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Aula 001
Vídeo aula
Expansão marítima europeia
Não é possível entender toda a formação social do Brasil sem entender o contexto econômico europeu da época do
descobrimento.
Vida indígena
Não construíam cidades. Não fabricavam objetos de metal, mas eram abeis com madeira, osso, cerâmica, fibras animais.
Nenhuma das sociedades possuía sistema de escrita.
Visão portuguesa
Os europeus criaram um mundo de fantasia para descrever os humanos, os animais e plantas que esperavam encontrar no novo
mundo. Mostravam um mundo idílico, onde todo o mal era desconhecido. Isso pode ser visto na carta de Pero Vaz de Caminha.
Tudo que era mal ou desconhecido era visto como bestial ou animalesco, ou era facilmente controlado. Essa bestialidade se
tornou um recheio às lendas na Europa. Houve uma discrepância entre a realidade e o que era descrito.
O barbarismo dava mais legitimidade aos portugueses à ideia de que estacam levando civilização aos selvagens. Tudo isso
facilitou os argumentos teológicos e legais para subjugar os índios.
Portugueses, em seus documentos, afirmavam que índios eram facilmente moldáveis. Afirmavam que os índios eram simplórios
e aceitariam a religião e o colonialismo facilmente. Ao mesmo tempo, havia descrições horrorizadas com rituais antropofágicos e
guerras entre tribos. A imagem passada sobre os indígenas oscilava entre a do bom selvagem e a maldade bestial. Ora se
assemelhavam a Adão e Eva, ora eram bestas-feras. Essa visão permaneceu por muito tempo. De qualquer forma, portugueses
acreditavam que estavam fazendo um favor aos indígenas.
Desde o inicio, portanto, manifestaram-se duas visões e atitudes quanto aos índios:
Infantilidade e possibilidade de serem moldados
Imoralidade que justificava os castigos e a escravidão a que foram submetidos
Jesuítas sempre oscilaram quanto a ideia que tinham sobre os indígenas.
Extra
A diferenciação dos Índios pelo Portugueses
Tupi-Guarani
O primeiro, que ficou conhecido como tupi-guarani graças às semelhanças linguísticas observadas, abarcava uma série de
sociedades que vivia na extensa região litorânea desde São Vicente (no sul) até o Maranhão. Tupinambás, tupiniquins, tupinaê e
guaranis são exemplos de sociedades indígenas que faziam parte da família linguística tupi-guarani.
Dentre os tupis-guaranis, a sociedade tupinambá acabou tornando-se uma das mais conhecidas, graças ao intenso contato com
os portugueses durante os séculos XVI e XVII. O historiador Stuart Schwartz salientou que os tupinambás viviam em aldeias que
possuíam de quatrocentos a oitocentos indivíduos. Tais aldeias eram divididas em unidades familiares que viviam em até oito
malocas. As unidades familiares, por sua vez, estavam estruturadas pelo parentesco familiar e obedeciam à divisão sexual do
trabalho: grosso modo, aos homens cabia as atividades de caça, pesca e de guerra, e às mulheres o cuidado com a agricultura e
com a casa.
A agricultura era uma prática que diferenciava os tupinambás dos demais povos tupi-guaranis. Para preparar o solo para a
semeadura, os tupinambás desenvolveram uma técnica que rapidamente foi incorporada pelos colonos portugueses: a coivara.
Outra característica marcante dos tupinambás era seu ímpeto guerreiro. A guerra tinha funções econômicas e simbólicas para
esse povo, na medida em que viabilizava a obtenção de prisioneiros de guerra e a ampliação territorial, além de criar uma
intricada rede de status que definia diversos aspectos da vida em sociedade, sobretudo os matrimônios.
Junto com a guerra, os tupinambás praticavam o canibalismo ritual que causou horror e curiosidade aos colonos portugueses.
Baseado na cosmogonia tupinambá, o canibalismo era um ritual antropofágico, no qual o inimigo prisioneiro de guerra era
(depois de uma iniciação), morto pela sociedade vitoriosa, e tinha suas partes distribuídas dentre os indivíduos do grupo
vencedor. A ideia era se alimentar (simbolicamente) das características do oponente.
Como sugerido há pouco, traçar padrões culturais e sociais dos tapuias é uma tarefa muito difícil, na medida em que eles não
formavam um grupo que se identificava como tal. Estudos recentes apontam que os tapuias pertenciam a diferentes troncos
linguísticos, ou seja: eles eram os “não-tupis”, o que significa que eles eram muitas coisas. Um dos povos tapuias mais estudados
é o aimoré devido à frequente resistência imposta ao aldeamento e catequese portuguesa. Pertencentes ao grupo etnográfico
jê, os aimorés, também conhecidos como botocudos, habitavam o que hoje é o estado do Espírito Santo e o Sul da Bahia.
Eram seminômades, não praticavam a agricultura e tinham uma vida bélica muito desenvolvida, o que só se intensificou com a
chegada dos portugueses. A relação entre colonos e aimorés foi tão estremecida que, além de protagonizarem uma das mais
importantes rebeliões indígenas da história brasileira (a Confederação dos Tamoios), os aimorés foram os únicos que estavam
excluídos da proteção contra a escravização do gentio, promulgada pela Coroa portuguesa em 1570.
Todavia, durante muitos anos, a diversidade indígena e a própria Ilha de Vera Cruz, pareciam não ter despertado o interesse da
Coroa portuguesa. Como apontou Manuela Carneiro da Cunha: “todo o interesse, todo o imaginário português se concentra, à
época, nas índias, enquanto espanhóis, franceses, holandeses, ingleses estão fascinados pelo Novo Mundo” (CUNHA, 1990: 92).
Foi justamente esse encantamento que fundamentou a construção das primeiras imagens europeias sobre a nova humanidade
que se apresentava.
A inocência e a ausência de elementos fundamentais que – na perspectiva europeia – balizavam a noção de civilização
marcaram os primeiros escritos sobre os índios. A despreocupação com a nudez foi reiterada diversas vezes na Carta de Pero
Vaz de Caminha, indicando que esses homens e mulheres andavam nus por lhes faltarem a ideia de vergonha. O mesmo
Caminha, assim como Vespucci e, mais tarde, Gândavo e Gabriel Soares de Souza ficaram surpresos com o fato dos tupis não
terem em seu alfabeto as letras F, L e R.
Segundo esses homens, essa ausência era a comprovação de que os índios viviam sem Justiça e na maior desordem, pois:
A Catequização
As constatações apontadas na tela anterior serviram como norte para a atuação dos religiosos europeus. Se por um lado a Coroa
portuguesa só passou a se importar efetivamente com sua colônia americana a partir de 1530, desde os primeiros anos de
contato diversos religiosos, sobretudo os jesuítas, iniciaram um intenso trabalho com os grupos indígenas que ficou conhecido
como catequese. Num primeiro momento, os jesuítas visitavam as aldeias a fim de conhecer um pouco mais a cultura, hábitos e
língua dos índios, aproveitando a oportunidade para fazer pregações e alguns batismos.
Feito o contato inicial, os jesuítas passaram para o segundo estágio da catequese: a conversão, propriamente dita, dos índios.
Para tanto, os missionários organizaram os povos indígenas em aldeamentos. O objetivo principal era incutir nesses índios
valores e práticas europeias. Desse modo, os índios aldeados além de batizados, também recebiam os primeiros ensinamentos
católicos, além de ler e escrever.
Segundo os jesuítas, o aldeamento era fundamental, pois apenas essa estrutura permitia que os índios, de fato, tivessem um
canto sistemático com os preceitos cristãos. O padre Manoel da Nóbrega foi um dos que defendeu abertamente os
aldeamentos, pois, segundo ele os índios eram tão instáveis que, com a mesma facilidade que eram convertidos, logo voltavam
para “sua rudeza e bestialidade”. (Padre Manoel da Nóbrega). Para facilitar a aprendizagem, muitos jesuítas recorreram às
encenações teatrais, o que deu origem a um dos primeiro gêneros literários do Brasil.
Nos aldeamentos, os índios ainda eram treinados para exercer ofícios como tecelões, carpinteiros e ferreiros. Depois do treino,
muitos iam trabalhar para colonos sob a tutela dos jesuítas - que eram responsáveis, inclusive, pela definição do pagamento dos
índios aldeados. Em muitos casos, os aldeamentos acabavam se transformando em pequenas unidades econômicas, cuja
principal mão-de-obra era a indígena. Após a missa, muitos índios iam trabalhar na lavoura que garantia a subsistência de todos.
Os aldeamentos também tinham como objetivo acabar com a poligamia indígena e com a liberdade sexual que existia em
diferentes sociedades, incutindo o modelo cristão de família.
Como a preocupação maior era a conversão dos índios, os aldeamentos recebiam indivíduos dos mais diferentes grupos e
sociedades. Dessa convivência surgiu a língua geral (baseada no tupi) que durante muitos anos foi a mais falada em toda a
colônia. Esse convívio mais intenso também possibilitou um conhecimento mais aprofundados dos povos indígenas.
Aula 02
Vídeo aula
Companhia de Jesus
A educação jesuíta foi a principal forma de educação com os indígenas no brasil. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em
1549 com o primeiro governador geral, Tomé de Sousa.
Chama-se de educação o processo realizado pelos jesuítas porque era o que eles realmente faziam, com base no modelo de vida
português.
Jesuítas acreditavam que índios aceitariam passivamente a nova cultura e religião. Na região de Salvador, aonde chegaram, os
jesuítas eram bem acolhidos, e isso ajudou na opinião europeia. Os indígenas, por sua vez, tratavam os exploradores bem por
acreditarem que eles eram Deuses. Tudo isso ajudou a formar a opinião de que os índios eram infantis e ingênuos.
Aonde iam, portugueses eram aceitos e por isso acreditaram que índios seriam passivos. Jesuítas acreditavam que índios eram
“papel em branco”. Porém, quando os primeiros Jesuítas começaram a trabalhar com essas tribos, perceberam que índios não
estavam dispostos a deixar seus hábitos.
O momento inicial é chamado de “Fase Heroica” da educação ou catequese jesuíta e foi de 1549 a 1570.
Em seguida, percebe-se que essa abordagem inicial não daria certo. Jesuítas percebem então que as crianças seriam um
caminho para a catequese das tribos. Essa foi a “Fase de consolidação”, de 1570 a 1759. A fase também não funcionou muito
bem.
Exploradores acreditavam que índios poderiam ajudar na tarefa de expansão portuguesa. Os colonos tinham o costume de
invadir terras indígenas e pegá-los para o trabalho. A partir dai os jesuítas percebem que precisariam de um espaço para a
catequese. Esse espaço não seria importante só para os indígenas, mas também para os portugueses. As missões, ou os espaços,
preservavam os indígenas dos colonos e facilitavam o trabalho de conversão. Padre Manuel da Nóbrega organizou estruturas de
ensino que estavam de acordo com as condições encontradas nas colônias.
Os Jesuítas seguiam o Ratio Studiorium, que ditava as normas para a educação em seu estilo. Ele pregava a necessidade de
estudar o Latim, Filosofia, ciências, etc. Porém, no Brasil, Jesuítas passam utilizar de alguns outros recursos pedagógicos:
Utilização dos curumins
Música
Compreensão da língua dos indígenas (acreditando que tupi era a principal)
Teatro
Aproximação cultural (itens parecidos entre as culturas portuguesas e indígenas)
No Brasil, o esquema de Nóbrega, estrutura de ensino criada pelo padre Manuel da Nóbrega, contava com aprendizado de
português e depois sobre a doutrina cristã, escrita e leitura, aprendizado profissional agrícola e por fim a língua latina.
As ações serviam para preservar tanto os índios quanto o trabalho de jesuítas, que acreditavam que estavam tirando o indígena
de uma vida de ociosidade, preguiça, indisciplina e desorganização. Jesuítas não entendiam a cultura indígena, e por isso
imaginava que ela não estava correta. A ideia indígena era buscar apenas o necessário para a vida, ao mesmo tempo em que
portugueses viam isso como preguiça e achavam que o índio podia buscar mais.
A atuação jesuítica causou desintegração da cultura indígena e imposição da cultura europeia. Os Jesuítas foram a principal
arma dos europeus para acabar com a cultura indígena no Brasil. Jesuítas também contribuíram para homogeneização (todos os
grupos indígenas vistos como um só) e consequentemente dificultou o entendimento do indígena brasileiro.
Porém, escravos negros eram caros aqui, pela dificuldade de acesso. Então, passa-se a escravizar os indígenas. Porém, índios não
conheciam a organização do trabalho aos modos europeus. Ela passa a se tornar muito problemática – não tinham
conhecimento, adoeciam muito fácil e desconheciam a terra. Tudo isso fez com que o português optasse pelos negros.
Contudo, é errado acreditar que os escravos negros eram maioria no Brasil. Vale lembrar que eles eram muito caros e por isso
índios continuaram a ser explorados. Indígenas não foram substituídos por africanos.
Extra
Extração de Pau-Brasil no Século XVI
Como bem se sabe Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de abril de 1500. No entanto, durante os primeiro anos do
século XVI os portugueses estavam mais preocupados em participar do comércio feito no Oceano Índico, no qual produtos de
grande valor como ouro, prata, seda e especiarias eram negociados. A Coroa portuguesa só foi se preocupar, de fato, com suas
terras americanas a partir de 1530.
Dessa feita, os primeiros anos da presença portuguesa no Novo Mundo foram marcados pela atuação dos jesuítas na conversão
dos grupos indígenas (por meio da catequese e do aldeamento) e de ações particulares de colonos portugueses que estavam
interessados, sobretudo, na extração do pau-brasil, obtido por meio do trabalho indígena.
Capitanias Hereditárias
A partir de 1530, a concorrência do comércio do Índico trouxe inúmeros prejuízos aos portugueses, que também começavam a
ter suas terras americanas invadidas por outras nações europeias. Era preciso efetivar a presença da Coroa lusitana no outro
lado do Atlântico a fim de garantir a posse de suas terras e de conseguir tirar mais proveito da recente aquisição.
A primeira medida tomada pela Coroa Portuguesa data de 1534. Nesse ano, a América Portuguesa foi dividia em dezesseis
grandes faixas de terra chamadas de capitanias hereditárias.
Cada uma dessas capitanias seria doada pelo rei a um nobre português (chamado de donatário) que deveria construir vilas,
arrecadar impostos e, principalmente, redistribuir a terra para quem pudesse cultivá-la. No entanto, muitos donatários não
cumpriram suas obrigações, sendo que alguns chegaram a nunca colocar seus pés em terras brasileiras.
A ineficiência do sistema de capitanias fez com que o rei português tentasse outra forma de administração. Em 1548 foi
instituído o governo-geral, uma tentativa de centralizar a administração da América portuguesa.
Como será analisado na próxima aula, é preciso assinalar que, embora a entrada de africanos tenha se intensificado
sobremaneira a partir do último quartel do século XVI, durante todo o período de vigência da escravidão, parte significativa dos
grupos indígenas também foi reduzida à condição de cativeiro, muitas vezes subjugados pelos próprios missionários.
