforme a
Constituição da República Federativa do Brasil.
f) Princípio da Liberdade de Informação
Todos têm direito a receber dos Órgãos Públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
improrrogável de quinze dias, contado do registro do pedido no órgão expedidor da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvada aquelas cujo sigilo seja imprescindível
à segurança da sociedade e do Estado.
g) Princípio do Livre Acesso ao Poder Judiciário
A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Não
havendo necessidade de esgotar o assunto na via administrativa para se buscar o
acesso ao Judiciário.
h) Princípio da Segurança Jurídica
Situações que restringe a retroatividade da lei. A lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
I) Direito adquirido
É a vantagem jurídica, líquida, certa, lícita, concreta que a pessoa obtém na

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forma da lei vigente. Incorpora-se definitivamente e sem contestação ao
patrimônio de seu titular, não lhe podendo ser subtraída por vontade alheia,
inclusive dos entes estatais e seus agentes. Exemplo: completado o prazo para
reserva, mesmo permanecendo na ativa, o militar não perde os direitos
anteriormente adquiridos.
II) Ato jurídico perfeito
Ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou, logo está
imunizado contra qualquer nova exigência que a nova lei venha a dispor; e
III) Coisa julgada
Decisão judicial de que não caiba mais recurso.
i) Princípio da Anterioridade e da Tipicidade
O princípio foi adotado como direito fundamental do homem, nestes termos: “não
há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação (previsão)
legal”, constituindo princípio da legalidade penal.
j) Princípio da Irretroatividade da Lei Penal
Tal princípio está expresso na Constituição Federal, nestes termos: “a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Segundo este princípio, por exemplo, se
um crime for apenado com o máximo de cinco anos de reclusão, e determinado
indivíduo praticar tal crime, a pena aplicável a ele não poderá ser superior a cinco
anos, apesar de a lei posterior ao fato ter aumentado a pena daquele crime para oito
anos de reclusão. Todavia, se a lei, por exemplo, diminuir a pena do crime para três
anos de reclusão, apesar de tal lei ser posterior ao fato, será aplicada, já que
beneficia o réu.
k) Princípio da Dignidade do Preso
É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral, ninguém será preso
senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei. A prisão de qualquer pessoa e o local onde
se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do
preso ou à pessoa por ele indicada, o preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado. A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária.

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l) Princípio do Devido Processo Legal
Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.
Os litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes, assim como são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos:
I) Contraditório
Oportunidade de apresentar a sua defesa sobre os fatos alegados.
II) Ampla defesa
Possibilidade do acusado de trazer ao processo todos os elementos lícitos
necessários a esclarecer a verdade dos fatos.
Exemplo: Se um militar da Marinha do Brasil cometer uma falta contrária à
legislação militar e essa sua falta não constituir crime, estará sujeito apenas ao
enquadramento previsto de forma taxativa no RDM.
m) Princípio da Presunção da Inocência
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória:
I) Trânsito em julgado
Situação processual em que a decisão judicial não caiba mais recurso.
II) Entende-se por sentença penal condenatória, transitada em julgado, aquela que
contém a condenação do autor de fato definido em lei como crime, não sujeita
a recurso ordinário ou extraordinário. Diz-se que, com o trânsito em julgado, a
sentença torna-se imutável; e
III) Este princípio é aplicável ao Direito Administrativo Militar, sendo que a
autoridade julgadora deve atuar com imparcialidade e quando verificar que o
conjunto probatório estampado nos autos for deficiente, deve entender pela
absolvição do acusado.
2.2.5 - Práticas Discriminatórias, Crimes Inafiançáveis e Insuscetíveis de Graça ou Anistia
e Crimes Inafiançáveis e Imprescritíveis
A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais,
em que a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei. A lei considerará crimes inafiançáveis e
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insuscetíveis de graça ou anistia: a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes
e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. A
ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático, constitui crime inafiançável e imprescritível
2.2.6 - Casos de aplicação da pena de morte no Brasil
A pena capital ou pena de morte somente poderá ser aplicada no Brasil, em caso de
guerra declarada. A Declaração de Guerra é ato privativo do Presidente da República,
nos casos de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado
por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas
condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional.
2.3 - MISSÃO CONSTITUCIONAL DAS FORÇAS ARMADAS

Para compreender a missão constitucional das Forças Armadas é necessário conceituar e


localizar no ordenamento jurídico e na doutrina a hierarquia e a disciplina, juntamente com
a previsão constitucional do artigo 142 em que as forças armadas, constituídas pela
Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e
regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destina-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
2.3.1 - Princípios Constitucionais Militares
a) Princípio da Hierarquia e Disciplina
O artigo 142 da Constituição Federal demonstra que os valores da hierarquia e
disciplina são a base institucional das forças armadas.
I) Hierarquia militar
É a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças
Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo
posto ou graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O respeito à
hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade.
II) Disciplina
É a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e
disposições que fundamentam o organismo militar e coordenam seu
funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do

