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1.

A “ invenção” da tragedia social do Brasil

O
Brasil não foi descoberto; o Brasil foi inventado
e, então, invadido. Uma história tão violenta que
po- deríamos dizer, seguindo uma frase conhecida
de Ailton Krenak, brilhante intelectual
ameríndio,
que ele “foi construído sobre um cemitério”. Essa invasão
continua, assim como perdura até hoje a invenção fantasiosa de
um passado que não existiu, um passado mítico, idealizado, que
ser- ve apenas para justificar ou encobrir formas de dominação
do presente, como o racismo, o sexismo e a economia
extrativista controlada por uma pequena elite, estruturadas
ainda como no antigo sistema colonial.
Inventar esse passado não é algo inocente. É um jeito de
pensar e contar uma história que permite que a invasão
continue ocorrendo sem ser percebida, na forma de violência
política contra as lideranças indígenas, uma guerra em curso
disfarçada de democracia. Cada vez mais violenta, essa guerra
piora ano após ano como se caminhássemos para uma tentativa
de “ofensiva final”, como descreveu o antropólogo Eduardo

Viveiros de Castro, num crescente contexto de ódio, racismo e


fascistização social.
Essa opressão cotidiana é como um desencontro permanente
do contato — em vez de demarcar esse acontecimento, poderiam
ser demarcados os encontros que, como reflete Krenak, depois de
tanto tempo ainda não aconteceram. “Quando a data de 1500 é
vista como marco, as pessoas podem achar que deviam demarcar
esse tempo e comemorar ou debaterem de uma maneira
demarcada de tempo o evento de nossos encontros. Os nossos
encontros, eles ocorrem todos os dias e vão continuar
acontecendo.” Esse encontro poderia acontecer pelo
reconhecimento do Outro, da diversidade e da riqueza das
diferenças, uma oportunidade de encontros entre povos em um
mundo comum e compartilhado. Guerra, poder e política estão
diretamente imbricados e compõem o quadro de invasão e
invenção do Brasil. A conquista de novas terras e a
implantação de um sistema de dominação sobre a população
nativa são movimentos de expansão da Europa que
envolveram, e ainda envolvem, invasão e grilagem de terras,
espoliação de povos que vivem em seus territórios de
ocupação tradicional, massacres, expulsões forçadas, contrata-
ção de pistoleiros para aterrorizar famílias e matar lideranças,
e submissão da população a um brutal sistema de dominação
baseado no racismo.

2- A invenção da categoria “ Indio” pelo colonizador

Q
uando os europeus chegaram à costa Atlântica do
Novo Mundo, o litoral era ocupado por diferentes
povos que estabeleceram contato e foram
descritos de modo bastante limitado nas fontes
coloniais. Informaram aos colonizadores ou destes
receberam diversas denominações que não
correspondiam à forma como se
autoidentificavam. Diferentes descrições da época
oferecem um panorama aparente, mas enviesado
pelo olhar etnocêntrico e eurocentrado dos
invasores, sobre como poderia estar a ocupação da
costa naquele momento. De acordo com o relato de
Gabriel Soares de Sousa, os tupiniquins viviam em
territórios hoje localizados na costa de São Paulo,
Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia; os
tupinambás intercalavam esses territórios, tendo
maior predominância, com grande controle da
divisão entre São Paulo e Rio de Janeiro, na
região da baía de Todos-os-Santos, no centro e no
norte da Bahia e do Maranhão ao Pará; os guaranis,
conhecidos como carijós, viviam a partir de São
Paulo em direção ao sul; os caetés, no sertão do
rio São Francisco, desde a Bahia até Pernambuco.
De Olinda rumo ao norte e ao oeste da Paraíba,
no Rio Grandedo Norte e no Ceará, viviam os
potiguaras, vizinhos dos tabajaras, instalados em
parte na costa, mas sobretudo no interior, entre
Paraíba e Ceará. Os aimorés, que não falavam tupi,
mas provavel- mente uma língua tronco macro-jê,
assombravam os invasores entre Ilhéus e Porto
Seguro, enquanto os tapuias (denominação
genérica que será explicada mais adiante) habitavam
regiões próximas ao litoral entre o Paraná e o Rio
da Prata, bem como uma vasta extensão territorial
no Sertão nordestino, assim como partes da própria
baía de Todos-os-Santos. Ao longo do tempo, os
nomes atribuídos pelos portugueses mudavam, e,
quando povos ou aldeias se dividiam,
autodenominavam-se de forma diferente ou
ganhavam outros nomes.

Essa relação é apenas superficial. Havia muitos outros povos, e


mesmo esses citados também ocupavam diferentes territórios.
Tais fronteiras não eram, de forma alguma, estabelecidas por
uma geografia política delimitada em mapas como os referen-
ciais cartográficos ocidentais, mas compunham uma ocupação
muito mais fragmentada e fluida, e com planos diferentes da-
queles que poderiam ser desenhados em duas dimensões.

