Você está na página 1de 11

GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO

PAÍSES DE INDUSTRIALIZAÇÃO TARDIA

1 - ALEMANHA

1.1 - O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO


De 1815 a 1871 a Alemanha foi uma confederação composta de 39 unidades políticas independentes (Estados,
reinos, ducados, principados e cidade-estado). Em 1861, sob o comando de Otto Von Bismarck, chanceler da Prússia,
o Estado mais poderoso da confederação germânica, iniciou-se o processo de unificação política, marcado por
diversas guerras contra seus vizinhos. A Alemanha entrou em guerra contra a Dinamarca, a Áustria e a França.
Venceu todas, incluindo seu vizinho mais poderoso, a França, de quem tomou os territórios da Alsácia e Lorena ao
final da Guerra Franco-Prussiana (1870-71).
Após esse período de guerras, o país completou seu processo de unificação político-territorial. A partir daí houve
uma aceleração do processo de industrialização, e a Alemanha, em fins do século XIX, já tinha uma economia mais
forte que a do Reino Unido e a da França, além de ter liderado, com os Estados Unidos, os avanços tecnológicos da
Segunda Revolução Industrial.
A unificação político-territorial de 1871 tornou a Alemanha não só um único Estado, mas também um único
mercado. Entretanto, o processo de unificação econômica já havia começado com a criação do Zollverein (união
aduaneira estabelecida em 1834 entre os Estados alemães), o que estimulou desde aquela época o comércio e,
portanto, o desenvolvimento industrial. Com a unificação política, consolidou-se a integração econômica: instituição
de uma moeda única, padronização das leis e constituição de um amplo mercado interno, que ampliou as
possibilidades de acumulação de capitais. Em consequência disso a Alemanha tornou-se uma potência econômica e
militar, mas, como não tinha colônias, se envolveu em mais guerras com o objetivo de conquistar novos territórios.
Ao longo dos séculos XIX e XX, muitas indústrias se concentraram na confluência dos rios Ruhr e Reno, quase
na fronteira com os Países Baixos, graças à disponibilidade de grandes jazidas de carvão mineral (a hulha da Bacia do
Ruhr) e à facilidade de transporte hidroviário. Desde o final da Idade Média o Vale do Reno foi uma das principais
rotas do comércio, ligando o norte da Itália aos Países Baixos. Assim, desde então houve uma significativa
concentração de capitais na região, e os grandes proprietários de terras e os banqueiros passaram a investir cada vez
mais na indústria que ali se instalava.
Gradativamente, a população que vivia no campo migrou para as cidades, empregou-se como mão de obra
assalariada e contribuiu para a ampliação do mercado consumidor. Além desses fatores, a França, derrotada na guerra
de 1871, foi obrigada a ceder à Alemanha as províncias da Alsácia e da Lorena, ricas em carvão e minério de ferro, e
a pagar uma pesada indenização aos alemães. Isso significou mais recursos e acesso a novas fontes de energia e de
matérias-primas. A soma desses fatores explica a intensa industrialização da Alemanha a partir de então, mas o país
enfrentou problemas para sustentar seu crescimento econômico.

1.2 - GUERRAS, DESTRUIÇÃO E RECONSTRUÇÃO


Na Primeira Guerra, a Tríplice Aliança, formada inicialmente por Alemanha, Áustria-Hungria e Itália (os
italianos saíram em 1915), saiu derrotada pela Tríplice Entente, composta por Reino Unido, França e Rússia. Os
vitoriosos impuseram uma série de sanções à Alemanha por meio do Tratado de Versalhes: pesadas indenizações
financeiras, grandes restrições militares e significativas perdas territoriais. Além de perder as poucas colônias
ultramarinas que possuía, a Alemanha teve de devolver as províncias da Alsácia e Lorena à França e perdeu
territórios para a Polônia. Porém, a situação da Áustria-Hungria foi pior: o antigo império se fragmentou, dando
origem a novos países na Europa Central.
Pelo fato de ter-se unificado tardiamente, a Alemanha perdeu a fase mais importante da corrida colonial. Embora
tenha se apropriado de algumas colônias na partilha da África durante o Congresso de Berlim (1884-1885), e também
algumas ilhas no Pacífico, não obteve muitas vantagens econômicas. Esses territórios eram limitados em recursos
naturais e o país se viu privado do acesso aos mercados consumidores, às reservas de matérias-primas e às fontes de
energia, fatores que poderiam acelerar sua expansão industrial. Isso tudo levou a Alemanha a um enfrentamento
bélico com o Reino Unido e a França, as duas principais potências coloniais da época, que depois envolveu outros
países e resultou na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
As sanções impostas pelo Tratado de Versalhes e a crise de 1929 conduziram a Alemanha a uma profunda crise
social e econômica, o que criou as condições políticas para a ascensão de Adolf Hitler ao poder. Assim que assumiu o
posto de chanceler, em 1933, Hitler dissolveu o parlamento e convocou novas eleições, vencidas esmagadoramente
pelo partido nazista. Com os nazistas no poder, o país transformou-se numa ditadura na qual Hitler era o Führer
(“líder”, em alemão), e iniciou-se o Terceiro Reich, que se estendeu até 1945.
Assim como no século anterior, nesse período o Estado alemão lançou-se à conquista dos territórios considerados
vitais para sua expansão econômica. O general Karl Haushofer, conselheiro geopolítico e amigo pessoal de Hitler,
EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 1 CURSOASCENSAO.COM.BR
GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO
inspirou-se nas ideias do geógrafo Friedrich Ratzel (1844-1904) para justificar o novo expansionismo alemão, Ratzel
formalizou o conceito que chamou de espaço vital e seu pensamento já tinha servido para justificar o expansionismo
alemão que resultou na Primeira Guerra. Leia, no boxe, o trecho retirado de sua obra principal Antropogeografia,
publicada pela primeira vez em 1882, na qual essas ideias ficam evidentes.