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dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo.
A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser mantidos em todas as
circunstâncias da vida entre militares da ativa, da reserva remunerada e
reformados.
b) Princípio da Desconcentração das Forças
O caput do artigo 142 da CRFB/88 estabelece que as Forças Armadas são
constituídas pelos seguintes Órgãos: Marinha, Exército e Aeronáutica.
Os legisladores constituintes, empregando o critério de desconcentração por matéria,
e, também atento à tradição militar do país, tendo em consideração as defesas
marítimas, terrestres e aéreas, desconcentraram as Forças Armadas em três Órgãos,
cuja missão é a defesa da Pátria (Segurança Externa), a garantia dos poderes
constitucionais e da “lei e da ordem”.
c) Princípio da Permanência e da Regularidade das Forças
As Forças Armadas são instituições nacionais permanentes e regulares, ou seja, a
Constituição agrega a existência das Forças Armadas à própria existência do Estado
Brasileiro.
d) Princípio da Subordinação das Forças.
As Forças Armadas submetem-se à autoridade suprema do Presidente da República.
Ao cuidar das atribuições do Presidente da República, a Constituição da República
Federativa do Brasil estabelece competir privativamente àquela autoridade exercer o
comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os
cargos que lhes são privativos.
e) Princípio da Destinação Estrita e Previsão para Lei Complementar.
As Forças Armadas se submetem à autoridade suprema do Presidente da República e
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa
de qualquer destes (Executivo, Legislativo e Judiciário), da lei e da ordem. O
Princípio em questão funciona como garantia de que as Forças Armadas não serão
empregadas para fins circunstanciais, político-partidários ou pelas paixões de um
dado momento histórico-político:
I) Parágrafo primeiro do artigo 142 da Constituição Federal
“A lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na
organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas”.
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II) Parágrafo Único, Art. 1º da Lei Complementar 97/1999.
“Sem comprometimento de sua destinação Constitucional, cabe também às
Forças Armadas o cumprimento das atribuições subsidiárias explicitadas nesta
Lei Complementar”.
III) A Lei Complementar 136/2010 modificou a Lei Complementar 97/1999, sendo
que esse novo marco legal inseriu novas atribuições às Forças Armadas e abre
espaço para reestruturação da Defesa e a execução de novas tarefas e obrigações,
especialmente na coordenação das Forças Armadas e na integração da área de
defesa com o projeto de desenvolvimento nacional.
2.3.2 - Principais Modificações Introduzidas Pela Lei Complementar 136/2010
a) Do assessoramento do Ministro de Estado da Defesa
Por meio da Lei Complementar 136/2010 foi ampliado o Conselho Militar de
Defesa, passando a também integrá-lo o Chefe do Estado-Maior Conjunto das
Forças Armadas.
b) Do Estado-Maior conjunto das Forças Armadas (EMCFA)
O EMCFA é o Órgão de assessoramento permanente do Ministro de Estado da
Defesa, sendo composto por comitê integrado pelos chefes de Estados-Maiores das
três Forças, sob a coordenação do Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças
Armadas, que será um oficial-general do último posto, da ativa ou da reserva,
indicado pelo Ministro de Estado da Defesa e nomeado pelo Presidente da
República.
O Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, se da ativa será
transferido para a reserva remunerada quando empossado no cargo, tendo o mesmo
grau de precedência hierárquica dos Comandantes e precedência sobre os demais
oficiais-generais das Forças. A alteração da doutrina e criação do EMCFA
permitirão uma atuação integrada das Forças Armadas, pois passarão a atuar sob
um comando conjunto.
c) Do Livro Branco de Defesa Nacional
Ao Ministro de Estado da Defesa compete a implantação do Livro Branco de
Defesa Nacional, documento de caráter público, por meio do qual se permitirá
acesso ao amplo contexto da Estratégia de Defesa Nacional. No Livro Branco de
Defesa Nacional deverá conter dados estratégicos, orçamentários, institucionais e
materiais detalhados sobre as Forças Armadas, abordando os seguintes tópicos:
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I) Cenário estratégico para o século XXI;
II) Política nacional de defesa
III) Estratégia nacional de defesa;
IV) Modernização das Forças Armadas;
V) Racionalização e adaptação das estruturas de defesa;
VI) Suporte econômico da defesa nacional;
VII) As Forças Armadas: Marinha, Exército e Aeronáutica; e
VIII) Operações de paz e ajuda humanitária.
A apreciação do Congresso Nacional
O Poder Executivo encaminhará à apreciação do Congresso Nacional, na primeira
metade da sessão legislativa ordinária, de 4 (quatro) em 4 (quatro) anos, a partir do
ano de 2012, com as devidas atualizações:
I) A Estratégia Nacional de Defesa; e
II) O Livro Branco de Defesa Nacional.
d) Nova atribuição subsidiária à MB
Inicialmente, ressalta-se que Polícia Judiciária é instituição de direito público com
função auxiliar à justiça. Sua finalidade é a apuração da ocorrência de infrações
penais e suas respectivas autorias, visando a fornecer elementos para a propositura
da ação penal por seu titular. Na esfera federal as funções de polícia judiciária são
exercidas, com exclusividade, pela Polícia Federal. O artigo 16-A da Lei
Complementar 136/2010, prevê que cabe às Forças Armadas, além de outras ações
pertinentes, também como atribuições subsidiárias, preservadas as competências
exclusivas das polícias judiciárias, atuar, por meio de ações preventivas e
repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas interiores,
independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame
que sobre ela recaia, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou
em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, executando, dentre outras,
as ações de:
I) Patrulhamento;
II) Revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves; e
III) Prisões em flagrante delito.
Com estas novas atribuições conferidas às Forças Armadas, a MB terá o poder-

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dever de atuar, de maneira subsidiária, preservadas as competências exclusivas das
polícias judiciárias, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de
fronteira terrestre, no mar e nas águas interiores, contra delitos ambientais e
transfronteiriços (ilícitos que ultrapassam as fronteiras nacionais, tanto na entrada
como na saída, tais como armas, munições, explosivos, tráfico ilícito de
entorpecentes e/ou de substâncias que determinem dependência física ou
psíquica, ou matéria-prima destinada à sua preparação; contrabando e o
descaminho), isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder
Executivo, executando, dentre outras: ações de patrulhamento, revista de pessoas,
de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves e ainda, executar prisões em
flagrante delito. Os atos praticados por militares no cumprimento de missões em
operações subsidiárias serão julgados pela Justiça Militar.
Exemplos: Exercícios operacionais em áreas públicas, ações na GLO, ações
preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas
interiores.
2.4 - DIRETRIZES DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) E DA
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA)
O Brasil está plenamente inserido nos sistemas internacionais – tanto o global, da ONU
(Organização das Nações Unidas), como o regional, da OEA (Organização dos Estados
Americanos) - de promoção e proteção dos direitos humanos.
Os principais tratados internacionais foram ratificados a partir da redemocratização do
País, na década de 90, e a política externa brasileira de direitos humanos conquistou
credibilidade por parte da comunidade internacional. Tanto é assim que o Brasil foi um
dos países com maior número de votos na eleição dos membros do recém-criado
Conselho de Direitos Humanos. A política nacional pauta-se pela cooperação e
transparência com os órgãos de monitoramento dos direitos humanos nos diversos fóruns,
seja os mecanismos convencionais e extra-convencionais das Nações Unidas e o Tribunal
Penal Internacional, seja a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. O
Brasil é, hoje, um ator de grande importância no cenário internacional dos direitos
humanos.

