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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Departº de História e Relações Internacionais

TH522 – História do Brasil 2020.2

Docente Drª. Margareth de Almeida Gonçalves

Discente Sulamita F. Rangel Lopes 2016265548

Relatório 5

Maria Regina Celestino de Almeida

Capítulo I; “Política indigenista e políticas indígenas no tempo das reformas


pombalinas”

A “época pombalina” no mundo luso-brasileiro

2015

ALMEIDA, Maria R. Celestino de. Política indigenista e políticas indígenas no tempo


das reformas pombalinas. In: FALCON, Francisco; RODRIGUES, Claudia. A “época
pombalina” no mundo luso-brasileiro. Rio de Janeiro: FGV Editora, Faperj, 2015. p.
175-214.

No capítulo “Política indigenista e políticas indígenas no tempo das reformas


pombalinas”, Almeida explica de que modo ocorreu o processo de expansão portuguesa com
as aplicações da nova política indigenista - cujas características essenciais foram analisadas à
luz do Diretório de 1757 e alguns outros trabalhos – e examina suas aplicações face ás
políticas indígenas. Segundo a autora, a política pombalina era, antes de tudo, um recurso do
imperialismo português cujo objetivo era integrar as populações indígenas ao sistema imperial
português por meio da vassalagem.

O Diretório era o documento oficial das políticas indigenistas e suas leis visavam
transformar os aldeamentos jesuíticos em vilas portuguesas, onde os índios teriam direitos
assegurados, dentre os quais os assegurados pela Lei da Liberdade (1755), que proibia a
escravização indígena, e a Lei de casamentos (1755), como incentivo á mestiçagem,
garantindo benefícios àqueles que se casassem com índios. Tal incentivo tinha como objetivo
extinguir a cultura indígena paulatinamente. Além disso, era determinado o fim das
discriminações legais contra os índios e havia o incentivo de que estes ocupassem cargos
oficiais nas vilas. Entretanto, controversamente, eram considerados ainda incapazes de
governarem a si mesmos, necessitando, assim, ser administrador por um diretor. Essas
políticas não extinguiram, de fato, as distinções, ao contrário, as reforçaram ainda mais. A
autora achou cabível também salientar que o Diretório seguia as mesmas diretrizes do
Regimento das Missões Estado do Maranhão e Grão-Pará (1686), principalmente no que diz
respeito à divisão categórica dos índios entre mansos e selvagens, à obrigação do trabalho
compulsório, à garantia de terras aos índios nas aldeias e, também, à condição de tutelados
imposta a eles. Mantinha também os privilégios dos principais, lideranças indígenas,

Como expoente do poder imperial, iam contra todos os setores que se opunham a ele.
Quanto a isso, Almeida faz breve consideração à transformação da reputação dos inacianos
(de bons representantes e servidores da Coroa a potenciais “inimigos” de seus objetivos.).
Nesse sentido, ela explica como expulsão dos inacianos também pode ser compreendida como
um dos recursos necessários a Pombal, para que se estabelecessem suas movas leis, uma vez
que retiraria os índios da tutela dos padres, abriria caminho para que os limites de separação
territorial fossem dissipados e assim por diante. O local onde se iniciou o processo de
transformação das aldeias indígenas em vilas portugueses foi a aldeia de A complexidade das
relações entre índios não aldeados, índios aldeados e não índios era configurada por diversos
fatores como conflitos de lideranças e territoriais, questões comerciais, étnicas, entre outros.
É, portanto, de difícil definição, como esclarece a autora, a fluidez com a qual se davam as
interações entre essas populações, que se movimentavam e estabeleciam diversas relações de
acordo com sua necessidade. Essa complexidade torna ainda mais difícil uma definição fixa
que dê conta de separar precisamente os grupos indígenas entre aldeados e não aldeados.

, na Amazônia, em 1756, passando a se chamar Vila de Borba. A autora esclarece que,