O POVO E O SEU TERRITÓRIO


Que território seja necessário à existência do Estado é coisa óbvia. Exatamente porque não é possível
conceber um Estado sem território e sem fronteiras é que vem se desenvolvendo rapidamente a geografia
política (...).
Quando se examina o homem, seja individualmente, seja associado na família, na tribo, no Estado, é
sempre necessário considerar, junto com o individuo ou com o grupo em questão, também uma porção de
território. No que se refere ao Estado, a geografia política já há muito tempo criou o hábito de mencionar ao lado
da cifra da população também a superfície. Mas também os organismos que fazem parte da tribo, da comuna, da
família, só podem ser concebidos junto com seu território. Sem isto não é possível compreender o incremento da
potência e da solidez do Estado. Em todos esses casos nos encontramos diante de organismos que estabelecem
com o solo uma ligação mais ou menos durável, em consequência da qual o solo exerce uma influência sobre os
organismos e aqueles sobre este. Quando se trata de um povo em via de incremento, a importância do solo pode
talvez parecer menos evidente: mas pensemos, ao contrário, em um povo em processo de decadência e verificar-
se-á que esta não poderá absolutamente ser compreendida, nem mesmo no seu início, se não se levar em conta o
território. Um povo decai quando sofre perdas territoriais. Ele pode decrescer em número, mas ainda assim
manter o território no qual se concentram seus recursos: mas se começa a perder uma parte do território, esse é
sem dúvida o princípio de sua decadência futura.
RATZEL, Friedrich. Geografia do homem (Antropogeografia). In: MORAES. Antonio Carlos Roberto
(Org.). Ratzel. São Paulo: Ática. 1990, p. 73-4.

Em 1938 a Alemanha anexou a Áustria, com o argumento de que os dois países eram habitados por povos
germânicos, e no ano seguinte, a Tchecoslováquia, onde havia minorias alemãs. Em setembro de 1939, após a
invasão da Polônia por tropas alemãs, Grã-Bretanha e França declararam guerra à Alemanha, dando início à Segunda
Guerra Mundial. Em 1941 os Estados Unidos e a União Soviética saíram da neutralidade e também entraram na
guerra contra a Alemanha. Em 1945 o país estava mais uma vez derrotado: além das perdas humanas e da destruição
material, sofreu perdas territoriais e fragmentação política.
Ao terminar a Segunda Guerra, a Alemanha teve seu território partilhado pelos países vitoriosos em quatro zonas
de ocupação, segundo tratado firmado na cidade de Potsdam em 1945, e ainda perdeu territórios para a Polônia e a
União Soviética (observe o mapa).

EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 2 CURSOASCENSAO.COM.BR


GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO
Posteriormente, em 1949, o país foi dividido em dois: as zonas de administração americana, britânica e francesa
foram unificadas e constituíram a República Federal da Alemanha (RFA), com capital em Bonn (Berlim Ocidental
também ficou sob controle daqueles três países). Como resposta, os soviéticos criaram, em sua zona de ocupação, a
República Democrática Alemã (RDA), com capital em Berlim Oriental. Observe o mapa acima.
Com a divisão, dois modelos sociais, políticos e econômicos diferentes foram implantados, um em cada lado da
fronteira. Na Alemanha Ocidental, influenciada pelos Estados Unidos, passou a vigorar uma economia de mercado,
assentada na propriedade privada dos meios de produção, na livre iniciativa e na concorrência de mercado.
Politicamente o país se organizou como uma democracia pluripartidária sob a forma republicana de governo e
estruturou o Estado de bem-estar social. Aliada a uma elevação significativa da produtividade e, portanto, dos
salários, houve melhoria considerável da capacidade de consumo e da qualidade de vida da população. Vale lembrar
que estavam em território da Alemanha Ocidental as regiões industriais mais importantes do país, entre as quais o
Vale do Rhur.
Em contrapartida, sob a influência da União Soviética, na Alemanha Oriental passou a vigorar uma economia
planificada, na qual os meios de produção eram quase integralmente controlados pelo Estado. Estruturou-se uma
ditadura de partido único, o Partido Socialista Unificado, criado em 1946, nos moldes do Partido Comunista da União
Soviética. Havia, portanto, um monopólio político e econômico por parte do Estado. A produtividade crescia
lentamente e o parque industrial aos poucos foi se defasando tecnologicamente. O padrão de vida e de consumo não
acompanhou os níveis ocidentais, gerando descontentamento popular que não aflorava por causa da censura e da
repressão política.
A Alemanha Ocidental, capitalista, organizou- se sob um sistema econômico estruturalmente mais competitivo e
dinâmico e beneficiou-se muito da Guerra Fria: recebeu 1,4 bilhão de dólares do Plano Marshall. Esse fato, aliado à
sua entrada em organizações supranacionais, como a Comunidade Econômica Europeia (atual União Europeia), foi
fundamental para sua rápida reconstrução econômica no pós-guerra, o que aprofundou as diferenças entre as duas
Alemanhas.
Ao ocorrer a reunificação política, em 1990, as diferenças sociais, econômicas, políticas e culturais entre os dois
sistemas afloraram claramente. O contraste de padrão de vida, comportamentos, idéias e costumes no novo país
revelavam, entre alemães do oeste e do leste, um distanciamento muito maior do que o inicialmente esperado.
Entretanto, passados mais de vinte anos da reunificação, apesar das diferenças socioeconômicas que ainda persistem -
por exemplo, o desemprego e a pobreza no leste são maiores -, a Alemanha voltou a ser um único Estado-nação.
A trajetória político-econômica da Alemanha após a Segunda Guerra nega as afirmações de Ratzel no final de
seu texto (anteriormente citado). Apesar de suas perdas territoriais (mesmo com a reunificação não possui a mesma
extensão que tinha antes da Segunda Guerra), o país não entrou em decadência; ao contrário, tornou-se uma das
maiores potências econômicas do mundo, com um parque industrial muito moderno e competitivo.