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2.4.1 – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU)
Fundada em 24 de outubro de 1945, na cidade de São Francisco (Califórnia – Estados
Unidos), a ONU (Organização das Nações Unidas) é uma organização constituída por
governos da maioria dos países do mundo. É a maior organização internacional, cujo
objetivo principal é criar e colocar em prática mecanismos que possibilitem a segurança
internacional, desenvolvimento econômico, definição de leis internacionais, respeito aos
direitos humanos e o progresso social. Contava com a participação de 51 nações, e, ainda
no clima do pós-guerra, a ONU procurou desenvolver mecanismos multilaterais para
evitar um novo conflito armado mundial. Atualmente, conta com 192 países membros,
sendo que cinco deles (Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França) fazem
parte do Conselho de Segurança. Este pequeno grupo tem o poder de veto sobre qualquer
resolução da ONU. A sede principal da ONU fica na cidade de Nova Iorque e seus
representantes definem, através de reuniões constantes, leis e projetos sobre temas
políticos, administrativos e diplomáticos internacionais. A ONU está dividida em vários
organismos administrativos, por exemplo: Corte Internacional de Justiça, Conselho
Econômico e Social, Assembléia Geral entre outros.
A Carta das Nações Unidas define como objetivos principais da ONU:
a) Defesa dos direitos fundamentais do ser humano;
b) Garantir a paz mundial, colocando-se contra qualquer tipo de conflito armado;
c) Busca de mecanismos que promovam o progresso social das nações; e
d) Criação de condições que mantenham a justiça e o direito internacional.
2.4.2 – ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA) .
A Organização dos Estados Americanos é o mais antigo organismo regional do mundo.
A sua origem remonta à Primeira Conferência Internacional Americana, realizada em
Washington, D.C., de outubro de 1889 a abril de 1890. Esta reunião resultou na criação
da União Internacional das Repúblicas Americanas, e começou a se tecer uma rede de
disposições e instituições, dando início ao que ficará conhecido como “Sistema
Interamericano”, o mais antigo sistema institucional internacional. A Organização foi
criada para alcançar nos Estados membros, como estipula o Artigo 1º da Carta, “uma
ordem de paz e de justiça, para promover sua solidariedade, intensificar sua colaboração
e defender sua soberania, sua integridade territorial e sua independência”. Hoje, a OEA
congrega os 35 Estados independentes das Américas e constitui o principal fórum
governamental político, jurídico e social do Hemisfério..
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Para atingir seus objetivos mais importantes, a OEA baseia-se em seus principais pilares
que são a democracia, os direitos humanos, a segurança e o desenvolvimento. Embora
alguns estudiosos remontem os antecedentes do Sistema Interamericano ao Congresso
do Panamá, convocado por Simón a Bolívar em 1826, o fato é que somente em 1889 os
Estados americanos decidiram se reunir periodicamente e criar um sistema
compartilhado de normas e instituições. Nesse ínterim, realizaram-se conferências e
reuniões para gerar o sistema, mas foi somente a convite do Governo dos Estados
Unidos que teve início o processo que se desenrola ininterruptamente até hoje.
a) Primeira Conferência Internacional Americana foi realizada em Washington,
D.C., de outubro de 1889 a abril de 1890, "com o objetivo de discutir e recomendar para
adoção dos respectivos governos um plano de arbitragem para a solução de controvérsias
e disputas que possam surgir entre eles, para considerar questões relativas ao
melhoramento do intercâmbio comercial e dos meios de comunicação direta entre esses
países, e incentivar relações comerciais recíprocas que sejam
benéficas para todos e assegurem mercados mais amplos para os produtos de cada um
desses países".
Dezoito Estados americanos participaram da conferência, na qual decidiu-se constituir a
"União Internacional das Repúblicas Americanas para a pronta coleta e distribuição de
informações comerciais," com sede em Washington, que depois tornou-se a "União
Pan-Americana" e, finalmente, com a expansão das suas funções, a Secretaria Geral da
OEA. Com respeito a questões jurídicas, a conferência recomendou a adoção de
disposições para governar a extradição; declarou que a conquista não cria direitos; e
produziu orientações para a redação de um tratado sobre arbitragem que evitasse o
recurso à guerra como meio de resolver controvérsias entre as nações americanas.
b) Quinta Conferência Internacional Americana (Santiago, Chile) adotou o Tratado
para Evitar ou Prevenir Conflitos entre Estados Americanos (Tratado de Gondra).
c) Sexta Conferência Internacional Americana – Ocorreu em Havana (Cuba), e seu
Anexo: o Código Bustamante de Direito Internacional Privado. Embora essa convenção
tenha recebido poucas ratificações e, principalmente, não tenha sido adotada pelos
países meridionais da América do Sul, que preferiram as disposições dos Tratados de
Direito Internacional Privado de Montevidéu de 1889 e 1939, foi um passo importante
para a codificação e progressivo desenvolvimento do direito internacional privado.

