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TÓPICO:

A Amazônia indígena: processos civilizatórios, resistência e legislações


indigenistas.

Os estudos sobre populações/povos indígenas na Amazônia têm se desenvolvido


numa perspectiva histórico-antropológica que tende a valorizar os indígenas como
sujeitos ativos nos processos históricos nos quais se inserem.
Acredito que os estudos sobre os povos indígenas pressupõem uma abordagem
interdisciplinar, combinando história, antropologia e também arqueologia; visto que
muitos indícios da história da Amazônia indígena são postos por meio de dados
arqueológicos. Inclusive, pesquisas arqueológicas encontraram um rico patrimônio que
revelam evidências de uma longa sequencia de desenvolvimento indígena na Amazônia.
Anna Roosevelt denomina “cacicados complexos” as comunidades indígenas
hierarquizadas que residiam em áreas urbanas que desenvolviam agricultura intensiva
na região, conforme faz crer as evidências arqueológicas.
Dito isso, neste texto, tratarei da história da Amazônia indígena (nos séculos
XVII e XVIII), isto é, após a chegada dos europeus, sob três aspectos: 1) processos
civilizatórios; 2) mecanismos de resistência; e 3) legislações indigenistas. Uma vez que
esse contato provocou uma queda demográfica da população indígena da região.
Nesse período, de acordo com a perspectiva portuguesa, os índios podem ser
divididos em duas categorias: os livres (descidos) e os escravos. Apesar da
denominação de “livres”, os descidos também executavam trabalho forçado nos
aldeamentos. A mão de obra indígena nunca parecia o suficiente, pois além de
morrerem devido às epidemias de sarampo e bexiga, os índios fugiam, padeciam de
fome, dentre outros. E a constante baixa demográfica induzia os colonos a penetrar pelo
interior do território em busca de novas comunidades indígenas.
1) Processos civilizatórios
● Catequização
A partir da metade dos setecentos até o início dos oitocentos, vários indígenas
foram convertidos ao cristianismo, visto que a interiorização da conquista portuguesa
sobre o Estado do Grão-Pará e Maranhão estava sob o controle dos jesuítas. Almir
Carvalho Júnior (2013) denomina-os de “índios cristãos”. A denominação “índios
cristãos” deriva de índios coloniais e abarca os indígenas batizados, que conheciam a
doutrina cristã, respeitavam os sacramentos, além de receber um nome lusitano; no
entanto, eles continuavam sendo índios.
O objetivo do autor era recuperar a memória dos índios cristãos, um tanto
esquecidos pela historiografia, utilizando-se de relatos de jesuítas como fonte. Tal
estudo permite a compreensão de uma constante transformação do indígena, longe da
teoria de extinção que vigorava no século XIX. Assim como remete à crítica sobre a
mestiçagem ser encarada como uma perda da originalidade indígena, lida “somente
como um processo unidirecional de diluição da identidade cultural indígena”,
conformando-os em sujeitos passivos, sendo este um dos motivos para o
desaparecimento das populações indígenas na historiografia.
Almir Carvalho Junior (2013) expõe os objetivos e as dificuldades do trabalho
missionário na conversão dos indígenas, apresentando dados que mostram a resistência
dessas populações. O autor intenta através desse estudo sobre “índios cristãos”, e desse
mergulho sobre os séculos XVII e XVIII, no Estado do Grão-Pará, utilizando-se do
relato de missionários, ressaltar o protagonismo indígena. Ou seja, a tentativa consiste
em “descolonizar” o papel indígena na construção histórica, tornando-os sujeitos
ativos nos processos e contextos em que estavam inseridos.
De fato, os processos civilizatórios nos quais estavam inseridos os indígenas na
Amazônia colonial são frequentemente analisados junto às práticas de
catequização/evangelização impostas pelas ordens religiosas presentes na região no
referido período. Há, na verdade, uma extensa historiografia que trata do assunto citada
em Rafael Chambouleyron (2020). Uma vez que as ordens religiosas foram bastante
favorecidas no processo de distribuição de terras no Grão-Pará.
As ordens religiosas presentes na região, a partir das terras distribuídas,
desenvolveram atividades extrativistas, agrícolas e criatórias. No entanto, passaram a
disputar o controle das terras e da mão de obra indígena entre si e com os colonos
(Alves de Souza Junior 2010).
O Diretório pregava a liberdade dos índios e o fim da tutela exercida pelos
padres da Companhia de Jesus. Os nativos tornar-se-iam vassalos do Rei, como os
demais colonos. O argumentava-se que a liberdade do índio era fundamental para sua
civilização, pois os jesuítas os impediam de conviver com os brancos, incentivavam a
língua geral, em detrimento do português. Sob a tutela dos jesuítas era dito que os índios
jamais seriam homens civilizados e dedicados à agricultura e ao comércio. pois,
somente o trabalho, os hábitos urbanos e o convívio com os brancos fariam dos índios
homens civilizados.
● Mão de obra
O trabalho compulsório indígena, em razão da centralidade do uso desses
sujeitos no Estado do Grão Pará e Maranhão, foi fundamental para a formação da
economia da região no período colonial. A importância da mão de obra indígena, sob a
ótica européia, se demonstrava, entre outras coisas, em relação ao conhecimento do
território, ajudando a Coroa a estender/implantar as lógicas do domínio português sobre
o vasto sertão amazônico (Chambouleyron 2020). No entanto, conforme já dito, o
domínio sobre a mão de obra indígena era marcado por disputas.
Havia conflitos frequentes entre missionários e colonos, visando a dominação de
povos indígenas, na intenção de utilizá-los como mão de obra. Tal controle sobre os
indígenas oscilava entre os missionários e colonos, por meio das determinações,
sabiamente articuladas, da Coroa portuguesa (Alves de Souza Junior 2010).
O caráter dualista da política indigenista portuguesa, no período da
colonização, compreendeu um método de ação que pretendia a consolidação do poder
