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GEOGRAFIA 2 CURSO ASCENSÃO

I – A LÓGICA DOS ESPAÇOS INDUSTRIAIS


O processo industrial é caracterizado pela transformação de matérias-primas em produtos para outras indústrias
ou em bens para consumo. Emprega máquinas, ferramentas, energia e trabalhadores. Quanto à evolução da indústria,
podemos reconhecer três estágios fundamentais: o artesanato, a manufatura e a maquinofatura. Diferentemente do
artesanato e da manufatura, o processo ocorre no interior de fábricas, o que amplia a capacidade de transformação de
matérias-primas e, portanto, de abastecimento do mercado consumidor. Podemos dizer que o processo industrial é
responsável pela agregação de valor a um determinado produto.

1 – A INDÚSTRIA MODERNA
A manufatura da Idade Média era completamente diferente da indústria atual. A produção, doméstica, dependia
da habilidade manual dos produtores. A energia utilizada, baseada na força humana ou dos animais, limitava a escala
de produção. O domínio sobre as forças naturais circunscrevia-se ao uso das águas correntes e dos ventos como fonte
de energia mecânica para as rodas dos moinhos.
No campo, predominava o sistema familiar de trabalho. A fiação e a tecelagem artesanais coexistiam com a
produção agrícola. Os artigos produzidos destinavam-se quase somente ao consumo do grupo familiar. Nas cidades,
desenvolvia-se o sistema de corporações. O mestre artesão dirigia dois ou três empregados (aprendizes). Os
produtores tinham a propriedade das ferramentas e matérias-primas. A produção destinava-se ao mercado local.
Todos os mestres do mesmo ofício pertenciam a uma corporação, que regulava o trabalho e restringia a concorrência.
A manufatura medieval encontrava-se dispersa no espaço geográfico, tanto nas aldeias rurais como nas
pequenas cidades muradas, que pontilhavam as rotas comerciais e polarizavam as trocas mercantis. O espaço
industrial não tinha ainda formado uma paisagem distinta, separada do mundo da produção rural.
A indústria moderna nasceu nos séculos XVIII e XIX com o surgimento de dois elementos fundamentais: a
máquina e a energia mecânica. O domínio das fontes de energia naturais possibilitou a substituição da energia
humana e animal pela energia térmica (carvão, petróleo) e pela energia elétrica, multiplicando a capacidade do ser
humano de produzir trabalho. A energia mecânica permitiu a invenção e diversificação das máquinas e, com elas, da
produção em série.
O sistema de fábrica caracteriza a indústria moderna. Trabalhadores, matérias-primas e máquinas são reunidos
num único local. Os produtores diretos (operários) estão separados dos meios de produção, que pertencem ao
empresário capitalista. A produção, em larga escala, destina-se a amplos mercados nacionais ou internacionais.
A indústria moderna tende a se concentrar em determinadas porções do espaço geográfico. Imensas regiões
industriais agrupam centenas ou milhares de fábricas em áreas definidas, onde as densidades demográficas são
elevadas e a urbanização é praticamente total.