3.O tronco linguistico TUPI -GUARANI


Entre os indigenas que viviam na costa onde hoje é o
Brasil , havia uma relativa homogeneidade linguística em relação
ao tronco tupi-guarani . Essa relativa homogenidade era referente a
aspectos culturais , a mesma estrutura social e familiar, o
mesmo modo de guerrear, a forte presença do conceito de
vingança e a ocorrência de antropofagia. Essa relativa
homogeneidade linguística e cultural, no entanto, não
significava unidade de poder; ao contrário, eram sociedades
bastante segmentadas, e apenas em situações de guerra foram
relatadas grandes alianças e confederações. Além disso, alguns
cálculos linguísticos e demográficos indicam que poderiam
existir mais de mil povos onde hoje é o Brasil.

Os povos indígenas do tronco linguístico-cultural tupis foram um grupo indígena que


entrou em contato com os europeus nos primórdios da colonização. Assim foram
chamados por serem da família lingüística tupi-guarani. Estavam espalhados pelo
litoral brasileiro e eram os mais numerosos. São tupis os seguintes grupos: tupinambá,
tupiniquim, tamoio, temiminó, tabajara, potiguara, caeté, viatã, amoipira, aricobé,
tupinaé ou tupiná. Os mais poderosos entre os tupis eram os tupinambás e os
tupiniquins.
 
Os tupinambás
Os tupinambás viviam em aldeias de quatrocentos a oitocentos indivíduos, distribuídos
em grandes unidades familiares que residiam em cerca de quatro a oito malocas
alongadas. A guerra e a captura de inimigos para serem finalmente mortos em meio à
celebração de um ritual canibalístico eram aspectos integrantes da sociedade
tupinambá, pois dessas atividades viris dependiam a obtenção de status, a escolha de
esposas e o progresso ao longo das faixas etárias. Essa necessidade de fazer
prisioneiros impelia as aldeias tupinambás a manter-se em constante estado de guerra
com seus vizinhos mais próximos. Obviamente o canibalismo ritual era abominado
pelos portugueses e tornou-se a principal justificativa para escravização dos
tupinambás e de outros povos.
Os tupinambás praticavam a agricultura, este que foi um dos aspectos
culturais importantes para a compreensão de suas relações com os portugueses que
apesar do choque cultural e a aversão por certos hábitos tupinambás, os consideravam
próximos a um padrão de civilização. Apesar dos tupinambás serem considerados
avançados na prática agrícola, os portugueses ainda se impressionavam pela falta de
dinâmica em suas aldeias. O dialeto falado pelos tupis fora aprendido pelos
portugueses estreitando o contato entre as duas culturas.

Povos Tapuias
Todos os outros povos que não falavam o tupi foram denominados pelos portugueses
como tapuias. A imagem desses povos é duplamente distorcida, pois as informações
sobre eles chegaram através de duas visões culturais: dos portugueses e dos seus
informantes, os tupinambás, por isso o que se sabe sobre seus costumes é um tanto
vago. Os tapuias pertenciam a vários troncos culturais e lingüísticos, alguns grupos
eram os jês, os caraíbas e os cariris. A maioria dos tapuias habitava o interior, assim
tiveram menor contato com os portugueses nos primeiros anos da colonização.
Nesse grupo havia muita diversidade de povos. O contato deles com os portugueses
não foi pacífico. Os aimorés, do grupo etnográfico jê, tiveram grande importância
histórica por sua resistência aos europeus, demonstrando sua eficácia militar. Com
medo dos ataques os colonos não se sentiam seguros enquanto os aimorés não fossem
derrotados.
 
Sua cultura material era mais simples que a dos tupinambás ou dos
tupiniquins. Não praticavam a agricultura, vivendo exclusivamente da caça e da coleta.
Vários observadores portugueses afirmaram que esses índigenas não tinham
habitações e viviam na floresta como animais; porém, dada a aversão que lhes tinham,
tais informações devem ser encaradas com ceticismo. É provável que a estrutura social
dos aimorés, como a de muitos povos , fosse bastante complexa, baseada em uma
divisão de cada grupo local em moitiés (metades tribais). As atividades bélicas
intensificaram-se após a chegada dos portugueses, mas parecem ter sido extremamente
importantes mesmo antes disso. A hostilidade dos aimorés provocava em colonos,
jesuítas e oficiais da Coroa reações que beiravam a paranóia, seus relatos sobre esse
povo revelam quase invariavelmente um misto de medo admiração e repugnância.
Outros ameríndios viviam em casas como homens, os aimorés viviam na floresta; os
tupinambás comiam os inimigos por vingança, os aimorés porque apreciavam carne
humana; e assim por diante. Quando a Coroa promulgou a primeira lei proibindo a
escravização do gentio, em 1570, só os aimorés foram especificamente excluídos dessa
proteção.
A reação do confronto com a cultura européia foi diferente entre os tupi e
tapuias, revelando a heterogeneidade desses sujeitos. Criou-se desde a colonização
uma dicotomia tupi-tapuia, litoral-sertão, que por muito tempo se firmou como uma
divisão étnica e cultural. Essa tendência romantizava o índio tupi e rejeitava o tapuia,
tendência esta que está sendo desmitificada nas discussões atuais da historiografia.
-Exercicios de fixação do Estudo dirigido -