As Capitanias do Sul
Os colonos que rumaram para outras capitanias, sobretudo aquelas localizadas ao sul da colônia, não respeitaram a lei de rei D.
Filipe II. Se para a Coroa portuguesa e para os missionários jesuítas os índios passaram a ser vistos como gentios (ou seja, eram
passíveis de salvação), para os colonos que viviam nas capitanias de São Tomé e São Vicente os grupos autóctones rapidamente
passaram a ser vistos como negros da terra. Nessas localidades, os indígenas foram escravizados sistematicamente e serviram
como mão-de-obra fundamental na expansão territorial levada a cabo pelos colonos paulistas.
Ao analisar a relação entre índios e bandeirantes na origem de São Paulo, o historiador John Monteiro mostrou que a
colonização foi um processo plural. Ainda que boa parte da América portuguesa tenha vivenciado experiências comuns advindas
do encontro entre colonos e índios– encontro este que foi marcado pela desintegração de muitas sociedades indígenas e pelo
processo de catequização daquelas que conseguiram sobreviver -, a partir de meados do século XVI, a relação entre ambos
tomou rumos distintos.
No caso das capitanias do Sul, é possível afirmar que a Lei de Liberdade do Gentio (sancionada em 1570) foi letra morta. De
acordo com Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII era cada vez mais frequente o número de expedições que assaltavam aldeias
indígenas transformando seus habitantes em braços para o “serviço obrigatório” (MONTEIRO: 1994, 57). Isso porque,
diferentemente do que ocorria na região açucareira da colônia, os paulistas não se inseriram no circuito comercial Atlântico,
procurando eles mesmos os braços que iriam trabalhar em suas lavouras. Ao invés de se lançarem para o mar, os paulistas se
embrenharam sertão adentro.
As expedições
O sonho do El Dorado que havia povoado a mente dos primeiros europeus que se lançaram ao mar no século XV, e que em parte
havia se materializado em algumas regiões conquistadas pelos espanhóis (como Potosí), ainda acalentava o desejo de muitos
colonos portugueses. Foi a procura por ouro e prata que fomentou as primeiras expedições para as regiões interioranas da
colônia portuguesa. Entre os anos de 1591 e 1601, o governador geral D. Francisco de Souza armou uma série de expedições em
busca de metais preciosos. A vertente paulista, chefiada por João Pereira Botafogo conseguiu encontrar algumas minas
próximas à cidade de São Paulo, reacendendo o sonho português. No entanto, as expedições subsequentes não corresponderam
ás expectativas criadas pelos colonos.
A Escravidão Indígena
Ainda que o ouro e a prata não tenham sido encontrados em abundância, a experiência das expedições apresentou um produto
extremamente interessante para os colonos: os escravos indígenas. Após terminar seu governo, D. Francisco voltou a Portugal
com o intuito de colocar em prática um projeto que visava fomentar a economia das capitanias sulistas da colônia. Com
inspiração no modelo da América espanhola, o objetivo era articular diferentes setores econômicos (mineração, agricultura e
indústria), tendo como base o uso da mão-de-obra indígena (MONTEIRO: 1994, 59).
Uma vez mais, os colonos portugueses não lograram êxito em suas investidas. Mas a proposta do antigo governador acabou
redimensionando os objetivos das expedições para o interior. A busca por ouro deu lugar ao aprisionamento de índios. Embora
os colonos utilizassem a procura por metais preciosos frente à Coroa portuguesa - que baixava inúmeras leis proibindo a
escravização de indígenas – as expedições organizadas pelos colonos de São Paulo se transformaram em verdadeiras
empreitadas escravizadoras.
A rentabilidade da venda dos indígenas escravizados era tamanha, que rapidamente criou-se uma intricada rede de negociações
nas capitanias do sul. Praticamente toda a mão-de-obra dessa localidade da colônia era formada por índios escravizados. Os
lucros eram tantos que pagavam os custos e riscos de expedições cada vez mais interioranas.
Colonos x Jesuítas
Além das sociedades indígenas, os maiores opositores das expedições foram os missionários e demais religiosos responsáveis
pela evangelização dos índios. Embora os indígenas trabalhassem em condições muito ruins nas missões e aldeamentos, ali não
havia o discurso nem a prática efetiva da escravização. Soma-se a isso, nessas organizações, os índios recebiam instruções
religiosas para que se convertessem ao cristianismo e passassem a seguir um padrão europeu de vida e de relação com o
trabalho. Nenhuma dessas preocupações pautou a organização das expedições nos séculos XVII e XVIII.
Centenas de aldeias foram destruídas, e milhares de índios foram reduzidos ao cativeiro. Segundo Monteiro, o padre Montoya
afirmava que as expedições haviam destruído 11 missões, o que significava o apresamento de praticamente 50 mil índios. Ao
descrever as expedições no Rio de Janeiro, o padre Lourenço de Mendonça apontou quem 60 mil guaranis foram escravizados e
levados para São Paulo (MONTEIRO: 1994, 73-74). Tais índios eram utilizados, sobretudo, na reposição da força de trabalho da
região sendo poucos os que seguiam para as lavouras de cana.
Graças às bandeiras que identificavam as expedições, as campanhas organizadas por colonos paulistas em busca de índios
ficaram conhecida como Movimento Bandeirante. O auge desse movimento ocorreu na segunda metade do século XVII,
momento em que bandeirantes como Antonio Raposo Tavares e Domingos Jorge Velho ganhavam reconhecimento em toda
colônia. Jorge Velho foi, inclusive, convocado pela Coroa Portuguesa para sufocar a rebelião indígena chefiada por Canindé (Rio
Grande), além de ter sido um dos responsáveis pela desarticulação do Quilombo dos Palmares.
À medida que as bandeiras aumentavam, crescia também o movimento de oposição chefiado pelos missionários. Amparados
pela letra da lei, esses religiosos recorreram diversas vezes ao rei português a fim de denunciarem os abusos cometidos pelos
colonos paulistas. Outro fator que começou a dificultar o movimento foi o aumento das distâncias. O sertão era cada vez mais
distante o que encarecia muito a organização das expedições (que necessitam de pólvora, chumbo, correntes e índios
escravizados).
Conforme será trabalhado nas próximas aulas, outro fator que levou à diminuição significativa das expedições de apresamento
(que praticamente deixaram de existir a partir do século XVIII) foram diferentes movimentos de resistência dos grupos
indígenas. Revoltas individuais, migrações para regiões ainda mais distantes e até mesmo rebeliões coletivas despontaram nesse
contexto.
Aula 03
Extra
Ouro Branco
Era como os colonos chamavam o açúcar, primeiro produto produzido em larga escala na América Portuguesa. A escolha por ele
teve duas razões principais:
1. Vinha da cana, um gênero tropical, e teria grande demanda na Europa;
2. Portugueses já tinham conhecimento da plantação, graças à colonização das ilhas Canárias, Madeira, Açores e Cabo
Verde, todas localizadas no Atlântico Norte.
No século XVI os primeiros engenhos de açúcar surgiram em diversos lugares da colônia. A região nordeste acabou se tornando
a principal produtora por suas condições naturais:
• Grandes propriedades de terra;
• Clima quente;
• Chuvas constantes;
• Solo fértil;
• Abundância de rios;
• As árvores da mata atlântica – ideais para a construção das moendas;
• A localização das capitanias do nordeste, que estavam mais próximas ao mercado consumidor do produto – a Europa.
Uma fazenda produtora de açúcar era composta pela senzala, casa-grande e casa do engenho, moenda, roças (plantações) e o
canavial.
• Canavial – onde a cana era cultivada;
• A casa da moenda – onde era extraído o caldo de cana;
• A casa de purgar – onde o caldo era transformado em melaço;
• A residência do senhor – conhecida como Casa-Grande;
• Senzala - A residência dos demais trabalhadores.
Para que esse empreendimento desse lucro, era preciso que a produção fosse a mais barata possível.
A escravização
No contexto mercantilista a escravidão era a melhor opção para produção. Além disso, o uso de escravos vinha corar uma série
de questões filosóficas colocadas pelos Europeus desde o início das navegações, quando se entrou em contato com sociedades
da África-subsaariana e das Américas. A “nova humanidade” era ordenada e classificada por eles e a escravidão ordenou boa
parte das dinâmicas da sociedade da América portuguesa.
André Antonil descreveu a importância da escravidão nos engenhos: "Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho,
porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda." Para o autor, isso explicava o fato de todo ano se
comprar escravos e coloca-los nos engenhos.
A escravização no Brasil
Durante muitos anos ela foi sistêmica. De um lado estavam os índios utilizados em pequenas e médias produções voltadas para
a subsistência da colônia. Do outro estavam os negros utilizados em atividades envolvidas com o mercado externo (açúcar e
mineração). Porém, tal assertiva não se aplica a todo o período de produção do açúcar.
Ao analisar o início da produção açucareira, Stuart Schwartz chamou atenção para um fenômeno pouco estudado: o uso massivo
de indígenas escravizados nos engenhos. Grande parte desses índios tinha origem tupi, embora alguns povos tapuias tenham
sido encontrados nos registros. A análise de Schwartz se delimita à província da Bahia que, durante os séculos XVI e XVII, foi
uma das maiores produtoras de açúcar da América portuguesa.
A partir do último quartel do século XVI, a escravidão indígena passou a ser, em parte, substituída pelos africanos escravizados,
por duas razões:
1. Fragilidade dos índios em relação as epidemias que assolavam engenhos;
2. Grande circulação de dinheiro promovida pelo trafico de africanos escravizados.
Em meados de XVI, o africano tinha valor baixo e acessível para muitas pessoas. Ele era um investimento que dava retorno em
cerca de 3 a 4 anos. O fato de trabalharem em terras desconhecidas também dificultava as fugas e possíveis revoltas.
Baseado em registros, é possível ver o padrão que regeu a escravidão indígena que permaneceu nos trabalhos africanos mais
tarde.
Por preferencia senhorial, 60% dos escravos eram homens, adultos e jovens. As práticas religiosas incentivava o casamento
desses homens, fazendo com que famílias escravas tivessem participação significativa nesses engenhos.
Muitos dos que ficavam nos galpões morriam e havia muitos cemitérios nas proximidades dos portos. Muitos sofriam de banzo -
uma doença que parecia atacar a alma de alguns africanos que, tomados por uma tristeza profunda, se deixava morrer. Para
muitos era preferível morrer a serem escravos, já que acreditavam que a morte significava o retorno a sua terra natal e seus
ancestrais.
Contudo, muitos sobreviviam e viravam mão de obra escrava. Recebiam ensinamentos básicos do catolicismo, como deveriam
se portar perante seu senhor, bem como algumas palavras em português. A partir de então o escravo boçal se juntava ao ladino
e ao crioulo na execução das mais variadas tarefas.
A Jornada de Trabalho
A partir do seu terceiro ano, tudo que era produzido por um escravo passava a dar lucro, ou seja, era um bom investimento.
Trabalhavam horas a fio e seus senhores eram negligentes, já que sempre chegavam escravos novos no país.
As condições de trabalho
Cuidados com alimentação, moradia e vestimenta era responsabilidade do senhor, porém, com a fácil reposição dos escravos, os
senhores eram negligentes. Alimentação era basicamente farinha de mandioca ou de milho, uma porção de carne salgada e às
vezes, feijão. As roupas eram feitas de algodão e deveriam durar pelo menos um ano.
Muitos que adoeciam eram abandonados, já que era mais fácil comprar um escravo novo do que cuidar de um antigo.
Quando não alcançavam a quantidade estipulado de produção, recebiam chibatadas. Além disso, havia muitos acidentes e as
condições eram insalubres. Os acidentes mais comuns eram:
1. Na casa da moenda – tinham o braço triturado pelas engrenagens ao colocar feixes de cana na moenda;
2. Na casa de purgar – onde o caldo era transformado em melaço e havia risco de queimaduras.,
Muitos africanos vindos da Costa do Marfim tinham conhecimento milenar sobre mineração, e, por isso, foram para regiões
mineradoras. Em diversas ocasiões as minas subterrâneas, que haviam sido cavadas, desabavam, matando dezenas de cativos.
Quando tragédias como essas não ocorriam, os escravos eram obrigados a passar o dia inteiro com parte do corpo submersa nos
rios e córregos para realizar o garimpo do ouro.
Vídeo aula
Economia Colonial
Tanto escravidões negras quanto indígena foram utilizadas no Brasil.
A economia colonial não foi abordada de uma só maneira durante os anos na historia.
Economia Colonial
Segundo a Historiografia, o Brasil teve desenvolvimento mais complexo do que mostrado por Caio Prado. Houve por exemplo, a
mão de obra indígena e não só a negra.
Existia sim o pacto colonial, mas que funcionava somente na teoria. Os colonos realizavam comércio com outros países e
também nas regiões próximas. O comércio existia e por isso a necessidade de mão de obra, escrava e assalariada.
Por esse motivo, havia uma vasta camada populacional entre senhores em escravos: os vendedores, os colonos, produção de
comida, etc. Eram indivíduos de diferentes origens com atividades diversificadas nos diversos setores das cidades da colônia. A
economia possuía uma faceta não mostrada por Caio.
O latifúndio não era autossuficiente e isolado – ele mantinha relações com outras regiões e também tinha outra forma de
relacionar-se com o uso da mão de obra, dependendo de sua região. Havia um mercado interno que interligava a produção ao
serviço. A esses setores, aliava-se o contrabando feito sobre as vistas dos agentes das metrópoles, a fim de burlar o pacto
colonial.
Analisar tudo isso, é importante para entender a dinâmica real entre escravos e senhores.
Havia no Brasil uma parcela de pecuaristas e pequenos proprietários que produziam alimentos para o consumo interno. Essa
produção era essencial para população da colônia. Não bastavam as roças que os escravos tinham acesso em seu tempo livre –
essas pequenas propriedades ajudavam também.
A vida da maioria dos habitantes não se limitava às grandes propriedades rurais – inclusive a vida dos escravos. Por outro lado,
nem todas as propriedades possuíam só escravos africanos. Os indígenas eram maior parte em algumas regiões e até vendiam
sua força de trabalho. É errado acreditar que o salario só passou a existir após a lei áurea.
Religiosidade Africana
Os africanos eram divididos em diversos povos, mas a religião era muito importante para todas. O africano sempre conviveu
com a religião. A religião é o maior apoio que os africanos têm nos momentos de escravidão, porque são o ponto de apoio e
consolo dos escravos.
Nas comunidades africanas, o cotidiano era intimamente relacionado com as dimensões espirituais. No continente africano,
quase tudo era elucidado e resolvido pelo sobrenatural, praticas, ritos, objetos sacralizados, curandeiros, adivinhos, médiuns e
sacerdote.
