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Povos índigenas do Sertão

Nordestino no Período Colonial


Descobrimentos, alianças, resistências e encobrimento

Ricardo Pinto de Medeiros


• Os povos indígenas tiveram um papel fundamental na
formação do povo brasileiro, que pouco a pouco foi sendo
apagado da memória, a medida que grande parte deles ia
sendo destruído.
• Diversidade pré-histórica
• Escassez de fontes se estende ao fato de que muitos povos
foram exterminados antes mesmo que houvesse registro
escrito da sua existência.
• Ausência de leitura crítica dos cronistas coloniais.
• Para tentar se explicar a homogeneização recorreu-se além
dos cronistas a documentos burocráticos.

• Duas grandes estratégias promoveram a destruição e o


encobrimento da diversidade étnica: a política de guerras
entre a Coroa Portuguesa e os povos indígenas e a
exploração da sua mão de obra.

• Objetivo do artigo: Explicar como e porque se deu essa


homogeneização.
Problemas e fontes
• História oficial: o elemento indígena como um agente passivo.
• Sem o apoio dos povos indígenas a Coroa Portuguesa não teria
conseguido manter os seus domínios no continente americano – os
terços de índios.
• Guerras dos Bárbaros – motivadas pelo apresamento de escravos e
limpeza do território para implantação dos currais. As alianças
existentes favoreceram a resistência e a manutenção da identidade
de alguns desses grupos.
• Os diversos tipo de modalidade de trabalho indígena compulsório
foram motivo de conflito em vários momentos.
• A ação missionária – e a sua dupla importância.
• Não davam importância as culturas indígenas, mas seus
relatos mostram episódios de resistência aos novos modelos
impostos pelos aldeamentos missionários.
• Acompanhar os relatos dessa resistência na forma das
guerras e conflitos que resultam do contato permite
conhecer um pouco da história desses grupos.
• Constante redefinição cultural.
• O contato interétnico modifica ambas as culturas.
• Razões que fazem com que suas fontes sejam excassas.
• O parco registro das culturas indígenas foi feito de modo
etnocêntrico. Entendendo-as como exóticas, inferiores e poucas
vezes como possíveis aliados.
• Duplo viés.
• Suas denominações na maioria das vezes não são auto-
denominações, e sim atribuídos a eles.
• Grande variação na grafia.
• Lingua falada: tupi – gentio, caboclos de língua geral; tapuia –
gentio de corso ou bárbaros.
• Os Cariri possuem muito material linguístico, mas poucas
descrições etnográficas; os aliados dos holandeses (atualmente
conhecidos como Tarairiú) possuem muito material etnográfico e
pouco material linguístico.
• Entre as informações de caráter etnográfico destacam-se:
Cultura-material (técnicas agrícolas, de caça e pesca,
armas, habitação, conhecimento da cerâmica e do trançado,
forma de preparo dos alimentos, formas de dormir, vestuário
e adornos);
Cultura-imaterial (rituais de antropofagia, iniciação,
casamentos e funerais, festas, mitos);
Caracteres físicos;
Comportamento (dócil ou violento);
• As crônicas quinhentistas são pouco reveladoras sobre
os povos do sertão.
• Ocupação holandesa no Nordeste no século XVII;
• No século XVIII há um declínio de informações ;
• No século XIX – primeiras expedições científicas
promovidas a partir da chegada da família real
portuguesa;
• Essa documentação pode ser encontrada em diversos
países principalmente Portugal, Espanha e Holanda.
Descobrimentos
• Descrições dos grupos
• Futuramente buscar-se uma continuidade entre a pré-
história e a proto-história;
• Se a diversidade não foi apenas o reflexo da incompreensão
do colonizador.
• No século XVI os portugueses estavam mais interessados nas
culturas do Oriente, como indianos e os chineses.
• Uma das Primeiras referências aos Tapuia no Séc. XVI, encontra-se numa
carta do padre Jesuíta Juan Azpilcueta:
• 24/05/1555
• 350 léguas a dentro
“Geração de índios bestial e feroz, porque andam pelos bosques feito
manadas de veados”