2 – A IMPORTÂNCIA DA INDÚSTRIA
A atividade industrial é muito importante na economia dos países desenvolvidos e de muitos países em
desenvolvimento. Entretanto, não é tão simples mensurar a real contribuição do setor industrial para a economia de
um país. Por exemplo, nos países industrializados mais avançados, ou mesmo em diversos países em
desenvolvimento, a maior contribuição para o PIB provém do comércio e dos serviços, não do setor industrial. Nos
países desenvolvidos, a contribuição do comércio e dos serviços totaliza, em média, 75% do PIB, a da indústria, cerca
de 25% e a da agropecuária, 1%. Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo o Banco Mundial, em 2014, o comércio
e os serviços contribuíram com 78% do PIB, a mais alta taxa do mundo, a indústria, com 21% e a agropecuária, com
1%.
Contudo, embora haja países muito pobres, como a Nigéria, em que o setor industrial tem uma participação
muito reduzida no PIB, há nações emergentes, como a Tailândia, nas quais essa participação é muito elevada, até
maior do que em muitos países desenvolvidos. Entretanto, esse percentual não revela se, nesses países, a atividade
industrial é:
• Moderna ou arcaica, isto é, se emprega máquinas tecnologicamente avançadas e se conta com elevada
participação de produtos de alta tecnologia;
• Competitiva, isto é, se tem alta ou baixa participação na pauta de exportações, principalmente de produtos de
alta e média tecnologia;
• Diversificada ou dependente de um único setor, como nos países produtores de petróleo;
• Sustentável do ponto de vista social e ambiental.
A contribuição da indústria para o PIB, considerada de forma isolada, é insuficiente para mostrar a importância
quantitativa e qualitativa das atividades secundárias em um país. Por isso, a Organização das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial (Unido) coleta outros dados que revelam a importância da indústria e seu grau de
desenvolvimento tecnológico em diversos países.
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A atividade industrial é importante para a agropecuária, o comércio e os serviços. A agricultura moderna utiliza
máquinas, sistemas de irrigação, adubos, inseticidas e diversos outros insumos produzidos industrialmente; as
diversas lojas existentes nas cidades – de roupas, calçados, eletrodomésticos, automóveis, móveis, entre outros –,
além de supermercados e farmácias, não teriam mercadorias para vender caso não existisse a indústria de bens de
consumo. O mesmo raciocínio pode ser aplicado à maioria das atividades de prestação de serviços. Não existiriam o
funcionamento e a manutenção de diversos aparelhos, o fornecimento de energia elétrica e de água, as
telecomunicações, os transportes, entre outros, se a indústria de bens de capital não produzisse os equipamentos
necessários para a execução desses serviços. E, ainda, para uma indústria funcionar, são necessários serviços de
administração, limpeza, transporte, segurança, manutenção, alimentação etc. Esses exemplos mostram que a indústria
é fundamental na economia de diversos países e está fortemente inter-relacionada com o comércio, os serviços e a
agropecuária.
A crescente automação, principalmente nos países desenvolvidos e em alguns emergentes, tem reduzido
relativamente o número de pessoas empregadas na indústria. Quanto mais avançada uma economia, mais
trabalhadores são empregados no comércio e nos serviços.

3 – TIPOS DE INDÚSTRIA (CLASSIFICAÇÃO):


Considerando os bens produzidos, o IBGE classifica as indústrias de transformação em três categorias:

INDÚSTRIA DE BENS DE PRODUÇÃO OU DE BASE/BENS INTERMEDIÁRIOS


Fabricam produtos semiacabados utilizados como matérias-primas por outros setores industriais. São
também chamadas de indústrias pesadas por transformarem grandes quantidades de matérias-primas.
Tendem a se localizar perto de recursos naturais ou de portos e ferrovias, o que facilita a recepção de
matérias-primas e o escoamento da produção.
Ex.: Siderurgia, petroquímica, celulose e papel, cimento etc.

INDÚSTRIA DE BENS DE CAPITAL


São responsáveis por equipar as indústrias em geral, assim como a agropecuária, os serviços e toda a
infraestrutura. Tendem a se localizar em áreas nas quais há outros setores industriais, nas proximidades
de empresas consumidoras de seus produtos, ou seja, em grandes regiões urbano-industriais.
Ex.: Máquinas e equipamentos para: indústrias em geral, agricultura, transportes, geração de energia etc.

INDÚSTRIAS DE BENS DE CONSUMO


Também chamadas de indústrias leves, são as mais dispersas espacialmente: estão localizadas em
grandes, médios e pequenos centros urbanos ou mesmo na zona rural de diversos países. Porém,
concentram-se preferencialmente em regiões urbano-industriais onde há maior disponibilidade de mão
de obra e mais facilidade de acesso ao mercado consumidor.
Ex.: Não duráveis  alimentos, bebidas, remédios etc.
Semiduráveis  vestuário, acessórios, calçados etc.
Duráveis  móveis, eletrodomésticos, automóveis etc.

MERCADO CONSUMIDOR
Com os avanços tecnológicos nos transportes e o barateamento dos fretes, o mercado consumidor se
globalizou e está no mundo todo. Entretanto, ainda é maior onde a população possui mais elevada: em
países desenvolvidos e nas regiões mais modernas dos países emergentes.
Ex.: Lojas de roupas, sapatos, eletrodomésticos, automóveis etc.; depósitos de material de
construção; supermercados, farmácias etc.

