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Relatoria 4
Stuart B. Schwartz
Ainda nas primeiras páginas do capítulo, ele faz um levantamento dos principais locais
da África de onde as pessoas eram importadas pelo tráfico negreiro: no século XVI,
predominavam os de Senegâmbia; no XVII, os de Angola e Congo; e, no XVIII, os da Costa
da Mina e do Golfo de Benim. Além disso, chama a atenção para os aspectos da cultura
africana que eram reforçados, aqui, por meio da maciça importação de povos escravizados.
Elementos diversos da cultura africana predominam até os dias atuais na Bahia, cuja cultura
de origem yorubá data do século XVIII. Junto aos valores e tradições culturais resgatados,
podia-se verificar que os africanos projetavam um pedaço da própria África aqui, no Brasil,
exemplo disto é a denominação do Quilombo dos Palmares, criado no século XVII, que fiou
conhecido como Angola janga ou pequena Angola. Tais acontecimentos mostram como a
resistência também configurou grande parte da realidade de povos subjugados pelo
escravismo.
Estima-se que a população baiana era composta por 70% de africanos desde 1600 ate o
fim da era colonial. Entretanto, na maior parte do livro é salientado o fato de não haver a
reprodução de crianças africanas no Recôncavo. Além disso, o autor elucida o alto índice de
mortalidade nos engenhos de açúcar. A predominância de cativos africanos na população
baiana é ressaltada ao ser comparada com a população da capitania Sergipe de El-Rey,
composta por mais pardos e mestiços, mulheres e crianças do que no Recôncavo. A
desproporção no cálculo da razão de masculinidade entre os engenhos das duas capitanias
também se mostrou gritante: ao final do século XVIII, como demonstrado na tabela 38, a
razão de masculinidade para cativos africanos era de 143 e para os nascidos no Brasil, era de
apenas 107; já no Recôncavo Baiano, a razão chegava a aproximadamente 1070 homens para
cada mil mulheres. Estes são exemplos que fundamentam a ideia defendida pelo autor: quanto
mais próximo ao eixo do tráfico atlântico de escravos, maior o volume de africanos que
compunham a estrutura demográfica. Nesse sentido, o objeto desta análise tem grande
destaque por ser justamente um terminal de desembarque de africanos escravizados e, ao
mesmo tempo, um grande exportador de produtos como o fumo e o açúcar, principalmente no
final do século XVIII. O autor mostra como esse nexo que configurava a economia escravista
colonial é o que confere à Bahia grande importância na compreensão da história colonial de
nosso país, tamanha era sua especificidade em termos de estrutura populacional.
No que concerne aos casamentos entre cativos raramente eram permitidos, portanto
havia inúmeros casos de ilegitimidade. Havia divergências entre os jesuítas acerca deste
assunto, como mostrado no caso do padre Pedro Teixeira, ao criticar o baixo número de
casamentos (34, cuja maioria era idosa) durante a administração de seu antecessor, Manoel
Figueiredo. Enquanto este último achava que escravos não deviam se casar, o primeiro
defendia a necessidade do casamento legítimo em detrimento dos pecados praticados pelos
cativos solteiros. Isso foi explicitado na carta de Teixeira referente aos primeiros anos da
terceira década do século XVIII. Outros administradores em favor da unidade familiar dos
cativos eram os beneditinos, cuja administração de engenho foi bem avaliada e popularmente
reconhecida. Na Bahia, as propriedades dos beneditinos era composta por grande número de
crianças no período 1652-1710 – variação de 20 a 24% de uma para outra propriedade. No
Rio de Janeiro, segundo anotações da congregação beneditina, houve um acréscimo de mais
33 mulheres e 3 homens aos cativos do Engenho de Vargem, entre 1783 e 1787, em razão da
necessidade de estabelecer um equilíbrio entre os sexos e propiciar o casamento e a
natalidade. Se por um lado os beneditinos e outros jesuítas defendiam a ideia da união
matrimonial legítima e a instituição familiar entre os escravos, por outro, em engenhos de
administradores leigos, além de não haver igual incentivo, pouca importância era dada para
tais configurações já existentes entre os cativos, como mostram os registros de inventário, tão
escassos e imprecisos quanto a essa questão.
Por não dispor de dados suficientemente claros para uma conclusão mais precisa
acerca da taxa de mortalidade da população escravizada, baseia-se em especulações mais
prováveis e estimativas de taxas brutas comparativas. A questão da mortalidade, assim como
da fecundidade, era contornada por fatores diversos e isso torna a análise um pouco mais
difícil. As condições de africanos importados certamente desfavorecia sua saúde, seja por se
depararem com um novo mundo com novas doenças, seja por – principalmente – partirem de
suas terras sequestrados por traficantes atlânticos num processo desumanizador. As condições
nos engenhos atingiam os cativos tanto física quanto psicologicamente. A partir da análise de
registros de óbitos e a especulação de taxas brutas, procura-se entender as condições de
trabalho sob as quais a população cativa vivia e o impacto que que isso trazia á vida de cada
um individualmente.
O número de crianças era menor entre a população escrava (cerca de cinco crianças
para quinze mulheres) do que entre as pessoas de cor livres. Como observado nos registros de
óbito da Paróquia da purificação, a população baiana era fortemente marcada pela alta taxa de
mortalidade e baixa taxa de natalidade infantil. Estima-se que a expectativa de vida não
excedia os 27 anos ao final do século XIX. O autor também esclarece o possível declínio
anual, com porcentagens variando entre 5% e 8%, de acordo com pesquisadores da situação
escrava no Brasil colonial. Segundo relato do cônsul Charles Pennel, em 1827:
Por não dispor de dados suficientemente claros para uma conclusão mais precisa
acerca da taxa de mortalidade da população escravizada, baseia-se em especulações mais
prováveis e estimativas de taxas brutas comparativas. A questão da mortalidade, assim como
da fecundidade, era contornada por fatores diversos e isso torna a análise um pouco mais
difícil. As condições de africanos importados certamente desfavoreciam sua saúde, seja por se
depararem com um novo mundo com novas doenças, seja por – principalmente – partirem de
suas terras sequestrados por traficantes atlânticos num processo desumanizador. As condições
nos engenhos atingiam os cativos tanto física quanto psicologicamente. A partir da análise de
registros de óbitos e a especulação de taxas brutas, procura-se entender as condições de
trabalho sob as quais a população cativa vivia e o impacto que que isso trazia á vida de cada
um individualmente.