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Além da União Pan-Americana, estabeleceu-se gradualmente um conjunto de
instituições para facilitar a cooperação em áreas específicas. Ao longo dos anos, e com
vários nomes, as seguintes instituições foram formadas e iniciaram tarefas importantes:
a Organização Pan-Americana da Saúde (1902), que depois se tornou o escritório
regional da futura Organização Mundial da Saúde; a Comissão Jurídica Interamericana
(1906); o Instituto Interamericano da Criança (1927); a Comissão Interamericana de
Mulheres (1928); o Instituto Pan-Americano de Geografia e História (1928); o Instituto
Indigenista Interamericano (1940); o Instituto Interamericano de Cooperação para a
Agricultura (1942); e a Junta Interamericana de Defesa (1942), que foram seguidas,
após o estabelecimento da OEA, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento,
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Corte Interamericana de Direitos
Humanos, Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas, Comissão
Interamericana de Telecomunicações, Comissão Interamericana de Portos, Centro de
Estudos da Justiça das Américas, e outras. Uma Corte Interamericana de Justiça foi
proposta em 1923, mas nunca se materializou, embora houvesse um precedente na
forma da Corte Centro Americana de Justiça, que funcionou de 1907 a 1918. Assim,
estabeleceu-se uma rede de instituições regionais para fortalecer a cooperação entre
Estados americanos sobre uma ampla gama de temas da agenda regional.
d) Sétima Conferência Internacional Americana (Montevidéu, Uruguai) adotou a
Convenção sobre os Direitos e Deveres dos Estados, que reafirmou o princípio de que
"os Estados são juridicamente iguais, desfrutam iguais direitos e possuem capacidade
igual para exercê-los", reiterou o princípio de que nenhum Estado tem o direito de
intervir (proibição de intervenção) em assuntos internos ou externos de outro e
sublinhou a obrigação de todos os Estados no sentido de que "as divergências de
qualquer espécie que entre eles se levantem deverão resolver-se pelos meios pacíficos
reconhecidos".
e) Nona Conferência Internacional Americana, que se reuniu em Bogotá
(Colômbia), em 1948, com a participação de 21 Estados, adotou a Carta da
Organização dos Estados Americanos, o Tratado Americano sobre Soluções Pacíficas
("Pacto de Bogotá") e a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. Essa
mesma conferência adotou o Acordo Econômico de Bogotá, que buscava promover a
cooperação econômica entre os Estados americanos; contudo, este nunca entrou em
vigor.
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Como a própria Carta da OEA, o "Pacto de Bogotá" obriga as Altas Partes Contratantes
a resolver as controvérsias entre Estados americanos por meios pacíficos e indica os
procedimentos a serem adotados: mediação, investigação e conciliação, bons ofícios,
arbitragem e, finalmente, recurso à Corte Internacional de Justiça de Haia, o que
significou que algumas controvérsias foram realmente submetidas a essa Corte. A
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, adotada meses antes da
Declaração Universal, sublinhava o compromisso da região com a proteção
internacional dos direitos humanos e preparou o caminho para a Convenção Americana
de Direitos Humanos ("Pacto de San José", Costa Rica), que foi adotada em 1969 e
entrou em vigor em 1978.
A OEA também atua como secretaria de várias reuniões ministeriais, em particular
reuniões de Ministros da Justiça, Ministros do Trabalho, Ministros da Ciência e
Tecnologia e Ministros da Educação das Américas.
2.4.2 - Atos Internacionais sobre direitos humanos.
São exemplos de atos internacionais sobre Direitos Humanos:

a) Declaração Universal dos Direitos do Homem;

b) Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São Jose);

c) Convenção sobre a Proteção dos Direitos do Homem e Liberdades Fundamentais;

d) Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados;

e) Protocolo sobre Estatuto dos Refugiados;

f) Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de Discriminação


Racial;

g) Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou


degradantes;

h) Convenção Interamericana para prevenir e punir a tortura;

i) Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas;

j) Convenção Internacional para a Proteção de todas as Pessoas contra o


Desaparecimento Forçado;

k) Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos;

l) Declaração dos Direitos da Criança; e

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m) Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as
Mulheres.

2.5 - CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH)


