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ESCRAVOS DO SERTÃO

INTEGRANTES: Maria Leticia, Jeivison Leal e


Johny Santana
MIRIDAN BRITTO FALCI
Nascida no Rio de Janeiro em 1936, se
graduou em História e Geografia pela Faculdade
Nacional de Filosofia (1957), fez mestrado em
História Social pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (1982) e doutorado em História Social
pela Universidade de São Paulo (1992). Possui
pós-doutorado pela École des Hautes Etudes -
Paris (1995).
Atualmente é professor titular da
Universidade Severino Sombra e associada do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
atuando principalmente nos seguintes temas:
escravos, demografia, mulheres, natalidade,
mortalidade; séc. XIX, história, gênero; cultura,
representações, cidade e província do Rio de
Janeiro, séc. XIX, província de Minas Gerais,
província do Piauí, escravidão.
INTRODUÇÃO
• A obra tem como objetivo principal fazer um estudo da população escrava na
província do Piauí no século XIX.

• A autora faz uma analise demográfica baseada em livros paroquiais de diferente


regiões da província, os censos disponíveis, a matricula de escravos, inventários,
testamentos, pesquisa documental sobre as fazendas nacionais, além de alguns
processos civis e criminais.

• Tem como bibliografia de apoio as obras de autores como: Odilon Nunes; Luiz
Mott; Tanya Brandão; Abdias Neves; José Expedito Rêgo; Claudete Maria
Miranda; Teresinha Queiroz; Lilia Schwarcz; Maria Luiza Marcílio; Iraci del Nero;
Horácio Gutierrez; Diana Galiza; Robert Slenes; Alida Metcalf; Herbert Klein; etc.
PARTES

O Tempo de
I Aparecer

O Tempo de
II Trabalhar

O Tempo de
III Desaparecer
Como Surgiram e
Nasceram os
Escravos no Piauí
Tempo de Surgir

• Contexto do século XVII e XVIII:

• Chegada dos portugueses

• Colonização indígena

• O “Sertão do Piauguhy” era terra disputada por capitães-mores, dentre eles


baianos, cearenses, pernambucanos e maranhenses

• 1621: Portugal, por motivo de fatores geográficos, cria os estados do


Maranhão e Grão-Pará, separado do Estado do Brasil, ligados diretamente a
Lisboa.
• Maranhão e Grão-Pará (que seria hoje
as regiões da Amazônia, Pará, Roraima,
Amapá, Acre, Maranhão, Piauí e Ceará),
tinham sua base econômica nos
extrativismo e nas drogas do sertão.

• No decorrer do séc. XVII, ocorreu uma


separação da parte oriental (Maranhão
e Piauí) com a ocidental.

• Passando a cultivar algodão e fumo,


além da criação de gado.
• 1751-1759: Surgia o plano, pensado por Francisco Xavier de Mendonça Furtado, que
visava a substituição do escravo indígena pelo negro.

• 1758: É criada a capitania de São José do Piauí, por D. José I.

• As medidas de Pombal significaram viabilizar uma mudança na organização do trabalho


na região, expulsar os jesuítas, confiscar-lhes seus bens em gado e escravos, controlar o
comércio de carne, expandir novas culturas, abolir a escravidão indígena e trazer
escravos negros para a região.

• No primeiro Censo mandado realizar na Capitania do Piauí pelo governador Pereira


Caldas, os índios não eram mais escravos. Eram “aldeados”, nem livres e nem escravos.

• A capitania do Piauí, já devassada por povoadores das regiões vizinhas, era preciso
coloniza-la, trazendo famílias portuguesas e concedendo a elas sesmarias

• Cerca de 300 famílias se mudaram para o Piauí, elevando o crescimento


populacional em cerca de 391,67%
• A localização geográfica do Piauí, propiciou três
rotas na importação de escravos

• De Leste para Oeste, partindo da Bahia


e de Pernambuco rumo ao sul do
Maranhão;

• De Oeste para Leste, partindo de São


Luís, cruzando o Piauí;

• No Litoral, no grande delta do Parnaíba.

• Essas rotas chamaram a atenção do governo


português, que sugere a criação de um Entreposto
(Grande Centro Comercial) de escravos no final do
séc. XVIII.
• Em 1808:

• Exportações = 106:420$000
• Importações = 58:504$900

• Por que haveria importação de escravos no Piauí ?