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4 – A DISTRIBUIÇÃO DAS INDÚSTRIAS

4.1 – OS FATORES LOCACIONAIS


Fatores locacionais são diversas características dedeterminado lugar que favorecem a instalação de indústrias.
No momento de optar por uma localidade para situar uma indústria, os empresários consideram quais fatores são mais
importantes para aumentar a taxa de lucro de seu investimento. Os principais fatores locacionais para indústrias, de
modo geral, são:
• Fontes de matéria-prima: minerais, agropecuárias etc.;
• Fontes de energia: petróleo, gás natural, eletricidade etc.;
• Disponibilidade de mão de obra: pouco qualificada (de baixa remuneração) ou muito qualificada (de alta
remuneração);
• Pesquisa e desenvolvimento (P&D): parques tecnológicos, incubadoras, universidades, centros de P&D;
• Mercado consumidor: relacionado à quantidade de pessoas e ao poder aquisitivo;
• Logística: disponibilidade e custos competitivos de transporte e armazenagem;
• Rede de telecomunicações: telefonia fixa e móvel, internet etc.;
• Complementaridade industrial: proximidade de indústrias afins;
• Incentivos fiscais: redução ou isenção de impostos concedida pelo Estado nas três esferas de poder.
Durante a Primeira Revolução Industrial (fim do século XVIII a meados do século XIX), como o carvão
mineral era a principal fonte de energia, usada para movimentar as máquinas, e a precariedade dos meios de
transporte dificultava seu deslocamento por longas distâncias, as jazidas carboníferas eram um dos fatores locacionais
mais importantes para as fábricas. Isso explica a industrialização em torno das jazidas de carvão britânicas, alemãs e
americanas. Durante a Segunda Revolução Industrial (final do século XIX), com a crescente utilização de outras
fontes de energia e a modernização dos meios de transporte de carga e de passageiros, as jazidas de carvão perderam
importância como fator locacional.

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O petróleo, além de fonte de energia, é matéria-prima essencial na fabricação de diversos produtos, como
plásticos, borrachas, tecidos sintéticos, fertilizantes, tintas etc. Um dos setores que mais cresceu após sua descoberta
foi o da indústria petroquímica. Nas primeiras décadas do século XX, quando começaram a ser implantadas, as
petroquímicas se concentravam perto das reservas de petróleo, mas a construção de oleodutos e de grandes navios
petroleiros levou à sua dispersão espacial. Hoje a maioria das refinarias de petróleo se localiza nas proximidades dos
grandes centros consumidores, porque é mais barato transportar o petróleo bruto do que seus derivados – gasolina,
nafta, querosene e outros.
Em contrapartida, a proximidade das jazidas de minérios, como ferro, manganês e outros, constitui um dos
principais fatores para a localização das indústrias siderúrgicas, como as do Quadrilátero Ferrífero (Minas Gerais),
porque é mais barato transportar as chapas de aço do que o minério bruto.
Nas últimas décadas, um fator determinante para a localização de qualquer tipo de indústria é a existência de
uma boa logística que possibilite o recebimento de matérias-primas e o escoamento das mercadorias. Por isso, muitos
centros industriais importantes desenvolveram- se próximo a portos marítimos ou fluviais ou ainda em
entroncamentos rodoviários ou ferroviários. Centros industriais mais modernos – que produzem bens de alto valor
agregado, como os da área de tecnologia da informação – tendem a se localizar perto de aeroportos. Com a
mobilidade do capital e das mercadorias pelo mundo, a logística ganha importância determinante na alocação dos
investimentos produtivos no espaço geográfico e torna-se um dos principais fatores de competitividade.
Com o desenvolvimento tecnológico e o consequente barateamento dos transportes, as indústrias, mesmo as que
utilizam muita matéria-prima, já não precisam se localizar perto das reservas. O Japão, por exemplo, grande produtor
de aço, importa todo o minério de ferro e o carvão utilizados em suas indústrias. As siderúrgicas japonesas localizam-
se em áreas nas quais os navios carregados de minérios podem atracar.
Muitas vezes, a instalação de uma fábrica ou de um distrito industrial estimula o crescimento das cidades em
seu entorno. Em outros casos, as cidades atraem as indústrias, que por sua vez promovem seu crescimento e as
transformam em polos de atração de novos estabelecimentos fabris. Isso ocorreu principalmente até meados do século
XX; no entanto, as indústrias têm saído das grandes cidades, como veremos a seguir.
Além desses fatores, há outro que vem ganhando importância na escolha de onde implantar uma nova fábrica:
os incentivos fiscais. Estados e municípios concedem isenções de impostos às empresas que pretendem se instalar em
seus territórios. Em geral, fazem essas concessões às indústrias com capacidade multiplicadora, isto é, que atraem
outras fábricas. Estas, no entanto, não obtêm incentivos, e isso acaba compensando o que foi concedido à empresa
principal. Porém, esses incentivos, isoladamente, não atraem indústrias. É comum também a oferta de terrenos para a
instalação de unidades produtivas, muitas vezes com a infraestrutura básica já implantada. Os governos fazem essas
concessões para aumentar a geração de empregos e a arrecadação de impostos, entre muitos outros benefícios.