Dentre as atribuições exercidas pela Corte Interamericana, está a supervisão da execução
de suas próprias sentenças. A Corte tem por prática acompanhar as medidas adotadas ou
não pelos Estados, encerrando o processo somente em caso de execução total da decisão.
Assim, uma sentença não será declarada executada enquanto não for realizada todas as
medidas definidas em seu corpo. As medidas a serem tomadas pela Corte Interamericana
variam conforme o caso. Nesse sentido, conforme Andrade (2006, p.155) a Corte vela pela
implementação de seus julgamentos através do exame de informações submetidas pelo
Estado condenado e pela vítima ou seus representantes sobre as ações estatais adotadas.
Com base nesses dados, a Corte emite resoluções que indicam quais as obrigações que já
foram cumpridas integral e corretamente e quais são aquelas faltantes. Não são raros os
casos em que as medidas tomadas pelo Estado são insuficientes ou ineficazes para
satisfazer a obrigação prescrita. A Corte é persistente nessa escrupulosa tarefa de exame,
motivo pelo qual para cada sentença são emitidas normalmente várias resoluções até que o
cumprimento pleno seja constatado. Algumas das obrigações ditadas na decisão requerem
ações trabalhosas e demoradas, fazendo com que o número de execuções sob verificação
da Corte aumente a cada ano. Segundo seu último Informe Anual (2005), 59 era o número
de sentenças supervisionadas. Na hipótese de inexecução dos julgados, a Convenção prevê
o envolvimento de um órgão político, a Assembléia Geral da OEA. Segundo o artigo 65 do
Pacto de São José, a Corte deve submeter anualmente um relatório de suas atividades à
Assembléia, e “de maneira especial, e com as recomendações pertinentes, indicará os
casos em que um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças”. É o que prevê
igualmente o artigo 30 do Estatuto da Corte. No entanto, tal dispositivo é de difícil
utilização prática. Em verdade o objetivo de se levar o caso à Assembléia Geral da OEA é
exercer uma determinada pressão política no Estado condenado, pois os esforços de
supervisão da Corte se mostraram insuficientes (ANDRADE, 2006, p. 156).
A Corte Interamericana condenou o Brasil por não esclarecer os fatos, não prestar a
reparação dos parentes de vítimas nem punir os responsáveis pela repressão. A sentença se
resume a 11 pontos. Foi cumprida a publicação da sentença em veículo de grande
circulação no caso, o diário O Globo. A
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Convenção Interamericana sobre Desaparecimento Forçado de Pessoas, formulada em
1994 e apresentada ao Legislativo em 2008, concluiu a tramitação em abril do ano de
2012, embora ainda reste a elaboração de uma legislação nacional sobre o assunto. Há
ainda duas leis indiretas recentemente sancionadas pela presidenta Dilma Rousseff:
a) A Comissão Nacional da Verdade; e
b) A Lei de Acesso a Informações Públicas.
2.5.1 - Exigências da Corte Interamericana:
a) Conduzir a investigação e determinar as responsabilidades penais;
b) Realizar todos os esforços para determinar o paradeiro dos desaparecidos;
c) Oferecer tratamento médico e psicológico às vítimas que o requeiram;
d) Realizar a publicação da sentença em veículo de grande circulação e em página
oficial do Estado na internet;
e) Realizar ato público de reconhecimento da responsabilidade internacional do país;
f) Implementar programa obrigatório de treinamento em direitos humanos nas Forças
Armadas;
g) Tipificar o desaparecimento forçado de pessoas em conformidade com parâmetros da
OEA;
h) Continuar iniciativas de busca, sistematização e publicação de informações sobre a
Guerrilha do Araguaia, especificamente, e da ditadura com um todo.
i) Pagar indenização material nos termos definidos pela Corte;
j) Convocar os parentes para que, dentro de seis meses, apresentem prova suficiente
que lhes permita a identificação como tais; e
k) Que as famílias de Francisco Manoel Chaves, Pedro Matias de Oliveira, Hélio Luiz
Navarro de Magalhães e Pedro Alexandrino de Oliveira Filho possam apresentar
pedido de indenização.
2.5.2 Sentença Aplicada Pela Corte Interamericana
A Secretaria de Direitos Humanos manifestou, em nota, que considera que o Brasil tem
avançado no tema. “É preciso ter claro que o caso Gomes Lund envolve todo o Estado
brasileiro, incluindo os poderes Legislativo, Judiciário e Legislativo, além de instâncias
da sociedade civil e de familiares e vítimas da ditadura.”. Flávia Piovesan, professora de
Direitos Humanos e Direito Constitucional da Pontífice Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), lembra que as convenções internacionais são firmadas de livre vontade
pelas nações e que o Supremo tem o dever de zelar pela implementação dos tratados e da
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jurisprudência internacional. “Quando o Estado brasileiro ratifica um tratado de direitos
humanos, não é só o Executivo que deve cumpri-lo de boa fé, mas o Judiciário, o
Legislativo, o Estado como um todo” pontua. O Brasil ratificou em 1992 a Convenção
Americana de Direitos Humanos, o que significa que o país se submete às decisões
proferidas pelo sistema interamericano, encabeçado pela Corte. “A sentença da Corte será
definitiva e inapelável”, reza a carta regional, que prevê ainda que o órgão poderá
esclarecer sua interpretação sobre uma sentença desde que isso seja solicitado por uma das
partes em até 90 dias após a notificação, o que não ocorreu.

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CAPÍTULO 3

DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO

As constantes transformações do mundo conduzem análises das fronteiras internacionais sob


novas e diferentes óticas de integração política, social, cultural, econômica e de defesa,
acarretando alterações no padrão de relacionamento dos povos. Inserido nesse contexto, o
Direito Internacional é cada vez mais utilizado como forma de regulamentação de
comportamento, seja em tempo de paz ou de guerra. Com a adoção desse conceito, os
Estados procuram celebrar acordos internacionais, visando a minimizar os efeitos
decorrentes dos conflitos armados, de forma a regulamentar e aprimorar a lei dos usos e
costumes da guerra. Esse conjunto de regras e normas permitiu o surgimento de um ramo
específico do Direito Internacional Público, o Direito Internacional Humanitário (DIH),
também chamado de Direito da Guerra ou de Direito Internacional dos Conflitos Armados
(DICA).
“O Direito Internacional Humanitário é o conjunto de normas
internacionais, de origem convencional ou consuetudinária,
especificamente destinado a ser aplicado nos conflitos armados,
internacionais ou não-internacionais, e que limita, por razões
humanitárias, o direito das Partes em conflito de escolher livremente os
métodos e os meios utilizados na guerra, ou que protege as pessoas e os
bens afetados, ou que possam ser afetados pelo conflito.” (Christophe
Swinarski, 1996) 1
3.1 – DIREITO DE GENEBRA
Objetiva salvaguardar e proteger as vítimas de conflitos armados:
a) membros das Forças Armadas fora de combate;
b) feridos;
c) doentes;
d) náufragos;
e) prisioneiros de guerra (PG);
f) população civil; e
g) todas as pessoas que não participem ou tenham deixado de participar das
hostilidades.
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3.1.1 - Constitui-se pelas quatro Convenções de Genebra, de 12 de agosto de 1949, que
estabelecem normas de proteção das vítimas de conflitos armados.
a) A Primeira Convenção de Genebra trata da melhoria das condições dos feridos
e dos enfermos das forças armadas em campanha;
b) A Segunda Convenção de Genebra trata da melhoria das condições dos feridos,
enfermos e náufragos das forças armadas no mar;
c) A Terceira Convenção de Genebra é relativa ao tratamento dos prisioneiros de
guerra; e
d) A Quarta Convenção de Genebra é relativa à proteção dos civis em tempo de
guerra.
3.1.2 - Além das quatro convenções acima mencionadas, complementam o direito de
Genebra os protocolos adicionais, sendo os mais importantes:
a) Protocolo adicional às convenções de Genebra, de 12 de agosto de 1949,
relativo à proteção das vitimas dos conflitos armados internacionais (Protocolo
I); e
b) Protocolo adicional às convenções de Genebra, de 12 de agosto de 1949,
relativo à proteção das vitimas dos conflitos armados não-internacionais
(Protocolo II). MD34-M-03 16/48
3.2 – O DIREITO DE HAIA
Estabelece os direitos e deveres dos beligerantes durante a condução de operações
militares, impondo limitações aos meios utilizados para provocar danos aos inimigos.
Consubstancia-se nas Convenções de Haia de 1899, revistas em 1907, e em vários
acordos internacionais que proíbem ou regulam a utilização de armas.
3.3 – DIREITO MISTO
Entende-se por Direito Misto ou “Direito de Nova York” o conjunto de normas
originadas no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1968, por
ocasião do Ano Internacional dos Direitos do Homem, a ONU convocou a
Conferência Internacional dos Direitos do Homem, que marcaria o vigésimo
aniversário da Declaração dos Direitos do Homem de 1948. No final da reunião,
realizada no Irã, adotou-se a resolução XXIII que, entre outras solicitações, pedia que
todos os signatários auxiliassem para que, em todos os conflitos armados, tanto a
população civil como os soldados fossem protegidos pelos princípios do DICA.

