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Relatório 3
Ronaldo Vainfas
Capitulo IV: Resistência de mulheres brancas, mulatas, mamelucas e negras como práticas de
liberdade.
A atuação formal do Santo Ofício no Brasil foi consolidada pelas visitas de Heitor
Furtado de Mendonça à Bahia e Pernambuco, em 1591-1595. Apesar de ter sido instruído a
executar funções limitadas à inspeção e julgamento de bigamia, blasfêmia e culpas menores, o
visitador agiu de forma arbitrária às ordens do Conselho Geral. Ainda mais, nos conta o autor,
fez uma espécie de esboço do autor da fé por meio das procissões, cujo objetivo era dar uma
lição aos ditos pecadores, fazendo com que o medo e o terror penetrassem o imaginário da
sociedade; Não obstante, essas breves reproduções dos autos realizadas na colônia cumpriram
plenamente seu papel de coagir e induzir a população a cooperar com o poder. Esses fatos
precederam, assim, a posterior atuação direta da Igreja, cujas atribuições se tornaram cada vez
mais abrangente em relação aos crimes de foro inquisitorial, para além de seu próprio ofício.
A organização eclesiástica ganhou mais força, uma melhor organização e forte influência
sobre a sociedade colonial, tratando cada vez mais de averiguar os crimes heréticos e
estabelecer uma ordem por meio da coerção. Além disso, o tempo da graça era um fator
aliado às práticas do Santo Ofício, uma vez que garantia certa indulgência aos que se
confessassem ou delatassem os crimes alheios.
Instaurada a atmosfera do medo, já não havia mais necessidade das visitas diretas,
sendo estas reduzidas em meados do século XVII e dispensadas posteriormente. A Igreja
desempenhava o papel inquisidor de tal modo, que sua diferença do Santo Ofício era quase
imperceptível, salvo por algumas questões teóricas esclarecidas pelo autor. Desse modo, o
poder eclesiástico desempenhava a função inquisidora de envolver a população nesse clima de
medo de punição. Isso favoreceu o rompimento das uniões entre as pessoas, que viviam à
espreita uns dos outros, a fim de delatar suas infrações para diminuir sua própria culpa. Vários
foram os relatos de acusações expostos pelo autor, tão desproporcionais às confissões,
segundo os registros disponíveis. Em suma, o que caracterizava a ação da Inquisição era
justamente a segregação da população, influenciada pelo medo da punição. Sendo assim, a
dissolução da solidariedade constituía um fator determinante para a expansão do poder
católico, permeando todos os aspectos da sociedade.