português sobre a região, isto é, o Estado do Grão-Pará e Maranhão. Além disso, era
interessante para Portugal a transformação dos índios em colonos, pois havia grande
dificuldade em deslocar colonos para a região Norte.
Fazendo certa “vista-grossa” a Coroa portuguesa ia administrando os conflitos
existentes entre os grupos mencionados. Os índios deveriam se identificar com os
portugueses para se tornarem colonos, por isso não era plausível para a Coroa declarar
livre a possibilidade de escravização indígena, muito menos existia a intenção de deixar
os colonos presentes na região desassistidos de mão de obra (José Alves de Souza
Junior 2010).
Contudo, o controle dos missionários sobre os indígenas limitava até a utilização
da mão-de-obra deles na construção de obras públicas, solicitadas pelas autoridades
reais. Essas atitudes possibilitaram que os colonos se utilizassem das “armas” dos
jesuítas contra eles próprios, isto é, acusaram-nos de explorarem de forma excessiva o
trabalho indígena, o que ia contra as determinações do Rei.
Como resultado das denúncias, uma provisão em 1663 abolia o poder dos
missionários sobre os índios, proibindo temporariamente ordens religiosas de
administrarem aldeias de índios forros, entregando o governo delas aos Principais. Mas,
os decretos de 1680 devolveram as aldeias aos jesuítas, tornaram os índios livres e
restauraram o sistema antigo. Esses acontecimentos reafirmaram o ódio dos colonos,
reavivando o clima de tensão na Colônia.
● A questão da terra
Juridicamente, os índios só alcançaram sua “liberdade” com as reformas
empreendidas por Marques de Pombal. O Diretório, a Capitania do Rio Negro e a
Companhia de Comércio do Grão-Pará promoviam a consolidação das fronteiras da
Colônia, além de incentivar a agricultura e a secularização das aldeias indígenas.
Durante os primeiros séculos da colonização amazônica, as instituições coloniais
e as forças da economia mercantil modelaram um novo sistema agrário. Assim, no
estado do Grão-Pará e Maranhão incentivou-se um tipo de produção apoiado no
mercantilismo das drogas do sertão (cacau, canela, salsaparrilha, cravo, anil,
baunilha, copaíba, breu, andiroba e casca preciosa).
Os sistemas agrários foram modificados rumo a uma nova ordem econômica e
sociocultural, intensificando-se a partir da experiência agrária pombalina pautada nas
bases da organização produtiva desenvolvida no aldeamento das missões religiosas. Os
sistemas agroextrativistas tinham o cacau como principal componente dos produtos da
floresta (Maria de Nazaré Angelo-Menezes 1999).
Os indígenas que mantinham uma grande circulação pelos rios amazônicos,
através de embates, conflitos e mediações com os europeus, acabaram perdendo parte
do seu predomínio para esses últimos, que utilizaram tanto a rede de comércio, quanto o
seu conhecimento das rotas. O conhecimento indígena imprescindível nesse momento
não eram as formas de se utilizar o cacau, o que parece ter seguido uma tendência de um
mercado externo, mas a forma onde se encontrar o cacau; como encontrar e como
transportar esse produto ao longo de uma grande rede fluvial (André Pompeu 2021).
A agricultura não se tratava somente de uma ruptura do ecossistema, mas de uma
virada da produção natural com fins exteriores ao funcionamento do ecossistema. Essa
ruptura, que surge da busca de produtos para o mercado, produziu mudanças e gerou
desequilíbrios. As intervenções coloniais nos ecossistemas do Vale Amazônico, durante
os primeiros séculos da conquista, significaram a implantação de tipos particulares e
novos agrossistemas, isto é, ecossistemas desorganizados, baseados nas culturas
alimentares.
A complexidade maior da implantação de agrossistemas inicia-se na fase
colonial com os jesuítas. Segundo João Daniel, os índios não aldeados em missões
tinham um modo particular de cultivar a terra, destacando que “o machado de pedra era
sua única ferramenta”. O sistema agrário em questão era o extrativismo vegetal,
representado pelas frutas tropicais (cupuaçu, bacuri, abacaxi, e açaí), como também o
extrativismo animal (caça e a pesca), e o cultivo da mandioca.
Indiferente às práticas agrícolas dos indígenas, o fomento agrícola colonial
propôs uma agricultura exaustiva (plantio e replantio), descaracterizando os sistemas
agrários localizados nas margens férteis dos rios, causando mudanças na paisagem
amazônica nos dois séculos de colonização em que se deu. Estas podem ser observadas
pelas transformações decorrentes da introdução de novos métodos e técnicas de
produção, ou seja, da implantação de agrossistemas diversos.
Os diferentes usos da terra nos mostram que o espaço físico tinha um papel
fundamental no que tange às relações sociais que se formavam na Amazônia colonial.
Além disso, podemos afirmar que os indígenas são produtores de um tipo de paisagem
rural amazônica, diferente daquela produzida pelos europeus. Uma vez que a cultura
influenciava a manipulação que cada sociedade promovia sobre a região. Por isso, os
indígenas e os sujeitos a serviço da Coroa tratavam o ambiente de forma diferente do
ponto de vista das técnicas e da própria relação com a natureza.
A colonização, de fato, engendrou amplos processos de expropriação das
terras indígenas e das múltiplas práticas de uso da terra desenvolvidas e reconfiguradas
pelos índios ao longo do tempo, antes da chegada dos europeus. Por um lado, os índios
não tiveram a posse de suas terras reconhecida, ocupadas pelas plantações e pelo gado
dos portugueses. Por outro, os índios coloniais eram expropriados igualmente do tempo
dedicado à sua subsistência ou a atividades agrícolas que se voltavam para seus próprios
interesses.
As consequências das manipulações do espaço amazônico são diversas. E se
apresentaram de forma distinta para cada sociedade que habitava a região. Contudo, é
importante destacar que assim como uma sociedade possui meios para modificar um
território, elas também são passíveis de serem modificadas por ele, como um processo
dialético de coexistência.