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As inovações tecnológicas e a complexidade dos conflitos armados contemporâneos,
associadas às exigências da comunidade internacional de limitar o desenvolvimento
dos meios de destruição, têm contribuído para aproximar as duas vertentes do DICA –
o Direito de Haia e o Direito de Genebra. O primeiro, no que se refere à proibição e
limitação do uso de determinados métodos e meios de combate nas hostilidades e o
segundo, como sistema para salvaguardar e proteger as vítimas de situações de
conflitos armados. A vinculação do DICA às novas propostas de instrumentos, que
têm caráter de complementaridade na limitação dos meios e proteção da pessoa
humana, e a contribuição da ONU aos últimos instrumentos de limitação de uso das
armas, justificam uma nova corrente denominada Direito de Nova York ou Direito
Misto, por contemplar aspectos das vertentes clássicas de Haia e de Genebra. Para
exemplificar, pode-se comparar os instrumentos relativos aos gases asfixiantes, como
o Protocolo de Genebra de 1925, sobre a proibição do uso na guerra de gases
asfixiantes, tóxicos ou similares e de meios bacteriológicos, e a Convenção de 1972
sobre a proibição do desenvolvimento, produção e estocagem de armas bacteriológicas
(biológicas) e tóxicas e sobre a sua destruição. No primeiro instrumento, contempla-se
o uso, mas não se proíbe o manejo, enquanto o segundo proíbe formalmente a
existência. No que se refere às armas, verifica-se a tendência em limitar, controlar e
determinar a produção, a estocagem, o deslocamento e destruição das armas.
O Direito de Nova York caracteriza-se por instrumentos que abarcam aspectos de Haia
e Genebra em forma de complementaridade e especificação desses aspectos,
constituindo-se em um sistema com legislação completa aplicável às situações de
conflito armado.
3.4 – DIREITO DA GUERRA, DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO,
DIREITO INTERNACIONAL DOS CONFLITOS ARMADOS E DIREITOS
HUMANOS: SEMELHANÇAS E DISTINÇÕES
Direito Internacional Humanitário ou Direito Internacional dos Conflitos Armados são
sinônimos, cuja finalidade consiste em limitar e aliviar, tanto quanto possível, as
calamidades da guerra, mediante a conciliação das necessidades militares, impostas
pela situação tática e o cumprimento da missão, com as exigências impostas por
princípios de caráter humanitário.

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3.4.1 - Para cumprir essa finalidade, será fundamental observar a filosofia dos princípios
básicos, que norteiam a aplicação desse ramo do Direito. São princípios básicos do
DICA:
a) Distinção
Distinguir os combatentes e não combatentes. Os não combatentes são
protegidos contra os ataques. Também, distinguir bens de caráter civil e
objetivos militares. Os bens de caráter civil não devem ser objetos de ataques ou
represálias.
b) Limitação
O direito das Partes beligerantes na escolha dos meios para causar danos ao
inimigo não é ilimitado, sendo imperiosa a exclusão de meios e métodos que
levem ao sofrimento desnecessário e a danos supérfluos.
c) Proporcionalidade
A utilização dos meios e métodos de guerra deve ser proporcional à vantagem
militar concreta e direta. Nenhum alvo, mesmo que militar, deve ser atacado se
os prejuízos e sofrimento forem maiores que os ganhos militares que se espera
da ação.
d) Necessidade Militar
Em todo conflito armado, o uso da força deve corresponder à vantagem militar
que se pretende obter. As necessidades militares não justificam condutas
desumanas, tampouco atividades que sejam proibidas pelo DICA.
e) Humanidade
O princípio da humanidade proíbe que se provoque sofrimento às pessoas e
destruição de propriedades, se tais atos não forem necessários para obrigar o
inimigo a se render. Por isso, são proibidos ataques exclusivamente contra civis,
o que não impede que, ocasionalmente, algumas vítimas civis sofram danos; mas
todas as precauções devem ser tomadas para mitigá-los.
3.4.2 - O conceito de Direitos Humanos refere-se à tutela dos direitos fundamentais dos
indivíduos perante o Estado (relação Estado indivíduo), tais como o direito à vida,
à liberdade e aos direitos sociais, políticos, culturais e econômicos, que, no