1.3 - DISTRIBUIÇÃO DAS INDUSTRIAS


As indústrias alemãs foram reconstruídas basicamente nos mesmos lugares que ocupavam antes da Segunda
Guerra. A região de maior concentração continuou sendo a confluência dos rios Ruhr e Reno, pelas mesmas razões
do passado: reservas de carvão, facilidade de transporte, disponibilidade de mão de obra e amplo mercado
consumidor. Porém, no pós-guerra houve uma rápida modernização do parque industrial e ganhos significativos de
produtividade em relação ao parque industrial britânico e francês. Além disso, antes da guerra a Alemanha já possuía
mão de obra qualificada, e os investimentos em educação contribuíram para elevar ainda mais a produtividade dos
trabalhadores.
A logística alemã é a terceira melhor do mundo segundo o Relatório de Desenvolvimento Industrial 2009. Uma
densa e moderna rede de transportes hidroviários, ferroviários e rodoviários, base de todo o sistema industrial alemão,
liga os principais centros produtores aos principais portos do país – Hamburgo e Bremen - e ao porto de Roterdã, nos
Países Baixos.
Apesar de ter havido certa dispersão, o parque industrial ainda está fortemente concentrado no Estado da Renânia
do Norte-Vestlália. Conforme se pode observar, cidades renanas como Colônia, Essen, Düsseldorf e Dortmund, entre
outras, formam uma das maiores concentrações urbano-industriais do mundo.
Há praticamente todos os ramos industriais na região do Ruhr, mas alguns merecem destaque, como o
siderúrgico, o químico, o eletroeletrônico e o de refino de petróleo. Percebe-se claramente a predominância de
indústrias pesadas e de ramos oriundos da Segunda Revolução Industrial. A reconstrução e a diversificação dos
trustes, constituídos desde o final do século XIX, possibilitou a formação dos grandes conglomerados que atuam em
vários setores. Por exemplo, o grupo ThyssenKrupp, com sede em Düsseldorf, é um conglomerado que atua nos
setores siderúrgico, metalúrgico, mecânico, de construção civil, entre outros, produzindo aço, máquinas industriais,
elevadores, autopeças etc.
Embora haja forte concentração nas cidades da Renânia do Norte-Vestfália, o parque industrial alemão está
bastante espalhado pelo território e algumas cidades de outros estados merecem atenção especial. Leia, a seguir, a
descrição dos principais polos industriais:
EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 3 CURSOASCENSAO.COM.BR
GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO
 Stuttgart (Baden-Württemberg): possui uma importante concentração de Indústrias mecânicas,
principalmente a automobilística: nessa cidade está sediado o Grupo Daimler, terceira maior corporação e.a
Alemanha;
 Hamburgo (Hamburgo): localizada na foz do Rio Elba, é o maior porto da Alemanha e concentra, entre
outras, importantes indústrias navais e companhias de navegação, da mesma forma que a vizinha Bremen;
 Wolfsburg (Baixa-Saxônia): localizada próxima à antiga fronteira com a ex-Alemanha Oriental, abriga a
sede do Grupo Volkswagen, a maior corporação alemã (14ª da lista das 500 maiores da revista Fortune em 2008) e o
segundo produtor mundial de automóveis.
Como a Alemanha é um país que está na vanguarda tecnológica em diversos setores, há diversos tecnopolos em
seu território. A seguir veremos os mais importantes.

1.4 - TECNOPOLOS ALEMÃES


Munique (Baviera) é um centro industrial antigo e com o tempo se transformou no mais importante parque
tecnológico da Alemanha, onde se concentram empresas de alta tecnologia, dos setores eletrônico, de tecnologias de
informação (TI), automobilístico, de biotecnologia e aeroespacial. Implantado a partir dos anos 1970, abriga 12
importantes universidades, como a Universidade Técnica de Munique, e centros de pesquisa, entre os quais 13
institutos da Sociedade Max Planck, destacando a área de Física. Aí também se localizam as principais indústrias
alemãs do setor eletrônico, como Siemens e Robert Bosch, além de filiais de grandes empresas de outros países.
Outro importante tecnopolo alemão é o Chempark, localizado em Leverkusen (Renânia do Norte-Vestfália).
Nele se concentram mais de 70 empresas do setor químico-farmacêutico, que atuam em pesquisa e desenvolvimento,
produção industrial e prestação de serviços, destacando- se o grupo Bayer, um dos maiores conglomerados do mundo.

1.5 - INDÚSTRIAS DO LESTE APÓS A REUNIFICAÇÃO


As indústrias da antiga Alemanha Oriental estão localizadas principalmente em torno das cidades de Leipzig,
Dresden e da antiga Berlim Oriental. Elas viveram uma profunda crise após a reunificação política e muitas delas
fecharam as portas porque apresentavam grande defasagem tecnológica e não conseguiram concorrer com as
indústrias ocidentais, que estão entre as mais modernas e produtivas do mundo.
O melhor símbolo da defasagem tecnológica e da baixa competitividade das indústrias do leste pode ser
resumido numa palavra: Trabant. Mais conhecidos como Trabies, esses carros eram fabricados na antiga RDA. Com
a abertura da fronteira, muitos alemães orientais passaram a viajar à RFA dirigindo esses carrinhos antiquados,
vagarosos, barulhentos e de baixo rendimento, que invadiram o território dos Mercedes, BMW, Audi, Vo1kswagen
etc. Resultado: foram parar, literalmente, no lixo! Muitos Trabies eram abandonados nas ruas por seus donos, porque
os alemães do leste já não queriam mais os produtos tecnologicamente defasados que eles mesmos fabricavam.
Na economia planificada da Alemanha
Oriental havia pleno emprego porque o Estado
era o único empregador e as empresas estatais
não se orientavam pela concorrência. Após a
reunificação, diversas empresas baseadas no
oeste compraram fábricas no leste e
despediram muitas pessoas para enxugar o
quadro de empregados, o que elevou os
índices de desemprego e agravou os
problemas sociais.
Para impedir que se acentuassem as
desigualdades socioeconômicas, a partir da
unificação o governo canalizou vultosos
recursos para modernizar a infra-estrutura da
ex-RDA. Esses gastos provocaram um
aumento do déficit público, obrigando o
governo a emitir moeda, o que elevou a taxa
de inflação. Tentando minimizar esses
problemas, o Bundesbank (o banco central
alemão) manteve, ao longo de 1992 e 1993,
uma política de altas taxas de juros, medida
que causou uma desaceleração do crescimento
econômico e levou o país à recessão em 1993,
com o consequente aumento do desemprego
(observe a tabela).

EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 4 CURSOASCENSAO.COM.BR


GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO
Na segunda metade da década de 1990, a gradativa redução da inflação, do déficit público e do desemprego
permitiram que a economia alemã retomasse o crescimento, mas o país foi um dos mais atingidos pela crise mundial
de 2008 e, como mostra a tabela, apresentou forte recessão em 2009.

ALEMANHA: INDICADORES ECONÔMICOS


Indicadores 1992 1993 1998 2000 2007 2008 2009
Crescimento do PIB (%) 2.3 –0.8 2.0 3.2 2.5 1.2 –4.8
Déficit público (%) –2.5 –3.0 –2.2 1.3 –0.5 –0.1 –4.2
Taxa de inflação (%) 5.0 4.5 0.6 1.4 2.3 2.8 0.1
Desemprego (% da PEA) 6.3 7.6 9.0 7.5 8.4 7.4 8.0

Apesar do impacto momentâneo da crise, a economia alemã é muito sólida e moderna. Segundo a OMC, em
2008 o país exportou quase 1,5 bilhão de dólares (até esse ano era o maior exportador do mundo). Em sua pauta de
exportação predominam produtos industriais de alto valor agregado, portanto muito valorizados. De acordo com o
Relatório de Desenvolvimento Industrial 2009, 92% das exportações do país eram de bens industrializados, dos quais
72% eram produtos de média e alta tecnologia.

2 - JAPÃO
O Japão permaneceu bastante isolado do mundo exterior entre 1603-1868, quando foi governado pelo clã
Tokugawa. Sob o xogunato Tokugawa (período em que imperou uma ditadura militar na qual o poder estava nas
mãos dos xoguns “comandantes militares”, em japonês), os estrangeiros eram proibidos de entrar no país e os
japoneses, de sair; havia uma exceção: as trocas comerciais feitas com os holandeses, que mantinham um entreposto
comercial em Nagasáqui. Por isso, quando uma esquadra da marinha norte-americana aportou no Japão em 1853, fato
que marcou o fim do isolamento, encontraram um país ainda feudal e defasado economicamente em relação ao
mundo ocidental.
Tentando realizar seu projeto geopolítico de controle dos oceanos, os norte-americanos forçaram a abertura do
Japão por meio do Tratado de Kanagawa, assinado em 1854. Essa abertura acelerou a desintegração do sistema feudal
japonês e, em 1868, encerrou- se o domímo do clã Tokugawa. Por que o Japão permaneceu isolado durante tanto
tempo? Por que os europeus, e particularmente os britânicos, que estenderam seu império à Índia e à China, não
forçaram a entrada no país do Sol Nascente?
O Japão é um país insular muito pequeno (sua área, de 377 mil km², corresponde aos estados do Rio Grande do
Sul e de Santa Catarina), formado por montanhas e estreitas planícies, portanto com pouquíssimas terras
agricultáveis, a maioria na zona temperada do planeta, a qual não oferecia condições para o cultivo dos cobiçados
produtos tropicais, como cana, algodão etc.
Geologicamente, o Japão é formado por uma combinação de dobramentos e vulcanismo. Localiza-se numa zona
de contato de três placas tectônicas, no Círculo de Fogo do Pacífico, o que lhe determina uma grande instabilidade
(terremotos e erupções vulcânicas são uma constante no país), além de um subsolo extremamente pobre em minérios
e combustíveis fósseis. Assim, o que o Japão poderia oferecer às potências colonialistas, tanto na fase do
mercantilismo como mais tarde, na etapa do imperialismo? Como se percebe, muito pouco, por isso o país não
despertou tanto interesse nos comerciantes e industriais europeus.
Entretanto, no final do século XIX, quando os Estados Unidos emergiram como potência e se lançaram em busca
de pontos estratégicos nos oceanos Pacífico e Atlântico, o Japão se tornou um país interessante para os norte-
americanos. A partir de então, para não ficarem dependentes dos Estados Unidos, os japoneses empenharam-se de
modo enérgico em viabilizar seu processo de industrialização, por meio da intervenção do Estado na economia e do
militarismo. Assim como a Alemanha e a Itália, o Japão é um país de capitalismo tardio, de imperialismo tardio, e
uma aliança entre esses três países foi apenas uma questão de tempo. Isso aconteceu no contexto da Segunda Guerra,
quando formaram o eixo Berlim-Roma-Tóquio numa tentativa de dominar o mundo. Para os japoneses era muito
interessante o domínio de territórios na Ásia que pudessem viabilizar sua expansão econômica.