2) Mecanismos de resistência
Alves Souza Junior (2012) propõe que os indígenas na Amazônia viviam as
situações que lhes eram impostas (aldeamento missionário, Diretório dos índios,
catequização, trabalho compulsório) como sujeitos ativos, tomando decisões, fazendo
escolhas, usando a dissimulação como estratégia de resistência; recusando a disciplina
de tempo e de trabalho trazida pelas portugueses, numa tentativa de impedir a
destruição do seu modo de vida tradicional.
3) Legislações indigenistas
Desse modo, a legislação indigenista constituiu-se como um campo de luta
tanto na sua formulação quanto na sua execução na Colônia. Uma análise atenta da
legislação indigenista aplicada pela Coroa portuguesa no Brasil colonial permite
perceber o tratamento desigual dado por ela aos índios aldeados ou amigos (a quem
cabia a proteção da lei) e os “tapuias bravos” ou “índios de corso”, os quais restavam
os rigores da lei, que reconhecia aos moradores o direito de escravizá-los em guerras
justas.
Embora a lei tratasse de forma desigual os índios aldeados e índios inimigos, as
práticas dos moradores os unificava, mantendo índios amigos como escravos, ainda que
o tivessem recebido oficialmente como trabalhadores assalariados. Eram forjadas
guerras justas e resgates contra índios “inimigos” e atacavam os aldeamentos
missionários para aprisionar e tornar escravos “índios amigos”, práticas consideradas
ilegais (Alves de Souza Junior 2012).
A legislação que procurava proibir a escravização dos indígenas pelos colonos
favoreceu as ordens religiosas, apesar da “vista-grossa” dos portugueses quanto a esses
acontecimentos. Para os colonos, com o fim da União Ibérica (1640), transformar os
indígenas em trabalhadores assalariados, tornou-se a única maneira de utilizá-los em
seus empreendimentos de forma legal. Desse modo, o jogo de influências travado entre
missionários e colonos junto à corte demonstrava o conflitante embate político que
ocorria.
Tais circunstâncias que deram origem ao “Diretório dos índios” (1757), sob a
direção de Marquês de Pombal, foram preponderantes para o exercício da lei. Ou seja, a
tensão latente entre colonos e a administração colonial em torno da concessão da
liberdade dos índios, por conta da importância dessa mão de obra como força motriz da
colônia, teve grande impacto sobre a execução da lei (Mauro Coelho 2016).
Dessa forma, muito do que aconteceu não pode ser levado em conta como
transgressões à lei, pois já se esperava a intensa utilização dos indígenas, e as
reclamações efetuadas pela administração colonial se referem principalmente a
insatisfação pela parte que lhe coube dessa partilha do trabalho indígena.
A legislação indigenista foi elaborada em meados do século XVIII para os
índios do Estado do Maranhão e Grão-Pará, pelo primeiro-ministro de Portugal,
Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. Em 1757, um decreto
libertou as aldeias indígenas do controle missionário, transferindo aos “diretores”
brancos essa responsabilidade. A medida visava atingir a Companhia de Jesus, a ordem
mais bem-sucedida da Colônia, e seus membros, que dispunham da mão de obra de
mais de sessenta aldeias disputada pelos colonos.
O sistema do Diretório visava integrar os índios à sociedade portuguesa,
mobilizando-os por meio do trabalho. Para isso, muitas medidas tornaram-se
obrigatórias, como a utilização da língua portuguesa, viver em casas separadas, o uso de
roupas sem ornamento decorativo e o incentivo de casamentos entre brancos e índios.
A retirada dos índios da tutela dos missionários, seguidos pela expulsão dos
jesuítas do estado do Grão Pará e Maranhão, e a implementação da política indigenista
pombalina produziram uma profunda reviravolta no modo de vida dos índios no
aldeamento e se mostrou como uma experiência trágica, levando-os a intensificar as
estratégias de resistência, materializadas numa quantidade e frequência maiores de
fuga, de suicídios, de rebeliões mais numerosas, de construção e solidificação de redes
de solidariedade com negros, mestiços e brancos pobres, perpassadas por conflitos e
contradições (Alves de Souza Junior 2012).
O Diretório suscitou novas relações sociais, com as populações indígenas
intervindo ativamente nas conformações das relações sociais vividas no Vale
Amazônico. Apesar de defender a inserção das populações indígenas na sociedade
colonial, o Diretório não o fez sem manter uma sociedade com diferenças e hierarquias.
Essa inclusão dos indígenas na sociedade colonial mantinha, e em certa medida
ampliava, a cadeia hierárquica da sociedade colonial. Como já foi dito anteriormente,
o índio era a força motriz da colônia, dessa maneira, o Diretório veio conformar os
interesses, tanto da metrópole, quanto dos colonos, com relação ao acesso ao braço
indígena.
Ao analisar o censo de 1778, o autor aponta que os índios continuaram sendo
aqueles que moviam a vida do Vale Amazônico através dos seus trabalhos, mas também
estavam inseridos em uma sociedade marcada por diferenças étnicas. Os ofícios que
eram ocupados pelos indígenas, conforme o censo, revelaram o lugar intermediário
ocupado por estes na sociedade colonial. Portanto, para Mauro Coelho (2016), o
Diretório demarcou a inclusão dos indígenas em uma ordem hierárquica.
O Diretório, para este autor, constituiu a origem do seu próprio mal, pois,
concedeu às populações indígenas a sua inserção no universo colonial português,
permitindo a ascensão de chefias indígenas que passaram a competir com as chefias
coloniais. Mesmo que mantivesse a maioria dos indígenas em uma condição subalterna,
o Diretório não evitou que se integrassem (o que era um dos seus objetivos); contudo, a
administração colonial não contava que essa integração possibilitasse o surgimento de
formas de subversão da lei.
O Diretório, abolido em 1798, aumentou ainda mais a opressão sobre as
comunidades nativas, deixando um legado de aldeias decadentes, em razão das revoltas
contra o regime de trabalho, das epidemias e das fugas dos Índios.