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conjunto, limitam a possibilidade de arbitrariedade ou a exacerbação do conceito
de soberania do Estado perante aos seus cidadãos. Já o conceito de DICA (relação
entre Estados) aplica-se somente por ocasião de um conflito armado. Contudo, o
fundamento de ambos é o mesmo: o respeito à integridade física e moral da
pessoa
3.5 - MOVIMENTO DA CRUZ VERMELHA
Fundada em 1919, facilita o desenvolvimento das Sociedades Nacionais. É uma
instituição independente, neutra e imparcial com fins humanitários, cujo mandato
consiste em proteger e assistir as pessoas afetadas pelos conflitos armados e situações
de violência interna. Também trabalha para a defesa e a promoção do Direito
Internacional Humanitário e seus princípios universais. Tendo em vista sua atuação
mundial o emblema “cruz vermelha” não era bem recebido no mundo não cristão, fato
que poderia questionar a imparcialidade do organismo internacional. Assim, foi
alterado o emblema para crescente vermelho, atendendo o pleito dos Judeus, mas
desagradando os Mulçumanos e Árabes. Assim, recentemente o emblema ficou
alterado para o Cristal Vermelho. Tais alteração demonstram a preocupação com a
independência do Organismo. A Cruz Vermelha no Brasil atua na integração do DIH
na doutrina, ensino, treinamento difundindo o DIH nas escolas e academias militares,
participa de programas humanos e humanitários e participando na preparação dos
contingentes enviados em missão de paz. (especialmente MINUSTAH, UNIFIL,
outros).
3.6 - MANUAL DE SAN REMO (GUERRA NO MAR)
O Manual do Ministério da Defesa transcreve os entendimentos sobre a Guerra no
Mar, sendo consideradas Zonas de Guerra Naval:
a) As águas interiores, águas territoriais, Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e
plataforma continental dos Estados beligerantes;
b) O alto mar; e
c) A ZEE e a plataforma continental, excluindo-se o mar territorial, dos Estados
neutros, respeitados os direitos de exploração dos recursos econômicos em tais
áreas devidos a estes Estados.

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3.6.1 - É proibido às Forças beligerantes operarem no mar territorial ou do espaço aéreo
dos Estados neutros.
3.6.2 - A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) estabelece o
significado de passagem inocente, aplicável à navegação pelo mar territorial
quando executada com o propósito de:
a) Atravessar esse mar sem penetrar nas águas interiores ou fazer escala em um
ancoradouro ou instalação portuária situada fora das águas interiores; ou
b) Dirigir-se para as águas interiores, ou delas sair, ou fazer escala num desses
ancoradouros ou instalações portuárias.
3.6.3 - A passagem inocente deverá ser contínua e rápida. Ela compreende, ainda, o parar e
o fundear, mas apenas na medida em que estes constituam incidentes comuns de
navegação ou tenham sido impostos por motivo de força maior ou dificuldade grave, ou
tenham por fim prestar auxílio a pessoas, navios ou aeronaves em perigo ou em
dificuldade grave.
3.6.4 - A passagem será inocente na medida em que não seja prejudicial à paz, à ordem e à
segurança do Estado costeiro. Algumas embarcações gozam de imunidade contra
ataques:
a) Navios-hospital;
b) Embarcações costeiras de salvamento e outros meios de transporte sanitário;
c) Navios que possuam salvo-conduto em virtude de acordo entre as partes
beligerantes, como navios para o transporte de PG e os que cumpram missões
humanitárias;
d) Navios empregados no transporte de bens culturais sob proteção especial;
e) Navios de passageiros, quando transportando somente passageiros civis;
f) Navios destinados a missões religiosas, filantrópicas ou científicas de caráter não
militar;
g) Pequenos barcos pesqueiros;
h) Embarcações empregadas no combate à poluição marinha;
i) Navios que hajam se rendido; e
j) Balsas e botes salva-vidas.
3.6.5 - Os Navios mercantes inimigos só poderão ser atacados se forem classificados como
objetivo militar. Por bloqueio entende-se como o exercício de um certo grau de

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controle sobre determinada área, com o propósito de impedir o trânsito ou o
movimento de navios. Será estabelecido seguindo os critérios abaixo relacionados:
a) Ser declarado pelo governo de uma nação envolvida em conflito armado
internacional;
b) Serem notificadas todas as nações afetadas pela sua imposição. É também
costumeira a notificação da autoridade local da área bloqueada;
c) Uma vez que a informação do estabelecimento do bloqueio é um elemento
essencial para o seu exercício, os navios neutros e as aeronaves na iminência de
descumpri-lo devem ser obrigatoriamente notificados, e de forma efetiva;
d) Ser efetivo, mantido continuamente por forças de superfície, aéreas ou de
submarinos, ou outros meios, como os de minagem;
e) Ser imparcial, aplicável a todos os meios, de todas as nações. A discriminação
em favor ou contra os navios de nações em particular, incluindo os próprios ou
de uma nação aliada, tornam o bloqueio legalmente inválido; e
f) Não se deve bloquear o acesso ou a partida de portos ou costas de Estados
neutros.
3.6.6 - Os navios que tentarem violar um bloqueio, independente da carga que transportem,
poderão ser tomados como presas ou até mesmo atacados, caso ofereçam manifesta
resistência à captura.
3.6.7 - Zonas de Exclusão são áreas marítimas notificadas internacionalmente pelas partes
beligerantes com o objetivo de conter a área geográfica do conflito, ou para manter
o tráfego mercante neutro a uma distância segura das áreas de hostilidades, efetivas
ou potenciais.
3.7 – O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
Criado a partir da reunião de plenipotenciários que aprovaram o Estatuto de Roma, o
Tribunal Penal internacional (TPI) é um tribunal independente, de caráter permanente,
de abrangência universal, vinculado ao sistema das Nações Unidas e que possui como
principal característica o princípio da complementaridade. Ou seja, o Tribunal age de
forma complementar às decisões dos tribunais dos Estados-Partes, caso o julgamento
destes tenha sido realizado de maneira parcial ou inidônea. O Brasil ratificou o
Estatuto de Roma, ato que foi promulgado por meio do Decreto no 4.388, de 25 de

