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Instituo de Ciências Humanas e Sociais

Departº de História e Relações Internacionais


TH522 – História do Brasil I 2020.2
Docente Drª. Margareth de Almeida Gonçalves
Discente Sulamita Francelino R. Lopes 2016265548

Avaliação

Primeiro Bloco: questão 1

No capítulo “Da colônia ao império: um percurso historiográfico”, Bicalho busca


expandir o alcance analítico da concepção de império à luz das obras de diversos
historiadores, abrangendo aspectos variados que constituem a complexidade do sistema de
expansão imperialista português, rompendo primeiramente com a noção dualista de metrópole
x colônia, na qual a primeira é absolutamente sobreposta à segunda, abrindo um leque de
possibilidades para analisar as redes de relações políticas, econômicas e sociais – tais como
questões de cunhos cultural e religioso - como fatores determinantes na fluidez com a qual o
expansionismo se desenvolveu no ultramar. Estas relações são inerentes aos
desenvolvimentos internos das organizações existentes nas diversas regiões de domínio
português, que, no contexto das relações comerciais e políticas, expandem seu poder de modo
a reorientar o sentido da progressão ultramarina portuguesa a partir do século XVI, voltada, a
partir de então, para o Atlântico.

A autora discorre sobre os trabalhos de diversos historiadores a fim de traçar um


percurso historiográfico que elucide as mudanças nas perspectivas das investigações acerca do
imperialismo europeu. Em primeiro lugar, faz breve alusão à perspectiva de Caio Prado Júnior
sobre o sentido da colonização, que se baseia fundamentalmente na ideia de justaposição da
metrópole à colônia, a partir da exploração de terras conquistadas, alinhando-se aos moldes
capitalistas que emergem no século XV. Ela demonstra a insuficiência de tal análise, como
também a de Fernando Novais, em termos de abrangência das mais diversas forças que
constituem o complexo ultramarino. Em sentido oposto, ela demonstra maior afinidade com
os trabalhos de João Fragoso e Maria de Fátima S. Gouvêa, segundo os quais a análise do
complexo sistema imperial deve-se realizar a partir de um viés que contemple os mais
variados tipos de relações internas, envolvendo questões culturais, artísticas, sociais, entre
outras. Desse modo, ao elucidar a importância de uma atenção minuciosa a tais agentes,
Bicalho confere grande apreço e credibilidade ao caminho teórico-metodológico desenvolvido
pelos autores.

Para reforçar a importância da consideração que deve se ter sobre as diversas relações
que configuram o desenvolvimento de autoridades locais para além do poder central da
metrópole, a autora destaca a análise de Luiz Filipe Thomaz, segundo a qual só é possível
compreender o conceito de império se levadas em considerações as relações comerciais,
culturais e sociais que indicam um desenvolvimento intercultural inserido em complexas
redes dinâmicas de comunicação. Reiterando tal afirmação, faz também alusão à contribuição
historiográfica do conceito de império desenvolvido por Catarina Madeira Silva, que
transcende os limites dos locais de trocas comerciais, contemplando também as relações de
troca das culturas política e ideológica, a exemplo da atuação portuguesa em Angola, cujo
objetivo primeiro era o estabelecimento de uma rede a partir da apropriação das redes
comerciais já existentes e não por meio de uma justaposição imediata.

O desenvolvimento da crítica central da autora fundamenta-se, também, nas análises


críticas dos historiadores Bin Wong e Sanjay Subrahmanyan. Estes propõem uma análise das
redes conectadas no Mediterrâneo, contemplando a multiplicidade das relações que as
configuram, assim como a flexibilidade dos próprios territórios e organizações políticas, com
forte crítica à produção historiográfica europeia moderna, cuja perspectiva apresenta tais
sociedades de maneira hierarquizada no processo histórico que parte exclusivamente da
Europa. A autora faz menção, também, á critica especial de Bin Wong à historiografia
inerente à criação dos Estados-Nações, cuja unidade política e étnica provinha da projeção
retroativa da construção de sua identidade nacional de maneira uniforme e linear, segundo a
qual todas as culturas convergiam para o mesmo processo. Além disso, confere grande
destaque aos estudos de Subrahmanyan, que exalta a importância da análise do comércio
global sob uma perspectiva abrangente e contemplativa da pluralidade das relações inseridas
nele, rompendo com os modelos eurocêntricos de produção historiográfica, e cuja análise se
baseia no conceito de connected histories (histórias conectadas), ao invés de um método
comparativo que impõe um caminho preconcebido de acordo com um modelo definido
segundo os moldes de uma determinada civilização. Seu método consiste em partir do local,
buscando trazer à luz “as singularidades e multiplicidades que caracterizariam traços
comuns, partilhados por diferentes culturas ou diferentes noções de império”, pois para ele
“Resgatar tais noções, que os contemporâneos possuíam na época moderna e foram
obscurecidas pela historiografia calcada na perspectiva do Estado-Nação, seria chegar mais
perto da cultura política, ou das diferentes culturas políticas que coexistiram e se
enfrentaram nos tempos modernos.” (p. 100)