• Havia uma variação
étnica dos negros que
eram trazidos para o
Piauí.

• Essa variedade pode


ser explicada por
conta da divisão
geográfica do Piauí
em duas Companhias
de Comércio.
ESCRAVOS AFRICANOS E NACIONAIS: INVENTÁRIOS OEIRAS – 1813-1865
A Estrutura da População Escrava no Século XIX:

• Em 1826:

1ª Evidência:

Para cada 3 homens


livres, havia 1 escravo.

2ª Evidência:

População com muita


mestiçagem.
População da Província do Piauí em 1826:

Classificação das Classificação das


Mulheres Livres: Mulheres Escravas:
• 36,66% estavam na faixa de 0 a 20 anos.

• Escravos = 11,9% ( 40,39% da população escrava).


• Livres = 24,6% (35,08% da população livre).

• A reprodução interna entre os escravos era maior que entre os livres.

África 16% 3ª Evidência:


Províncias
4%
Vizinhas Quase todos os escravos
nasciam no Piauí.
Piauí 80%
População da Província do Piauí
em 1872:
• Quanto ao Estado Civil:

• Escravos = 71% de solteiros e 29%


de casados.

• Livres = 46,41% era solteiros e


47,39% de casados.

• No decorrer de 46 anos ocorreram


mudanças na estrutura populacional.

• A população da província, em
1872, aumenta cerca de 150%,
atingindo 202.222 habitantes.
• Esse aumento se deu pela população livre, pois a população escrava caiu 6%.

• Isso pode ter ocorrido devido o grande número de vendas, de alforrias, de


mortalidade e/ou de casamentos Interétnicos.

• A população branca também teve uma pequena queda de 0,6%.

• Em relação ao número de solteiros, houve um aumento, tanto entre livres,


quanto entre escravos

• Já o número de mulheres aumentou cerca de 2%.

• Africanos, europeus, latino-americanos, entre outras nacionalidades


representavam apenas 1,4% da população.
Idade dos Escravos de Oeiras:

42%
0-14 anos

57%
15-59 anos

Acima de 60 anos 1%

Idade dos Escravos de União: Idade dos Escravos de Teresina:

0-14 anos 8.8% 37%


0-14 anos

50% 33.6%
15-29 anos 15-29 anos

30-49 anos 38% 27%


30-49 anos
52%
50%
44.3%

União Oeiras Teresina


• Entre os considerados com má aptidão,
estavam os “inválidos, inúteis, doidos, cegos,
quebrados”, nas faixa dos 15-59 anos.
90%
• Existiam 11 escravos ao qual não foi declarada
qualquer aptidão, dentre os quais 10 eram
acima de 60 anos.
59.5% • Por que eles não foram declarados com
má aptidão ?
38.3%
• Quais seriam, então, suas atividades ?

• Por que outras cidades não seguiram o


mesmo critério ?
8.4%
1.6% 2.2%
• Isso revela que houve variações de critérios
Má Aptidão Pouca Aptidão Boa Aptidão entre nas anotações mandadas fazer pela Lei
2040 de 1871.
Tempo de Nascer

• O nascer era um dos poucos momentos em que o escravizado desfrutará de


alegrias, uma vez que suas vidas, eram marcadas pela condição de ser inferior,
“besta”, sendo voltadas ao trabalho, à dedicação aos anos, à obediência.

• Em 1835, somavam cerca de 69 crianças escravas e 177 livres, que foram batizadas
na Paróquia de N. Senhora da Vitória, em Oeiras.

• A mortalidade das crianças era imensa.

• Um escravo criança acarretava despesas com alimentação, até que seu trabalho
pudesse ser rentável.

• Por conta disso, era mais vantajoso comprar escravos já criados nos
mercados da Bahia ou no Maranhão.
• Mesmo com o valor crescente, não se sabia como evitar a grande mortalidade infantil, principalmente
escrava, que dizimava dezenas de vítimas por falta de conhecimento na profilaxia da doença do recém-
nascido.

• Na época, de cada 1000 crianças que nasciam, cerca de 300 morriam antes de completar um ano.
• A mãe morrer durante o parto era frequente entre livres e escravas.

