Você está na página 1de 7

01.

Categorias de análise
I. Transformação da natureza pelo homem;
II. Desenvolvimento de técnicas ao território;
III. Do meio natural ao meio científico.

Até o século XIX, a natureza ditava o ritmo das relações. Com o advento da
Segunda Revolução Industrial, a relação de medo, reverência e pertencimento
do homem para com a natureza se transforma — agora, a humanidade
subordina e explora o meio ambiente à sua vontade.

a. Milton Santos e o meio técnico-científico-informacional:


Meio geográfico que sustenta a globalização. O capitalismo só é global
devido às redes criadas por esses meios, das quais ele se apropria.
b. Espaço geográfico:
“Conjunto indissociável de um sistema de ações (ideias, planejamentos) e de
objetos (estruturas, edificações).
c. Paisagem:
- Aparência da realidade, a qual é perceptível através dos sentidos humanos;
- Como a paisagem se formou? O que se deu para sua constituição?;
- Em suma, sem o indivíduo a paisagem não existe. Segundo Gomes, E. (2001,
p.56), “A paisagem só existe a partir do indivíduo que a organiza, combina e
promove arranjos de conteúdo e forma dos elementos num jogo de mosaicos”.
- Paisagem natural x paisagem social.
d. Lugar:
- Espaço de vivência, onde se constrói a identidade cultural e socioespacial;
- É de caráter individual.
e. Território:
- Recorte geográfico sob o controle de um determinado poder;
- Territorialidade: expressão cultural de um grupo a partir de seu território
individual;
- Território (coletivo) ≠ lugar (individual)
f. Região:
recorte individual do território, a partir do qual se pode agrupar lugares
com características semelhantes.
g. Rede:
sistema de conexões formado por fixos e fluxos.
i. Fixos: estruturas estabelecidas no espaço;
ii. Fluxos: o que está em movimento (pessoas, capitais, mercadorias).

02. Geografia de indústria — Aspectos gerais, tipos de indústria e fatores


locacionais
A indústria é a etapa na cadeia produtiva responsável por acessar a
matéria-prima e processá-la e/ou transformá-la e, portanto, é aquela que
agrega valor ao produto. Quanto mais tecnológico e sofisticado é o
processamento, menor é o número de trabalhadores envolvidos e maior é a
remuneração salarial.
A fábrica impõe tudo ao seu redor no território à sua própria dinâmica,
incluindo o que já existia previamente. Portanto, o seu impacto e importância
são inestimáveis. É a etapa que produz em escala, gera desenvolvimento,
demanda do setor primário (1) e fornece ao setor terciário (2) . Assim, o que
determina a complexidade de uma indústria é o nível de tecnologia aplicada
durante o processo. O Brasil, por exemplo, é considerado subdesenvolvido por
conta do grau inferior de complexidade de sua economia em comparação às
dos países centrais do capitalismo. A economia brasileira é primordialmente
baseada no agronegócio, que, comparado à indústria, gera mais impacto do
que riqueza ao país.
(1)- Fornece equipamentos, maquinário, agrotóxicos e fertilizantes, etc.
ao setor primário (extrativismo e agropecuária), enquanto demanda
matéria-prima deste. (2)- Fornece produtos e transporte, essenciais ao
setor terciário (comércio e serviços).
Com o desenvolvimento dos transportes e das telecomunicações oriundo
do processo de globalização, oportunidades de terceirização e fragmentação
da produção industrial surgiram, mudando a dinâmica econômica global em
relação à indústria. Um conceito importante a se refletir é o fator locacional,
que se define como o conjunto de elementos que determina a localidade de
determinado comércio ou indústria. Os principais são:
- Matéria-Prima;
- Energia;
- Mão de Obra;
- Tecnologia;
- Mercado Consumidor;
- Logística;
- Rede de Telecomunicação;
- Complementaridade;
- Incentivos Fiscais.
OBS.: Para indústrias de base pesa mais a disponibilidade de
matérias-primas e de energia ou a facilidade de recepção desses
recursos naturais. A existência de mão de obra altamente qualificada
pesa mais para a instalação de indústrias de alta tecnologia. A
proximidade de um amplo mercado consumidor é mais importante para
indústrias de bens de consumo. Agora, para todos os ramos industriais
é fundamental a existência de boa rede de transportes e de
telecomunicações.