2.1 - INDUSTRIALIZAÇÃO E IMPERIALISMO


O processo de industrialização e de modernização do Japão só ocorreu efetivamente após 1868, ano que marcou
o fim do xogunato Tokugawa e a restauração do Império, com a ascensão do imperador Mitsuhito. Esse novo reinado,
conhecido como Era Meiji (“governo ilustrado”, em japonês), estendeu-se até 1912 e foi marcado por políticas
modernizantes: investimentos para a criação de infra-estrutura (ferrovias, portos, minas etc.); maciços investimentos
em educação, que foi universalizada e voltada à qualificação de mão de obra; abertura à tecnologia e aos produtos
estrangeiros. A Constituição de 1889 estabeleceu o imperador como chefe "sagrado e inviolável" do Estado e
implementou a Dieta Nacional do Japão (Parlamento).
EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 5 CURSOASCENSAO.COM.BR
GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO
O governo também estimulou o desenvolvimento de grandes conglomerados, que no Japão ficaram conhecidos
como zaibatsus (em japonês: zai “riqueza”; batsu, "grupo"). Esses grupos surgiram de tradicionais e poderosos clãs
de comerciantes e proprietários de terras, como Mitsubishi, Mitsui, Sumitomo e Yasuda. bem como outros menores.
Com o tempo, esses grupos passaram a atuar em praticamente todos os ramos industriais, além do comércio e das
finanças. Foram incorporando empresas menores e dominando cada vez mais a economia do país (os "quatro
grandes" zaibatsus chegaram a controlar até metade de alguns setores industriais).
Como consequência dessa política modernizante, o Japão viveu um vertiginoso processo de industrialização. No
entanto, o país enfrentava problemas estruturais graves: escassez crônica de matérias-primas e de energia e limitação
do mercado interno, o que levou o império japonês a se aventurar em busca de territórios na Ásia e no Pacífico. Para
atingir tal objetivo, investiu maciçamente em seu fortalecimento militar, o que foi facilitado pela rígida disciplina
xintoísta (aspecto cultural), aliada à capacidade industrial (aspecto econômico).
A expansão territorial iniciou-se com a vitória na Guerra Sino-Japonesa (1894-95), que garantiu a ocupação de
Taiwan, e em 1910, a anexação da Coréia. Com a vitória na guerra contra a Rússia (1904-1905), os japoneses
tomaram as Ilhas Sacalinas e, em 1931, ocuparam a Manchúria, parte do território chinês, onde implantaram
Manchukuo, um Estado fantoche sob o governo do último imperador chinês, Pu Yi.
Com o objetivo de conquistar novos territórios, em 1937 o Japão iniciou uma confrontação total com a China,
que se estendeu até a Segunda Guerra. Essa conflagração mundial marcou a fase de maior expansão territorial
japonesa, quando o país ocupou parte do Sudeste Asiático e diversas ilhas do Pacífico. Tal política expansionista,
porém, levou o país a ser derrotado na guerra e à sua quase total destruição.
Em 1941 os japoneses realizaram um ataque- surpresa à base naval de Pearl Harbor (Havaí), o que deixou claro
que eles superestimaram seu poderio militar; precipitaram a entrada dos norte-americanos na guerra e acabaram
derrotados por eles. Após os Estados Unidos lançarem bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasáqui, em 6 e 9 de
agosto de 1945, respectivamente, o Japão não teve alternativa a não ser se render. A rendição - assinada em setembro
de 1945 no porta-aviões Missouri, atracado na Baía de Tóquio - foi o principal símbolo da superioridade tecnológica
e militar norte-americana e, ao mesmo tempo, o prenúncio do papel reservado ao Japão durante a Guerra Fria: fiel
aliado político e aguerrido adversário econômico dos Estados Unidos.

2.2 - RECONSTRUÇÃO APÓS A SEGUNDA GUERRA


Durante a ocupação do Japão pejas forças aliadas - que se estendeu até 1952, quando entrou em vigor um acordo
de paz assinado um ano antes (Tratado de São Francisco) -, o país foi governado pelo Conselho Supremo das
Potências Aliadas, presidido pelo general norte-americano Douglas MacArthur. Nesse período, profundas reformas
foram impostas ao Japão com o objetivo de modernizá-lo do ponto de vista político, econômico e cultural.
Em 1947 foi aprovada uma lei antitruste - a Lei de Proibição dos Monopólios -, o que levou os zaibatsus à
dissolução. Com isso, os norte-americanos pretendiam enfraquecer o poder dos grandes grupos e estimular a
concorrência na economia japonesa. No entanto, com o tempo os zaibatsus se rearticularam e se organizaram como
keiretsus, como veremos a seguir.
A Constituição, redigida e imposta pelos ocupantes em 1947, encerrou a fase militarista do Japão ao proibir a
intervenção externa do exército japonês, que foi transformado em força de autodefesa. Na realidade, a proteção do
território, até mesmo de ataques nucleares, ficou a cargo dos Estados Unidos, com quem o Japão assinou um tratado
de defesa mútua em 1954. A Constituição também garantiu a liberdade de culto e estabeleceu a separação entre
Estado e religião: o xintoísmo deixou de ser a religião oficial e o ensino público passou a ser laico. A independência
política e a soberania foram restabelecidas em 1952, mas o imperador deixou de ser considerado uma divindade e
passou a colaborar ativamente com as reformas. O imperador Hiroito permaneceu no poder de 1926 até sua morte em
1989 - período denominado Era Showa ("paz brilhante”, em japonês) - , quando foi substituído por seu filho Akihito,
atual imperador do Japão (em 2010).
A recuperação econômica japonesa no pós-guerra foi avassaladora, como mostra a tabela. Na década de 1960, o
país já tinha conquistado o terceiro lugar na economia mundial; na década de 1980, atingiu a segunda posição, que
mantinha até 2009 – atualmente foi superado pela China. Como se pode observar, até o final dos anos 1980 o Japão
foi uma das economias que mais cresceram no mundo; entretanto, desde a década de 1990 o país vem apresentando
um crescimento muito baixo. Que fatores explicam primeiro as altas taxas de crescimento e depois as baixas?
Além de promover intervenções modernizadoras, os Estados Unidos elegeram o Japão como o principal ponto de
apoio asiático na luta contra o comunismo sino-soviético, estratégia que se fortaleceu sobretudo após a Revolução
Chinesa de 1949. Assim, o Japão passou a beneficiar-se da ajuda financeira do Tesouro dos Estados Unidos,
fundamental para a recuperação de sua economia. Ainda dentro da lógica da Guerra Fria, os industriais japoneses
acumularam muito capital fornecendo suprimentos às guerras da Coréia (1950-1953) e do Vietnã (1960-1975), que
foram tentativas norte-americanas de conter a expansão comunista na Ásia.

EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 6 CURSOASCENSAO.COM.BR


GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO

TAXA MÉDIA DE CRESCIMENTO ANUAL DO PNB


(EM PORCENTAGEM)
Período Japão Estados Unidos Reino Unido Alemanha
1951-55 10.9 4.8 3.4 11.4
1956-60 10.1 2.3 2.6 7.4
1961-65 11.3 5.1 3.4 5.3
1966-70 14.6 3.1 2.6 4.5
1971-75 4.7 2.3 2.3 5.2
1976-80 5.5 3.7 1.8 3.6
1980-1990 4.1 3.0 3.2 2.2
1990-2000 1.1 3.5 2.7 1.8
2000-2007 1.7 2.6 2.6 1.0

Diversos outros fatores foram importantes para a rápida recuperação do país, conhecida como “milagre
japonês”:
 a grande disponibilidade de mão de obra relativamente barata, disciplinada e qualificada (assim como a
Alemanha, o Japão já possuía trabalhadores qualificados antes da Segunda Guerra);
 os maciços investimentos estatais em educação, que melhoraram ainda mais a qualificação da mão de obra, e,
na iniciativa privada, em pesquisa e desenvolvimento tecnológico;
 a reconstrução da infra-estrutura e dos conglomerados (os antigos zaibtsus) em bases mais modernas e
competitivas;
 a desmilitarização do país e de seu parque industrial, que permitiu investimentos maiores nas indústrias civis
de bens intermediários e de capital, o que deu sustentação ao desenvolvimento de uma poderosa e competitiva
indústria de bens de consumo.
No pós-guerra, em substituição aos zaibatsus, que tinham uma “cabeça”, uma holding que controlava todas as
empresas do grupo, as companhias japonesas reorganizaram-se formando os keiretsus (“união sem cabeça”, em
japonês). Essa palavra é perfeita para definir as redes de empresas integradas que dominam a economia japonesa
atual. As empresas que as formam são independentes, embora muitas vezes uma possua uma parte minoritária das
ações da outra e vice-versa. Um keiretsu geralmente se articula em torno de algum grande banco que dá suporte
financeiro às empresas da rede, as quais atuam de forma integrada para atingir seus objetivos. Atualmente os grandes
grupos japoneses - muitos deles antigos zaibatsus, como Mitsubishi, Mitsui, Sumitomo - se organizam como keiretsu.
É importante destacar que até os anos 1970 a principal vantagem apresentada pelo Japão sobre os concorrentes
da Europa Ocidental e da América do Norte foi a mão de obra barata. Essa foi a outra face do “milagre”, ou seja, a
competitividade no pós-guerra esteve em grande parte assentada na superexploração da força de trabalho. Porém,
com o passar do tempo os salários foram aumentando com a elevação da produtividade resultante dos avanços
tecnológicos (como a robotização) e organizacionais (como o toyotismo), incorporados ao processo de produção. No
início da década de 1990 os trabalhadores japoneses alcançaram salários bastante elevados, entre os mais altos do
mundo, o que sustentou um gigantesco mercado interno e lhes garantiu também um dos mais altos padrões de vida do
planeta. O pico salarial foi atingido em 1995, mas a partir de então a persistência da estagnação econômica (vamos
estudá-la mais à frente) provocou o aumento do desemprego e, consequentemente, a queda no valor dos salários.

2.3 - CARENCIA DE RECURSOS NATURAIS


O Japão se transformou numa grande potência industrial apesar de ser muito pobre em matérias-primas e fontes
de energia. O país possui pouquíssimas jazidas de minérios, e as reservas de combustíveis fósseis são irrelevantes
diante das necessidades de sua indústria. Mesmo o potencial hidráulico, relativamente grande por causa do relevo
montanhoso, já há muito tempo se mostrou insuficiente para o crescente aumento do consumo de energia. Com isso o
país se tornou um dos maiores importadores de recursos naturais do mundo, especialmente de combustíveis fósseis e
minérios metálicos. Observe o gráfico na página seguinte.
De acordo com o BP Statislical review of world energy 2009, as reservas de carvão do país são de 355 milhões
de toneladas (menos de 0,05% do total mundial), o que daria somente para dois anos de consumo, e sua produção
EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 7 CURSOASCENSAO.COM.BR
GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO
anual é de apenas 800 mil toneladas. Com isso, o Japão importa praticamente 100% do carvão que consome. O
território japonês também abriga reservas minúsculas de petróleo: segundo The world factbook 2009, em 2007 o país
produziu 132 mil barris de petróleo diários para um consumo de cerca de 5 milhões de barris/dia - mais que o dobro
do consumo brasileiro. Ou seja, sua produção equivale a apenas 2,6% do consumo interno, o que faz do país o
terceiro maior importador de petróleo do mundo.

JAPÃO: ESTRUTURA DAS IMPORTAÇÕES - 2007

Total das importações: 621 bilhões de dólares


Produtos industrializados 51%
Energia 28%
Alimentos 9%
Minérios 9%
Matérias-primas agrícolas 2%
Outros 1%

Conforme o relatório Minerais yearbook 2007, os japoneses importam 100% do minério de ferro, 99,9% do
minério de cobre e 92% do minério de zinco que consomem. De acordo com esse mesmo relatório, em 2007 a
indústria extrativa mineral do Japão contribuiu com apenas 0,1% do produto interno bruto do país; já a indústria de
processamento de recursos minerais, em sua grande maioria importados, contribuiu com 5,4% do PIB. Por exemplo,
o Japão é grande importador de minério de ferro e importante produtor de aço, mercadoria que exporta em grande
quantidade (a Nippon Steel, maior siderúrgica do país e terceira do mundo, possui dez usinas em território japonês).
Observe os volumes dos recursos minerais mais importados, na tabela seguinte, e a origem de seus fornecedores, no
mapa.

A fim de obter saldos comerciais para compensar as despesas com importações de recursos naturais e a limitação
relativa de seu mercado interno, o Japão passou a exportar volumes cada vez maiores de produtos industrializados.
Assim, a economia japonesa foi gradativamente se convertendo numa grande importadora de produtos primários
(metade de sua pauta de importações) e numa gigantesca exportadora de bens industrializados, como veremos a
seguir.

EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 8 CURSOASCENSAO.COM.BR


GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO

JAPÃO: IMPORTAÇÃO ANUAL DE RECURSOS MINERAIS - 2007

Produto Volume
Petróleo 1.7 bilhão de barris
Carvão mineral 186.5 milhões de toneladas
Minério de ferro 138.8 milhões de toneladas

2.4 - PRINCIPAIS SETORES INDUSTRIAIS E SUA DISTRIBUIÇÃO


O Japão é um país altamente industrializado e de suas fábricas sai uma gama muito diversificada de produtos. Os
bens intermediários, de capital e especialmente os de consumo de maior valor agregado, são predominantes em suas
vendas ao exterior. De acordo com o Relatório de desenvolvimento industrial 2009, 94% de sua pauta de exportações
são bens industrializados, dos quais 82% são produtos de média e alta tecnologia. Especialmente a partir dos anos
1980 os produtos made in japan ganharam o mundo por seu preço competitivo, sua qualidade e confiabilidade.
Como vimos, as primeiras indústrias foram implantadas no Japão no início da Era Meiji, quando teve início seu
processo de industrialização. Inicialmente, predominavam as fábricas de produtos têxteis, que utilizavam seda e
algodão como matéria-prima. Contudo, desde o começo do século XX, por causa das necessidades militares, o Estado
e a iniciativa privada passaram a investir em indústrias intermediárias e de bens de capital, como siderúrgicas,
químicas e de máquinas e equipamentos. As indústrias de bens de consumo, porém, nunca deixaram de se expandir.
Com os avanços tecnológicos, passaram a ser produzidas fibras sintéticas, como o náilon, e novos setores foram se
desenvolvendo, como o eletrônico, o automobilístico e o mecatrônico, entre outros.
A distribuição das indústrias no território japonês foi condicionada, entre outros fatores, por uma forte
dependência em relação ao exterior, tanto para exportar corno para importar, somada ao fato de o país ser insular e
montanhoso.
A insularidade e a dependência de produtos primários importados condicionaram especialmente o
desenvolvimento da indústria naval, uma das mais importantes do país. A frota naval japonesa foi quase toda
destruída durante a Segunda Guerra, mas, para um país com as condições geográficas do Japão, era estratégico
possuir uma marinha mercante bem equipada. Por isso o governo incentivou o desenvolvimento dessa indústria:
protegeu o mercado interno e assegurou encomendas para mantê-la funcionando. Com o tempo os investimentos em
tecnologia, a qualificação da mão de obra e a elevação da produtividade transformaram a indústria naval do país na
maior e mais competitiva do mundo: em meados dos anos 1980 chegou a responder por quase 60% das encomendas
mundiais de navios. Com o crescimento da concorrência de países onde os custos de produção são menores, o Japão
foi perdendo terreno. No início dos anos 2000 sua indústria naval foi superada pela coreana e, em meados daquela
década, pela chinesa. Segundo a Associação Japonesa de Construtores Navais, em 2008 a Coréia do Sul foi
responsável por 40,5% das encomendas mundiais de novos navios. A chinesa, por 33,4%, e a japonesa, por 16,8%.
Assim, a maior parte do parque industrial japonês situa-se próximo aos grandes portos, nas estreitas planícies
litorâneas, onde, além da facilidade de transporte, historicamente a população se concentrou em razão da
possibilidade de praticar a agricultura do arroz, a mais importante do país. Com a industrialização, parcelas cada vez
mais significativas da população foram se instalando em torno dessas cidades portuárias. Assim, as maiores
concentrações urbano-industriais encontram-se nas planícies da franja litorânea do Pacífico.
No sudeste da ilha de Honshu se localiza a segunda aglomeração urbano-industrial do mundo, e no eixo Tóquio-
Osaka encontra-se o trecho mais importante da megalópole japonesa. Extremamente diversificado, esse cinturão
industrial concentra cerca de 80% da produção do país, e as regiões de Tóquio e Osaka, sozinhas, são responsáveis
por cerca da metade desse total. Nessas duas cidades estão 85% das sedes administrativas das maiores corporações
japonesas constantes da lista da revista Fortune (75% em Tóquio). As sedes administrativas das grandes corporações,
assim como suas respectivas fábricas, são muito mais concentradas espacialmente no Japão (principalmente na região
da capital) do que nos Estados Unidos e na Alemanha.

2.5 - PRINCIPAIS TECNOPOLOS


O Japão, ao lado dos Estados Unidos e da União Europeia, é o Iíder em novas tecnologias na atual revolução
informacional. O país abriga diversos centros de pesquisa e inúmeras indústrias de alta tecnologia, concentrados
principalmente em seus dois mais importantes tecnopolos ou cidades da ciência, como os japoneses denominam seus
parques tecnológicos: Tsukuba e Kansai.

EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 9 CURSOASCENSAO.COM.BR


GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO

MAIORES ESTOQUES DE RÔBOS INDUSTRIAIS EM OPERAÇÃO NO MUNDO (EM UNIDADES)

País 2008 2009 2012


Japão 355.562 339.800 298.300
América do Norte 168.489 166.800 166.100
Alemanha 144.803 145.800 149.000
Coreia do Sul 76.923 79.300 97.400
Itália 63.0051 62.900 60.500
China 31.787 36.800 60.400
França 34.370 34.400 33.000
Mundo 1.035.674 1.031.000 1.056.000