• Fraqueza congênita motivada pela má nutrição ou falta de saúde da


mãe, causava, principalmente entre os escravos, o chamado “tétano
dos recém-nascidos”, responsável por causar vitimas nos nove
primeiros dias de vida infantil.

• E somente em 1884, irá se descobrir a cura.

• As Características do recém-nascido:

• Segundo o Censo de 1826:

• 75% das crianças escravas eram negras e 25% pardas


O Número de Nascidos:

• Nessa época, não havia Registro civil no Brasil, logo somente os registros
paroquiais nos mostravam o número de crianças que vinham ao mundo.

• Esses registros possuíam muitas falhas e erros.

• Durante quase todo o século XIX, houveram aproximadamente 1329 registros de


batismos de escravizados. Enquanto o dos livres chegaram a 10.751 registros.

• Até o ano de 1871, os registros eram feitos no mesmo livro, misturando livres e
escravos.

• Com a implementação da Lei do ventre-livre, o pároco foi obrigado a fazer o


registro do filho dos escravos em livros especiais, sendo sujeito a multa, de
100$000, se não fizesse ou omitisse.

• No entanto essa norma só foi seguida nos primeiros anos e em algum lugares do
Piauí.
• Os filhos livres de escravos passaram a ser chamado de “ingênuos”.

• O percentual de crianças ingênuas é muito pequena, corresponde só a 7,7%


de todos os batizados.

• O que deve se pensar ? Sub-registro para os filhos de escravos ou baixa


natalidade ?

• Quase todas as crianças escravas eram filhas naturais (ilegítimas).

• “O que se queria é que as negras gerassem”, independente ou não do fato


de serem casadas pelos moldes da Santa Igreja Católica.

• Os cativos tinham direito a usufruírem do matrimônio, porém os senhores


também tinha direito de cuidar de suas terras. E no regime escravista
brasileiro, o direito do senhor sempre tinha precedência sobre o do escravo.
• A media da taxa de natalidade escrava, na primeira metade do século XIX, ficava acima de 45
por mil. contudo elas variam bastantes entre 27.5 por mil e 60 por mil.

• A fecundidade escrava no Brasil, foi uma das mais baixas de todo o continente.

• Condições econômicas locais impulsionadas por vetores internacionais , como a variação da


produção da cana-de-açúcar, fumo, algodão, couro, peles, atanados, influíram no
desenvolvimento da demografia escrava.

• A população escrava foi diminuindo ao longo do tempo:


• A diminuição ocorrida na década de 40-50 poderia ser proveniente de uma
paralização do aporte externo por volta de 1830, acompanhada de alta
mortalidade e baixa natalidade.

• A estagnação nos anos 50-79 poderiam ser devido ao aumento da natalidade,


diminuição da mortalidade e/ou da manutenção do “mínimo ótimo de população
escrava”.

• Já o anos 80 poderia ser explicada pela desescravização/ alforrias.

• A autora aponta que embora a população escravizada estivesse diminuindo, os


índices de natalidade escrava se manteve alto

• Se a natalidade era expressiva necessitava-se investigar as relações sociais e as


tias que se formavam nas representações daquele nascer.

• Como seriam esses batizados e em que templos se realizaram?


• Quais os nomes dos escravos e que padrinhos teria recebido?
Tempo de Ser Batizar

• Ser batizado, ingressar no mundo cristão, receber um nome era um momento


importante na vida do escravo.

• Os registros assinalam batismos de irmãos de idades diferentes no mesmo dia de


batismo de crianças escravas cujos donos batizavam, na mesma ocasião, os seus
filhos.

• Na primeira metade do Século XIX, só havia duas aglomerações urbanas de realce:


Oeiras e a Vila de Parnaíba.

• A população vivia isolada em suas fazendas distantes uma das outras.

• 26 igrejas e 12 capelas realizavam as cerimônias principais de batizados e


casamentos na segunda metade do século.
• Principais locais de batismo:

• Oeiras: Igreja matriz de Nossa Senhora da Vitoria (1733);

• Piracuruca: Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo (1743);

• Jerumenha: Igreja de Santo Antônio (1746);

• Parnaíba: Igreja da Nossa Senhora Mãe Divina Graça (1795);

• Jaicós: Igreja de Nossa Senhora das Mercês (1839);

• Vila Velha do Poty: Igreja de Nossa Senhora do Amparo (1835-1842).