Tudo girava entre a relação entre o mundo natural e o sobrenatural. As crenças eram elementos centrais nas sociedades
africanas. Tudo acompanha o africano pelo mundo.
Muitos líderes eram tidos como Deuses. Isso era importante pra cumprimento das regras de convivência, garantia de harmonia e
bem-estar das comunidades.
Cada povo tinha suas próprias práticas, Deuses e ritos. Sempre havia diferença entre a crença dos povos, porem com pontos em
comum.
Os católicos acreditavam que essas práticas eram hereges e seus praticantes deveriam ser castigados. Dessa maneira, a
escravidão seria uma maneira de purificação.
As religiões na África eram em grande parte animistas: todas as formas da natureza possuem alma. Acreditava-se em um ser
supremo que foi responsável pela criação do universo e era capaz de controlar o destino de tudo e todos. Abaixo do Ser
Supremo, a maioria das comunidades cultuava entidades que se ocupavam de coisas mais mundanas como fenômenos naturais
e comportamentos humanos. O Deus Supremo deveria ser consultado apenas por razões extremas.
Além dessa troca cultural entre as comunidades, o povo africano sofreu influencia do cristianismo a partir da Era Cristã, no
século I. Muitos adeptos foram conquistados no Egito, Núbia e Etiópia. No século VII houve a vinda do Islamismo e o cristianismo
teve dificuldade de se expandir.
Africanos trouxeram credos para a América. Africanos construíram novos laços de solidariedade, novas identidades e novas
comunidades aqui. Aqui os africanos também foram influenciados e assim surgiram as religiões afro-brasileiras.
As práticas persistiam com anuência ou perseguição dos senhores. Cerimônias como o Acotundá ou Calundu eram feitas, além
de tradicionais cultos que envolviam os mortos, oferendas e mandingas. Muitas vezes, os senhores e senhoras recorriam às
crenças de suas escravas. Assim, muito da religião africana entrava na vida privada do colono, que tinha sua capela de adoração,
mas não deixava de lado as práticas africanas.
Aula 004
Religiosidade
A litogravura “Festa de Nossa Senhora do Rosário – patrona dos negros”, pintada por Johann Moritz Rugendas, registra um
evento comum na história do Brasil escravagista: as festas das irmandades negras. Tais festividades reuniam negros e mestiços,
escravos e libertos, na comemoração do Santo Padroeiro. Era um dos poucos momentos em que esses homens e mulheres
podiam se reunir e festejar, pois essas festividades tinham o aval da Igreja para ocorrer.
A igreja Católica foi importante no Brasil. Pode-se afirmar que ela foi responsável pela chegada dos Portugueses e também por
politicas coloniais adotadas pela metrópole. A colonização das Américas foi, portanto, um movimento de catequização dos
indígenas e negros que chegaram aqui mais tarde. O fervor religioso chegou, inclusive, a colocar Igreja Católica e Coroa
portuguesa em posições antagônicas (como no uso de indígenas como escravos).
Todos que habitavam as Américas deveriam ser católicos. A igreja levava a sério a obrigação de cuidar do seu e de assegurar que
ninguém se desviaria dos propósitos divinos.
Indígenas passaram por um processo e catequese. Negros, ao chegarem, recebiam um nome cristão e também recebiam
ensinamentos católicos nos engenhos.
Contudo, índios e africanos souberam ler nas entrelinhas o que era pregado, dando outro significado às práticas religiosas. Em
alguns casos (como nas irmandades negras), tais práticas pareciam conviver com o sistema escravista, mas, em outros, a escolha
religiosa transformou-se em ferramenta efetiva de luta e resistência.
Resistência
Era constante na vida de escravos. A forma de resistência mais clássica era a de luta aberta, que levava ao embate físico. Porém,
o sistema escravista acabou abrindo caminho para outras formas de resistência, que, muitas vezes, utilizavam as instituições
coloniais como muleta.
Para muitos a resistência era feita no dia a dia. Onde quer que tenha existido escravidão também houve resistência escrava. E
tal resistência foi experimentada em diferentes níveis durante toda a história da escravidão no Brasil.
No caso indígena, uma das formas mais frequentes de resistência foi o isolamento. Depois dos primeiros anos de contato, das
mortes volumosas por epidemias vindas do Velho Continente, da catequização e da escravização, muitas sociedades indígenas
decidiram rumar para regiões de difícil acesso, guiando-se pelos cursos dos rios. Contudo, conforme anunciado, muitos índios
resolveram ir para a luta aberta e fizeram da religião uma importante arma.
Religião e resistência
Antes do contato com os portugueses, a maior parte dos povos indígenas tinha um homem responsável pelos cultos religiosos.
Tal homem recebia o título de pajé ou de xamã e, graças à sua relação com forças sobrenaturais, ele gozava de posição de
prestígio entre os seus, o que fazia deles um dos principais inimigos do movimento de catequese. Ainda que os missionários
tentassem acabar com os poderes (simbólicos e políticos) que os pajés tinham, eles não conseguiram desconstruir o panteão e
os rituais religiosos de muitas sociedades indígenas com as quais entraram em contato.
Do sincretismo entre os dizeres e propósitos cristãos com as crenças e práticas religiosas indígenas originou-se a “Santidade”
(nome dado pelos portugueses). Esse fenômeno era um culto sincrético e messiânico, no qual os índios questionavam o Deus
católico e posicionavam-se contra os senhores brancos. Segundo Schwartz e Vainfas, esse movimento era uma combinação de
crenças dos tupinambás no paraíso terrestre, com a hierarquia e os símbolos do cristianismo. Havia o culto em ídolos com
poderes sagrados feitos de cabaça e pedra que, segundo os seguidores, dotariam os fiéis de força para lutar contra os brancos.
Esses “santos” teriam ainda poder de vitalizar os idosos ou fazer as enxadas trabalhares sozinhas. Para tanto, era necessário
entoar cantos e realizar cerimônias que podiam durar dias seguidos (regados do alto consumo de bebidas alcóolicas e infusão de
tabaco), muitas vezes levando os fieis ao estado de transe. O mais interessante é reconhecer as contribuições católicas deste
movimento.
Além dos ídolos receberem o nome de santos, os líderes do movimento proclamavam-se como “papas”, chegando a nomear
bispos e organizar os “missionários”, que tinham a incumbência de difundir o culto em outras localidades. Houve até mesmo um
caso no qual os seguidores da Santidade criaram uma igreja destinada ao culto de “Maria”.(SCHWARCTZ:1993, 54-55)
A “Santidade” foi muito comum durante o século XVI, demonstrando como os índios que entraram em contato com os
portugueses souberam reler os interesses e crenças cristãs sob uma nova ótica. Visão que lhes favorecia e que questionava as
bases do sistema colonial que estava sendo montado. Com o passar dos anos, a morte crescente por epidemias e a entrada cada
vez mais volumosa de africanos escravizados, a “Santidade” foi perdendo parte de seus seguidores, dando lugar a outras formas
de resistência indígena.
Casamentos entre escravos ou de cativos com libertos também ocorriam nessas organizações. As irmandades negras ainda
garantiam enterro e cortejo fúnebre digno para todos os seus membros.
Além disso, em alguns casos, as irmandades negras ou irmandades de “homens pretos” eram formadas por africanos
escravizados da mesma origem. Escravos e libertos angola ou congo se reuniam e formavam uma irmandade, reforçando, assim,
identidades oriundas do outro lado do Atlântico. Em determinadas situações, esses escravos também cultuavam entidades
religiosas africanas ou atribuíam as mesmas características de deuses da sua terra de origem a santos católicos, como a forte
relação estabelecida entre São Jorge e o orixá Ogum.
Mais do que ampliar as redes de parentesco, as irmandades negras tiveram papel importante na luta pela liberdade de muitos
escravos. Diversos escravos africanos e crioulos conseguiram obter sua liberdade graças à poupança feita por seus “irmãos” de
credo. Assim que comprava a alforria de um membro, a irmandade começava uma nova poupança para ajudar outra pessoa.
Anualmente, cada irmandade fazia a festa para seu santo padroeiro. Esse era o momento mais importante de cada irmandade.
Tal comemoração era composta por uma longa procissão, missa solene e grande festa com muita música, dança e batuque.
Também era nessa festa que a irmandade coroava seu rei e sua rainha. Para os escolhidos, esse era um momento de grande
prestígio frente a seus companheiros.
A devoção de escravos e libertos fez com que algumas irmandades negras ganhassem muito prestígio e se transformassem em
organizações com muito dinheiro. Um exemplo disto está no fato de que, no Rio de Janeiro, tanto a Igreja de Nossa Senhora do
Rosário como a Igreja de São Elesbão e Santa Efigênia terem sido construídas na região central da cidade.
Família
Os africanos e crioulos escravizados conseguiram desenvolver uma ideia de família muito próxima daquela encontrada em
diferentes regiões africanas: a família extensa. Já que os laços de parentesco originais haviam sido rompidos pelo processo de
escravização, muitos cativos encontraram no apadrinhamento uma forma eficaz e legítima (frente os olhos dos senhores, da
Igreja Católica e do Estado) de reconstruírem suas redes de parentesco.
Escravos e libertos batizavam os filhos de seus companheiros sob o juramento de se responsabilizar pela criança caso algum
incidente ocorresse com seus pais. O compadrio também foi utilizado como uma das estratégias na luta pela liberdade, tendo
em vista que os padrinhos e madrinhas, principalmente os alforriados e livres, se comprometiam em empenhar-se pela
obtenção da liberdade de seus afilhados.
Videoaula
Africanos jamais aceitaram passivamente a escravidão.
Mesmo na África, a escravidão era comum entre tribos. A escravidão doméstica da África passou a se tornar comercial, com
destaque pelos portugueses. O escravo passou a ser compreendido com uma forma rentável de comércio. Contudo, desde o
início os escravos resistiram. A historiografia escondeu muitas vezes essa resistência a fim de prover apenas uma educação
europeia.
Engana-se quem acredita que apenas no século XVIII com a mineração a resistência escrava tenha conquistado espaço e que o
quilombo de Palmares tenha sido o único. Zumbi foi um grande resistente, mas não o único.
Nas grandes fazendas produtoras de açúcar em meados do século XVI já eram registradas formas de resistência; assassinato de
capatazes e senhores, o suicídio e a prática de abortos (para não ampliar a quantidade de escravos dos senhores). Fugir era o
recurso mais radical que os escravos tinham para escapar da servidão. Fugir num território desconhecido era muito perigoso –
praticamente um atestado de óbito. Havia capatazes responsáveis por perseguir e punir escravos que fugiam. Por esse motivo, a
resistência do dia a dia era mais comum.
Durante os conflitos que se seguiram à invasão holandesa em Pernambuco os escravos africanos encontraram boas
oportunidades de resistência.
O descobrimento de outro em MG e, consequentemente, o avanço territorial e demográfico do século XVIII aumenta as tensões
econômicas, sociais e políticas, inclusive com relação ao uso de mão de obra escrava. O escravo passa a ter meios para resistir, já
que conquista um espaço maior. Ele passa a poder a comprar sua liberdade, por exemplo. Isso passa a instigar outros grupos de
escravos a lutarem por essa liberdade. Fugas, formação de quilombos e planos mais amplos de levante escravos se tornam mais
comum.
O comércio promove várias transformações sociais no Brasil. Os escravos tiveram mais oportunidades de exercer autonomia.
Essa conquista é possível pela:
• Dispersão espacial – nas minas era mais fácil escapar, já que era mais difícil agrupar escravos numa mesma área. Na
lavoura são facilmente vigiados pelos capatazes;
• Possibilidade de os escravos se apropriarem do que era extraído – era comum recolherem pepitas e guardarem nos
cabelos. Outros recebiam pelos trabalhos realizados;
• Acúmulo de numerário e a compra da alforria pelos cativos;
• Controle que detinham sobre o processo de trabalho – escravos conheciam as técnicas de trabalho, não os senhores;
• Ampliaram sobremaneira a autonomia dos escravos;
Nesse período da história foram registrados inúmeros quilombos em Minas Gerais, os quais, muitas vezes, mantiveram
intensas trocas econômicas com a sociedade colonial que os circundava. Quilombos foram a mais significativa forma de
resistência. Nesses locais os escravos “fugidos” conseguiram criar uma estrutura de poder autônoma, organizados sob a forma
de um estado e independente da metrópole.
Eles eram atacados e fazia-se vista grossa sob os quilombos, já que a coroa estava preocupada com a arrecadação dos impostos.
Porém, eles viviam de maneira pacífica com a sociedade ao redor.
Afro-descendência no Brasil
Africanos trouxeram para cá o que aprenderam em suas comunidades. Assim, podem-se entender os laços que ligam os
Africanos às sociedades que os originaram.
Após o encerramento do trafico, as relações com a África são interrompidas. A partir do momento que não há novos africanos
no Brasil, surge a cultura Afro-brasileira.
O comércio interno ganha força em 1850, acabando a renovação da presença africana na comunidade negra. O que havia de
africano no Brasil continuou a ser cultivado, mas nada de novo foi introduzido. O que as comunidades negras criaram pode ser
considerado afro-brasileiro.
Apesar da intensa ligação que o Brasil manteve com a África por séculos: até recentemente existia um desejo de extirpar do
Brasil toda a herança e toda a lembrança africana. Por exemplo, até pouco tempo, utilizar o termo negro era um pouco delicado.
As elites dirigentes incentivavam a diferença: os negros eram inferiores e contribuíam para o atraso da nação. Teses eugênicas
de “branqueamento” e de “sobrevivência do mais forte” pregavam que as “raças inferiores” (negros e mestiços), não
sobreviveriam às dificuldades impostas pela pobreza. Para eles, a “limpeza” era necessária ao desenvolvimento e à
modernização e ao revigoramento da raça.
No novo quadro econômico, social e político engendrado com o início do século XX, as comunidades negras também passaram a
exigir seu espaço, enquanto a sociedade ainda buscava mantê-las na marginalidade e numa situação de inferioridade.
Associações de trabalho e recreativas, jornais e companhias artísticas foram fundados. Passou-se a denunciar o preconceito e a
marginalização aos quais eram submetidos os homens e mulheres afro-brasileiros. Nas regiões menos abastadas e entre
habitantes das regiões rurais as tradições afro-brasileiras continuaram sendo preservadas.
As associações promoveram manifestações culturais. Essas manifestações da cultura popular preservaram as raízes da cultura
trazida pelos escravos africanos. Apesar do desejo “civilizador” das elites brasileiras, os afrodescendentes, continuaram vivendo
sua vida de forma semelhante a de seus pais e avós.
Contudo, os afrodescendentes que viviam nas cidades no início do século XX se afastaram das tradições africanas e assimilaram
dos valores dos grupos sociais dominantes aos quais desejavam se integrar.
Essa situação felizmente começou a mudar no início dos anos 1960 - o continente Africano começou o seu processo de
independência e, consequente, se livrar do julgo colonial imposto ao continente. A partir do processo de descolonização, a
história e a cultura africanas se tornaram objeto de interesse de diferentes grupos, inclusive dos brasileiros afrodescendentes.