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setembro de 2002, sujeitando-se aos ditames legais nele estabelecidos. Em sendo
assim, formalizou-se o reconhecimento do Brasil em face da competência do TPI, em
consequência da introdução da Emenda Constitucional no 45, em 8 de dezembro de
2004. Por conseguinte, a Carta Política brasileira está em acordo com o ordenamento
jurídico internacional de amparo aos direitos humanos.
3.7.1 - O Estatuto do TPI prevê o julgamento de pessoas envolvidas em crimes:
a) De genocídio;
b) Contra a humanidade;
c) De guerra; e
d) De agressão.
3.7.2 - Crime de genocídio é qualquer ato cometido com a intenção de destruir, no todo ou
em parte, uma nação, etnia, raça ou grupo religioso, tais como:
a) Matar membros de grupo ou etnia;
b) Causar prejuízos à saúde física ou mental dos membros de grupo ou etnia;
c) Afligir deliberadamente as condições de vida de grupo ou etnia, de modo
premeditado, visando a causar a sua destruição total ou parcial;
d) Impor medidas tendentes a evitar nascimentos dentro do grupo; e
e) Realizar transferência forçada de pessoas, principalmente crianças, de um grupo
ou etnia para outro.
3.7.3 - São considerados crimes contra a humanidade os atentados contra bens jurídicos
individuais fundamentais, tais como a vida, a integridade física, a saúde e a
liberdade, cometidos tanto em tempo de paz como de guerra, como parte de um
ataque generalizado ou sistemático, realizado com a participação ou tolerância do
poder político. Nesse contexto, são crimes contra a humanidade:
a) O assassinato;
b) O extermínio;
c) A escravidão;
d) A deportação (entre fronteiras nacionais) e o deslocamento forçado de população
(dentro de um país);
e) A detenção arbitrária;
f) A tortura;
g) O estupro;

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h) A prostituição forçada e outras formas de abuso sexual;
i) A perseguição por motivos políticos, raciais ou religiosos;
j) O desaparecimento forçado de pessoas; e
k) Outros atos desumanos realizados em massa.
3.7.4 - São consideradas crimes de guerra as ações e/ou omissões proibidas pelas normas
do DICA, segundo os correspondentes acordos internacionais e os princípios e
regras reconhecidos pelos respectivos Estados-Partes. O TPI tem competência para
julgar as pessoas que cometam ou ordenem o cometimento de atos contra as
pessoas ou bens, protegidos pelas disposições dos Convênios de Genebra de 1949 e
seus Protocolos, ou que violem as leis e costumes da guerra, como por exemplo:
a) Homicídio doloso;
b) Tortura ou atos inumanos, incluindo os experimentos biológicos;
c) Atos intencionais que causem grande padecimento ou graves danos à integridade
física ou à saúde;
d) Destruição ou apropriação de bens não justificados por necessidades militares e
levadas a cabo em grande escala e de forma ilícita e arbitrária;
e) Coação de PG ou de civil a prestar serviços às forças armadas de potência
inimiga;
f) Privação deliberada a um PG ou a um civil de seu direito a julgamento justo, com
as devidas garantias;
g) Deportação, translado ou reclusão ilícita de um civil;
h) Tomadas de civil como refém;
i) Emprego de armas tóxicas ou de outras armas que ocasionem sofrimentos
desnecessários;
j) Destruição arbitrária de cidades, povos ou aldeias, ou a sua devastação não
justificada por necessidades militares; e
k) Apropriação ou destruição de bens, reconhecidos como patrimônio cultural da
humanidade, protegidos pela Convenção para Proteção de Bens Culturais de
Haia, de 1954.
3.8 - A APLICAÇÃO DO DICA NAS OPERAÇÕES DE PAZ
As operações de paz abrangem todas as operações multinacionais autorizadas ou
dirigidas pela Organização das Nações Unidas (ONU). São classificadas em:
a) Diplomacia preventiva (preventive diplomacy);
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b) Promoção da paz (peacemaking);
c) Manutenção da paz (peacekeeping);
d) Imposição da paz (peace-enforcement); e
e) Consolidação da paz (post-conflict peace-building).
3.8.1 - Pela própria natureza, as operações de paz são multinacionais. Nesse aspecto, os
diferentes países contribuintes de tropas, em uma determinada missão, poderão ter,
em virtude de diferentes arcabouços jurídicos nacionais, distintas obrigações
jurídicas.
3.8.2 - Em uma operação de paz, o marco jurídico e as normas aplicáveis são determinados
pela situação na qual as tropas se encontram empregados. Dessa forma, o mandato
da missão, as regras de engajamento e os acordos sobre o emprego da Força (as
normas jurídicas com relação às tropas estrangeiras em função do país anfitrião)
constituirão instrumentos importantes de orientação para a conduta das ações por
parte das tropas da ONU. O DICA é aplicado nas operações de paz na medida em
que se concretizem situações nas quais se configurem como Conflitos Armados
Internacionais ou Não-Internacionais, estando as forças da ONU ativamente
engajadas como forças combatentes e enquanto durarem as hostilidades.

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ANEXO A

BIBLIOGRAFIA

Indispensáveis:
a) ARAÚJO, Luiz Alberto David. Curso de direito constitucional / Luiz Alberto David
Araujo, Vidal Serrano Nunes Júnior. 10ª Ed. Revisada e atualizada. São Paulo. Saraiva,
2006.
b) PIVA, Otávio. Comentários ao artigo 5º da Constituição Federal de 1988 e Teoria dos
Direitos Fundamentais. 3ª Ed. Porto Alegre. Editora Método, 2009.
Complementares:
a) ANDRADE, Isabela Piacentini. A execução das sentenças da Corte Interamericana.
Revista Brasileira de Direito Internacional, Curitiba, v.3, n.3, jan./jun. 2006.
b) BRASIL. Ministério da Defesa. Portaria Normativa nº 1069/MD de 05 maio de 2011.
Manual de Emprego do Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) nas
Forças Armadas.
c) _____. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988.
d) BIZAWU, Sebastien Kiwonghi. Conselho de Segurança da ONU e os conflitos nos
Grandes Lagos. Editora Manole. Temas: Geografia, Relações Internacionais.
e) DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado. 28º Ed. São Paulo.
Saraiva, 2009.
f) LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 12ª Ed. rev., atualizada e
ampliada. São Paulo. Saraiva, 2008.
g) MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: teoria geral. 4ª Ed. São
Paulo: Atlas, 2002, p. 39.
h) RODRIGUES, Thiago. A ONU no século XXI - Perspectivas - Editora Desatino Temas:
Geografia, relações Internacionais, São Paulo, 2011.

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