Conclusão
As projeções feitas a partir de documentos e de pesquisas arqueológicas
estimam a população indígena, por ocasião da conquista, entre três e cinco milhões de
pessoas, na Amazônia brasileira.
A perspectiva histórica desses povos foi interrompida de forma brusca e violenta
pelo projeto colonial que, valendo-se da guerra, da escravidão, da ideologia religiosa e
das doenças, provocou na Amazônia uma das maiores catástrofes demográficas da
história da humanidade, além de um etnocídio sem precedentes. A igreja, os colonos,
todos queriam transformar os indígenas e trazê-los supostamente para uma vida
mais civil, como se eles não tivessem suas próprias organizações políticas e sociais.
A resistência indígena assumiu diversas formas e estratégias, que iam desde o
confronto direto ou da guerra aberta até uma aceitação tácita da dominação,
quando o contexto assim o exigia. Inclusive, realizando alianças interétnicas e com os
setores marginalizados da sociedade brasileira.
A colonização do Estado do Maranhão e Pará ensejou inúmeros processos de
transformação do espaço. A guerra, a escravização e a coleta das drogas nos sertões do
Pará, o cultivo da mandioca, do cacau; enfim, a implementação de formas de uso
econômico da terra implicou profunda e permanente transformação do espaço. O
processo de colonização ensejou também a possibilidade de rearticulação de
práticas tradicionais dos indígenas, inclusive de uso da terra. Nas aldeias
missionárias e por meio das solicitações de terras em sesmaria – ou seja, através de
mecanismos coloniais de ocupação do espaço – grupos, conseguiram construir espaços
de autonomia por meio do trabalho da terra para si.
Assim, podemos afirmar que os índios se tornaram também construtores da
paisagem amazônica colonial, não só porque intervieram e modificaram o ambiente,
mas também porque o seu trabalho de transformação do espaço por meio da agricultura
foi percebido e reconhecido – ainda que em fragmentos – pelos próprios portugueses.
Desse modo, para além de trabalhadores e escravos, de guardiães das fronteiras,
de pilotos, de remeiros, de aliados nas tropas, de inimigos nas guerras, de fugitivos, os
índios coloniais que viviam na Amazônia foram igualmente lavradores – como tinham
sido, aliás, ao longo do tempo, os seus antepassados.
Não à toa, ainda hoje, uma das grandes questões ligadas aos povos originários
trata-se da questão da demarcação de suas terras. A luta consiste em poder permanecer
em seus territórios, com a devida segurança contra invasores. Além da busca pela
garantia de saúde, proteção ao meio ambiente e preservação de sua cultura.