4.2 – DESCONCENTRAÇÃO DA ATIVIDADE INDUSTRIAL


Com a globalização e a Revolução Técnico-Científica, os avanços nos transportes e nas telecomunicações
fizeram as indústrias não mais precisarem se instalar próximas ao mercado consumidor: para as grandes corporações,
o mercado consumidor é o mundo todo. A Nike, por exemplo, produtora de material esportivo, está sediada nos
Estados Unidos, mas contrata empresas terceirizadas para produzir seus tênis, bolas, agasalhos, entre outros itens, em
países de mão de obra barata, sobretudo da Ásia, de onde seus produtos são exportados para o mundo inteiro. Do
mesmo modo, isso vale para empresas que produzem bens mais sofisticados tecnologicamente, como a também
americana Apple, que terceiriza sua produção de celulares, tablets e computadores para a taiwanesa Foxconn, que,
por sua vez, produz a maior parte desses equipamentos na China, aproveitando-se dos baixos custos de produção.
O maior patrimônio da Apple, da Nike e de outras empresas globais é sua respectiva marca, que vai estampada
em seus produtos. No capitalismo informacional, a marca, o produto simbólico, é mais importante que o produto
material. É ela que assegura o mercado para as grandes empresas na competição globalizada, mas é a terceirização
que lhes assegura altos lucros.
Nos últimos anos, muitas indústrias de calçados do Rio Grande do Sul fecharam fábricas no estado e
transferiram a produção para a China, de onde exportam para outros países, incluindo o Brasil. O custo de transporte
é compensado porque a mão de obra chinesa é mais barata e produtiva do que a brasileira.
Esses exemplos evidenciam que, para as indústrias trabalho-intensivas, a mão de obra barata é um fator
fundamental, mais importante do que a proximidade do mercado consumidor.
O crescimento econômico e populacional das grandes cidades tem aumentado os custos de produção em razão
da alta no preço dos imóveis, dos impostos e da mão de obra, além dos crescentes congestionamentos de trânsito. Por
causa disso, nas últimas décadas, a distribuição das indústrias no espaço geográfico tem se reorganizado, nas escalas
nacional e mundial. A desconcentração industrial resulta da necessidade de buscar custos menores e foi viabilizada
pela modernização dos sistemas de transportes, de telecomunicações e dos métodos de gestão.