Obs 1: copie todas questões em seu caderno e leve para sala de aula
Obs2: Responda em casa apenas as questões 1 e 2 , o restante das questões,
serão eercicios para serem feitos em sala de aula
Obs 3 : serão sorteadas pessoas em sala de aula para ler suas respostas
referente as questões 1 e 2.

1- O Brasil não foi descoberto; o Brasil foi inventado e, então, invadido.


Uma história tão violenta que o intelectual indigena Ailton Krenak
afirma que o Brasil “foi construído sobre um cemitério”. Tomando
como base o presente estudo dirigido e os debates que tivemos ao longo
da primeira unidade , faça um texto argumentativo , concordando ou
discordando da afirmação do intelectual indigena Ailton Krenak : ( de
10 a 20 linhas ) - RESPONDER EM CASA E LEVAR PARA AULA

2- O periodo colonial é uma das cronologias mais longas da chamada “


história do Brasil”, de 1500 a 1822 ( 322 anos ). Foi nesse periodo que o
imperio ultramarino português monstou toda estrutura de dominação
colonial , que tinha nas praticas de guerra, uma das principais estrategias
de dominação. Muito dos traumas sociais da sociedade brasileira
comtemporanea , tem suas raizes historicas no periodo colonial, a
exemplo do racismo, machismo-sexismo, homofobia e desigualdades
sociais. Dentro desse contexto, dos traumas sociais da sociedade
comtemporanea - racismo, machismo-sexismo, homofobia e
desigualdades sociais - , qual impacta mais diretamente o cotidiano da
cidade que mora? Argumente ( de 10 a 20 linhas ). – RESPONDER
EM CASA E LEVAR PARA AULA

3- Quando os europeus chegaram à costa Atlântica do Novo Mundo, o


litoral era ocupado por mais de 1000 povos indigenas que estabeleceram
contato e foram descritos de modo bastante limitado nas fontes coloniais.
Intelectuais/pesquisadores indigenas afirmam essa simplificação de
milhares de culturas e modos de vida na categoria “ indio” , foi também
uma estrategia de dominação por parte do colonizador europeu. Por que a
redução da diversidade cultural das civilizações indigenas fazia parte da
estrategia de dominação colonial ? ( de 5 a 10 linhas ).

4- Em nosso estudo dirigido pudemos perceber a diversidade cultural dos


povos indigenas do território que hoje é conhecido como Brasil. Dentro
desse contexto, coloque o nome o do povo indigena que prevalecia nos
estados brasileiros abaixo listado ;

a- Qual povo indigena prevalecia no periodo colonial no territorio que


viria ser os estados São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia ;
___________________________________________

b- Qual povo indigena prevalecia no periodo colonial no territorio que


viria ser São Paulo e Rio de Janeiro, na região da baía de Todos-os-
Santos, no centro e no norte da Bahia e do Maranhão ao Pará ;
__________________________

c- Qual povo indigena prevalecia no periodo colonial no territorio que


viria ser sertão do rio São Francisco, desde a Bahia até Pernambuco ;

d- Qual povo indigena prevalecia no periodo colonial no territorio que


viria ser Olinda rumo ao norte e ao oeste da Paraíba, no Rio
Grandedo Norte e no Ceará ; _______________________

5- Entre os indigenas que viviam na costa onde hoje é o Brasil , havia uma
relativa homogeneidade linguística em relação ao tronco cultural tupi-
guarani. Liste cinco caracteristicas culturais e tocantes a modo de vida,
compartilhados pelos povos indigenas do tronco cultural-lingusticico
Tupi-Guarani;

7 - Os povos indígenas do tronco linguístico-cultural tupis foram um grupo


indígena que entrou em contato com os europeus nos primórdios da colonização.
Assim foram chamados por serem da família lingüística tupi-guarani. Estavam
espalhados pelo litoral brasileiro e eram os mais numerosos. Liste cinco povos
indigenas que fazem parte do tronco lingustico-cultural Tupi :

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