Os grupos que lutavam pela afirmação dos direitos dos negros - ganharam força para reivindicar espaços para a manifestação
das características ligadas às tradições e ao passado africano. Abandonou-se a ideia de se tornar igual aos brancos para
conquistar as mesmas oportunidades deles. Renasceu o interesse pela a África, uma relação que havia sido interrompida pelo
fim do tráfico e pela ocupação colonial do continente africano no século XIX.
As diferenças culturais existentes entre os povos passaram a ser respeitadas e valorizadas. O africano integrou-se à sociedade
brasileira e tornou-se o afro-brasileiro. A música e a religiosidade são os traços mais evidentes da presença africana entre nós.
Toleradas depois de um passado de proibições, as religiões afro-brasileiras são cada vez mais aceitas.
Aula 005
Formas de Resistência
Fuga
A fuga foi uma das formas mais utilizada. Os senhores usam diferentes estratégias para lutar contra ela.
Nas regiões rurais, senhores contratavam capitães do mato, especializados em recapturar escravos fugidos. Já nas grandes
regiões, a recaptura ficava por conta da polícia. Havia cartazes com anúncios feitos pelos senhores. Os anúncios continham a
descrição física do fugitivo e uma oferta de recompensa.
Quando eram recapturados, os escravos sofriam castigos violentos. Ele era obrigado a usar uma gargalheira, símbolo do escravo
fugido.
De forma geral, é possível afirmar que existiram dois tipos de fuga na história da escravidão no Brasil:
Primeiro caso - encontram-se as fugas que tinha como objetivo a reivindicação escrava por melhores condições de vida.
Escravos que estivessem trabalhando mais do qual o habitual poderiam realizar pequenas escapadas e só retornar à
propriedade do seu senhor mediante algum tipo de negociação. Cativos que eram impedidos de festejar ou de visitar
sua família também recorriam a esse tipo de fuga para conseguir estabelecer acordos com seus senhores;
Segundo caso - era aquele que pretendia negar a escravidão. Nessas circunstâncias, os escravos abandonavam a
propriedade senhorial e, individualmente ou em grupo, iam buscar formas alternativas de viver fora do cativeiro.
Muitos cativos se embrenhavam no meio do mato e lá construíam pequenas comunidades que ficaram conhecidas
como quilombos ou mocambos. Outros preferiam tentar a vida em lugares mais distantes, principalmente nas grandes
cidades, pois nesses espaços o escravo fugido poderia se passar por um negro liberto.
Quilombos
Fugas coletivas acabaram se tornando em quilombos, ou mocambos, que eram comunidades formadas por escravos fugidos.
Nos quilombos, escravos refaziam suas vidas a margem cativeiro. Lá, construíam famílias, estabeleciam laços de amizade,
plantavam, criavam animais e chegavam a comercializar com povos indígenas que habitavam as redondezas ou, então, com os
vilarejos próximos.
Apesar de ser uma organização que foi duramente combatida pelos senhores e pelas autoridades governamentais, os quilombos
não eram comunidades isoladas. Os documentos de época mostram que muitos quilombolas faziam trocas comerciais
clandestinas com os engenhos, fazendas e cidades próximas. Em alguns casos, os quilombolas aproveitaram o cair da noite para
visitar familiares e amigos que viviam sob o cativeiro. Em outras situações era o inverso que ocorreria: os escravos realizavam
pequenas fugas e passavam algumas horas, ou até mesmo dias, nas festas que aconteciam no mocambo.
Grande parte dos quilombos identificados ficava próxima a regiões com muitos escravos. Palmares foi o mais conhecido e se
formou durante o século XVII nas adjacências da zona da mata pernambucana. Já no século XVIII, a maior concentração de
escravos estava na região das minas, que também foi palco de muitos quilombos. Além do controle da tributação sobre todo
ouro e diamante que era extraído da província, as autoridades coloniais ainda se viram obrigadas a combater a criação dessas
comunidades que, na maior parte dos casos, estavam muito próximas.
Os quilombos nas minas também causavam transtorno às cidades da região. As autoridades de Vila Rica (que mais tarde seria a
cidade de Outro Preto) recebiam constantes queixas de que quilombolas haviam roubado propriedades ou então estavam
impedindo a passagem em alguma estrada que ligava o perímetro urbano às fazendas produtoras de gêneros alimentícios.
Quilombolas também faziam incursões às fazendas e pequenas propriedades para resgatar familiares e amigos.
Na tentativa de destruir quilombos, as autoridades praticamente instituíram o capitão do mato como figura de poder, armara
milícias compostas por homens livres e libertos, e proibiram que comerciantes negociassem com os quilombolas. Em momentos
de crise, chegou a ser autorizado que todo quilombola encontrado tivesse uma de suas mãos decepadas.
Relações estreitas entre quilombolas e pequenos negociantes também foram frequentes nos mocambos e quilombos que se
formaram nos arredores do Rio de Janeiro, no período em que a cidade era capital do Império. A região que hoje é conhecida
como baixada fluminense foi um dos locais de maior concentração dessas comunidades. Era para lá que muitos escravos que
trabalhavam no perímetro urbano da Corte fugiam, pois, ao mesmo tempo em que a região estava afastada do grande centro,
sua localidade ainda permitia um contato frequente com a cidade. Na realidade, essa proximidade foi uma espécie de estratégia
de sobrevivência para muitos desses mocambos, pois permitiu que os quilombolas conseguissem negociar os alimentos e
cestarias que produziam garantindo assim seu sustento. Junto à região que era banhada pelo rio Iguaçu, muitos cativos também
se refugiaram nas matas da Floresta da Tijuca.
Revoltas e Conspirações
Apesar de menos frequentes do que as fugas e a criação de comunidades quilombolas, as revoltas também foram estratégias de
luta utilizadas pelos escravos. Na realidade, mais as conspirações de possíveis revoltas escravas do que as revoltas propriamente
ditas inquietaram senhores e autoridades de todo Brasil, pois elas representavam a possibilidade do fim total da escravidão.
O contato e o processo de aldeamento indígena foram responsáveis por diversas revoltas no período colonial. Ocorrida entre os
anos de 1554 e 1567, a Confederação dos Tamoios foi uma revolta dos tupinambás contra a tentativa de escravização levada a
cabo pelos colonos portugueses.
As investidas dos portugueses e seus aliados obrigou a resistência dos Tupinambás que, liderados por Aimberê, organizaram-se e
formaram a Confederação dos Tamoios (que em Tupinambá, significa o “mais velho”). A primeira batalha foi vencida pelos
Tamoios, resultando na morte de Tibiriçá.
Os conflitos foram interrompidos por um ano de paz, resultante das ações dos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta,
que estavam receosos da onda de violência criada pelos confrontos. Todavia, durante esse ano de trégua, os colonos
portugueses se armaram e reiniciaram o processo de escravização dos índios tupinambás.
Nesse segundo momento de confronto, os Tamoios contaram com a ajuda dos franceses desembarcados no Rio de Janeiro, em
1555, e que, comandados por Villegaignon, tinham o intuito de fundar uma França Antártica. As batalhas duraram quase um ano
e os portugueses só conseguiram vencer depois do reforço oferecido por Mem de Sá, governador-geral do Brasil.
A rebelião teve fim em 20 de janeiro de 1567, quando o líder Aimberê foi morto.
A história brasileira está repleta de outras tentativas de resistência indígena. Ainda no século XVI é possível destacar a Guerra
dos Aimorés (1555-1673) e a Guerra dos Potiguares (1586-1599). Na centúria seguinte ocorreram o Levante dos Tupinambás
(1617-1621) e a Confederação dos Cariris (1686-1692). Esses são apenas alguns exemplos de que os grupos indígenas não
ficaram passivos ao processo de escravização dos colonos portugueses e que, em muitos casos, fizeram da luta coletiva sua
principal arma de resistência.
Revolta dos Malês
Esse movimento, que teve a participação de escravos e libertos africanos de diferentes origens, guarda a particularidade de ter
comportado um grande número de africanos nagôs na sua organização. Os nagôs eram africanos muçulmanos e por isso muitos
deles sabiam ler e escrever em uma época em que a maioria dos homens brancos e livres não sabia assinar o próprio nome.
Após diversos encontros e reuniões marcados em becos ou em casas sublocadas da cidade, a revolta foi marcada para o dia 25
de janeiro de 1835, dia de Nossa Senhora da Guia. A data foi especialmente escolhida porque as festas religiosas permitiam que
os escravos pudessem andar com mais facilidade pelas ruas de Salvador, o que despistaria as autoridades.
No entanto, na noite anterior, a revolta foi delatada para a polícia que imediatamente iniciou a busca pelos revoltosos: diversas
patrulhas foram colocadas nas ruas e depois de algumas buscas os policiais encontraram sessenta africanos reunidos no porão
de um sobrado. Pegos de surpresa, os africanos tiveram que antecipar o momento da batalha e saíram às ruas chamando os
demais escravos para a luta.
Embora o número de escravos que aderiu à luta tivesse sido alto, as autoridades (que estavam preparadas) conseguiram
controlar o levante. Depois do reconhecimento dos principais líderes ― três escravos e dois libertos, todos africanos ―, os
revoltosos receberam diferentes punições.
Os líderes do movimento foram fuzilados, diversos africanos livres foram deportados para a África e a maioria dos escravos foi
açoitada em praça pública e depois entregue aos seus senhores. Mesmo com um desfecho trágico para seus participantes, o
levante dos Malês fez com que as autoridades redobrassem sua atenção e o controle sobre a população escrava, sobretudo na
província da Bahia.
6 foram absolvidos;
25 foram condenados aos açoites (que variaram entre 300 e 1000 chibatadas);
e 5, tidos como os líderes, foram condenados à forca.
Porém, a história não acabou por aí. Na madrugada anterior à execução da pena capital, 3 dos 5 líderes conseguiram fugir da
cadeia e nunca mais foram vistos. Segundo informações à época, um dos escravos possuía um amuleto capaz de fazer Nossa
Senhora da Penha ouvir suas preces. Muitos acreditaram que ela ouviu mesmo e ajudou na fuga.
Todavia, João e Chico Prego, os dois escravos que não conseguiram fugir, foram enforcados. O padre Gregório acabou cedendo
ao vício da bebida e, em setembro de 1849, embarcou para a Corte.
Os exemplos de resistência à escravidão são inúmeros. Tratamos aqui de alguns deles, que permitem vislumbrar como a
complexidade que caracterizou a escravidão no Brasil também gerou formas igualmente complexas de resistência.
Videoaula
O legado dos povos indígenas e afrodescendentes
É preciso entender primeiramente que a mistura que formou a cultura brasileira, se iniciou nos primeiros contatos com os
portugueses. Com a chegada dos africanos, muda-se também a estruturação do povo brasileiro.
A cultura que surge é uma cultura de contato, onde se encontram influencias das diferentes culturas que aqui chegaram.
As Primeiras articulações culturais aconteceram nos primeiros momentos iniciais da colonização, quando índios e negros eram
submetidos à escravidão, com suas consciências étnicas desarticuladas pelo processo de dominação. Foi no que denominamos
cultura de contato, que encontramos as influências de indígenas e africanos para a estruturação da cultura brasileira.
É claro que, no contato, predominou o português, porém, eles também sofreram influencias significativas. Portugueses,
afastados do seu ambiente geográfico e cultural de origem, adotaram inúmeros procedimentos ameríndios para facilitar sua
sobrevivência e seu desenvolvimento numa terra tropical desconhecida e distante. Tudo era desfavorável à estadia dos
portugueses. Consequentemente, portugueses adotaram comportamentos indígenas para sua sobrevivência.
Já os indígenas, apesar de possuírem uma cultura mais propícia à aculturação, resistiram a este processo. Relação entre
indígenas e portugueses torna-se conflituosa visto que os mecanismos de integração entre estas unidades étnicas se
apresentavam bastante dificultados. A dificuldade vinha da condição de dominação a que os nativos eram submetidos e
profundas diversidades linguísticas, religiosas e culturais.
Inicialmente a influência indígena bem como a sua alteridade foram colocadas em segundo plano para que o processo de
catequização alcançasse seus objetivos. Posteriormente, após expulsão dos jesuítas, índios foram relegados ao lugar de
inferioridade, como aconteceu com os negros e suas manifestações culturais.
O ressurgimento do índio
No Século XIX a ideia sobre o índio começa a mudar. José de Alencar e Gonçalves Dias notabilizaram o surgimento de uma
cultura brasileira, com narrativas romantizadas dos índios. Clássicos dos autores contribuem para que ressurja a imagem do
indígena. As obras dos autores passam a chamar a atenção para o tema num momento de mudança no Brasil. O índio ressurge
de maneira romântica e é recolocado nos debates.
No século XX, na semana de arte moderna, poeta Oswald de Andrade enfatizou a importância da cultura indígena com o
Manifesto Antropofágico, que chama a atenção da elite que almejava a modernização. Isso chama a atenção para algo que
também fundou a sociedade brasileira. A elite passa a chamar a atenção para essa matriz étnica que foi importante para a
constituição do povo brasileiro.
A partir daí, há exaltação do passado anterior à chegada dos portugueses, valorização do estudo das línguas indígenas (estudo
do tronco linguístico dos indígenas) e defesa do índio como símbolo nacional.
Isso ganha mais espaço com as obras de Gilberto Freyre em 1930, que enalteceu a contribuição indígena para a formação da
cultura brasileira. No Governo de Getúlio Vargas ocorreu uma verdadeira expansão do interesse pela cultura indígena e pelas
políticas indigenistas.
Os estudos começavam a se aprofundar nessa área. Mesmo assim, os índios teriam que lutar para expressar seus próprios
pontos de vista em relação a sua terra, comunidade, cultura e história. Em 1980 houve uma reação indígena, auxiliados por
pessoas envolvidas em questões étnicas e ecologias, em prol dos seus territórios.
Em 1988, há Inclusão de alguns artigos na constituição, que lhes garantia direitos, entre eles suas terras. Ocorre fortalecimento
da valorização étnica dos povos ameríndios. Movimentos afirmativos que favoreceram a retomada da análise e difusão das
contribuições indígenas a cultura brasileira.
Legado
Muitos aspectos do dia a dia brasileiro são indígenas:
• Palavras que foram incorporadas ao português;
• Os objetos;
• As técnicas de manejo do ambiente (coivara);
• As espécies domesticadas;
• Conhecimentos de medicina.
Africanos
É uma matriz étnica muito significativa para o povo brasileiro. Os africanos eram uma variedade de povos com sistemas muito
próximos de símbolos, ritos e crenças.
Sua memória está em palavra, adivinhações e possessões que são aspectos que as perpassam tais sociedades.