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Com a globalização, uma indústria automobilística japonesa pode conceber um projeto em um centro de P&D
localizado no Japão ou nos Estados Unidos, desenvolvê-lo em um desses países, na Europa ou na China, realizar a
produção das diversas peças em uma dúzia de países, de acordo com as vantagens que ofereçam, escolher alguns
deles para realizar a montagem final e garantir suas vendas em escala mundial. Globaliza-se, assim, não só o mercado
como também a produção. Essa dinâmica atual permite maior especialização da atividade industrial nos mais diversos
países e a consequente intensificação das trocas comerciais em escala planetária. O que não é produzido num país é
procurado em outro. Da mesma forma, o aumento da produção necessita da ampliação do mercado, que de nacional
passa a mundial.
Apesar da desconcentração em curso, o fenômeno industrial ainda está distribuído de maneira bastante desigual,
predominando em algumas poucas regiões do espaço geográfico mundial: em 2013, 81% do valor da produção
industrial do mundo concentrava-se em apenas 17 países. As maiores aglomerações industriais ocorrem
principalmente nos países desenvolvidos (que têm perdido participação) e nas principais economias emergentes (que
têm ganhado participação, com destaque para a China).
A desconcentração continua ocorrendo, mas em um mapa-múndi, que apresenta escala muito pequena e por
isso não permite a visualização de detalhes do espaço geográfico, não aparecem as concentrações industriais menores.
Por exemplo, em diversos países da África, como Angola, Botsuana e Nigéria, há investimentos estrangeiros em
indústrias extrativas minerais (sobretudo petrolífera), em agroindústrias e em outros setores. Entretanto, muitas vezes
os mapas de industrialização do continente africano só mostram as regiões industriais maiores, localizadas na África
do Sul, no Egito, na Tunísia e no Marrocos. O mesmo ocorre na América do Sul, onde só são representadas as
principais regiões industriais do Brasil e da Argentina, e não aparecem as concentrações menores na Venezuela, na
Colômbia, no Peru, entre outros. Mesmo em nosso país, muitas vezes o polo industrial da Zona Franca de Manaus
(AM) não é representado nos mapas.

4.3 – OS PARQUES TECNOLÓGICOS


Atualmente, um fator importante para a escolha da localização industrial é a existência de mão de obra com
elevado nível de qualificação, principalmente para as indústrias de alta tecnologia. Não por acaso, as empresas de
semicondutores (microchips), informática (equipamentos, programas e sistemas), telecomunicações, novos materiais,
biotecnologia, entre outras, se concentram nos parques tecnológicos ou parques científicos (também chamados de
tecnopolos).
Os parques tecnológicos são o exemplo mais acabado da geografia industrial do capitalismo informacional.
Esses novos centros industriais e de serviços se relacionam à Terceira Revolução Industrial, assim como as bacias
carboníferas se relacionavam à Primeira ou as jazidas petrolíferas, à Segunda. Os tecnopolos constituem os pontos de
interconexão da rede mundial de produção de conhecimentos e os principais centros irradiadores das inovações que
caracterizam a revolução tecnológica iniciada nas últimas décadas do século XX. Muitas das empresas inovadoras
existentes atualmente se desenvolveram em uma incubadora, no interior de um parque tecnológico.
Os tecnopolos concentram-se principalmente nos Estados Unidos, em países da União Europeia e no Japão.
Existem também, em menor quantidade e extensão, em outros países desenvolvidos e em alguns emergentes: no Brics
(com destaque para a China), na Coreia do Sul, em Taiwan, no México etc.