Prova Amazônia indígena: processos civilizatórios, resistência e legislação


indigenista

Sujeitos:
Indígenas — sujeitos ativos, autonomia
Missionários (ordens religiosas, jesuítas)
Colonos

Temas:
catequização, mão de obra e usos da terra (extrativismo vs agricultura)

Políticas indigenistas:
Aldeias missionárias
provisão 1663 -
decreto 1680 - indígenas sob o domínio dos missionários novamente
Diretório dos índios 1757 - 1798 - indígenas sob o domínio dos diretores
processos civilizatórios > catequização (projeto colonial)
ARTICULAÇÃO PORTUGUESA: rivalidade entre missionários e colonos

Conceitos:
“índios cristãos”
“índios amigos e aldeados”
índios de corso ou tapuias bravos (índios inimigos)
agrossistemas

período e espaço: séculos XVII e XVII, período Colonial. Grão Pará e Maranhão
(Amazônia colonial)
início do diretório 1757, fim do diretório 1798.

resistência indígena:
fugas, rebeliões, dissimulação e recusa da disciplina de tempo e de trabalho trazida
pelos portugueses, numa tentativa de impedir a destruição do seu modo de vida
tradicional.

Referências:
A companhia de Jesus e a questão da escravidão de índios e negros. José Alves de
Souza Junior (2012).

Ruralidades indígenas na Amazônia colonial. Rafael Chambouleyron, Karl Heinz


ArenzI, Vanice Siqueira de Melo. (2020).

O sistema Agrário do Vale do Tocantis: agricultura para consumo e para exportação.


Maria de Nazaré Angelo-Menezes (1999).

Índios Cristãos no Cotidiano das Colônias do Norte. Almir Diniz de Carvalho Junior
(2013).

José Alves de Souza Junior (2010). “Jesuítas, colonos e índios: disputas pelo
controle e exploração do trabalho indígena”. In: CHAMBOULEYRON, Rafael;
RUIZ-PEINADO ALONSO, Jose Luis (orgs.). T(r)ópicos de história: gente, espaço e
tempo na Amazônia (séculos XVII a XXI). Belém: Açaí/PPHIST-UFPA/CMA-UFPA,
2010, pp. 47-64.

Do sertão para o mar - um estudo sobre a experiência portuguesa na América: o caso do


Diretório dos Índios (1750-1798). Mauro Cezar Coelho (2016).
Tramas do cotidiano: religião, política, guerra e negócios no Grão-Pará do seiscentos.
José Alves Souza Junior (2012).

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