A cultura afro-brasileira foi reinventada em um novo contexto. Contudo, ela obrigatoriamente se relacionava com a cultura
dominante de origem europeia que pretendia sobrepor-se a ela como um processo que se julgava "civilizador". O homem
português foi obrigado a aceitar alguns aspectos, como na lavoura, onde quem conhecia as técnicas eram os negros.
Embora desconhecida, a denominação mais antiga para rituais religiosos de matriz africana é Calundu. O Calundu vai sofrer
influências da cultura católica e também vai influenciar. Desse sincretismo se originou muitos aspectos do catolicismo brasileiro,
que já no século XIV era diferente do catolicismo europeu. Predominou-se a denominação Candomblé que deve ser
compreendido de forma contextualizada. O Candomblé não é parecido com nada praticado na África. Ele surgiu do contexto
brasileiro.
O candomblé se constituiu em espaço de recriação de laços de família, reconstrução dos vínculos de identidade no novo
contexto. Negros reinventaram suas tradições, criando assim uma diversidade das experiências que aqui se denominou de
candomblé, bem como outras experiências religiosas.
As tradições africanas ganham notoriedade no Brasil. As habilidades de sacerdotes africanos em lidar com folhas, drogas e
venenos despertavam desconfiança dos senhores. Ao mesmo tempo, eram vistos como líderes religiosos por outros escravos e
muitas vezes eram procurados por senhores. O candomblé, vinculado a aspectos simbólicos e religiosos das sociedades
africanas, apresenta uma forma de lidar com o sagrado diferenciada da Igreja católica.
É importante não considerar as religiões e a cultura, de forma abrangente, como fixa que não sofrerem mais influências. Elas
ainda estão em processo de expansão e articulação. Hoje elas são mais livres e mais discutidas e, consequentemente, mais
aceitas. Cultura afro-brasileira é aquela reinventada no Brasil, sob as novas condições e os novos tempos, sempre em
transformação.
Aula 006
Teorias raciais do século XIX
Em fins do século XIX e início do século XX, teóricos como Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha estudaram a
sociedade brasileira e criaram um discurso que possibilitou o surgimento de teorias raciais científicas que desvalorizavam negros
e mestiços.
Na segunda parte do século XIX, o império no Brasil era uma das únicas sociedades das Américas que ainda dependia de mão de
obra escrava, na maioria negra. O uso de escravos estava presente também em outras partes da sociedade, inclusive nos
primeiros pelotões que compuseram o exército brasileiro no confronto bélico que mudaria os rumos da história do Império: a
Guerra do Paraguai. Os primeiros institutos históricos e geográficos estavam sendo abertos no Império do Brasil, que precisava
construir a história e escolher a memória que iria guardar, e o herói que iria representá-las.
O movimento indianista, parte do Romantismo no Brasil, fez do índio o herói e bom moço da história brasileiro, mostrando que
o Brasil possuía um herói autêntico. Tal movimento trouxe para o cenário intelectual da época importantes debates sobre a
questão indígena, mesmo que a figura nos livros pouco se assemelhasse aos rebeldes Aimberê e Canindé.
Contudo, ao mesmo tempo em que o indianismo exaltava os índios, deixava de lado uma grande parcela da população brasileira
que passava a ser visto como inferior.
Um dos grandes desafios em trabalhar com o estudo das relações raciais no Brasil é que tal temática acompanhou as primeiras
tentativas de construção da identidade brasileira independente e soberana. Até a produção das primeiras análises da década de
1930, praticamente todas as obras que se propunham examinar a sociedade ou a história brasileira esbarravam no problema da
raça. Na realidade, como demonstrou cuidadosamente Lilia Schwarcz (SCHWARCZ: 1993), o conceito raça foi peça fundamental
das ciências sociais no Brasil e no mundo.
George Cuvier foi o primeiro a usar o termo raça no discurso cientifico, no início do século XIX, momento em que a visão
iluminista de humanidade aproximava a ideia de raça aos debates sobre cidadania.
Essa contradição entre a definição científica de raça e os ideais igualitários herdados da Revolução Francesa acabou
reacendendo debates entre monogenistas e poligenistas. Monogenistas acreditavam que todo homem tinha a mesma origem e
que as diferenças entre eles era resultado de uma maior ou menor proximidade do Éden (teoria difundida pela Igreja Cristã). O
Monogenismo é a teoria que defende que a humanidade constitui uma única espécie, descendente de um ancestral comum. Já
o poligenismo é a teoria que defende que a humanidade não tem uma origem comum, isto é, que diversos grupos humanos pré-
históricos e as raças humanas atuais descendem de espécies distintas. Poligenistas acreditavam na existência de diversos
núcleos de produção correspondentes aos diferentes grupos humanos.
A vertente poligenista possibilitou, ainda no século XIX, o fortalecimento de disciplinas baseadas no discurso científico. Veja
alguns exemplos desse movimento:
• Antropologia criminal - que considerava a criminalidade algo genético;
• Frenologia e antropometria - que calculavam a capacidade humana de acordo com o estudo do tamanho do cérebro de
indivíduos dos diferentes grupos humanos;
• Craniologia – estudo do crânio.
O debate tomou novo fôlego com a publicação do livro A Origem das Espécies de Charles Darwin, em 1859. O termo raça sofreu
alterações, ultrapassando o campo biológico e passando para discussões culturais e políticas. As teorias Darwinistas passaram a
ser “adaptadas” pelas correntes monogenistas e poligenistas da maneira que lhes era conveniente.
Como o momento era de questionamento à igreja católica (Iluminismo), poligenistas saíram na frente e seus rivais no que diz
respeito ao uso das teorias de Darwin. A sociologia evolutiva de Spencer, a história determinista de Buckle e até mesmo o
sentimento imperialista europeu eram provas disso. Os poligenistas passaram a tratar a espécie humana como o gênero
humano; a diversidade cultural passou a ser entendida como diferença entre espécies. O homem fora dividido e hierarquizado,
e, quanto mais longe uma “espécie” se mantivesse da outra, melhor para todos.
Muitos estudiosos e cientistas consideravam a miscigenação um erro, uma quebra das leis naturais e uma subversão ao sistema.
Os inúmeros impasses causados pela publicação de Charles Darwin e a formulações de novas perguntas sobre a evolução da
humanidade criaram a necessidade de novos sistemas explicativos.
Surgiu neste momento a antropologia cultural, que restituía a ideia de uma origem comum do Homem, ao passo em que
entendia as diferenças sociais como etapas de um mesmo processo evolutivo.
Ao mesmo tempo, surgiram duas perspectivas deterministas. A primeira delas, a escola determinista geográfica de Ratzel e
Buckle, afirmava que o desenvolvimento ou não de uma nação estava totalmente condicionada pelo meio físico. A segunda,
mais conhecida como “darwinismo social” ou “teoria das raças”, considerava a miscigenação algo negativo, na medida em que
pensava ser impossível a transmissão de características adquiridas; em outros termos, as raças seriam imutáveis.
As escolas deterministas defendiam a hierarquização das raças e superioridade de uma delas. Estas premissas serviram como
base para um movimento existente até hoje: a Eugenia. Tal ciência partia do pressuposto que o progresso só seria possível em
sociedades puras (sem miscigenação), e que apenas uma raça (a ariana) estava fadada à perfectibilidade. A eugenia vinha de
encontro aos interesses políticos da Europa, que acreditavam que eram um grupo puro e por isso seriam responsáveis pela
civilização de demais grupos, como o dos Estados Unidos. Os estadunidenses comprovaram seu desenvolvimento,
principalmente por terem evitado a miscigenação entre o branco dominador e o negro escravizado.
Como o Brasil era uma colônia portuguesa até 1822, foi impossível evitar as repercussões desse pensamento aqui. Este discurso
científico caminhou junto com a construção de uma identidade nacional.
A primeira ideia de Brasil foi construída com os primeiros museus, institutos históricos e geográficos, faculdades de direito e de
medicina em terra brasilis. Durante o século XIX, nacionalismo e ciência fundiam-se e confundiam-se. Contudo, uma questão era
trazida junto com o desenvolvimento: o problema da mestiçagem. A constatação científica não era algo estranho numa terra
que índio e negros. A ideia da supremacia branca frente às demais raças ou “espécies” humanas parecia comprovar a realidade
brasileira de então.
Entretanto, a massa de mulatos, cafuzos, caboclos, pardos e cabras, lembravam, a todo o momento, que o Brasil era uma nação
majoritariamente mestiça ― o que inviabilizava que o país galgasse o estágio supremo da civilização. Como outras localidades
da América Latina, o Brasil tornou-se uma espécie de laboratório vivo, onde cientistas procuraram comprovar na prática o que
compuseram, e onde “ilustrados” brasileiros buscaram desesperadamente uma unidade, uma homogeneidade para definir o
povo brasileiro.
Importantes cientistas como Thomas Buckle, Arthur de Gobineau e Louis Agassiz analisaram o fenômeno da mestiçagem
brasileira, tendo inclusive visitado o país. Infelizmente, suas conclusões sobre o futuro do Brasil não eram muito esperançosas.
De tal modo, aceitar, copiar e reproduzir essas teorias iria interromper um projeto de construção nacional brasileira que mal
tinha começado. Os homens de ciência do Brasil tiveram que achar uma resposta original, adaptando essas teorias, utilizando o
que combinava e descartando o que era problemático para a construção de um argumento racial no país.
Os embates científicos se agravaram quando o Brasil proclamou a abolição da escravidão. Até então, o problema parecia ter sido
parcialmente resolvido: os indígenas, em uma espécie de recompensa por sua dizimação, foram eternizados pelos românticos
brasileiros como símbolo de pureza nacional; os negros (grande parte deles) pagavam com a escravidão a sua ligação direta com
o continente africano.
Ainda que os Abolicionistas defendessem a liberdade dos negros escravizados, nem todos estavam certos quanto à igualdade de
direitos que defendiam, tendo em vista o contexto racialista em que viviam.
Porém, quando as discussões sobre raça e mestiçagem passaram a fazer parte da agenda dos assuntos ligados à cidadania
brasileira, a simples importação de análises científicas feitas por europeus e estadunidenses deixou de ser suficiente.
Enquanto nação que se forjava no seio da Liberdade, da Igualdade e da República, o Brasil precisava construir suas próprias
teorias.
Neste momento, marcado pela a abolição da escravidão, a proclamação da República, a entrada em um novo século e a
necessidade de criar uma unidade nacional, o termo raça, sobretudo a raça negra, se torna um problema para os intelectuais
brasileiros. Como bem formulado por Renato Ortiz, tais homens se viam diante do seguinte dilema; “como tratar a identidade
nacional diante da disparidade racial?” (ORTIZ: 1985, p.20).
Neste contexto, três intelectuais brasileiros se destacaram no quadro das ciências sociais do país: Silvio Romero, Nina Rodrigues
e Euclides da Cunha. Homens das ciências, esses intelectuais se incumbiram da árdua missão de pensar e, principalmente, de
colocar o Brasil no caminho da civilização.
As obras desses intelectuais são de tamanha riqueza e complexidade que seria praticamente impossível esgotar suas análises e
seus desdobramentos. Todavia, no caso específico deste, é importante ressaltar que a mestiçagem, de forma geral, e o elemento
negro, em particular, foram os pontos cruciais na interpretação desses cientistas e, consequentemente, na formação de uma
determinada ideia de Brasil.
Mesmo partindo de lugares diferentes (o direito, a medicina e o jornalismo), Silvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha
identificaram a diversidade racial ― principalmente a forte presença negra no país ― como o entrave para que as palavras
ordem e progresso, estampadas a bandeira do Brasil República, de fato se transformassem em prática social.
Na realidade, respondendo ao debate racialista internacional, os três autores viam a fusão das três raças como o elemento
causador da desigualdade e do atraso brasileiro. Tal perspectiva serviu ainda como base para a formulação de políticas que
procuravam viabilizar o desenvolvimento no Brasil: o branqueamento foi a principal delas.
Videoaula
Identidade Nacional
Uma imagem corrente do Brasil é a de um país mestiço, formado principalmente por indígenas, europeus e africanos. Temos,
por exemplo, vários romances que tratam do encontro entre povos diferentes. A imagem é de que as raças se encontram de
forma harmônica, porém, sabemos que a realidade não é assim.
No século XIX não havia uma ideia tão boa sobre o encontro racial. Desde a colonização, havia uma visão depreciativa dos índios
e negros, devidos ao etnocentrismo.
Nos períodos da independência, havia a questão da civilização nos trópicos. Ela seria possível, de acordo com a visão europeia?
Muitos estudiosos diziam que o desenvolvimento não seria possível por conta da miscigenação.
Temos no Brasil um contexto marcado por ambiguidades. Se havia a visão etnocentrista, por outro lado eventos voltados a
igualdade aconteceram. Em 1888 a escravidão foi abolida e em 1889 tivemos a pro clamação da republica onde todos os
habitantes eram vistos como iguais perante a lei. Contudo na sociedade, negros e indígenas era vistos como inferiores e
atrasadas, como consequência da ciência da época. A pobreza e condições dos povos indígenas não eram vistas como um
problema social, mas como uma incapacidade de se desenvolver por conta da raça.
Todo o saber biológico que via miscigenação como algo ruim, foi incorporado por estudiosos brasileiros e até mesmo
instituições de ensino que se formaram no século XIX, como a escola de direito de Recife. Nela, Silvio Romero, um juiz defendia
que a miscigenação poderia levar ao branqueamento. A civilização era associada ao branqueamento.
Esse ideal do branqueamento era muito difundido no momento. João Batista Lacerda, diretor do Museu Nacional do Rio de
Janeiro, no I Congresso Internacional das Raças, realizado em julho de 1911, disse: “É lógico supor que, na entrada do novo
século [refere-se então ao século XXI], os mestiços terão desaparecido no Brasil, fato que coincidirá com a extinção paralela da
raça negra entre nós”.
Roquete Pinto, presidente do I Congresso Brasileiro de Eugenia que aconteceu em 1929 fez a previsão de que em 2012 teríamos
uma população composta de 80% de brancos e 20% de mestiços; nenhum negro, nenhum índio. A eugenia no Brasil não foi
marcada por extermínio, como na Alemanha, mas pela ideia de branqueamento da sociedade, que se daria pela miscigenação e
pela imigração europeia. Pensava-se que trazer trabalhadores europeus para cá era melhor do que treinar o povo que já existia
aqui.
Indígenas
Em relação aos índios, havia duas visões diferentes:
Romanização - ser puro, primitivo, sem corrupções – não valorizava a cultura indígena, mas o índio como pessoa que pode ser
civilizada;
Indígenas como bárbaros – índios eram obstáculos para o desenvolvimento do Brasil. Havia até pensamento de extermínio de
indígenas.
José Bonifácio de Andrada e Silva tinha uma visão mais romântica e de integração dos índios a sociedade nacional. Para ele,
seriam ideias:
1) Justiça (...);
2) Brandura, constância e sofrimento da nossa parte (...);
3) Abrir comércio com os bárbaros (...);
4) Procurar com dádivas e admoestações fazer as pazes com os índios inimigos (...);
5) Favorecer por todos os meios possíveis os matrimônios entre índios e brancos (...) indígenas considerados selvagens
que deveriam ser incorporados a sociedade.