5 – ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL

5.1 – A PRODUÇÃO FORDISTA


Em 1911, o engenheiro Frederick Taylor (1856-1915) publicou o livro Os princípios da administração
científica, no qual defendia o estabelecimento de um sistema de organização científica do trabalho. Esse sistema
consistia em controlar os tempos e os movimentos dos trabalhadores e fracionar as etapas do processo produtivo, de
forma que cada operário desenvolvesse tarefas ultraespecializadas e repetitivas, com o objetivo de aumentar a
produtividade no interior das fábricas. Esses novos procedimentos organizacionais aplicados à indústria ficaram
conhecidos como taylorismo.
O industrial Henry Ford inovou os métodos de produção conhecidos em sua época ao pôr o taylorismo em
prática em sua empresa, a Ford Motor, fundada em 1903, no estado de Michigan (Estados Unidos). Em 1913,
desenvolveu seu próprio método de racionalização da produção ao introduzir esteiras rolantes nas linhas de
montagem: as peças chegavam até os operários, que executavam sempre as mesmas tarefas referentes à produção de
cada parte do carro fabricado.
O fordismo distingue-se do taylorismo por apresentar uma visão abrangente da economia, não ficando restrito a
mudanças organizacionais no interior das fábricas. Ford percebeu que a produção em grande escala exigia consumo
em massa, o que pressupunha a fabricação de produtos mais baratos, porém de boa qualidade, e salários mais
elevados aos trabalhadores.
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Para viabilizar a produção fordista, era fundamental criar um arranjo socioeconômico a fim de garantir a
expansão capitalista. A solução encontrada foi a intervenção do Estado na economia, nos moldes do keynesianismo.
Esse novo arranjo assentava-se no combate ao desemprego e no constante aumento dos salários.
Recebendo salários melhores, os trabalhadores podiam consumir cada vez mais. Dessa forma, os empresários
obtinham maiores lucros, pois os aumentos salariais eram compensados pelo crescimento da produtividade e do
consumo. O Estado, por sua vez, arrecadava mais impostos com a expansão econômica, tendo mais recursos para
investir. Estavam criadas as condições para a melhoria do padrão de vida dos trabalhadores e o desenvolvimento da
sociedade de consumo.
A elevação das receitas do Estado permitiu que diversos governos instituíssem uma ampla rede de proteção
social. A partir dos anos 1950, consolidou-se em vários países da Europa ocidental, mas também nos Estados Unidos,
no Canadá, no Japão e na Austrália, em maior ou menor grau, o Estado de bem-estar (do inglês Wellfare state), que
se caracterizava por um arranjo político-econômico baseado na empresa privada e na livre-iniciativa, mas com forte
participação do Estado na concessão de benefícios sociais. O Estado de bem-estar foi instituído sobretudo na Europa
ocidental após a Segunda Guerra por governos de partidos social-democratas, socialistas e trabalhistas, visava
garantir um padrão de vida adequado – saúde, educação, moradia, previdência social etc. – ao conjunto da sociedade,
evitando conflitos sociais.
Assim, o modelo fordista-keynesiano criou as condições para o crescimento contínuo das economias
capitalistas no pós-guerra, principalmente nos países desenvolvidos.
O crescimento econômico nos países desenvolvidos foi interrompido em meados dos anos 1970. A
produtividade já não crescia em ritmo suficiente para atender à pressão dos sindicatos por aumentos salariais e à
elevação dos custos sociais do Estado de bem-estar. Os governos passaram a emitir moeda para financiar a elevação
de seus gastos, e as empresas, a repassar aos preços o aumento dos custos de produção. O resultado foi a elevação da
inflação: em 1975, chegou perto de 10% ao ano nos Estados Unidos e a cerca de 13% nos países da Europa ocidental.
Essa crise se agravou com a brusca elevação dos preços do barril do petróleo em 1973 e em 1979. A partir do
fim daquela década, os governos dos países industrializados passaram a adotar políticas de contenção da inflação.
Elevaram as taxas de juros, o que levou muitas pessoas e empresas a deixar seu capital aplicado nos bancos, em vez
de investir na produção. Em consequência disso, os índices de crescimento econômico baixaram.
Com as crises da década de 1970 houve uma tendência de redução da taxa de lucro das empresas e o modelo
fordista-keynesiano passou a ser questrionado. Para superar essa situação, os governos começaram a implantar novas
políticas macroeconômicas, e as empresas, a promover transformações tecnológicas e organizacionais que ficaram
conhecidas como produção flexível.

5.2 – A PRODUÇÃO FLEXÍVEL


Como resposta à crise do modelo de produção fordista, as empresas passaram a introduzir máquinas e
equipamentos tecnologicamente mais avançados, como os robôs, e novos métodos de organização da produção. Essas
inovações, particularmente nos países desenvolvidos, ficaram conhecidas como produção flexível, em contraposição
à rigidez do fordismo. Muitos também chamam essas inovações de toyotismo, porque começaram a ser desenvolvidas
após a Segunda Guerra na fábrica da Toyota Motor, em Toyota City (Japão), e a partir dos anos 1970 atingiram
outros países e diversos setores industriais. Entretanto, enquanto o toyotismo esteve mais associado aos métodos
organizacionais no interior das fábricas, a produção flexível corresponde ao contexto mais amplo no qual se inserem
as relações de trabalho e as políticas econômicas. Ela está associada ao neoliberalismo, enquanto a produção fordista
estava associada ao keynesianismo. O desenvolvimento dessa nova organização da produção gerou relações de
trabalho diferentes, outros processos de fabricação e novos produtos. A palavra de ordem passou a ser
competitividade e, para aumentá-la, as indústrias buscaram racionalizar a produção, cortando custos e introduzindo
processos produtivos tecnologicamente mais avançados. A mesma busca de elevação da produtividade se verificou
nos serviços e na agropecuária. Tudo isso visando aumentar os lucros das empresas.
A economia de escala, desenvolvida no interior de grandes fábricas com sistemas de produção rígidos, tem sido
complementada pela economia de escopo, desenvolvida em fábricas menores e mais flexíveis. Nesta, a produção
pode se descentralizar mais facilmente nacional e mundialmente. Ao mesmo tempo, disseminou-se a prática da
terceirização, que consiste em repassar para outras empresas atividades de suporte e serviços, como limpeza,
manutenção, alimentação e, muitas vezes, a própria produção, como vimos no caso da Nike e da Apple.
O responsável pelo desenvolvimento do sistema Toyota de produção, conhecido como toyotismo ou produção
enxuta, foi o engenheiro Taiichi Ohno (1912-1990). Em 1943 ele entrou na Toyota determinado a introduzir
mudanças no sistema produtivo com o objetivo de reduzir desperdícios (aposentou-se como vice-presidente da
empresa).