● Classificação das Indústrias:


A. Segundo o IBGE:
- Indústria de Bens Intermediários (Indústria Pesada): bens que dão
origem a outros bens. Ex.: metalurgia.
- Indústria de Bens de Capital: bens usados em outros setores ou não
visando gerar capital. Ex.: maquinário, equipamentos.
- Indústria de Bens de Consumo: produzido e voltado diretamente ao
consumidor final. Os bens de consumo são divididos em:
- Não duráveis: é usado e acaba-se instantaneamente. Ex.:
remédios, produtos alimentícios
- Semiduráveis: desgastam-se a partir do primeiro uso. Ex.: roupas,
calçados.
- Duráveis: de uso longevo. Ex.: automóveis, eletrônicos.
B. Segundo o CNAE:
- Indústria Extrativa: extrai da natureza recursos e insumos sem alterar
suas características. Ex.: mineração, extração de petróleo.
- Indústria de Transformação: transforma ao longo da cadeia
produtiva. Ex.: metalurgia, produtos alimentícios.
- Indústria de Construção: voltada à edificação. Ex: civil, naval.
C. Segundo a função:
- Indústria Germinativa: dão origem a outras indústrias. Ex.:
petroquímica.
- Indústria de Ponta: indústrias que comandam a produção industrial.
Ex.: indústrias de Química fina.
D. Segundo a tecnologia:
- Tradicionais: ligadas às vantagens surgidas da primeira revolução
industrial. Sua organização interna e localização rígida determina este
tipo de atividade industrial;
- Dinâmicas: utilizam muito capital e tecnologia e relativamente pouca
força de trabalho. São bastante flexíveis quanto à localização e operam
em Economia de Escala (3).
(3)- Organização do processo produtivo de maneira que se alcance a
máxima utilização dos fatores produtivos envolvidos no processo,
procurando como resultado baixos custos de produção e o incremento
de bens e serviços.

E. Segundo a aplicação de recursos:


- Trabalho-intensivas: aquelas que empregam os maiores recursos em
força de trabalho, como por exemplo, as indústrias de vestuário.
- Capital-intensivas: as que aplicam os maiores recursos em capital e
tecnologia;

03. Geografia de indústria: Brasil contemporâneo


● Fatores que explicam o subdesenvolvimento do Brasil:
- Industrialização sem autonomia tecnológica;
- Passado colonial;
- Elite econômica e política voltada para o exterior e não preocupada
com o desenvolvimento nacional;
- Dimensão cultural: depreciação da cultura brasileira e “síndrome de
vira-lata”.

a. 1ª fase: Surto Industrial (1849–1930)


Diversos fatores explicam o nascimento da indústria no Brasil. Um
deles foi a formação de um capital inicial a partir do comércio
exportador e da lavoura cafeeira. Ao aumentar a renda da população e
a demanda de produtos de consumo não duráveis, a política de
valorização do café também contribuiu para a expansão da atividade
industrial. Outro elemento de estímulo para a indústria foi a política de
incentivo à imigração. Outro, ainda, foi a Primeira Guerra Mundial, que
alterou o quadro das relações econômicas internacionais do Brasil.
Durante esse período, o país experimenta o surgimento de indústrias
leves, ou seja, aquelas de bens de consumo não duráveis e semi
duráveis. Anteriormente, por conta da questão colonial , o Brasil não
possuía autonomia alguma para investir em manufatura, o que mudou
com a independência. Ademais, o país era primordialmente
escravocrata; logo, o trabalho assalariado não era uma realidade
nacional, impedindo, portanto, o avanço da industrialização, processo
dependente de um mercado consumidor estabelecido.
Quando o ministro da Fazenda de Dom Pedro II aplica uma taxação
(Tarifa Alves Branco) sobre os produtos estrangeiros importados para o
Brasil em 1849, com o intuito de arrecadar e, claro, desestimular as
importações, abre-se uma janela de possibilidades para um emergente
setor econômico: a indústria. Apesar disso, esse surto industrial não
produziu legado algum ao país.
A crise política dos anos 20 foi caracterizada pela rejeição do sistema
oligárquico, que era associado ao “rei Café”. Seu desfecho foi o fim da
hegemonia da burguesia cafeeira na condução da economia e da
política brasileiras. A infraestrutura de transporte, os núcleos urbanos e
sua economia em construção (Comércio e Serviços, inclusive o
financeiro), o Capital acumulado, a transição da mão de obra escrava
para a assalariada e a consequente inauguração de um mercado
consumidor foram os “legados” deixados pela Economia Cafeeira.

b. 2ª fase: Era Vargas (1930–1954):