Século XX
No século XX o pensamento se modifica e temos uma nova maneira de pensar o país.
Nos anos 30, o Brasil passou a crescer e se industrializar por conta do governo Vargas. A identidade nacional passou a contar
com a ideia de integração. Neste momento surgem símbolos coo feijoada, capoeira, samba e etc. Isso passou a imagem de uma
democracia racial.
Isso tudo acontece num momento em que a visão era de que ao invés de raças, há culturas distintas. Gilberto Freyre, autor de
Casa Grande & Senzala, passa uma imagem positivada do braço mestiço. Atualizava a ideia de que este país singular era
resultado da fusão de três raças. O mestiço era o produto genuinamente nacional, no seu passado estavam o indígena e o negro.
O Brasil era visto na obra como uma mistura das raças (culturas); romantização das relações senhor e escravo; superioridade e
inferioridade.
A ideia principal foi sempre integrar o indígena, não entender sua cultura e sua valorização.
Aula 007
Herança africana no país
Gilberto Freyre
Ainda em 1930, despontou no cenário intelectual brasileiro o pernambucano Gilberto Freyre, com uma abordagem diferenciada
sobre a história do Brasil, sobretudo no que diz respeito às relações raciais.
Ao ir estudar nos Estados Unidos, entrou em contato com novas perspectivas analíticas das ciências sociais, principalmente com
os estudos da Antropologia Cultural de Franz Boas, que defendia a ideia da igualdade racial.
Casa Grande e Senzala foi uma obra de um impacto tremendo nas ciências sociais brasileiras e durante muitos anos foi tomada
como a interpretação mais completa sobre as relações raciais no país. Para entender a obra, é preciso compreender dois lados
de Gilberto Freyre:
1. Lado inovador – o radicalismo da obre de Freyre. É preciso compreender o autor em seu tempo.
2. Premissas de Freyre frente às problemáticas questões raciais no Brasil. Sua análise acabou por conformar a ideia mítica
de que o Brasil seria uma sociedade desprovida de racismo (democracia racial).
À forma menos determinista de compreender os processos sociais, Freyre adicionou as histórias que ouvira quando menino e
uma dose cavalar de fontes documentais pouco exploradas até então. O resultado disso foi uma análise da sociedade e da
história brasileira feita pelo e para o Brasil.
Dito de outra forma, Freyre introduziu uma ideia de civilização genuinamente nacional, na qual as ascendências indígena e
africana compartilhavam com a europeia o protagonismo na trajetória brasileira.
Uma das premissas básicas de Freyre dizia que a formação brasileira era um processo resultante do equilíbrio de antagonismos,
fossem eles econômicos, sociais, políticos e até mesmo geográficos (FREYRE, 1933, p.116). Todavia, Freyre frisou que o maior e
mais profundo antagonismo do Brasil era o existente entre escravos e senhores. Vê-se logo, que a escolha do título Casa Grande
e Senzala não foi aleatória.
A grande inovação de Freyre estava no exame equilibrado dos dois extremos da sociedade brasileira. Era a primeira vez em que
se analisavam as contribuições dos escravos negros e heranças africanas no Brasil. A forma por meio da qual Freyre construiu
sua análise também o distanciava dos cientistas sociais da época, já que foi escrito de uma maneira que se confundia com os
romances da época.
Segundo o autor, o Brasil nascera da tecnologia indígena empregada na produção da mandioca, do leite das amas negras que
alimentaram os meninos das famílias patriarcais, das experiências sexuais desses mesmos meninos com as mulatas do país. A
intimidade brasileira estava impregnada pela mestiçagem e isso não fazia o Brasil menos civilizado do que os países europeus.
Na realidade, a mestiçagem era a brasilidade.
Mesmo polêmica, é importante pontuar o impacto que Casa Grande e Senzala trouxe para o cenário intelectual. Se por um lado
Nina Rodrigues foi o primeiro intelectual a fazer um estudo sistêmico da presença africana no Brasil, Freyre foi o primeiro que
apresentou essa herança africana de forma positiva e em profundo diálogo com as demais esferas formativas do país.
Contudo, é preciso salientar que Gilberto Freyre determina muito bem os locais sociais e políticos dos atores da história
brasileira – aos escravos cabia a senzala e aos senhores cabia a casa grande. Ao privilegiar a noção de harmonia, a narrativa
Freyriana acabou suavizando a violência inerente das relações de gênero e sociais características da história brasileira que
pautaram a vida de grande parte das mulheres negras e/ou escravas.
Ainda hoje, as críticas a ele são inúmeras. Elas residem principalmente na noção de que o Brasil seria composto por um
equilíbrio de antagonismos que pende para a harmonia, que de certo modo, tira todas as contradições e toda a violência que
marcaram a trajetória social brasileira desde os tempos coloniais.
A construção de uma interpretação na qual a sociedade brasileira não apresenta muitos conflitos, e que as relações dos
diferentes sujeitos históricos estava pautada em uma harmonia fundante das relações sociais, permitiu a leitura de que o Brasil
estava desprovido de racismo. A maior prova disso seria a mestiçagem: característica maior da sociedade brasileira.
Intencionalmente ou não, o exame de Freyre ofereceu os dados necessários para a construção da ideologia da Democracia
Racial, ideologia que serviu muito bem aos interesses políticos do governo getulista (marcado pelo nacionalismo e pelo
populismo), que, embora difundisse a ideia do Brasil como um país desprovido de discriminação racial, deixava muito claro que
cada raça tinha um lugar determinado a ocupar na sociedade brasileira.
O modelo de análise de Gilberto Freyre foi bem recebido em grande parte do círculo intelectual brasileiro e internacional.
Muitos cientistas sociais estrangeiros, sobretudo estadunidenses, passaram a usar o Brasil como padrão positivo de relações
raciais, e realizaram estudos de caso a fim de comprovar a existência do que seria um "paraíso racial".
Projeto UNESCO
Na década de 1950, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) patrocinou um conjunto
de pesquisas sobre as relações raciais no Brasil. A origem deste projeto estava associada à agenda antirracista formulada pela
UNESCO no final dos anos 1940, sob o impacto do Holocausto.
Os objetivos do Projeto UNESCO era determinar os fatores econômicos, sociais, políticos, culturais e psicológicos que favoreciam
ou não a existência de relações harmoniosas entre raças e grupos étnicos.
Antônio Sérgio Guimarães pontuou duas grandes contribuições deste Projeto para os estudos das questões raciais no Brasil:
Parte dos estudos patrocinados pelo Projeto UNESCO comprovou a inexistência da Democracia Racial no Brasil. Contudo,
trabalhos feitos na década de 1970 realizaram importantes críticas a tais estudos, ao mostrar que os fatores econômicos que
protagonizavam as análises não eram suficientes para responder as razões que levariam à discriminação racial no Brasil.
Florestan Fernandes
Inúmeros trabalhos ligados ao Projeto UNESCO apontaram que o Mito da Democracia Racial era infundado. Um dos estudos
mais importantes neste período foi feito por Florestan Fernandes.
Em A integração do Negro na sociedade de Classes (1964), Florestan analisou os meios pelos quais parte da população negra da
cidade de São Paulo integrou-se à sociedade capitalista.
Ao trabalhar com estudos de caso, mostrou que a maior parte dos homens e mulheres egressos do cativeiro teve uma modesta
inserção na sociedade capitalista graças à cor da sua pele e à evidente preferência dos patrões por funcionários brancos.
Oracy Nogueira
No campo da antropologia culturalista, destacou-se o trabalho pioneiro e inovador de Oracy Nogueira grande seguidor dos
ensinamentos de Pierson.
Em certa medida é possível afirmar que Nogueira ampliou os estudos de seu professor, ao questionar as conclusões de Pierson
sobre a inexistência do racismo no Brasil. Se o professor norte-americano negou a discriminação racial em detrimento da
discriminação socioeconômica, é possível afirmar que Oracy Nogueira demonstrou que os dois sistemas discriminatórios
conviviam no Brasil.
Grosso modo, as conclusões de Oracy Nogueira apontavam que negros e mestiços compunham a grande maioria da população
que exercia atividades subalternas, enquanto os brancos ocupavam lugar de destaque.
Segundo as pesquisas de Oracy Nogueira, a cor da pele tinha forte influência no desempenho socioeconômico dos indivíduos.
Oracy desenvolveu dois conceitos-chave das relações raciais no Brasil: o preconceito racial de marca e o preconceito racial de
origem.
Ainda que os dois trabalhos apontados tenham seguido métodos analíticos distintos, ambos foram eficazes em apontar que a
harmonia das três raças brasileiras era uma farsa. Embora o negro tenha sido o principal objeto de análise dos trabalhos, a
desconstrução do mito da democracia racial, ou do "cadinho das três raças", permitiu que novas questões fossem colocadas na
agenda de debates da sociedade brasileira.
Os movimentos sociais incorporaram parte do debate acadêmico e passaram a fazer novas exigências para o estado de um país
que, sabidamente, estava longe de ser um paraíso racial.
Videoaula
O Brasil construiu uma imagem de um país mestiço e harmônico no final do século XIX. Havia também a ideia de democracia
racial. Toda essa percepção acabou por ocultar o racismo no Brasil.
Ao mesmo tempo, não existiam programas de reconhecimento das culturas diferentes, mas sim programas que buscavam
integrar os povos a cultura europeia que prevalecia.
Na segunda metade do século XX, há um progressivo reconhecimento do racismo, mas também das diferenças étnico-raciais.
Reconhecimento da diversidade
Outros saberes também foram se construindo para que se reconhecesse a diversidade cultural do país – os estudos em
Antropologia. Com seu desenvolvimento, passou-se a considerar que culturas se desenvolvem de maneiras diversas e todas têm
pontos positivos e negativos.
Esse saber entrou no Brasil e antropólogos passaram a participar das políticas do país.
Em 1949 houve a criação do Conselho Nacional de Proteção aos índios (CNPI). Em 1953 o Museu do índio foi inaugurado. O
saber indígena é importante porque a partir daí há demarcação de territórios próprios para indígenas. Nos territórios
demarcados, como parque nacional do Xingu, há preservação dos costumes indígenas.
Toda politica indianista no Brasil se iniciou a partir da Marcha para o Oeste, uma política do governo de Getúlio Vargas que
realizava expedições visando integração dos indígenas. Uma das expedições, a Expedição Roncador-Xingu, gerou exploradores
que se tornaram aliados políticos dos indígenas. O Filme Xingu mostra o contato que se deu entre os irmãos Vilas Boas e os
povos Xingu.
Na década de 60, funda-se a FUNAI, organização que prestava auxílio aos indígenas. Mesmo nessa década, a ideia ainda era de
incorporar indígenas à civilização. No período o Brasil também era signatário da Convenção 107 da Organização Internacional do
Trabalho, que era apoiadora da demarcação de terras, mas ainda assim defendia a integração do índio a sociedade.
Em 1973 publicou-se o Estatuto do Índio, mas também prevendo a integração.
Em 1955, Darcy Ribeiro criou o curso de pós-graduação em Antropologia, dentro do museu do índio.
Em seguida, há criação do Conselho Indigenista Missionário e a partir daí passa-se a ter a visão de respeito pela diversidade, e
não pela integração.
Aula 008
Questão Indígena na contemporaneidade brasileira
ECO 92
Em 1992 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio-92 ou ECO 92). Ela
inaugurou o conceito de desenvolvimento sustentável e contribuiu para a conscientização de que os danos ao meio
ambiente eram de responsabilidade de países desenvolvidos. Ao mesmo tempo, reconheceu que países em desenvolvimento
necessitavam de apoio financeiro e tecnológico para avançarem em direção ao desenvolvimento sustentável.
A questão indígena também ganhou espaço no debate, pois qualquer debate sobre meio ambiente no Brasil precisa levar em
consideração as agências desses sujeitos.
No entanto, o Brasil tem uma questão a ser resolvida em relação a essas sociedades, que é a sua definição. O critério da auto
identificação étnica vem sendo o mais amplamente aceito pelos estudiosos da temática indígena.
Na década de 1950, o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro baseou-se na definição elaborada pelos participantes do II Congresso
Indigenista Interamericano, no Peru, em 1949, para assim definir, no texto "Culturas e línguas indígenas do Brasil", o indígena
como:
Uma definição muito semelhante foi adotada pelo Estatuto do Índio (Lei n° 6.001, de 19/12/1973), que norteou as relações do
Estado brasileiro com as populações indígenas até a promulgação da Constituição de 1988.
Nessa aula será analisada, então, a questão indígena na contemporaneidade brasileira.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, encontraram um número significativo de povos autóctones (que nasceram no
território em que habitavam) a quem chamaram índios. Ainda que eles julgassem estar frente a uma raça diferente, ainda nos
primeiros anos de colonização, os lusitanos conseguiram encontrar traços específicos que diferenciavam essas sociedades,
apontando parte da complexidade que regeu a vida desses grupos. O processo colonial foi extremamente violento com as
sociedades indígenas. As estimativas apontam que no início do século XVI existiam entre 1 e 10 milhões de índios, no que hoje é
o Brasil. Esses habitantes se dividiam em diferentes povos, com culturas, crenças e línguas diferentes.
Junto com a mortandade causada pela falta de imunidade indígena, a efetivação do sistema colonial trouxe muitas mudanças
nos padrões organizacionais desses povos.
Resumidamente, as sociedades indígenas que habitavam o Brasil tinham sua economia organizada em modos de produção de
uso, ou seja, produziam o suficiente para o consumo interno.
Ainda que pesquisas recentes apontem a presença de moeda em algumas sociedades indígenas que habitavam a bacia
amazônica, grande parte das trocas realizadas entre esses grupos ocorria por meio do escambo. A instauração do aparelho
colonial, a produção do açúcar, o movimento das bandeiras e a criação de gado fizeram com que tais sociedades tivessem que se
adaptar a um ritmo de trabalho extremamente pesado, acarretando na morte de índios e desestruturação de suas sociedades.
A catequese foi outro instrumento de colonização e, justamente por isso, um processo que desestruturou boa parte dos povos
indígenas, inserindo uma nova linguagem e criando novas formas de sociabilidade dentro do sistema colonial que se forjava.
Estudos recentes apontam que, atualmente, os únicos grupos que não tiveram suas línguas alteradas pelo contato com os
portugueses foram os Fulniô (de Pernambuco), os Maxakali (de Minas Gerais) e os Xokleng (de Santa Catarina). Interessante
notar que nenhuma das sociedades apontadas pertence à família Tupi, mas estão ligadas ao tronco Macro-Jê.