• Diferentemente do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, no Piauí não existiam


templos feitos unicamente para os escravos.
• A Igreja do Rosário, em Oeiras, era bastante frequentada por negros.

• Relatos orais aponta, que na igreja de Bocaina, os brancos se sentavam a


direita e aos negros a esquerda.
Descrição da cerimônia do batismo para as
crianças de Elite:

"Era um dia de festa o batizado de uma criança. Além dos padrinhos,


havia a chamada madrinha de carregar. Bem vestida, usando uma
bonita toalha a tiracolo, era encarregada de levar a criança desde a
casa dos pais até a Igreja e de trazê-la de volta. Durante todo o ato
religioso a Criança fica nos braços da madrinha de carregar, exceto
no momento de ser levada à pia para receber a agua na cabeça, pois
nesse momento a madrinha legítima recebia o batizando e o levava,
juntamente com o padrinho que botava a mão direita no ombro do
mesmo batizando. Depois da cerimônia da água a madrinha de
carregar tornava a receber o menino e o mantinha em seu poder
durante todo o resto da cerimônia. De volta a casa, os parentes,
amigos e convidados cercavam o novo cristão, que era levado
alegremente ao som de repiques apropriados”.
• Ainda dentro do projeto escravista que a Igreja e o Estado forjaram no Brasil, o
batismo terá o significado de moldar o escravo cristão em escravo obediente.

• Não era comum o batismo ser realizado no mesmo dia do nascimento.


O Nome do Escravo

• Dar um nome é estabelecer um “rito de passagem”, pois o nome é sinal de


conhecimento e ano mesmo tempo de propriedade”.

• Entre os Livres:

• Em Oeiras, cerca de 48,3% das amostras dos homens livres possuíam um


desses nomes: Raimundo, José, Antônio, Manuel e Francisco.

• Entre os escravos

• 35,9% da amostra dos homens escravos, vão possuir os nomes comuns


iguais aos dos livres, com exceção de Benedito

• Será encontrado também inúmeros nomes que só se repetem uma única vez,
e que representam 60% da amostra.
• Assim, os escravos tinham nomes mais complexos, diferentes entre si,
menos comum do que os dos livres.

• Poucos nomes escravos eram compostos, não houve também repetição


de nome do pai ou da mãe na criança.

• Era motivo de orgulho para os senhores que os escravos usassem seus


sobrenomes.

• Não se sabe ao certo quando e porque os escravos passaram a ter


sobrenomes.

• Em relação aos libertos e forros, com a aquisição da liberdade, eles


poderiam escolher seus sobrenomes, alguns escolhiam o sobrenome do
antigo senhor, e quando não queriam e era permitido ter nomes de
família local, muitos escolhiam “Silva” ou “Ferreira da Silva”
O Compadrio:

• Foi através do compadrio que houve uma extensão nos laços de solidariedade no
mundo dos escravos, possibilitando a ampliação da família escrava e criação de
um grupo social forte e que se ajudava nas lutas diárias.

• Em regiões que predominavam pequenos e médios plantéis e ilegitimidade dos


filhos de escravos, o compadrio de escravos com livres eram maior.

• Já em regiões onde predominavam grandes planteis, com maior legitimidade dos


filhos, foi maior o compadrio entre escravos.

• Não era comum senhores apadrinharem seus escravos. Contudo era comum os
outros membros da família do senhor serem padrinhos dos filhos de escravos.

• A autora pontua a hipótese do apadrinhamento por pessoas livres não surgirem


somente da vontade dos escravos, mas dos próprios senhores.
Compadrio escravo, Paróquia de Santo Antônio
de Jerumenha, 1855-1860:
• Tipos de Famílias:
• Família Nuclear: vivem em grande plantel, constituída de um grupo
grande de escravos

• Família Matrifocal: mais comum entre os pequenos planteis,


constituída de mães solteiras com pais desconhecidos.

• Família Solitária: Escravos que conviviam com outros escravos,


porém sem ser do mesmo sangue, ou possuir algum parentesco.

• Em Oeiras ocorreu a formação de famílias mais estáveis, nas chamadas


Fazendas Nacionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

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