Em geral, as práticas de negociação dos poderes locais que cresciam paralelamente ao


poder monárquico figuram, em grande medida, o cenário do que é compreendido até os dias
de hoje como era colonial. Nesse sentido, a perspectiva geral de Bicalho consiste na análise
das relações entre a centralidade da Coroa portuguesa e as diversas práticas de negociações
configuradas pelas intensas comunicações dos poderes periféricos em redes que se
solidificavam por meio de sua flexibilidade, elucidando a contraposição ente o absolutismo
monárquico da Coroa e o constante desenvolvimento de elites autogovernadas nos locais
subordinados à metrópole. Além disso, também suscita a análise da contribuição dos poderes
periféricos no processo de estabelecimento do poder central e a sua importância para
compreender a estrutura sistêmica do processo de expansão europeu, cujas características
ganham outras nuances de acordo com as novas perspectivas, partindo dos princípios de
conexões singulares e influências mútuas, configurando um cenário muito mais complexo e
revestido de plasticidade de acordo com a região no ultramar.

Em linhas gerais, as afirmações de Bicalho dialogam profundamente com as análises


feitas por Luiz Felipe de Alencastro no “Aprendizado da colonização” em “O trato dos
viventes”. Primeiramente porque compreende a formação do Brasil num sentido para além de
suas limitações geográficas, ou seja, inserido num complexo sistema de exploração
ultramarino, que, por sua vez, contribuiu para o desenvolvimento de sistemas internos de
organização política, relações comerciais e constantes negociações, característicos da atuação
das forças periféricas, o que, segundo os autores, configurou a própria estrutura do império no
ultramar. Em segundo lugar, o lugar de atuação desses agentes cujas práticas arbitrárias aos
pressupostos monárquicos escapavam às malhas metropolitanas. É possível observar diversos
exemplos dados por Alencastro, como os desenvolvimentos de comerciantes em Goa, ou
então o déficit na atuação da Coroa lusitana para impor um controle aos colonos nas terras
conquistadas, entre muitos outros. Esses agentes, cujo poder se desenvolvia de modo inerente
ao próprio absolutismo de Portugal, tem grande importância para ambos os autores, uma vez
que se busca compreender as diversas dimensões sobre as quais se dão os mais variados tipos
de interações e, principalmente, negociações. Pode-se concluir, desta forma, que compreender
o processo de expansão do imperialismo europeu demanda uma análise abrangente, que
conecte historiografias diversas, a fim de estabelecer um panorama que contemple todas as
singularidades características de cada processo específico das interações internas e externas
(do micro ao macro) que o impulsionam e resignificam. Além disso, a compreensão do Brasil
em si, só será possível diante da acepção de sua participação num conjunto muito maior e
complexo fundado no sistema escravista, cujas relações internas e externas caminham em
sentidos diversas, dando sentido às organizações hierárquicas do império.

Segundo bloco: questão 1

A capitania baiana, de um modo geral, é marcada por sua participação como peça
fundamental no contexto do tráfico atlântico de africanos – Salvador era o local onde estes
desembarcavam – e tal fator legou ao Recôncavo uma cultura marcada por fortes traços das
culturas africanas reforçadas por meio da importação maciça de pessoas que eram trazidas em
condições de desumanização. Schwartz procurou analisar a estrutura demográfica composta
pela população escravizada da Bahia na era colonial. Nesse sentido, ele atribui à esta
investigação a presença de fortes características que contornam tal estrutura: a
desproporcionalidade entre os sexos, resultante da importação de maior número de homens do
que de mulheres, a alta mortalidade de crianças, a baixa natalidade e, também, a baixa
fecundidade. Estes foram pontos a partir dos quais o autor traçou o percurso para conceber, da
maneira mais aproximada possível, os aspectos fundamentais que contornaram a população
escravizada do Recôncavo.

A estimativa era de que a população baiana, como um todo, era composta por 70% de
africanos escravizados desde 1600 até o fim da era colonial, entretanto, o baixo índice de
natalidade e a desproporcionalidade entre os sexos eram aspectos gritantes desta estrutura. A
disparidade entre os números de homens e mulheres era acentuada pelos cálculos da razão de
masculinidade, num esquema explicado pelo autor. Tal esquema atingiu os maiores índices de
desigualdade no século XVIII, com a alta das importações de africanos em 1720 e,
posteriormente, com o desembarque maciço de 60 mil cativos em Salvador, vindos da Costa
da Mina. Além disso, havia também o cálculo da razão de natalidade sobre as mulheres em
idade fértil na capitania em geral.

O engenho de Santana, em especial, é apresentado com características particulares e


pode ser entendido, a partir das exposições de Schwartz, como o centro econômico da
capitania baiana durante séculos, abrangendo grande território e contanto com um enorme
contingente de africanos escravizados. No século XVIII, era o único engenho existente na
capitania de Ilhéus. Sua diferenciação em relação ao resto da capitania consistia nas formas de
administração, algumas incentivando o casamento entre cativos, também concedendo o direito
ao próprio plantio e também a campanha de incentivo a natalidade, a fim de promover um
equilíbrio entre os sexos, instituindo também os preceitos morais da Igreja Católica. Contudo,
até mesmo os incentivos não fizerem com que as desproporções fossem extirpadas
definitivamente. Condições atípicas ao resto da capitania propiciaram novas formas de
resistência das populações cativas do engenho, fazendo com que possibilidades pudessem ser
verificadas, de modo a contribuir para a análise de sua estrutura demográfica.

Com as e

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