Durante todo o período colonial, os portugueses e colonos utilizaram os índios não só como mão de obra, mas também fizeram
uso de seus saberes. A técnica da coivara foi levada a proporções imensas. A região das minas foi encontrada graças à ajuda
indígena; remédios eram feitos com base nos saberes de pajés e xamas e a mandioca transformou-se na base da alimentação da
colônia durante 300 anos.
Findo o período colonial, os índios continuaram fazendo parte da história brasileira. Em meados do século XIX, uma determinada
ideia de índio foi criada pelos intelectuais brasileiros, que a utilizaram como ícone de herói nacional.
No final desse mesmo século e no início do século seguinte, os índios que habitavam a região norte do país foram fundamentais
para as atividades extrativistas. Sociedades indígenas inteiras foram — direta e indiretamente —trabalhar na busca pelo látex,
bem como nos movimentos exploratórios da região amazônica. Foi nesse contexto que o positivista Marechal Rondon
despontou no quadro nacional.
Marechal Rondon
Cândido Rondon, nascido em 1865, era de origem indígena. Foi criado pelo tio até ingressar na Escola Militar no Rio de Janeiro.
Anos mais tarde, tornou-se o responsável pela Comissão de Construção da linha telegráfica que ligaria Goiás ao Mato Grosso.
Para cumprir essa missão, Rondon abriu caminhos e desbravou terras entrando em contato com diversos povos indígenas como
os Bororo, Nhambiquara, Urupá, Jaru, Karipuna, Ariquemes, Boca Negra, Paca ás Novo, Macuporé, Guaraya e Macurape.
Em 1907 foi nomeado chefe da comissão que deveria construir a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antonio do Madeira, a
primeira a alcançar a região amazônica, e que foi denominada Comissão Rondon.
Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915. Nesta mesma época estava sendo construída a ferrovia Madeira-Mamoré,
que junto com o desbravamento e integração telegráfica de Rondon ajudaram a ocupar a região do atual estado de Rondônia.
Nesse meio tempo, Rondon organizou e dirigiu o Serviço de Proteção aos Índios (1910). O objetivo principal da SPI era proteger
os índios frente à escravização que estava ocorrendo no norte do país, bem como promover a integração dos mesmos, tendo
em vista que tal órgão acreditava que o "índio" era um estágio transitório que precisava ser tutelado até transformar-se em um
proletário rural ou urbano.
Como chefe da SPI, o Marechal Rondon comandou e traçou o roteiro da expedição que o ex-presidente dos Estados Unidos,
Theodore Roosevelt, fez pelo interior brasileiro entre 1913 e 1914, que ficou conhecida como a Expedição Roosevelt-Rondon.
Cândido Rondon passou a ser assim, o principal intermediário entre o Estado brasileiro e os grupos indígenas. Embora essa
relação nem sempre fosse pacífica, graças aos esforços e a mediação de Rondon, inúmeras expedições foram feitas na bacia
amazônica, o que apresentou uma diversidade ainda maior dentre os índios do Brasil.
Ele publicou o livro Índios do Brasil, em três volumes, editado pelo Ministério da Agricultura. Incansável defensor dos povos
indígenas do Brasil ficou famoso por sua frase: "Morrer, se preciso for; matar, nunca".
Rondon teve sua importância reconhecida inúmeras vezes pelo governo brasileiro, recebendo diversas homenagens, como
nome dado ao estado de Rondônia. Marechal Rondon morreu em 1955, aos 92 anos de idade.
Observa-se que esse é um processo longo e burocrático, e que ainda tem que se deparar com outros obstáculos. De um lado, os
interesses econômicos, sobretudo a exploração madeireira e a derrubada sistemática da floresta amazônica para a criação de
gado e a produção de soja têm colocado sociedades indígenas, a FUNAI e os grandes proprietários de terra em constante
embate. De outro, a noção de terra e território dos grupos indígenas é muito mais fluida do que a lei brasileira determina.
Conforme visto nas primeiras aulas do curso, a maior parte das sociedades indígenas era nômade ou seminômade o que, por si
só, já aponta outros usos e significados da terra para esses povos.
Videoaula
Importância dos movimentos negros e indígenas no Brasil
A partir da década de 60, já havia pesquisas sobre o racismo no país, mostrando que este era estrutural na nossa sociedade. O
movimento negro traz para a esfera politica uma nova pauta – para desenvolvimento da sociedade era preciso combater a
desigualdade e preconceito racial. Era muito importante que esse assunto passasse a ser discutido. Desde a década de 30 esse
movimento está presente na sociedade.
Movimentos Negros
O primeiro movimento negro de amplo alcance na sociedade Brasileira foi a frente negra de 1931 a 1937. Existiram outros, mas
esse juntou pessoas de diversas localidades.
Era o período do governo Vargas, marcado pela ideia de integração nacional.
O movimento foi importante porque denunciava a ideia de que havia racismo no Brasil.
É importante lembrar que na época havia uma visão de que era possível “branquear” um país culturalmente, isto é, integrar o
negro e o indígena, mas excluir sua cultura. Essa era a perspectiva da época e também influenciou o movimento, que lutava pela
integração do negro, distanciando-o das tradições africanas consideradas atrasadas. O comportamento dos negros deveria ser
exemplar, ou seja, baseado na cultura europeia.
O movimento reverenciava personalidades como a princesa Isabel, que contribuiu com os negros.
Em 1978, formou-se o Movimento Negro Unificado. Havia novas ideias e o movimento foi influenciado pelos contextos de
outros países, como os Estados Unidos.
O Movimento também se baseou em pesquisas sociológicas sobre desigualdades sociais que comprovavam o racismo no país.
O MNU apontava o negro como vítima da discriminação no trabalho, na abordagem policial e outros âmbitos da sociedade. Ia
contra a ideia de inserção do negro à sociedade branca europeia, como o movimento anterior.
É outra perspectiva ideológica que valoriza a cultura afro-brasileira. A palavra de ordem era derrubar o mito da democracia
racial, a forma como o Brasil se idealiza.
O movimento visava a consciência negra, mostrando que a estética negra também é bonita (acabar com a ideia do “cabelo
ruim”). A consciência negra incentivou também a consciência sobre a dominação da cultura europeia.
O MNU se recusava a comemorar o dia da abolição da escravidão, porque este não acabou com o racismo e discriminação.
Passa-se a comemorar o dia 20 de novembro, aniversário de morte de Zumbi.
Importância Histórica do MNU: crítica ao branqueamento e combate a discriminação, assim como valorização da cultura negra.
A valorização da cultura negra também recebeu críticas, já que alguns estudiosos defendem que a cultura não é algo puro, ou
seja, é possível valorizar a cultura negra sem que se deixe de valorizar a europeia.
O MNU foi um ponto de virada na luta contra o racismo. Pela primeira vez há um movimento que se pauta nas diferenças raciais.
Este movimento gera uma formação de intelectuais negros. Estes fazem propostas políticas para educação e mercado de
trabalho. É um fato importante porque eram propostas feitas por pessoas que passaram por situações de discriminação. Hoje
por exemplo, se estuda a cultura afro-brasileira e africana nas escolas.
Constituição de 1988
O movimento negro teve um impacto muito grande na constituição, assim como outras minorias.
O currículo escolar passa a contar com conteúdos que promovessem igualdade e demonstrassem a contribuição de diferentes
etnias no processo de formação do povo brasileiro. Além disso, o racismo passava a ser crime inafiançável.
Indígenas
O movimento indígena cresceu a partir de 70 também. Criou-se o UNI, com surgimento de líderes indígenas. Isto significa que
índios passaram a se organizar sem necessitar de ajuda exterior.
Em 1974 aconteceu a primeira assembleia nacional de líderes indígenas.
Houve a instrumentalização da categoria índio. Passa-se a ter uma visão mais global sobre os índio e articulação de diferentes
povos para lutar por um objetivo comum.
Há crítica da política de tutela, de que o estado deveria cuidar de toda a vida de indígena. Houve critica também a perspectiva
de aculturação.
Indígenas também fizeram pressão para inclusão de direitos na Constituição de 1988.
Houve defesa da demarcação de terras, considerando as necessidades indígenas, já que estes utilizam e veem a terra de forma
diferente do restante da sociedade. Índios passaram até a fazer parte do quadro politico, com um deputado indígena – Mário
Juruna.
Todas as reinvindicações acabaram ratificadas na constituição de 1988. Ela deu direito a ocupação de terras tradicionalmente
indígenas por índios.
Ela também reconheceu as tribos como organizações sociais próprias, que possuem direito de manterem suas línguas, suas
tradições e suas práticas culturais.
Aula 009
Movimento Negro e a Busca de Outra Memória Afrodescendente
João Cândido
O ano de 1910 foi marcado pela luta dos marinheiros brasileiros pelo fim dos castigos corporais. Uso da chibata como castigo na
Armada brasileira já havia sido abolido, mas os marinheiros, cuja grande maioria era formada por homens negros e mestiços,
continuavam a receber as punições. Era um claro resquício da escravidão.
O estopim da Revolta ocorreu no dia 16 de novembro de 1910, quando foi publicado em diferentes jornais brasileiros que o
marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes havia sido punido com 250 chibatadas aplicadas na frente de toda a tripulação do
Encouraçado Minas Gerais. Seis dias depois, lideradas pelo marinheiro e filho de ex-escravos João Cândido, tripulações de
diferentes embarcações em todo Brasil fizeram um levante por meio do qual reivindicavam a abolição da chibata na marinha,
com o lema: “nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão da Marinha
brasileira”.
Foram quatro dias de muita tensão. A cidade do Rio de Janeiro estava sob a mira dos canhões da marinha e, caso as
reivindicações não fossem atendidas, a cidade seria atacada. Todavia, após inúmeras negociações, os marinheiros conseguiram
fazer com que as autoridades brasileiras se comprometessem a acabar com as punições e terminaram o levante.
Porém, a história não acabou aí. Ainda que o Congresso brasileiro tenha votado pela anistia dos marinheiros envolvidos, logo
depois de se entregarem, grande parte dos sublevados foi presa ou morta pelas próprias autoridades. O líder, João Cândido,
passou alguns anos preso na Ilha das Cobras e depois foi expulso da marinha. Ele faleceu em janeiro de 1969, aos 89 anos,
esquecido por seus contemporâneos.
A trágica história de João Cândido é uma das tantas que demonstra a luta que milhares de afrodescendentes tiveram que
experimentar em busca de melhores condições de vida em um país marcado pelas diferenças raciais.
Iniciativas importantes
1897 - André Rebouças fundou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e Joaquim Nabuco, junto com José do
Patrocínio, criou a Confederação Abolicionista, ambas na cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil na época. Os
poemas de Castro Alves que denunciavam as atrocidades da escravidão também foram armas importantes na luta
abolicionistas. Além dos jornais e associações, o abolicionismo também virou ação. Casos de violências extremadas
contra cativos passaram a ser defendidos por importantes advogados, homens e mulheres de diferentes localidades
começaram a fazer doações com o intuito de comprar alforrias. As fugas massivas de escravos e a formação de
quilombos passaram também a contar com a ajuda de intelectuais brasileiros.
1883 - A população aderiu ao movimento de diferentes formas. O caso mais emblemático ocorreu no Ceará, em 1883,
quando jangadeiros liderados por Francisco José do Nascimento e João Napoleão, ex-escravos, se recusaram a
transportar os cativos que desembarcavam no porto cearense. Essa manifestação rapidamente ganhou mais adeptos e
teve tanta repercussão que obrigou as autoridades locais e decretaram o fim da escravidão no Ceará em 1884, quatro
anos antes da extinção nacional da escravidão. Nesse mesmo ano, a província de Amazonas também a aboliu. Embora
os senhores e o governo brasileiro ameaçassem e até mesmo entrassem em confronto com abolicionistas, a pressão
contra a escravidão aumentava a cada dia e os escravos intensificaram suas ações rebeldes.
1884 - As fugas em massa para cidades e a formação de quilombos foram as principais estratégias utilizadas pelos
escravos. Neste período, o quilombo de Jabaquara, próximo a Santos, e o quilombo do Leblon tornaram-se famosos em
todo pais devido às suas estreitas relações com o movimento abolicionista. No vale do Paraíba e no Oeste Paulista,
principais regiões econômicas do Brasil naquele período, os escravos também iniciaram atos violentos contra seus
senhores e suas propriedades.
1885 - Lei do Sexagenário - Mais uma vez, o Estado brasileiro tentou apaziguar a situação decretando mais uma lei
abolicionista. Em 1885, foi promulgada a lei do Sexagenário que determinava que todos os escravos, homens e
mulheres, com mais de sessenta anos estariam automaticamente livres. Todavia, essa lei pouco mudou o quadro social
fomentado pelos abolicionistas e escravos.
1888 - Lei Áurea -Se não bastasse todo o alvoroço interno causado pelo abolicionismo, as autoridades brasileiras ainda
tinham que lidar com a Inglaterra, que desde o começo do século XIX pressionava as autoridades brasileiras a acabar
com a escravidão. Em meio a um contexto tão conflituoso, não havia mais nenhuma forma de mantê-la.
Deste modo, em 13 de maio de 1888, a princesa Izabel, filha do Imperador D. Pedro II que estava ausente, assinou a Lei
Áurea, na qual foi "declarada extinta desde a data dessa Lei a escravidão no Brasil".
Abolição da escravidão
A abolição da escravidão causou uma verdadeira comoção na população brasileira. Missas e festas foram realizadas para
comemorar o feito que, além de acabar com o escravismo, não ressarciu nenhum proprietário. Estava totalmente extinta uma
instituição que vigorou por mais de trezentos e cinquenta anos.
Associações e Grêmios
Um dos primeiro movimentos foi criar associações e grêmios que permitissem não só o encontro, mas o debate. Em São Paulo,
que na época já era o principal centro econômico do país, foram fundados o Centro Cultural Henrique Dias, a Associação
Protetora dos Brasileiros Pretos e o Grêmio Dramático Recreativo e Literário “Elite da Liberdade”. Associações e grêmios
semelhantes foram criados nas demais cidades brasileiras. Nessas organizações eram realizados diversos tipos de atividades
como festas, bailes e reuniões ¯ ocasiões em que havia diversão, discussão e diversas redes de solidariedades e amizade eram
estabelecidas.
Imprensa Negra
Todavia, as questões experimentadas pela população negra não ficaram restritas às associações e grêmios. Como os meios de
comunicação da época apenas reproduziam os padrões de beleza europeus e estampavam a população negra como “criminosas
em potencial” ― reforçando, assim, o racismo ―, diversas das organizações negras que compunham as associações e grêmios se
articularam e fundaram jornais voltados para a população negra. Não por acaso tais jornais ficaram conhecidos como: imprensa
negra.
Esses jornais, em parte influenciados pelos periódicos escritos pelos e para os imigrantes, eram direcionados a uma elite de
homens e mulheres negros e mestiços, que, mesmo pequena, tinha representantes em diferentes localidades do Brasil. Alguns
deles eram jornais muito semelhantes aos produzidos no restante do país e pouco, ou quase nunca, tocavam na problemática
do racismo. Nesses casos, os periódicos traziam ofertas de emprego, anúncios de concursos de beleza e outras notícias
cotidianas.