segundo a historiadora Fátima Martins Lopes, o modelo instituído na primeira vila foi seguido
nas vilas posteriores, aprovado pelo rei como um regulamento prático de civilização.
Entretanto, suas aplicações não se davam de maneira homogênea, sendo sempre influenciadas
pelas interações com as outras populações. As reações dos indígenas diante da aplicação de
tais leis nem sempre eram de aparentemente submissão ou acordo, o que dificultou a
instauração desse tipo de administração em diversas regiões. Para a aplicação das leis, era
necessária certa adaptação a depender da região e organização da sociedade indígena ali
presente. Em alguns lugares, por exemplo, realizava-se procedimento de “descimentos”, tipos
de expedições que tinham como objetivo deslocar os índios de suas aldeias de origem para o
povoamento mais próximo aos portugueses; em outros casos, eclodiam guerras e estabeleciam
acordos com lideranças indígenas; e, em áreas colonizadas mais antigas, pretendia-se
extinguir as aldeias a fim de promover uma situação de horizontalidade entre os índios e
outros vassalos. Algumas lideranças entravam em acordo com a Coroa a fim de garantir seus
direitos e obter certos privilégios. Contudo, as motivações não devem ser reduzidas a apenas
isso. É possível perceber, também, um sentido mais amplo, segundo o que a autora mostra ao
longo do texto: essas atitudes muitas vezes simbolizavam resistências num contexto de
adaptação e uso de leis a seu favor, o que, ainda assim, iam ao encontro da política pombalina.
Nesse sentido, ao mesmo tempo em que garantia direitos de modo beneficiar os indígenas, tal
política fazia com a expansão portuguesa fosse possível, por meio da assimilação e, também,
em diversos, da sobreposição forçada à base de violência.

As vilas eram locais que, segundo o Diretório, seriam governados pelos juízes
ordinários, vereadores ou outros oficiais de justiça; ou até mesmo pelos principais, sob
direção dos diretores. O estabelecimento de novas vilas após a criação de Borba, não se deu
sem muitos percalços: é citado o exemplo da rebelião indígena em Dari, que se estendeu por
toda a região e tronou-se um empecilho para que o governador da capitania do Rio Negro,
Joaquim de Mello e póvoas, cumprisse os deveres do Diretório. Além disso, grande parte da
população indígena não estava disposta a colaborar e se submeter à política portuguesa.
Muitos fugiam, dificultando os descimentos. Contudo, conforme salientado pela autora ao
longo do capítulo, tais atitudes não foram regra geral no contexto das reformas pombalinas na
colônia. Embora já existissem políticas que conferiam prestígio aos principais desde o século
XVI, a autora explica de que forma a política pombalina aumentou significativamente sua
importância. Novas regalias lhes foram asseguradas, uma em especial é especificada no texto:
podiam, por meio do 50 do Diretório, mandar índios aos sertões para trabalharem para si.
Além disso, a autora também chama a atenção para casos em que eles se envolviam nas
atividades econômicas da colônia. Destaca, também, o desejo de muitos em obter títulos e
cargos de prestígio garantidos pela lei pombalina, principalmente acesso a cargos militares. O
diretório ampliou seus direitos a esses cargos, tornando possível a atuação dos principais nos
novas vilas. Muitas destas últimas, povoadas principalmente por indígenas, eram habitadas
por lideranças indígenas em cargos públicos, na câmara etc., e a Amazônia é o grande
exemplo citado no texto. As políticas de reciprocidade foram amplamente incorporadas pelas
lideranças do Principalato, conforme mostram as petições da segunda metade do século
XVIII, nas quais se podem verificar reivindicações de descendentes de antigas lideranças que
usavam de tal argumento para obter algum tipo de mercê em compensação de favores
prestados anteriormente á Coroa portuguesa.