Gandavo (1576)
“Junto ao rio Maranhão (...) Tapuias (...) não comem a carne de nenhum
dos seus contrários (...) Porém, tem outro rito muito mais feio e
diabólico: E é que quando algum chega estar doente de maneira que se
desconfia da sua vida, seu pai ou mãe, ou irmãos, ou quaisquer outros
parentes mais chegados, o acabam de matar com suas próprias mãos
(...) depois disso o assam e cozem, lhes [comendo] toda a carne
(...) Entre eles há tanta razão de amor, que Sepultura mais honrada e
podem dar que metendo dentro de si e agasalhar-lo para sempre em
suas entranhas”
• Ainda nesse período entre os índios do sertão, merecem destaque os
Aimoré, por terem ameaçado a colonização das capitanias de Ilhéus e
Porto Seguro.
• Combate atraiçoado (emboscada).
• Endocanibalismo x Canibalismo ritual
• Os grupos de língua tupi por não possuírem L, F, R na sua língua não
possuiriam nem lei, nem fé, nem rei.
• Tapuia além de serem contrários aos outros índios eram também
contrários entre si mesmos.
• Soares de Souza consegue trazer a primeira localização dos Tapuia,
expulsos do litoral da Bahia pelos Tupinaê, posteriormente
desalojados pelos Tupinambá.
• Fernão Cardim.
• Lista com 76 nações Tapuia.
• Habitavam em casa e faziam roças. Grupos que não possuíam habitação fixa,
grupos que habitavam em cafuas debaixo do chão, e grupos que habitavam
debaixo de pedras.
• Yves d’Evreux
• “Os Tremembé matavam seus inimigos rachando as suas cabeças com
machado de pedra em forma de crescente que deixavam sobre os seus
corpos, por ser seu costume não utilizarem mais o mesmo Machado que
matou o inimigo.”
“dizem-me terem os tremembés o costume mensal de velar toda noite os
seus machados, até ficarem perfeitos, em virtude da superstição, que
nutriam, de que é indo para guerra armados com Tais instrumentos nunca
seriam vencidos, e sim sempre vencedores.”