No entanto, em periódicos como O Clarim d´Alvorada, A Liberdade, a Sentinela, O Alfinete, e O Baluarte, jornalistas e
intelectuais negros não só denunciavam situações de preconceito racial, como também usavam o jornal para ajudar na
educação e aumentar a autovalorização da população negra e mestiça ¯ questões que não tinham espaço nos outros jornais
brasileiros. Alguns periódicos chegaram a abrir espaços para que seus leitores publicassem poemas e contos. E não foi por acaso
que muitos jornais da imprensa negra faziam menção constante aos abolicionistas brasileiros.
Jornal Quilombo
Quatro anos depois, Abdias do Nascimento e outros intelectuais negros fundaram um dos jornais mais famosos da imprensa
negra: o Quilombo, publicado entre 1948 e 1950. Diferentemente dos outros periódicos, o Quilombo contava com a participação
de jornalistas negros e brancos, tinha forte diálogo com intelectuais negros do Caribe, África e Estados Unidos e dava especial
atenção à cultura afro-brasileira, sobretudo às manifestações artísticas e culturais realizadas pelos negros do Brasil.
Por meio da exaltação de importantes personagens negras da história brasileira, o Quilombo permitiu que muitos negros,
especialmente aqueles que estavam na classe média, criassem uma identidade negra que tivesse um respaldo histórico. Muitos
dos intelectuais que fizeram parte do corpo editorial do jornal Quilombo tinham grande diálogo com os movimentos
internacionais que combatiam o racismo, inclusive com o Pan-africanismo, e com importantes lideranças negras dos Estados
Unidos envolvidas na luta pelos direitos civis dos negros estadunidenses.
Panteras Negras
Além de exaltar a cultura negra, esses movimentos passaram a fazer reivindicações constantes contra o racismo e a favor da
igualdade de oportunidade entre negros e brancos. Na década de 1980, foi fundando o Movimento Negro Unificado que, com
outras organizações parecidas, inclusive movimentos e ONGs que trabalham com a dupla discriminação sofrida pelas mulheres
negras, tem lutado para que negros e mestiços tenham a mesma oportunidade que o restante da população brasileira.
As denúncias e o combate desses movimentos fizeram com que intelectuais negros e brancos tivessem que revisitar a história
brasileira para acabar com a ideia de que o Brasil era um país sem racismo. As provas da discriminação racial no Brasil serviram
de base para a exigência de melhorias urgentes na vida dessa parcela da população e na adequação do racismo como crime
inafiançável. Mesmo assim, essa luta ainda está longe de terminar.
Outra importante ação desses movimentos foi recuperar importantes figuras negras da história do Brasil, como Zumbi dos
Palmares que, atualmente, é considerado um dos heróis brasileiros.
Videoaula
Desdobramentos posteriores a promulgação da constituição
Movimentos indígenas e negros dos anos 70 trouxeram discussões a várias esferas da politica brasileira. Trouxeram a questão do
racismo e também a importância de se valorizar diversas culturas que habitam esse país. Esses movimentos foram importantes
para criação de leis a favor do povo negro e indígena.
A constituinte de 1988 trouxe fatos novos ao Brasil como a demarcação de terras indígenas e criminalização do racismo. Estava
presente também a questão de que a cultura indígena e negra deve estar presente na esfera educacional no país. São leis que
mudaram a dinâmica do país.
Houve influências externas também que favoreceram a questão desses povos no Brasil, já que o país é signatário de vários
documentos que favorecem a valorização desses.
Abdias do Nascimento
Ativista da Frente Negra Brasileira e lutou quase sozinho, inclusive clandestinamente durante o Estado Novo. Criou o Teatro
Negro, que valorizava artistas negros.
Com o golpe de 64, o grupo foi banido e Abdias ficou em exílio.
De volta ao Brasil, foi político e lutou pela criação do dia da consciência negra.
O movimento negro possuía várias dimensões importantes – econômica (inclusão no mercado de trabalho), luta contra o
racismo e também artística, como o movimento criado por Abdias.
Em 1996 aconteceu o Seminário Multiculturalismo e Racismo: o papel da ação afirmativa nos Estados Democráticos
Contemporâneos, promovido pelo ministério da justiça. Ele discutiu como combater o racismo e as ações afirmativas.
Também nesse ano houve a divulgação do plano nacional dos direitos humanos, uma série de metas que o governo se propõe a
fazer, inclusive metas que se referem as questões raciais. Um compromisso era em realizar politicas afirmativas nas
universidades brasileiras.
Na época, houve uma mudança da mentalidade do povo brasileiro também, com maior valorização da cultura e história afro-
brasileira.
Não se tem mais a ideia de integrar negros e indígenas a sociedade, mas sim de valorizar as diferenças.
Mudanças sociais e políticas - indígenas
Constituição de 1988, que previa demarcação de terras e criminalização do racismo;
• Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92) atenção do mundo voltada ao
Brasil que tratou do ambiental, mas também das questões indígenas. Surgiram políticas para preservação do ambiente
e aldeias indígenas.
• Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que dispõe sobre povos indígenas e tribais (1989) Em
57 se tinha perspectiva de incorporação de culturas. Em 89 a ideia era de preservação de tradições indígenas.
• Crescimento exponencial das organizações não governamentais em defesa dos direitos indígenas;
• LDB (1996) - educação escolar bilíngue e intercultural inclusão da educação bilíngue e intercultural nas aldeias
indígenas. Não se acultura os indígenas, mas se valoriza suas línguas, estórias e costumes, sem deixar de ensinar sobre
o português e história do Brasil.
Aula 010
Somos Racistas?
Em 2007, o relator especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias e arbitrárias observou que o homicídio era a principal causa
de mortes entre pessoas com idade entre 15 e 44 anos, com 45 mil a 50 mil homicídios cometidos todo ano, diz documento. As
vítimas são, em sua maioria, jovens do sexo masculino, negros e pobres.
O relatório com observações de 22 ONGs alerta para altos índices de discriminação racial e sexual e enfatiza o problema da
violência. Também chama a atenção para a distância entre a legislação e sua prática. A Anistia Internacional afirma que, com a
Constituição de 1988, o Brasil adotou 'as leis mais progressistas para a proteção dos direitos humanos da América Latina'. `No
entanto, persiste um enorme fosso entre o espírito dessas leis e sua implementação', diz a organização. (Folha de São Paulo, 27
de fevereiro de 2008.)
A reportagem acima apresenta um fato conhecido por boa parte dos brasileiros: a persistência do racismo em diferentes esferas
no Brasil. Em tese, tais práticas deveriam ter sido extintas ou, no mínimo, severamente controladas e punidas pelas autoridades
estatais que, desde 1988, tem como ferramenta a Constituição brasileira. Porém, o racismo no Brasil é repleto de sutilezas que
muitas vezes impedem que a lei seja cumprida.
Em 2009, uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo concluiu que o Brasil não é um país racista, mas um lugar onde
existe racismo. Dentre as pessoas entrevistadas, 97% afirmaram não ter nenhum tipo de preconceito racial, mas 98% afirmou
conhecer alguém que pratica ou já praticou discriminação racial. Tal constatação é uma contradição, que acaba se tonando a
base das relações raciais no Brasil.
Nessa aula será abordada parte da luta contra o racismo no país, bem como as ações estatais que tentam alcançar esse objetivo.
Ao retratar a trajetória do samba no Brasil, o cantor e compositor Cartola mostrou que o ritmo musical que nasceu com as
quitandeiras baianas na Praça Onze conseguiu vencer os preconceitos e ganhar o estrangeiro. Hoje, o samba é uma das marcas
do Brasil.
Símbolos brasileiros
A feijoada, o samba e o futebol, que se tornaram símbolos do Brasil, são heranças diretas dos africanos que para cá foram
trazidos. A capoeira, que no passado foi responsável pela prisão de muitos escravos e libertos, hoje se transformou em sinônimo
de esporte brasileiro.
Os africanos também trouxeram diferentes tipos de tambores e outros tantos instrumentos musicais que permitiram que a
música brasileira se tornasse tão diversificada. Tambores, atabaques, agogôs, cuícas, berimbaus, zabumbas são alguns dos
instrumentos presentes em diferentes ritmos musicais brasileiros. Tão diversificado quanto os instrumentos são os tipos de
músicas brasileiras que herdaram a harmonia, o ritmo ou a cadência de diferentes regiões da África.
O samba (palavra que também tem origem africana e significa divertir-se) talvez seja o maior exemplo disso. Ele foi criado na
segunda metade do século XIX, na Pedra do Sal, que ficava no Morro da Conceição, situado na região central do Rio de Janeiro.
Nesse local, escravos e libertos, africanos e crioulos se encontravam no final do dia para fazer música e conversar.
Já no século XX, o samba sofreu influências de outros ritmos musicais, como o maxixe, e introduziu outros instrumentos,
transformando-se no que se conhece hoje.
O samba proporcionou a criação de uma ampla rede de amizade e solidariedade entre pessoas negras, principalmente nos
morros cariocas. Porém, o ritmo do samba foi tão contagiante que costuma se dizer que ele “desceu o morro” e revelou grandes
músicos brasileiros como Cartola, Dona Ivone Lara, Martinho da Vila e Paulinho da Viola; tornando-se, assim, uma música
tipicamente brasileira.
Atualmente existem diferentes tipos de samba, como o samba-enredo, tocado pelas escolas de samba, e o samba de roda, mais
encontrado em regiões rurais do Brasil, onde as pessoas tocam e dançam em forma de roda.
Arte e Cultura
Maxixe, forró, maculelê, baião, frevo, pagode e o afoxé são outros ritmos musicais criados a partir de instrumentos e ritmos
vindos da África e recriados no Brasil. Essas músicas criadas com as heranças africanas eram acompanhadas por tipos diferentes
de danças e festividades.
O Carnaval
O Carnaval é uma das festividades mais importantes do Brasil. Desde o período colonial, o Carnaval também era brincado por,
escravos e libertos, que viam nesse festejo uma das poucas oportunidades de diversão concedidas por seus senhores.
Com o passar dos anos, o Carnaval foi influenciado por cada região brasileira. As escolas de samba tornaram-se a marca
registrada do Carnaval de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na Bahia, os blocos de carnaval e os trios elétricos levam multidões ao
som de afoxés e da axé music. Já Recife é embalado pelo som do frevo. Os bailes e os blocos são encontrados em todo o Brasil.
Artes plásticas
A música e as festas populares brasileiras não são as únicas manifestações culturais que apontam o legado africano no Brasil. No
campo das artes plásticas também é possível observar forte presença da população negra, seja ela objeto ou sujeito das obras.
A desigualdade
Dados obtidos por diferentes órgãos de pesquisa (como o IBGE e o IPEA) indicam que a população brasileira está cindida por
uma significativa desigualdade que se expressa por meio da cor. Os índices mostram que a diferença salarial, a população
carcereira, a entrada nas Universidades públicas e os índices de assassinatos passam pelo crivo racial.
Nas aulas anteriores foi visto como afrodescendentes e grupos indígenas vêm lutando para mudar esse quadro. Nos últimos 40
anos essa população começou a contar com a ajuda de muitos intelectuais e até mesmo com o apoio do Estado nacional.
Lei Caó
Em 1985, foi aprovada a Lei nº 7.437, também conhecida como Lei CAÓ, em homenagem ao seu formulador.
Esta lei:
Incluí, entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil,
dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951 ― Lei Afonso Arinos.
Art. 1º - Constitui contravenção, punida nos termos desta Lei, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de
sexo ou de estado civil.
Art. 2º - Será considerado agente de contravenção o diretor, gerente ou empregado do estabelecimento que incidir na prática
referida no art. 1º desta Lei.
Das Contravenções
Art. 3º - Recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem ou estabelecimento de mesma finalidade, por preconceito de raça,
de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 3 (três) a 10 (dez) vezes o maior valor de referência (MVR).
Art. 4º - Recusar a venda de mercadoria em lojas de qualquer gênero ou o atendimento de clientes em restaurantes, bares,
confeitarias ou locais semelhantes, abertos ao público, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).
Art. 5º - Recusar a entrada de alguém em estabelecimento público, de diversões ou de esporte, por preconceito de raça, de cor,
de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).
Art. 6º - Recusar a entrada de alguém em qualquer tipo de estabelecimento comercial ou de prestação de serviço, por
preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).
Art. 7º - Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça, de cor,
de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 1(uma) a três) vezes o maior valor de referência (MVR).
Parágrafo único - Se se tratar de estabelecimento oficial de ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, desde que
apurada em inquérito regular.
Art. 8º - Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público civil ou militar, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de
estado civil.
Pena - perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade em inquérito regular, para o funcionário dirigente da repartição de
que dependa a inscrição no concurso de habilitação dos candidatos.
Art. 9º - Negar emprego ou trabalho a alguém em autarquia, sociedade de economia mista, empresa concessionária de serviço
público ou empresa privada, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR), no
caso de empresa privada; perda do cargo para o responsável pela recusa, no caso de autarquia, sociedade de economia mista e
empresa concessionária de serviço público.
Art. 10º - Nos casos de reincidência havidos em estabelecimentos particulares, poderá o juiz determinar a pena adicional de
suspensão do funcionamento, por prazo não superior a 3 (três) meses.
Art. 11º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 12º - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 20 de dezembro de 1985; 164º da Independência e 97º da República.
JOSÉ SARNEY
Fernando Lyra
A necessidade de formular e aprovar essa lei aponta que as práticas racistas ainda vigoravam no país. Mas tal necessidade não
parava por aí. Quando a liberdade política foi reinstaurada e um novo acordo social foi firmado, a luta contra o racismo foi
apontada em diferentes momentos da Constituição brasileira de 1988.
Como visto na reportagem que abre essa aula, a Constituição brasileira está longe de garantir a extinção do racismo, mas serve
como um importante instrumento de luta.
Videoaulas
Concretização das politicas de ações afirmativas no início do Século XXI
Histórico
O movimento negro se revigorou a partir de 70 e teve impacto muito grande na constituinte de 88. Negros passaram a se
profissionalizar e ser membros de ONGs, Universidades, etc. Os intelectuais negros ajudaram na criação de politicas de combate
ao racismo no Brasil.
A conferência de Durban, de 2001, acabou resultando no Plano de Ação de Durban, no qual o Brasil se comprometeu a elaborar
politicas de ações afirmativas.
Houve também a implementação de cotas nas Universidades Públicas, antes do estado criar políticas de ação afirmativa. As
decisões das universidades são internas e então seus membros passaram a considerar a criação de cotas.
Houve também a criação da Secretaria de Politicas de Promoção da Igualdade Racial, em 2003, com o objetivo de criar leis e
acompanhar mudanças ao que tange a dimensão racial no Brasil. A secretaria acabou por se tornar um ministério mais tarde.