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Essas inovações reduziram significativamente os


defeitos de fabricação, pois o controle passou a ser feito pela Economia de escala: típica da época fordista;
própria equipe de trabalho ao longo do processo de produção, mercadorias sem grande variedade de modelos ou
e não apenas no fim, como no fordismo. Além disso, foram cores eram feitas em grande quantidade com o
introduzidas máquinas cada vez mais sofisticadas e, objetivo de baixar custos de produção. Os ganhos
finalmente, os robôs. No início, eles desempenhavam as de produtividade vinham da grande escala de
tarefas repetitivas ou mais perigosas e insalubres, mas, com o produção e da fragmentação do trabalho.
passar do tempo, foram substituindo mais e mais operários. Economia de escopo: típica da época toyotista;
as mercadorias apresentam grande variedade de
Com a crescente automação das fábricas, muitos modelos e cores e são feitas no sistema de
operários passaram a trabalhar em outros setores, produção flexível, como o just- in- time (do
particularmente nas atividades terciárias; outros perderam inglês, significa ‘no momento certo’). Os ganhos
seus postos de trabalho, que desapareceram definitivamente, de produtividade decorrem dessa flexibilidade.
caracterizando o desemprego estrutural. Com essas mudanças,
o mercado de trabalho tem exigido trabalhadores mais qualificados e versáteis. Outros métodos de organização da
produção desenvolvidos por Taiichi Ohno têm-se disseminado na indústria, como o just-in-time, que busca
estabelecer uma sintonia fina entre a fábrica, os fornecedores e os consumidores. A organização da produção
pressupõe um abastecimento contínuo dos insumos (peças e matérias-primas) necessários para a fabricação de
determinado produto. Dessa forma, eliminam-se ou reduzem-se drasticamente os estoques. O escoamento da
produção para o mercado também é planejado, pelo mesmo motivo, para ocorrer “no momento certo”.

6 – EXPLORAÇÃO DO TRABALHO E DA NATUREZA


Paralelamente ao toyotismo, estão se difundindo novas relações de trabalho, caracterizadas pelos salários mais
baixos e direitos trabalhistas mais restritos ou inexistentes. A maioria desses empregos tem sido criada nos países em
desenvolvimento, onde ainda em grande parte se mantém o método de produção fordista, baseado na superexploração
dos trabalhadores. Também em diversos países desenvolvidos a flexibilização da legislação trabalhista, com a
redução dos salários e dos benefícios sociais e previdenciários, tem levado ao enfraquecimento do movimento
sindical. Vários fatores contribuem para tal situação: a competição das novas tecnologias e dos novos processos
produtivos, a desconcentração da produção industrial e a concorrência dos trabalhadores mal remunerados,
numerosos nos países em desenvolvimento.
Entretanto, para milhões de trabalhadores da
periferia do sistema, que estavam alijados do processo
de produção capitalista, as condições de vida
melhoraram, mesmo ganhando pouco e trabalhando em
piores condições em comparação aos seus pares dos
países centrais. Isso é particularmente verdadeiro na
China, cuja economia atraiu grande voluma de
investimentos estrangeiros por causa do baixo custo da
sua mão de obra. Segundo o Banco Mundial, o número
de chineses que viviam na pobreza extrema caiu de 756
milhões (67% da população total), em 1990, para 150
milhões (11% da população), em 2010. Em menor
escala, isso também ocorreu no Brasil, no México, na
Índia e em outros países.
Durante muito tempo, a legislação ambiental dos
países em desenvolvimento era, em sua maior parte,
frágil. Esse fato permitia produzir a custos menores e
contribuía para atrair indústrias poluidoras. Embora
isso ainda aconteça na atualidade, a crescente
preocupação mundial com o desenvolvimento
sustentável tem pressionado os dirigentes das fábricas a
desenvolver métodos de produção que causem menos
impactos ambientais. Como mostra o texto a seguir,
vem se firmando a ideia de que o desenvolvimento
sustentável pode contribuir para aumentar a
produtividade das empresas e, consequentemente, a
competitividade e os lucros, além de reforçar a imagem
positiva de “empresa verde”.