Com a Revolução de 1930, a saída do Presidente Washington Luís, o fim
da Política Café com Leite, o consequente término da República Velha e
a chegada de Getúlio Vargas ao poder, o Brasil assume uma nova
roupagem. Com a crise de 1929 e o capital acumulado pela Economia
Cafeeira, os bancos passaram a financiar iniciativas de
empreendedorismo industrial, em especial, na cidade de São Paulo, no
outrora eixo da economia cafeeira.
Apesar de suas limitações, a economia cafeeira deixou ao país um
importante legado material: uma estrutura econômica que se estendia
do Vale do Paraíba ao porto de Santos, o que incluía uma ampla malha
ferroviária, centros urbanos, mão de obra abundante, a presença de
bancos e investimentos, entre outros fatores.
Getúlio Vargas tinha plena consciência da importância da presença
de indústrias no Brasil, visto a dimensão e potencial do país. Portanto,
projetou a industrialização sólida nacional, investindo, primeiramente,
em indústrias de base. A construção delas se deu no eixo Rio-São Paulo,
muito por conta do legado econômico deixado pela cultura cafeeira na
área, sobretudo no Oeste Paulista. Posteriormente, o incentivo da
concentração industrial nessa região foi adotado também por JK, a fim
de integrar o setor produtivo e criar uma cadeia de complementaridade
— o que é chamado de economia de aglomeração (4) .
(4)- Economia de aglomeração: trata-se de um fenômeno da economia
em que empresas se concentram em um dado local em busca de
algumas determinadas vantagens para a cadeia produtiva. Em resumo,
nesse processo, os diferentes setores industriais buscam uma
aproximação a fim de facilitar algumas questões logísticas, como o
fornecimento de matérias-primas, além das chamadas externalidades,
isto é, as relações empresariais entre os diferentes grupos econômicos
para ampliar e melhorar as suas respectivas capacidades produtivas.

Essa nova fase caracteriza-se por uma estratégia governamental de


desenvolvimento industrial, pautado em investimentos estatais de
grande porte para a construção de indústrias de base e de
consolidação de um processo “oficial” de industrialização. Tal ação do
Estado visava implementar e fortalecer os investimentos no parque
industrial brasileiro, inclusive, com o fornecimento de bens de produção
e serviços industriais a custos muito abaixo do valor cobrado pelo
mercado nacional ou estrangeiro. Estabelecia, com isso, uma política
nacionalista, com substituição de importações, caracterizada pela
adoção de medidas fiscais e cambiais que denotaram uma política
industrial voltada à produção de mercadorias antes importadas.
O projeto urbano-industrial de Vargas exigiu a criação de uma
afluente classe média, que, por ser o pilar do sistema capitalista, é um
fator essencial para a criação de um mercado interno e a atração de
empresas para o país. Para realizar isso, Vargas constituiu o Estado
brasileiro, atribuindo para si a construção de uma vasta gama de
instituições e empresas estatais, como a CSN e a Petrobrás, que
serviram para sustentar e ampliar o desenvolvimento do Brasil
(estratégia estatizante). Além disso, estabeleceu o cumprimento da CLT
(Consolidação das Leis Trabalhistas, de 1943) e legalizou a formação de
sindicatos sob a jurisdição estatal.
Ao fim do período, o setor industrial foi o que apresentou maior
dinamismo, com um crescimento de 8% ao ano e com uma expansão
significativa da ocupação de mão-de-obra. De toda forma, nos anos
seguintes o modelo Vargas foi predominante. Lançou as bases para o
desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek e inspirou os governos
militares até as crises do petróleo dos anos 1970.

c. 3ª fase: JK e o Plano de Metas (1956–1960):