• Diogo Campos Moreno (1614) narra diversas tentativas de contactar os povos do


interior do Maranhão por parte dos franceses.
• No CE sobre os Aconguaçu o jesuíta Ascenso Gago, que não
eram muito diferentes de outros Tapuia. Não comiam carne
humana, mas os ossos de seus defuntos os desenterravam
ao cabo de seis meses e moídos e desfeitos os comiam com
mel de abelha em Sinal de Amor. costumavam prantear os
seus defuntos um ano inteiro e os viúvos não tornavam a se
casar senão depois de um ano
• Para o interior das capitanias de Rio Grande, PB e
Pernambuco, no século XVII, as fontes holandesas
(qualificadas).
• Há uma terceira nação, cujos índios se chama careryjous.
Conhecemos particularmente a nação dos tapuia chamados
Tarairyou; Jan duwy é o rei de uma parte dela e Caracara do
outro.
• Segundo os relatos dos Holandeses através da sua comparação
podemos identificar alguns elementos que são mencionados na
maioria deles:
o nomadismo com referência a descida do litoral na época da safra do
caju, a prática da caça e da coleta do Mel, o endocanibalismo, as
corridas de toras, a divisão do grupo em duas metades, a ingestão de
bebida preparada com sementes seguida de transe por parte dos
feiticeiros, os rituais de iniciação das crianças de 7 a 8 anos de idade,
os rituais de casamento as práticas mágicas em relação a cura de
doenças com a fumaça do tabaco, a fumigação das sementes e do
campo antes do plantio, uso de propulsores, arcos flechas e tacape,
agricultura do milho e legumes, abóbora em forma de bilha e
mandioca, a técnica de assar com brasas enterradas, escarificações
com pente de dentes de peixe ao e ao amanhecer com intuito de se
tornarem fortes, o uso do estojo peniano a depilação de todo o corpo,
uso de cabelo comprido entre homens e mulheres.
• Padre Manuel Correia em junho de 1693 escreve na Bahia
sobre os Moriti aldeados nas aldeias de Juru, Canabrava,
Natuba e Saco dos Morcegos.
• “Metiam os cadáveres dos seus mortos dentro de um pote e
o enterravam, para que depois, não tendo quem lho dessem,
não sentisse falta da vasilha para cozinhar a comida.”
• Serafim Leite, afirma que tanto os Paiaiá quanto os Moriti
realizavam o ritual do Varaquidrã, onde segundo o Pe M.
Correia:
• “Todos eles chupam o fumo do tabaco, de tubos ou cachimbos de
barro, que guardam com diligência para esse dia.”
• Sobre o Sertão do Piauí a descrição do Padre Miguel
de Carvalho do final do séc. XVII, refere-se aos índios
rodeleiros, que “pelejavam com rodelas muito
grandes feitas de um pau chamado craíba”.
• 36 grupos em guerra com os moradores de N. S. da
Vitória.
• Uso de rodelas de botoque, cabelos compridos e
estarem em pazes ou não com os brancos.
• O século XVIII e o encobrimento Pombalino.
• Não importava as culturas indígenas o que ocasionou a escassez
de fontes.
• Incorporação de fontes etnográficas já existentes sem modificar
ou citar.
• Índios do Brasil.
• Documentação burocrática – tendência em substituir o nome da
etnia pela localização da aldeia.
• Obra de Dom Domingos Loreto Couto , Ressalta as qualidades
dos índios do Brasil que, ao contrário da opinião geral que dele
se tinha, eram capazes de se integrar à sociedade como qualquer
outro indivíduo
• No século XIX - expedições científicas
• Spix e Martius – visitaram o sertão da bahia e foram ao
Maranhão através de Pernambuco e Piauí:
• “os Camacã de São Pedro de Alcântara utilizavam o Atílio
peniano e traziam cabelo solto. as mulheres sabiam fazer de
fios de algodão e de fibra de Palmeira, bonito sacos, bolsas
de caçador e curtos aventais quadrados, que usavam em
redor dos quadris tingiam esse material de vermelho com a
semente de Urucum, de preto com os frutos do Jenipapeiro
e de amarelo com pau Amarelo. Também sabiam fazer louça
de barro. Dormiam em Jiraus de madeira que cobriam de
folhas secas e peles de animais.”
• Enterravam as crianças em qualquer lugar, mas os adultos eram
enterrados na mata de cócoras. O túmulo era coberto de folhas de
palmeiras. Colocavam de tempos em tempos pedaços de carne
fresca.

• M. Aires Casal informa que os derradeiros índios de Pernambuco


foram reduzidos nos séculos XIX: Pipipã, Chocó, Umã e Vouvé.
Sepultavam os mortos encolhidos e sempre embaixo de árvores
frondosas.
• No Maranhão, os Timbira se autodenominavam em palavras
terminadas com crã.
• Tipóias para carregar crianças
• Conchas eram utilizadas para se fazer utensílios
Alianças
• No primeiro momento o sistema de trocas não interferia
profundamente no modo de vida dos grupos contatados.
• A implantação das capitanias hereditárias inaugurou o sistema de
escravização.
• A Coroa Portuguesa precisava dos indígenas para a defesa do
território, por isso tentou no primeiro momento combater a
escravidão – “barreiras dos sertões”.
• Em 1587 – proibição de qualquer pessoa ir ao sertão descer índios
sem licença do governador.
• Em 1596 – os jesuítas passam a ser responsáveis pelos descimentos.

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