Os direitos ao plantio e sustento assegurados pelo Diretório aos índios aldeados, não
representa menos que mais uma controvérsia na jurisdição pombalina. Almeida conta que os
índios não tinha liberdade para executar suas atividades, por serem considerados ignorantes e
rústicos, portanto eram representados em tudo pelos diretores, que faziam a venda do
excedente produzidos, a compra de seus produtos para subsistência e até mesmo o
recebimento de seus salários. O cultivo era fiscalizado pelos diretores e a divisão de trabalho
era feita pelos principais. Impunha-se o ofício a indígenas de 13 a 60 anos, porém, na prática,
menores e idosos também trabalhavam. As plantações de índios aldeados ficavam localizadas
em sítios distantes dos povoados e a forma de cultivo era a coivara, tipo de agricultura
tradicional itinerante definida por poucos anos de cultivo e seguida por muitos anos de
repouso. Os índios não tinham tempo suficiente para o cultivo de seus próprios alimentos,
pois passavam grande parte do tempo fora dos aldeamentos em função dos serviços que
deviam prestar obrigatoriamente. A capitania do Rio Negro, de modo geral, carecia de
produtos que suprissem suas necessidades alimentícias. Nesse sentido, a produção era
majoritariamente voltada para a subsistência. O extrativismo era o fator principal que garantir
algum rendimento com ajuda de recursos externos. Assim, a autora chega á conclusão de que
fatores demográficos, culturas e, principalmente sócio-econômicos contribuíram para as
dificuldades apresentadas á substituição das aldeias jesuíticas por vilas lusitanas. O que
assegurava, em certa medida, o rendimento econômico das expedições aos sertões, o que, em
contrapartida, também promovia certo desfalque nas vilas povoadas, obstruindo de certo
modo, o desenvolvimento agrícola, assim como a eficácia da política de povoamento. Além
disso, a resistência das populações indígenas é muitas vezes mencionada como determinante
para o déficit das vilas.
No tocante ás fugas na capitania do Pará, há a ressalva destacada por Almeida que
examina as naturezas de algumas. Em primeiro lugar, as fugas não tinham um sentido
generalizado de rejeição à nova ordem lusitana, muitas vezes eram apenas fugas temporárias.
A autora observa, à luz das investigações de Sommer, o contingente de fugas nos novos
povoamentos era bem maior do que em aldeamentos mais antigos. Uma das possíveis
explicações é que dentro desse novo cenário de criação de uma nova sociedade e articulações
políticas de miscigenação, uma nova cultura emergia no interior da Amazônia. Outro fator
atribuído ao menor índice de fugas em aldeamentos antigos, além da estabilidade assegurada,
a diminuição dos sertões, proveniente do avanço dos novos povoamentos, ocasionando, a
redução das possibilidades de sobrevivência nesse primeiro. Em última instância, Almeida
também atribui relevância ás relações estabelecidas por meio de acordos que alguns indígenas
optavam por realizar, a fim de garantir condições favoráveis para permanecer nas vilas.
Alguns optavam por ficar nas aldeias a fim de assumir certos papéis de destaque conferidos
pela nova lei.

A política assimilacionista integrava lideranças indígenas dispostas a estabelecer uma


relação de troca com a Coroa, ao passo que promovia a manutenção e reprodução da
hierarquia entre os povos indígenas. Além disso, o ideal de civilização permeou de tal modo a
configuração das novas vilas, que obteve aliados principais no seu projeto de extinguir a
barbárie dos índios dos sertões, considerados hostis, ora por assimilação, ora por conflitos.
Contudo, vale ressaltar que a condição de bravo do sertão e mando aldeado podia-se inverter
de acordo com as circunstâncias em que se davam as interações entre os agentes, além da
característica fluida e flexível das fronteias que faziam com os sertões encolhessem mais e
mais, configurando assim as referidas fugas temporárias.

Destarte a política pombalina preconizasse o fim das distinções, sua prática


evidenciava cada vez mais seu fundamento na manutenção das diferenças, como exemplifica
a autora, ao elucidar as continuidades de políticas anteriores. Alguns dos exemplos
apresentados são: a distinção comum e enraizada entre os índios e não índios; o incentivo à
hierarquização dentro da própria população indígena, no sentido dos privilégios dados aos
principais e á subordinação dos outros a este primeiro; e, também, a separação de categorias
de índios mansos e selvagens. Apesar das controversas diferenças fundamentais inerentes à
política pombalina, houve, por outro lado, inúmeros casos de reinvindicação de direito
assegurados aos índios pelas novas leis. A autora expõe brevemente, seguindo os estudos de
Resende, os casos de índios que utilizaram a Lei da Liberdade para impedir a escravização em
Minas Gerais. Há, por fim, uma importante análise feita pela autora: se por um lado a política
pombalina servia como mantenedora das distinções, por outro, estas últimas favoreciam aos
índios que bem as soubessem utilizar na reinvindicação de seus direitos. Dessa, maneira, há
um conjunto de fatores que contribuíram simultaneamente para a reprodução de tais práticas.

Em linhas gerais, o que pretendeu analisar no texto foi a complexidade das relações
entre índios não aldeados, índios aldeados e não índios, configurada por diversos fatores como
conflitos de lideranças e territoriais, questões comerciais, étnicas, entre outros. É, portanto, de
difícil definição, como esclarece a autora, a fluidez com a qual se davam as interações entre
essas populações, que se movimentavam e estabeleciam diversas relações de acordo com sua
necessidade. Essa complexidade torna ainda mais difícil uma definição fixa que dê conta de
separar precisamente os grupos indígenas entre aldeados e não aldeados, dada à inconstância
dessas posições em determinados contextos em função de influências mútuas. Em suma, a
autora esclareceu como as aplicações da política indigenista de meados do século XVIII
foram feitas de maneira articulada às políticas indígenas locais, as influências que sofreram,
ao tempo que influenciava simultaneamente, e como essas relações determinaram as
configurações da sociedade colonial a partir de então.

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