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PRODUÇÃO INDUSTRIAL, MEIO AMBIENTE E COMPETITIVIDADE


As questões relacionadas à competitividade e ao meio ambiente ganharam importância crescente no
final dos anos 1980. Com a intensificação do processo de globalização financeira e produtiva da economia
mundial, e o consequente aumento dos fluxos de comércio internacional, as barreiras tarifárias [impostos de
importação] foram paulatinamente substituídas por barreiras não tarifárias. Os países desenvolvidos passam a
impor barreiras não tarifárias ambientais – “barreiras verdes” –, alegando que os países em desenvolvimento
possuem leis ambientais menos rigorosas que as suas, o que resultaria em custos mais baixos – também
chamados de dumping ecológico – e, consequentemente, menores preços praticados no mercado
internacional. [...] A maneira pela qual a imposição de normas ambientais afeta a competitividade das
empresas e setores industriais é percebida de forma distinta. Por um lado, a imposição de normas ambientais
restritivas pelos países desenvolvidos pode ser uma forma camuflada de protecionismo de determinados
setores industriais nacionais, que concorrem diretamente com as exportações dos países em desenvolvimento.
Por outro lado, essas mesmas normas estariam prejudicando a competitividade das empresas nacionais,
pois implicariam custos adicionais ao processo produtivo, elevando os preços dos produtos e resultando na
possível perda de competitividade no mercado internacional.
A relação entre competitividade e preservação do meio ambiente passou a ser objeto de intenso debate,
que se polarizou em duas vertentes de análise: a primeira acredita na existência de um trade-off, no qual
estariam, de um lado, os benefícios sociais relativos a uma maior preservação ambiental, resultante de padrões
e regulamentações mais rígidos; de outro lado, tais regulamentações levariam a um aumento dos custos
privados do setor industrial, elevando preços e reduzindo a competitividade das empresas. As
regulamentações são necessárias para melhorar a qualidade ambiental, mas são igualmente responsáveis pela
elevação de custos e perda de competitividade da indústria.
Opondo-se a essa visão, a segunda vertente de análise vislumbra sinergias entre competitividade e
preservação do meio ambiente. Chamada pela literatura de hipótese de Porter – baseada nos artigos de
Michael Porter e Class van der Linde –, o argumento é que a imposição de padrões ambientais adequados
pode estimular as empresas a adotarem inovações que reduzem os custos totais de um produto ou aumentam
seu valor, melhorando a competitividade das empresas e, consequentemente, do país. Assim, quando as
empresas são capazes de ver as regulamentações ambientais como um desafio, passam a desenvolver soluções
inovadorase, portanto, melhoram a sua competitividade.
Ou seja, além das melhorias ambientais, as regulamentações ambientais também reforçariam as
condições de competitividade iniciais das empresas ou setores industriais.
YOUNG, Carlos E. F.; LUSTOSA, Maria C. J. Meio ambiente e competitividade na indústria brasileira.
Grupo de Pesquisa em Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Instituto de
Economia, UFRJ. Disponível em: <www.ie.ufrj.br/images/pesquisa/publicacoes/rec/REC%205/REC_5.
Esp_10_Meio_ambiente_e_competitividade_na_industria_brasileira.pdf>. Acesso em: 14 set. 2015

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