Quando se encerrou o segundo governo de Getúlio Vargas (1951–1954),
o Brasil havia passado por uma série de mudanças estruturais que
ganharam velocidade a partir da década de 1930. Essas mudanças
diziam respeito principalmente às bases do desenvolvimento, ao
modelo econômico adotado, à ênfase na industrialização orientada
pelo Estado, à liberalização política e ao controle social e sindical.
O Brasil era apresentado, nos anos 1950, como um país diante de uma
encruzilhada histórica. De um lado, estava o mundo rural, que
representava o passado. De outro, a atividade industrial, que apontava
para o futuro. O passado era visto como imobilismo e atraso, e para
vencer esse peso, a industrialização era o único caminho. A criação do
novo, do moderno, fundaria um processo de mudança na sociedade
brasileira capaz de fazer o país deixar de ser subdesenvolvido.
Para a Geografia, JK foi um governante extremamente transgressor —
mais ainda do que Vargas —, o que se dá tanto como resultado de suas
políticas de abertura econômica, que trouxeram ao país multinacionais
estrangeiras do setor automobilístico, sobretudo, quanto pela
construção de Brasília protagonizada por ele. No modelo econômico
adotado por JK (nacional desenvolvimentista), o Estado serve tanto
como um agente político quanto econômico, independente do sistema
ser capitalista ou socialista.
● Características gerais:
- Ênfase no planejamento estatal: como exemplo, JK projetou o Plano de
Metas;
- Planejava-se a consolidação de uma classe média urbana e o seu
renascimento, o que teria como resultado a valorização do mercado
interno. O próprio desenvolvimento econômico era notavelmente
voltado para dentro, a fim de servir o mercado interno brasileiro. Como
resultado, houve um intenso êxodo rural, já que as condições
socioeconômicas no campo eram extremamente inferiores às da cidade
— a população rural, nesse processo, foi negligenciada e esquecida —,
fazendo com que uma imensa massa de pessoas migrasse para os
centros urbanos
- A Revolução Verde trouxe a entrada de máquinas, equipamentos,
agrotóxicos e fertilizantes no campo brasileiro. Com a oferta de
emprego reduzida decorrente da modernização do campo, o
desemprego nessas áreas aumentou junto ao êxodo rural.
- JK queria fornecer à classe média a experiência do “American Way of
Life”, que tinha como base três elementos: casa, carro, e família.
- Fordismo: foram importadas as linhas de montagem provenientes do
sistema produtivo estadunidense.
- Tripé da industrialização:
1. Indústrias de base — empresas estatais;
2. Bens de consumo não duráveis e semiduráveis — empresas
privadas nacionais;
3. Bens de consumo duráveis — multinacionais estrangeiras.

Nos anos 50, o país vivia sob a égide de uma ideologia prometeica, de
crença no desenvolvimento, no progresso e na mudança. Este era um
legado deixado por Vargas, do qual JK se apropriou com maestria.
Juscelino adicionava ao desenvolvimentismo a ótica do otimismo e da
tolerância política. E contava, na retaguarda, com um corpo
institucional já formalizado e uma estrutura burocrática e estatal
razoavelmente consolidada, que lhe permitiriam agir e decidir mesmo
em momentos de crise política ou militar.
JK beneficiou-se de um aparelho de Estado já montado, com
capacidade de planejar, taxar, executar, financiar e cobrar, para pôr em
marcha um plano de governo que lhe daria notoriedade. Valeu-se do
planejamento, que já era uma marca registrada no país desde os anos
30, e dos corpos técnicos que o Brasil havia formado. Maximizou os
recursos que o país tinha e criou fatos novos (como a construção de
Brasília), sempre orientado pela visão estadocêntrica de
desenvolvimento, tão predominante na época. Mas, como seu
antecessor, também descuidou de uma pauta social que elevasse o
Brasil a um patamar de desenvolvimento humano compatível com o
dinamismo e a efetividade de sua máquina estatal.
A entrada de empresas estrangeiras no processo de industrialização
do Brasil foi realizada notavelmente com o intuito de atender ao
mercado interno. Contudo, não se preocupou com a transferência de
tecnologia, o que não garantiu a existência de empresas nacionais que
competissem em alto nível com empresas estrangeiras. Países como os
Tigres Asiáticos e a China, no entanto, adotaram uma estratégia
diferente: o modelo de plataforma de exportação, que se define pela
produção voltada para fora (absorção da tecnologia das multinacionais
estrangeiras pelas indústrias do país em troca de mão barata).

● Plano de Metas:
- Planejamento governamental: nacional desenvolvimentista;
- Incentivo à entrada de empresas estrangeiras, o que gerou o
desaparecimento de várias pequenas empresas nacionais;
- Investimento maciço em infraestrutura e insumos básicos;
- Quebra da economia de arquipélago (5) com um acréscimo à
integração do país; - Rodoviarismo: construção de eixos rodoviários
para a integração do território. Contudo, essa estratégia detém certas
desvantagens, visto que o automóvel possui uma baixa capacidade de
carga, é lento e sujeito a engarrafamentos, além de estar sujeito à
variação do preço do petróleo.
(5) Economia de arquipélago: setores, áreas e divisões da economia que não
interagem entre si, tampouco se
- Malhas ferroviárias concentradas e pouco extensas;
- Oligopolização da economia: Concentração de poder de oferta de
produtos por algumas empresas. Como exemplo, a Volkswagen e a Fiat
mantiveram por muito tempo um grande controle sobre a produção
automobilística no país.
- Criação da Sudene: tentativa de desenvolvimento do Nordeste a fim de
diminuir as desigualdades regionais do país. Com a saída de JK do
poder em 1960, o plano não seguiu adiante.

Você também pode gostar