A Cidade da Ciência de Tsukuba, localizada no município de Ibaraki, a 60 km a nordeste de Tóquio, é o


principal tecnopolo do país e um dos mais importantes do mundo. Sua implantação começou na década de 1960, com
investimentos estatais, e ao longo dos anos 1970 e 1980 recebeu diversos centros de pesquisas governamentais. Em
2010 existiam 55 institutos públicos e privados de educação e pesquisa em funcionamento, entre eles a Universidade
de Tsukuba, a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industrial
Avançada, o Instituto Nacional de Estudos Ambientais. Desde meados dos anos 1980, com a consolidação desse
tecnopolo, ocorreu a instalação de muitas empresas privadas em seu interior.
A Cidade da Ciência de Kansai abrange os municípios de Quioto, Osaka e Nara; por isso, esse tecnopolo
também é conhecido pelo acrônimo Keihanna (Kei = Kyoto (Quioto), Han = Osaka, Na = Nara). Trata-se da segunda
região mais industrializada do Japão e sua implantação começou em meados dos anos 1980. Porém, diferentemente
de Tsukuba, que é um empreendimento eminentemente estatal, em Kansai há uma forte presença de laboratórios de
empresas privadas, como a Panasonic e a Canon. Lá também há importantes universidades e centros de pesquisa
públicos e privados geradores de tecnologias inovadoras: Universidade de Osaka, Instituto de Ciência e Tecnologia
de Nara, Instituto Internacional de Pesquisa Avançadas em Telecomunicações em Quioto, entre outros.
Um dos mais importantes setores de alta tecnologia em que o Japão é líder mundial, e que pressupõe o domínio
da microeletrônica e da mecânica, é a robótica. O país domina o desenvolvimento e a aplicação da robótica ao
processo produtivo. A utilização de robôs, sobretudo na indústria automobilística, que é o setor mais robotizado da
economia nipônica, foi um dos principais fatores que colaboraram para o grande aumento da produtividade e da
competitividade de seu parque industrial. Em 2009, havia no Japão mais de 100 empresas produzindo robôs
industriais, tanto para o mercado interno como para exportação. A Fanuc, a maior delas, tem sede em Yamanashi e
filiais em outras cidades do Japão e em outros países, como Estados Unidos, Alemanha, China, Coréia do Sul e
Brasil.
Apesar de o Japão manter a liderança da produção e utilização de robôs industriais, a crise de 2008 atingiu
fortemente sua economia e levou a uma diminuição dos estoques em operação, como mostra a tabela. Em 2008, 34%
dos robôs industriais em funcionamento no mundo operavam em fábricas japonesas, mas em 2009 esse percentual se
reduzira para 33% e havia previsão de redução para 28% em 2012.

2.6 - CRISES ECONÔMICAS


O grande sucesso econômico do Japão resultou de uma eficiente combinação de livre mercado com planejamento
estatal. O todo-poderoso Ministério da Indústria e do Comércio Internacional (Miti), criado em 1951, teve papel
importante na elaboração de diretrizes macroeconômicas de longo prazo. Em 2001, após passar por um processo de
reorganização, teve seu nome mudado para Ministério da Economia, Comércio e Indústria (Meti). Funcionando em
sintonia com os grandes grupos econômicos, após a Segunda Guerra o Estado japonês deu sustentação e apoio à
competição para a conquista de mercados no exterior.
Entretanto, no início dos anos 1990 a economia japonesa perdeu fôlego e entrou em um período de estagnação
que é, de certa forma, consequência do sucesso dos anos anteriores. O grande acúmulo de riquezas no país levou os
agentes econômicos a uma crescente especulação com ações, o que provocou uma enorme alta na Bolsa de Valores
de Tóquio e também dos imóveis, que atingiram valores estratosféricos. Os bancos japoneses, que na época chegaram
a ocupar oito das dez primeiras posições entre os maiores grupos financeiros do mundo, em 2008 emplacaram apenas
um entre os dez primeiros, o Mitsubishi UFJ Financial Group. Essa redução foi resultado da realização de grandes
empréstimos sem critério, principalmente para o ramo imobiliário, o que gerou grande especulação nesse setor. Essa
bolha especulativa - financeira e imobiliária – estourou no início dos anos 1990. Os valores das ações e dos imóveis
despencaram, fazendo a crise se propagar pela economia real e provocar o fechamento de empresas e aumento do
EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 10 CURSOASCENSAO.COM.BR
GEOGRAFIA CURSO ASCENSÃO
desemprego. Os bancos, não tendo como receber dos devedores, deixaram de fazer novos empréstimos. Muitas
empresas (industriais e comerciais) e instituições financeiras (bancos, seguradoras, corretoras de valores etc) foram à
falência, levando o país à estagnação econômica, como pode ser constatado pelo gráfico a seguir.
Agravando esse quadro, a população, receosa com a crise, passou a poupar mais, o que reduziu os níveis de
consumo. Esse fato, além de aumentar a historicamente alta taxa de poupança interna, dificultou a retomada do
crescimento econômico. Com isso a economia japonesa cresceu nos anos 1990 apenas 1,1% na média anual
(recordando: na década de 1980 o crescimento médio anual havia sido de 4.1%).
Como mostram os dados abaixo, quando a economia japonesa estava esboçando uma reação em meados dos anos
2000, veio a crise econômico-financeira de 2008, e o país entrou novamente em recessão.

CRESCIMENTO DO PIB
JAPONÊS EM % (1991-2009)
1991 3.3
1992 08
1993 0.3
1994 0.9
1995 1.9
1996 2.6
1997 1.6
1998 – 2.0
1999 – 0.1
2000 2.9
2001 0.2
2002 0.3
2003 1.4
2004 2.7
2005 1.9
2006 2.0
2007 2.3
2008 – 1.2
2009 – 5.3

Apesar da estagnação que viveu nos anos 1990 e de ter sido um dos países mais atingidos pela crise de 2008, o Japão
continuou sendo a segunda potência econômica do mundo (até 2009) e uma potência industrial de primeira linha:
moderna e competitiva. O país sedia algumas das maiores corporações multinacionais do planeta, com destaque para
Toyota, Honda e Nissan (automóveis); Hitachi, Panasonic e Sony (eletrônicos em geral); Mitsubishi, Mitsui e
Sumitomo (navios, automóveis, bancos etc.); Fujitsu e NEC (computadores); Canon e Fujifilm (equipamentos
fotográficos); Nippon Steel (aço), todas na lista das 500 maiores da revista Fortune.

EAD – QAA/AFN – MÓDULO 4 11 CURSOASCENSAO.COM.BR

Você também pode gostar